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Política e Legislação da Educação Básica A n d ré ia R ei s B ac h a M o ri n in g o P ol íti ca e Le gi sl aç ão d a E du ca çã o B ás ica Su pe rv is ão , I ns pe çã o e O rie nt aç ão E du ca ci on al Andréia Reis Bacha Moriningo Ensinar e Aprender nos Paradigmas do Novo Século UNIDADE 5 Caro Aluno, Nesta unidade veremos que as questões de aprendizagem são parte integrante, ainda que contraditória, da totalidade do real, resgatando, na medida do possível, a função emancipatória da educação. A visão de abrangência no campo educacional supera a barreira do isolamento e se propõe à necessidade da dialética para superar uma leitura formal dos conceitos, sobretudo co- nhecimento e aprendizagem. Também levantaremos a questão da for- mação do professor desde tempos remotos até a época atual: princípios que fundamentam essa formação e a importância do compromisso so- cial e profissional do professor na construção da aprendizagem significativa do aluno, cujos con- teúdos também são significativos, e que devem despertar a curiosidade, o raciocínio, e a compre- ensão de fatos. Desejamos um bom estudo! 164 165 5.1 – Uma educação emergente A Educação, no contexto social, pode ser definida como um processo que requer planeja- mento estratégico, atuação integrada e ações per- manentes, que envolve todo o escalão dirigente, os professores, os especialistas, os profissionais da Educação em geral, organismos oficiais e for- ças comunitárias. Ela está ligada às questões do ambiente, à formação e preservação de valores, prevenção contra a violência, as drogas, as doen- ças sexualmente transmissíveis etc., tornando-se vital nas relações de emprego, de produtividade, de competitividade, geração e uso de tecnologias modernas. Podemos elencá-la em várias catego- rias: na categoria intelectual (cognitiva, psicomo- tora), na categoria moral e na categoria emocional. Educar um indivíduo, nessa perspectiva, significa promover-lhe oportunidades para que se sinta de fato o principal agente de transforma- ção de si próprio e de seu mundo imediato. Pela etimologia da palavra educação, do latim (ex-du- cere) que significa extrair, trazer para fora, bus- car o que já está dentro, delineamos uma nova concepção do conceito simplista de educação, que passa a ser reconhecida como um processo 166 que acontece no íntimo de cada um. Supõe vida, aliança, evolução, competência, satisfação. Vida porque parte de uma base desejante e uma base objetivante; aliança, por integrar-se à cultura geral; evolução, pelo simples fato de que nossa tendência é integrar o conhecimento epis- têmico ao nosso esquema subjetivo. Quando so- mos educados e nos educamos nos reintegramos à categoria de seres inteligentes; competência e sabedoria para agirmos conforme as necessida- des que começam a surgir; e finalmente, satisfa- ção, uma vez que a educação consiste em “incan- descer” a vida do indivíduo para manifestá-la em estado perfeito. Segundo a LDB, a educação deve cum- prir um triplo papel: econômico, científico e cul- tural, além de estruturar-se sob quatro pilares: • aprender a conhecer: Garante o aprender a aprender e constitui o passaporte para a educa- ção permanente, à medida que fornece as bases para continuar aprendendo ao longo da vida. O aumento dos saberes permite compreender o mundo, favorece o desenvolvimento da curiosi- dade intelectual, estimula o senso crítico e per- mite compreender o real, mediante a aquisição da autonomia na capacidade de discernir. Numa 167 dimensão subjetiva, significa conhecer o homem em essência, possuidor de uma capacidade laten- te e infinita; apreender a essência do ser, conhe- cer o divino, penetrar no interior do indivíduo e extrair sua potencialidade. • Aprender a fazer: Indissociável do aprender a conhecer e sua interpretação está ligada à ques- tão da formação profissional: ensinar o aluno a colocar em prática os conhecimentos adquiridos, as habilidades desenvolvidas. Exorta o indivíduo a conduzir suas ações, palavras e pensamentos de forma a traduzir a perfeição da essência. • Aprender a conviver: Educar de forma a neu- tralizar o egoísmo. Onde existe amor, bondade e perseverança, as possibilidades são mais po- sitivas. Educar para evitar a guerra, a discórdia, a indiferença, e promover a paz, a concórdia, o amor. Aprender a viver junto, desenvolvendo o conhecimento do outro e a percepção das inter- dependências, de modo a permitir a realização de projetos comuns ou a gestão inteligente de conflitos inevitáveis. • Aprender a ser: preparação do indivíduo para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente 168 às diferentes circunstâncias da vida. Exercitar a liberdade de pensamento, discernimento, senti- mento e imaginação, para desenvolver os seus talentos e permanecer, tanto quanto possível, dono do seu próprio destino. Desenvolvimento pleno do homem em toda a sua complexidade como uma unidade na diversidade, como um ser inacabado. Nesse contexto, aprender a conviver e aprender a ser decorrem das duas aprendiza- gens: aprender a conhecer e aprender a fazer. Vale lembrarmos aqui que assistimos à era da violência, do desemprego e da vertigino- sa expansão tecnológica em que a escola deve contribuir para a aprendizagem de competências de caráter geral, visando à formação de pessoas mais preparadas a assumir mudanças, mais autô- nomas e solidárias em suas escolhas, que saibam acolher e respeitar as diferenças, praticar a soli- dariedade e superar a segregação social. Diante do desafio que representam essas aprendizagens, as atuais tendências do ensino devem voltar-se para uma pedagogia que reforce a dimensão criadora dos alunos: a expressão pes- soal, originalidade e desenvolvimento do pensa- mento divergente; a aprendizagem por desco- berta que induz o aluno a construir o seu próprio 169 sistema conceitual, através de constante indaga- ção e a abertura para experiências, para o domí- nio das estruturas do conhecimento e das infor- mações, levando-o numa direção autocentrada a ter mais recursos para resolver problemas. Dessa forma, a integração dos aspectos cognitivos com as demais dimensões da personalidade é o desa- fio e a tarefa das escolas. Levando em consideração as condições contemporâneas de produção de bens, serviços e conhecimento, preparar recursos humanos a fim de se promover um desenvolvimento sustentá- vel implica desenvolver a capacidade de assimilar mudanças tecnológicas e adaptar-se a novas for- mas de organização do trabalho. Por isso, faz ne- cessária a extensão da escolaridade e a ampliação de oportunidades de um aprendizado contínuo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei nº 9.394 busca conciliar humanis- mo e tecnologia, conhecimento dos princípios científicos que presidem a produção moderna e exercício da cidadania plena, formação ética e autonomia intelectual. O equilíbrio entre as fina- lidades humanas e tecnológicas requer uma visão unificadora, que supere os dualismos, cujo fim precípuo é diversificar as oportunidades de for- 170 mação. Isso se esclarece no artigo 2º da Lei: A educação dever da família e do Estado, inspi- rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o ple- no desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Cabe à família e ao Estado a função de educar o ser humano dentro de uma ética hu- manista (ideais de solidariedade humana e princí- pios de liberdade), buscando o desenvolvimento do ser humano em suas dimensões (objetivante e subjetivante), assim como seu ingresso social no mundo do trabalho. Na verdade, esse trecho da Lei se refere à autorrealização do educando que deve ser uma preocupação e responsabilidade da educação formal, nos três níveis de ensino (fun-damental, médio e superior). Nesse sentido, a era pós-moderna esti- mula a criatividade, o espírito inventivo, a curiosi- dade pelo inusitado, a afetividade, para propiciar a constituição de identidades capazes de conviver com as diferenças, com as incertezas, com o im- 171 previsível, com a inquietação. De acordo com a necessidade educacional emergente, reconhecer e valorizar a diversidade cultural e educacional brasileira requer uma pedagogia com caracterís- ticas peculiares, mas que não se curve diante da responsabilidade de constituir cidadania para um mundo globalizado, e de dar significado univer- sal aos conteúdos da aprendizagem. De acordo com essa perspectiva, a for- mação do aluno deve ter como alvo a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Para tanto, a escola deverá propiciar o desenvolvimento de capacida- des de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las aliadas à capacidade de aprender, criar, formular. Essas competências superam o simples exercício de memorização e dão novo sentido aos Parâmetros Curriculares Nacionais, que constituem o apoio à reflexão sobre a prática diária do professor, o planejamento de suas aulas e o desenvolvimento do currículo de sua escola, e buscam dar significado ao conhecimento esco- lar, mediante a contextualização, visando à inter- disciplinaridade, o incentivo ao desenvolvimento do raciocínio e da capacidade de aprender. 172 5.2 – Implicações do novo paradigma em educação Thomas Kuhn (1962, p. 64) concebe o paradigma como sendo: Um conjunto de crenças, valores e técnicas que caracterizam um sistema de pensamento, deter- minando uma visão de mundo que confere ho- mogeneidade à produção científica e à organiza- ção da sociedade. Por sua vez, Edgar Morin (1996, p. 287) apresenta um conceito de paradigma que ultra- passa a proposta estabelecida pela linguística e pela definição de Kuhn, ao envolver a noção de relação, segundo a qual um paradigma “compor- ta certo número de relações lógicas, bem preci- sas, entre conceitos, noções básicas que gover- nam todo discurso”. Nessa linha de pensamento, os paradig- mas abrangem toda ação humana e todo conhe- 173 cimento em seus eixos de mudanças. Ainda, pos- tula Morin (1987, p.24): [...] o nosso pensamento deve investir o impensa- do que o comanda e o controla. Servimo-nos de nossa estrutura de pensamento para pensar. Te- remos ainda de servir-nos de nosso pensamento para repensar a nossa estrutura de pensamento. O nosso pensamento deve regressar às origens, num anel interrogativo e crítico. Senão a estru- tura morta continuará a destilar pensamentos petrificantes... descobri como é vão lutar apenas contra o erro, pois este renasce incessantemen- te de princípios de pensamento não abrangidos pela consciência polêmica. Compreendi como era vão provar apenas ao nível do fenômeno: a sua mensagem é reabsorvida rapidamente nos mecanismos do esquecimento relativos à autode- fesa do sistema de ideias ameaçado. Compreendi que não havia esperança na simples refutação: só um novo fundamento pode arruinar o antigo. Por isso, penso que o problema crucial é o do princípio organizador do conhecimento, e que o que é vital hoje não é apenas aprender, não é apenas reaprender, mas sim reorganizar o nosso sistema mental para reaprender a aprender. 174 A educação recebeu severa influência dos modelos da ciência positivista, do paradigma tradicional, fundamentado nas descobertas de Galileu, Bacon, Descartes e Newton, que con- cebiam o conhecimento objetivo como algo ob- tido pela experimentação e observação contro- lada, cujo critério de verdade na experimentação (sensação) e na lógica matemática (razão), deu origem a duas correntes filosóficas importantes: o racionalismo e o empirismo. Nesse período a essência do ser se con- tinha na razão e por meio da racionalidade se obtinha a verdade e os problemas eram solucio- nados. Era um mundo essencialmente limitado pelos cinco sentidos, ou seja, as respostas às per- guntas, toda a verdade existiam fora do sujeito e dependiam do conhecimento exterior, captado pelos órgãos dos sentidos. O dualismo radical persistia. Mente e matéria eram duas coisas fun- damentalmente distintas e separadas, a primeira se sobrepunha à segunda. Percebemos, então, que dentre as influên- cias que o velho paradigma exerceu na educação encontramos: um sistema paternalista, hierárqui- co, autoritário, dogmático e a presença de uma escola que exige memorização, repetição, cópia 175 que enfatiza o conteúdo, como resultado, como produto que conforma a boa conduta, punindo os erros e as tentativas de liberdade e expressão. A escola continua ainda dividindo os co- nhecimentos em assuntos, especialidades, centra- da no professor e na transmissão do conteúdo, que produz seres subservientes, obedientes, revol- tados, improdutivos, destituídos de outras formas de expressão e de solidariedade. Na visão de Pau- lo Freire, ainda convivemos com uma educação ‘domesticadora’, ‘bancária’, que deposita no aluno informações, dados e fatos, em que professor é o detentor do saber, a autoridade que dirige um pro- cesso e um modelo a ser seguido e reproduzido. Mesmo com a evolução de novos saberes paradigmáticos, sentimo-nos ainda arraigados ao antigo sistema. Assim, a ação educativa precisa refletir e discutir os paradigmas recônditos. Isso não significa o abandono do passado, o esqueci- mento da tradição, que, na cultura e em cada ser, continuam vivos, porém uma releitura à luz do presente que temos e do futuro que desejamos. A educação no paradigma ontológico do saber, na concepção metafísica (transmissão do aces- so à verdade estabelecida) consiste em transmi- tir o conhecimento aprendido como imutável; a 176 aprendizagem é puramente assimilativa (passiva). Nessa visão, ensinar é repetir, aprender é memo- rizar. O papel do professor é decisivo, insubsti- tuível em sua qualidade de portador individual dos conhecimentos depositados na tradição cul- tural. Os alunos são iguais, ignoram o conheci- mento cientificamente produzido. Entretanto, o Paradigma Moderno, ou da subjetividade da razão individual, concebe o homem como criatura de seu próprio universo científico e moral, segundo as normas da pró- pria razão. O homem, nesse caso, conhece o mundo ao transformá-lo pelos instrumentos materiais ou conceituais que elabora. Segundo Mondolfo (1980) transforma para conhecer. A mente humana passa a operar sobre os objetos, transformando-se em supremacia sobre estes. O conhecimento é representação mental dos obje- tos, ou seja, a consciência conhece pela repre- sentação que estipula com os objetos que, para serem apreendidos, reduzem-se a fragmentações, em especialidades compartimentadas e isoladas de todo seu contexto natural e cultural. As dis- ciplinas científicas fecham-se em seus âmbitos estreitados e se tornam incomunicáveis entre si. Para Marques (1988), a configuração da 177 sociedade moderna, a dimensão pública se reduz à funcionalidade utilitária, oculta os atores sociais reais, concretos e históricos, à busca de reduzir homens e coisas a objetos substituíveis entre si, a mercadorias, transformados todos em valores de troca. Nesta lógica de funcionalidade, a educação deve moldar-se às exigências que se impõem ao homem. Os currículos escolares fragmentam o conhecimento a compartimentos, fechados em si mesmos. O ensino-aprendizagem se reduz a pro- cedimentos sistemáticos e quantificáveis de sala de aula. Predominam os testes objetivos na avalia- ção de desempenho comportamental e na mensu- ração dos resultados da aprendizagem cognitiva. De acordo com o paradigma neomoder- no, a educação assume papel ativo de aprendiza- gem coletiva e da potenciação do desenvolvimen- to cognitivo, prático-moral e expressivo-estético. A educação torna-se um alargamentoda cultura, relacional e expressiva na dinâmica das experiên- cias vividas e na totalidade da aprendizagem da humanidade pelos homens. Segundo Gudsdorf (1987), nela, as pessoas e grupos com experiên- cias diversificadas se confrontam dialogicamen- te, cada qual a seu modo. A escola mais do que instituição de ensino 178 se identifica pelas relações compartilhadas e atua- ção de seus instituintes internos: os educadores, os educandos e a comunidade humana concreta a que busca servir. A dinâmica da ação educativa escolar deriva do projeto ou proposta político- -pedagógica que a impulsiona, organiza e conduz. As perspectivas pedagógicas assumem valor pela forma consensual em que se constroem e se ex- pressam, e não pelo seu conteúdo intrínseco. A aprendizagem é o resultado de rela- ções estabelecidas em entendimento mútuo e expressas em conceitos, resultando em saberes históricos e se constrói a partir das aprendiza- gens individuais e grupais. O professor deverá integrar-se a cada nova turma de alunos, num processo original de construção de conceitos, sempre ligada às experiências que compartilham em comum, pois é improdutivo querer adotar a mesma didática de ensino sempre. A singularida- de humana e a maneira particular de aprender de cada um, de cada grupo, de cada contexto esco- lar exigirão uma postura criativa do mestre. A sala de aula deve se transformar num lugar de encontro para as ações e relações edu- cativas face a face, e superar a fragmentação das disciplinas, enclausuradas em si mesmas, e em 179 práticas orientadas para eixos temáticos e con- ceituais interdisciplinares. Teoria e prática, os pressupostos ético-políticos da educação e os conteúdos conceituais e técnicos do ensino ar- ticulam-se com as características grupais e pes- soais dos sujeitos em interação, nas condições concretas de operacionalização. Em todos os es- tágios da prática educativa, devem relacionar-se a cadeia de conceitos e categorias de análise com as experiências do grupo envolvido. Diante desses apontamentos, podemos definir as aprendizagens significativas como aquelas que se abrem e se orientam para novas competências comunicativas nos campos da cul- tura, da vida em sociedade e da expressão das personalidades. Para Marques (1992, p.85): “esta concepção genético-dinâmica do processo de construção do conhecimento é o processo bá- sico da sistematização do saber escolar, em que nada se começa da estaca zero, mas tudo se liga às aquisições anteriores e se projeta na dinami- zação de novos avanços, ou na construção de conceitos mais abrangentes e, ao mesmo tempo, mais articulados em interdependência com ou- tros conceitos em conexão viva no seio das teo- 180 rias”. Nesta ótica de aprendizagem que constitui a humanidade importa que percebamos como se relacionam educação e conhecimento exigidos pelos tempos neomodernos. É preciso que nós, educadores, nos apro- fundemos sobre as responsabilidades que nos cabem e às nossas escolas. 5.3 – Escola X Educação Mas o que é importante é que os princí- pios transdisciplinares fundamentais da ciência, a matematização, a formalização são precisamente os que permitiram desenvolver o enclausuramen- to disciplinar. Por outras palavras a unidade foi sempre hiperabstrata, hiperformalizada, e só pode fazer comunicar as diferentes dimensões do real abolindo estas dimensões, isto é, unidimensionali- zando o real. (Edgar Morin, 1992, p. 217) 181 Dessa síntese se impõe a necessidade de se pensar a educação numa perspectiva comple- xa, capaz de compreender e viver a solidariedade advinda da tomada de consciência, como fator de compreensão para os seres humanos, em di- versas dimensões e sob os mais variados e múlti- plos aspectos também, dentro da escola. Segundo Morin, o aprendizado das dis- ciplinas escolares é repassado às crianças dentro de categorias isoladas, sem perceber a inter-rela- ção entre elas. As crianças aprendem a conhecer os objetos isolando-os da mesma maneira, sem associá-los a seu meio ambiente para melhor conhecê-los, uma vez que todo ser vivo só pode ser conhecido na sua relação com o meio que o cerca, onde vai buscar energia e organização. Sabemos que ainda hoje predomina o currículo escolar fragmentado, além de, às vezes, falhar quantitativa e qualitativamente. As disci- plinas não oferecem a visão do todo, muito me- nos favorece a comunicação e o diálogo entre os saberes. Com seus programas e conteúdos não se integram ou complementam, dificultando a perspectiva de conjunto e de globalização, que favorece a aprendizagem. Pelo processo do pensamento se fazem 182 necessárias as relações das partes que integra- lizam o todo. O pensamento é dinâmico. Essa mobilidade é que permite a criação e com ela a elaboração do conhecimento; é o que justifica o rompimento do sujeito com o pensamento linear e reducionista, privilegiando na atualidade o pa- radigma da complexidade. Devido a esses problemas, a escola nos faz crer que ainda não definiu o seu papel no contexto histórico, social e político, carecendo construir sua identidade – um processo de cons- trução gradativo. Os membros da comunidade escolar precisam de autoafirmação e autoco- nhecimento, a partir dos quais se transformam, constroem sua identidade e aprendem sempre, colocando seu aprendizado em função de seu meio ambiente. A capacidade de aprender está ligada ao desenvolvimento das competências inatas do in- divíduo em adquirir conhecimentos, associadas às influências e estímulos externos. Podemos esque- matizar, explicando a união do conhecido ao des- conhecido no ato de aprender, da seguinte forma: Inato ConstruídoAdquirido 183 O conhecimento abrange características existenciais, individuais, subjetivas e objetivas as- sociadas à emoção, que, de acordo com Morin (1986, p. 94), é preciso considerar os aspectos pai- xão, dor e prazer no ato do conhecimento A ação de conhecer está presente nas ações biológicas, cerebrais, espirituais, culturais, linguísticas, sociais, políticas e históricas. Portanto, ser e conhecimen- tos são condicionados simultaneamente. A subjetividade humana está presente no conhecimento objetivo, porém é fundamental que o sujeito não se utilize desta subjetividade para manipular as coisas ou pessoas que se encontrem a sua volta. De que adianta, por exemplo, alguém tornar-se exímio em cálculos se, movido pela ga- nância, passa a usar essa habilidade em negócios escusos? Ou então, de que adianta ser um ótimo redator se passar a usar sua habilidade de redação como um instrumento para ameaçar os outros? O ser humano, em contrapartida com o computador que produz conhecimento, isento de subjetividade, é responsável por sua transforma- ção e do meio no qual está inserido, justamente por possuir uma autonomia e ser orientado por seus próprios desejos. Dessa forma, a construção da identidade da escola passa primeiro pela cons- 184 trução individual de seus membros. Outro ponto a destacar é que o pensa- mento de Morin para a educação vai além da interdisciplinaridade, tornando-se uma prática transdisciplinar. A interdisciplinaridade seria en- tendida como comunicação entre as disciplinas, ao passo que na transdisciplinaridade há busca de todas as relações que possam existir entre todo conhecimento, fundamentada por uma episte- mologia da complexidade, e que interliga sujei- to–objeto–ambiente. É no aprender a aprender que o educador transforma a sua ação numa prá- tica pedagógica transformadora. E afirma (1982, p.217): A ciência nunca teria sido ciência se não tivesse sido transdisciplinar. Além disso, a história da ci- ência é percorrida por grandes unificações trans- disciplinares marcadas com os nomes de Newton, Einstein, o resplendor de filosofias subjacentes (empirismo, positivismo, pragmatismo) ou de im- perialismos teóricos (marxismo, freudismo). De acordo com o contexto é sempre im- portante refletir e ampliar asdiscussões acerca da importância das relações dos conteúdos de uma disciplina com outra disciplina, para não perder 185 de vista a construção do saber uno, com visão conjunta e de um todo composto por muitos as- pectos. É fundamental que na escola exista a asso- ciação, a junção, a interligação e a complexificação entre os conteúdos das várias áreas do saber. O professor deverá ir em busca da for- mação necessária para sua prática renovadora e deve ser um estudioso, um pesquisador, um au- todidata. É preciso que os educadores iniciem o processo de reforma do pensamento, carecendo de persistência e dedicação quando se acredita nas próprias ideias. Então, fica a seguinte questão: A consciência, a inteligência, o pensamento do que se passa na nossa própria vida, na socieda- de, na história, no mundo, vêm sempre muito tarde. A ave de Minerva levanta-se quando o dia vai terminar, e está tudo irremediavelmen- te realizado. A inteligência, o pensamento, a consciência que nos faltam advirão antes que termine o milênio? (Edgar Morin, 1986, p.189) 186 5.4 – A formação e a carreira de profissionais da educação na LDB: 9.394/96 A formação de professores segue um percurso histórico, o qual passou por importan- tes modificações. Há um tempo, essa formação ocorria em cursos de nível médio: o Magistério e numa nomenclatura mais remota curso Nor- mal. Não era exigida a formação em nível supe- rior para aqueles que se propunham a trabalhar desde a pré-escola até a antiga 4ª série. Acontece que, em face das exigências educacionais vigen- tes, essa formação não abarcava a diversidade de gêneros e interesses da educação. O parecer do Conselho Nacional de Educação CNE/CEB nº 01/03 já salientava que “a formação em nível médio frente aos avan- ços pedagógicos e exigências socioeducacionais vai se tornando cada vez mais insuficiente para dar respostas aos desafios da escolarização”. A extinção, portanto, da forma como acontecia a formação do professor já estava prevista no Pla- no Nacional de Educação, tendo em vista dois 187 níveis superiores de formação docente: • Curso Normal Superior, para licenciatura de profissionais em educação infantil e de professo- res para os anos iniciais do ensino fundamental; • Cursos de Licenciatura, para a formação de do- centes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Conforme estabelecidos pela Resolução CNE nº 02/97, esses cursos seriam ministrados em Universidades, Centros Universitários e Ins- titutos Superiores de Educação, que pudessem oferecer também cursos de Pós-Graduação de caráter profissional e Programas Especiais de Formação Pedagógica para profissionais de ní- vel superior que pretendessem dar aulas na área de sua especialidade nos anos finais do ensino fundamental. A intenção dessas mudanças seria a to- mada de consciência da formação docente que pretendia “superar o padrão segundo o qual os conhecimentos práticos e pedagógicos são responsabilidade dos pedagogos e os conheci- mentos específicos a serem ensinados são res- ponsabilidade dos especialistas por área de co- nhecimento” (Parecer CNE/CP nº 09/01). Além disso, há um sentido coerente 188 para que a formação para o magistério da edu- cação básica se dê em nível superior: as univer- sidades continuam sendo os principais centros de formação de recursos humanos, tendo como ferramentas os projetos experimentais e as me- todologias atuais; os centros universitários, as- sim como as faculdades integradas ou isoladas, atuam também na formação de profissionais da educação; os institutos de educação superior cumprem da mesma forma o papel de forma- ção de profissionais de educação, incluindo o Normal Superior. De acordo com Maduro Neto & Vieira, 1996 (apud, Silva, p. 195 e 196, 1998) constam nas estatísticas educacionais sobre o magistério brasileiro: • O crescimento das matrículas da Habilitação Magistério (cursos normais), no ensino médio, entre 1985 e 1993 (período de crise financeira, acarretando índices consideráveis na redução dos salários de professores), foi quase sempre inferior ao das matrículas no ensino médio como um todo. • Acompanhando as disparidades regionais brasi- leiras, as matrículas na Habilitação Magistério ten- deram a crescer mais no interior que nas capitais. 189 • Entre 1985 e 1992, o número de concluintes da Habilitação Magistério diminuiu 5,14 por cento. • De 1987 a 1993, ao passo que a matrícula da educação pré-escolar até a quarta série do ensi- no fundamental cresceu 19,5 por cento, o nú- mero de concluintes da Habilitação Magistério reduziu-se em 12,2 por cento. • Nas classes de alfabetização a participação de professores não habilitados caiu de 50,2 por cento em 1987 para 35,5 por cento em 1993. Nas primeiras quatro séries do ensino funda- mental os professores não habilitados se redu- ziram apenas de 23,9 por cento, em 1985, para 20,4 por cento, em 1993. No entanto, o per- centual de professores com licenciatura passou, entre estes anos, de 35,9 para 39,5 por cento. • No período de 1985 a 1993 o número de fun- ções docentes para o ensino fundamental cres- ceu 29,4 por cento, enquanto o número de con- cluintes de Habilitação Magistério reduziu-se em 5,1 por cento. Por seu lado, a relação alunos por função docente, que se reduzira nos anos 80, ele- vou-se de 14,6 para 15,3, média ainda considera- da aceitável, segundo os padrões internacionais. Como vimos, a redução de concluintes de Habi- litação Magistério não chegou a ser compensada 190 pelos egressos do ensino superior. • Considerando-se o total do corpo discente do ensino superior de graduação, em 1990, 36% estavam matriculados nas licenciaturas, decain- do esta participação para 33,6% em 1994, o que indica a diminuição da demanda aos cursos de formação de professores. • Levando em conta o período de 1990 a 1993, o crescimento das matrículas nas quatro últimas séries do ensino fundamental foi de 16,2% e o das matrículas do ensino médio, de 15,5%. Em contraste, as matrículas nos cursos normais e nos que oferecem Licenciatura e Bacharelado caíram 2,33 %. Sabemos que a formação de professo- res, mesmo em cursos de educação superior, necessita de reformulação, haja vista que o con- tingente discente exige um preparo mais acura- do do corpo docente habilitado em lidar com questões afetivo-cognitivo-emocionais. Muito mais que lutar por excelência salarial, o profes- sor, ao optar pela carreira do Magistério, precisa tomar consciência das lutas e desafios que en- frentará ao longo do processo de ensino. Ao se iludir, ou mesmo tecer diversas 191 fantasias acerca do ‘como ensinar’, acreditando que basta apenas ‘domesticar’ os alunos, depo- sitar neles um número excessivo de conteúdos, o professor cairá automaticamente em ‘crise’. O médico, ao formar-se em medicina, conhece bem o funcionamento do organismo humano. Do mesmo modo deverá proceder a formação docente, durante a qual o futuro professor ne- cessitará entender como funciona a estrutura cognitiva do sujeito e quais os fatores que facili- tam ou dificultam o processo de aprendizagem. Além de mensurar com dados estatísti- cos o declínio de profissionais da educação, que preferem se debandar para outras profissões que exigem menos esforço psíquico, é preciso refletir: Por que a educação básica esgotou- -se em qualidade? Será o problema do ensino um problema de indisciplina? Por que a queixa dos profissionais da educação se concentra nas questões comportamentais de nossas crianças e jovens? A indisciplina não seria um sintoma das causas que perturbam a personalidade do indi- víduo? Como formar professores competentes para lidar com problemas de ordem cognitivo- -afetiva em sala de aula? Para responder a essas questões, precisamos conhecer quais fatores es- 192 tão envolvidos no ato de aprender do sujeito e que parâmetro de ensino as escolas adotam. 5.5 – Aprender e ensinar – construir e interagir Observe o esquemaabaixo retirado – com algumas alterações – de um texto bem mais extenso de Greg Swan e Billie Hughes. Está dis- ponível na Internet, verbete constructivism, no buscador Alta Vista. 193 EPISTEMOLOGIA OBJETIVA (entrega e recepção de saberes) Algo externo e independente de quem conhece Processador de símbolos Algo não físico independente da experiência corporal Regido pela realidade externa Refletindo a realidade externa Manipula símbolos abstratos Representa (espelha) a realidade Pode ser decomposto (atomistica- mente em blocos de construção) Algorítmico (= passos sequen- ciais de execução) Classificação Espelho da natureza Máquina abstrata para manipular símbolos Sistema conceitual para construir a realidade Estrutura de coisas, fatos, entidades, propriedades, relações. Algo determinado por quem conhece Criador de símbolos Algo que emerge dentro da corporeidade Fundado na percepção/construção Emerge da experiência biorgânica e social Como imaginativo possibilita a abstração É mais do que representação (espelhamento) da realidade. Tem propriedades gestálticas (padrões, formas). Apoia-se na estrutura biodinâmica do sistema conceitual. Criação de modelos cognitivos Intérprete da natureza e história Produto da mente. Procedimentos simbólicos constroem a realidade Que é a Realidade? Que é o cérebro/mente? Que é conhecer e pensar (construção interativa de conhecimento) EPISTEMOLOGIA CONSTRUTIVISTA 194 Correspondente a coisas e categorias que existem no mundo. Independente da compreensão por qualquer organismo. Representam a realidade. Representações internas da realidade exterior. Algo externo ao entendedor. Não se fia da correspondência com o mundo (supostamente objetivo). Depende da compreensão. Instrumentos para construir a realidade. Representações de uma realidade interior. Determinado pelo entendedor/observador. Que é significação/sentido? Que são símbolos? Fonte: ASSMANN, H. Metáforas novas para reencantar a educação. Piracicaba, Ed. UNIMEP, 1996, p. 136-137. Pela análise criteriosa do quadro acima fica mais fácil compreendermos que a formação docente se encontra arraigada a uma pedagogia tradicional que foca o processo de ensino no professor. Partindo do significado etimológico da palavra educar – do latim ex-ducere – que sig- nifica extrair, trazer para fora, buscar o que já está dentro, percebemos o quanto é importante ressignificarmos a unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, sem aprendizagem o en- sino não se consuma, ou vice-versa. Para haver ensino é preciso que seu produto - aprendizagem 195 - aconteça. A epistemologia construtivista é configura- da, na educação, por uma série de princípios explica- tivos do desenvolvimento e da aprendizagem huma- na que se complementam, integrando um conjunto orientado a analisar, compreender e explicar os pro- cessos escolares de ensino e aprendizagem. A contribuição da psicologia genética, da teoria sociointeracionista e das explicações da atividade significativa consolidaram o marco construtivista. Para compreender e explicar as várias dimensões envolvidas na educação esco- lar, vários autores partiram da ideia de que o ser humano é um construto complexo que se con- forma em um corpo, onde interagem o nível do desejo, do afeto e da cognição. Nessa perspectiva, passamos a compre- ender que o construtivismo refere-se ao reco- nhecimento da importância da atividade mental construtiva nos processos de aquisição do co- nhecimento. O conhecimento passa então a ser visto como uma construção histórica e social que acontece no íntimo de cada pessoa e na interação com o ambiente experimental, na qual interfe- rem fatores de ordem cultural e psicológica. A aprendizagem ganha um significado 196 muito mais complexo quando, no processo de interação do aluno com o objeto a ser conheci- do – seja ele conteúdo escolar ou extracurricular –, ele constrói representações que funcionam como verdadeiras explicações e que se orientam por uma lógica interna, que faz sentido para o aluno, mesmo parecendo incoerente aos olhos do adulto. As aprendizagens vão se delineando ao longo do desenvolvimento, resultando de expe- rimentações sucessivas que ganham inteligência lógica. Os erros que os adultos costumam apon- tar no processo de aprendizagem do aluno são interpretados como erros construtivos. Lem- brando que o processo de construção do conhe- cimento é algo inerente às estruturas internas do aluno, onde interatuam a inteligência e o desejo transversalizados pelo corpo e o organismo. Mesmo com o avanço da investigação científica na área de aprendizagem, ainda assim existem escolas, professores e sistemas peda- gógicos banalizando o aprender a conhecer, o aprender a fazer, ignorando os estágios de desen- volvimento intelectual por que passam todos os seres humanos. Ou seja, a intervenção pedagógi- ca deve-se adequar ao que os alunos conseguem 197 realizar em cada momento de sua aprendizagem, para se constituir em verdadeira ajuda educativa. O conhecimento resulta de um proces- so de modificação, reorganização e construção utilizado pelos alunos para assimilar e compre- ender os conteúdos escolares. É tradição equi- vocada do sistema escolar que trabalha com a ideia de que a ausência de erros na tarefa esco- lar é a manifestação da aprendizagem. A me- morização e a repetição fiel dos conteúdos en- cobrem a concepção de uma falsa ensinagem e uma ineficiente aprendizagem. O processo de construção do conheci- mento se arquiteta no interior do aluno. É ele quem modifica, enriquece, transforma, constrói novos e mais potentes instrumentos de ação e interpretação. Porém, isso não implica desva- lorizar o papel determinante da interação com o meio social e, particularmente, com a escola. As situações escolares são dialógicas, provêm de um inter-relacionamento entre professor – aluno – objeto do conhecimento – aprendi- zagem. Constitui numa relação circular e não linear sem sobrepor-se um ao outro. O aluno vai tecendo seu saber, à medida que essa rela- ção acontece de maneira sadia, com os limites e 198 intervenções necessários feitos pelo professor, o qual deve assegurar equilíbrio adequado entre as atividades mentais construtivas de seus alu- nos e significados socioculturais refletidos nos conteúdos escolares. Segundo Vygotsky (1993), as funções psíquicas (linguagem, formação de conceitos, abstração, resolução de problemas, pensamento, inteligência) envolvidas no estudo de várias maté- rias são interdependentes; o aprendizado de uma matéria influencia o desenvolvimento de funções superiores para além dos limites dessa matéria específica. Todas as matérias escolares atuam, portanto, como uma disciplina formal, cada uma facilitando o aprendizado das outras. Além disso, Vygotsky criou a teoria da Zona de Desenvolvi- mento Proximal, segundo a qual considera a in- terferência do meio na mediação da aprendizagem da criança, dada pela diferença existente entre o que ela consegue fazer sozinha e o que pode fazer ou aprender com a ajuda dos outros. Dessa forma, a aprendizagem é con- dicionada, de um lado, pelas possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de organi- zação do pensamento como os conhecimentos e experiências prévias, e de outro, pela interação 199 com os outros agentes. Concomitantemente a esse processo a criança vai assumindo a cultura do grupo social a que pertence. Daí nasce o conceito de aprendizagem significativa como trabalho simbólico de signi- ficar a parcela da realidade que se conhece. A aprendizagem significativa representa sempre um desafio para o aluno que, diante do problema posto, precisa elaborar hipóteses e experimentá- -las. Neste momento, fatores e processos afeti- vos, motivacionais e relacionais são importantes. Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm um papel determinante na expec- tativa que o aluno tem da escola, do professore de si mesmo, nas suas motivações e interesses, em seu autoconceito e em sua autoestima. Dentro do contexto escolar, existem ou- tros mecanismos de influência educativa (a orga- nização e o funcionamento da instituição escolar e os valores implícitos e explícitos que permeiam as relações entre os membros da escola), cuja natureza e funcionamento em grande medida são desconhecidos, mas que incidem considera- velmente sobre a aprendizagem dos alunos. São fatores que determinam a qualidade de ensino e podem chegar a influir de maneira significativa 200 sobre ‘o que’ e ‘como’ os alunos aprendem. As influências extraescolares (mídia, fa- mília, igreja, amigos etc.) com que sofrem os alunos somam-se ao processo de aprendiza- gem escolar. Por isso, a escola deve considerá- -los e integrá-los ao trabalho. Porém, essas mes- mas influências podem apresentar obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma direção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no encaminhamento escolar. É necessária a in- terferência da escola nessas direções, para que a intervenção pedagógica favoreça o aniquilamen- to desses obstáculos num processo articulado de interação e integração. A escola precisa preservar o desejo de conhecer e de saber com que as crianças che- gam até ela. Precisa manter a boa qualidade do vínculo com o conhecimento. Deve garantir o sucesso através de uma proposta de interven- ção pedagógica adequada. O ensino deve po- tencializar a aprendizagem e o professor, mola- -mestra desse processo, deverá ter propostas claras, coerentes com os objetivos de ensino e conectadas ao desenvolvimento psíquico e in- telectual dos alunos, e saber ‘quando’ e ‘como’ proceder ao ensino de qualidade. 201 Complementação de Estudos Livros: • ARANHA, Maria Lúcia de Almeida. História da Educação. 2. ed. Atual. São Paulo. Moderna, 1996. • BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Edu- cação. São Paulo: Brasiliense, 1986. • FREIRE, Paulo. Medo e Ousadia. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. • GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da edu- cação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 2000. • ASMANN, H. (1996). Metáforas novas para re- encantar a educação – epistemologia e didática. Piracicaba, Ed. UNIMEP. • MORAES, M. C. (1997). O paradigma educa- cional emergente. Campinas: Papirus. 202 Filmes: Meu mestre, minha vida. Resumo: Arrogante e auto- ritário, o professor Joe Clark é convidado por seu amigo Frank Napier a assumir o cargo de diretor na proble- mática escola em Paterson, New Jersey, de onde ele havia sido demitido. Com seus mé- todos nada ortodoxos, Joe se propõe a fazer uma verdadeira revolução no colégio marcado pelo consumo de drogas, dispu- tas entre gangues e considerado o pior da região. Com isso, ele ao mesmo tempo coleciona admira- dores e também muitos inimigos. Escritores da liberdade Resumo: Erin Gruwell é uma jovem professora que leciona em uma pequena escola de um bairro periférico nos EUA. Por meio de relatos de guer- ra, ela ensina seus alunos os valores da tolerância 203 e da disciplina, realizando uma reforma educacional em toda a comunidade. Atividades O bolo e a escola Ao discutir a questão da mudança na or- ganização da escola, fui questionado por um dos participantes da reunião: “mas, por que mudar? Qualquer que seja a organização da escola, ela ensina, assim como em qualquer forno se cozi- nha o bolo”. O questionamento, tal como foi coloca- do, é portador de uma certa lógica: qualquer forno cozinha o bolo realmente, mas não produz o mes- 204 mo tipo de bolo, no mesmo tempo, com o mesmo sabor, capaz de provocar o mesmo efeito. O forno é o mediador e, como tal, ele se presta a cozinhar qualquer bolo... que nele for devidamente intro- duzido. Agora, o tipo de bolo, o efeito relativo ao sabor, o aspecto e a reação que se deseja provo- car em quem vai comê-lo depende da preparação anterior realizada por quem o preparou: quais os ingredientes que o compuseram, qual o formato desejado, qual o fim almejado, são questões que devem ser resolvidas antes que o bolo seja colo- cado no forno; essas decisões revelam a intenção de quem o está preparando. E elas antecedem o gesto de levá-lo ao forno. Assim também é a ação educacional. Qualquer escola é capaz de cumprir a tarefa de preparar alunos, mas determinar e escolher os objetivos a serem alcançados com esse preparo antecede a ação escolar. Logo, todos os educa- dores, individualmente e enquanto corpo edu- cativo, devem ter isso em mente para poderem organizar o modo de realizar essa preparação a ser executada na escola. Neidson Rodrigues Doutor em Filosofia da Educação – PUC/SP 205 1 – “A escola é a única instituição para a qual se di- rigem e são dirigidas todas as novas gerações, des- de o seu nascimento”. Com base nessa assertiva e no texto complementar, desenvolva uma disserta- ção a respeito da organização do espaço escolar. 2 - “Duas coisas devem andar juntas em nossa maneira de entender a educação: a melhoria pe- dagógica e o compromisso social”. Elabore um esquema, com base nessa ideia, estabelecendo um paralelo entre: melhoria pedagógica X com- promisso social. 3 – “Há algo de errado na velha ideia de que aulas mais ou menos bem dadas (um bom ensi- no) geram necessariamente boas aprendizagens. Os próprios conceitos de ensino e aprendizagem estão hoje submetidos a uma profunda revisão”. Quais aspectos - pedagógicos, filosóficos, socio- lógicos, psicológicos, psicopedagógicos - neces- sitam ser repensados em educação? 4 – “O reencantamento da educação requer a união entre sensibilidade social e eficiência peda- gógica. Portanto, o compromisso ético-político do/a educador/a deve manifestar-se primor- 206 dialmente na excelência pedagógica e na cola- boração para um clima esperançador no próprio contexto escolar”. Com base nessa colocação, expresse seu conceito de sensibilidade social: o que é, como adquirir, o que fazer, em quais cor- rentes pedagógicas ela se faz presente; eficiência pedagógica: o que é, como adquirir, o que fazer, em que situação escolar ela se faz presente. Estrutura Didático - Pedagógica da Escola UNIDADE 6 Caro Aluno, Nesta última unidade convido você a refletir sobre a importância de sua formação e como ela o ajudará na prática escolar. Estude muito a legislação educacional, além de investir em literaturas da área. Se já atua em escolas ou instituições de ensino, faça diariamente uma re- flexão sobre a qualidade dos serviços que tem prestado. O educador jamais poderá parar de in- vestir em sua formação profissional. Pense bastante nisso! Bons estudos! E muito sucesso em sua carreira. 211 6.1 – O Projeto Pedagógico da escola A Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 9394/98) no artigo 12, título IV estabelece que: Os estabelecimentos de ensino, respeita- das as normas comuns e as de seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; [...] VII – informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsá- veis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola. O artigo 13 da mesma Lei ressalta que: Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagó- gica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segun- do a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. 212 E, ainda, no artigo 14 assim se escreve: Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educa- ção básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. Nesse contexto, podemos colocar ques- tões como: - O que é projeto político pedagógico da escola? - De quem é a responsabilidade da constituição do projeto da escola? Um projeto político pedagógicodeverá apoiar-se no desenvolvimento de uma consciên- cia crítica; no envolvimento dos segmentos esco- lares; na participação e na cooperação das várias esferas de governo; e na autonomia, responsa- bilidade e criatividade como processo e como produto do projeto. Enfim, um projeto político pedagógico se constrói de forma interdisciplinar. Assim, o projeto deve ser entendido como um processo que inclui a formulação de metas e meios, seguindo as particularidades de cada es- cola, através da criação e da valorização de roti- 213 nas de trabalho pedagógico em grupo e do com- promisso de todos os membros da comunidade escolar, para além do planejamento de início do ano. De acordo com Neves (1998, p.29 a 31) apresenta como características principais: Totalidade – Uma vez que o projeto político- -pedagógico engloba toda a ação da escola: fun- damentos filosóficos, objetivos, metas, organiza- ção, controles internos e externos, administração de pessoal, administração de material, decisões relativas ao processo de ensino-aprendizagem e à organização da vida escolar, processos de de- cisão e gestão, relações de trabalho, processos de avaliação da aprendizagem dos alunos e do desempenho da própria instituição, sem prejuízo das avaliações externas que possam ocorrer. Identidade – Significa explicitar com clare- za sua missão social, seus princípios, valores e compromisso com resultados educacionais dos alunos; organizar-se administrativa, pedagógica e financeiramente, de forma a alcançar os obje- tivos e metas com eficiência e eficácia e definir linhas de trabalho que sejam aceitas e legitima- das pela comunidade. 214 Intencionalidade – Significa que o projeto pedagógico é elaborado para ser cumprido e não guardado em uma gaveta. Seus propósitos, ações, calendário, distribuição de competências e prazos são estabelecidos para se transforma- rem em realidade. [...] Fazem parte, ainda, da in- tencionalidade o acompanhamento e a avaliação permanente, que corrige rumos, reforça acertos, sugere novos caminhos, aperfeiçoa o processo. E, quando a LDB diz que o professor preparará seus planos de aula de acordo com o projeto, re- força essa característica. Dinamismo – [...] um movimento dialético que leva sempre a novas sínteses. Na verdade, à medi- da que a escola vai alcançando objetivos e metas estabelecidos, uma nova realidade está surgindo, impondo a reconstrução do projeto. [...] O dina- mismo do projeto significa que ele é sempre pas- sível de revisões e aperfeiçoamento, exigindo dos atores uma atitude reflexiva e crítica permanente. Construção democrática – “[..] um projeto, para ser assumido por todos como um compro- misso simultaneamente pessoal e institucional, deve ser construído de forma participativa, soli- 215 dária. O diretor, o coordenador pedagógico, ou quem quer que seja o responsável pela condu- ção do processo de construção do projeto deve facilitar a professores, famílias, Conselho Esco- lar, grêmio ou representantes de alunos, pessoal técnico-administrativo e de apoio, comunidade, enfim, a todos os envolvidos com a escola, sua participação no projeto.” Transparência – “[...] Toda a sociedade deve conhecer as políticas, finalidades, objetivos, ações das diversas instâncias educacionais e do projeto pedagógico.” Ainda, segundo a autora, (1995, p.112): O projeto pedagógico é um instrumento de tra- balho que ilumina princípios filosóficos, define políticas, harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, racionaliza e organiza ações, dá voz aos atores educacionais, otimiza recursos materiais e financeiros, facilita a continuidade administrativa, mobiliza diferentes setores na busca de objetivos comuns e, por ser de domínio público, permite constante acompa- nhamento e avaliação. 216 Ao elaborar o seu projeto, a escola dis- cute e explicita os valores coletivos assumidos; prioriza e define os resultados desejados; incor- pora a autoavaliação do trabalho do professor. Agindo desse modo, permite à equipe de traba- lho o estudo e a reflexão contínua que dão senti- do às ações cotidianas. A proposta pedagógica contemplará os seguintes aspectos: • Justificativa da proposta pedagógica da escola. • Organização pedagógica da escola compre- endendo, entre outros, os seguintes aspectos: currículo escolar; descrição de estratégias de ve- rificação de desempenho escolar, recuperação, avanços escolares, entre outros; programação das atividades escolares, no que se refere a calen- dário; organização do trabalho escolar; descrição de processos que assegurem a articulação e inte- gração dos profissionais da escola; descrição dos processos a serem utilizados para promover a ar- ticulação com a comunidade; meios que a escola utilizará para informar os pais ou responsáveis, quando menores, sobre frequência e desempe- nho dos alunos. • Programa de educação continuada dos profis- sionais da educação. 217 • Descrição dos processos que garantem a par- ticipação dos profissionais da escola pública no processo decisório da escola. • Procedimentos de avaliação institucional inter- na e externa. • Outros aspectos que a escola julgar necessários. A responsabilidade de construção do pro- jeto pedagógico é bastante significativa. Conforme o que consta na LDB, o projeto pedagógico torna os professores artífices de uma obra democrática e autônoma, o que, de acordo com Castro Neves (1995, p.121) “a autonomia é a possibilidade e a capacidade de a escola elaborar e implementar um projeto pedagógico que seja relevante à comuni- dade e à sociedade a que serve”. O desenvolvimento do projeto requer, antes de mais nada, compromisso social, tempo para análise, discussão e reelaboração contínuas, o que só é possível se o clima institucional favo- recer essas condições. Nesse caso, a escola vista como espaço social e, portanto, político, necessita de pessoas que estejam engajadas com a política educacional e que vistam a camisa de “todos pela educação” 218 6.2 – Gestão da escola Antes o termo “gestão” era emprega- do no sentido de “administração” escolar que compreendia as atividades de planejamento, organização, direção, coordenação e controle. A gestão envolve, além dessas atividades, uma dosagem filosófica e política, que atesta a par- ticipação da comunidade nas decisões e na exe- cução dos procedimentos administrativo-peda- gógicos que circulam. No entanto, a escola pública, ainda, é organizada com vistas a relações verticais, de mando e submissão, em detrimento das relações horizontais, de cooperação e solidariedade entre as pessoas. A abordagem participativa na gestão escolar demanda maior participação de todos os interessados no processo decisório da escola, envolvendo-os também na realização das múlti- plas tarefas de gestão. Esta abordagem também amplia a fonte de habilidades e de experiências que podem ser aplicadas na gestão das escolas. Segundo Marques (1981), a participação de todos os segmentos nas decisões da escola e nas sucessivas fases de atividades é essencial 219 para assegurar o eficiente desempenho da orga- nização. Nesse caso, as pessoas e a própria or- ganização deverão manter certa flexibilidade, a qual permite uma abordagem aberta, facilitando a aceitação da realidade e permitindo constantes reformulações que levam ao crescimento pessoal e grupal. A gestão participativa se caracterizaria por uma forma de atuação consciente dos mem- bros escolares. Para Luck, 1996, p. 37: O entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto. Isso porque o êxito de uma organização depende da ação cons- trutiva conjunta de seus componentes, pelo tra- balho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva. Nesse processo de gestão, a dignidade do grupo, e de cadaum, se faz pelo respeito mútuo. Valeriem (2002) cita algumas funções que o ges- tor deve adotar: • Manter os professores informados do que se pas- sa na escola; recolher sua opinião e sua posição. • Criar uma atmosfera de trabalho, onde a livre 220 expressão dos indivíduos não deve impedir a criação de um conjunto e de um todo positivo. • Encorajar cada professor a sentir-se membro de pleno direito de uma equipe. • Trocar informações importantes. Luck (1998) aponta algumas estratégias para facilitar a participação: • Identificar as oportunidades apropriadas para a ação e decisão compartilhada. • Estimular a participação dos membros da co- munidade escolar. • Estabelecer normas de trabalho em equipe e orientar a sua efetivação. • Garantir os recursos necessários para apoiar os esforços participativos. • Prover reconhecimento coletivo pela participa- ção e pela conclusão de tarefas. Portanto, a responsabilidade da gestão participativa é complexa e exige o entendimento e a competência do gestor relativo a questões po- líticas, pedagógicas e organizacionais, além dos preceitos legais que regem a educação brasileira. Nesse contexto, a democracia, enquan- to valor universal e prática de colaboração recí- 221 proca entre grupos e pessoas, permite a cons- trução de uma gestão participativa, uma vez que contribui para a conquista da autonomia polí- tica, superando relações verticalistas e padrões de gestão tecnocrática. Assim, a escola poderá promover a cidadania e oferecer a todos uma educação de qualidade. 6.3 – A organização escolar e o compromisso pedagógico A organização escolar atualmente ado- tada é a realizada por séries anuais ou períodos semestrais. Antes, o sistema de ciclos tinha por objetivo agrupar os educandos da mesma faixa etária ou em um estágio de desenvolvimento mental semelhante. A intenção desse sistema era a de flexibilizar mais a proposta pedagógica e o tempo de aprendizagem do aluno, possibilitando que os conteúdos curriculares fossem divididos de maneira adequada a seu alunado. Teoricamen- te, o sistema de ciclos permitia avanços sucessi- 222 vos ao aluno. Ao propor os regimes de progressão, a LDB garante condições aos alunos de avançar na sua escolarização, seja através de progressão regular por série, parcial ou continuada. No en- tanto, o currículo deverá se constituir um instru- mento relacional e interligado ao contexto social do aluno, uma vez que a proposta curricular é historicamente situada e culturalmente determi- nada. Deve, portanto, ir-se construindo no bojo da proposta pedagógica, por um processo dinâ- mico e sujeito à reelaboração, tendo em vista a atualização de definições nele contidas. O regime escolar prevê o sistema de avaliação contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do ano sobre os de provas ou exames finais. (Parecer do Conselho Estadual de Educação, n. 1132/97). A avaliação da aprendizagem dos alunos fica, portanto, ao encargo da escola que deverá definir as formas e os procedimentos adotados, que serão decididos em conjunto com a equipe pedagógica e docente da instituição. Nesse sentido, tanto o texto legal como os estudos empíricos, enfatizam a necessi- dade de a avaliação ser adotada como instrumen- 223 to de diagnóstico, de promoção, de verificação das aprendizagens alcançadas pelos alunos. Isso se verifica nos incisos I, IV e IX do Art. 3º da LDB que fazem menção à necessida- de de comprometimento por parte da escola e dos educadores com relação aos alunos, que, em algum momento do processo ensino-aprendiza- gem, não tiveram as necessárias condições para o sucesso em suas aprendizagens no tempo e com os métodos determinados pela escola e pelos seus profissionais. Nesse caso, a equipe pedagógica e os pro- fessores deverão conhecer, além das competên- cias técnicas de suas áreas, os determinantes físi- co, psicológico, cognitivo e afetivo que interferem na aprendizagem do aluno, para então pensarem nos meios suficientes de recuperação da aprendi- zagem dos alunos de menor rendimento. Quando o texto legal preconiza a educação igual para todos, deve a lei, entretanto, reconhecer que nem todos os educandos aprendem por mé- todos rotineiros, insuficientes para provocarem a aprendizagem. A escola deverá oferecer dentro de suas possibilidades e em função de sua proposta pedagógica, todos os meios necessários para que o aluno obtenha sucesso em sua aprendizagem. 224 O item V do artigo 24 da LDB prevê ain- da o processo de aceleração de estudos para os alunos com atraso escolar ou defasagem série/ idade. Contempla a Lei a possibilidade de pro- gresso ou avanço na escolarização de alunos, de- corrente de seus esforços individuais. A reclassificação prevista na Lei deverá compreender avaliação que permita demonstrar o grau de aproveitamento do aluno nos pré- -requisitos necessários ao acompanhamento das atividades na turma na qual ele será classificado ou reclassificado. A descrição desse processo de- verá integrar o Regimento Escolar e vigorar an- tes do início do período letivo. Os documentos que fundamentam a reclassificação deverão ficar arquivados na pasta de cada aluno. Estabelece, ainda, o inciso I do supraci- tado artigo que, nas etapas fundamental e média, “a carga horária anual mínima será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado a exames finais, quando houver”. O inciso VI do mesmo artigo determina que: O controle de frequência fica a cargo da escola, conforme disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exi- 225 gida a frequencia mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. O Parecer n. 5/97 do Conselho Nacional de Educação, reconhece que: As atividades escolares se realizam na tradicional sala de aula, do mesmo modo que em outros locais adequados a trabalhos teóricos e práticos, a leituras, pesquisas ou atividades em grupo, treinamento e demonstrações, contato com o meio ambiente e com as demais atividades humanas de natureza cultural e artística, visando à plenitude da formação de cada aluno. Assim, não são apenas os limites da sala propriamente dita que caracterizam com exclusividade a ativi- dade escolar de que fala a Lei. Essa se caracteri- za por toda e qualquer programação incluída na proposta pedagógica da instituição, com frequ- ência exigível e efetiva orientação por professo- res habilitados. Os 200 dias letivos e as 800 horas anuais englobarão todo esse conjunto. Portanto, o compromisso maior da esco- la deverá ser a excelência na aprendizagem dos alunos. A frequência do aluno às aulas é elemen- tar, uma vez que pressupõe a interação e o con- vívio social com outras culturas e com o ensino formal. Garantir essa frequência como também 226 o acesso de educandos no ensino fundamental, e a criação de condições de permanência no ambiente escolar, mediante a adoção de moda- lidades, formas alternativas e de programas su- plementares de assistência ao educando são exi- gências legais e deverão permear a ação conjunta de toda a equipe técnico–pedagógica da escola. 227 Complementação de Estudos A arquitetura da escola A arquitetura e a ocupação do espaço fí- sico não são neutras. Desde a forma da constru- ção até a localização dos espaços, tudo é delimi- tado formalmente, segundo princípios racionais, que expressam uma expectativa de comporta- mento dos seus usuários. Nesse sentido, a ar- quitetura escolar interfere na forma da circula- ção das pessoas, na definição das funções para cada local. Salas, corredores, cantina, pátio, sala dos professores, cada um destes locais tem uma função definida a priori. O espaço arquitetônico da escola expressa uma determinada concepção educativa. Um primeiro aspecto, que chama a aten- ção, é o isolamento do exterior. Os muros de- marcam claramente a passagementre duas rea- lidades: o mundo da rua e o mundo da escola, como que a tentar separar algo que insiste em se aproximar. A escola tenta se fechar em seu pró- prio mundo, com suas regras, ritmos e tempos. O território é construído de forma a le- var as pessoas a um destino: através dos corre- 228 dores, chega-se às salas de aula, o lócus central do educativo. Assim, boa parte da escola é pen- sada para uma locomoção rápida, contribuindo para a disciplinação. A biblioteca fica num can- to do prédio, esprimida num espaço reduzido. Nenhum local, além da sala de aula, é pensado para atividades pedagógicas. Da mesma forma, a pobreza estética, a falta de cor, de vida e de estímulos visuais deixam entrever a concepção educativa estreita, confinada à sala de aula, e à instrução, tal como afirmamos anteriormente. Os alunos, porém, se apropriam dos es- paços, que a rigor não lhes pertencem, recriando neles novos sentidos e suas próprias formas de sociabilidade. Assim, as mesas do pátio se tor- nam arquibancadas, pontos privilegiados de ob- servação do movimento. O pátio se torna lugar de encontro, de relacionamentos. O corredor, pensado para locomoção, é também utilizado para encontros, em que muitas vezes os alunos colocam cadeiras, em torno da porta. O corredor do fundo se torna o local da transgressão, onde ficam escondidos aqueles que “matam” aulas. O pátio do meio é ressignificado como local do na- moro. É a própria força transformadora do uso efetivo sobre a imposição restritiva dos regula- 229 mentos. Fica evidente que essa ressignificação do espaço, levada a efeito pelos alunos, expressa sua compreensão da escola e das relações, com ênfa- se na valorização da dimensão do encontro. Dessa forma, para os alunos, a geogra- fia escolar e, com isso, a própria escola, têm um sentido próprio, que pode não coincidir com o dos professores e mesmo com os objetivos ex- pressos pela instituição. Mas, não só os alunos ressignificam o espaço, também os professores o fazem. [...]. Essa questão, no entanto, é pouco discu- tida entre os educadores. Não se leva em conta que a arquitetura é o cenário onde se desenvolve o conjunto das relações pedagógicas, ampliando ou limitando suas possibilidades. Mesmo que os alunos, e também professores, o ressignifiquem, existe um limite que muitas vezes restringe a di- mensão educativa da escola. É muito comum, por exemplo, professo- res desenvolverem pouco trabalho de grupo com seus alunos, em nome de dificuldades, tais como tamanho da sala, carteiras pesadas etc. Uma dis- cussão sobre a dimensão arquitetônica é impor- tante em um projeto de escola que deve levar em conta as dimensões socioculturais do processo 230 educativo. Ao mesmo tempo, é preciso atenção à forma como os alunos ocupam o espaço da escola e fazermos desta observação motivo de discussões entre professores e alunos. Atividades como essas poderiam contribuir, e muito, para desvelar e aprofundar a polissemia da escola. In: Dayrell, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura (1996, p. 147 e 148). Atividades 1 – Dê “asas à imaginação”. Se você fosse um arquiteto, como esboçaria a planta de uma esco- la? Tem de ser uma escola diferente dos moldes atuais. Reproduza esta escola e dê um significado a cada uma de suas dependências. 2 – Imagine esta situação: Você é um diretor autoritário. Trabalhando na sua escola, você é abordado por um pai de aluno que lhe faz a seguinte observação: “Dirigir escola 231 dessa forma, é preparar os alunos para o ingres- so no exército. Que pena não haver diálogo com o senhor.” Bem, a pergunta é: Qual o seu propó- sito na função de administrador escolar e quais as consequências de seu ato? O que quer dizer autoridade na sua concepção? 3 – A ameaça da reprovação implícita na avalia- ção feita autoritariamente gera tensão que difi- culta e até impede a aprendizagem. Dessa forma, quais deverão ser as posturas em avaliação ado- tadas pelos professores? 4 – Pense na época em que cursou o ensino fun- damental. Produza um desenho representando sensações diante das avaliações às quais foi sub- metido. Em seguida, produza um memorial des- sas experiências. 232 “os homens amam a verdade quando ela se manifesta, mas os homens não amam a verdade quando ela os manifesta.” (Santo Agostinho) Reflita: Qual a nossa atitude como educado- res? Quando a verdade a respeito de nossas condutas profissionais se manifesta, como lida- mos com isso? Em homenagem a Paulo Freire, deixo aqui um acróstico: Paulo eterno, imortal! Alegria dos pobres oprimidos! Unidade de corpo, alma e ação, Livre fez, também, do povo sofrido, massificado, corrompido, Ourives do ser pequeno, para o ser polido! Freire de toda nação! Ramificou com galhos fortes a Pedagogia da Libertação. Elevou-se pelo amor constante na busca Incomparável da humanização! Raiz dos sonhos de expressão, verdadeiro, perpétuo Educador, mestre nosso, para sempre, Paulo Freire, professor! Para Finalizar 233 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSMANN, H. (1996) Metáforas novas para re- encantar a educação – epistemologia e didática. Piracicaba: Ed. UNIMEP. _______________. (1998) Reencantar a educa- ção – rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes. BARRETO, Vicente. Educação e violência: re- flexões preliminares. In: ZALUAR, Alba. Vio- lência e educação. 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