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AULA 4 FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA Prof. Joy G. Longhi 2 CONVERSA INICIAL O problema de comunicação é uma realidade diária nas empresas, nos relacionamentos interpessoais e profissionais, enfim, em nosso dia a dia; não seria diferente nas organizações hospitalares e, em especial, com pacientes com um agravante que dificulta ainda mais essa situação: a linguagem técnica. Nesta aula, abordaremos os motivos que dificultam a comunicação e conheceremos formas para facilitá-la. Verificaremos, também, que a má comunicação, entre outros fatores, afeta diretamente o processo de adesão ao tratamento. Por fim, trabalharemos com ferramentas que podem ajudar a equipe e o paciente no processo de aderência à farmacoterapia proposta. (Vídeo 1 disponível no AVA) CONTEXTUALIZANDO O sr. José, 81 anos, é portador de diabetes e hipertensão arterial. Constantemente, o médico pede exames para avaliar a resposta ao tratamento medicamentoso empregado e, consequentemente, seu cumprimento pelo paciente. Em seus últimos exames, o médico percebeu que todos os resultados estavam alterados, alterando, então, todo o tratamento proposto. Ao buscar os medicamentos na farmácia ambulatorial, em conversa com o farmacêutico, sr. José informou que iria pegar a medicação, mas que só iniciaria seu tratamento após estar curado do câncer. O farmacêutico, sem entender nada, questionou o paciente sobre esse novo tratamento oncológico e perguntou o motivo pelo qual não faria o uso do anti- hipertensivo e antidiabético. O paciente respondeu que, no lugar em que tratava do câncer, a enfermeira lhe orientou que nenhum medicamento que não fosse passado pelo oncologista deveria ser utilizado. Desse modo, qual o problema identificado pelo farmacêutico e qual conduta este deve tomar? (Vídeo 2 disponível no AVA) 3 TEMA 1: COMUNICAÇÃO COM O PACIENTE E ADESÃO AO TRATAMENTO A atividade do farmacêutico no exercício de sua profissão deve estar voltada para ações de prevenção em saúde, com a finalidade de melhorar a saúde pública, otimizando os serviços farmacêuticos e modificando os hábitos do indivíduo, da família e da comunidade sobre o medicamento. Uma das atividades é promover a comunicação com os pacientes sobre o uso dos medicamentos, induzindo-os à leitura da bula e, sobretudo, assegurando-lhes o pleno entendimento sobre as instruções do seu tratamento (OPAS/OMS, 1990). É essencial desenvolver habilidades de comunicação com os pacientes em atenção farmacêutica para alcançar melhores resultados com as intervenções propostas. Além disso, a prática da atenção farmacêutica está baseada na interação com considerável heterogeneidade de indivíduos, incluindo pacientes, familiares, profissionais de saúde e outros farmacêuticos. Essa interação social tem sido destacada como a maior indutora da satisfação do paciente em relação aos serviços de saúde (LURA JUNIOR et al, 2004). Uma das bases que sustenta a sociedade e a capacidade de se relacionar é a comunicação. O exercício profissional e a atuação da equipe compreendem a aplicação técnica dos nossos conhecimentos, para a qual estamos mais ou menos preparados. A comunicação é a base de intercâmbio de ideias e opiniões. A falta de comunicação se apresenta como causa da maioria dos conflitos pessoais e profissionais (LOCATELLI, 2005). A comunicação interpessoal pode ser definida como o processo pelo qual se transmite ideias e sentimentos de uma pessoa a outra. O processo de comunicação se dá na inter-relação humana e, ao mesmo tempo, provoca novas inter-relações (ZUBIOLI, 2001). Segundo Zubioli (2001), o processo de comunicação possui os seguintes elementos: Emissor – é o sujeito que transmite a mensagem com o propósito de comunicar-se; Mensagem – são as ideias organizadas em um conjunto sistemático de símbolos que o emissor seleciona para expressar seu propósito. A 4 mensagem é parte da informação total e sua característica fundamental é a organização; Código – é um conjunto de símbolos que se estruturam de determinada maneira e cujo significado é compartilhado. O código permite representar as mensagens de maneira determinada, ajustando-se as regras convencionais; Receptor – é a pessoas ou o conjunto de pessoas que recebem a mensagem; Canal ou meio – é o meio ou veículo por meio do qual se transmite a mensagem. Saiba mais sobre os tipos de comunicação, assistindo ao próximo vídeo da professora. (Vídeo 3 disponível no AVA) Atualmente, o papel do farmacêutico dentro do sistema sanitário é o de promover a utilização racional do medicamento em todos os âmbitos, para conseguir que ela seja mais efetiva, segura e econômica. Esse novo papel requer que o farmacêutico, para exercer sua profissão, troque e transmita toda a informação imprescindível que supõe um grande esforço de comunicação (LOCATELLI, 2005). Cabe ao farmacêutico utilizar estratégias para favorecer a comunicação com o paciente, a fim de realizar o acompanhamento farmacológico. Os objetivos do acompanhamento farmacológico são: responsabilizar-se com o paciente para que o medicamento prescrito pelo médico venha a ter o efeito desejado e estar atento para que, ao longo do tratamento, as reações adversas aos medicamentos (RAM) sejam as mínimas possíveis e, se surgirem, possam ser resolvidas imediatamente (DADER; ROMERO, 1999) Segundo Locatelli (2005), em qualquer comunicação, um dos aspectos fundamentais para se conseguir uma transmissão e uma codificação corretas da mensagem é escolher um canal adequado, pois retemos na memória: 10% do que lemos; 5 20% do que nos dizem; 30% dos que nos mostram; 50% do que nos dizem e mostram; 70% do que nos dizem, mostram e respondemos; 90% dos que nos dizem, mostram, respondemos e, ainda, colocamos em prática alguma ação. Esse esquema reflete a importância de se utilizar, simultaneamente, vários canais de comunicação e a hora de reforçar uma mensagem e estabelecer uma comunicação (LOCATELLI, 2005). Diz-se que a comunicação humana implica feedback ou retroalimentação. Esse é um processo pelo qual se mantém a comunicação, a ida e a volta das mensagens vão produzindo uma troca de comportamento nos comunicantes. O emissor envia uma mensagem, o receptor interpreta e emite nova mensagem em função da percepção obtida (ZUBIOLI, 2001). Subtema 1.1: Comunicação com o paciente A comunicação direta com os pacientes é imperativa para que os farmacêuticos possam influir no sucesso da terapia medicamentosa. Essa relação contribui para melhor desempenho do serviço, além de possibilitar o registro de dados do paciente, tais como anotações da evolução do tratamento, listas de problemas ocorridos e dados laboratoriais, resultados de procedimentos de saúde realizados (HAMMOND et al, 2003). A linguagem usada pelos médicos pode não ser a mais adequada para seus clientes. Estudos sobre comunicação médico-paciente mostram que a linguagem do cliente deve ser usada, que a informação fornecida em cada consulta deve ser limitada, que termos médicos devem ser evitados e que as orientações devem ser oferecidas de forma a serem apropriadas para a vida cotidiana dos indivíduos (GIORGI, 2006). Nos hospitais, 50% dos erros de medicação podem ser ocasionados por comunicação deficiente nos pontos de transição no contínuo do cuidado (YOUNG, 2008). Dados mostram que 49% dos pacientes experimentam pelo menos um erro 6 médico seguinte à alta, comumente envolvendo uso de medicamentos, sendo que a maior parte dos erros poderiam ser evitados por meio de eficiente comunicação (MOORE et al, 2003) A comunicação com o paciente sobre o uso correto do medicamento e do tratamento é extremamente importante porque facilita a identificação de problemas relacionadosaos medicamentos (PRM) e promove a adesão ao tratamento (BARRIS; FAUS, 2003) Segundo Zubiolli (2011), para que o paciente compreenda a informação, é importante: Ser conciso e utilizar uma linguagem simples e clara; Dar a informação precisa de que o paciente necessita. Não se exceder para evitar confundi-lo, afinal não é necessário mostrar tudo o que sabe; Seguir uma ordem na explicação; Tentar alcançar uma velocidade adequada na exposição; Tentar avaliar o grau de compreensão do paciente; Evitar discursos e monólogos. A comunicação é um instrumento essencial no trabalho do farmacêutico e na promoção da saúde. A escuta ativa é condição essencial para a boa comunicação do farmacêutico, pois lhe permite entender a realidade do paciente A partir daí, o farmacêutico identifica os pontos-chave ou os problemas que mais preocupam o paciente e faz uma análise da situação, com a fundamentação teórica dos problemas identificados. Então, o farmacêutico poderá elaborar hipóteses de solução dos problemas, mas com um plano de cuidados. Ele poderá, então, aplicá-las à realidade do paciente, por meio das intervenções farmacêutica (LYRA JUNIOR, 2005). Nesse sentido, o diálogo facilita o estabelecimento das relações paciente x farmacêutico num processo simétrico de troca de informações. Significa dizer que o conhecimento científico do farmacêutico não é mais importante do que o conhecimento empírico adquirido pela vivência do paciente. Eles são complementares: o paciente passa a cuidar melhor de si quando se sente 7 respeitado e toma consciência de sua importância como agente da própria saúde, e isso tem um efeito positivo direto sobre a sua saúde (LYRA JUNIOR, 2005). Carl Rogers ressalta a importância da construção de uma relação de confiança por meio da aceitação positiva incondicional, empatia e congruência. Todo o processo terapêutico se desenvolve a partir do princípio de que em cada um existe o potencial necessário para administrar bem a própria vida. Consequentemente, o paciente deixa de ser um sujeito passivo e passa a ser agente do próprio tratamento. Em vez de só esperar os cuidados dos outros, ele é estimulado a cuidar de si mesmo (SILVA, 2009). Subtema 1.2: Barreiras da comunicação Segundo Locatelli (2005), o processo de comunicação é um processo muito mais complexo do que parece ser a princípio porque compreende uma interação entre o emissor e o receptor, que, muitas vezes, encontra-se diante de barreiras, como: Falta de síntese ou erro de vocabulário; Defeitos na expressão; Eleição de um meio inadequado; Má ambientação física ou psíquica; Falta de atenção; Falta de capacidade de escutar; Falta de capacidade de análise; Falta de conveniência. A principal dificuldade na comunicação com o paciente é a terminologia. É frequente que se utilizem termos técnicos que, muitas vezes, o paciente não compreende; por isso, as instruções devem ser claras, concisas e com vocabulário que o paciente pode entender. Dentre as barreiras físicas que mais causam interferência na comunicação, a mais frequente é a interrupção (ZUBIOLI, 2001). Para superar esses obstáculos, tem- se proposto uma série de técnicas: 8 Redundância – repetir a mensagem de forma distinta por meio de vários canais em situações diferentes; Simplificação – direcionar a mensagem a uma só ideia; Verificação – comprovar a informação recebida; Sintonia – constitui-se de uma empatia, o interesse para criar um clima de comunicação idôneo. É o elemento mais importante e talvez o mais difícil. Depende, em grande parte, das habilidades pessoais. TEMA 2: ADESÃO AO TRATAMENTO A definição de adesão varia de acordo com a fonte utilizada, mas, de modo geral, significa o grau de concordância entre a orientação recebida (em relação à frequência de consultas, aos cuidados, à terapia não medicamentosa e medicamentosa) e a conduta do paciente (WHO, 2003). O grau de adesão também pode ser avaliado e tem como extremo o abandono do seguimento (GUSMÃO et al, 2009). Segundo Haynes (1976), adesão é o grau em que a conduta de um paciente em relação ao uso do medicamento, ao seguimento de uma dieta ou à modificação de hábitos de vida, coincide com as instruções fornecidas pelo médico ou outro profissional sanitário. Uma boa adesão implica na habilidade do paciente em cumprir com as recomendações clínicas conforme o recomendado, utilizar o medicamento como prescrito, adotar as mudanças aconselhadas no estilo de vida e realizar os procedimentos diagnósticos e de monitoramento recomendados (OPAS/OMS, 2003). A não adesão à farmacoterapia pode ser considerada um dos maiores problemas de saúde pública. Estima-se que 20 a 50% dos pacientes não aderem satisfatoriamente à farmacoterapia, proporcionando piora na severidade da doença e aumento nos gastos com serviços de saúde (WHO, 2003). A adesão ao tratamento medicamentoso é um dos fatores primordiais no contexto do Uso Racional de Medicamentos, sendo definida como o grau em que o paciente segue as instruções do prescritor, podendo ser influenciada por fatores relacionados com a terapêutica, a compreensão, a adaptação e a aceitação de 9 suas condições de saúde, além da relação com a equipe multidisciplinar (TRAUTHMAN, 2014). A adesão ao tratamento inclui fatores terapêuticos e educativos relacionados aos usuários, envolvendo aspectos ligados ao reconhecimento e à aceitação de suas condições de saúde e a adaptação ativa a essas condições, atentando às atitudes promotoras de qualidade de vida e ao desenvolvimento da consciência para o autocuidado (SILVEIRA; RIBEIRO, 2005). Esses autores ainda associam fatores relacionados aos profissionais, devendo comportar ações de saúde centradas na pessoa e não exclusivamente nos procedimentos, que aliam orientação, informação, adequações dos esquemas terapêuticos ao estilo de vida do paciente, esclarecimentos, suporte social e emocional. A terapia farmacológica deverá ser adequada ao estilo de vida de cada paciente, respeitando suas limitações, hábitos, sua motivação para cumprir o plano terapêutico, tendo como objetivo maior, garantir a adesão ao tratamento e melhorara a qualidade de vida do paciente. Tratando-se, portanto, de uma conquista fomentada pela cumplicidade entre o farmacêutico e o paciente (ANDRADE, 2015). A não adesão pode ser classificada da seguinte forma: Voluntária ou intencional – pode ter várias causas, como crer que a medicação é excessiva ou ter medo de reações adversas; Involuntária ou não intencional – pode ser consequência do esquecimento de uma dose e do erro na interpretação das instruções dadas pelo médico ou farmacêutico, entre outras (GABARRÓ, 1999). A não adesão à terapêutica tem grande prevalência nos pacientes geriátricos e tem sido relacionada com diversos fatores, como a quantidade diária de medicamentos a administrar; a dificuldade de deglutição, a negação ou medo da doença, a diminuição da autoestima, ideias suicidas, dificuldades econômicas, a suspensão da medicação para ingestão de bebidas alcoólicas, o nível educacional/cultural do doente, esquecimento e automedicação (BERGER, 1995). Por outro lado, os tratamentos crônicos ou de longa duração têm esquemas terapêuticos que exigem um grande empenho do doente e, em determinadas 10 situações, implicam inclusivamente alterações dos hábitos diários (SOUSA et al, 2004). Em um trabalho realizado por Chamorro, Chamorro e Jiménez (2006) na Espanha, observou-se que 18,61% dos pacientes não utilizavam o medicamento por desconfiança do tratamento, 16,28% por crerem estar curados, 11,62% devido à presença de reações adversas, 9,3% por sensação de excesso de medicação prescrita pelo médico, 4,65% por desconfiança do médico e 2,33% por não adquirirem o medicamento receitado. A não adesão por esquecimento ou pornão compreensão das instruções correspondeu a 11,62% dos casos e, por problemas econômicos, 2, 33%. Climente et al (2001) avaliaram as quatro principais causas de ingresso hospitalar, verificando que este se deve 56,3% à não adesão, 53,3% ao uso de medicamento inadequado, 40,7% à necessidade de tratamento adicional e 30% às reações adversas. Geralmente, a não adesão acarreta consequências negativas ao processo de cuidado do cliente por desorganizar ou prejudicar os potenciais benefícios do tratamento, exacerbar ou prolongar a doença, comprometer a avaliação médica no que tange à resposta do paciente a um tratamento, acarretar angústia e lesão ao paciente, resultar em sobras de medicamentos, situação que pode ocasionar automedicação irracional e envenenamento e favorecer a elevação dos custos e do desperdício de recursos (OPAS/OMS, 2003). Quer saber mais sobre o material de apoio para comunicação e adesão ao tratamento? Então assista ao próximo vídeo da professora. (Vídeo 4 disponível no AVA) Subtema 1.3: Formas de mensurar a adesão Existem várias estratégias para avaliar a adesão de um paciente já em tratamento, mas nenhum consenso. Os métodos indiretos incluem processos de medida feitos por meio de entrevistas com o paciente, informações obtidas de profissionais de saúde e familiares dos pacientes, os resultados dos tratamentos ou atividades de prevenção, preenchimento de prescrições e contagem de comprimidos, ou os métodos diretos caracterizam-se por permitir detectar os medicamentos, ou os 11 produtos da sua metabolização, nos fluidos biológicos do paciente (VERMEIRE et al, 2001). O relato do paciente é um dos métodos mais utilizados para avaliação da adesão, em razão de sua simplicidade e baixo custo (GUSMÃO et al, 2009). Nenhum desses métodos é 100% confiável, pois o paciente pode manipular o número de comprimidos, tomá-los apenas na época dos exames, relatar efeitos colaterais não atuais ou, deliberadamente, omitir eventuais “esquecimentos” (BALKRISHNAN, 2005). Saiba mais sobre as formas de mensurar a adesão, assistindo ao próximo vídeo da professora. (Vídeo 5 disponível no AVA) Subtema 1.4: Fatores de risco para a não adesão A adesão à terapêutica é um fenômeno sujeito à influência de múltiplos fatores que afetam diretamente o paciente. Esses fatores, que podem determinar o comportamento da pessoa em relação às recomendações referentes ao tratamento de sua doença, estão relacionados às condições demográficas e sociais do paciente, à natureza da doença, às características da terapêutica, ao relacionamento do paciente com os profissionais de saúde, bem como a características outras, intrínsecas ao próprio paciente (WHO, 2003). Relacionados ao paciente Os fatores ligados ao paciente que interferem no processo de adesão podem estar relacionados às características biossociais, como idade, sexo, raça, escolaridade, nível socioeconômico, ocupação, estado civil, religião, crenças de saúde, hábitos de vida e aspectos culturais (PIERIN; STRELEC; MION, 2004) O conhecimento e as crenças dos pacientes sobre sua doença, a motivação para controlá-la, sua habilidade para associar seu comportamento com o manejo da doença e suas expectativas no resultado do tratamento podem influenciar negativamente na adesão (GUSMÃO et al, 2009). Yiannakopoulou e colaboradores (2005) também verificaram que pessoas com menos de 60 anos que moram em zona urbana e com melhor nível de escolaridade aderem melhor ao tratamento. Embora o nível socioeconômico não 12 seja índice independente de baixa adesão, alguns aspectos são significativos, como baixo nível socioeconômico, pobreza, analfabetismo, baixo nível educacional, desemprego, falta de rede efetiva de suporte social, condições instáveis de moradia, longa distância do local de tratamento, alto custo do transporte, alto custo da medicação, mudanças no estado civil, cultura e crenças sobre a doença e o tratamento e desestrutura familiar (GUSMÃO et al, 2009). Relacionados ao tratamento Os principais fatores que afetam a adesão estão relacionados à complexidade do regime terapêutico, como número de doses, comprimidos e horário das tomadas, duração do tratamento, falha de tratamentos anteriores, mudanças frequentes no tratamento e influência na qualidade de vida (WHO, 2003). A adesão ao tratamento é melhor em indivíduos que nunca mudaram de esquema terapêutico e que tomam apenas um comprimido por dia (YIANNAKOPOULOU, 2005). Fatores como a quantidade de medicamentos, as reações adversas, a incompatibilidade entre os fármacos, a dificuldade na compreensão das metas da terapia e da implicação do seu uso inadequado contribuem para dificultar a adesão ao tratamento farmacológico (FIGUEIREDO et al, 2001). Todos os profissionais de saúde envolvidos no circuito do medicamento são relevantes para a adesão à terapêutica, sendo fundamental a discussão do problema com o próprio doente. A identificação dos doentes não aderentes à terapêutica não é uma tarefa simples, mas é extremamente importante para que o fator responsável pela não adesão seja identificado e sejam empreendidos os esforços que levem à sua minimização ou eliminação. Alguns parâmetros estão identificados como essenciais no aumento da adesão à terapêutica, como prescrever o menor número de medicamentos possível, evitar prescrições em dias alternados e o fracionamento de comprimidos, explicar para que servem os medicamentos prescritos, pensar nos efeitos secundários sobre outra doença preexistente, adequar as formas farmacêuticas às capacidades de deglutição do doente, utilizar rótulos legíveis e compreensíveis, aconselhar doentes analfabetos ou com problemas de esquecimento, de visão e de audição, a solicitarem a colaboração de algum familiar ou cuidador e, ainda, esclarecer sobre esquemas posológicos e outras dúvidas, importantes na administração da medicação (BURGER-DIAZ,1996). 13 CONTEXTUALIZANDO – RESPOSTA Muito bem! Acredito que você já teve tempo suficiente para refletir sobre o caso apresentado no início dos estudos deste tema. Então, qual o problema identificado pelo farmacêutico e qual conduta este deve tomar? a. Foi identificado erro por parte do oncologista, o qual não pode suspender os demais tratamentos aleatoriamente. Sendo assim, o farmacêutico orientou que o paciente fizesse o uso dos medicamentos que estava recebendo naquele momento. b. O farmacêutico identificou um problema de comunicação, por erro do paciente, ao não questionar a enfermeira sobre o que fazer com os tratamentos que este já vinha fazendo. Desse modo, o paciente foi orientado a voltar no médico oncologista, para que este avaliasse a continuidade ou não dos tratamentos não oncológicos. c. O farmacêutico cometeu diversos problemas de comunicação, os quais resultaram na não adesão aos tratamentos para diabetes e hipertensão. Identificou falha na informação repassada pela enfermeira e na comunicação entre médico x paciente, o qual não identificou a falta do uso das medicações repassadas. Desse modo, orientou para que o paciente retornasse ao médico de suas doenças crônicas para que este realmente avaliasse a necessidade de mudança do tratamento. Feedback: a. O caso apresentado não mostra uma orientação direta entre o oncologista e o paciente e não é possível saber se este conhecia os demais tratamentos de seu paciente. Desse modo, não é possível avaliar a conduta médica; no entanto, considerando a alteração dos tratamentos anti- hipertensivo e antidiabético do paciente desnecessária, uma vez que o problema identificado não se tratava de ineficácia terapêutica, o farmacêutico poderia reavaliar a possibilidade de manter o tratamento anterior, uma vez que o paciente não era refratário. b. No caso apresentado e considerando a característica de nossa população, a qual ainda possui uma culturade não questionar condutas e orientações médicas, além de possuir pouca informação sobre seus tratamentos de 14 saúde, não cabe culpar o paciente pela falta de argumentação à enfermeira. Além disso, os tratamentos das doenças crônicas apresentadas devem ser avaliados pelo médico prescritor, para que ele avalie se com a nova comorbidade haverá necessidade da real mudança da farmacoterapia ou não. c. O caso em questão apresenta uma falha de comunicação, pois certamente a orientação da enfermeira era para que o paciente não realizasse automedicação e para que comunicasse a seu oncologista todos os demais tratamentos que realizava; no entanto, a forma de se expressar foi falha, fazendo com que o paciente suspendesse por conta própria seus demais tratamentos. Desse modo, cabe ao farmacêutico comunicar ao médico responsável por seus tratamentos crônicos essa falha, para que então possa ser avaliada a necessidade de mudança terapêutica. FINALIZANDO Hoje, conhecemos a importância da comunicação efetiva entre farmacêutico e paciente. Além disso, foram trabalhadas as formas de se comunicar para uma melhor compreensão do paciente, muitas vezes sendo necessário o emprego de materiais educativos e de apoio. Estudamos, também, a adesão ao tratamento, os fatores que podem interferir nesse cumprimento e as ferramentas que podem auxiliar a continuidade da farmacoterapia indicada. (Vídeo 6 disponível no AVA) 15 REFERÊNCIAS ANDRADE, C. C. Farmacêutico em oncologia: Interfaces administrativas e clínicas. In: Conselho Federal de Farmácia. Farmácia Hospitalar: Coletânea de práticas e conceitos. Brasília, DF: CFF, p. 26-43, 2015. BALKISHNAN, R. 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