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MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE ABORDAGEM FAMILIAR NA APS Objetivo geral • Descrever a abordagem familiar e comunitária na atenção primária à saúde, bem como as ferramentas utilizadas para se realizar esse tipo de abordagem; Abordagem familiar Considerações históricas • Pós-guerra > países capitalistas > oferta de bens e serviços pelo Estado pareceu descartar a família, privilegiando o indivíduo c idadão; • Família prescindível > substituível por um Estado protetor. • Anos 60 e 70 > movimento feminista, boom econômico, foco na família > nova forma de pensar no indivíduo; • Anos 80 > inserção da família nas políticas públicas e de saúde > interesses do estado, da sociedade civil e órgãos internacionais > igrejas se anteciparam (sociedade São Vicente de Paula e Pastoral da criança); • Marco histórico: constituição de 1988 no Brasil > começaram a maior inclusão das famílias e foram criadas novas políticas púb licas para o núcleo familiar. • Política nacional de atenção básica (2006): família com sujeito no processo do cuidado e define o domicílio como o contexto social em que se constroem as relações e se efetiva a luta pela sobrevivência e pelas condições de vida. Definições • Família: núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantém entre si uma relação solidária (Houaiss, 2016); • Alguns outros estudiosos no âmbito da MFC ampliam esse conceito e colocam a seguinte conceituação: o Família é um sistema de relações interpessoais, dinâmica, estruturada segundo um conjunto de crenças, valores e normas e construído sob uma influência cultural determinada pelo contexto em que vive. Constitui-se a unidade primordial de organização social. • A família passa a não ser apenas a união de pessoas na mesma casa, mas sim a base de uma estrutura dinâmica de relações. Quando é necessário abordar a família (e não apenas o indivíduo) • Sintomas inespecíficos em pessoas com grande frequência de consultas; • Utilização excessiva dos serviços de saúde por diferentes membros da família; • Dificuldade no controle de doenças crônicas quando requerem auxílio de outros membros da família; • Problemas graves emocionais ou de comportamento; • Doenças nas fases de transição do ciclo de vida; • Morte na família, acidente grave, divórcio; • Sempre que o modelo biomédico tradicional se mostrar inadequado ou insuficiente. • Resumindo: sinto dificuldade de abordar individualmente, então faço a abordagem familiar. Olhar sistêmico • Utilizar a abordagem familiar como elemento de gestão do cuidado e prática diagnóstica e terapêutica; • O conhecimento familiar e das disfuncionalidades que prejudicam o bem-estar biopsicossocial dos membros é importante; • Respeito do movimento e complexidade das relações familiares > estamos visitando um “templo” familiar quando fazemos a visita domiciliar > onde estão as fragilidades e potencialidades; • Exemplo: se visita tanto a unidade de saúde, pode ser algum motivo interno familiar que não esteja suprindo as necessidades desse membro? Tipos de família • Inúmeros tipos de formações familiares > atualmente também inclui as famílias de homossexuais e outros núcleos mais atuais; • Família nuclear: marido, esposa e filhos (naturais ou adotados), que vivem em domicílio comum; • Família de pai ou mão solteiros: pais sozinhos, sem companheiro; • Família binuclear: situação que perite que os pais continuem a função paterna, embora encesse a unidade marital; • Família reconstituída: um ou ambos os adultos possuem filhos de um casamento prévio que residem no domicílio; • Família estendida: combina as famílias nucleares em unidades maiores através da relação pai-filho > composta de duas ou mais unidades residenciais de três ou mais gerações afiliadas através da extensão da relação pai-filho (pais, filhos, netos, avós). Estrutura familiar MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE • Quantidade de pessoas que moram na casa e de suas respectivas funções no núcleo familiar > como uma hierarquia > a partir dessa estrutura levantamos dados para entender a funcionalidade familiar; • Exemplo: existe um chefe familiar? Os outros membros concordam com a função desse chefe familiar? • Sistemas familiares: o Conjugal: casal formado pela união de duas pessoas com um conjunto de valores e expectativas, tanto explícitas quanto inconscientes; o Parental: envolve a educação dos filhos e funções de socialização. Pode ser ampliado para avós ou tios; o Fraterno (ou filial): composto por similares, sendo o primordial aquele entre irmãos > envolve a capacidade de negociação, cooperação, competição e reconhecimento. • Na maioria das famílias vamos encontras os 3 sistemas acima. Etapas da abordagem familiar 1. Associação Essencial para a construção do processo terapêutico: é o momento em que o paiciente traz a demanda, e muitas vezes já se sabe que a família está interferindo no processo e necessita de algum ajuste por intercorrências clínicas e sociais. É o momento do vínculo. 2. Avaliação A partir do momento que identifiquei a demanda com a necessidade de abordagem familiar, faço a avaliação, utilizando ferramentas específicas, para que avaliemos o funcionamento do grupo familiar da forma mais objetiva possível. A grande maioria das ferramentas tem o objetivo comum de avaliar o funcionamento do grupo familiar e, dependendo da demanda, escolhe-se uma ferramenta. Por exemplo: vamos supor que seja uma família muito grande, que tem relações disfuncionais com divórcio e separação, com filhos de outros casamentos e difícil entender o contexto. Nesse sentido, utilizar um genograma facilite o entendimento das relações familiares. Por outro lado, algo mais subjetivo, é mais interessante usar questionários para avaliar a satisfação dos indivíduos dentro do seu núcleo familiar. E depende muito da investigação naquele momento. Também é importante avaliar o contexto em que se instala > aumenta o poder de intervenção do médico. Vale destacar que precisamos lembrar da ajuda da equipe do NASF, como psicólogos, enfermeiros e outros atendimentos compartilhados, facilitando então o entendimento do contexto em que esse problema está instalado. 3. Educação em saúde Baseamos na história e experiência das pessoas > prover para a família as informações desse processo que estão vivenciando > criar vínculo e incentivar o desenvolvimento do auto cuidado e dos hábitos saudáveis > perceber qual a capacidade de percepção do paciente e não deixar de lado as questões culturais; 4. Facilitação Facilitar a comunicação entre os membros de um grupo familiar > precisamos então entendermos as relações de poder dentro do núcleo (alguns pais e filhos não se falam, por exemplo). Identificar os aliados e empecilhos, para que possamos evitar essa situação patogênica. 5. Referencia Não é sempre necessária. Mas, quando tivermos necessidade de encaminhar um paciente para um nível maior de complexidade, para consulta especialista, ou explicar algo mais complexo, precisamos estabelecer o contato com o profissional que vai receber a referência, para que possamos ter uma boa contrarreferência. Muitos profissionais não repassam a contrarreferência e isso prejudica o trabalho com o paciente > por isso é bom manter uma boa relação com os profissionais da mais alta complexidade. Ferramentas de abordagem familiar 1. Ciclo de vida familiar Etapas pelas quais uma família passa durante a sua evolução, bem como as tarefas que precisam ser exercidas em cada uma delas. Quando falamos em tarefas, falamos de algo inerente ao estágio em que está vivendo. Além da diagramação da tabela (abaixo), também usa-se muito em formato de caracol, sendo a etapa 1 o casamento (quando a família se forma da união entre 2 pessoas > núcleo familiar) quando usamos a tabela. Quando usamos o caracol, o ponto central é o nascimento do indivíduo > leva em consideração todos osestágios da vida (é uma forma mais global e individual = avalia-se o indivíduo e a família). MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 2. F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) Se baseia em questionário e preenche algumas dimensões de abordagem familiar. Não é uma ferramenta muito utilizada no Brasil. Para se entender alterações no ciclo familiar. Classifica as relações e 3 dimensões: MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 3. P.R.A.C.T.I.C.E. Projetado para avaliar o funcionamento da família, porém, a partir do foco nos problemas. Fornece informações sobre a dinâmica familiar, o posicionamento da família frente aos problemas enfrentados > profissional da saúde se baseia nisso para ajudar a solucionar. É bastante completo > várias dimensões do problema e como a família atua diante deles. Exemplo: avô com câncer de próstata, que mora com a esposa e duas filhas não casadas que moram na mesma casa. Tem ainda duas outras filhas casadas que moram com os esposos. Essas filhas casadas tem características de maior independência, mas, as 4 filhas foram criadas em um contexto de muita dependência dos pais e se deparam com essa situação da doença do pai. A esposa chegou um momento de negação da doença e as filhas não tiveram voz ativa para solucionar. A falta de voz ativa desestruturou a família, não existia a coordenação. Lidaram como se ainda fossem crianças. Em alguns momentos então, não teremos essa organização do núcleo familiar e precisaremos de um plano para intervenção. 4. Genograma Ferramenta de representação gráfica da família > visualizar de forma mais geral > as 3 principais informações que devem ser registradas: MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE Muitas vezes as literaturas podem mudar um pouco o padrão dos símbolos. Observação: representação sempre do mais velho para o mais novo quando houver vários filhos. Exemplo de caso para gerar o genograma: 5. Ecomapa É a rede social da família. É o genograma dentro do núcleo social que essa família convive: trabalho, igreja, clubes, quem a família usa como estrutura de apoio etc. MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE 6. A.P.G.A.R. FAMILIAR É um questionário de satisfação de cada membro da família. Representado pela sigla APGAR: • Adaptation (adaptação); • Partnership (participação); • Growth (crescimento); • Affection (afeição); • Resolve (resolução). Questões: Se a pessoa tiver mais de 5 pontos é considerada com boa relação com a família. É bastante específico e usado como complementar a outras ferramentas. Conferência familiar • É a ferramenta mais abrangente, bastante subjetiva, bastante ampla, na hora da reunião podem surgir questionamentos em que não se imaginava. • Permite a intervenção profissional e multiprofissional para solucionar problemas que os familiares não conseguem resolver. Considerações finais • Desconstruir determinados desafios > para que possamos ajudar as famílias a serem mais participativas no trabalho em equipe, para que os pacientes se responsabilizem pelos seus cuidados;
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