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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN MESTRADO EM DESIGN DESIGN THINKING COMO UM CONJUNTO DE PROCEDIMENTOS PARA A GERAÇÃO DA INOVAÇÃO: um estudo de caso do projeto G3 JULIANA DESCONSI ORIENTADOR: Prof. Dr. Vinicius Gadis Ribeiro PORTO ALEGRE – RS 2012 JULIANA DESCONSI DESIGN THINKING COMO UM CONJUNTO DE PROCEDIMENTOS PARA A GERAÇÃO DA INOVAÇÃO: um estudo de caso do projeto G3 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Design da UniRitter, como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre em Design. Orientador: Prof. Dr. Vinicius Gadis Ribeiro PORTO ALEGRE – RS 2012 JULIANA DESCONSI DESIGN THINKING COMO UM CONJUNTO DE PROCEDIMENTOS PARA A GERAÇÃO DA INOVAÇÃO: Um estudo de caso do projeto G3 Dissertação de Mestrado defendida e aprovada como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Design, pela banca examinadora constituída por: _____________________________ Prof.. Dr. Vinicius Gadis Ribeiro – UNIRITTER _____________________________ Prof. Dr. Sidnei Renato Silveira - UNIRITTER _____________________________ Prof. Dr. Carlo Franzato - UNISINOS 2012 AGRADECIMENTOS Muitas pessoas devem ser agradecidas por fazerem parte desse trabalho, desde as que auxiliaram com estímulos para o desenvolvimento, até as que participaram diretamente indicando referências para o estudo. Gostaria de fazer um agradecimento muito especial ao escritório de design Questto|Nó, representado pelo seu sócio, diretor e designer Levi Girardi, pela cordialidade, atenção e disponibilidade em fornecer informações, dados, instalações e tudo mais para essa pesquisa. A empresa Agrale, representada pelo designer Paulo Biodan, por fornecer prontamente todas as informações pertinentes à pesquisa. Agradeço também a UniRitter pela qualidade e excelência dos seus serviços, instalações e respeito aos seus alunos, além da atenção e qualificação que os professores dispenderam no decorrer de todo o mestrado em Design. Agradeço, em especial, Vinicius G. Ribeiro, meu orientador, pela dedicação em transferir todo o seu conhecimento e disponibilidade para esse trabalho, sendo um verdadeiro parceiro na construção dessa dissertação, com certeza minha admiração e minha referência como mestre/orientador cresceu ainda mais após essa dissertação. Agradeço também meus orientadores que iniciaram esta pesquisa comigo Prof. Ligia Sampaio de Medeiros e Prof. Luís Vidal Negreiro Gomes, por terem me incentivado a entrar no programa do Mestrado em Design, pelo incentivo ao tema e por todo o conhecimento transferido ao longo de todos esses anos como aluna e como amiga. Agradeço aos amigos e familiares que enviaram mensagens positivas pela construção de mais essa etapa em minha vida, em especial ao meu marido Roberto Carraro pela compreensão, companheirismo e força que dedicas em tudo o que faço. RESUMO Analisando o Design Thinking e suas habilidades foi desenvolvido neste trabalho, com base na investigação através da literatura existente na área e na exploração através de um estudo de caso das habilidades encontradas em evidências no projeto dos Caminhões Agrale desenvolvidos pelo escritório de design Questto|Nó, o Projeto G3. Entende-se que o Design Thinking configura-se como um dos fatores presentes no contexto da inovação e do mundo das organizações e dos negócios. Partindo-se do pressuposto que a inovação somente se constitui quando disseminada e aceita, o Design Thinking pode ser visto então como o motor dessa ação, visto que seu objetivo maior é difundir técnicas para leitura de situações projetuais e/ou de negócios. Como contextualização este projeto apresentou, em sua essência, relações construídas entre a pesquisa acadêmica e a aplicação prática de mercado, onde foram encontradas as consonâncias com a inovação. Para tanto, tornou-se necessário compreender os níveis de conceitos, aprendizado e prática (método) aplicados ao Design Thinking, configurando a questão central desse estudo, onde foram evidenciados os procedimentos do Design Thinking em um estudo de caso que englobou a pesquisa no Projeto G3. O presente estudo foi direcionado nas diretrizes construídas sobre o que a literatura sugere como procedimentos do Design Thinking, o qual: transfere projetualmente métodos, ferramentas e processos para outras áreas; e que os seus conceitos se concentram na resolução de problemas capciosos; envolvendo participantes multidisciplinares e não somente designers; e que o Design Thinking usa certa metodologia do design como ferramenta e processos que foram feitas e disponibilizadas para também não designers; e que o seu principal objetivo é criar inovação. Neste contexto a pesquisa foi conduzida em um estudo de caso onde evidências das técnicas do Design Thinking foram encontradas e cruzadas com as modalidades de pensamento envolvidas com o raciocínio projetual, construindo-se assim contribuição para a área das habilidades do Design e do Design Thinking. Palavras chave: Design Thinking. Habilidades do Design. Design e Negócios. Inovação. ABSTRACT An analysis of Design Thinking and skills developed in this work was based on research by the existing literature in the area and exploitation through a case study of the skills found in evidence in the design of Trucks Agrale developed by the design office Questto | Nó, the Projeto G3. It is understood that Design Thinking is configured as one of the factors present in the context of innovation and the world of organizations and businesses. Starting from the assumption that innovation is constituted only when widespread and accepted, the Design Thinking can then be seen as the engine of this action, since its main objective is to disseminate techniques for reading of the projects situations and / or business. How contextualization presented this project, at its core, relationships built between academic research and practical application market, where the consonances were found to innovation. Therefore, it became necessary to understand the levels of concepts, learning and practice (method) applied to Design Thinking, setting the central question of this study was to understand what the literature suggests as the techniques employed by the Design Thinking and recognize them in a case study of the application of these techniques in practice at Projeto G3. The present study was directed in the guidelines built on the theme, including the Design Thinking transfers through of the project methods, tools and processes to other areas, and that their concepts are focused on solving problems specious; multidisciplinary and involving participants not only designers, and the Design Thinking methodology uses some of the design as a tool and processes that have been made and also not available for designers, and that their main goal is to create innovation. In this context the research was conducted in a case study where evidence of Design Thinking techniques were found and crossed with the modalities of thought involved in reasoning of the project, building thus contribution to the field of skills Design and Design Thinking. Key-words: Design Thinking. Design skills. Design and Business. Innovation. LISTA DE FIGURAS Figura 01- As áreas do saber. .............................................................................................. 17 Figura 02 - Os tipos de raciocínios associados ao Design Thinking. .................................... 50 Figura 03 - O processo de Design Thinking na HPI D-School. ............................................. 56 Figura 04 - Alternânciade geração e seleção no processo de Design Thinking................... 56 Figura 05 - O Modelo de Fluxo de Trabalho do Design Thinking Adaptativo ........................ 63 Figura 06 - Desenho da pesquisa. ....................................................................................... 73 Figura 07 - Detalhamento dos processos do projeto. ........................................................... 76 Figura 08 - Fase 1: estudos avançados. .............................................................................. 77 Figura 09 - Fase 2: desenho de apresentação. .................................................................... 78 Figura 10 - Fase 2: montagem da cabine com o para-choque. ............................................ 79 Figura 11 - Fase 2: aprovação da cabine pela diretoria da Agrale. ...................................... 79 Figura 12 - Fase 3: Detalhamento. ....................................................................................... 80 Figura 13 - Fase 3: Materiais e Meios de produção. ............................................................ 81 Figura 14 - Etapas do Design Thinking. ............................................................................... 83 Figura 15 - Modelo de caminhão antigo. .............................................................................. 88 Figura 16 - Modelo de caminhão novo. ................................................................................ 89 Figura 17 - Desenhos, esquemas e protótipos da solução. .................................................. 89 Figura 18 - Protótipos da solução. ....................................................................................... 90 Figura 19 - Reuniões de projeto, fase de desenho inicial. .................................................... 91 Figura 20 - Reuniões de projeto, fase de seleção dos desenhos iniciais.............................. 91 Figura 21 - Reuniões de projeto, fase de refinamento das ideias. ........................................ 92 Figura 22 - Reuniões de projeto, avaliação em escala. ........................................................ 93 Figura 23 - Reuniões de projeto, protótipos. ........................................................................ 93 Figura 24 – Triangulação das evidências. ............................................................................ 99 Figura 25 - Evidências do Design Thinking no Projeto G3. ................................................ 101 LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Estilos de pensamento x terminologias da língua. ............................................. 28 Tabela 02 - Perfil da terminologia. ....................................................................................... 29 Tabela 03 - Sumário dos atributos dos não designers ......................................................... 54 Tabela 04 - Relações de Modos de Trabalho para Espaços de Problema/Solução e Pensamento Divergente/Convergente. ................................................................................ 59 Tabela 05 - Reunião das principais habilidades do Design Thinking. ................................... 65 Tabela 06 - Etapas do Design Thinking. .............................................................................. 67 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 CONTEXTUALIZANDO O DESIGN THINKING .................................................... 15 2.1 ABORDAGEM INICIAL........................................................................................ 15 2.2 O DESIGN THINKING NA PESQUISA ACADÊMICA ......................................... 19 2.3 DESIGN THINKING COMO CONSULTORIA: A RELAÇÃO COM OS NEGÓCIOS .................................................................................................................................. 23 2.4 TERMINOLOGIAS .............................................................................................. 27 2.4.1 DEFININDO INOVAÇÃO .................................................................................. 31 2.5 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 33 3 FUNDAMENTANDO O DESIGN THINKING ......................................................... 35 3.1 QUE TIPO DE PENSAMENTO É O RACIOCÍNIO PROJETUAL ........................ 35 3.1.2 O pensamento projetual como uma forma de inteligência................................ 40 3.2 O PENSAMENTO PROJETUAL (DESIGN THINKING) ...................................... 42 3.3 ESTUDO DAS TÉCNICAS E HABILIDADES DO DESIGN THINKING ............... 51 3.3.1 Uma abordagem criativa/evolutiva para o Design Thinking.............................. 55 3.3.2 Um modelo de fluxo de trabalho no Design Thinking ....................................... 58 3.4 CONSTRUINDO UM CENÁRIO DE HABILIDADES ........................................... 64 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 68 4.1 OS OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................ 68 4.2 ABORDAGEM TEÓRICA .................................................................................... 69 4.3 ABORDAGEM OPERACIONAL .......................................................................... 71 4.4 DESENHO DA PESQUISA ................................................................................. 72 4.5 LEVANTAMENTO DE DADOS ........................................................................... 73 4.5.1 Histórico do projeto dos caminhões Agrale ...................................................... 74 5 RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE DAS EVIDÊNCIAS .................................. 82 5.1 O DESENHO DAS EVIDÊNCIAS ........................................................................ 83 5.2 ENTREVISTAS ABERTAS SEMI-ESTRUTURADAS .......................................... 84 5.3 ANÁLISE DE FOTOGRAFIAS ............................................................................. 88 5.3.1 Reuniões de projeto ......................................................................................... 90 5.4 INTERPRETAÇÕES DE E-MAILS ...................................................................... 94 5.5 OBSERVAÇÃO DIRETA ..................................................................................... 95 5.6 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................ 97 10 CONSIDERAÇÕS FINAIS ...................................................................................... 102 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 106 ANEXOS ................................................................................................................. 110 1 INTRODUÇÃO O contexto atual se caracteriza por significativas e aceleradas mudanças nos mercados, na economia e na forma como as pessoas vivem. Nas tecnologias e nas formas organizacionais a capacidade de gerar e absorver inovações vêm sendo considerada, mais do que nunca, crucial para que um agente econômico se torne competitivo. Entretanto, para acompanhar as rápidas mudanças em curso, torna-se de extrema relevância a aquisição de novas capacitações e conhecimentos, o que significa intensificar a capacidade de indivíduos, empresas, países e regiões de aprender e transformar esse aprendizado em fator de competitividade para os mesmos. Por esse motivo, vem-se denominando esta fase como a da Economia Baseada no Conhecimento ou, mais especificamente, Baseada no Aprendizado. Portanto, o objeto de estudo centrado no presente trabalho busca compreender as relações do Design Thinking com a inovação e o contexto econômico e do conhecimento. O pensamentodo Design, assim como o da inovação, garantem a indivíduos e organizações o desenvolvimento necessário a passos de velocidade atual, em que tanto o aprendizado, quanto a transformação destes são rápidos, constantes e necessários. Assim, enormes esforços vêm sendo realizados para tornar novos conhecimentos apropriáveis, bem como para estimular a interação entre os diferentes agentes econômicos e sociais para a sua difusão e consequente geração de inovações. Pode-se reconhecer, portanto, no contexto atual de intensa competição, que o conhecimento é a base fundamental e o aprendizado interativo é a melhor forma para indivíduos, empresas, regiões e países estarem aptos a enfrentar as mudanças em curso, intensificarem a geração de inovações e se capacitarem para uma inserção mais positiva nesta fase. Portanto, o Design Thinking parece configura-se como um dos fatores presentes no contexto da inovação e do mundo das organizações e dos negócios. Partindo-se do pressuposto que a inovação somente se constitui quando disseminada e aceita, o Design Thinking pode associado como o motor dessa ação - visto que seu objetivo maior é difundir suas técnicas para leitura de situações projetuais ou de negócios. Como contextualização deste estudo apresenta-se o Design Thinking em sua essência com as relações construídas entre a pesquisa acadêmica e a aplicação 12 prática de mercado, através dos métodos de consultoria, em busca da consonância com a inovação. Para tanto, torna-se necessário compreender as instâncias do que é aprendido, aplicado e praticado sobre o Design Thinking, configurando a questão central desse estudo é poder compreender o que a literatura sugere como as técnicas empregadas pelo Design Thinking e reconhecê-las em um estudo de caso da aplicação destas técnicas na prática. Partindo dos conceitos chave em Design Thinking, deve-se considerar que: (i) Ele transfere projetualmente métodos, ferramentas e processos para outras áreas; (ii) Ele se concentra na resolução de problemas capciosos; (iii) Os participantes do Design Thinking são multidisciplinares e não somente designers; (iv) O Design Thinking usa certa metodologia do design como ferramenta e processos que foram feitas de forma explicita e disponível para também não designers; e (v) O principal objetivo do Design Thinking é criar inovação; Faz-se claro a necessidade, portanto, que o presente estudo enquanto estrutura que busca uma identificação e classificação dos procedimentos do Design Thinking para a resolução de problemas, tanto no âmbito pratico como no teórico. O problema central desta pesquisa concentra-se na seguinte questão: Os conceitos de DT são evidentes em projetos de produto? Portanto, o objeto desta pesquisa concentra-se no entendimento dos procedimentos do Design Thinking. E o objetivo desta pesquisa reúne a questão central de pontuar esses procedimentos em um estudo de caso, elaborado sob análise de documentos e entrevistas com os participantes do Projeto G3 a fim de saber se houveram procedimentos do Design Thinking neste projeto e quais foram. Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho é identificar os procedimentos do Design Thinking no Projeto G3 dos caminhões da Agrale desenvolvidos pelo escritório de design Questto|Nó, buscado evidências de um uma correlação com os procedimentos citados pela revisão de literatura sobre o assunto. Os objetivos secundários consistem em: (i) Identificar o conjunto de procedimentos do Design Thinking sugeridos na literatura dos estudos atuais e relevantes na área. (ii) Pesquisar técnicas sugeridas pela literatura; 13 (iii) Identificar e classificar quais os procedimentos utilizados na prática através de um estudo de caso; (iv) Construir entendimento dos procedimentos dos Design Thinking encontrados no Projeto G3. (v) Contribuir para o meio de pesquisa do Design Thinking. Dentre as estratégias adotadas para se alcançar os resultados nos objetivos reúnem-se: (i) Revisão da literatura com os conceitos atuais e estudos abordados sobre as técnicas do Design Thinking; (ii) Pesquisa qualitativa através de um estudo de caso do Projeto G3, através de entrevista aberta, e observação de parte do processo relatada pelos participantes; (iii) Análise dos dados coletados. Para desenvolver as etapas das seções deste trabalho apresenta-se da seguinte forma: como revisão de literatura encontrada no capítulo dois, primeiramente uma abordagem histórica pesquisando-se os principais momentos e autores sobre o assunto. Posteriormente pontuado o encontrar o estado da arte da pesquisa acadêmica para delinear as principais correntes de pesquisa e como vem se abordando o assunto. Na sequência elabora-se uma busca por resultados práticos e de aplicação dos conhecimentos onde é necessário elaborar uma abordagem junto às consultorias de Design Thinking para entender a relação do assunto com os negócios. Na sequência acredita-se ser necessário elaborar uma delimitação de termos relativos a pesquisa para clarear o entendimento sobre o assunto e tomar como diretriz um conceito, dentre tantos. Por fim, entende-se que um dos objetivos principais do Design Thinking é promover a inovação e, para tanto, é necessário pontuar essa relação. Para concluir o capítulo define-se a construção de um entendimento sobre Design Thinking contribuindo para uma contextualização sobre o referido assunto. No capítulo três fundamenta-se o objeto da pesquisa, procurando compreender em detalhes que tipo de raciocínio é o raciocínio projetual, abordando o que a literatura relaciona com o Design Thinking e quais os modelos mais adotados por este. Posteriormente busca-se uma revisão da literatura sobre as técnicas e habilidades do Design Thinking, passando por uma abordagem criativa evolutiva e um modelo de fluxo de trabalho sugerido na literatura para em seguida 14 construirmos nossas próprias definições de habilidades e técnicas do Design Thinking. No capítulo quatro, são abordadas as questões de metodologia para a coleta e interpretação dos dados. Neste caso, é empregada pesquisa qualitativa para auxiliar na busca de informações para a identificação, coleta, seleção e análise em ambiente real, por meio do estudo de caso do projeto dos caminhões Agrale desenvolvidos pela Questto|Nó. No capítulo 5 sintetiza-se a reunião da revisão da literatura em cruzamento com os resultados do estudo de caso formulando um desenho de resultado apresentado em forma de figura da identificação de evidências do Design Thinking no Projeto G3. No capítulo final, expõe-se uma discussão sobre a relevância e pertinência do estudo do Design Thinking e a contribuição deste para o campo, além de explanação de medidas úteis a novas abordagens de pesquisa. 2 CONTEXTUALIZANDO O DESIGN THINKING Apresentando as circunstâncias do contexto sobre o Design Thinking é necessário introduzir o tema no espaço e no tempo. Por esse fato, contextualizar é problematizar. Em uma concepção construtivista de pesquisa e construção do conhecimento, é importante entender e pontuar o contexto do objeto da pesquisa na atual conjuntura, iniciada por uma abordagem histórica para compreender o inicio e a evolução destes conceitos. Posteriormente aborda-se a revisão da literatura sobre os conceitos do Design Thinking no âmbito acadêmico de pesquisa e de uma forma mais prática nos mecanismo de consultoria empregando as técnicas do Design Thinking na resolução de problemas projetuais e busca por inovação em produtos e serviços. 2.1 ABORDAGEM INICIAL Embora toda atividade reconhecida como Design Thinking, está diretamente relacionada e não desassociada do design, é possível identificar na literatura momentos importantes da introdução do assunto dentro do campo de pesquisa do design. Em 1969, Simon forneceu um tratado clássico sobrea complexidade e a natureza dos fenômenos dos objetos. Ele analisa as interações humanas e o impacto que elas têm com os artefatos. Ele considera como podemos criar artefatos “para alcançar objetivos”. Ele abre nossas mentes para o fato de que diferentes disciplinas se preocupam “não com a forma como as coisas estão, mas com a forma como eles podem ser - em suma, com design”. Ele observa que a resolução de problemas nada mais é do que a mistura de tentativa e erro. Ao projetar sistemas alternativos, tentamos alcançar estados finais desejados, fazendo a ponte entre a situação atual e a desejada. Simon (1969) distingue design como o conhecimento que está no domínio das profissões tais como engenharia, gestão ou medicina, todas que ele vê como preocupadas com "o que deveria ser" em contraste com as ciências que estão preocupadas com "o que é". Para Simon, o design é o centro da atividade humana: “Todos os projetos que elaboram cursos de ação visam às situações existentes de 16 mudança dentro do que é preferido”. A ação da qual ele está falando é um conjunto racional ou procedimentos em resposta para um problema definido. Embora reconhecendo a importância do trabalho de Simom no design dentro de seu programa de entender a “racionalidade limitada”, Hatchuel argumenta que para Simon, o design é um tipo de atividade de resolução de problemas. Em vez disso, para Hatchuel, resolver problemas é uma etapa em um processo de design. (Hatchuel 2001: 263). Mckim (1980) defendeu que o pensamento visual é composto por três atividades: desenho da ideia (idea-sketching), visualização (seeing) e imaginação (imagining). O autor sugere que as pessoas normalmente usam palavras para pensar e que podem recorrer a um novo modo de organizar pensamento, o que inclui uso de materiais, condições ambientais, e um estado interior de consciência relaxada para utilizar a faculdade de pensamento visual que dá origem a ideias. Na década de 1980, Rolf Faste1 expandiu o trabalho de McKim e popularizou a idéia de Design Thinking na Universidade de Stanford2, onde ensinava. Hoje a universidade de Stanford oferece um programa chamado: Design Thinking Boot Camp: From Insights to Innovation, o D.School, onde os executivos têm a oportunidade de aprender sobre o Design Thinking, que se baseia no ensinamento do design centrado no usuário, com protótipos para o processo de inovação que pode ser aplicado a produtos, serviços e design de negócios. O programa defende que a inovação é necessária em todos os aspectos do negócio, e que pode ser ensinada. O programa hoje é uma importante referência para a ligação entre universidades, empresas e negócios. A ideia do Design Thinking foi popularizada como uma forma de ação criativa para os negócios, adaptada para fins comerciais, pelo escritório de design IDEO através de David M. Kelley. Com a popularização dos métodos Design Thinking ele incorporou-se aos métodos de inovação. Tim Brown (2010), colega de Kelley afirma, em uma publicação recente, ter cunhado o termo juntamente com Kelley: Começamos a falar sobre essa área expandida como “design com d minúsculo”, em uma tentativa de ir além do objeto escultural exibido em revistas de estilo de vida ou em pedestais em museus de arte moderna. Mas essa expressão nunca nos pareceu plenamente satisfatória. Um dia, eu estava conversando com meu amigo David Kelley, professor de Stanford e fundador da IDEO, e ele observou que, sempre que alguém perguntava a ele sobre design, ele se via incluindo a palavra “thinking” – pensamento – 1 Disponível em: http://news.stanford.edu/pr/03/faste2312.html 2 Disponível em: http://dschool.stanford.edu/ 17 para explicar o que os designers fazem. Daí surgiu o termo Design Thinking. Agora eu uso como uma forma de descrever um conjunto de princípios que podem ser aplicados por diversas pessoas a uma ampla variedade de problemas. (BROWN; BARRY, 2010, p. 6). No entanto, desde 1978, Archer já tratava do tema, e aproximava o design aos negócios conforme se observa na Figura 1. Figura 01- As áreas do saber. Fonte: ARCHER (1978). Archer defendia que era necessário desenvolver ideias profundas sobre os usuários, desenvolvendo técnicas para leitura do comportamento e contextos das pessoas estudadas. Instruía também a ideia de que para se reduzir os riscos em um novo projeto eram necessários investimentos em prototipagem rápida e testes com os usuários. Salientava a necessidade de orientar a inovação, para que novos ganhos não fossem apenas no crescimento incremental. E, para tanto, é necessário capacitar agentes de inovação, em uma atmosfera em que não somente as pessoas ligadas ao projeto, dentro de uma empresa, por exemplo, sejam os responsáveis pela inovação. Estes conceitos, são muito próximos aos difundidos atualmente pela 18 IDEO, preferimos entender, com isso, que estamos tratando de uma evolução do conhecimento. Peter Rowe (1987) foi o primeiro a usar o termo Design Thinking na literatura sobre design, que fornece um relato sistemático dos procedimentos de resolução de problemas utilizados por arquitetos e urbanistas. Buchanan (1992)3, expressa uma visão mais ampla do pensamento de design que tem sido muito influente em relação à abordagem a preocupações humanas através do design. Seu estudo foi importante para afirmar o pensamento desenhístico como apropriado para tratar questões intratáveis sob outros métodos ou abordagens. A contribuição de Buchanan foi mudar o conceito de Design Thinking longe de um estilo cognitivo para uma abordagem intelectual para enquadramento e resolução de problemas que reconhecem os aspectos sociais do trabalho do design. Hoje há um interesse acadêmico e empresarial considerável na compreensão do Design Thinking e design cognition, incluindo uma série contínua de simpósios sobre pesquisa em pensamento de design. Em 1991, Cross com Norbert Roozenburg e Kees Dorst em Delft University of Technology, Holanda, conduziram o que era inicialmente esperado para ser uma reunião internacional sobre Pesquisa em Design Thinkign (Design Thinking Research Syimposio - DTRS)4. Os simpósios sobre design tiveram outras edições com temas específicos em locais diferentes, a cada dois anos. A série de encontros tem produzido um conjunto significativo de publicações em livros e revistas, com resultados de pesquisas importantes, e tem ajudado a fomentar uma comunidade internacional de estudiosos e pesquisadores concentrados na cognição do Design. Portanto o campo de estudo do Design e do Design Thinking permanecem em ascensão na construção dos seus conceitos. O design como uma abordagem ou uma forma de pensar não está morto. Mas ao mesmo tempo não é uma tradição intelectual e filosófica totalmente desenvolvida. Muitos pesquisadores estão empenhados em desenvolver tal entendimento, mas provavelmente levará muito tempo para chegarmos a uma abordagem do design reconhecido ao mesmo sentido intelectual de arte e ciência, mais ainda para o pensamento projetual. O que é 3 O conceito de problema capcioso, perverso, é citado por Buchanan a partir de um artigo de C. West Churchman; ver Richard Buchanan “Wicked Problems in Design Thinkign”, Design Issues, v.8 (1992), p. 16. Antes citado por Rittel e Webber (1973). 4 Baseado no site official do simpósio: http://design.open.ac.uk/cross/DesignThinkingResearchSymposia.htm 19 preciso, certamente, é reconhecer e respeitar as frentes existentes tanto no âmbito de consultoria quanto no âmbito acadêmico, para poder delinear o campo de estudo e assim compreender com maior maestria o Design Thinking. 2.2 O DESIGN THINKING NA PESQUISA ACADÊMICA O Design Thinking tem se tornado uma abordagem muito difundida para resolver socialmente problemasambíguos de design. Na educação do Design Thinking, modelos de processos sequenciais são aplicados para ajudar estudantes a aplicar seus princípios para os exercícios de projetos de design. Isto, no entanto, ocasiona uma situação paradoxal, como há um conflito conceitual fundamental entre os mesmos princípios que perguntam pela flexibilidade situacional e adaptabilidade de fluxos de trabalho, e a normalização dos fluxos de trabalho como sugerido por esses modelos. Cross sugere que a pesquisa em design é uma busca sistemática, na qual o objetivo é o conhecimento, e que este conhecimento deve ser procurado em três caminhos distintos: através das pessoas, processos e produtos. Cross (1999, p. 5) (tradução da autora) Cross (1999) sugere que: o conhecimento do design reside primeiramente em pessoas: em especial no designer, mas também em todos em alguma extensão. Projetar é uma capacidade natural humana. Um assunto imediato da pesquisa de design, portanto, é a investigação dessa capacidade humana – de como pessoas projetam. Isso sugere, por exemplo, estudos empíricos do comportamento do designer, mas ele também inclui deliberação e reflexão na natureza da capacidade do design. Para o processo: a maior área da pesquisa do design é a metodologia. O estudo do processo de design, o desenvolvimento das aplicações e técnicas de cada designer. Para os produtos: o conhecimento do design reside em produtos em si, nas formas, materiais e acabamentos os quais incorporam atributos de design. De forma resumida a pesquisa em design toma os três caminhos distintos: - Epistemologia do design: estudo da projetação dos caminhos do conhecimento; - Praxiologia do design: estudo das práticas e processos do design; - Fenomenologia do design: estudo da forma e da configuração dos artefatos; 20 O que claramente tem acontecido no campo de pesquisa do design nas últimas décadas é um crescimento consciente dos pontos fortes intrínsecos e adequações do Design Thinking dentro de seu próprio contexto. O design tem sua própria cultura intelectual distinta; suas próprias formas de projetação: coisas a saber, as formas de conhecê-las e os caminhos de descobertas sobre elas. Para esta pesquisa, o campo do conhecimento pertinente é a praxiologia do Design, pelo fato de estudar as praticas e os processos. Portanto, desde que o termo Design Thinking teve sua ascensão na década de 80 com a ideia do pensamento centrado no usuário e, com os simpósios do Design Thinking Research Symposia muitas coisas puderam ser estudadas, documentadas e levadas em questão. Grupos de pesquisadores trabalham hoje para delinear um entendimento de linhas de pesquisa á cerca do assunto. O resultado mais significativo a partir dos estudos e pesquisas variadas na pesquisa em design foi o crescimento do respeito inerente, a inteligência natural que se manifesta nas habilidades e capacidades do design. As primeiras tentativas de reformular o processo de design em algo mais racional e sistemático foram fundadas talvez em um desrespeito por esta capacidade de design natural, e um forte desejo de impor a ordem para pensar design. Havia um desejo de reformulação de design quase como uma forma de ciência, e para substituir as atividades convencionais de design, como completamente novos, com base na racionalidade técnica. (CROSS, 2011, p. 29) (tradução da autora) Estes objetivos iniciais podem muito bem ter sido uma reação compreensível para uma visão prévia de capacidade de design como arte misteriosa, inefável. Há ainda aqueles que consideram o pensamento de design como inefável, e ainda há aqueles cuja falta de compreensão da capacidade de design ainda os leva em tentativas para reformular as atividades de design de modo inadequado. No entanto, o cerne da disciplina de design tem agora uma visão mais madura, informada e esclarecida das suas capacidades projetuais. Esta visão madura tem crescido de uma melhor compreensão baseada na investigação da natureza das habilidades, desde a análise dos seus pontos fortes e fracos, e de um desejo de defender e nutrir essas habilidades. Segundo Kimbell, (2009, p. 2), ao mesmo tempo, as disciplinas de design estão tentando descrever as coisas específicas que os profissionais de design fazem e como eles são distintivos. A atenção para métodos de design nos anos 60 e nos 21 anos 70 deu lugar a indagações sobre o generalizado Design Thinking nos anos 80 e 90. Mais recentemente, estudiosos de gestão e educadores têm voltado sua atenção para o design, em uma tentativa de atualizar suas próprias disciplinas envolvidas com questões como organização de design (por exemplo, Romme, 2003; Weick, 2003; Boland and Collopy, 2004; Mohrman 2007), estratégia (por exemplo, Dunne and Martin, 2006; Liedtka, 2000; Brown, 2008) e pesquisa de design (van Aken, 2005; Huff et al 2006; Jelinek et al 2008). Gestores e outros deveriam começar a pensar como designers (Dunne and Martin, 2006) ou adotar uma “atitude de design” (Boland and Collopy 2004); organizações deveriam organizar-se como equipes de design (Dunne and Martin, 2006). Alguns governos estão também preocupados com a promoção do design e a do Design Thinking. No Reino Unido, um órgão financiado pelo governo nacional, o Conselho de Design, argumenta que o Design Thinking desempenha um papel fundamental na inovação. (Conselho de Design 2009). Nessas contas, o design, ou até mesmo o Design Thinking, tem o poder de estimular ou promover a inovação e transformar organizações e até mesmo eventos. Na cultura popular, todos podem ser um designer, mas em gestão, ao que parece, todos deveriam ser um Design Thinker. Kimbell, (2009, p. 2) (tradução da autora) Kimbell (2009, p. 6-7) conduz uma rica abordagem sobre a pesquisa em design com o objetivo de produzir um quadro (consultar anexo 1) que sintetiza o trabalho existente e destaca os termos chave e as contradições que aparecem nas literaturas. Este quadro ressalta a variedade de abordagens dentro dessa orientação teórica, e significa que as perspectivas de prática não são necessariamente coerentes umas com as outras. Práticas envolvem corpos, mentes, coisas, conhecimento, discurso, estrutura/processo e, mais importante, não podem ser consideradas tendo um desses elementos em isolamento. Em uma abordagem na qual a prática é entendida como um tipo de comportamento rotineiro o qual consiste de vários elementos, interconectados uns aos outros: formas de atividades corporais, formas de atividades mentais, coisas e seus usos, um conhecimento a fundo na forma de entendimento, know-how, estados de emoção e conhecimento motivacional. Segundo Kimbell (2009, p. 8) para os fins desta discussão de Design Thinking, três aspectos são enfatizados: - O primeiro destaca a forma que as práticas situadas e distribuídas constituem as tecnologias e as estruturas. As tecnologias são constituídas em maneiras diferentes pelas práticas dos usuários. Quando as pessoas usam a tecnologia, elas desenham nas propriedades compreendendo o artefato tecnológico, os prestados por sua materialidade constituinte. A contribuição deste estudo foi mostrar que as estruturas 22 não estão localizadas em organizações, ou em tecnologia, mas são promulgadas por usuários na prática. As implicações para o entendimento do projeto é que ele transcende os limites do indivíduo e seu estilo cognitivo e oferece uma maneira de ver a atividade de design distribuídas em uma série de entendimentos de diferentes pessoas aos artefatos e tecnologias e como interagem com elas. - O segundo aspecto é que para a teoria da prática, os objetos são componentes necessários, tão indispensáveis quanto às atividades mentais e corporais. A realização de uma prática muitas vezes significa usar coisas particulares de uma determinada maneira. Prestar atenção aos objetos sejam eles objetos do mundo natural,instrumentos ou objetos produzidos dentro de uma prática de conhecimento, é uma maneira de fazer uma distinção entre a definição de prática como regra de base ou rotinas de habilidades incorporadas, e uma noção de prática que é "mais dinâmica, criativa e construtiva. - O terceiro aspecto de teoria de prática é o conhecimento. Isto, é claro, tem sido estudado em muitas diferentes formas. A contribuição da perspectiva de prática é evitar as alternativas presentes em outras teorias que se concentram exclusivamente no que se passa na mente das pessoas, ou ao nível das normas sociais, ou o que se passa na linguagem, por exemplo. Portanto, a cerca de uma construção sobre as práticas, fica evidente que não há teoria sem prática, e que esta é a maneira de proceder que qualquer indivíduo faz para exercer determinada atividade ou ofício. Neste contexto o estudo mais influente de um designer trabalhando tem sido aquele proposto por Donald Schön. A influência do estudo é em grande parte devido ao seu conjunto dentro das mais amplas séries de Shön de estudos da prática profissional (que vão desde a psicoterapia à gestão) que ele usou para estabelecer sua teoria ou prática reflexiva, ou como os profissionais pensam em ação. Schön estabeleceu sua teoria de prática reflexiva como um contador para a teoria prevalecente da racionalidade técnica, ou a aplicação restrita da teoria científica e técnica para problemas práticos. Ele estava buscando uma nova ‘epistemologia de prática’ que ajudaria a explicar e contar como profissionais competentes realmente se envolvem com suas práticas – um tipo de conhecimento, ele argumenta que é diferente do conhecimento encontrado em livros. Em sua análise dos estudos de caso que forneceram as fundações para sua teoria, ele começou com a suposição que profissionais competentes geralmente sabem mais 23 do que eles podem dizer. Eles exibem um tipo de conhecimento na prática, muitos dos quais são tácitos. Ele identificou um processo cognitivo de reflexão-em-ação como a inteligência que guia o comportamento intuitivo nos contextos práticos de pensar e agir – algo como thinking on your fee’. No centro da reflexão em ação está o frame experiment no qual os profissionais enquadram, ou representam uma maneira de ver a situação problemática em mãos. De acordo com Schön, criação/design prossegue como uma conversação reflexiva com a situação, um processo interativo baseado na representação de um quadro de problemas e na exploração de suas implicações em movimentos que investigam as decorrentes possibilidades de solução. Para ele, um designer se depara com a situação da complexidade. Por causa dessa complexidade, as ações dos designers tendem, felizmente ou infelizmente, a produzir outras consequências do que as que se destinam. Quando isso acontece, o designer pode ter em conta as alterações não intencionais que ele tem feito fazendo novas ações. Ele molda a situação, de acordo com sua apreciação inicial da mesma, a situação fala de volta, e ele responde para as situações de resposta mal concebidas. Portanto a pesquisa em Design, mais especificadamente em Design Thinking, está fase de construção dos alicerces para o entendimento sólido do campo. Muito já se estudou, mas se está longe de uma definição final. Contudo intenciona-se aqui contribuir para o entendimento da área não desassociando a teoria da prática, pois a prática é o que torna algo vivo e em transformação. Nesse contexto a próxima seção trata desse olhar sobre a prática do Design Thinking. 2.3 DESIGN THINKING COMO CONSULTORIA: A RELAÇÃO COM OS NEGÓCIOS Quando o tema Design Thinking ganhou impulso suficiente para o Business Week5 dedicar uma edição inteira sobre o assunto, em 2004, ele já não era mais um assunto que interessava somente aos designers. As abordagens saem do âmbito da pesquisa acadêmica e agora se disseminam pelas práticas ou consultorias. Boa parte desse feito cabe a IDEO por ter sido uma das precursoras em disseminar as técnicas do Design Thinking ao âmbito do gerenciamento e dos negócios nas empresas. A maior contribuição nesse sentido é a utilização dos conceitos do Design Thinking por pessoas que não são designers. 5 Disponível em: http://www.businessweek.com/stories/2004-05-16/the-power-of-design 24 Na esfera dos negócios, as empresas se deparam com um subconjunto de problemas capciosos, e vem adotando as técnicas do raciocínio projetual como um método para resolver problemas que não parecem ter soluções ou que contam com variáveis incontáveis. O segredo dos designers está em não se preocupar com a solução dos problemas, mas aprender a construir cenários que possam permitir outras visões destes, ou seja, trabalhar através deles, identificando oportunidades e analisando o problema em muitas partes até poder sintetizar as variáveis. Utilizam processos não-lógicos, difíceis de traduzir em palavras, mas fáceis de expressar em ações. Utilizam modelos, simulações, esboços e histórias como verbetes de seu vocabulário. Operam no espaço existente entre o saber e o fazer, elaborando protótipos de novas soluções que brotam de seus quatro pontos fortes: empatia, intuição, imaginação e idealismo. (NEUMEIER, 2010, p. 50). A chave para encontrar soluções para problemas capciosos está na capacidade do designer em acolher paradoxos, na disposição de enfrentar o mal- estar gerado pela tensão criativa até serem resolvidos todos os conflitos. A importância do raciocínio projetual na resolução de problemas vem tomando fôlego nos últimos tempos, muito pelo fato do design e suas essências estarem nas pautas de pesquisas e de as empresas e os empresários reconhecerem neste método, técnicas para mudar o foco da resolução do problema. Ao longo de um século de história solucionando problemas com criatividade, os designers aprenderam a transitar nos três espaços da inovação: inspiração, idealização e implementação. Meu argumento é que essas habilidades agora precisam ser disseminadas nas organizações. Mas especificadamente, o Design Thinking precisa se mover para cima, se aproximando dos executivos que tomam as decisões estratégicas. (BROWN; BARRY, 2010, p.35) Ao integrar o desejável do ponto de vista humano ao tecnológico e o economicamente viável, os designers têm conseguido criar produtos que usufruímos hoje. O futuro da gestão não pode acontecer sem o design, visto que ele é o propulsor da inovação inclusive dos métodos de se pensar os negócios: [...] aspectos tanto do pensamento analítico quanto do pensamento intuitivo são necessários, mas não são suficientes, para o desempenho ótimo do negócio. As empresas mais bem-sucedidas no futuro equilibrarão o domínio sobre o qual dou o nome de Design Thinking. Design Thinking é uma forma de pensamento que permite o movimento ao longo do funil do conhecimento, e as empresas que o dominarem obterão vantagem competitiva de longo prazo praticamente inesgotável. A vantagem, que surge do foco persistente das empresas no Design Thinking, acabará se 25 estendendo ao mundo como um todo. Dessas empresas, surgirão revoluções que fazem o mundo andar para frente. (Martin, 2010, p. 7,8) As empresas adeptas do Design Thinking destacam-se por sua disposição em assumir a tarefa de continuamente redesenhar seus negócios. Fazem isso com um olho na criação de avanços tanto em termos de inovação quanto em termos de eficiência – combinação que produz a mais poderosa vantagem competitiva. Com isso, não se sugere que apenas as empresas adeptas do Design Thinking busquem inovação. O valor que os líderes das empresas atribuem à inovação se reflete na riqueza de recursos que dedicam à sua busca. Porém em muitos casos, as empresas trabalham inadvertidamente contra seus propósitos. Mesmo quando as lideranças corporativas buscam avital e ilusória centelha da criatividade, as estruturas, os processos e as normas de suas organizações vai apagá-la onde quer que ela surja. Suas culturas e rotinas privilegiam a análise, em detrimento da intuição, e o controle, em detrimento da originalidade. (Martin, 2010). Martin (2010), diretor da Faculdade de Administração Rotman da Universidade de Toronto, refletiu muito sobre as diferenças entre o raciocínio para os negócios e o raciocínio para o design. No tocante aos negócios, Martin menciona o raciocínio indutivo (fundamentado na observação de que algo funciona) e ao raciocínio dedutivo (baseado na prova de que algo existe). Em relação ao design, ele cita o raciocínio abdutivo (que imagina que algo poderia existir). Os raciocínios indutivos e dedutivos são perfeitos para tarefas de natureza algorítmica, que têm fórmulas conhecidas, mas não inadequadas para tarefas heurísticas, que não são governadas por regras predefinidas. A aplicação consciente do pensamento voltado para o design e da elaboração visual de protótipos não apenas expande a quantidade e a qualidade das opções estratégicas, como também auxilia os tomadores de decisão a visualizar e minimizar os riscos inerentes a iniciativas mais ousadas. A inovação não se limita ao lançamento de novos produtos físicos, mas incluem novos tipos de processos, serviços, interações, forma de entretenimento e meios de comunicação e colaboração. Esses são os tipos de tarefas centradas no ser humano nas quais os designers trabalham todos os dias. A evolução natural de fazer design a pensar design reflete o crescente reconhecimento por parte dos líderes de negócios de que o design se tornou importante demais para ser deixado exclusivamente aos designers. 26 Em contraste com os defensores da administração científica do início do século, os Designers Thinkers sabem que não existe uma “melhor forma” de percorrer o processo. Há pontos de partida e pontos de referência úteis ao longo do caminho, mas o continuum da inovação pode ser visto mais como um sistema de espaços que se sobrepõem do que como uma sequência de passos ordenados. Podemos pensar neles como a inspiração, o problema ou a oportunidade que motiva a busca por soluções; a idealização, o processo de gerar, desenvolver e testar ideias; e a implementação, o caminho que vai do estúdio de design ao mercado. Os projetos podem percorrer esses espaços mais de uma vez à medida que a equipe lapida suas ideias e explora novos direcionamentos. (BROWN; BARRY, 2010, p. 16) Dorst (2010, p. 138) pressupõe que O Design Thinking pode entrar na vida de um negócio em quatro diferentes níveis: como as atividades de design dentro de um quadro existente (Abdução-1), como as atividades de design que envolvem reenquadramento (Abdução-2), onde os quadros se originam da prática da empresa existente, como as adoções de um novo quadro que foi trazido e desenvolvido por um estranho (consultor de design), e como as mais profundas transformações das práticas das organizações através da adoção verdadeira ou criação de um novo quadro dentro dele. Essas diferentes aplicações do Design Thinking requerem uma séria aplicação de elementos largamente diferentes do Design Thinking. Por exemplo: trabalhando dentro de um quadro existente nós poderíamos usar convenção com base e situação com base do Design Thinking, enquanto que criando um novo quadro dentro de uma organização seria provavelmente requerer formas de pensamento que são associadas com os mais altos níveis de expertise do design. Design Thinking é um processo específico do design que tem se tornado mais e mais popular entre as companhias ao redor do mundo e está sendo implementado nos currículos das escolas de negócio e engenharia. Designers, acadêmicos e escritores de negócios têm falado muito sobre o Design Thinking. Mas ainda não há consenso estável sobre o termo. Essa ambiguidade (em parte) é consequência do uso do Design Thinking para uma emergente e tradicional disciplina do design. O Design Thinking no mundo das organizações intangíveis como cultura e problemas capciosos está mais para os negócios do que para a projetação de produtos tangíveis. O discurso sobre Design Thinking assume que o pensamento do processo usado para criar produtos físicos é perspicaz para pessoas lidarem com estratégias intangíveis. O mundo dos negócios e das organizações é um mundo de pessoas e ações, e grandes designers são famosos por suas sensibilidades para as 27 necessidades de contexto humanas. Então porque o Design Thinking não figura mais no pensamento gerencial? Há relatos apreciativos na história intelectual de habilidades práticas e sabedoria, mas as aplicações para organizações permaneceram inexplorados. A confiança flutuante na competência de análise para dissipar ambiguidade (ou garantir lucro) não encorajou a ideia de que informações valiosas podem ser obtidas observando designers. Ironicamente, uma mentalidade gerencial pode agora ser domesticada pelo Design Thinking e ser desafiada profundamente por ele. Essa é a justificativa central para adotar o Design Thinking como objeto dessa pesquisa. O efeito multidisciplinar que o método traz, tornou-se público para que mais pessoas possam compreender os processos de Design e aplicar na resolução de problemas, essa também é uma característica colaborativa do perfil do trabalho do Design. Por constituir-se um método aberto e colaborativo o Design Thinking propõe-se a evoluir enquanto pesquisa e disseminação dela. E é nessa vertente que este estudo objetiva encontrar-se. Portanto, na próxima seção apresentamos a exploração do tema abrindo espaço para a definição de terminologias que caracterizam o universo do assunto pesquisado. 2.4 TERMINOLOGIAS Em um sentido mais amplo, terminologia caracteriza a identificação, denotação e conotação dos termos técnicos e, às vezes, específicos da área. Neste conjunto de termos, nomenclaturas e empregos peculiares das palavras delineiam quais termos serão adotados na pesquisa. Terminologia também se refere a uma disciplina mais formal que estuda sistematicamente a rotulação e a designação de conceitos particulares a um ou vários assuntos ou campos de atividade humana, por meio de pesquisa e análise dos termos em contexto, com a finalidade de documentar e promover seu uso correto. Portanto, o termo Design refere-se a criar e satisfazer experiências dos usuários; já Design Thinking trata de experiências múltiplas em cada um que tem a oportunidade de participar. Portanto, a primeira definição adotada, neste estudo, sugere o uso da expressão Design Thinking, em combinação com a tradução para “raciocínio projetual” em determinados momentos desta pesquisa. 28 Um entendimento complementar pode ser encontrado em Loockwood o que trata o conceito do seguinte modo: Nossos dicionários distinguem entre thinking of, thinking about, e thinking through. Eles equiparam a atividade de thinking of com imaginação, visualização, sonhar. Em contraste, think about é descrito para significar uma atividade durante a qual se considera, reflete, e delibera. Finalmente, para think through, é entender, compreender, para descobrir isso. Design thinking parece abranger as três qualidades. Lockwood (2010, p. 57) 6 Podem-se ainda integrar os estilos de pensamento ás terminologias da língua, thinking of caracteriza-se como o pensamento passivo, pensamento visual, já think about é relativo ao raciocínio ativo aquele ligado ao projetual, contudo thiking through é o estudo/pesquisa sobre o projeto interativo, conforme resumido na tabela 01. Tabela 01 - Estilos de pensamento x terminologias da língua. Design Thinking thinking of pensamento Passivo Visual think about raciocínio Ativo Projetual thiking through estudo/pesquisa Projeto Interativo Fonte: com base em Lockwood (2010, p. 57)Para Lockwood (2010) o Design Thinking é a reunião das três qualidades onde o objetivo é envolver os consumidores, designers e empresários em um processo de integração, que pode ser aplicada a produtos, serviços, ou mesmo a projeto de negócio. É uma credencial para imaginar futuros estados e trazer produtos, serviços e experiências para o mercado. Para o autor o Design Thinking é a aplicação de um método na resolução de problemas: 6 Tradução da autora 29 Tabela 02 - Perfil da terminologia. Perfil da terminologia Objetivo Escopo Processo Atores Estilos de pensamento D e s ig n T h in k in g ’ inovação, esclarecendo frentes difusas, encontrando sentido concepção de objetos, serviços e processos colaborativo, conceitual, formulação ideia iterativa e demonstração designers, pesquisadores, gestores, contribuintes individuais, qualquer um Pensamento abdutivo D e s ig n E s tr a té g ic o esclarecer atributos de design e concepção política definir o uso do design e estilo de design, incluindo observações e cortes Define e orienta. Um processo contínuo designers, gerentes de projeto, gerentes de marca Pensamento indutivo G e s tã o d o D e s ig n organização direta do design e operações, processos, recursos e projetos projeto, unidade de negócios, ou no nível corporativo gestão de pessoas, processos, projetos e orçamentos gerente de projeto, gerente de marca, gerente de projeto ou de programa Pensamento Abdutivo e Indutivo L id e ra n ç a e m D e s ig n Conectar design e negócios. Conduzir as operações de design e de colaborações. Integração de design e negócios, apoio de alto nível Influenciar e orientar as decisões da mais alta gerência Design chefe, conselheiro em Design, consultor especialista, CEO da VP Pensamento dedutivo Fonte. (LOCKWOOD 2010, p. 83-84) 7 . O termo Design Thinking é a aplicação de sensibilidade de um designer e métodos para a resolução de problemas, não importam quais sejam. Não é um substituto para o profissional de design ou a arte e o ofício de projetar, mas sim uma metodologia para a inovação e capacitação (LOCKWOOD, 2010, p. xi). 8 7 Tradução da autora. 8 Tradução da autora 30 Lockwood (2010, p. 83) afirma ainda que Design Thinking é frequentemente confundido com gestão, estratégia e liderança. Com base na tabela 02, o autor pretende delimitar os campos do design definindo os objetivos, o escopo, o processo, os atores e os estilos de pensamento peculiares de cada área. Design Thinking é basicamente como processo de inovação - a parte do fuzzy front end, e com um ótimo método para descobrir as necessidades não atendidas e criar novos produtos como o conceito de serviço, para não mencionar as empresas através da resolução de transformar problemas capciosos. Gestão do design, no entanto, é mais ampla e envolve o gerenciamento contínuo e liderança dos processos de concepção, organizações, operações e saídas do projeto (ou seja, produtos, serviços, comunicações, ambientes e interações). LOCKWOOD (2010, p. 83 - 84) 9 Neste estudo Lockwood separa claramente os campos do design, abordando as diferenças e particularidades em cada área. O autor sugere que o Design Thinking está diretamente ligado aos processos de inovação e que as suas técnicas auxiliam a esclarecer situações difusas encontrando sentido para problemas difíceis. Há habilidades desta área que estão além do projeto de produto ou gráfico ou dígito-virtual, elas adentram os negócios nas empresas e ajudam outras pessoas, não designers, a aprender formas de ver o problema por outro ângulo e elaborar propostas inovadoras. O autor sugere também o pensamento abdutivo estar associado à modalidade de pensamento do Design Thinking Neste contexto, outra visão sobre o Design Thinking é endossada por Cross, a fim de contribuir para o entendimento dos conceitos dessa área de pesquisa: Nesse papel eu resumi o Design Thinking como a compreensão de habilidades de resolver problemas mal definidos, adotando estratégias cognitivas de soluções focadas, empregando pensamento abdutivo e aposicional e usando mídias de modelagens não verbais. Eu identifiquei essas capacidades como altamente desenvolvidas nas habilidades dos designers, mas também sugeri que eles fossem possuídos em algum grau por todos. (Cross, 2010, p. 100 - 101) 10 Outro ponto de vista sobre a definição de Design Thinking foi estabelecida por Brown: 9 Tradução da autora 10 Tradução da autora 31 O Design Thinking se beneficia da cpacidade que todos nós temos, mas que são negligenciadas por práticas mais convencionais de resolução de problemas. Não se trata de uma proposta apenas centrada no ser humano; ela é profundamente human pela própria natureza. O Design Thinking se baseia em nossa capacidade de ser intuitivos, reconhecer padrões, desenvolver ideias que tenham um significado emocional além de funcional, nos expressar em mídias além de palavras ou símbolos. Ninguém quer gerir uma empresa com base apenas em sentimento, intuição e inspiração, mas fundamentar-se demais no racional e no analítico também pode ser perigoso. A abordagem integrada que reside no centro do processo de design sugere um “terceiro caminho”. Brown (2010, p. 4) Contudo, reunindo as definições de Lockwood, Cross e Brown, é evidente que não há um único entendimento do conceito de Design Thinking, mas algumas relações são encontradas no que concerne: o termo Design Thinking como um método para resolução de problemas capciosos, em detrimento de agrupar designers e não designers, em equipes multidisciplinares na busca por inovação em produtos, serviços e nos negócios. 2.4.1 DEFININDO INOVAÇÃO O Design Thinking, tem o poder de estimular, promover a inovação e transformar organizações e até mesmo sociedades, através de seus métodos. O termo Design Thinking é jovem e em constante construção de seus conceitos. Entender a atividade do design, e seu efeito através da revisão da literatura, e identificação de problemas com o conceito desenhado nas teorias de prática em sociologia, ciência e estudos de tecnologia e estudos de organização é necessário para se delinear o campo do design e suas relações com os negócios, a gestão, a inovação e com isso tudo a cultura material do qual se inclui. O design parece ter deixado de ser uma competência de profissões enraizadas em economias industrializadas, para se tornar algo que todos podem praticar. Como muitos termos empregados hoje, não há definições precisas e fechadas sobre determinados conceitos, isso também se aplica ao design e á inovação. Por hora, pode ser prudente observar que a inovação significa novidade ou renovação. A palavra é derivada do termo latino innovatio, e se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores. Hoje, a palavra 32 inovação é mais usada no contexto de ideias e invenções assim como a exploração econômica relacionada, sendo que inovação é invenção que chega ao mercado, no caráter disseminatório, e é absorvido por estes mercados através de uma ideia, um produto, um serviço, entre outros. Inovar denota o ato e o efeito de tornar algo novo; de renovar; de introduzir novidade. Nas publicações acadêmicas, sobretudo das últimas décadas, assim como nos meios de comunicação de massa mais recentemente, entretanto, inovação tem conotado mais do que mera novidade. A inovação tem sido apontada como uma das maneiras para que empresas, organizações e mesmonações não apenas alcancem e se mantenham em posição de vanguarda ou liderança, mas também como fator de sucesso ou até de permanência em mercados que se caracterizem pela competitividade. Atitudes inovativas são percebidas como alavancas de desenvolvimento podendo vir a ser elemento diferenciador em situações de competição em mercados, ou representar oportunidades técnicas e econômicas ainda inexploradas. Para Dosi (1988, p.221), a atenção que pesquisadores de todo o mundo têm dedicado ao fenômeno da inovação parece se dever tanto a aspectos internos à dinâmica da disciplina econômica, quanto a aspectos relacionados com a percepção empírica da importância de componentes tecnológicos na competitividade e no crescimento das economias. Inovação pode ser também definida como fazer mais com menos recursos, por permitir ganhos de eficiência em processos, quer produtivos quer administrativos ou financeiros, quer na prestação de serviços, potenciar e ser motor de competitividade. A inovação quando cria aumentos de competitividade pode ser considerado um fator fundamental no crescimento econômico de uma sociedade. A definição de inovação que vem sendo mais comumente utilizada caracteriza-a, portanto, como a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, processos e novas técnicas organizacionais (Dosi, 1988). As já numerosas contribuições empíricas registradas na literatura sobre exemplos de inovação permitiram que Dosi (1998) identificasse as propriedades fundamentais associadas com o processo inovativo, observando as inovações tecnológicas em suas relações com os avanços científicos, por um lado, e com os processos de mercado por outro, e argumentando que tal interpretação do processo 33 inovativo é útil para o entendimento das diferenças interindustriais nos modos e graus da inovação. O autor busca compreender o que estabelece, conserva e ordena a sucessão de estados de mudança e as maneiras como ocorrem a renovação e a introdução de novidades em algo, ou seja, compreender a natureza do processo inovativo. Um dos fatores importantes sobre a natureza da inovação está em que ela somente se caracteriza como inovação quando é difundida. Neste contexto, o design através do seu método Design Thinking torna-se um processo inovativo por ter seus conceitos aplicados e difundidos entre os meios profissionais, empresariais, científicos e acadêmicos para a busca da inovação. Portanto o método está frequentemente associado à inovação, e a inovação é um dos conceitos chave no Design Thinking. 2.5 CONSIDERAÇÕES Em detrimento ao entendimento do Design Thinking, os conceitos de raciocínio, procedimentos e técnicas são relacionados. Portanto raciocínio, adotado como tradução para thinking, compreende num caráter em associação ao projeto, um estado de operação intelectual discursiva/projetiva, pela qual, através da afirmação de uma ou mais proposições, passa-se a outra em virtude da conexão entre as anteriores. Já o conceito de procedimento engloba a atitude, a maneira de agir, de fazer algo, de se portar na prática de qualquer ato ou ação. A técnica é o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado. As técnicas são conscientes, reflexivas, inventivas, construtivas e imaginativas. Procedimentos não excluem a criatividade como fator importante da técnica. A pesquisa como estrutura que busca uma identificação e classificação dos procedimentos do Design Thinking para a resolução de problemas, tanto no âmbito prático como no teórico, objetiva delinear o entendimento destes procedimentos de Design Thinking. Com o presente trabalho propõe-se apresentar um recorte da pesquisa sobre Design Thinking fazendo um levantamento histórico, bem como um apanhado do estado da arte sugerido tanto na literatura quanto nas atividades de consultoria onde as técnicas do método são aplicadas. Revisita-se e definem-se terminologias 34 referentes à área de pesquisa a fim de delinear um entendimento sobre os termos chaves adotado. Os estudos precedentes deixaram em abertos inúmeros problemas e os dados recolhidos não bastam para dar-se por encerrado esse assunto. O que se objetiva com essa pesquisa é poder contribuir para um campo emergente deste estudo que trata do design e suas habilidades relacionadas à inovação, metodologia e aos negócios. É nesse momento que o Design Thinking se torna uma inovação porque a suas técnicas foram difundas e consolidadas para os negócios. O método Design Thinking é importante para a inovação porque não apenas explora os aspectos individuais e de grupo do pensamento projetual como é um caso exemplar de conhecimento acadêmico e cientifico que gera inovação. Os designers possivelmente resolvem problemas capciosos através da colaboração do pensamento integrativo, usando a lógica abdutiva, que significa o que poderia ser. Por outro lado, a lógica dedutiva e indutiva são a lógica de o que deve ser ou o que é. Nas organizações tradicionais, não se recompensa o pensar sobre o que poderia ser. Essas duas vertentes do Design Thinking, tanto a acadêmica quanto a de gestão (práticas de mercado, consultorias) são necessárias para a compreensão do campo e a definição de caminhos. Neste estudo, parte destes conhecimentos de ambas as áreas de pesquisa e desenvolvimento serão utilizados para observar uma empresa de design brasileira em suas rotinas, porém não no âmbito gerencial, mas sim nos aspectos procedimentais que revelam o pensamento projetual que visa à inovação. Para dar sequência ao estudo, será abordado no capítulo seguinte a fundamentação do Design Thinking, entrando mais a fundo no entendimento de que tipo de raciocínios estão relacionados ao raciocínio projetual. Posteriormente será abordado uma revisão da literatura sobre as habilidades e as técnicas empregadas no Design Thinking. Estes apontamentos criarão o alicerce para a construção do estudo de caso no capítulo subsequente. 3 FUNDAMENTANDO O DESIGN THINKING O conjunto de investigações sobre Design Thinking encontra-se em fase de construção, ainda há poucos autores e muitas opiniões sobre o assunto, necessitando, portanto de definição formal e de comprovação de conceitos. Há pouca literatura acadêmica disponível sobre o assunto, mas é importante que se conheça para entender o verdadeiro estado da arte sobre o assunto e lançar contribuição para o campo. Para tanto no presente capítulo, a estratégia de revisão de literatura, ajuda a compreender e respeitar o que já foi explorado. A da revisão da literatura, onde é possível identificar tendências na atividade de pesquisa, definir áreas de fraquezas teóricas e empíricas. O presente capítulo aborda as modalidades de pensamento envolvidas com o pensamento projetual, com este estudo desenha- se uma síntese do que a literatura sugere. Posteriormente trata do raciocínio projetual e das suas habilidades a fim de encontrar termos em comum e traçar um conjunto de técnicas e procedimentos pertinentes ao Design Thinking para ancorar no próximo capítulo o estudo de caso. 3.1 QUE TIPO DE PENSAMENTO É O RACIOCÍNIO PROJETUAL Em uma das suas tentativas de explicar o raciocínio projetual de como os designers fazem para projetar, Cross (2011) faz a seguinte afirmação: Vários argumentos teóricos têm sido avançados em apoio à visão de que o raciocínio de design é diferente das formas convencionalmente reconhecida de raciocínio indutivo e dedutivo. Por exemplo, Lionel March distingue os modos de design distinto do raciocínio da lógica e da ciência. Ele ressaltou que "a lógica tem interesses em formas abstratas. Ciência investiga formas existentes. Design inicia novas formas. A hipótese científica não é a mesma coisa que uma hipótese de design. A proposição lógica não deve ser confundida com uma proposta de design. O designespeculativo não pode ser determinado de forma lógica, porque o modo de raciocínio envolvido é essencialmente abdutivo". (CROSS, 2011, p. 27) 11 O filósofo C. S. Pierce identifica o conceito de raciocínio abdutivo. De acordo com Pierce, "Dedução prova que algo deve ser; indução mostra que alguma coisa é realmente operativa; abdução sugere que algo pode ser." É esta hipótese do que pode ser o ato de produzir propostas ou conjecturas, que é central para a 11 Tradução da autora 36 concepção, e que é central ao pensamento projetual. Em vez de raciocínio abdutivo, chamaremos de raciocínio produtivo, porque o designer tem que produzir uma composição, produto, sistema ou um serviço. Dorst (2010, p. 132) elabora seu trabalho no centro do Design Thinking construindo um caminho para diferentes tipos de raciocínios que são descritos, de forma lógica - em particular, o caminho que Roozengurg (1995) descreveu sobre o trabalho de Pierce. Ele descreveu os padroes básicos de raciocínios comparando diferentes cenários dos conhecidos e dos não conhecidos na equação: O QUE + COMO leva ao RESULTADO (coisa) (princípio de funcionamento) (observado) Em Dedução, é sabido o que, os jogadores em uma situação preciam atender para como eles operarão juntos. Isso permite prever com segurança os resultados. O QUE + COMO leva a ??? Alternativamente, em Indução, é sabido que na situação, e observar resultados. Mas não é sabido o como, e as leis que governam esses movimentos. Os propósitos de princípios de funcionamento que poderiam explicar o comportamento observado (hipóteses) é um ato criativo. O QUE + ??? leva ao RESULTADO Essas duas formas de raciocício analítico prevêm e explicam fenômenos que já estão prontos no mundo. E se a intenção é criar novas coisas valiosas para outros, como em design e outras profissões produtivas, o raciocínio padrão básico então é Abdução. O QUE + COMO leva ao VALOR (coisa) (cenário) (aspirado) Abdução vem em duas formas – o que elas têm em comum é saber o valor a ser atingido. Na primeira forma de Abdução-1, que é frequentemente associada 37 com solução de problema, é conhecido o como, um princípio de trabalho e como que ajudará a atingir o valor visado. O que ainda está faltando é um quê (um objeto, um serviço, um sistema), então se buscar uma solução. ??? + COMO leva ao VALOR Isto é frequentemente o que designers e engenheiros fazem - criam um objeto que trabalha dentro de um princípio de funcionamento, e dentro de um conjunto de cenário de criação de valor. Na segunda forma de Abdução-2, é sabido apenas o valor final a atingir. ??? + ??? leva ao VALOR (coisa) (cenário) (aspirado) Então o desafio é resolver o que, enquanto não há conhecidos ou princípios de funcionamento escolhidos que se pode confiar para conduzir ao valor aspirado. Isso significa ter criado um princípio de funcionamento (através de uma forma de pensamento que é próxima da indução) e a coisa (objeto, serviço, sistema – através de uma forma de pensamento que é próxima da Abdução-1) em paralelo. Isto envolverá o desenvolvimento ou adoção de um novo frame – a implicação de que, através da aplicação de certo princípio de funcionamento, é criado um valor específico, é chamado um frame dentro da literatura de Design. O QUE + COMO leva ao VALOR Frame Estudos empíricos de designers dentro da psicologia cognitiva têm mostrado que os designers focam sua criatividade e suas habilidades analíticas na criação de soluções, testando e melhorando elas, não analisando o problema de frente (Lawson 1979). “A estratégia de criação de propostas de solução é satisfatória, e pode ser reconhecida em todas as profissões de design. Poderia ser um dos elementos centrais da habilidade do design”. (Dorst, 2010, p. 133) As práticas profissionais do design que podem ser apanhadas sob o rótulo do Design Thinking podem tomar muitas formas, e têm o potencial de impactar 38 disciplinas que buscam adotar uma abordagem do Design Thinking em muitas formas diferentes. Essa base do Design Thinking é mais ou menos a mesma em todos os casos, mas o trabalho de Dorst, (2010, p. 138)12 tem mostrado que há um grande variedade de tipos de raciocínio (Abdução-1 e Abdução-2), atividades de design (formulação, representação, movimento, avaliação, gestão), níveis de Design Thinking (os sete níveis de especialização) e camadas do Design Thinking (projeto, processo, prática). Em consequência, o Design Thinking é a interação entre as atividades divergentes de abrir os espaços de problema e solução e das atividades convergentes de sintetizar e selecionar. Lindberg et al, (2010, p. 245) nos sugere três abordagens: - Explorando o espaço do problema: Ao explorar o espaço do problema, o Design Thinking adquire um intuitivo, não completamente verbalizado, entendimento, principalmente observando exemplares casos e cenários de uso, em oposição à formulação de hipóteses gerais ou teorias considerando o problema; e sintetizar esse conhecimento para pontos de vista. - Explorando o espaço de solução: Quando se explora o espaço da solução, o Design Thinking questiona um grande número de ideias alternativas em paralelo e as elabora com técnicas de prototipagem. Dessa forma, as ideias estão sendo conscientemente transformadas em representantes tangíveis. - Alinhamento iterativo de ambos os espaços: Esses representantes de ideias e conceitos facilitam a comunicação não somente na equipe de design, mas com usuários, clientes e especialistas. Assim, o Design Thinking ajuda a manter contato com o ambiente do problema relevante e pode usar essa informação para refinar e revisar o(s) caminho(s) da solução escolhida. (tradução da autora) Muitos designers relatam que eles encontram alguns aspectos de seus trabalhos que lhes parece ser naturais, talvez quase inconscientes, nas formas de pensar. E eles relatam que outros tipos de pessoas (notavelmente, os engenheiros com quem eles entram em contato no curso de seu trabalho) estão desconfortáveis com essa forma de pensar. Eles acreditam que esta intuitiva forma de pensar pode ser algo que eles inerentemente possuem, ou que pode ser algo que eles desenvolveram através de sua educação. A tomada de decisões, ou a geração de 12 Tradução da autora 39 propostas, no processo de design é algo que eles se sentem relaxados sobre, e para a qual eles não sentem necessidade em buscar explicações ou justificativas racionais. Pode ser que eles estejam negligenciando a experiência que eles têm acumulado, e, na verdade, suas respostas intuitivas podem ser derivadas desses grandes acúmulos de experiência, e de aprendizagem prévia obtida de elaborar apropriadas, e não apropriadas respostas em certas situações. Todos podem se comportar intuitivamente, às vezes, quando respondem situações que são familiares. Entretanto, os designers estão, talvez, certos em denominar seus pensamentos intuitivos em um sentido mais profundo, significando que ele não está baseado em formas convencionais de inferências lógicas. O conceito de intuição é uma palavra abreviada conveniente, para o que realmente acontece no Design Thinking. O conceito mais útil que tem sido usado pelos pesquisadores de design na explicação dos processos de raciocínio dos designers é que o Design Thinking é abdutivo; um tipo de raciocínio diferente a partir dos conceitos mais familiares dos raciocínios indutivos e abdutivos, mas que é a lógica necessária do design. É essa lógica particular do design que fornece os meios para mudar e transferir o pensamento entre a finalidade requerida de função
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