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História do Rorschach Embora existam outras versões, a história começa com um problema próprio das antigas canetas-tinteiro, que com frequência formavam bolhas de tinta que manchava o papel. No século 19, o médico e poeta alemão Justinus Kerner, tomou uma folha para fazer anotações, mas como tinha graves problemas de visão, derramou por acidente algumas gotas de tinta no papel em branco. Ao invés de jogar fora os borrões, ele dobrou e abriu as folhas manchadas e utilizou estas mesmas manchas para formar desenhos que depois utilizaria para ilustrar seus poemas. Em 1857, Kerner começou a compor uma coleção de livros chamada “klecksographie” que é de onde veio o nome desta técnica de gravura. No livro, Kerner apresentava algumas de suas poesias acompanhadas das ilustrações baseadas na sua técnica de composição de imagem. Conforme observam Bruno Klopfer e Douglas M. kelley, dois estudiosos da vida do médico, é curioso que apesar de ser psiquiatra, kerner jamais enxergou o potencial do poderoso jogo recíproco, entre os traços objetivos das manchas de tinta e as projeções pessoais do observador. A criação de desenhos a partir de manchas no papel é possível graças a um fenômeno cognitivo chamado apofenia. Termo cunhado em 1959 por Klaus Conrad para descrever a percepção de padrões ou conexões em dados aleatórios, como ver forma sem nuvens no céu . Os primeiros a sugerirem o uso da Klecksografia para fins de avaliação, foram os psicólogos franceses Alfred Binet e Victor Henri. Com foco no estudo do que denominavam imaginação involuntária. Inspirado em Binet e Henri, Fedor Rybakov, neuropsiquiatra da universidade imperial de Moscou, publicou em 1910 uma compilação de procedimentos para investigação da personalidade, incluindo entre as técnicas o uso da Klecksografia. Outra tentativa do uso das manchas de tinta na psicologia, é de George Dearborn de Harvard. Outros americanos também tentaram desenvolver técnicas de avaliação psicológica a partir das manchas. Mas quem realmente teve sucesso nisso foi o suíço Hermann Rorschach. Nascido em Zurique, na Suíça em 1884, Hermann Rorschach queria ser artista na infância, mas acabou o estudando para tornar-se médico psiquiatra, se formando em 1909. Enquanto fazia faculdade, Rorschach teve um sonho onde seu cérebro era fatiado, da mesma forma que observara nas aulas de neuroanatomia. O que o levou a escrever sobre como experiências alucinatórias poderiam existir em correspondência a estados fisiologicamente impossíveis. Pouco depois, sob a influência do psicanalista Carl Jung, começou a relacionar as alucinações ao simbolismo. Convidando os seus pacientes a fazerem associações livres entre quadros artísticos e manchas de tinta. Publicando os resultados em um artigo de 1911 , onde desenvolveu uma interpretação cultural e psicogeográfica da esquizofrenia. Entendimento que era reforçado pelas diferentes escolas de psiquiatria da época. Esta abordagem ficou adormecida por anos, até que em 1917, Rorschach conhece a tese de doutorado do médico psiquiatra polonês szymon hens, que havia feito uma pesquisa sobre o uso de manchas de tinta na avaliação psiquiátrica. Na época de Rorschach já existiam vários instrumentos de avaliação psicológica. Com destaque para as técnicas francesas, principalmente a escala de inteligência de Binet e Simon. Outros pesquisadores também se baseavam na ideia de faculdades ou habilidades a serem avaliadas em baterias de testes. Mas Rorschach pensava diferente. Ele acreditava que testes que apresentavam elementos conhecidos, como por exemplo, desenhos de bonecas ou pessoas, carregavam em si certas intenções humanas, o que acabava por tirar a objetividade dos testes. Pois estava preocupado com o problema psicogeografico, cultural da esquizofrenia. Rorschach acreditava que apenas um estímulo totalmente neutro, poderia revelar a pura subjetividade das pessoas e viu nas manchas uma oportunidade para realizar seu objetivo. A construção das manchas foi muito trabalhosa, pois Rorschach queria ter certeza de que estavam livres de qualquer tipo de alucinação ou elementos culturais. A reprodução destas manchas também foi um grave problema. e Rorschach já dava instruções extremamente detalhadas. O que inclui a as bordas, o tamanho entre outros elementos. Tudo para deixar a impressão de que eram pinturas pintadas por ninguém. Depois de pacientemente construir as pranchas com as manchas, utilizando os pacientes do hospital que dirigia, Rorschach finalizou seu livro com o teste de 1921. A preocupação com a neutralidade era total. E isso inclui a também a postura do aplicador . Essa preocupação acabou refletida não apenas nas manchas, mas também no formato do teste de Rorschach. Após nove meses da publicação do teste que o faria famoso, Rorschach morreu. Ele tinha apenas 37 anos e faleceu sem ver seu trabalho fazer sucesso. Sua morte levou consigo os segredos de seu teste, já que ele estava planejando uma segunda edição, que pensava ser muito melhor que a primeira. Por outro lado, seus colegas prosseguiram com o trabalho, principalmente Walter Morgenthaler, que estava com Rorschach no início do processo de publicação. Outras edições foram publicadas posteriormente. A principal crítica ao teste, era falta de padronização para a correção dos resultados o que diminuiu com a publicação da sistematização de John E. Exner jr, que acabou por ser o modo de interpretação mais difundido pelo mundo. No brasil o teste de Rorschach é considerado eficaz no psicodiagnóstico pelo conselho federal de psicologia. Referência: FREITAS, Marta Helena de. As origens do método de Rorschach e seus fundamentos. Psicol. cienc. prof., Brasília , 2005 TORRES, João Maria do Amaral. O Teste Rorschach na história da avaliação psicológica. Rev. NUFEN, São Paulo , 2010 História do Rorschach • Justinus Kerner e a klecksographie • Apofenia • Hermann Rorschach • A construção das pranchas