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1 PATOLOGIA ESPECIAL I – PROVA 1 HISTOLOGIA O estômago é responsável pela digestão parcial do bolo alimentar e pela secreção de enzimas e hor- mônios, estes tanto de caráter endócrino quanto exócrino. A mucosa gástrica é formada por epitélio glandular, de células colunares simples, cuja unidade secre- tora desemboca na superfície das fossetas gástri- cas. Todo o seu epitélio está em contato com a lâ- mina basal. Ela produz uma secreção alcalina, composta de 95% de água, glicoproteínas e lipídios, e também realiza a secreção de bicarbonato, produzindo uma espessa camada que protege as células da acidez. Abaixo dela, encontramos as camadas muscular da mucosa e submucosa. A cárdia é a transição entre o estômago e o esôfago e, por isso, sua mucosa possui glândulas tubulares simples ou ramificadas, denominadas glândulas da cárdia. Muitas dessas glândulas produzem muco e lisozima (ação bactericida) e algumas podem pro- duzir H+ e Cl-. As porções do fundo e do corpo gástrico são preen- chidas por glândulas tubulares, que se abrem em cada fosseta gástrica em grupos de 3 a 7. Cada uma dessas glândulas possui istmo, colo e base: Istmo: células mucosas em diferenciação (substituição de células da fosseta e célu- las superficiais), células-tronco e células parietais (oxínticas). Colo: contém células-tronco, células mu- cosas, células parietais (oxínticas) e células enteroendócrinas. Base: contém células parietais, zimogêni- cas (principais) e enteroendócrinas. O piloro, por sua vez, contém fossetas gástricas profundas, nas quais as glândulas pilóricas, tubula- res simples ou ramificadas, se abrem. Estas secre- tam muco e lisozima. Há também, intercaladas com as células mucosas, muitas células G, respon- sáveis pela secreção de gastrina, que ativa a produ- ção de ácido pelas células parietais. DOENÇA INFLAMATÓRIA DO ESTÔMAGO Gastrite aguda É um processo inflamatório transitório da mucosa que pode ser assintomático ou provocar graus vari- áveis de dor epigástrica, náuseas e vômitos. Em ca- sos mais graves pode haver erosão da mucosa, ul- ceração, hemorragia, hematêmese, melena ou, ra- ramente, perda maciça de sangue. Patogenia A luz gástrica é fortemente ácida, esse ambiente contribui para a digestão, mas tem potencial de dano à mucosa. Com isso, múltiplos mecanismos evoluíram para proteger a mucosa gástrica. Mucina: secretaria pelas células foveolares da superfície, forma uma camada fina de muco impedindo que partículas de ali- mento toquem diretamente o epitélio. Forma também uma camada de líquido so- bre o epitélio, protegendo a mucosa. Tem pH neutro como resultado da secreção de íon de bicarbonato pelas células epiteliais da superfície. Suprimento vascular: fornece oxigênio, bi- carbonato e nutrientes, lava o ácido que di- fundiu de volta à lâmina própria. Prostaglandina: estimula a renovação do epitélio, a produção de muco e a secreção de íon bicarbonato, aumenta o fluxo san- guíneo e diminui a secreção ácida. Danos a qualquer um desses mecanismos podem levar a uma gastrite aguda ou crônica: Os AINEs podem interferir na citoproteção normal- mente fornecida por prostaglandinas ou reduzir a secreção de bicarbonato. Também pode se desen- volver pela lesão celular direta, fruto de substân- cias químicas hostis, consumo excessivo de álcool, radioterapia e quimioterapia. 2 Além disso, o álcool também provoca dissolução do muco, do componente lipoproteico da mem- brana celular e dos complexos unitivos das células epiteliais. Morfologia Apresenta edema moderado e congestão vascular discreta. Presença de neutrófilos acima da camada basal indicando inflamação ativa. Gastrite crônica É a forma mais comum de inflamação gástrica, ca- racteriza-se por reação inflamatória na mucosa com infiltrado de leucócitos mono e polimorfonu- cleares. Morfologia Apresenta sinais de inflamação (presença de infil- trado linfoplasmocitário), de atividade (presença de neutrófilos), de atrofia (redução dos componen- tes da mucosa) e de metaplasia intestinal (substi- tuição do epitélio gástrico por epitélio intestinal). Gastrite por Helicobacter pylori É a causa mais comum de gastrite crônica, estando presente em 90% dos pacientes. Geralmente é ad- quirida na infância e associa-se a baixa condição socioeconômica. Dentre os principais mecanismos patogênicos envolvidos estão os fatores de virulên- cia do microrganismo, a resposta inflamatória da mucosa e a alteração da secreção ácida gástrica. A bactéria tem uma potente atividade ureásica, que participa da colonização gástrica, permitindo sua sobrevivência em um meio ácido. As cepas cagA-positivas são mais virulentas, associ- adas a maior grau de infiltração de polimorfonucle- ares neutrófilos, produção de IL-8 e têm íntima as- sociação com cepas vacA S1. A H. pylori é associada com a diminuição da libera- ção da somatostatina e aumento da liberação de gastrina pelo antro gástrico. GASTRITE ANTRAL: Acomete o antro de forma mais intensa, podendo coexistir atrofia e metaplasia in- testinal. Associa-se com certa frequência à úlcera péptica duodenal, compondo a tríade: gastrite an- tral, H. pylori e úlcera duodenal. Geralmente são ca- sos de infecção por cagA-positivas. 3 GASTRITE DO ANTRO E DO CORPO: Acomete antro e corpo de forma mais difusa e intensa e evolui ra- pidamente para atrofia da mucosa gástrica com metaplasia intestinal Em geral, são pacientes infec- tados por cepas cagA-positivas e que desenvolvem hipocloridria e atrofia da mucosa. Este tipo é fre- quentemente associado a úlcera péptica gástrica ou carcinoma gástrico. Gastrite autoimune Responsável por menos de 10% dos casos de gas- trite crônica. Acomete principalmente mulheres acima dos 60 anos e geralmente associa-se a outras doenças autoimunes. Caracteriza-se por anticorpos para as células parie- tais e fator intrínseco, que podem ser detectados no soro e secreções gástricas, resultando em perda de células que secretam ácido e desativação da ab- sorção de vitamina B12. Desse modo, há hipergas- trinemia e anemia megaloblástica (anemia pernici- osa). Morfologicamente, ocorrem danos difusos na mu- cosa oxínticas e atrofia difusa. A mucosa do corpo e do fundo aparece nitidamente adelgaçada e as pregas rurais são perdidas. Diferente da gastrite crônica por H. pylori, a autoimune polpa o antro e seu infiltrado inflamatório é composto por linfóci- tos, macrófagos e células plasmáticas. TUMORES GÁSTRICOS Pólipos São resultado de proliferação de células epiteliais ou estromais, inflamação, ectopia ou neoplasia. Podem ser únicos ou múltiplos e apresentam vá- rios tipos, sendo os mais comuns os hiperplásicos (90%) e os adenomas (5-10%). Neoplasias malignas Adenocarcinoma gástrico Corresponde a 90% de todos os cânceres gástricos. Os sintomas iniciais se assemelham à gastrite crô- nica (dispepsia, disfagia e náuseas). Geralmente o diagnóstico é tardio e o adenocarcinoma é encon- trado em estágios muito avançados, com perda de peso, anorexia, anemia e hemorragia. É mais comum em grupos menos favorecidos eco- nomicamente e em pessoas com gastrite crônica atrófica multifocal e metaplasia intestinal. DIFUSO Apresenta padrão de crescimento infiltrativo, pos- suindo células com vacúolos de mucina (em “anel de sinete”). Ocorre uma reação desmoplásica que enrijece a parede gástrica causa achatamento di- fuso (“garrafa de couro” – linite plástica). Patogenia – a mutação de gene CDH1 compromete a síntese de E-caderina, responsável pela aderência intercelular epitelial, e tende à formação de adeno- carcinoma gástrico do tipo difuso. INTESTINAL Tendem a ser volumosos e ulcerados, compostos por glândulas semelhantes ao intestino grosso. A 4 gastrite crônica atrófica está presente em 90% dos casos.Metaplasia intestinal (tipo III) e displasia são frequentes. Patogenia – associada a dieta rica em nitratos e sal, infecção por H. pylori (inflamação, proliferação ce- lular, carcinogênico) e infecção por EBV (episso- mas). Tumor estromal gastrointestinal (GIST) Tumor mesenquimal mais comum do abdome, sendo que mais da metade dos casos ocorre no es- tômago. Ocorre em pessoas com mais de 60 anos majoritariamente. Localiza-se preferencialmente no corpo e fundo gástrico, na muscular da mucosa, muscular própria ou em estruturas da submucosa. MORFOLOGIA Padrão epitelioide, com células globosas e de cito- plasma claro, e padrão fusocelular, com células fas- ciculadas. PATOGENIA Origina-se nas células intersticiais de Cajal. Cerca de 90% de todos os GIST têm mutações oncogêni- cas no gene que codifica tirosina quinase c-KIT e podem expressar concomitantemente CD34 (im- portante na imuno-histoquímica). Outros 8% estão associados a mutações que ati- vam o receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas A (PDGFRa). Mutações nesses genes produzem proteínas que ativam vias sinalizadoras que induzem proliferação celular e inibição da apo- ptose. Linfoma MALT MALT designa o tecido linfoide associado a mu- cosa. Nesse tumor, há proliferação de linfócitos B da zona marginal extranodal. É o tipo de linfoma mais comum do TGI e representa 2 a 5% dos tumo- res malignos do estômago. Ocorre em indivíduos com mais de 50 anos, sobretudo aos 70 anos. 5 Apresenta sintomas inespecíficos, como dispepsia, dor epigástrica, hematêmese e perda ponderal. Possui relação com H. pylori e inflamações crôni- cas, uma vez que a o tratamento com antibiótico induz a remissão do linfoma. Sua patogenia está re- lacionada a ocorrência de lesão linfoepitelial. Macroscopicamente, apresenta mucosa hipertró- fica, sinais de espessamento irregular das pregas e pode formar úlcera regulares e erosões na mucosa. Microscopicamente, possui infiltrados linfocítico denso da lâmina própria, lesões linfoepiteliais em fovéolas e glândulas e monocitose (citoplasma pá- lido). HISTOLOGIA Intestino delgado O intestino delgado possui uma série de especiali- zações que visam o aumento de absorção, tais quais pregas circulares, vilosidades e criptas, bem como microvilosidades. Em sua camada mucosa, existem células: Enterócitos: absorção Caliciformes: produção de muco Enteroendócrinas: liberações hormonais parácrinas ou endócrinas De Paneth: atividade antibacteriana Tronco: renovação celular M: elo de defesa imunológica intestinal A lâmina própria abriga tecido conjuntivo frouxo, vasos nervos e fibras musculares, sendo ela que preenche as vilosidades. Em seguida, há a muscu- lar da mucosa, composta de fibras musculares. Abaixo dela, está a camada submucosa, que con- tém vasos, nervos, vasos linfáticos e plexo submu- coso de Meissner. A camada muscular vem logo abaixo, com suas túnicas circular internamente e longitudinal externamente. É nela que se localiza o plexo mioentérico de Auerbach. A camada serosa é responsável pelo revestimento externo no ID. Há ainda, no íleo, os nódulos linfoides de tecido GALT formando as placas de Peyer, com células M revestindo o epitélio, responsável pela defesa imu- nológica especial. Intestino grosso Não possui pregas ou vilosidades, exceto em sua porção retal. Apresenta longas criptas, onde encon- tram-se enterócitos colunares, abundantes células caliciformes e poucas células enteroendócrinas. Sua lâmina própria é rica em tecido GALT, devido à população bacteriana, e é responsável pela forma- ção das tênias do colo, por fibras unidas da camada longitudinal externa. A porção retal do intestino grosso apresenta colunas retais em sua mucosa. 6 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Termo amplo que designa Doença de Crohn e Co- lite Ulcerativa, caracterizadas pela inflamação crô- nica do intestino. Ambas as doenças são idiopáti- cas, já que sua etiopatogênese é desconhecida. As duas se manifestam como com quadro clínico de diarreia, de evolução prolongada, recidivante, re- mitente, que pode durar anos ou décadas. Porém cada uma tem suas características clínicas e pecu- liares. A colite ulcerativa caracteriza-se por inflamação difusa e inespecífica da mucosa do reto e do cólon, por isso também chamada de retocolite ulcerativa. O comprometimento inflamatório é contínuo, su- perficial, restrito à mucosa e forma úlceras. A Doença de Crohn pode comprometer qualquer porção do TGI, porém é mais comum no íleo termi- nal. Apresenta dois aspectos patológicos muito ca- racterísticos: Comprometimento segmentar do TGI: le- sões salteadas. Inflamação de todas as camadas da pa- rede intestinal: resulta em fissuras, fístulas e abscessos na cavidade abdominal. Granulomas epitelioides são encontrados em me- tade dos casos. A cicatrização das lesões inflama- tórias resulta em estreitamento da luz intestinal, causando uma obstrução intestinal. Fisiopatologia Os mecanismos envolvidos são desconhecidos, mas acredita-se que resultem de resposta imunitá- ria anormal à microbiota bacteriana da luz intesti- nal. Os principais fatores patogênicos envolvidos são os genéticos, microbiológicos e imunitários. Fatores genéticos Relacionado a mutações no gene NOD2. Parentes de primeiro grau têm probabilidade de 4 a 20 vezes maior de desenvolver a doença. Os fatores genéti- cos são mais importantes na Doença de Crohn do que na colite ulcerativa. Fatores microbiológicos A microbiota bacteriana parece ter papel impor- tante no desencadeamento e manutenção da do- ença inflamatória intestinal. O grau de atividade da inflamação é maior nos locais do intestino com maior densidade de colonização bacteriana, como o reto e o ceco. Fatores imunitários Tanto na colite ulcerativa como na Doença de Crohn, a agressão imunitária é mediada por linfóci- tos T CD4. A colite ulcerativa parece estar relacio- nada com a resposta do tipo Th2, com produção de IL-4 e IL-10. Já a Doença de Crohn parece estar re- lacionada com a resposta Th1, expressa pela libe- ração de interferon gama. Outros fatores O uso de AINEs pode alterar a permeabilidade da mucosa intestinal e causar surtos de atividade da doença. Apendicectomia precoce parece estar as- sociada a menor incidência de colite ulcerativa. O tabagismo parece ser fator protetor para colite ul- cerativa, porém está associado a maior risco para Doença de Crohn. Diagnóstico É feito pela associação de dados clínicos, laborato- riais e anatomopatológicos. Em cerca de 5 a 20% dos casos não é possível distinguir entre colite ul- cerativa de Doença de Crohn. Nessas situações, o diagnóstico é dado como colite indeterminada. Doença de Crohn É mais prevalente em mulheres e pessoas brancas. Pode se manifestar em qualquer idade, porém é mais frequente dos 20 aos 40 anos. Em 30 a 35% dos casos, as lesões são restritas ao intestino del- gado e comprometem principalmente o íleo termi- nal. Em 25 a 35% dos pacientes, as lesões se localizam no cólon e, em 30 a 50%, afetam tanto intestino 7 grosso como delgado, em especial ceco e cólon as- cendente. Morfologia As lesões são tipicamente segmentares, bem de- marcadas, com áreas lesadas intercaladas com segmentos normais. A inflamação é transmural, en- volvendo toda a espessura da parede intestinal. A medida que progridem, a parede intestinal se torna mais espessa e a mucosa apresenta eleva- ções nodulares e ulcerações. As úlceras são profun- das e estreitas, coalescem e formam fissuras linea- res, tortuosas e dispostas ao longo do eixo do intes- tino, muitas vezes atingindo a camada serosa. Em 60% dos casos, formam-se granulomas epiteli- oides, sem necrose. Pode haver vasculites associa- das aos granulomas. A serosa tem aspecto granular efrequentemente forma aderências que, junto às úlceras profundas, resultam em fístulas entre alças do intestino ou entre intestino e cólon, a bexiga e a vagina. Fístulas perianais são muito comuns. Histologicamente, encontram-se inflamação trans- mural com infiltrado linfoide formando folículos, abscessos pericríticos e granulomas, que costu- mam estar ausentes nas fases iniciais da colite. Presença de fissuras estendendo-se até a camada submucosa, fibrose da parede intestinal e agregados linfoides na serosa. Manifestações clínicas São recorrentes, intercalando episódios agudos de febre, diarreia e dor abdominal com períodos assin- tomáticos, que podem durar de meses a anos. Quando há comprometimento do cólon, pode he- matoquezia e anemia. Em cerca de 20% dos casos, as manifestações são aguda, podendo simular quadro de apendicite aguda. Entre as complicações, as mais comuns são obstru- ção do intestino delgado, fístulas com alças intesti- nais, bexiga, vagina ou pele da região perianal, abs- cessos e peritonite. Quando há fístula e ressecção extensa do intestino delgado, desenvolve-se sín- drome de má absorção. As manifestações extra-intestinais mais comuns são artrite, eritema nodoso, espondilite anquilo- sante, colangite esclerosante, uveíte, colelitíase, nefrolitíase, uretrite e amiloidose. Diagnósticos diferenciais Faz-se com doenças infecciosas, como amebíase, tuberculose intestinal e infecções por Yersinia ente- rocolitica e Campylobacter jejuni, lesões que levam à estenose segmentar (ex.: enterite isquêmica), en- terites por radiação e pelo uso de AINEs e linfomas. Quando o comprometimento do cólon é isolado, o diagnóstico diferencial mais importante é a colite ulcerativa. 8 Colite ulcerativa Pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais fre- quente dos 20 aos 40 anos. Homens e mulheres são igualmente acometidos. Há predomínio em cauca- sianos e judeus. As lesões iniciais aparecem no reto e no sigmoide. Nos casos graves, pode comprometer todo o cólon (pancolite) e atingir o íleo. Morfologia O quadro macroscópico é variável e dependente da intensidade, da extensão e da fase da doença. Na fase inicial, a mucosa é hiperêmica, granular e friá- vel. Ela sangra com maior facilidade, contém me- nor quantidade de muco e pode apresentar pontos hemorrágicos que se tornam purulentos e, posteri- ormente, formam pequenas ulcerações. Ao exame histopatológico, encontra-se inflamação limitada à mucosa e à submucosa, raramente se aprofundando até a muscular ou serosa. Há con- gestão, microabscessos nas criptas e redução de células caliciformes, que são substituídas por célu- las imaturas, devido à agressão e ao aumento da renovação celular. Pseudopólipos, que resultam da protrusão de ilhas de mucosa remanescente na luz intestinal, são frequentes. Manifestações clínicas A doença se manifesta por diarreia sanguinolenta com muco ou pus, cólicas abdominais, desidrata- ção, perda de eletrólitos, alterações da motilidade intestinal e desnutrição. Alguns pacientes podem apresentar constipação intestinal. Pacientes com colite ulcerativa têm maior risco de desenvolver câncer do cólon. A duração da doença (superior a 10 anos), sua extensão no cólon e a exis- tência de displasia são os principais fatores de risco para desenvolvimento de câncer. As manifestações extra-intestinais compreendem doenças hepatobiliares, musculoesqueléticas e tromboembólicas, eritema nodoso, uveíte e ure- trite. TUMORES DO INTESTINO DELGADO São tumores raros, compreendendo apenas 1 a 6% de todos os tumores do trato digestivo, sendo um lugar pouco comum de neoplasias. Cerca de 60% deles são benignos. Os mais comuns são: adeno- mas, leiomiomas, lipomas, tumor carcinoide, ade- nocarcinoma, linfomas e GIST. Benignos Os mais comuns são os tumores estromais, de ori- gem predominantemente muscular (leiomiomas), adenomas e lipomas. Adenomas correspondem a 25% deles, podendo ser únicos ou múltiplos, pedi- culados ou sésseis. Acometem mais frequente- mente o duodeno e o íleo e são semelhantes aos de cólon e estômago. Os leiomiomas correspondem a 20% dos tumores estromais de intestino delgado e consistem em nó- dulos pequenos que crescem em direção à luz ou ao peritônio. Ocorrem mais frequentemente no je- juno e são diagnóstico diferencial com GIST, cuja distinção é feita por imuno-histoquímica (CD117+). Os lipomas são 15% dos casos e se apresentam como tumorações pequenas e intramurais de as- pecto amarelado à endoscopia. Acometem sobre- tudo o íleo distal. Malignos São menos comuns devido ao trânsito intestinal rá- pido, escassez de bactérias, presença de IgA secre- tora e resistência da mucosa à ação de agentes cancerígenos. 9 Adenocarcinoma Acomete principalmente homens brancos acima dos 40-50 anos de idade. Apresenta padrão de cres- cimento anelar, do tipo “anel de guardanapo” ou como massas polipoides. É mais comum no duo- deno, sobretudo na papila de Vater, e predominam os tipos polipoide e ulcerativo. OBS.: Os tumores periampulares na papila de Vater caracterizam-se por lesão exofítica, que causa obs- trução biliar e manifesta-se com icterícia intermi- tente e colangite. Sua clínica é de dor em cólica, náusea, vômitos, perda ponderal e sangue oculto nas fezes. Às vezes, quando apresenta sintomatologia, já se encontra disseminado para peritônio, fígado, pâncreas, pul- mões ou linfonodos. O diagnóstico é feito inicialmente por biópsia en- doscópica da lesão. Quando feita cirurgia, 70% dos casos evoluem com 5 anos de sobrevida após res- secção. Presença de mitoses e nucléolos evidentes. Tumor carcinoide Possui maior incidência a partir dos 60 anos e cor- responde a quase metade dos tumores malignos de intestino delgado. Cerca de 90% dos casos se disseminam para linfonodos. Possui positividade imuno-histoquímica para marcadores neuroendó- crinos (cromogranina e sinaptofisina). Deriva-se de células endócrinas localizadas na pa- rede intestinal. É uma neoplasia neuroendócrina bem diferenciada (grau 1), com baixo índice mitó- tico medido pela imuno-histoquímica (antígeno Ki- 67). Pode acometer também pâncreas, pulmões, árvore biliar, fígado e apêndice cecal. Macroscopicamente, se apresenta como massas pouco elevadas e polipoides com até 3 cm de diâ- metro e de aspecto pardo-amarelado. É um tumor firme e de aparência sólida. Presença de núcleos “em sal e pimenta”. TUMORES DO INTESTINO GROSSO São pólipos, isto é, massas tumorais protusas na luz intestinal, que podem ser sésseis ou pedicula- das. Sua origem pode ser não neoplásica, no caso 10 de malformações, ou neoplásica, constituindo os adenomas. Há ainda os adenocarcinomas. Pólipos não neoplásicos Constituem a maioria dos pólipos de cólon (90%). Hiperplásicos Pequenos, sésseis e múltiplos. Comuns a partir dos 50 anos. Macroscopicamente, assemelham-se à mamilos, não sendo possível distingui-los de póli- pos neoplásicos. Hamartomoso É uma malformação congênita de aspecto tumoral, caracterizada por misturas anormais de tecidos próprios do órgão em que se apresenta. JUVENIL: crianças menores de 5 anos ou adultos. Principalmente em reto, solitários ou em pequenos números. SÍNDROME DA POLIPOSE JUVENIL: crianças de 4 a 12 anos. Numerosos e predominantes em cólon, mas podendo acometer também intestino delgado e estômago. DE PEUTZ-JEGHERS: associados a pigmentação melanótica mucocutânea. Acometem intestino delgado em 100% dos casos e cólon e reto em 30%. Inflamatório Lesões nodulares de 0.2-1.5 cm, secundárias a ulce- ração e reparo da mucosa que surgem após infla- mação no cólon. Ilhas de mucosa preservada adja- cente às úlceras e se projetam para a luz intestinal. Há ainda os pólipos não neoplásicos linfoides. Pólipos neoplásicos (adenomas) São as neoplasias benignasmais comuns do intes- tino grosso e caracterizam-se pela proliferação das células epiteliais que revestem a mucosa. Apresen- tam graus de displasia, desde baixos até altos (ade- nomas pré-cancerosos). Metade dos casos ocorrem após os 50 anos. Podem ser isolados ou múltiplos e apresentam ta- manhos variados. 70% deles ocorrem na porção re- tossigmoidea, 20% em sigmoide e 10% nas porções proximais do cólon. Inicialmente, são vistos micros- copicamente em “criptas aberrantes”. Possuem 3 tipos histológicos: tubular (glândulas tubulares), vi- loso (projeções em dedo de luva) e túbulo-viloso. Intestino normal (esquerda) e adenoma de baixo grau (direita). Quadro clínico São geralmente assintomáticos, podendo causar anemia e sangramento oculto. Quando no intes- tino delgado, podem causar intussuscepção ou obstrução. Grandes adenomas vilosos causam hi- persecreção de muco rico em proteínas e potássio. Adenoma tubular É o tipo mais comum (75%), sendo que 90% deles localizam-se em cólon. Predomina no sexo mascu- lino e em pessoas acima de 60 anos. Podem ser so- litários, múltiplos, esporádicos ou hereditários. São lesões pequenas, menores que 1 cm, sésseis, que quando crescem tornam-se pediculadas. Mi- croscopicamente, constituem-se de glândulas tu- bulares displásicas ramificadas na lâmina própria. Macroscopicamente, os menores são lisos e os mai- ores têm superfície lobulada e raramente ultrapas- sam 2,5 cm, sendo que o tamanho superior a 1 cm indica alto grau de displasia 11 Adenoma viloso Representam 10% dos pólipos neoplásicos, sendo os de pior prognóstico, uma vez que o risco de transformação maligna aumenta em 10 vezes. Ocorrem nos 20 cm distais do intestino e, geral- mente, manifestam-se na 6ª década de vida. Quase sempre é único e maior que o tubular (> 10 cm). São sésseis ou pediculados. À microscopia, apresentam projeções digitiformes revestidas por epitélio displásico. Projeções digitiformes Adenoma túbulo-viloso Correspondem a 10-15% deles, possuindo tama- nho intermediário, podendo ter pedículo e pos- suindo aspecto misto entre tubular e viloso. Adenocarcinoma colorretal É o 4º mais frequente em homens e o 3º mais fre- quente em mulheres. O pico de incidência é dos 60 aos 79 anos, mas 20% dos casos ocorrem antes dos 50 anos. Se ocorrer antes dessa faixa etária, sempre deve-se investigar histórico familiar de carcinoma hereditário sem polipose e síndrome de Lynch e do- ença intestinal inflamatória crônica, em especial a colite ulcerativa, já que seu acometimento é exclu- sivo de cólon. A maioria (70%) ocorre em cólon e sigmoide, seguidos de ceco e cólon descendente (22%) e cólons transverso e descendente (8%). Fatores de risco Baixo consumo de fibras. Alto teor de carboidratos refinados. Elevado consumo de carne vermelha. Diminuição de fatores protetores (vitami- nas) contidos nos alimentos. 12 Obesidade: aumenta exponencialmente o risco quando o peso está maior que 40% acima do ideal. Sedentarismo. Dieta rica em gorduras – aumento da ex- creção de bile – colecistectomia. Histórico familiar. Polipoides ou vegetantes Apresentação mais comum em cólon direito. Cres- cem em direção à luz como massas fungoides ou “em couve-flor”. Fezes mais líquidas dificultam o di- agnóstico precoce. Ulcero-infiltrativos Crescem em superfície e em profundidade, infil- trando-se pela parente. São comumente esteno- santes. Apresentam-se como lesão com úlcera ne- crótica de bordas elevadas, duras e irregulares. Anular-constritivos São mais comuns em reto e sigmoide. A lesão se ini- cia de modo superficial, mas se infiltra na mucosa. É estenosante, devido à neoformação de estruturas que acompanham a neoplasia (tumor em anel de guardanapo). Apresenta sintomas mais precoces. Infiltrativo difuso: muito raro. Manifestações clínicas Alteração do hábito intestinal. Diarreia na maioria dos tumores do cólon direito e constipação nos tu- mores do cólon esquerdo. Evacuações com sangue (hematoquezia). Cólica abdominal. No câncer do reto as queixas maiores são afila- mento das fezes, eliminação de muco serossangui- nolento, dor para evacuar, tenesmo e sangramento retal. Há também perda de peso e astenia. Pode ha- ver parada de eliminação de flatos e fezes, acom- panhada de distensão abdominal e dor. Tríade de adenocarcinoma de cólon direito: ane- mia, massa palpável na projeção anatômica dos cólons e diarreia. Hepatomegalia com aumento da consistência e ir- regularidade de contorno sugere metástases hepá- ticas. Nos casos de abdome agudo, sinais como descompressão abdominal brusca dolorosa e/ou timpanismo generalizado poderão ser indicativos de perfuração ou obstrução pelo tumor. Ao toque retal, nos casos de câncer do reto, pode- se palpar massa endurecida, vegetante ou ulce- rada, na grande maioria das situações. PÓLIPOS ADENOMA-VILO- SOS PÓLIPO HIPER- PLÁSICO E HAMARTOMA NÃO SÃO CONSIDERA- DAS LESÕES PRÉ- MALIGNAS! 13 PANCREATITES As pancreatites podem ser agudas ou crônicas. Existem ainda as hereditárias, que se incluem na di- visão entre agudas e crônicas. Pancreatite aguda Acomete cerca de 1% da população geral e, no Bra- sil, é causada principalmente pela doença biliar calculosa. Juntos, o álcool e a litíase biliar respon- dem por 80% dos casos de pancreatite aguda. Ou- tras causas importantes incluem obstrução dos ductos por hipercalcemia, hiperlipoproteinemia, traumatismos e fármacos. Cerca de 10% dos casos são idiopáticos. Atinge adultos de 30 a 60 anos de ambos os gêneros. As lesões podem se apresentar tanto na forma de lesões edematosas autolimitadas como em necro- ses hemorrágicas. A gravidade do quadro é propor- cional à extensão da lesão. Nas pancreatite necro- hemorrágicas, a mortalidade varia de 10% a 100%, dependendo da presença de infecção do tecido ne- crótico. Etiopatogênese As principais causas são a obstrução do ducto pan- creático por cálculos biliares e a ingestão de álcool. Uma obstrução importante ainda é a por cálculos biliares na ampola de Vater. Em países subdesen- volvidos, a ascaridíase é uma causa comum de pancreatite aguda em crianças. A obstrução leva a aumento da pressão intraductal, acarretando em extravasamento de enzimas e con- sequentes lesões parenquimatosas e processo in- flamatório. Ocorre um processo de autodigestão, sobre o qual a tripsina exerce papel central. Hipóxia, traumatismos, infecções e endo e exotoxi- nas podem ativar proenzimas. O evento inicial, através de um mecanismo desconhecido, induz a fusão de vacúolos lisossomais com aqueles con- tendo proenzimas pancreáticas inativas. Por sua vez, a catepsina B (enzima lisossomal) ativa o trip- sinogênio em sua forma ativa, a tripsina. Segue-se a ruptura dos vacúolos acinares, liberando a trip- sina ativada para o interstício. Uma vez ativada, a tripsina ativa as proenzimas de elastase, fosfoli- pase e calicreína e ocasiona a ativação adicional de tripsina. Desse modo, há destruição vascular (cau- sando hemorragia), esteatonecrose e edema (ação vasoativa das enzimas). Outras causas da pancreatite compreendem agres- são celular direta por agentes infecciosos, isque- mia, medicamentos, traumatismos e álcool. O ál- cool estimula a secreção e provoca a contração do esfíncter de Oddi. Além disso, seus metabólitos causam a ativação da tripsina dentro da célula. Pancreatites associadas a outras substâncias cor- respondem de 2 a 5% das pancreatites agudas. São substâncias capazes de produzi-la: azatioprina, mercaptopurina, DDI, ácido valproico, estrogênios, tiazídicos, furosemida, metronidazol, pentamidina, sulfamidas, tetraciclinas, veneno de escorpião e or- ganofosforados. A pancreatite infecciosa (1 a 3%) é mais comum em crianças com o vírus da caxumba ou de Coxsackie. Pancreatitesagudas são mais comuns em pacien- tes portadoras do HIV. Causas traumáticas incluem cirurgias, trauma- tismo abdominal e pancreatite iatrogênica decor- rente de colangiopancreatografia endoscópica, es- pecialmente no caso de uma esfincterotomia en- doscópica. Na pancreatite hereditária, há alteração do tripsi- nogênio (PRSS1), tornando a tripsina imune à inati- vação, e alteração do inibidor de protease 1 (SPINK1), tornando-a imune à inibição. O quadro de pancreatite hereditária inicia-se na infância e evolui com episódios recorrentes. 14 Morfologia As lesões básicas incluem edema, esteatonecrose (lesão “em pingo de vela”), necrose parenquima- tosa, destruição da parede vascular e hemorragia e infiltrado inflamatório. Macroscopicamente, o pân- creas se apresenta intumescido esteatonecrose fo- cal. Em casos graves, há esteatonecrose extensa com necrose de tecido pancreático e hemorragia. O pseudocisto pancreático é uma cavidade for- mada por autodigestão cuja parede, formada por fibrose, contém infiltrado inflamatório mononu- clear. Pode haver comunicação com o sistema duc- tal ou não. Suas complicações incluem fistulização para o intestino ou colédoco, hemorragia, ruptura e infecção. A hemorragia pode comprometer a gordura me- sentérica ou ficar restrita ao órgão. Pode-se formar hematoma peri-pancreático. A esteatonecrose pode se estender do retroperitônio até o tecido subcutâneo. À microscopia, observa-se o afastamento de lóbu- los e ácidos por edema. Há um escasso infiltrado de polimorfonucleares e focos de esteatonecrose no tecido adiposo. Nos casos graves, as extensas esteatonecroses são acompanhadas de lesões necro-hemorrágicas, com destruição importante de lóbulos, ductos, gru- pos de ácinos e infiltrado importante. Pode haver formação de abcessos, assim como a formação de trombos. 15 Manifestações clínicas Caracteriza-se por dor abdominal intensa de início súbito e persistente, que irradia para o dorso e é acompanhada de náuseas e vômitos, bem como febre baixa taquicardia. A hipotensão gerada pode chegar ao estado de choque por perda de líquidos para a cavidade abdominal, hemorragia e ação de substâncias vasoativas. Há hemorragia interna que pode planos de fáscias musculares e chegar ao subcutâneo, caracteri- zando os sinais de Gray-Turner e de Cullen, depen- dendo da localidade. A obstrução do colédoco por compressão pode causar icterícia. A amilase estará elevada nas primeiras 24h de de- senvolvimento do quadro, enquanto a lipase estará aumentada nos 3º e 4º dias. Acontece hipocalemia devido à saponificação de ácidos graxos pelas en- zimas. A tomografia evidencia pâncreas aumen- tado e, em casos graves, pode sinalizar esteatone- crose e necrose. A gravidade depende da extensão das lesões, desse modo, as pancreatites edemato- sas tendem a se resolver, porém as necro-hemorrá- gicas têm alta mortalidade. A síndrome da angústia respiratória do adulto, por dano alveolar difuso, e insuficiência renal aguda são as complicações mais comuns. Pode haver ainda hipotensão arterial, choque, abscesso pan- creático, pseudocisto e obstrução duodenal e do colédoco. Pancreatite crônica É a inflamação persistente do pâncreas acompa- nha de destruição do parênquima, fibrose e perda funcional, primeiramente exócrina e posterior- mente endócrina. Pode ser classificada como dis- creta, moderada ou grave. Evolui com quadro dolo- roso e insuficiência pancreática e pode haver crises de pancreatite aguda. A hipotrofia acinar e a fibrose podem ser focais, segmentares ou difusas. Etiopatogênese A causa mais comum é a ingesta prolongada de ál- cool (10 a 15 anos). Acomete mais homens na 4º dé- cada de vida. Possui 0,04 a 0,5% de incidência na população geral. Pode ser hereditária ou mesmo estar associada a outras doenças, como o hiperpa- ratireoidismo. É uma complicação possível da radi- oterapia abdominal. Qualquer obstrução ductal pode causar pancreatite crônica segmentar distal à obstrução. A pancreatite crônica obstrutiva possui diversas causas, entre elas estenose pós-inflamatória ou pós-traumática, anomalias congênitas (ex.: pân- creas divisum), cálculos, neoplasias, etc. A hipotro- fia acinar e a fibrose são eventos de mecanismos ainda não muito esclarecidos. Na pancreatite crônica calcificante (alcoólica), o ál- cool causa aumento de proteínas sem água e bicar- bonato, formando tampões proteicos que levam à precipitação de cálcio. O álcool e seus metabólitos estão diretamente relacionados à inflamação aguda. HIPÓTESE NECROSE-FIBROSE: as células estrela- das pancreáticas, no ito do pâncreas, estimuladas 16 pelo álcool e seus metabólitos produziriam colá- geno. O estresse oxidativo gerado induziria a pro- dução de citocinas inflamatórias, gerando fibrose. As formas novas de pancreatite são as pancreatites autoimunes (API) tipos I – sistêmica e II – isolada. Ambas respondem ao tratamento com corticoste- roides. Morfologia É observado um aumento na consistência, com as- pecto nodular grosseiro, análogo ao fígado cirró- tico. O sistema ductal encontra-se dilatado, seja por estenose residual, fibrose periductal ou cálcu- los. As calcificações parenquimatosas são raras. Pseudocistos por autodigestão formam-se em cri- ses de pancreatite aguda ou por obstrução ductal, aumento de pressão e ruptura do ducto. Na pan- creatite crônica, são mais centrais do que na aguda. A preservação do epitélio ductal forma cis- tos de retenção, que possuem as mesmas compli- cações do pseudocisto na pancreatite aguda. MICROSCOPIA GERAL: observam-se lesões com dis- tribuição lobular e pode haver presença de cálculos dos ductos (PCC). Na AIP, evidenciam-se infiltrados mononucleares ricos em plasmócitos produtores de IgG com inflamação em ductos e paredes veno- sas (venulite), além de fibrose acentuada. Simula clinicamente adenocarcinoma de pâncreas. MICROSCOPIA INICIAL: a hipotrofia acinar iniciar ex- pressa-se pela diminuição de grânulos de zimogê- nio das células acinares e dilatação da luz dos áci- nos (mantém arquitetura lobular). A dilatação ini- cial dos ductos intra e interlobulares e “dúctulos” tem material proteináceo eosinofílico em seu inte- rior. As ilhotas estão preservadas e envolvidas por tecido conjuntivo. A fibrose é inicial, localizada in- tra e perilobular. MICROSCOPIA TARDIA: há hipotrofia acinar final, na forma de substituição dos ácinos por fibrose e apa- recimento de vestígios de ductos menores. Os duc- tos principais têm seu epitélio hipotrófico, hiper- plásico ou metaplásico (escamoso) tardiamente. Evidenciam-se somente ductos e ilhotas de Lange- rhans. A fibrose é tardia, alastrando-se e substi- tuindo os ácinos, e contém infiltrado inflamatório mononuclear geralmente discreto. As ilhotas de Langerhans estão hipotrofiadas. 17 Manifestações clínicas Apresenta dor abdominal semelhante à versão aguda, porém de menor intensidade. Também há emagrecimento, sinais de insuficiência hepática, febre baixa e amilase sérica. Dificilmente a pancre- atite crônica é uma doença silenciosa, havendo ic- terícia em até 20% dos casos, devido ao estreita- mento fibroso do colédoco e à compressão por pseudocistos. Ocorre esteatorreia, visto que acontece destruição do componente exócrino primeiro. Pode haver também manifestações de DM. A hipotrofia e as cal- cificações são vistas em exames de imagem. Os pseudocistos estão presentes em 10% dos casos. NEOPLASIAS Podem se originar de células ductais dos grandes dos grandes ductos e ductulares/centroacinares, células acinares (exócrino) e células endócrinas (endócrino). Os tumores de pâncreas são divididos em benignos, malignos e de potencial maligno in- certo. Os tumores benignos são raros e geralmente são um achado casual. A identificação se faz por ima-gens, onde se mostram geralmente pequenos. Sin- tomatologia é raro. O mais frequente é o cisto ade- noma e os diagnósticos diferenciais são cistos pri- mário e processo inflamatório ou traumático (pseu- docistos). Adenocarcinoma ductal Origina-se do epitélio cuboide dos grandes ductos, sendo o mais frequente do pâncreas (95%). Possui maior incidência no sexo masculino, numa propor- ção de 2:1, negros, pessoas na faixa dos 60 a 80 anos e em países desenvolvidos. É raro abaixo dos 40 anos. Os fatores de risco para seu desenvolvi- mento incluem tabagismo e dieta rica em gordura e pobre em fibras. O DM é um indicativo. Possuem graduação em bem diferenciados, mode- radamente diferenciados ou pouco diferenciados. A maioria forma estruturas ductais e glandulares revestidas por epitélio colunar ou cuboide. Pode apresentar atipia discreta ou moderada. Observa-se um padrão infiltrativo evidente e o es- troma fibroso costuma se abundante, o que lhe confere consistência firme. Há tendência à infiltra- ção perineural, com possível extensão para retro- peritônio. Produzem mucinas ácidas e neutras, que são positivas nas colorações azul alciano e PAS. 18 A cabeça do pâncreas é sua principal sede (70- 90%), onde causa quadro de icterícia obstrutiva por obstrução do ducto biliar comum. Pode ainda geral pancreatite crônica obstrutiva devido à retenção de substância e dilatação geradas pela obstrução do ducto pancreático principal. Quando em cauda, pode invadir baço, suprarrenal esquerda e estômago. São geralmente maiores, até mesmo pelo diagnóstico ser mais tardio. Manifestações clínicas Costumam ser tardias, incluindo dor abdominal, perda de peso, icterícia obstrutiva e sinais de pan- creatite. História de DM de início recente está pre- sentem 70% dos casos. As metástases linfonodais são comuns, em gânglios paripancreáticos e perifé- ricos. Também fazem metástase hematogênica para fígado, pulmões, suprarrenais, rins, osso, cére- bro e pele. Diagnóstico, prognóstico e tratamento O diagnóstico é feito por ultrassom e tomografia computadorizada. Preconiza-se a realização de bi- ópsia se possível. Faz-se a pesquisa de marcadores tumorais séricos (CA 19.9). O prognóstico é ruim, com sobrevida de 5 anos em menos de 5% dos casos. O tratamento inclui cirur- gia, quimioterapia e radioterapia. Tumores císticos mucinosos Representa 2 a 5% das neoplasias de pâncreas exó- crino. Incide sobretudo em mulheres, a partir dos 40 anos. Apresenta atipia, podendo ser adenoma, incerto (borderline) ou carcinoma. A clínica é de dor abdominal e o prognóstico depende do grau de displasia e de invasão do parênquima adjacente. Geram elevação de marcadores tumorais séricos (CA19.9 e CEA). Formam cistos revestidos por epité- lio colunar produtor de mucina, com diferenciação intestinal ou em estroma de tipo ovariano. À ma- croscopia, são tumores pseudoencapsulados, uni ou multiloculares, que geralmente não comunicam com o sistema ductal normal do pâncreas adja- cente. Cistoadenoma mucinoso: lesão formada por epitélio colunar sem atipia, estroma tipo ovariano. 19 É incomum a observação da hepatite aguda por ví- rus na prática diária de Anatomia Patológica. Habi- tualmente, a doença é diagnosticada por dados clí- nicos e laboratoriais e regride espontaneamente ou evolui para cronicidade. O paciente não é subme- tido a biópsia hepática. HEPATITE VIRAL AGUDA Houve necrose extensa dos hepatócitos: extensas áreas de necrose hepatocitária. Células mais escu- ras são as saudáveis. Perda do padrão lobular: agrupamentos de hepa- tócitos (pseudolóbulos) separados por tecido con- juntivo com infiltrado inflamatório crônico inespe- cífico periductal, não tão intenso, e ductos biliares proliferados. O tecido conjuntivo deriva em grande parte de co- lapso do arcabouço reticulínico dos lóbulos hepá- ticos após necrose (ou apoptose) dos hepatócitos. Há também marcada colestase intra e extra-hepa- tocítica. Muitos hepatócitos (reativos) na hepatite aguda mostram citoplasma abundante (balonizadas) e claro por entrada de água, com dispersão das orga- nelas. Os grânulos pardacentos no citoplasma são de pigmento biliar (bilirrubina). A entrada de água se deve a distúrbios metabólicos da célula, especi- almente da bomba de sódio da membrana plasmá- tica, por efeito direto do vírus ou de ataque de célu- las imunes. Presumivelmente são células grave- mente lesadas e destinadas a morrer. Uma das consequências da hepatite aguda é o acú- mulo de bilirrubina dentro e fora dos hepatócitos (colestase intra e extra-hepatocítica), bem como sua passagem para a circulação sanguínea, dando icterícia. A célula não é capaz de excretar a bilirrubina que conjuga, acumulando-a no cito- plasma. 20 A retenção nos canalículos e ductos biliares é expli- cada em parte por tumefação dos hepatócitos e edema intersticial. Explicação: obstrução dos cana- lículos pela tumefação dos hepatócitos, que os comprimem, fazendo com que haja colestase (bilir- rubina “não flui”). A necrose de hepatócitos deses- trutura os canalículos biliares, que não têm parede própria, sendo constituídos por segmentos especi- alizados da membrana externa dos próprios hepa- tócitos. A perda de hepatócitos leva ao extravasa- mento da bile para o interstício e daí para o sangue. No sangue, predomina a bilirrubina conjugada. Hepatócitos normais raramente se dividem, mas conservam esta capacidade por toda vida. Após uma agressão, como numa hepatite viral, observa- se intensa atividade regenerativa, com mitoses e células bi- ou trinucleadas. Os núcleos são volumo- sos, com nucléolos evidentes, indicando elevada síntese proteica. Há também marcada proliferação dos ductos biliares, pois as células em regeneração podem se diferenciar tanto em hepatócitos quanto em células ductais. Mitose não atípica, só ilustra intensa atividade regenerativa. HEPATITE AGUDA FULMINANTE Só pela morfologia não é possível determinar a eti- ologia. Na maioria dos casos (50 a 65%) a causa é viral (vírus A, B, C, D, E ou F). O vírus F, de descri- ção muito rara, tem forte associação com a forma fulminante da hepatite aguda. Vem em segundo lu- gar a necrose hepática por drogas (25 a 30%), agindo diretamente como hepatotoxinas ou como haptenos, induzindo lesão dos hepatócitos pelo sistema imune. O quadro clínico seria de anorexia, náuseas e vômi- tos, e icterícia. Haveria intensa elevação das transa- minases e fosfatase alcalina no plasma. Geral- mente em pacientes jovens. DD em paciente idoso: tumor de cabeça de pâncreas ou adenocarcinoma de colédoco. A evolução seria rápida (poucos dias) para insuficiência hepática e óbito. A destruição maciça de hepatócitos leva à perda da arquitetura lobular do fígado. Praticamente não há hepatócitos remanescentes, ficando os sinusoides dilatados por sangue. Alguns ductos estão presen- tes e, em parte, representam atividade regenera- tiva. Pigmento escuro é um artefato da fixação por formol (pigmento de formol). HEPATITE CRÔNICA: EVOLUÇÃO PARA CIRROSE Os vírus B e C da hepatite, além de causar hepatite aguda, podem persistir indefinidamente nos hepa- tócitos causando hepatite crônica. Seu estágio ini- cial possui aspecto muito inespecífico. 21 A lesão hepatocelular é produzida em parte por lin- fócitos T citotóxicos (processo inflamatório crô- nico), que reconhecem proteínas virais na mem- brana externa dos hepatócitos infectados. A inflamação é multifocal e produz septos fibrosos ligando um espaço portal a outro (septos porta- porta) ou um espaço portal a uma veia centrolobu- lar (septos porta-centro). O processo (fibrose e in- flamação constantes) vai desorganizando a arqui- tetura lobular do fígado e, apósmeses a anos, re- sulta em cirrose. Cirrose - Macroscopia Em linhas gerais (NÃO É REGRA), a cirrose macrono- dular sugere etiologia pós-necrótica (hepatite crô- nica B ou C) e a micronodular é mais própria da eti- ologia alcoólica. A cirrose biliar é ainda mais fina Contudo é preciso salientar que, a rigor, não é pos- sível definir a causa da cirrose pelo aspecto ma- croscópico do fígado e que, em cerca de 15% das cirroses, a etiologia permanece desconhecida (cir- rose criptogênica). Fígado cirrótico: micro ou macronodular, superfície irregular. Cirrose - Microscopia Microscopicamente, é difícil definir o agente em muitos casos. O vírus B pode produzir o aspecto “em vidro fosco” (hepatócitos balonizados com ci- toplasma bem claro). No vírus C, é descrita maior 1 Algumas reações a droga podem originar alterações semelhantes ao aspecto em vidro fosco da hepatite B. associação com agregados linfoides (“bolotas”) no espaço portal e com esteatose dos hepatócitos. Hepatite crônica pelo vírus B Neste caso de hepatite crônica, a etiologia pelo vi- rus B pode ser diagnosticada pelos hepatócitos em vidro fosco. Há evolução para cirrose, na qual se en- contram pseudolóbulos separados por septos fi- brosos com infiltrado inflamatório crônico inespe- cífico. Septos finos avançam a partir dos maiores e penetram nos pseudolóbulos. Os chamados hepatócitos 'em vidro fosco' são ca- racterísticos, embora não patognomônicos1, da he- patite crônica pelo vírus B. Vários hepatócitos mos- tram no citoplasma uma área homogênea rósea, geralmente com halo claro na periferia, que é cons- tituída por acúmulo do antígeno de superfície do vírus (HBsAg). O restante do citoplasma tem as- pecto granuloso, constituído pelas organelas, como mitocôndrias e retículo endoplasmático. O virus tem a capacidade de estimular a síntese de abundantes quantidades desta proteína, parte da qual é secretada no plasma, e parte fica retida na célula. Exceto pela inclusão citoplasmática, o as- pecto morfológico das células parasitadas é nor- mal. 22 Característica de hepatite crônica Chama-se placa limitante a interface entre o pseu- dolóbulo e o tecido fibroso circunjacente. Na hepa- tite crônica, é característica a agressão à placa limi- tante por infiltrado inflamatório proveniente dos septos. Células inflamatórias penetram entre os he- patócitos da periferia, alguns dos quais sofrem ne- crose. O aspecto é também conhecido como ne- crose em saca bocado (piecemeal necrosis). ESTEATO-HEPATITE ALCOÓLICA A esteato-hepatite é uma das manifestações do al- coolismo crônico e, geralmente, ocorre após um episódio de ingesta excessiva de álcool. O termo hepatite alcoólica é empregado em parte por motivos clínicos, pois o quadro lembra uma he- patite viral, com icterícia, mas também porque cos- tuma haver reação inflamatória no parênquima he- pático. O mecanismo seria a toxicidade aguda do etanol, que lesa diretamente as células hepáticas, provo- cando a alteração balonizante e a alteração hialina de Mallory. A morte de hepatócitos induz reação in- flamatória focal com neutrófilos. Surtos repetidos de hepatite alcoólica terminam por evoluir à cir- rose em cerca de um terço dos casos. 23 Há esteatose difusa, fibrose e infiltrado inflamató- rio nos espaços portais. Notam-se também delica- dos septos fibrosos separando lóbulos e indicando progressão para cirrose. Há proeminentes corpús- culos hialinos de Mallory no citoplasma de muitos hepatócitos, característicos, mas não patognomô- nicos, da hepatite alcoólica. Alteração hialina de Mallory: material grumoso avermelhado no citoplasma de hepatócitos, geral- mente visualizável em hepatócitos balonizados, e/ou em meio aos vacúolos lipídicos. Resulta da condensação de filamentos do citoesqueleto por ação tóxica do álcool. A alteração hialina de Mallory geralmente é acompanhada de necrose de hepató- citos, que atrai neutrófilos. Outra diferença com as hepatites crônicas: ausên- cia de placa limitante com necrose em saca bo- cado. CIRROSE BILIAR Gera desarranjo parcial da arquitetura do parên- quima hepático, com formação de septos fibrosos (sem nodulações tão perfeitas como na hepatite crônica) e alargamento dos espaços portais, que mostram intensa proliferação ductal, característica da etiologia biliar da cirrose. Há abundante pigmento biliar (bilirrubina) no cito- plasma de hepatócitos, na forma de pequenos grâ- nulos pardacentos, e no citoplasma de células de Kupffer que margeiam os sinusoides. Observam-se também cilindros de cor pardacenta (bile) nos ca- nalículos biliares, situados entre os hepatócitos. 24 O colédoco está parcialmente aberto e mostra-se dilatado por cálculos biliares. Estes provavelmente se formaram na vesícula e impactaram-se no colé- doco, obstruindo o fluxo biliar e levando à retenção de bile no fígado (colestase). A peça fresca tinha cor fortemente esverdeada, que já não é mais visível porque a bilirrubina, sendo hidrossolúvel, perdeu-se para o líquido conserva- dor. A bilirrubina é tóxica para os hepatócitos e, a longo prazo, leva à cirrose biliar. Notar que os nó- dulos regenerativos na cirrose biliar são pequenos e pouco salientes em relação a outros tipos de cir- rose. ESQUISTOSSOMOSE HEPÁTICA A esquistossomose hepática não desorganiza a ar- quitetura lobular do fígado como a cirrose. Os vermes adultos vivem nos ramos intra-hepáti- cos da veia porta, onde causam reação inflamató- ria crônica. Com o tempo, esta progride a intensa fibrose periportal (NÃO SÃO SEPTOS), em que uma camada de tecido fibroso circunda as veias. O aspecto foi chamado de fibrose em haste de ca- chimbo de barro branco (clay pipe-stem cirrho- sis ou fibrose de Symmers) devido à sua espessura e à cor esbranquiçada. Há a presença de vermes (vi- vos ou mortos) e de ovos retarda o fluxo portal, cau- sando hipertensão portal. Os espaços em volta dos ramos maiores da veia porta estão grandemente espessados por tecido fi- broso e há intensa proliferação vascular angioma- toide, resultante da hipertensão portal crônica. En- tre os vasos, há moderado infiltrado inflamatório crônico e observam-se gigantócitos (células gigan- 25 tes de corpo estranho) contendo ovos de Schisto- soma mansoni (na maior parte, fragmentos de cas- cas). Por vezes, os ovos são observados também li- vres no tecido fibroso e podem estar calcificados (cor azul quase negra). A fibrose periportal é responsável pelo aspecto ma- croscópico 'em haste de cachimbo de barro bran- co' (clay pipe-stem cirrhosis ou fibrose hepática de Symmers). Na fibrose esquistossomótica, ao contrário da cir- rose hepática, a fibrose concentra-se em volta dos ramos intra-hepáticos mais calibrosos da veia porta e o parênquima mantém a estrutura lobular mais ou menos intacta. Não há septos fibrosos for- mando pseudolóbulos. Nos casos com infestação maciça, as células de Ku- pffer se destacam já em médio aumento pela pig- mentação negra do citoplasma. O chamado pig- mento esquistossomótico é derivado da hemoglo- bina das hemácias ingeridas pelos vermes. A diges- tão da hemoglobina libera hematina ou meta- heme livre, que é o heme separado da globina. O Fe2+ oxida-se a Fe3+. O pigmento negro é fagocitado pelas células de Ku- pffer, mas isso não tem repercussão clínica. (O pig- mento malárico tem a mesma natureza e aspecto). 26 HEPATOCARCINOMA Tumor bem delimitado e bem diferenciado, origi- nado em fígado cirrótico. Prognóstico pós ressec- ção é bom. A cirrose é um importante fator de risco para o he- patocarcinoma devido à contínua necrose e rege- neração de hepatócitos. Infecção crônica pelo virus B da hepatite aumenta muito a incidência do tumor porque esteDNA virus tem capacidade de incorporar seu genoma ao da célula hepática. 27 ESÔFAGO DE BARRET É uma complicação de doença do refluxo gastroes- ofágico (DRGE) crônica caracterizada por metapla- sia intestinal dentro da mucosa escamosa esofá- gica. Sua incidência está aumentando, com ocor- rência cerca de 10% das pessoas com DRGE sinto- mática. Atinge sobretudo homens na faixa dos 40- 60 anos. A maior preocupação com o esôfago de Barret é o risco aumentado de adenocarcinoma de esôfago, sendo possivelmente uma lesão pré-maligna. Acordo com isso, a displasia epitelial, considerada uma lesão pré-invasiva, desenvolve-se em 0,2-1,0% das pessoas com esôfago de Barrett a cada ano. Embora a grande maioria dos adenocarcinomas esofágicos esteja associada a esôfago de Barrett, deve-se notar que a maioria das pessoas com esô- fago de Barrett não desenvolve câncer de esôfago. Morfologia O esôfago de Barrett é reconhecido por via endos- cópica como línguas ou placas de mucosa verme- lha aveludada que se estendem para cima a partir da junção gastroesofágica. Essa mucosa metaplá- sica alterna com mucosa lisa residual, escamosa, pálida (esofágica) proximalmente e faz interface com mucosa colunar marrom-claro (gástrica) dis- talmente. A: junção GE normal. B: esôfago de Barret. A maioria dos autores exige tanto evidências en- doscópicas de anormalidade da mucosa acima da junção gastroesofágica como metaplasia gástrica ou intestinal histologicamente documentada para diagnóstico de esôfago de Barrett. Células caliciformes, que têm vacúolos de muco distintos que coram em azul-pálido por H&E e par- tilham a forma de um cálice de vinho com o res- tante do citoplasma, definem metaplasia intestinal e são uma característica do esôfago de Barrett. A displasia é classificada como de baixo ou alto grau, com base em critérios morfológicos. O carcinoma intramucosa é caracterizado pela invasão de célu- las epiteliais neoplásicas na lâmina própria. Aparência histológica da junção gastroesofágica no esôfago de Barrett. Note a transição entre mucosa escamosa do esôfago (esquerda) e mucosa metaplásica, que contém células calicifor- mes (direita). Manifestações clínicas O diagnóstico do esôfago de Barrett requer endos- copia e biópsia, geralmente motivadas por sinto- mas de DRGE. As opções de tratamento incluem a ressecção cirúrgica (esofagectomia) e as modalida- des mais recentes, como terapia fotodinâmica, ablação por laser e mucosectomia endoscópica. A displasia multifocal de alto grau, que carrega um risco significativo de progressão para carcinoma in- tramucosa ou invasivo, pode ser tratada de ma- neira semelhante ao carcinoma intramucosa.
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