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Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR PREMATURIDADE E CRESCIMENTO FETAL RESTRITIVO INTRODUÇÃO A maioria das estatísticas de sobrevida mostra uma redução global na mortalidade perinatal e neonatal e um aumento da sobrevida de recém-nascidos de muito e extremo baixo peso ao nascer. A morbidade, apesar de não acompanhar o avanço da sobrevida, mostra dados promissores, com declínio significativo, em recém-nascidos de peso ao nascer acima de 750 g. No Brasil, não existe informação qualificada na maioria dos serviços perinatais e a utilização da tecnologia perinatal disponível, incluindo as de baixo custo, é heterogênea e não-racional. O número de mortes por prematuridade, asfixia e infecção é muito acima do esperado e, em grande parte, relacionado às causas sensíveis à atenção de qualidade no pré-natal e no nascimento. As seguintes estratégias perinatais têm demonstrado efetividade na prevenção e abordagem do parto prematuro e da desnutrição fetal: Planejamento familiar; Estruturação da rede de assistência perinatal, garantindo acesso oportuno aos serviços qualificados de pré-natal, assistência ao parto e período neonatal e continuidade do cuidado ambulatorial à mãe e ao recém-nascido após a alta hospitalar; Qualificação dos registros oficiais de nascimento, declaração de nascido vivo (DN) e óbito (DO) que alimentam os Sistemas de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) e mortalidade (SIM) para monitoramento epidemiológico da saúde perinatal; Uso de corticosteróide antenatal para a maturação fetal (pulmonar); Controle térmico do microambiente do recém-nascido (incubadoras umidificadas para recém-nascidos prematuros); TERMINOLOGIA APLICÁVEL AO PERÍODO PERINATAL Critérios de notificação: Segundo o Conselho Federal de Medicina, no Brasil, todos os fetos pesando pelo menos 500 g ou com 20 a 22 semanas de gestação ou 25 cm de comprimento devem ser considerados nascimentos e, portanto, registrados e notificados. Nascido vivo: é a expulsão completa ou extração, do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez, de um produto de concepção que, depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida, tal como batimentos cardíacos, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não cortado o cordão umbilical, e estando ou não desprendida a placenta. Óbito fetal: é a morte de um produto da concepção, antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez. Peso ao nascer: é a primeira medida de peso do feto ou recém-nascido obtido preferencialmente durante a primeira hora pós-nascimento, antes que ocorra significativa perda de peso pós-natal. Idade gestacional: é a duração da gestação, calculada a partir do primeiro dia do último período menstrual. É definida em dias ou em semanas completas. Período neonatal: corresponde aos primeiros 28 dias de vida pós-natal. Na prática, porém, o cuidado neonatal é estendido por muitos meses para RN doentes ou muito prematuros (do nascimento até 6 dias, 23 horas e 9 minutos). Período neonatal precoce: corresponde aos primeiros 7 dias de vida. Período neonatal tardio: compreende o período de 7 a 27 dias de vida. DEFINIÇÃO A terminologia recém-nascido (RN) pré-termo, antes denominado prematuro, é utilizada para todo RN com menos de 37 semanas de idade gestacional ao nascer e não leva em consideração o peso de nascimento. Em virtude de diferenças marcantes, encontradas no que diz respeito às manifestações clínicas e ao desfecho prognóstico após o nascimento (morbimortalidade), dois grupos de RN pré-termo apresentam denominação específica: pré-termo tardios, aqueles com idade gestacional entre 34 semanas e 36 semanas e 6 dias; pré-termo extremos, com idade gestacional menor do que 28 semanas. O crescimento fetal restrito, refere-se especificamente aos RN que não atingiram intraútero todo o seu potencial de crescimento. Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR CLASSIFICAÇÃO RN PRÉ-TERMO Podem ser classificados de acordo com o peso ao nascer: baixo peso quando o peso < 2.500 g; muito baixo peso ao nascer peso < 1.500 g; extremo baixo peso para peso < 1.000 g. Já na relação de peso ao nascer X idade gestacional, classifica-se em: adequados para a idade gestacional (AIG), quando o peso se encontra entre os percentis 10 e 90 das curvas de crescimento intrauterino; pequenos para a idade gestacional (PIG), quando o peso está abaixo do percentil 10 para a referida idade gestacional; grandes para a idade gestacional (GIG), quando o peso está acima do percentil 90 para a idade gestacional em questão. RN COM CRESCIMENTO FETAL RESTRITO O termo crescimento fetal restritivo diz respeito a uma redução ocorrida para um crescimento esperado para a idade gestacional em questão. Já as crianças pequenas para a idade gestacional (PIG), são aquelas cujo peso está abaixo do percentil 10 da curva de crescimento intrauterino para uma referida população, podendo incluir parte dessa população (10%), cujo crescimento foi adequado no transcorrer da gravidez. Somente o peso ao nascer é insuficiente para se analisar uma situação de crescimento fetal restrito. Dessa forma, o índice ponderal de Rohrer (peso em g dividido pelo cubo do comprimento em cm) ou outras razões de proporção, como perímetro cefálico para o peso ou comprimento, podem ser utilizados para o melhor diagnóstico de uma inadequação do crescimento intraútero. EPIDEMIOLOGIA O Sistema de Informação Sobre Nascidos Vivos (SINASC) tem possibilitado traçar o perfil dos nascimentos no Brasil. De acordo com o SINASC, para os anos de 2000 e 2010, o percentual de prematuros no Brasil variou entre 6 e 7%. No entanto, artigos baseados em dados primários considerados como de alta confiabilidade puseram em cheque essas estimativas, sugerindo serem subestimadas. Os dados corrigidos mostraram percentuais variando entre 10 e 12% de nascimentos pré-termo para o mesmo período. Já a partir de 2011, com as mudanças na forma de transcrição dos dados para a DNV, com a idade gestacional agora preenchida por variáveis discretas e não intervalares, as estimativas do SINASC se aproximaram muito das corrigidas. Vários fatores têm sido associados ao nascimento de RN pré-termo e com crescimento fetal restrito, entre eles, destacam-se: baixa condição socioeconômica; ausência de pré-natal; gestante menor de 16 anos; uso de drogas lícitas e ilícitas; infecções perinatais; doenças maternas não infecciosas (agudas e crônicas); intervalo intergestacional curto, multiparidade e gestação múltipla. ALGUNS ASPECTOS OBSERVADOS NOS RN PRÉ-TERMO E NAQUELES COM CRESCIMENTO FETAL RESTRITO QUE NECESSITAM DE CUIDADOS ESPECIAIS REGULAÇÃO TÉRMICA O RN, assim como o adulto, tem possibilidade de controlar a sua temperatura corporal, sendo, portanto, um ser homeotérmico. No entanto, os RN, notadamente os pré-termo e os com crescimento fetal restrito, apresentam maiores dificuldades nesse controle. Entre os fatores envolvidos, encontram-se: relação menor entre a massa e a superfície corporal, aumentando a sua perda de calor; menor quantidade de gordura marrom, a grande responsável por geração de calor no RN; maior permeabilidade epidérmica; manuseio excessivo a que muitas vezes estão submetidos, favorecendo maior perda de água corporal e temperatura. Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR Quanto menor a idade gestacional e maior a restrição do crescimento, maiores as chances de perda do controle térmico, tornando o RN mais suscetível àsvariações da temperatura ambiente. O conceito de ambiente térmico neutro diz respeito à temperatura ambiente em cada RN. Em virtude dos riscos ocorridos com a medição da temperatura retal em neonatos, a medição axilar é a mais recomendada e a faixa normal, independentemente do peso ou da idade gestacional, devendo ficar entre 36,5 e 37,5°C. Os pré-termo cuidados em incubadoras pode ter a sua temperatura medida de forma contínua por sensores cutâneos colocados no abdome superior, sobre a topografia do fígado. HOMEOSTASE METABÓLICA GLICOSE A glicose é o principal substrato para o cérebro fetal, do RN e do adulto em condições fisiológicas normais. As concentrações de glicose plasmática do feto encontram-se em relação linear com a concentração plasmática materna. Com o clampeamento do cordão umbilical, cessa esse fornecimento. Os RN a termo e muitos prematuros normais conseguem manter inicialmente um nível glicêmico de normalidade a partir da quebra de suas reservas de glicogênio, produzindo um suprimento contínuo de glicose na ordem de 4 a 6 mg/kg/min. No entanto, os RN prematuros, notadamente os de baixo peso ao nascer, por causa de várias condições adversas (menor reserva de glicogênio, maior propensão a asfixia, distúrbios respiratórios, infecções), e naqueles com retardo de crescimento também a policitemia, há acentuada chance de desenvolverem hipoglicemia. Acorda-se que valores < 47 mg/dL, tanto para RN a termo quanto pré-termo, devam ser considerados como baixos, principalmente ao se levar em consideração que, acima desse patamar, tem-se mais certeza de não ocorrer dano cerebral por deficiência de aporte de glicose à célula nervosa. Em face de nem sempre a hipoglicemia se manifestar com sinais clínicos (tremores, letargia) e principalmente porque em muitos casos a presença de alguns desses sinais (convulsão, apneia) estarem já associados ao maior risco de dano cerebral, a aferição rotineira dos níveis glicêmicos por meio das fitas reagentes de glicose deve ser feita de forma sistemática nos RN de risco já a partir das primeiras horas de vida. Medidas para a prevenção da hipoglicemia são feitas com a introdução precoce do leite materno e/ou leite humano pasteurizado de banco. Para as situações em que essa quantidade não for suficiente para suprir as necessidades e/ou na impossibilidade da alimentação por via digestiva, deve ser feita a instalação de nutrição parenteral precoce com glicose, variando sua taxa de infusão inicial entre 4 e 5,5 mg/kg/min, adicionada de aminoácidos e eletrólitos. CÁLCIO É um íon importante na homeostase metabólica, atuando em vários processos do metabolismo e da estabilidade da membrana celular, na contração muscular e na condução do potencial de ação entre feixes nervosos. Hormônios como o paratormônio, a calcitonina, a vitamina D e o íon magnésio têm relação direta no controle da sua homeostase. O cálcio é transferido da mãe para o feto por transporte ativo, principalmente durante o terceiro trimestre da gestação. Considera-se hipocalcemia quando o nível de cálcio sérico total está abaixo de 8 mg/dL (2 mmol/L) ou o de cálcio ionizável, abaixo de 4,4 mg/dL. Entre os fatores responsáveis pela hipocalcemia neonatal nos RN pré-termo e com crescimento fetal restrito, destacam-se a interrupção precoce do fornecimento de cálcio pelo cordão umbilical, a asfixia neonatal e a hipercalcitoninemia. MAGNÉSIO O magnésio atravessa livremente a barreira placentária e acumula-se no feto principalmente no primeiro trimestre da gestação, e 60% do magnésio corporal encontra-se depositado no tecido ósseo. O transporte ativo transplacentário do magnésio é Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR diferente do cálcio, que precisa manter níveis fetais maiores que o materno. Considera-se hipomagnesemia valores séricos < 1,6 mg/dL. Como a hipomagnesemia reduz a secreção e a ação do paratormônio, os quadros de hipomagnesemia são frequentemente acompanhados por hipocalcemia. FÓSFORO O fósforo fica predominantemente nos tecidos moles, na forma de ésteres de fosfato, e no fluido extracelular, na forma de íons inorgânicos de fosfato. Suas funções metabólicas apresentam influência marcante no metabolismo energético, na composição das membranas celulares, na estrutura dos nucleotídeos e na mineralização óssea. DOENÇA METABÓLICA ÓSSEA RN prematuros têm risco aumentado para desenvolverem doença óssea secundária ao reduzido conteúdo mineral, também denominado de raquitismo da prematuridade. A incidência é inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso ao nascer, podendo ser estimada em 50% para RN com peso < 1000 g ao nascer e de 30% para os menores de 1.500g. ÁGUA CORPORAL E SÓDIO No período fetal, praticamente 90% do peso corporal é constituído por água e esse valor decresce para 80% nos prematuros e aproximadamente 75% nos RN a termo. No RN pré-termo, há uma perda considerável de água por via transepidérmica, sendo maior quanto menores forem o peso e a idade gestacional. Isso se deve tanto à imaturidade da pele (pobreza de estrato córneo com queratinização insuficiente) quanto à grande superfície em relação à massa corpórea nessas crianças. Um ambiente térmico neutro e com alta umidificação (60 a 90%) pode reduzir muito essa perda, notadamente nos RN menores de 1000 g de peso ao nascer. Outra medida interessante é o envolvimento desses bebês com plástico, que favorece a manutenção da temperatura e diminui a perda hídrica. Quanto mais se conseguir reduzir a perda de água transepidérmica, também se estará reduzindo a desidratação, a hipernatremia e a hiperglicemia. O sódio é excretado através de filtração glomerular e reabsorvido no túbulo proximal, no ramo ascendente da alça de Henle e no túbulo distal. O RN pré-termo apresenta natriurese elevada, decorrente da menor reabsorção tubular de sódio, quando comparado com RN a termo. O balanço de sódio no RN de muito baixo peso deve ser levemente positivo para promover, entre outros fatores, melhor crescimento ósseo. SISTEMA RESPIRATÓRIO A importância do bom funcionamento do sistema respiratório no período neonatal é tão grande que muitas vezes considerar maturidade fetal é o mesmo que dizer que o pulmão funciona sem ajudas externas para uma adequada oxigenação. Isso se deve ao fato de o sistema respiratório ser o sítio das principais causas de morbimortalidade neonatal. Dessa forma, cinco sinais tornam-se importantes na avaliação de um padrão respiratório adequado para o RN: frequência respiratória; retrações da caixa torácica; batimentos das asas do nariz; gemidos respiratórios; cianose. O padrão predominante na respiração neonatal é o dito periódico, ou seja, entre incursões respiratórias regulares ocorrem pequenas pausas de 5 a 10 segundos sem que haja bradicardia. A frequência respiratória oscila entre 40 e 60 incursões por minuto e, pela particularidade de ser periódica, a melhor maneira para aferi-la é contar quantas incursões ocorrem em 2 minutos e depois dividir por 2. Como o RN é um respirador nasal por excelência e a resistência nasal contribui para a maior resistência à entrada de ar, o alargamento das asas nasais é um movimento realizado por ele para minimizar essa resistência. O gemido é um som observado à expiração. Ele traduz maior fechamento da glote, aumentando a resistência à saída do ar e consequente aumento da capacidade residual funcional, o que melhora o volume pulmonar e a relação ventilação-perfusão. A cianose central é mais bem observada ao exame da língua e da mucosa oral e é um importante indicador de falha na oxigenação. RETARDO DA ABSORÇÃO DE LÍQUIDO ALVEOLAR Nascimento e Saúde do Recém-NascidoMayra Cleres de Souza, UFR Durante a vida intrauterina, os espaços alveolares são preenchidos por um líquido secretado pelo epitélio alveolar que exerce uma função de distensão desses espaços, o que é fundamental para o crescimento pulmonar. Na época do nascimento, com o trabalho de parto, inicia-se um processo de absorção desse líquido por capilares e linfáticos, liberando os alvéolos para o preenchimento de ar. Nas situações em que esse líquido não é absorvido, leva à dificuldade respiratória no período neonatal. SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO A SDR do RN pré-termo, antes referida como doença de membranas hialinas, é a forma clássica dominante de dificuldade respiratória entre os RN pré-termo, sendo importante causa de morbimortalidade. A sua fisiopatologia está relacionada à deficiência de surfactante intra-alveolar, o que leva ao colabamento dessas estruturas, alterando a relação ventilação-perfusão e provocando hipoxemia. A administração à gestante com risco de parto prematuro de corticoide antenatal é a principal medida preventiva para diminuir a prevalência desses casos. Após o nascimento, a utilização de surfactante exógeno por via endotraqueal e o estabelecimento de suporte respiratório com pressão positiva contínua nas vias aéreas, por pronga nasal ou por entubação traqueal, são medidas fundamentais no tratamento. DOENÇA PULMONAR CRÔNICA (DISPLASIA BRONCOPULMONAR Vários fatores, além da imaturidade pulmonar, estão envolvidos na gênese da doença pulmonar crônica: fatores inflamatórios, fatores infecciosos, uso do oxigênio e de ventilação mecânica. O tratamento com surfactante pulmonar exógeno na SDR aumentou o número de sobreviventes sem doença pulmonar crônica. APNEIA DA PREMATURIDADE Pode ser definida como uma interrupção da entrada do fluxo de ar nas vias aéreas superiores, por um período de 15 a 20 segundos, quer isso aconteça por uma pausa dos movimentos respiratórios ou não. Dessa forma, podem ser classificadas como: central, quando essa ausência de fluxo decorre inicialmente por uma interrupção dos movimentos respiratórios sem associação a um processo obstrutivo alto; obstrutiva, quando a interrupção ao fluxo aéreo acontece mesmo observando-se movimentação da caixa torácica; mista, que consiste essencialmente primeiro na interrupção do fluxo aéreo por um colabamento das vias aéreas superiores, seguindo-se de concomitante pausa na movimentação da caixa torácica. A utilização das metilxantinas tem sido um dos pilares no tratamento farmacológico da apneia do prematuro há muitos anos. Tanto a teofilina quanto a cafeína são utilizadas e apresentam diversos mecanismos de ação: promovem o aumento da sensibilidade dos receptores ao CO2, aumentam o volume-minuto, potencializam o trabalho do diafragma, diminuem a sensibilidade à depressão respiratória pela hipóxia e diminuem a respiração periódica. Outra modalidade terapêutica muito utilizada é a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), através do uso de prongas nasais, máscara nasal ou facial, com pressões entre 2 e 5 cmH2O e diferentes concentrações de oxigênio. Esse procedimento, associado ao uso das metilxantinas, tem se mostrado efetivo no tratamento da apneia, fundamentalmente nas de origem mista e obstrutiva. ASPECTOS NUTRICIONAIS Após o nascimento, deve ser propiciado ao RN pré-termo condições nutricionais para não interromper o crescimento que ocorria intraútero e para prevenir o catabolismo proteico. A difícil tarefa de manter essas taxas de crescimento tem, principalmente nos RN de menor peso, a prática da instalação precoce de soluções de glicose com aminoácidos específicos para prematuros (oferecendo até 3 g/kg/dia já no primeiro dia de vida para os com peso < 1000 g) e eletrólitos. A oferta gradual de soluções lipídicas, também adequadas, deve ser proporcionada, assim como a de vitaminas e oligoelementos. A dieta enteral deve ser prontamente instituída, privilegiando-se o uso do leite da própria mãe. Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR MÉTODO CANGURU NO MODELO BRASILEIRO E ASSISTÊNCIA NEONATAL DO RN DE BAIXO PESO AO NASCER O modelo nacional visa a uma mudança no paradigma da atenção ao RN de baixo peso, da sua mãe e da sua família, trazendo para o cerne dessa proposta uma abordagem interdisciplinar, humanizada, caracterizada por forte conhecimento das questões psicoafetivas e biológicas que envolvem a gestação, o nascimento e o cuidado pós-natal de um bebê de baixo peso. Hoje ele está implantado em várias maternidades e unidades neonatais brasileiras. SEGUIMENTO AMBULATORIAL APÓS A ALTA HOSPITALAR O passo inicial para um bom acompanhamento inicia-se antes da alta, com a orientação da família quanto aos cuidados domiciliares necessários. A observância de particularidades quanto ao calendário vacinal específico (iniciado muitas vezes ainda dentro da unidade hospitalar) e da utilização do anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório (para menores de 30 semanas de idade gestacional ao nascimento) são pontos importantes. Na avaliação do crescimento e do desenvolvimento, o conceito de idade gestacional corrigida ou de idade pós-conceptual, que ajusta o grau de prematuridade com os dias após o nascimento, deve ser conhecido. PREVENÇÃO Vários fatores têm sido arrolados como importantes na prevenção ao nascimento de RN prematuros e com retardo de crescimento intraútero. Entre eles, destacam-se: necessidade da realização de projetos educacionais que aumentem o nível de escolaridade da população (notadamente a materna), o que efetivamente melhora a noção do cuidado do indivíduo com a sua própria saúde, além de propiciar ascensão social e econômica; estabelecimento de ações de ampla cobertura para a assistência ao pré-natal e a acessibilidade a um sistema de saúde de qualidade; campanhas para evitar o tabagismo, o uso do álcool e de drogas ilícitas; prevenção e tratamento adequado das afecções crônicas. PROGNÓSTICO A crescente incorporação de novos conhecimentos e de sofisticada tecnologia tem aumentado no mundo inteiro os índices de sobrevida de RN pré-termo, inclusive os considerados extremos. No entanto, há de se considerar que esses resultados de bom prognóstico devem estar centrados não só na diminuição dos índices de mortalidade, mas também na melhor qualidade de vida dessa criança egressa do atendimento em UTI neonatal. CIUR A Restrição do Crescimento Intrauterino (CIR) é a principal causa de fetos PIG e está associada à alta taxa de morbimortalidade fetal e neonatal. Seu adequado diagnóstico, além do acompanhamento, tem impacto como marcador de assistência à mãe e ao feto. As principais causas de CIR são: alterações genéticas; infecções; insuficiência placentária. Reconhecer estas causas ajuda na decisão do momento apropriado do parto. De todas, a insuficiência placentária é a mais comum e a que apresenta os maiores desafios, por ser paradoxalmente a que tem menor potencial letal e, ao mesmo tempo, a que mais mata em nosso meio. O adequado manejo de gestações com CIR causado pela insuficiência placentária impõe a necessidade do pleno conhecimento da sequência das alterações hemodinâmicas feto-placentárias ao Doppler, para a decisão em relação a necessidade e o momento adequado, dependendo da idade gestacional (IG), de se antecipar o parto, tendo em vista a ação danosa que a prematuridade pode somar a estes fetos, com repercussões desfavoráveis que podem ir além do período perinatal. Pode haver fetos PIGs sem que haja a presença de patologias. São ditos pequenos constitucionais e cursam com baixo risco de hipóxia fetal. Geralmente, sua curva de crescimento, embora abaixo do p10, éparalela a curva normal. Nascimento e Saúde do Recém-Nascido Mayra Cleres de Souza, UFR É importante a diferenciação entre a CIR de início precoce e aquela de início tardio, que têm diferentes características bioquímicas, biofísicas e clínicas. Na primeira forma, ocorrida na fase de hiperplasia celular fetal, a restrição de crescimento fetal é simétrica e mais comumente associada ao uso de drogas, alterações genéticas e infecções fetais, principalmente pelo TORCHS. Neste tipo, é comum o reconhecimento de alterações estruturais do feto à ecografia. Outro achado ecográfico que sugere este tipo é a presença de polidramnia junto com o feto simetricamente menor. CIR tardio ocorre na fase de hipertrofia celular fetal e sua principal causa é a insuficiência placentária, estando, portanto, ligada a pré-eclâmpsia e sendo caracterizado por uma assimetria do crescimento fetal, com a circunferência abdominal menor que o esperado para a IG e menor proporcionalmente que o perímetro cefálico e as medidas de ossos longos. O tipo misto ocorre na fase concomitante de hiperplasia e hipertrofia celular, entre 16 e 32 semanas de gravidez. A identificação de fatores de risco para CIR deve ser realizada rotineiramente na 1a consulta pré- natal. Dentre eles, podemos citar: História pregressa de CIR ou de natimorto; Diabetes; Obesidade; Gestação múltipla; Pré-eclâmpsia; Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo. Marcadores bioquímicos: diversos marcadores bioquímicos vêm sendo pesquisados para o rastreio de pacientes com maior risco de desenvolvimento de CIR. Dentre estes, podemos citar a proteína plasmática A (PAPP-A) e a fração livre do hCG que, quando em níveis baixos no primeiro trimestre, têm associação com CIR e pré-eclâmpsia. No segundo trimestre, temos a elevação da alfa fetoproteína sérica ou da inibina A como marcadores de risco. O manejo obstétrico visa o parto de um feto a tempo de evitar lesão hipóxica e morte intrauterina balanceado contra a morbidade potencial causada pela prematuridade. Em alguns casos, o manejo será ditado pelas condições maternas. REFERÊNCIAS Tratado de Pediatria, Sociedade Brasileira de Pediatria, volume 2, 4º edição de 2017, seção 16, capítulo 1. Restrição de Crescimento Intrauterino, Dailson Pereira, publicado na revista HUPE, no Rio de Janeiro, 2014