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Imperialismo Norte-Americano em Cuba

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Formação de Professores
Departamento de Ciências Humanas
Tópicos Especiais de História Contemporânea III
Docente: Christiane Vieira Laidler
 Discente: Bruno da Silva Rodrigues 
O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO EM CUBA
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho tem o objetivo de realizar um estudo introdutório sobre alguns aspectos da relação imperialista dos Estados Unidos da América (EUA) em Cuba antes, durante e logo após o seu processo de independência no contexto da passagem do século XIX para o XX. Buscarei através do caso da independência de Cuba, exemplificar a postura dos EUA como um país que começa a se afirmar como potência por volta da virada do século, passando a defender os seus interesses imperialistas na América Latina.
A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DE CUBA E A INTERFERENCIA NORTE-AMERICANA 
Cuba foi uma das últimas e mais prolongadas dominação espanhola nas Américas a conseguir sua independência. Segundo Priscila Morrone[footnoteRef:1], este fato se deve em primeiro lugar pelo seu diferente tipo de administração colonial, que via na continuidade do aparato repressivo espanhol a garantia de manutenção da escravidão, forma de trabalho dominante na principal atividade econômica do país. Outro fator destacado pela autora deve se a estratégica localização geográfica de Cuba. A ilha se encontra posicionada estrategicamente na região do Golfo do México, e servia como ponto de abastecimento para as embarcações com destino à América e ficando no centro das potências europeias em busca de possessões no Caribe. Dessa maneira, Cuba se tornou um ponto de referencia militar, marítimo e comercial da Espanha nas Américas. [1: MORRONE, Priscila. A Fundação Nacional cubano-americana (FNCA) na Política externa dos Estados Unidos para Cuba. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). Programa de pós-graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas” (UNESP/UNICAMP/PUC-SP). 2008, p. 13.] 
A base econômica de Cuba se sustentava na produção agrícola. A ilha era grande produtora de tabaco e açúcar. Inicialmente o açúcar cubano estava restrito ao pequeno mercado espanhol, mas posteriormente o principal produto produzido na colônia passa a ser amplamente consumido pelos EUA o que deixa Cuba sob a esfera de influência norte-americana antes mesmo de conquistar sua independência. Essa relação com o novo mercado e sua proximidade geográfica despertou na Espanha a necessidade de estreitar a sua relação com Cuba e fortalecer sua presença militar na ilha, o que provocou nos colonos uma posição antagônica e os dividiu em duas correntes. Uma corrente defendia o protecionismo espanhol a fim de garantir a expansão latifundiária, a permanência da escravidão e uma relativa autonomia no comércio, e a outra corrente defendia a anexação de Cuba pelos EUA, que era o seu principal mercado consumidor.
De acordo com Leivo Ortiz de oliveira[footnoteRef:2], a anexação de Cuba sempre esteve no horizonte da política estadunidense ao longo do século XIX, e as tentativas de compra da ilha junto ao governo espanhol foram inúmeras neste período[footnoteRef:3]. Entre os territórios espanhóis na bacia do Caribe, Cuba era o país que mais despertava o interesse dos EUA, tanto por sua localização estratégica, que permitia o controle do Mar do Caribe, quanto por sua proximidade com este país, que poderia assim servir de base para a agressão armada aos países europeus. [2: OLIVEIRA, Leivo Ortiz de. O Imperialismo Estadunidense na América Latina e Caribe no Final do Século XIX: a questão de Cuba através do Tratado de Paz de Paris e da Emenda Platt. Monografia de Final de Curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2015, p. 17.] [3: Segundo Leivo Ortiz de oliveira, o território cubano foi foco do interesse estadunidense desde os primórdios desta nação, pois já no início do século XIX recorrentemente emergia a pauta sobre a compra da ilha pelos EUA, ideia sempre rejeitada pela Espanha. Ibidem, p. 24.] 
Neste contexto, o objetivo inicial era de adquirir a ilha, dentro da visão de que aquela porção de terras caribenhas deveria pertencer ao Estado norte-americano, pois era tida como sua fronteira natural, e indispensável para a sua segurança no Golfo do México. Para os Estados Unidos a segurança de seu território e de suas rotas comerciais é vista, no início do século XIX, como fundamental para conseguir conquistar seus interesses sobre a região da América Latina. 
A questão da segurança é expressa através da Doutrina Monroe[footnoteRef:4], anunciada pelo presidente James Monroe, em 1823. Essa doutrina expressava a primeira grande manifestação da influencia norte-americana no continente e constituía um instrumento da política externa expansionista dos EUA para a América Latina. Sob o argumento da segurança hemisférica e do repúdio a possíveis pretensões europeias de recolonização da América, os Estados Unidos se utilizava do lema “A América para os Americanos”. [4: A Doutrina Monroe foi articulada na sétima mensagem anual do presidente James Monroe ao Congresso, em 2 de dezembro de 1823. As potências europeias, de acordo com Monroe, seriam obrigadas a respeitar o Hemisfério Ocidental como esfera de interesse dos Estados Unidos. James Monroe, em sua mensagem anual ao Congresso, de 1823, advertiu as potências europeias para não interferir nos assuntos dos países do continente americano.] 
De acordo com Luís Fernado Ayerbe, 
A Doutrina Monroe inaugura uma politica externa cujos delineamentos principais acompanharão as relações com a América Latina e o Caribe no decorres do século XIX e boa parte do século XX. Desde os primeiros momentos da sua formulação, cuba estará presente[footnoteRef:5]. [5: AYERBE, Luís Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: Editora UNESP, 2004, p. 42.] 
Já na década de 1840, depois da recente tomada de territórios do México, da compra da Lousiana e da Flórida, a compra ou a conquista da ilha cubana estava na pauta do dia dos norte-americanos, estes motivados por outro ideal anexionista, o do Destino Manifesto[footnoteRef:6]. Nesse sentido, tanto a Doutrina Monroe como o Destino Manifesto justificaram e impulsionaram a ação expansionista dos Estados Unidos na América Latina. [6: O Destino Manifesto tornou-se a base política para justificar a incorporação dos Estados Unidos em algumas regiões do Caribe. Segundo A expansão territorial do período 1803 e 1853, que amplia os limites das treze colônias, inspirou-se ideologicamente no Destino Manifesto. Os Estados Unidos, dada a "excepcionalidade" do seu desenvolvimento político e econômico, seriam uma nação predestinada a promover os valores do seu modo de vida para fora das suas fronteiras, levando a liberdade e a prosperidade aos povos atrasados. Luís Fernando Ayerbe, Estados Unidos e América Latina. A construção da hegemonia. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 52] 
Na metade do século XIX, a pressão para que a Espanha cedesse às investidas estadunidenses para se desfazer de Cuba estavam mais fortes do que nunca. Neste momento, a possibilidade de um conflito bélico para forçar a retirada espanhola do Caribe já era uma alternativa, pois às tentativas frustradas de compra não davam em nada.
De acordo com Moniz Bandeira,
As instruções de 03 de abril de 1854, transmitidas a Pierre Soulé, ministro plenipotenciário em Madri e representante do espírito expansionista da Jovem América, pelo secretário de Estado, William Marcy, não escondiam o propósito de separar Cuba do domínio de Espanha ou de qualquer outra potência da Europa por qualquer meio, inclusive a provocação de guerra[footnoteRef:7]. [7: MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2009, p. 55.] 
Esta política deu origem ao documento conhecido como Manifesto de Ostend (1854)[footnoteRef:8], que deixava claro que “os EUA tentariam comprar Cuba da Espanha ou, se o esforço falhasse, tratariam de tomá-la pelas armas...”[footnoteRef:9]. O que, conformeMoniz Bandeira[footnoteRef:10], apenas não foi posto em prática devido à derrota do Partido Democrata nas eleições seguintes do legislativo, perdendo a maioria no congresso, o que demonstraria a contrariedade do povo estadunidense quanto à possibilidade de anexação da escravista Cuba, representada no desgaste gerado junto à opinião pública pela revogação do Compromisso de Missouri[footnoteRef:11]. [8: O manifesto recomentava pela compra ou pala força armada, caso a Espanha se negasse a vendê-la. ] [9: Moniz Bandeira, op. cite, p. 56.] [10: Ibidem, p. 57.] [11: O Compromisso de Missouri, também chamado de Compromissos de 1820, foi um acordo aprovado em 1820, entre grupos pró-escravatura e pró-abolicionistas nos Estados Unidos, envolvendo primariamente a regulação do trabalho escravo nos territórios do oeste.] 
Naquele momento, a tensão crescente entre escravistas e abolicionistas nos EUA, que resultaria na guerra civil da década seguinte, dificultou uma tomada de decisão mais efetiva no projeto de aquisição da ilha, uma vez que a anexação de um território com sua economia baseada no trabalho escravo era um assunto de difícil consenso entre os políticos norte-americanos.
De acordo com, Priscila Morrone[footnoteRef:12] A partir de 1865 em Cuba, tanto a corrente anexionista, que defendia a incorporação aos EUA, quanto a autonomista, que defendia a manutenção do aparato colonial, perderam força. A primeira, devido à vitória da classe antiescravista na Guerra de Secessão, e a segunda, pelas reformas e concessões não concretizadas por parte da Espanha. Embora a corrente anexionista tenha perdido força nesse período, reapareceria posteriormente sob outra forma[footnoteRef:13]. [12: MORRONE, op. cite, 16.] [13: Segundo Priscila Morrone, Anexionismo, no entanto, ainda que politicamente derrotado desde 1868, adotou novas variantes mais ou menos encobertas, reaparecendo na história de Cuba como ideologia predominante de um setor minoritário, mas poderoso da burguesia, apoiada pela pertinaz e perniciosa intromissão norte-americana nos assuntos internos cubanos, chegando a hegemonizar de fato o poder político da pseudo-república – com raras exceções – entre 1902 e 1959. Ibidem, p. 18. ] 
Naquela ocasião, o governo espanhol aproveitou para ampliar o controle sobre Cuba. E esse aumento de controle provocou uma crescente insatisfação entre os interesses das duas partes, anexionista e autonomista, e originou uma insurreição pela emancipação colonial. Motivados pelas demandas de reformas no sistema colonial espanhol, o movimento contestatório começou sob a liderança do advogado Carlos Manuel de Céspedes. E este foi o início da primeira guerra pela independência, que durou dez anos (1868-1878). Esta guerra combinou a participação de líderes patriotas cubanos, campesinos, artesãos, escravos e estudantes. Porém, por falta de recursos, eles foram derrotados pela Espanha, que prometeu reformas no sistema administrativo colonial.
A segunda guerra do processo de independência cubano foi impulsionada pelo não cumprimento das reformas prometidas pela Espanha, pela crescente penetração norte-americana na economia cubana, pelo enfraquecimento do domínio espanhol ultramarino e pelo ideal nacionalista de liberdade e independência. Liderada inicialmente pelo intelectual José Martí com apoio das novas gerações de campesinos, operários, artesãos, intelectuais e emigrados cubanos nos Estados Unidos. Essa guerra se desenvolveu sob o amparo de um partido cunhado para conduzir a revolução, o Partido Revolucionário Cubano – PRC, dirigido por José Martí, que já neste momento advertia para as pretensões dos Estados unidos Cuba em virtude de sua experiência em território norte-americano e seu conhecimento sobre a política expansionista do país. 
Durante a luta pela independência cubana, os EUA perceberam que este momento seria oportuno para alcançar sua antiga meta de adquirir a ilha ou, pelo menos, aumentar sua presença em território cubano. Para isso, um conflito com a Espanha seria o ponto de partida, pois, após décadas de tentativas frustradas, as pressões diplomáticas no sentido da compra não surtiram o efeito desejado.
Em 1898, o governo estadunidense, sob a presidência do republicano William McKinley, envia o navio de guerra USS Maine com o pretexto de uma visita amigável, mas esta atitude tem também o claro objetivo de ser uma forma de exibir o grande poderio militar da sua Marinha de Guerra[footnoteRef:14]. No dia 15 de fevereiro, ocorre a explosão que provoca a morte de 258 pessoas, entre elas 2 oficiais. Era o motivo que o governo republicano precisava para intervir no conflito entre colônia e colonizador, pois houve grande comoção nos EUA com o “ataque espanhol” que resultou em mortes de cidadãos e militares de seu país. [14: O fortalecimento da força naval dos EUA foi uma consequência necessária dentro da geopolítica estadunidense no período final do século XIX, que era direcionada para garantir uma maior influência no cenário internacional e assegurar segurança para seu projeto de predominância na América Latina e Caribe frente as ameaças que pairavam sobre a região, devido à nova onda colonizadora europeia. Portanto para assegurar sua condição hegemônica no continente, além da inviolabilidade de seu próprio território, o reforço de sua marinha de guerra foi primordial.] 
Mesmo não havendo nenhuma prova de que se tratou de um atentado ou que este tenha sido provocado pelos militares espanhóis, o incidente com o Maine justificou um endurecimento da diplomacia norte-americana, e a possibilidade de um conflito armado se tornaria inevitável. O efeito do ataque ao Maine foi potencializado pela opinião pública na sociedade estadunidense, que percebeu o incidente como uma ofensa imperdoável para o povo daquele país. Mas a intervenção ocorreu também e, principalmente, sob o discurso de garantir a independência de Cuba, uma vez que a Espanha estaria violando os princípios da Doutrina Monroe de libertação das colônias e representando uma ameaça à segurança do continente americano, devido à possibilidade de novas colonizações europeias na região. 
Com forte adesão da imprensa estadunidense, e apelo popular, logo deu resultado e, em 11 de abril de 1898 o congresso recebe solicitação do presidente McKinley de intervenção militar em Cuba. Menos de 15 dias após a solicitação, em 25 de abril do mesmo ano, é declarada guerra contra a Espanha. A partir daí, os EUA, além de intervir em território cubano, invadem também outras colônias espanholas não só no Caribe, mas também no Pacífico. Entre os outros territórios cobiçados estavam às colônias espanholas de Porto Rico, no Caribe, ilha de Guam no Oceano Pacífico e o território das Filipinas, no caminho para a Ásia. 
Naquele momento, a Espanha encontrava-se imersa numa crise política e econômica, associada à fragilidade de suas forças militares em Cuba, devido ao desgaste sofrido com os prolongados confrontos contra os independentistas. Esses fatores eram visto como uma oportunidade para um avanço estadunidense sobre os últimos territórios colonial espanhol. 
Os EUA vencem rapidamente a guerra, e já em agosto de 1898, é firmado o Protocolo de Paz, entre as duas partes. A Guerra Hispano-americana representou a legitimação da política externa expansionista, proclamada muitos anos antes.
A INDEPENDÊNCIA CONDICIONADA DE CUBA E A EMENDA PLATT
O imperialismo norte-americano, atuante no continente desde o início do século, inicia sua expansão para além dos territórios continentais. A guerra contra a Espanha e seu rápido término proporcionou a oportunidade de confrontar abertamente um país colonialista do velho mundo, com uma fácil vitória, e a partir daí controlar importantes porções de terras que facilitariam o seu comércio com o mercado asiático.
O imperialismo estadunidense passou por um processo de transformação de um fenômeno regional para ter um alcance global a partir da virada do século XIX para o XX, tendo sido a guerra contra a Espanha um acontecimento que reflete este novomomento da política externa norte-americana. 
Segundo Moniz Bandeira, 
Os Estados Unidos, ao assumirem o domínio sobre o espólio colonial da Espanha, revelaram o caráter imperialista de sua política, que se equiparou a de outras potências da Europa, àquela época, e assustou os povos da América Latina[footnoteRef:15]. [15: MONIZ BANDEIRA, op. cite, p. 34.] 
	A partir daquele momento, na virada para um novo século a postura imperialista estadunidense em território americano irá se consolidar, através do que ficou conhecido como o Corolário Roosevelt ou Big Stick[footnoteRef:16], que ganhou espaço entre o conjunto de países imperialistas em nível global. Neste sentido, a demonstração de força que a rápida vitória sobre a Espanha representou, serviu para aumentar sua influência não só no continente americano, mas também na geopolítica mundial. [16: O Corolário Roosevelt ou Big Stick buscava legitimar as intervenções militares dos EUA como defensivas e preventivas, já que não visavam à aquisição de territórios, mas à preservação da civilização, da ordem, da estabilidade e do progresso.] 
Segundo David Zimmerman,
Os dois mandatos de Theodore Roosevelt configuraram a “first imperial presidency” dos EUA, no sentido de que pela primeira vez foram administradas possessões perto e longe do seu território, havia alcançado influência dominante no Caribe e na América Central e transformado sua Marinha na segunda mais poderosa do mundo, convencendo os demais países a levarem seriamente seus conselhos e suas políticas[footnoteRef:17]. [17: Zimmermann, 2002. In: MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Formação do império americano: da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2005, p. 55.] 
Com o término da guerra com a Espanha e a conquista de territórios estratégicos das antigas colônias do Império Espanhol, sobretudo Cuba, os EUA iniciam sua expansão imperialista em âmbito global. A política expansionista estadunidense conseguiu obter o controle de territórios importantes para o seu comércio internacional e para suporte e implantação de bases militares em regiões próximas ao Caribe.
A intervenção norte-americana na guerra, pela independência cubana, foi um fator determinante para o resultado final da independência de Cuba da Espanha, mas não significou para a ilha a independência propriamente dita, uma vez que os EUA a ocuparam militarmente de 1898 a 1902, convertendo-a em uma espécie de protetorado. 
O território cubano foi ocupado militarmente pelos EUA durante quatro anos, de 1898 até 1902, e os militares estadunidenses governam o país durante todo este período, frustrando todos os cubanos que haviam lutado para a conquista de sua independência frente ao antigo poder colonial. No decorrer destes quatro anos, o governo e a sociedade civil estadunidense empenharam um grande esforço para adequar Cuba aos seus costumes e modos de vida, mas principalmente, para modelar a economia cubana ao modelo norte-americano.
Para assegurar que a Cuba independente seria sempre subordinada às suas decisões e aos seus objetivos os EUA, foi apresentado pelo senador Orville Platt, em 1901, uma emenda que ficou conhecida como a Emenda Platt. A emenda dava o direito aos norte-americanos de intervir diretamente nos assuntos internos de Cuba. Apresentada pelo senador norte-americano, que era partidário da anexação de Cuba aos Estados Unidos, a emenda definia o estatuto das relações cubano-americanas. Consolidando o domínio norte-americano sobre Cuba.
Segundo Priscila Morrone, sob a ameaça de continuar ocupando militarmente a Ilha por um período indefinido, os Estados Unidos obrigaram Cuba a incorporar a Emenda Platt como apêndice de sua primeira Constituição. Por meio da emenda a Ilha aceitaria a tutela econômica e militar dos EUA, o que incluía o direito aos norte-americanos de instalar bases militares e portos em Cuba, além de concessões territoriais e privilégios econômicos que violavam a soberania política do país. Os dispositivos desta emenda representavam a continuidade da atuação imperialista sobre Cuba, mesmo após a independência formal da ilha.
Aprovada em 1901, a Emenda Platt vigorou até 1934, quando foi revogada no governo de F. Roosevelt (1933-1945) sob a Política da Boa Vizinhança. Durante esse período, o direito de intervenção garantido pela emenda aos Estados Unidos foi amplamente posto em prática, como demonstraram diversas intervenções, de 1906 a 1909, 1912 e de 1917 a 1923[footnoteRef:18]. [18: MORRONE, op. cite, p. 19.] 
	A participação dos Estados Unidos na Guerra Hispano-Americana assinala seu envolvimento direto no sistema internacional e introduz como observou Luís Fernando Ayerbe, novos elementos ao processo de independência cubano, diferenciando-o dos demais movimentos latino-americanos e inaugurando um imperialismo que combinava interesses nacionais como política externa intervencionista. 
(...) a atuação norte-americana frustrou as expectativas de liberdade que alimentava o movimento desde o início. A desilusão com o desfecho será fator essencial na formação de uma singular consciência nacionalista, que passa a reivindicar uma terceira guerra emancipatória, desta vez contra os Estados Unidos[footnoteRef:19]. [19: AYERBE, op. cite, 2004, p. 25-26.] 
Deste modo, as guerras de independência não alcançaram o sucesso no que tange à emancipação nacional cubana, o fim do período colonial não significou o início de um estado soberano para Cuba. O que se pode dizer é que, a luta pela emancipação nacional cubana foi momentaneamente paralisada pela intervenção norte-americana na Guerra de Libertação, mas posteriormente reivindicada e redefinida em outro contexto social.
A interferência norte-americana foi intensa durante as primeiras décadas do século XX, com base no que previa a Emenda Platt, o governo estadunidense interveio militarmente nas disputas políticas internas de Cuba sempre que achou necessário e agindo sempre que existisse a possibilidade de que forças contrárias aos seus interesses ascendessem ao poder.
O novo contexto social de Cuba foi caracterizado pela combinação da manutenção de elementos estruturais coloniais e pela presença cada vez mais notória de elementos da tendência expansionista norte-americana, bem como de um governo subordinado aos seus interesses. Desta forma, presumia-se que neste contexto, a influência europeia na região estaria eliminada, o que asseguraria a expansão do poder norte-americano. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os interesses norte-americanos em Cuba iniciam-se ainda no período colonial cubano, quando a dominação europeia na região poderia dificultar a expansão da hegemonia dos Estados Unidos no continente. Dessa forma, a intervenção norte-americana nas Guerras de Independência Cubanas foi crucial para o desfecho do processo, bem como para a garantia do fim de qualquer interferência europeia na região. Nesse momento, a política externa dos Estados Unidos para Cuba associava-se a um contexto maior de expansão da hegemonia norte-americana em todo o hemisfério ocidental, como proclamado pela Doutrina Monroe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AYERBE, Luis Fernando. Estados Unidos e América Latina. A construção da hegemonia. São Paulo: Editora UNESP, 2002.
AYERBE, Luís Fernando. A Revolução Cubana. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: De 1870 a 1930. São Paulo: EDUSP, 2015. 
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios 1875-1914. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2017.
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Formação do império americano: da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2005.
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2009
MORRONE, Priscila. A Fundação Nacional cubano-americana (FNCA) na Política externa dos Estados Unidos para Cuba. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). Programa de pós-graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas” (UNESP/UNICAMP/PUC-SP).2008
OLIVEIRA, Leivo Ortiz de. O Imperialismo Estadunidense na América Latina e Caribe no Final do Século XIX: a questão de Cuba através do Tratado de Paz de Paris e da Emenda Platt. Monografia de Final de Curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2015, p. 17.

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