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RESUMO PATOLOGIA ESPECIAL TRATO GASTROINTESTINAL

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1 
 
PATOLOGIA ESPECIAL I – PROVA 1 
HISTOLOGIA 
O estômago é responsável pela digestão parcial do 
bolo alimentar e pela secreção de enzimas e hor-
mônios, estes tanto de caráter endócrino quanto 
exócrino. 
A mucosa gástrica é formada por epitélio glandular, 
de células colunares simples, cuja unidade secre-
tora desemboca na superfície das fossetas gástri-
cas. Todo o seu epitélio está em contato com a lâ-
mina basal. 
Ela produz uma secreção alcalina, composta de 
95% de água, glicoproteínas e lipídios, e também 
realiza a secreção de bicarbonato, produzindo uma 
espessa camada que protege as células da acidez. 
Abaixo dela, encontramos as camadas muscular da 
mucosa e submucosa. 
A cárdia é a transição entre o estômago e o esôfago 
e, por isso, sua mucosa possui glândulas tubulares 
simples ou ramificadas, denominadas glândulas da 
cárdia. Muitas dessas glândulas produzem muco e 
lisozima (ação bactericida) e algumas podem pro-
duzir H+ e Cl-. 
As porções do fundo e do corpo gástrico são preen-
chidas por glândulas tubulares, que se abrem em 
cada fosseta gástrica em grupos de 3 a 7. Cada uma 
dessas glândulas possui istmo, colo e base: 
 Istmo: células mucosas em diferenciação 
(substituição de células da fosseta e célu-
las superficiais), células-tronco e células 
parietais (oxínticas). 
 Colo: contém células-tronco, células mu-
cosas, células parietais (oxínticas) e células 
enteroendócrinas. 
 Base: contém células parietais, zimogêni-
cas (principais) e enteroendócrinas. 
O piloro, por sua vez, contém fossetas gástricas 
profundas, nas quais as glândulas pilóricas, tubula-
res simples ou ramificadas, se abrem. Estas secre-
tam muco e lisozima. Há também, intercaladas 
com as células mucosas, muitas células G, respon-
sáveis pela secreção de gastrina, que ativa a produ-
ção de ácido pelas células parietais. 
DOENÇA INFLAMATÓRIA DO ESTÔMAGO 
Gastrite aguda 
É um processo inflamatório transitório da mucosa 
que pode ser assintomático ou provocar graus vari-
áveis de dor epigástrica, náuseas e vômitos. Em ca-
sos mais graves pode haver erosão da mucosa, ul-
ceração, hemorragia, hematêmese, melena ou, ra-
ramente, perda maciça de sangue. 
Patogenia 
A luz gástrica é fortemente ácida, esse ambiente 
contribui para a digestão, mas tem potencial de 
dano à mucosa. Com isso, múltiplos mecanismos 
evoluíram para proteger a mucosa gástrica. 
 Mucina: secretaria pelas células foveolares 
da superfície, forma uma camada fina de 
muco impedindo que partículas de ali-
mento toquem diretamente o epitélio. 
Forma também uma camada de líquido so-
bre o epitélio, protegendo a mucosa. Tem 
pH neutro como resultado da secreção de 
íon de bicarbonato pelas células epiteliais 
da superfície. 
 Suprimento vascular: fornece oxigênio, bi-
carbonato e nutrientes, lava o ácido que di-
fundiu de volta à lâmina própria. 
 Prostaglandina: estimula a renovação do 
epitélio, a produção de muco e a secreção 
de íon bicarbonato, aumenta o fluxo san-
guíneo e diminui a secreção ácida. 
Danos a qualquer um desses mecanismos podem 
levar a uma gastrite aguda ou crônica: 
Os AINEs podem interferir na citoproteção normal-
mente fornecida por prostaglandinas ou reduzir a 
secreção de bicarbonato. Também pode se desen-
volver pela lesão celular direta, fruto de substân-
cias químicas hostis, consumo excessivo de álcool, 
radioterapia e quimioterapia. 
2 
 
Além disso, o álcool também provoca dissolução 
do muco, do componente lipoproteico da mem-
brana celular e dos complexos unitivos das células 
epiteliais. 
Morfologia 
Apresenta edema moderado e congestão vascular 
discreta. Presença de neutrófilos acima da camada 
basal indicando inflamação ativa. 
 
Gastrite crônica 
É a forma mais comum de inflamação gástrica, ca-
racteriza-se por reação inflamatória na mucosa 
com infiltrado de leucócitos mono e polimorfonu-
cleares. 
Morfologia 
Apresenta sinais de inflamação (presença de infil-
trado linfoplasmocitário), de atividade (presença 
de neutrófilos), de atrofia (redução dos componen-
tes da mucosa) e de metaplasia intestinal (substi-
tuição do epitélio gástrico por epitélio intestinal). 
 
Gastrite por Helicobacter pylori 
É a causa mais comum de gastrite crônica, estando 
presente em 90% dos pacientes. Geralmente é ad-
quirida na infância e associa-se a baixa condição 
socioeconômica. Dentre os principais mecanismos 
patogênicos envolvidos estão os fatores de virulên-
cia do microrganismo, a resposta inflamatória da 
mucosa e a alteração da secreção ácida gástrica. 
A bactéria tem uma potente atividade ureásica, que 
participa da colonização gástrica, permitindo sua 
sobrevivência em um meio ácido. 
As cepas cagA-positivas são mais virulentas, associ-
adas a maior grau de infiltração de polimorfonucle-
ares neutrófilos, produção de IL-8 e têm íntima as-
sociação com cepas vacA S1. 
A H. pylori é associada com a diminuição da libera-
ção da somatostatina e aumento da liberação de 
gastrina pelo antro gástrico. 
 
 
GASTRITE ANTRAL: Acomete o antro de forma mais 
intensa, podendo coexistir atrofia e metaplasia in-
testinal. Associa-se com certa frequência à úlcera 
péptica duodenal, compondo a tríade: gastrite an-
tral, H. pylori e úlcera duodenal. Geralmente são ca-
sos de infecção por cagA-positivas. 
3 
 
GASTRITE DO ANTRO E DO CORPO: Acomete antro 
e corpo de forma mais difusa e intensa e evolui ra-
pidamente para atrofia da mucosa gástrica com 
metaplasia intestinal Em geral, são pacientes infec-
tados por cepas cagA-positivas e que desenvolvem 
hipocloridria e atrofia da mucosa. Este tipo é fre-
quentemente associado a úlcera péptica gástrica 
ou carcinoma gástrico. 
Gastrite autoimune 
Responsável por menos de 10% dos casos de gas-
trite crônica. Acomete principalmente mulheres 
acima dos 60 anos e geralmente associa-se a outras 
doenças autoimunes. 
Caracteriza-se por anticorpos para as células parie-
tais e fator intrínseco, que podem ser detectados 
no soro e secreções gástricas, resultando em perda 
de células que secretam ácido e desativação da ab-
sorção de vitamina B12. Desse modo, há hipergas-
trinemia e anemia megaloblástica (anemia pernici-
osa). 
Morfologicamente, ocorrem danos difusos na mu-
cosa oxínticas e atrofia difusa. A mucosa do corpo 
e do fundo aparece nitidamente adelgaçada e as 
pregas rurais são perdidas. Diferente da gastrite 
crônica por H. pylori, a autoimune polpa o antro e 
seu infiltrado inflamatório é composto por linfóci-
tos, macrófagos e células plasmáticas. 
TUMORES GÁSTRICOS 
Pólipos 
São resultado de proliferação de células epiteliais 
ou estromais, inflamação, ectopia ou neoplasia. 
Podem ser únicos ou múltiplos e apresentam vá-
rios tipos, sendo os mais comuns os hiperplásicos 
(90%) e os adenomas (5-10%). 
Neoplasias malignas 
Adenocarcinoma gástrico 
Corresponde a 90% de todos os cânceres gástricos. 
Os sintomas iniciais se assemelham à gastrite crô-
nica (dispepsia, disfagia e náuseas). Geralmente o 
diagnóstico é tardio e o adenocarcinoma é encon-
trado em estágios muito avançados, com perda de 
peso, anorexia, anemia e hemorragia. 
É mais comum em grupos menos favorecidos eco-
nomicamente e em pessoas com gastrite crônica 
atrófica multifocal e metaplasia intestinal. 
 
DIFUSO 
Apresenta padrão de crescimento infiltrativo, pos-
suindo células com vacúolos de mucina (em “anel 
de sinete”). Ocorre uma reação desmoplásica que 
enrijece a parede gástrica causa achatamento di-
fuso (“garrafa de couro” – linite plástica). 
Patogenia – a mutação de gene CDH1 compromete 
a síntese de E-caderina, responsável pela aderência 
intercelular epitelial, e tende à formação de adeno-
carcinoma gástrico do tipo difuso. 
 
INTESTINAL 
Tendem a ser volumosos e ulcerados, compostos 
por glândulas semelhantes ao intestino grosso. A 
4 
 
gastrite crônica atrófica está presente em 90% dos 
casos.Metaplasia intestinal (tipo III) e displasia são 
frequentes. 
 
Patogenia – associada a dieta rica em nitratos e sal, 
infecção por H. pylori (inflamação, proliferação ce-
lular, carcinogênico) e infecção por EBV (episso-
mas). 
 
Tumor estromal gastrointestinal (GIST) 
Tumor mesenquimal mais comum do abdome, 
sendo que mais da metade dos casos ocorre no es-
tômago. Ocorre em pessoas com mais de 60 anos 
majoritariamente. 
Localiza-se preferencialmente no corpo e fundo 
gástrico, na muscular da mucosa, muscular própria 
ou em estruturas da submucosa. 
MORFOLOGIA 
Padrão epitelioide, com células globosas e de cito-
plasma claro, e padrão fusocelular, com células fas-
ciculadas. 
 
PATOGENIA 
Origina-se nas células intersticiais de Cajal. Cerca 
de 90% de todos os GIST têm mutações oncogêni-
cas no gene que codifica tirosina quinase c-KIT e 
podem expressar concomitantemente CD34 (im-
portante na imuno-histoquímica). 
Outros 8% estão associados a mutações que ati-
vam o receptor do fator de crescimento derivado 
de plaquetas A (PDGFRa). Mutações nesses genes 
produzem proteínas que ativam vias sinalizadoras 
que induzem proliferação celular e inibição da apo-
ptose. 
Linfoma MALT 
MALT designa o tecido linfoide associado a mu-
cosa. Nesse tumor, há proliferação de linfócitos B 
da zona marginal extranodal. É o tipo de linfoma 
mais comum do TGI e representa 2 a 5% dos tumo-
res malignos do estômago. Ocorre em indivíduos 
com mais de 50 anos, sobretudo aos 70 anos. 
 
5 
 
Apresenta sintomas inespecíficos, como dispepsia, 
dor epigástrica, hematêmese e perda ponderal. 
Possui relação com H. pylori e inflamações crôni-
cas, uma vez que a o tratamento com antibiótico 
induz a remissão do linfoma. Sua patogenia está re-
lacionada a ocorrência de lesão linfoepitelial. 
Macroscopicamente, apresenta mucosa hipertró-
fica, sinais de espessamento irregular das pregas e 
pode formar úlcera regulares e erosões na mucosa. 
Microscopicamente, possui infiltrados linfocítico 
denso da lâmina própria, lesões linfoepiteliais em 
fovéolas e glândulas e monocitose (citoplasma pá-
lido). 
 
 
 
 
 
HISTOLOGIA 
Intestino delgado 
O intestino delgado possui uma série de especiali-
zações que visam o aumento de absorção, tais 
quais pregas circulares, vilosidades e criptas, bem 
como microvilosidades. Em sua camada mucosa, 
existem células: 
 Enterócitos: absorção 
 Caliciformes: produção de muco 
 Enteroendócrinas: liberações hormonais 
parácrinas ou endócrinas 
 De Paneth: atividade antibacteriana 
 Tronco: renovação celular 
 M: elo de defesa imunológica intestinal 
A lâmina própria abriga tecido conjuntivo frouxo, 
vasos nervos e fibras musculares, sendo ela que 
preenche as vilosidades. Em seguida, há a muscu-
lar da mucosa, composta de fibras musculares. 
Abaixo dela, está a camada submucosa, que con-
tém vasos, nervos, vasos linfáticos e plexo submu-
coso de Meissner. A camada muscular vem logo 
abaixo, com suas túnicas circular internamente e 
longitudinal externamente. É nela que se localiza o 
plexo mioentérico de Auerbach. A camada serosa é 
responsável pelo revestimento externo no ID. 
Há ainda, no íleo, os nódulos linfoides de tecido 
GALT formando as placas de Peyer, com células M 
revestindo o epitélio, responsável pela defesa imu-
nológica especial. 
Intestino grosso 
Não possui pregas ou vilosidades, exceto em sua 
porção retal. Apresenta longas criptas, onde encon-
tram-se enterócitos colunares, abundantes células 
caliciformes e poucas células enteroendócrinas. 
Sua lâmina própria é rica em tecido GALT, devido à 
população bacteriana, e é responsável pela forma-
ção das tênias do colo, por fibras unidas da camada 
longitudinal externa. A porção retal do intestino 
grosso apresenta colunas retais em sua mucosa. 
6 
 
DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL 
Termo amplo que designa Doença de Crohn e Co-
lite Ulcerativa, caracterizadas pela inflamação crô-
nica do intestino. Ambas as doenças são idiopáti-
cas, já que sua etiopatogênese é desconhecida. As 
duas se manifestam como com quadro clínico de 
diarreia, de evolução prolongada, recidivante, re-
mitente, que pode durar anos ou décadas. Porém 
cada uma tem suas características clínicas e pecu-
liares. 
A colite ulcerativa caracteriza-se por inflamação 
difusa e inespecífica da mucosa do reto e do cólon, 
por isso também chamada de retocolite ulcerativa. 
O comprometimento inflamatório é contínuo, su-
perficial, restrito à mucosa e forma úlceras. 
A Doença de Crohn pode comprometer qualquer 
porção do TGI, porém é mais comum no íleo termi-
nal. Apresenta dois aspectos patológicos muito ca-
racterísticos: 
 Comprometimento segmentar do TGI: le-
sões salteadas. 
 Inflamação de todas as camadas da pa-
rede intestinal: resulta em fissuras, fístulas 
e abscessos na cavidade abdominal. 
Granulomas epitelioides são encontrados em me-
tade dos casos. A cicatrização das lesões inflama-
tórias resulta em estreitamento da luz intestinal, 
causando uma obstrução intestinal. 
Fisiopatologia 
Os mecanismos envolvidos são desconhecidos, 
mas acredita-se que resultem de resposta imunitá-
ria anormal à microbiota bacteriana da luz intesti-
nal. Os principais fatores patogênicos envolvidos 
são os genéticos, microbiológicos e imunitários. 
Fatores genéticos 
Relacionado a mutações no gene NOD2. Parentes 
de primeiro grau têm probabilidade de 4 a 20 vezes 
maior de desenvolver a doença. Os fatores genéti-
cos são mais importantes na Doença de Crohn do 
que na colite ulcerativa. 
 
Fatores microbiológicos 
A microbiota bacteriana parece ter papel impor-
tante no desencadeamento e manutenção da do-
ença inflamatória intestinal. O grau de atividade da 
inflamação é maior nos locais do intestino com 
maior densidade de colonização bacteriana, como 
o reto e o ceco. 
Fatores imunitários 
Tanto na colite ulcerativa como na Doença de 
Crohn, a agressão imunitária é mediada por linfóci-
tos T CD4. A colite ulcerativa parece estar relacio-
nada com a resposta do tipo Th2, com produção de 
IL-4 e IL-10. Já a Doença de Crohn parece estar re-
lacionada com a resposta Th1, expressa pela libe-
ração de interferon gama. 
Outros fatores 
O uso de AINEs pode alterar a permeabilidade da 
mucosa intestinal e causar surtos de atividade da 
doença. Apendicectomia precoce parece estar as-
sociada a menor incidência de colite ulcerativa. O 
tabagismo parece ser fator protetor para colite ul-
cerativa, porém está associado a maior risco para 
Doença de Crohn. 
 
Diagnóstico 
É feito pela associação de dados clínicos, laborato-
riais e anatomopatológicos. Em cerca de 5 a 20% 
dos casos não é possível distinguir entre colite ul-
cerativa de Doença de Crohn. Nessas situações, o 
diagnóstico é dado como colite indeterminada. 
Doença de Crohn 
É mais prevalente em mulheres e pessoas brancas. 
Pode se manifestar em qualquer idade, porém é 
mais frequente dos 20 aos 40 anos. Em 30 a 35% 
dos casos, as lesões são restritas ao intestino del-
gado e comprometem principalmente o íleo termi-
nal. 
Em 25 a 35% dos pacientes, as lesões se localizam 
no cólon e, em 30 a 50%, afetam tanto intestino 
7 
 
grosso como delgado, em especial ceco e cólon as-
cendente. 
Morfologia 
As lesões são tipicamente segmentares, bem de-
marcadas, com áreas lesadas intercaladas com 
segmentos normais. A inflamação é transmural, en-
volvendo toda a espessura da parede intestinal. 
A medida que progridem, a parede intestinal se 
torna mais espessa e a mucosa apresenta eleva-
ções nodulares e ulcerações. As úlceras são profun-
das e estreitas, coalescem e formam fissuras linea-
res, tortuosas e dispostas ao longo do eixo do intes-
tino, muitas vezes atingindo a camada serosa. 
Em 60% dos casos, formam-se granulomas epiteli-
oides, sem necrose. Pode haver vasculites associa-
das aos granulomas. A serosa tem aspecto granular 
efrequentemente forma aderências que, junto às 
úlceras profundas, resultam em fístulas entre alças 
do intestino ou entre intestino e cólon, a bexiga e a 
vagina. Fístulas perianais são muito comuns. 
Histologicamente, encontram-se inflamação trans-
mural com infiltrado linfoide formando folículos, 
abscessos pericríticos e granulomas, que costu-
mam estar ausentes nas fases iniciais da colite. 
 
Presença de fissuras estendendo-se até a camada submucosa, 
fibrose da parede intestinal e agregados linfoides na serosa. 
 
Manifestações clínicas 
São recorrentes, intercalando episódios agudos de 
febre, diarreia e dor abdominal com períodos assin-
tomáticos, que podem durar de meses a anos. 
Quando há comprometimento do cólon, pode he-
matoquezia e anemia. 
Em cerca de 20% dos casos, as manifestações são 
aguda, podendo simular quadro de apendicite 
aguda. 
Entre as complicações, as mais comuns são obstru-
ção do intestino delgado, fístulas com alças intesti-
nais, bexiga, vagina ou pele da região perianal, abs-
cessos e peritonite. Quando há fístula e ressecção 
extensa do intestino delgado, desenvolve-se sín-
drome de má absorção. 
As manifestações extra-intestinais mais comuns 
são artrite, eritema nodoso, espondilite anquilo-
sante, colangite esclerosante, uveíte, colelitíase, 
nefrolitíase, uretrite e amiloidose. 
Diagnósticos diferenciais 
Faz-se com doenças infecciosas, como amebíase, 
tuberculose intestinal e infecções por Yersinia ente-
rocolitica e Campylobacter jejuni, lesões que levam 
à estenose segmentar (ex.: enterite isquêmica), en-
terites por radiação e pelo uso de AINEs e linfomas. 
Quando o comprometimento do cólon é isolado, o 
diagnóstico diferencial mais importante é a colite 
ulcerativa. 
8 
 
Colite ulcerativa 
Pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais fre-
quente dos 20 aos 40 anos. Homens e mulheres são 
igualmente acometidos. Há predomínio em cauca-
sianos e judeus. 
As lesões iniciais aparecem no reto e no sigmoide. 
Nos casos graves, pode comprometer todo o cólon 
(pancolite) e atingir o íleo. 
Morfologia 
O quadro macroscópico é variável e dependente da 
intensidade, da extensão e da fase da doença. Na 
fase inicial, a mucosa é hiperêmica, granular e friá-
vel. Ela sangra com maior facilidade, contém me-
nor quantidade de muco e pode apresentar pontos 
hemorrágicos que se tornam purulentos e, posteri-
ormente, formam pequenas ulcerações. 
Ao exame histopatológico, encontra-se inflamação 
limitada à mucosa e à submucosa, raramente se 
aprofundando até a muscular ou serosa. Há con-
gestão, microabscessos nas criptas e redução de 
células caliciformes, que são substituídas por célu-
las imaturas, devido à agressão e ao aumento da 
renovação celular. Pseudopólipos, que resultam da 
protrusão de ilhas de mucosa remanescente na luz 
intestinal, são frequentes. 
 
Manifestações clínicas 
A doença se manifesta por diarreia sanguinolenta 
com muco ou pus, cólicas abdominais, desidrata-
ção, perda de eletrólitos, alterações da motilidade 
intestinal e desnutrição. Alguns pacientes podem 
apresentar constipação intestinal. 
Pacientes com colite ulcerativa têm maior risco de 
desenvolver câncer do cólon. A duração da doença 
(superior a 10 anos), sua extensão no cólon e a exis-
tência de displasia são os principais fatores de risco 
para desenvolvimento de câncer. 
As manifestações extra-intestinais compreendem 
doenças hepatobiliares, musculoesqueléticas e 
tromboembólicas, eritema nodoso, uveíte e ure-
trite. 
TUMORES DO INTESTINO DELGADO 
São tumores raros, compreendendo apenas 1 a 6% 
de todos os tumores do trato digestivo, sendo um 
lugar pouco comum de neoplasias. Cerca de 60% 
deles são benignos. Os mais comuns são: adeno-
mas, leiomiomas, lipomas, tumor carcinoide, ade-
nocarcinoma, linfomas e GIST. 
Benignos 
Os mais comuns são os tumores estromais, de ori-
gem predominantemente muscular (leiomiomas), 
adenomas e lipomas. Adenomas correspondem a 
25% deles, podendo ser únicos ou múltiplos, pedi-
culados ou sésseis. Acometem mais frequente-
mente o duodeno e o íleo e são semelhantes aos de 
cólon e estômago. 
Os leiomiomas correspondem a 20% dos tumores 
estromais de intestino delgado e consistem em nó-
dulos pequenos que crescem em direção à luz ou 
ao peritônio. Ocorrem mais frequentemente no je-
juno e são diagnóstico diferencial com GIST, cuja 
distinção é feita por imuno-histoquímica (CD117+). 
Os lipomas são 15% dos casos e se apresentam 
como tumorações pequenas e intramurais de as-
pecto amarelado à endoscopia. Acometem sobre-
tudo o íleo distal. 
Malignos 
São menos comuns devido ao trânsito intestinal rá-
pido, escassez de bactérias, presença de IgA secre-
tora e resistência da mucosa à ação de agentes 
cancerígenos. 
9 
 
Adenocarcinoma 
Acomete principalmente homens brancos acima 
dos 40-50 anos de idade. Apresenta padrão de cres-
cimento anelar, do tipo “anel de guardanapo” ou 
como massas polipoides. É mais comum no duo-
deno, sobretudo na papila de Vater, e predominam 
os tipos polipoide e ulcerativo. 
OBS.: Os tumores periampulares na papila de Vater 
caracterizam-se por lesão exofítica, que causa obs-
trução biliar e manifesta-se com icterícia intermi-
tente e colangite. 
Sua clínica é de dor em cólica, náusea, vômitos, 
perda ponderal e sangue oculto nas fezes. Às vezes, 
quando apresenta sintomatologia, já se encontra 
disseminado para peritônio, fígado, pâncreas, pul-
mões ou linfonodos. 
O diagnóstico é feito inicialmente por biópsia en-
doscópica da lesão. Quando feita cirurgia, 70% dos 
casos evoluem com 5 anos de sobrevida após res-
secção. 
 
Presença de mitoses e nucléolos evidentes. 
Tumor carcinoide 
Possui maior incidência a partir dos 60 anos e cor-
responde a quase metade dos tumores malignos 
de intestino delgado. Cerca de 90% dos casos se 
disseminam para linfonodos. Possui positividade 
imuno-histoquímica para marcadores neuroendó-
crinos (cromogranina e sinaptofisina). 
Deriva-se de células endócrinas localizadas na pa-
rede intestinal. É uma neoplasia neuroendócrina 
bem diferenciada (grau 1), com baixo índice mitó-
tico medido pela imuno-histoquímica (antígeno Ki-
67). Pode acometer também pâncreas, pulmões, 
árvore biliar, fígado e apêndice cecal. 
Macroscopicamente, se apresenta como massas 
pouco elevadas e polipoides com até 3 cm de diâ-
metro e de aspecto pardo-amarelado. É um tumor 
firme e de aparência sólida. 
 
 
Presença de núcleos “em sal e pimenta”. 
 
TUMORES DO INTESTINO GROSSO 
São pólipos, isto é, massas tumorais protusas na 
luz intestinal, que podem ser sésseis ou pedicula-
das. Sua origem pode ser não neoplásica, no caso 
10 
 
de malformações, ou neoplásica, constituindo os 
adenomas. Há ainda os adenocarcinomas. 
Pólipos não neoplásicos 
Constituem a maioria dos pólipos de cólon (90%). 
Hiperplásicos 
Pequenos, sésseis e múltiplos. Comuns a partir dos 
50 anos. Macroscopicamente, assemelham-se à 
mamilos, não sendo possível distingui-los de póli-
pos neoplásicos. 
Hamartomoso 
É uma malformação congênita de aspecto tumoral, 
caracterizada por misturas anormais de tecidos 
próprios do órgão em que se apresenta. 
JUVENIL: crianças menores de 5 anos ou adultos. 
Principalmente em reto, solitários ou em pequenos 
números. 
SÍNDROME DA POLIPOSE JUVENIL: crianças de 4 a 
12 anos. Numerosos e predominantes em cólon, 
mas podendo acometer também intestino delgado 
e estômago. 
DE PEUTZ-JEGHERS: associados a pigmentação 
melanótica mucocutânea. Acometem intestino 
delgado em 100% dos casos e cólon e reto em 30%. 
Inflamatório 
Lesões nodulares de 0.2-1.5 cm, secundárias a ulce-
ração e reparo da mucosa que surgem após infla-
mação no cólon. Ilhas de mucosa preservada adja-
cente às úlceras e se projetam para a luz intestinal. 
Há ainda os pólipos não neoplásicos linfoides. 
Pólipos neoplásicos (adenomas) 
São as neoplasias benignasmais comuns do intes-
tino grosso e caracterizam-se pela proliferação das 
células epiteliais que revestem a mucosa. Apresen-
tam graus de displasia, desde baixos até altos (ade-
nomas pré-cancerosos). Metade dos casos ocorrem 
após os 50 anos. 
Podem ser isolados ou múltiplos e apresentam ta-
manhos variados. 70% deles ocorrem na porção re-
tossigmoidea, 20% em sigmoide e 10% nas porções 
proximais do cólon. Inicialmente, são vistos micros-
copicamente em “criptas aberrantes”. Possuem 3 
tipos histológicos: tubular (glândulas tubulares), vi-
loso (projeções em dedo de luva) e túbulo-viloso. 
 
Intestino normal (esquerda) e adenoma de baixo grau (direita). 
Quadro clínico 
São geralmente assintomáticos, podendo causar 
anemia e sangramento oculto. Quando no intes-
tino delgado, podem causar intussuscepção ou 
obstrução. Grandes adenomas vilosos causam hi-
persecreção de muco rico em proteínas e potássio. 
Adenoma tubular 
É o tipo mais comum (75%), sendo que 90% deles 
localizam-se em cólon. Predomina no sexo mascu-
lino e em pessoas acima de 60 anos. Podem ser so-
litários, múltiplos, esporádicos ou hereditários. 
São lesões pequenas, menores que 1 cm, sésseis, 
que quando crescem tornam-se pediculadas. Mi-
croscopicamente, constituem-se de glândulas tu-
bulares displásicas ramificadas na lâmina própria. 
Macroscopicamente, os menores são lisos e os mai-
ores têm superfície lobulada e raramente ultrapas-
sam 2,5 cm, sendo que o tamanho superior a 1 cm 
indica alto grau de displasia 
11 
 
 
Adenoma viloso 
Representam 10% dos pólipos neoplásicos, sendo 
os de pior prognóstico, uma vez que o risco de 
transformação maligna aumenta em 10 vezes. 
Ocorrem nos 20 cm distais do intestino e, geral-
mente, manifestam-se na 6ª década de vida. 
Quase sempre é único e maior que o tubular (> 10 
cm). São sésseis ou pediculados. À microscopia, 
apresentam projeções digitiformes revestidas por 
epitélio displásico. 
 
 
 
Projeções digitiformes 
Adenoma túbulo-viloso 
Correspondem a 10-15% deles, possuindo tama-
nho intermediário, podendo ter pedículo e pos-
suindo aspecto misto entre tubular e viloso. 
 
Adenocarcinoma colorretal 
É o 4º mais frequente em homens e o 3º mais fre-
quente em mulheres. O pico de incidência é dos 60 
aos 79 anos, mas 20% dos casos ocorrem antes dos 
50 anos. Se ocorrer antes dessa faixa etária, sempre 
deve-se investigar histórico familiar de carcinoma 
hereditário sem polipose e síndrome de Lynch e do-
ença intestinal inflamatória crônica, em especial a 
colite ulcerativa, já que seu acometimento é exclu-
sivo de cólon. A maioria (70%) ocorre em cólon e 
sigmoide, seguidos de ceco e cólon descendente 
(22%) e cólons transverso e descendente (8%). 
 
Fatores de risco 
 Baixo consumo de fibras. 
 Alto teor de carboidratos refinados. 
 Elevado consumo de carne vermelha. 
 Diminuição de fatores protetores (vitami-
nas) contidos nos alimentos. 
12 
 
 Obesidade: aumenta exponencialmente o 
risco quando o peso está maior que 40% 
acima do ideal. 
 Sedentarismo. 
 Dieta rica em gorduras – aumento da ex-
creção de bile – colecistectomia. 
 Histórico familiar. 
Polipoides ou vegetantes 
Apresentação mais comum em cólon direito. Cres-
cem em direção à luz como massas fungoides ou 
“em couve-flor”. Fezes mais líquidas dificultam o di-
agnóstico precoce. 
Ulcero-infiltrativos 
Crescem em superfície e em profundidade, infil-
trando-se pela parente. São comumente esteno-
santes. Apresentam-se como lesão com úlcera ne-
crótica de bordas elevadas, duras e irregulares. 
Anular-constritivos 
São mais comuns em reto e sigmoide. A lesão se ini-
cia de modo superficial, mas se infiltra na mucosa. 
É estenosante, devido à neoformação de estruturas 
que acompanham a neoplasia (tumor em anel de 
guardanapo). Apresenta sintomas mais precoces. 
Infiltrativo difuso: muito raro. 
 
Manifestações clínicas 
Alteração do hábito intestinal. Diarreia na maioria 
dos tumores do cólon direito e constipação nos tu-
mores do cólon esquerdo. Evacuações com sangue 
(hematoquezia). Cólica abdominal. 
 
No câncer do reto as queixas maiores são afila-
mento das fezes, eliminação de muco serossangui-
nolento, dor para evacuar, tenesmo e sangramento 
retal. Há também perda de peso e astenia. Pode ha-
ver parada de eliminação de flatos e fezes, acom-
panhada de distensão abdominal e dor. 
Tríade de adenocarcinoma de cólon direito: ane-
mia, massa palpável na projeção anatômica dos 
cólons e diarreia. 
Hepatomegalia com aumento da consistência e ir-
regularidade de contorno sugere metástases hepá-
ticas. Nos casos de abdome agudo, sinais como 
descompressão abdominal brusca dolorosa e/ou 
timpanismo generalizado poderão ser indicativos 
de perfuração ou obstrução pelo tumor. 
Ao toque retal, nos casos de câncer do reto, pode-
se palpar massa endurecida, vegetante ou ulce-
rada, na grande maioria das situações. 
 
 
 
PÓLIPOS ADENOMA-VILO-
SOS 
PÓLIPO HIPER-
PLÁSICO E 
HAMARTOMA NÃO 
SÃO CONSIDERA-
DAS LESÕES PRÉ-
MALIGNAS! 
13 
 
PANCREATITES 
As pancreatites podem ser agudas ou crônicas. 
Existem ainda as hereditárias, que se incluem na di-
visão entre agudas e crônicas. 
Pancreatite aguda 
Acomete cerca de 1% da população geral e, no Bra-
sil, é causada principalmente pela doença biliar 
calculosa. Juntos, o álcool e a litíase biliar respon-
dem por 80% dos casos de pancreatite aguda. Ou-
tras causas importantes incluem obstrução dos 
ductos por hipercalcemia, hiperlipoproteinemia, 
traumatismos e fármacos. Cerca de 10% dos casos 
são idiopáticos. Atinge adultos de 30 a 60 anos de 
ambos os gêneros. 
As lesões podem se apresentar tanto na forma de 
lesões edematosas autolimitadas como em necro-
ses hemorrágicas. A gravidade do quadro é propor-
cional à extensão da lesão. Nas pancreatite necro-
hemorrágicas, a mortalidade varia de 10% a 100%, 
dependendo da presença de infecção do tecido ne-
crótico. 
Etiopatogênese 
As principais causas são a obstrução do ducto pan-
creático por cálculos biliares e a ingestão de álcool. 
Uma obstrução importante ainda é a por cálculos 
biliares na ampola de Vater. Em países subdesen-
volvidos, a ascaridíase é uma causa comum de 
pancreatite aguda em crianças. 
A obstrução leva a aumento da pressão intraductal, 
acarretando em extravasamento de enzimas e con-
sequentes lesões parenquimatosas e processo in-
flamatório. Ocorre um processo de autodigestão, 
sobre o qual a tripsina exerce papel central. 
Hipóxia, traumatismos, infecções e endo e exotoxi-
nas podem ativar proenzimas. O evento inicial, 
através de um mecanismo desconhecido, induz a 
fusão de vacúolos lisossomais com aqueles con-
tendo proenzimas pancreáticas inativas. Por sua 
vez, a catepsina B (enzima lisossomal) ativa o trip-
sinogênio em sua forma ativa, a tripsina. Segue-se 
a ruptura dos vacúolos acinares, liberando a trip-
sina ativada para o interstício. Uma vez ativada, a 
tripsina ativa as proenzimas de elastase, fosfoli-
pase e calicreína e ocasiona a ativação adicional de 
tripsina. Desse modo, há destruição vascular (cau-
sando hemorragia), esteatonecrose e edema (ação 
vasoativa das enzimas). 
 
Outras causas da pancreatite compreendem agres-
são celular direta por agentes infecciosos, isque-
mia, medicamentos, traumatismos e álcool. O ál-
cool estimula a secreção e provoca a contração do 
esfíncter de Oddi. Além disso, seus metabólitos 
causam a ativação da tripsina dentro da célula. 
Pancreatites associadas a outras substâncias cor-
respondem de 2 a 5% das pancreatites agudas. São 
substâncias capazes de produzi-la: azatioprina, 
mercaptopurina, DDI, ácido valproico, estrogênios, 
tiazídicos, furosemida, metronidazol, pentamidina, 
sulfamidas, tetraciclinas, veneno de escorpião e or-
ganofosforados. 
A pancreatite infecciosa (1 a 3%) é mais comum em 
crianças com o vírus da caxumba ou de Coxsackie. 
Pancreatitesagudas são mais comuns em pacien-
tes portadoras do HIV. 
Causas traumáticas incluem cirurgias, trauma-
tismo abdominal e pancreatite iatrogênica decor-
rente de colangiopancreatografia endoscópica, es-
pecialmente no caso de uma esfincterotomia en-
doscópica. 
Na pancreatite hereditária, há alteração do tripsi-
nogênio (PRSS1), tornando a tripsina imune à inati-
vação, e alteração do inibidor de protease 1 
(SPINK1), tornando-a imune à inibição. O quadro 
de pancreatite hereditária inicia-se na infância e 
evolui com episódios recorrentes. 
14 
 
Morfologia 
As lesões básicas incluem edema, esteatonecrose 
(lesão “em pingo de vela”), necrose parenquima-
tosa, destruição da parede vascular e hemorragia e 
infiltrado inflamatório. Macroscopicamente, o pân-
creas se apresenta intumescido esteatonecrose fo-
cal. Em casos graves, há esteatonecrose extensa 
com necrose de tecido pancreático e hemorragia. 
O pseudocisto pancreático é uma cavidade for-
mada por autodigestão cuja parede, formada por 
fibrose, contém infiltrado inflamatório mononu-
clear. Pode haver comunicação com o sistema duc-
tal ou não. Suas complicações incluem fistulização 
para o intestino ou colédoco, hemorragia, ruptura 
e infecção. 
A hemorragia pode comprometer a gordura me-
sentérica ou ficar restrita ao órgão. Pode-se formar 
hematoma peri-pancreático. A esteatonecrose 
pode se estender do retroperitônio até o tecido 
subcutâneo. 
 
 
À microscopia, observa-se o afastamento de lóbu-
los e ácidos por edema. Há um escasso infiltrado de 
polimorfonucleares e focos de esteatonecrose no 
tecido adiposo. 
 
Nos casos graves, as extensas esteatonecroses são 
acompanhadas de lesões necro-hemorrágicas, 
com destruição importante de lóbulos, ductos, gru-
pos de ácinos e infiltrado importante. Pode haver 
formação de abcessos, assim como a formação de 
trombos. 
 
 
15 
 
 
 
Manifestações clínicas 
Caracteriza-se por dor abdominal intensa de início 
súbito e persistente, que irradia para o dorso e é 
acompanhada de náuseas e vômitos, bem como 
febre baixa taquicardia. A hipotensão gerada pode 
chegar ao estado de choque por perda de líquidos 
para a cavidade abdominal, hemorragia e ação de 
substâncias vasoativas. 
Há hemorragia interna que pode planos de fáscias 
musculares e chegar ao subcutâneo, caracteri-
zando os sinais de Gray-Turner e de Cullen, depen-
dendo da localidade. A obstrução do colédoco por 
compressão pode causar icterícia. 
A amilase estará elevada nas primeiras 24h de de-
senvolvimento do quadro, enquanto a lipase estará 
aumentada nos 3º e 4º dias. Acontece hipocalemia 
devido à saponificação de ácidos graxos pelas en-
zimas. A tomografia evidencia pâncreas aumen-
tado e, em casos graves, pode sinalizar esteatone-
crose e necrose. A gravidade depende da extensão 
das lesões, desse modo, as pancreatites edemato-
sas tendem a se resolver, porém as necro-hemorrá-
gicas têm alta mortalidade. 
A síndrome da angústia respiratória do adulto, por 
dano alveolar difuso, e insuficiência renal aguda 
são as complicações mais comuns. Pode haver 
ainda hipotensão arterial, choque, abscesso pan-
creático, pseudocisto e obstrução duodenal e do 
colédoco. 
Pancreatite crônica 
É a inflamação persistente do pâncreas acompa-
nha de destruição do parênquima, fibrose e perda 
funcional, primeiramente exócrina e posterior-
mente endócrina. Pode ser classificada como dis-
creta, moderada ou grave. Evolui com quadro dolo-
roso e insuficiência pancreática e pode haver crises 
de pancreatite aguda. A hipotrofia acinar e a fibrose 
podem ser focais, segmentares ou difusas. 
Etiopatogênese 
A causa mais comum é a ingesta prolongada de ál-
cool (10 a 15 anos). Acomete mais homens na 4º dé-
cada de vida. Possui 0,04 a 0,5% de incidência na 
população geral. Pode ser hereditária ou mesmo 
estar associada a outras doenças, como o hiperpa-
ratireoidismo. É uma complicação possível da radi-
oterapia abdominal. Qualquer obstrução ductal 
pode causar pancreatite crônica segmentar distal à 
obstrução. 
A pancreatite crônica obstrutiva possui diversas 
causas, entre elas estenose pós-inflamatória ou 
pós-traumática, anomalias congênitas (ex.: pân-
creas divisum), cálculos, neoplasias, etc. A hipotro-
fia acinar e a fibrose são eventos de mecanismos 
ainda não muito esclarecidos. 
Na pancreatite crônica calcificante (alcoólica), o ál-
cool causa aumento de proteínas sem água e bicar-
bonato, formando tampões proteicos que levam à 
precipitação de cálcio. O álcool e seus metabólitos 
estão diretamente relacionados à inflamação 
aguda. 
HIPÓTESE NECROSE-FIBROSE: as células estrela-
das pancreáticas, no ito do pâncreas, estimuladas 
16 
 
pelo álcool e seus metabólitos produziriam colá-
geno. O estresse oxidativo gerado induziria a pro-
dução de citocinas inflamatórias, gerando fibrose. 
As formas novas de pancreatite são as pancreatites 
autoimunes (API) tipos I – sistêmica e II – isolada. 
Ambas respondem ao tratamento com corticoste-
roides. 
Morfologia 
É observado um aumento na consistência, com as-
pecto nodular grosseiro, análogo ao fígado cirró-
tico. O sistema ductal encontra-se dilatado, seja 
por estenose residual, fibrose periductal ou cálcu-
los. As calcificações parenquimatosas são raras. 
Pseudocistos por autodigestão formam-se em cri-
ses de pancreatite aguda ou por obstrução ductal, 
aumento de pressão e ruptura do ducto. Na pan-
creatite crônica, são mais centrais do que na 
aguda. A preservação do epitélio ductal forma cis-
tos de retenção, que possuem as mesmas compli-
cações do pseudocisto na pancreatite aguda. 
MICROSCOPIA GERAL: observam-se lesões com dis-
tribuição lobular e pode haver presença de cálculos 
dos ductos (PCC). Na AIP, evidenciam-se infiltrados 
mononucleares ricos em plasmócitos produtores 
de IgG com inflamação em ductos e paredes veno-
sas (venulite), além de fibrose acentuada. Simula 
clinicamente adenocarcinoma de pâncreas. 
MICROSCOPIA INICIAL: a hipotrofia acinar iniciar ex-
pressa-se pela diminuição de grânulos de zimogê-
nio das células acinares e dilatação da luz dos áci-
nos (mantém arquitetura lobular). A dilatação ini-
cial dos ductos intra e interlobulares e “dúctulos” 
tem material proteináceo eosinofílico em seu inte-
rior. As ilhotas estão preservadas e envolvidas por 
tecido conjuntivo. A fibrose é inicial, localizada in-
tra e perilobular. 
MICROSCOPIA TARDIA: há hipotrofia acinar final, na 
forma de substituição dos ácinos por fibrose e apa-
recimento de vestígios de ductos menores. Os duc-
tos principais têm seu epitélio hipotrófico, hiper-
plásico ou metaplásico (escamoso) tardiamente. 
Evidenciam-se somente ductos e ilhotas de Lange-
rhans. A fibrose é tardia, alastrando-se e substi-
tuindo os ácinos, e contém infiltrado inflamatório 
mononuclear geralmente discreto. As ilhotas de 
Langerhans estão hipotrofiadas. 
 
 
 
 
17 
 
Manifestações clínicas 
Apresenta dor abdominal semelhante à versão 
aguda, porém de menor intensidade. Também há 
emagrecimento, sinais de insuficiência hepática, 
febre baixa e amilase sérica. Dificilmente a pancre-
atite crônica é uma doença silenciosa, havendo ic-
terícia em até 20% dos casos, devido ao estreita-
mento fibroso do colédoco e à compressão por 
pseudocistos. 
Ocorre esteatorreia, visto que acontece destruição 
do componente exócrino primeiro. Pode haver 
também manifestações de DM. A hipotrofia e as cal-
cificações são vistas em exames de imagem. Os 
pseudocistos estão presentes em 10% dos casos. 
NEOPLASIAS 
Podem se originar de células ductais dos grandes 
dos grandes ductos e ductulares/centroacinares, 
células acinares (exócrino) e células endócrinas 
(endócrino). Os tumores de pâncreas são divididos 
em benignos, malignos e de potencial maligno in-
certo. 
Os tumores benignos são raros e geralmente são 
um achado casual. A identificação se faz por ima-gens, onde se mostram geralmente pequenos. Sin-
tomatologia é raro. O mais frequente é o cisto ade-
noma e os diagnósticos diferenciais são cistos pri-
mário e processo inflamatório ou traumático (pseu-
docistos). 
 
Adenocarcinoma ductal 
Origina-se do epitélio cuboide dos grandes ductos, 
sendo o mais frequente do pâncreas (95%). Possui 
maior incidência no sexo masculino, numa propor-
ção de 2:1, negros, pessoas na faixa dos 60 a 80 
anos e em países desenvolvidos. É raro abaixo dos 
40 anos. Os fatores de risco para seu desenvolvi-
mento incluem tabagismo e dieta rica em gordura 
e pobre em fibras. O DM é um indicativo. 
 
 
Possuem graduação em bem diferenciados, mode-
radamente diferenciados ou pouco diferenciados. 
A maioria forma estruturas ductais e glandulares 
revestidas por epitélio colunar ou cuboide. Pode 
apresentar atipia discreta ou moderada. 
Observa-se um padrão infiltrativo evidente e o es-
troma fibroso costuma se abundante, o que lhe 
confere consistência firme. Há tendência à infiltra-
ção perineural, com possível extensão para retro-
peritônio. Produzem mucinas ácidas e neutras, que 
são positivas nas colorações azul alciano e PAS. 
 
18 
 
A cabeça do pâncreas é sua principal sede (70-
90%), onde causa quadro de icterícia obstrutiva por 
obstrução do ducto biliar comum. Pode ainda geral 
pancreatite crônica obstrutiva devido à retenção 
de substância e dilatação geradas pela obstrução 
do ducto pancreático principal. 
Quando em cauda, pode invadir baço, suprarrenal 
esquerda e estômago. São geralmente maiores, até 
mesmo pelo diagnóstico ser mais tardio. 
Manifestações clínicas 
Costumam ser tardias, incluindo dor abdominal, 
perda de peso, icterícia obstrutiva e sinais de pan-
creatite. História de DM de início recente está pre-
sentem 70% dos casos. As metástases linfonodais 
são comuns, em gânglios paripancreáticos e perifé-
ricos. Também fazem metástase hematogênica 
para fígado, pulmões, suprarrenais, rins, osso, cére-
bro e pele. 
Diagnóstico, prognóstico e tratamento 
O diagnóstico é feito por ultrassom e tomografia 
computadorizada. Preconiza-se a realização de bi-
ópsia se possível. Faz-se a pesquisa de marcadores 
tumorais séricos (CA 19.9). 
O prognóstico é ruim, com sobrevida de 5 anos em 
menos de 5% dos casos. O tratamento inclui cirur-
gia, quimioterapia e radioterapia. 
Tumores císticos mucinosos 
Representa 2 a 5% das neoplasias de pâncreas exó-
crino. Incide sobretudo em mulheres, a partir dos 
40 anos. Apresenta atipia, podendo ser adenoma, 
incerto (borderline) ou carcinoma. A clínica é de dor 
abdominal e o prognóstico depende do grau de 
displasia e de invasão do parênquima adjacente. 
Geram elevação de marcadores tumorais séricos 
(CA19.9 e CEA). Formam cistos revestidos por epité-
lio colunar produtor de mucina, com diferenciação 
intestinal ou em estroma de tipo ovariano. À ma-
croscopia, são tumores pseudoencapsulados, uni 
ou multiloculares, que geralmente não comunicam 
com o sistema ductal normal do pâncreas adja-
cente. 
 
Cistoadenoma mucinoso: lesão formada por epitélio colunar 
sem atipia, estroma tipo ovariano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
É incomum a observação da hepatite aguda por ví-
rus na prática diária de Anatomia Patológica. Habi-
tualmente, a doença é diagnosticada por dados clí-
nicos e laboratoriais e regride espontaneamente ou 
evolui para cronicidade. O paciente não é subme-
tido a biópsia hepática. 
HEPATITE VIRAL AGUDA 
 
Houve necrose extensa dos hepatócitos: extensas 
áreas de necrose hepatocitária. Células mais escu-
ras são as saudáveis. 
Perda do padrão lobular: agrupamentos de hepa-
tócitos (pseudolóbulos) separados por tecido con-
juntivo com infiltrado inflamatório crônico inespe-
cífico periductal, não tão intenso, e ductos biliares 
proliferados. 
O tecido conjuntivo deriva em grande parte de co-
lapso do arcabouço reticulínico dos lóbulos hepá-
ticos após necrose (ou apoptose) dos hepatócitos. 
Há também marcada colestase intra e extra-hepa-
tocítica. 
 
 
Muitos hepatócitos (reativos) na hepatite aguda 
mostram citoplasma abundante (balonizadas) e 
claro por entrada de água, com dispersão das orga-
nelas. Os grânulos pardacentos no citoplasma são 
de pigmento biliar (bilirrubina). A entrada de água 
se deve a distúrbios metabólicos da célula, especi-
almente da bomba de sódio da membrana plasmá-
tica, por efeito direto do vírus ou de ataque de célu-
las imunes. Presumivelmente são células grave-
mente lesadas e destinadas a morrer. 
 
Uma das consequências da hepatite aguda é o acú-
mulo de bilirrubina dentro e fora dos hepatócitos 
(colestase intra e extra-hepatocítica), bem como 
sua passagem para a circulação sanguínea, 
dando icterícia. A célula não é capaz de excretar a 
bilirrubina que conjuga, acumulando-a no cito-
plasma. 
20 
 
A retenção nos canalículos e ductos biliares é expli-
cada em parte por tumefação dos hepatócitos e 
edema intersticial. Explicação: obstrução dos cana-
lículos pela tumefação dos hepatócitos, que os 
comprimem, fazendo com que haja colestase (bilir-
rubina “não flui”). A necrose de hepatócitos deses-
trutura os canalículos biliares, que não têm parede 
própria, sendo constituídos por segmentos especi-
alizados da membrana externa dos próprios hepa-
tócitos. A perda de hepatócitos leva ao extravasa-
mento da bile para o interstício e daí para o sangue. 
No sangue, predomina a bilirrubina conjugada. 
 
Hepatócitos normais raramente se dividem, mas 
conservam esta capacidade por toda vida. Após 
uma agressão, como numa hepatite viral, observa-
se intensa atividade regenerativa, com mitoses e 
células bi- ou trinucleadas. Os núcleos são volumo-
sos, com nucléolos evidentes, indicando elevada 
síntese proteica. Há também marcada proliferação 
dos ductos biliares, pois as células em regeneração 
podem se diferenciar tanto em hepatócitos quanto 
em células ductais. 
 
Mitose não atípica, só ilustra intensa atividade regenerativa. 
HEPATITE AGUDA FULMINANTE 
Só pela morfologia não é possível determinar a eti-
ologia. Na maioria dos casos (50 a 65%) a causa 
é viral (vírus A, B, C, D, E ou F). O vírus F, de descri-
ção muito rara, tem forte associação com a forma 
fulminante da hepatite aguda. Vem em segundo lu-
gar a necrose hepática por drogas (25 a 30%), 
agindo diretamente como hepatotoxinas ou como 
haptenos, induzindo lesão dos hepatócitos pelo 
sistema imune. 
O quadro clínico seria de anorexia, náuseas e vômi-
tos, e icterícia. Haveria intensa elevação das transa-
minases e fosfatase alcalina no plasma. Geral-
mente em pacientes jovens. DD em paciente idoso: 
tumor de cabeça de pâncreas ou adenocarcinoma 
de colédoco. A evolução seria rápida (poucos dias) 
para insuficiência hepática e óbito. 
A destruição maciça de hepatócitos leva à perda da 
arquitetura lobular do fígado. Praticamente não há 
hepatócitos remanescentes, ficando os sinusoides 
dilatados por sangue. Alguns ductos estão presen-
tes e, em parte, representam atividade regenera-
tiva. 
 
Pigmento escuro é um artefato da fixação por formol (pigmento 
de formol). 
HEPATITE CRÔNICA: EVOLUÇÃO PARA CIRROSE 
Os vírus B e C da hepatite, além de causar hepatite 
aguda, podem persistir indefinidamente nos hepa-
tócitos causando hepatite crônica. Seu estágio ini-
cial possui aspecto muito inespecífico. 
21 
 
A lesão hepatocelular é produzida em parte por lin-
fócitos T citotóxicos (processo inflamatório crô-
nico), que reconhecem proteínas virais na mem-
brana externa dos hepatócitos infectados. 
A inflamação é multifocal e produz septos fibrosos 
ligando um espaço portal a outro (septos porta-
porta) ou um espaço portal a uma veia centrolobu-
lar (septos porta-centro). O processo (fibrose e in-
flamação constantes) vai desorganizando a arqui-
tetura lobular do fígado e, apósmeses a anos, re-
sulta em cirrose. 
Cirrose - Macroscopia 
Em linhas gerais (NÃO É REGRA), a cirrose macrono-
dular sugere etiologia pós-necrótica (hepatite crô-
nica B ou C) e a micronodular é mais própria da eti-
ologia alcoólica. A cirrose biliar é ainda mais fina 
Contudo é preciso salientar que, a rigor, não é pos-
sível definir a causa da cirrose pelo aspecto ma-
croscópico do fígado e que, em cerca de 15% das 
cirroses, a etiologia permanece desconhecida (cir-
rose criptogênica). 
 
Fígado cirrótico: micro ou macronodular, superfície irregular. 
Cirrose - Microscopia 
Microscopicamente, é difícil definir o agente em 
muitos casos. O vírus B pode produzir o aspecto 
“em vidro fosco” (hepatócitos balonizados com ci-
toplasma bem claro). No vírus C, é descrita maior 
 
1 Algumas reações a droga podem originar alterações 
semelhantes ao aspecto em vidro fosco da hepatite B. 
associação com agregados linfoides (“bolotas”) no 
espaço portal e com esteatose dos hepatócitos. 
Hepatite crônica pelo vírus B 
Neste caso de hepatite crônica, a etiologia pelo vi-
rus B pode ser diagnosticada pelos hepatócitos em 
vidro fosco. Há evolução para cirrose, na qual se en-
contram pseudolóbulos separados por septos fi-
brosos com infiltrado inflamatório crônico inespe-
cífico. Septos finos avançam a partir dos maiores e 
penetram nos pseudolóbulos. 
 
Os chamados hepatócitos 'em vidro fosco' são ca-
racterísticos, embora não patognomônicos1, da he-
patite crônica pelo vírus B. Vários hepatócitos mos-
tram no citoplasma uma área homogênea rósea, 
geralmente com halo claro na periferia, que é cons-
tituída por acúmulo do antígeno de superfície do 
vírus (HBsAg). O restante do citoplasma tem as-
pecto granuloso, constituído pelas organelas, 
como mitocôndrias e retículo endoplasmático. 
O virus tem a capacidade de estimular a síntese de 
abundantes quantidades desta proteína, parte da 
qual é secretada no plasma, e parte fica retida na 
célula. Exceto pela inclusão citoplasmática, o as-
pecto morfológico das células parasitadas é nor-
mal. 
22 
 
 
 
Característica de hepatite crônica 
Chama-se placa limitante a interface entre o pseu-
dolóbulo e o tecido fibroso circunjacente. Na hepa-
tite crônica, é característica a agressão à placa limi-
tante por infiltrado inflamatório proveniente dos 
septos. Células inflamatórias penetram entre os he-
patócitos da periferia, alguns dos quais sofrem ne-
crose. O aspecto é também conhecido como ne-
crose em saca bocado (piecemeal necrosis). 
 
 
ESTEATO-HEPATITE ALCOÓLICA 
A esteato-hepatite é uma das manifestações do al-
coolismo crônico e, geralmente, ocorre após um 
episódio de ingesta excessiva de álcool. O 
termo hepatite alcoólica é empregado em parte 
por motivos clínicos, pois o quadro lembra uma he-
patite viral, com icterícia, mas também porque cos-
tuma haver reação inflamatória no parênquima he-
pático. 
O mecanismo seria a toxicidade aguda do etanol, 
que lesa diretamente as células hepáticas, provo-
cando a alteração balonizante e a alteração hialina 
de Mallory. A morte de hepatócitos induz reação in-
flamatória focal com neutrófilos. Surtos repetidos 
de hepatite alcoólica terminam por evoluir à cir-
rose em cerca de um terço dos casos. 
 
23 
 
Há esteatose difusa, fibrose e infiltrado inflamató-
rio nos espaços portais. Notam-se também delica-
dos septos fibrosos separando lóbulos e indicando 
progressão para cirrose. Há proeminentes corpús-
culos hialinos de Mallory no citoplasma de muitos 
hepatócitos, característicos, mas não patognomô-
nicos, da hepatite alcoólica. 
Alteração hialina de Mallory: material grumoso 
avermelhado no citoplasma de hepatócitos, geral-
mente visualizável em hepatócitos balonizados, 
e/ou em meio aos vacúolos lipídicos. Resulta da 
condensação de filamentos do citoesqueleto por 
ação tóxica do álcool. A alteração hialina de Mallory 
geralmente é acompanhada de necrose de hepató-
citos, que atrai neutrófilos. 
 
Outra diferença com as hepatites crônicas: ausên-
cia de placa limitante com necrose em saca bo-
cado. 
CIRROSE BILIAR 
Gera desarranjo parcial da arquitetura do parên-
quima hepático, com formação de septos fibrosos 
(sem nodulações tão perfeitas como na hepatite 
crônica) e alargamento dos espaços portais, que 
mostram intensa proliferação ductal, característica 
da etiologia biliar da cirrose. 
Há abundante pigmento biliar (bilirrubina) no cito-
plasma de hepatócitos, na forma de pequenos grâ-
nulos pardacentos, e no citoplasma de células de 
Kupffer que margeiam os sinusoides. Observam-se 
também cilindros de cor pardacenta (bile) nos ca-
nalículos biliares, situados entre os hepatócitos. 
 
 
 
24 
 
 
 
O colédoco está parcialmente aberto e mostra-se 
dilatado por cálculos biliares. Estes provavelmente 
se formaram na vesícula e impactaram-se no colé-
doco, obstruindo o fluxo biliar e levando à retenção 
de bile no fígado (colestase). 
 A peça fresca tinha cor fortemente esverdeada, 
que já não é mais visível porque a bilirrubina, sendo 
hidrossolúvel, perdeu-se para o líquido conserva-
dor. A bilirrubina é tóxica para os hepatócitos e, a 
longo prazo, leva à cirrose biliar. Notar que os nó-
dulos regenerativos na cirrose biliar são pequenos 
e pouco salientes em relação a outros tipos de cir-
rose. 
ESQUISTOSSOMOSE HEPÁTICA 
A esquistossomose hepática não desorganiza a ar-
quitetura lobular do fígado como a cirrose. 
Os vermes adultos vivem nos ramos intra-hepáti-
cos da veia porta, onde causam reação inflamató-
ria crônica. Com o tempo, esta progride a intensa 
fibrose periportal (NÃO SÃO SEPTOS), em que uma 
camada de tecido fibroso circunda as veias. 
O aspecto foi chamado de fibrose em haste de ca-
chimbo de barro branco (clay pipe-stem cirrho-
sis ou fibrose de Symmers) devido à sua espessura 
e à cor esbranquiçada. Há a presença de vermes (vi-
vos ou mortos) e de ovos retarda o fluxo portal, cau-
sando hipertensão portal. 
 
 
 Os espaços em volta dos ramos maiores da veia 
porta estão grandemente espessados por tecido fi-
broso e há intensa proliferação vascular angioma-
toide, resultante da hipertensão portal crônica. En-
tre os vasos, há moderado infiltrado inflamatório 
crônico e observam-se gigantócitos (células gigan-
25 
 
tes de corpo estranho) contendo ovos de Schisto-
soma mansoni (na maior parte, fragmentos de cas-
cas). Por vezes, os ovos são observados também li-
vres no tecido fibroso e podem estar calcificados 
(cor azul quase negra). 
A fibrose periportal é responsável pelo aspecto ma-
croscópico 'em haste de cachimbo de barro bran-
co' (clay pipe-stem cirrhosis ou fibrose hepática de 
Symmers). 
 
 
Na fibrose esquistossomótica, ao contrário da cir-
rose hepática, a fibrose concentra-se em volta dos 
ramos intra-hepáticos mais calibrosos da veia 
porta e o parênquima mantém a estrutura lobular 
mais ou menos intacta. Não há septos fibrosos for-
mando pseudolóbulos. 
 
Nos casos com infestação maciça, as células de Ku-
pffer se destacam já em médio aumento pela pig-
mentação negra do citoplasma. O chamado pig-
mento esquistossomótico é derivado da hemoglo-
bina das hemácias ingeridas pelos vermes. A diges-
tão da hemoglobina libera hematina ou meta-
heme livre, que é o heme separado da globina. O 
Fe2+ oxida-se a Fe3+. 
O pigmento negro é fagocitado pelas células de Ku-
pffer, mas isso não tem repercussão clínica. (O pig-
mento malárico tem a mesma natureza e aspecto). 
 
 
26 
 
HEPATOCARCINOMA 
Tumor bem delimitado e bem diferenciado, origi-
nado em fígado cirrótico. Prognóstico pós ressec-
ção é bom. 
A cirrose é um importante fator de risco para o he-
patocarcinoma devido à contínua necrose e rege-
neração de hepatócitos. 
Infecção crônica pelo virus B da hepatite aumenta 
muito a incidência do tumor porque esteDNA virus 
tem capacidade de incorporar seu genoma ao da 
célula hepática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
ESÔFAGO DE BARRET 
É uma complicação de doença do refluxo gastroes-
ofágico (DRGE) crônica caracterizada por metapla-
sia intestinal dentro da mucosa escamosa esofá-
gica. Sua incidência está aumentando, com ocor-
rência cerca de 10% das pessoas com DRGE sinto-
mática. Atinge sobretudo homens na faixa dos 40-
60 anos. 
A maior preocupação com o esôfago de Barret é o 
risco aumentado de adenocarcinoma de esôfago, 
sendo possivelmente uma lesão pré-maligna. 
Acordo com isso, a displasia epitelial, considerada 
uma lesão pré-invasiva, desenvolve-se em 0,2-1,0% 
das pessoas com esôfago de Barrett a cada ano. 
Embora a grande maioria dos adenocarcinomas 
esofágicos esteja associada a esôfago de Barrett, 
deve-se notar que a maioria das pessoas com esô-
fago de Barrett não desenvolve câncer de esôfago. 
Morfologia 
O esôfago de Barrett é reconhecido por via endos-
cópica como línguas ou placas de mucosa verme-
lha aveludada que se estendem para cima a partir 
da junção gastroesofágica. Essa mucosa metaplá-
sica alterna com mucosa lisa residual, escamosa, 
pálida (esofágica) proximalmente e faz interface 
com mucosa colunar marrom-claro (gástrica) dis-
talmente. 
 
A: junção GE normal. B: esôfago de Barret. 
A maioria dos autores exige tanto evidências en-
doscópicas de anormalidade da mucosa acima da 
junção gastroesofágica como metaplasia gástrica 
ou intestinal histologicamente documentada para 
diagnóstico de esôfago de Barrett. 
Células caliciformes, que têm vacúolos de muco 
distintos que coram em azul-pálido por H&E e par-
tilham a forma de um cálice de vinho com o res-
tante do citoplasma, definem metaplasia intestinal 
e são uma característica do esôfago de Barrett. A 
displasia é classificada como de baixo ou alto grau, 
com base em critérios morfológicos. O carcinoma 
intramucosa é caracterizado pela invasão de célu-
las epiteliais neoplásicas na lâmina própria. 
 
Aparência histológica da junção gastroesofágica no esôfago de 
Barrett. Note a transição entre mucosa escamosa do esôfago 
(esquerda) e mucosa metaplásica, que contém células calicifor-
mes (direita). 
Manifestações clínicas 
O diagnóstico do esôfago de Barrett requer endos-
copia e biópsia, geralmente motivadas por sinto-
mas de DRGE. As opções de tratamento incluem a 
ressecção cirúrgica (esofagectomia) e as modalida-
des mais recentes, como terapia fotodinâmica, 
ablação por laser e mucosectomia endoscópica. A 
displasia multifocal de alto grau, que carrega um 
risco significativo de progressão para carcinoma in-
tramucosa ou invasivo, pode ser tratada de ma-
neira semelhante ao carcinoma intramucosa.

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