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1 Aplicação de Bancos de Capacitores Série na Transmissão CA de Longa Distância: o Exemplo da Interligação Tucuruí – Macapá - Manaus Manfredo Correia Lima (*), Fernando Rodrigues Alves Chesf André Luiz Oliveira, Luis Paulino da Silva, Mario Nelson Lemes, Ricardo Quirante Siemens 1Resumo--Através do leilão ANEEL 004/2008, a interligação Tucuruí-Macapá-Manaus foi dividida em três lotes, cabendo ao Consórcio Manaus Transmissora de Energia (MTE), formado por Abengoa, Chesf e Eletronorte, a implantação do lote C, formado pelas linhas Oriximiná - Silves - Lechuga 500kV e das subestações Silves e Lechuga. Para atendimento aos critérios de planejamento e procedimentos de rede, está prevista a instalação de bancos de capacitores série (BCS) em todos os trechos de linha, com grau de compensação de 70%. Este trabalho descreve os principais aspectos de projeto dos BCS integrantes do Lote C do Sistema Tucuruí-Macapá-Manaus, com ênfase no dimensionamento dos seus sistemas de proteção, efetuada através de Spark Gaps e MOV (Metal Oxide Varistors) e na definição das suas características nominais. Em complemento, é apresentada uma descrição dos testes de aceitação em fábrica dos sistemas de proteção e controle dos referidos BCS, destacando-se os principais resultados e conclusões. Palavras-Chave—Bancos de Capacitores Série, Grau de Compensação, Metal Oxide Varistor (MOV), Proteção e Controle, Spark Gap, Testes de Aceitação em Fábrica, Transitórios Eletromagnéticos. I. INTRODUÇÃO Programa de Expansão da Transmissão 2008 - 2012 da Empresa de Planejamento Energético (EPE) definiu o conjunto de obras necessárias ao sistema elétrico brasileiro no horizonte de cinco anos, remetido ao Ministério de Minas e Energia e à ANEEL como recomendação para ser objeto de leilão de concessão. Para a região Norte do Brasil, o referido programa definiu a instalação da interligação Tucuruí- Macapá-Manaus, composta por 1490km de linhas de transmissão em 500kV conectando Tucuruí a Manaus (Lechuga), com quatro subestações intermediárias (Xingu, Jurupari, Oriximiná e Silves) e por 339km de linhas de transmissão em 230kV de Jurupari a Macapá, com uma subestação intermediária em Laranjal, utilizando estruturas de circuito duplo em corrente alternada. A referida interligação permitirá a integração dos sistemas que alimentam a Região Amazônica, atualmente operando isolados e supridos principalmente por usinas térmicas a óleo e gás, ao Sistema Interligado Nacional, o que proporcionará expressiva melhoria na qualidade da energia fornecida. O início da operação do referido sistema é previsto para o segundo semestre de 2012 e (*) Rua Delmiro Gouveia, 333 Bongi – CEP 50761-901 – Recife – PE – Brasil. Tel: (+55 81) 3229-2539 – Fax (+55 81) 3229-2488 – email: manfredo@chesf.gov.br sua capacidade inicial será de 1730MW, podendo ser expandido até 2530MW. A previsão de demanda dos sistemas isolados a serem supridos por este empreendimento em 2012 é de 1400MW, atingindo 1900MW em 2017. Sua operação permitirá redução significativa na queima de combustíveis fósseis e na emissão de CO2 na atmosfera de cerca de um milhão de toneladas por ano. Este sistema apresenta como principais desafios para sua implantação a necessidade de utilização de torres de transmissão com alturas de 250 a 280m e utilização de cabos subaquáticos para travessias de rios, além de restrição de acesso durante certas estações do ano em algumas áreas e a exigência da elevação das torres acima das copas das árvores. O referido sistema foi dividido em três lotes, objeto do leilão ANEEL 004/2008, conforme Fig. 1, onde as subestações Silves e Lechuga são identificadas como Itacoatiara e Cariris, conforme Edital da ANEEL [1]. O lote C, formado pelas linhas Oriximiná-Silves e Silves-Lechuga, além das subestações 500/138kV Silves e 500/230kV Lechuga, teve como vencedor o Consórcio Manaus Transmissora de Energia (MTE), formado por Abengoa, Chesf e Eletronorte. Para permitir o atendimento aos critérios de planejamento e procedimentos de rede, serão instalados, dentre outros equipamentos de compensação, bancos de capacitores série em todos os trechos das linhas de 500kV, cujas principais características são descritas ao longo deste trabalho. Bancos de capacitores série (BCS) atuam reduzindo a reatância série da linha de transmissão, elevando desta forma sua capacidade de transmissão nos regimes permanente e dinâmicos [2], conforme Fig. 2, onde (U1, 1) e (U2, 2) representam respectivamente o módulo e o ângulo das tensões nas barras fonte e carga. II. CARACTERÍSTICAS NOMINAIS DOS BCS Os BCS objeto deste artigo foram dimensionados para compensar 70% da reatância série das linhas onde estão instalados e por razões práticas, foram divididos em duas seções de 35% cada, instaladas nos terminais de cada linha, sendo este percentual denominado Grau de Compensação. A solução mais eficiente e economicamente viável para o sistema sob análise contemplou o emprego de MOV (Metal Oxide Varistors) e Spark Gaps associados aos capacitores série (Fig. 3). A proteção contra faltas externas é efetuada por meio dos MOV, não sendo necessário neste caso o by-pass dos capacitores série. Neste caso, quando a tensão nos O SauloMenezes Realce 2 terminais do MOV ultrapassa o valor especificado em projeto (ULIM), sua resistência é drasticamente reduzida, produzindo um caminho atrativo para as elevadas correntes que circulam pela linha durante a falta e protegendo os capacitores dos seus efeitos destrutivos. Na ocorrência de faltas internas, caso os limites de corrente ou energia dos MOV definidos durante o projeto sejam atingidos, o conjunto (BCS + MOV) é curto- circuitado pela ação do Spark Gap e em seguida, ocorre o fechamento do disjuntor de by-pass. No sistema sob análise, o cálculo das energias dos MOV apresenta característica peculiar, uma vez que devido à configuração do sistema de transmissão (circuitos paralelos, 50% da compensação série instalada em cada terminal), a falta interna para um dado BCS é falta externa para o BCS adjacente. Para o dimensionamento das energias associados aos MOV, foram realizados estudos de transitórios eletromagnéticos em ATP, considerando a aplicação de faltas externas e internas, nas configurações do sistema elétrico definidas pelo Edital [1], [3]. Fig. 2. Princípio de funcionamento da compensação série A. Considerações de Projeto Os valores das grandezas elétricas dos BCS objeto deste trabalho são indicados na Tabela I [3]. O tipo de proteção empregado em um sistema de compensação série é primordialmente definido através da simulação da aplicação e eliminação de faltas em linhas e subestações próximas e remotas. A seguir são fornecidos detalhes relativos ao projeto dos principais equipamentos que integram os BCS do Lote C, com ênfase na definição das características dos MOV. B. Metal Oxide Varistors (MOV) Para proteger os capacitores série contra sobretensões, os MOV devem atender aos requisitos dos ciclos de operação contínuo e de sobrecarga pós faltas, além de limitar a tensão terminal dos capacitores durante defeitos no sistema de transmissão. Conforme o Edital ANEEL[1], os MOV devem suportar o ciclo de sobretensão da Tabela II, sem ter que ingressar nas respectivas regiões de condução das suas curvas VxI. Fig. 3. Banco de capacitores série – diagrama unifilar TABELA I GRANDEZAS ELÉTRICAS DOS BCS DO LOTE C Linha Circuito Terminal X() INOM (A) ULIM (pu) ORX - SIL C1 Oriximiná 31,45 1900 2,28 ORX - SIL C2 Oriximiná 31,45 1900 2,28 ORX - SIL C1 Silves 31,45 1900 2,30 ORX - SIL C2Silves 31,45 1900 2,30 SIL – LEC C1 Silves 21,09 1840 2,25 SIL – LEC C2 Silves 21,09 1840 2,25 SIL – LEC C1 Lechuga 21,09 1840 2,26 SIL - LEC C2 Lechuga 21,09 1840 2,26 TABELA II CICLO DE SOBRETENSÃO DOS MOV LOTE C[3] Especificações ORX (kV) SLV I (kV) SLV II (kV) LEC (kV) Operação Contínua 1,0 pu 59,8 59,8 38,8 38,8 Sobretensão Freq. Fund. 8h 1,10 pu 65,7 65,7 42,7 42,7 Sobretensão Freq. Fund. 30min 1,35 pu 80,8 80,7 52,4 52,4 Sobretensão Freq. Fund. 10min 1,50 pu 89,6 89,6 58,2 58,2 Sobretensão por corrente de swing 10 seg 1,9 pu 113,5 113,5 73,7 73,7 Nos estudos realizados durante a elaboração do projeto básico do Lote C, foi analisada eventual influência da compensação série na manobra de religamento monopolar, concluindo-se não haver restrição à implantação do mesmo. Dois principais tipos de falta devem ser considerados no dimensionamento das energias dos MOV, conforme descrito a seguir. Faltas Externas: São aplicadas externamente à parcela da linha onde se encontram os BCS, delimitada pelos disjuntores de linha. Os MOV devem ser dimensionados para suportarem sem perda de vida útil a aplicação de tais faltas, pois o by-pass dos capacitores série não é permitido nesta situação [1]. Fig. 1. Composição dos lotes do sistema de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus [1] 3 Fig. 4. Diagrama Unifilar Simplificado da Rede Completa Representada nas Simulações em ATP Faltas Internas: São aplicadas no interior da parcela da linha onde se encontram instalados os BCS. Neste caso, é permitido o by-pass do BCS através do Spark Gap [1], que conduzirá em cerca de 1ms. Em seguida, se dará o fechamento do disjuntor de by-pass entre 30 e 40ms, concluindo a operação de by-pass dos BCS. Para determinação das energias dos MOV, faltas trifásicas à terra são aplicadas em pontos selecionados, com duração de 100ms. Para garantir que condição mais severa é obtida, o instante de aplicação da falta é variado com incremento de 6 ao longo de um ciclo da tensão de 500kV. A seguir são apresentados os resultados das simulações em ATP que propiciaram a definição das energias nominais dos MOV do Lote C. Os locais de aplicação de falta referem-se à Fig. 4. C. MOV das Linhas Oriximiná-Silves Faltas Externas Os resultados das simulações efetuadas indicam que a falta externa mais severa para os MOV situados nas linhas Oriximiná (ORX) - Silves (SLV) é aquela aplicada no barramento de Silves 500kV com uma das linhas paralelas fora de operação (Fig. 4). Os estresses mais severos decorrentes da aplicação desta falta para os BCS dos terminais de Silves e Oriximiná são resumidas na Tabela III, já incluindo-se margens de segurança de projeto de 15% para as correntes e de 10% para as energias acumuladas. TABELA III MÁXIMAS SOLICITAÇÕES PARA FALTAS EXTERNAS Grandeza Oriximiná Silves I Tensão no MOV (kVp) 187,0 190,0 Corrente no MOV (kAp) 6,5 6,9 Energia Acumulada (MJ) 11,1 12,5 Com base nos resultados da Tabela III, a proteção dos BCS pode ser ajustada para distinguir entre faltas internas e externas. Para os MOV dos BCS do terminal Oriximiná, o ajuste da proteção de sobrecorrente deve ser de 7,5kA, considerando 15% de margem de segurança de projeto, enquanto que o ajuste da proteção correspondente ao gradiente de energia deve ser de 12,2MJ / 100ms, considerando 10% de margem de segurança de projeto. Caso um destes valores seja atingido, a falta é considerada pelo sistema de proteção como interna e os sinais para disparo do Spark Gap em 1ms e posterior fechamento do disjuntor de by-pass são produzidos. Para os BCS do terminal Silves, lado Oriximiná, tais valores são de 7,9kA e 13,8MJ / 100ms. Faltas que produzam valores de corrente e energia inferiores aos aqui apresentados não deverão produzir o by-pass dos BCS por serem consideradas faltas externas. Faltas Internas Os resultados das simulações efetuadas indicam que a falta interna mais severa para os MOV situados nas linhas Oriximiná-Silves quanto ao critério de sobrecorrente é aquela aplicada nos terminais do capacitor, lado da linha, com a linha paralela fora de operação. As Figs. 5 mostram os resultados das referidas simulações para os BCS de Oriximiná. Fig. 5a. Terminal Oriximiná: Tensão no MOV para a falta interna mais severa quanto à sobrecorrente no MOV. Eixo vertical em kV Fig. 5b. Terminal Oriximiná: Corrente no MOV para a falta interna mais severa quanto à sobrecorrente no MOV. Eixo vertical em kA 4 Fig. 5c. Terminal Oriximiná: Energia no MOV para a falta interna mais severa quanto à sobrecorrente no MOV. Eixo vertical em MJ. A falta interna mais severa para os MOV situados nas linhas Oriximiná-Silves quanto ao critério de energia acumulada é apresentada nas Figs. 6. Fig. 6a. Terminal Oriximiná: Tensão no MOV para a falta interna mais severa quanto à energia acumulada. Eixo vertical em kV Fig. 6b. Terminal Oriximiná: Corrente no MOV para a falta interna mais severa quanto à energia acumulada. Eixo vertical em kA Fig. 6c. Terminal Oriximiná: Energia acumulada no MOV para a falta interna mais severa quanto à energia acumulada. Eixo vertical em MJ. A falta interna que produz a máxima energia acumulada no MOV aqui apresentada é trifásica à terra e aplicada a 135km do terminal Oriximiná, com o circuito paralelo em operação na configuração do sistema 2018. Com base nas simulações realizadas, as máximas solicitações a que são submetidos os MOV das linhas Oriximiná-Silves durante faltas internas são resumidas na Tabela IV. TABELA IV MÁXIMAS SOLICITAÇÕES PARA FALTAS INTERNAS Grandeza Oriximiná Silves I Nível de Proteção (kVp) 192,9 194,4 Corrente no MOV (kAp) 13,6 11,7 Energia Acumulada (MJ) 13,3 15,35 Os MOV devem suportar os estresses decorrentes da aplicação de duas faltas externas ou internas subseqüentes [1]. Isto requer valores de energia acumulada de 26,6MJ (2 x 13,3) para Oriximiná e 30,7MJ (2 x 15,35) para Silves I (lado Oriximiná), sem considerar a reserva de 25% [1]. As colunas de MOV reservas devem permanecer energizadas para manter as mesmas características de envelhecimento das demais. As curvas dos MOV aplicados nas linhas Oriximiná – Silves, sem considerar a reserva de 25%, são apresentadas nas Figs. 7 e 8. Fig. 7. Característica VxI dos MOV das linhas Oriximiná – Silves, terminal Oriximiná Fig. 8. Característica VxI dos MOV das linhas Oriximiná – Silves, terminal Silves D. MOV das Linhas Silves-Lechuga Com base na mesma seqüência descrita em II.C, as Tabelas V e VI apresentam as mais severas solicitações para faltas externas e internas para os MOV dos BCS instalados nas linhas Silves – Lechuga. A falta interna que produz a máxima corrente nos MOV é aquela aplicada nos terminais do capacitor, lado da linha, com a linha paralela fora de operação. A falta interna que produz a máxima energia acumulada no MOV aqui apresentada é trifásica à terra e aplicada a 90km do terminal Silves, na direção de Lechuga, com o circuito paralelo em operação, na configuração do sistema 2018. TABELA V MÁXIMAS SOLICITAÇÕES PARA FALTAS EXTERNAS Grandeza Silves II Lechuga Tensão no MOV (kVp) 120,0 121,0 Corrente no MOV (kAp) 7,2 7,3 Energia Acumulada (MJ) 7,7 8,1 5 TABELA VI MÁXIMAS SOLICITAÇÕES PARA FALTAS INTERNAS Grandeza Silves II Lechuga Nível de Proteção (kVp) 123,8 124,3 Corrente no MOV (kAp) 14,7 12,5 Energia Acumulada (MJ) 9,75 9,85 Os MOV devem suportar os estresses decorrentes da aplicação de duas faltas externas ou internas subseqüentes [1]. Isto requer valores de energia acumulada de 19,5MJ (2 x 9,75) para Silves II e 19,7MJ (2 x 9,85) para Lechuga, sem considerar a reserva de 25% [1]. As colunas de MOVreserva devem permanecer energizadas para manter as mesmas características de envelhecimento das demais. E. Capacitores Os capacitores dos BCS são projetados para suportar as correntes nominais e de sobrecarga estabelecidas em [1]. A Tabela VII apresenta um resumo das suas grandezas elétricas. Os capacitores são protegidos por MOV conectados em paralelo. Circuitos de amortecimento são instalados para limitar as correntes de descarga dos capacitores por ocasião do by-pass (Fig. 3). TABELA VII RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DOS CAPACITORES DOS BCS LOTE C Especificações ORX SLV I SLV II LEC Corrente Nominal (A) 1900 1900 1840 1840 Impedância () 31,45 31,45 21,09 21,09 Corrente Sobrecarga 8h 1,1 pu 2090 2090 2024 2024 Corrente Sobrecarga 30 min 1,35 pu 2565 2565 2484 2484 Corrente de swing 10 seg 1,9 pu 3610 3610 3496 3496 A Fig. 9 apresenta a disposição das housings de MOV de uma instalação semelhante às do lote C do sistema Tucuruí- Manaus. Fig. 9. Disposição dos capacitores e MOV na plataforma do BCS F. Circuito de Amortecimento Destina-se a efetuar a descarga do BCS durante a ocorrência de faltas internas, caso se verifique o by-pass dos mesmos. É conectado em série com os capacitores e através dele circula a corrente da linha de transmissão (Fig. 3). Este arranjo permite que as chaves seccionadoras de by-pass sejam abertas com tensão nula quando ocorre o by-pass do BCS, mesmo que através do disjuntor de by-pass circule a corrente nominal da linha. Para limitar o valor de pico da corrente de descarga do capacitor durante a operação de by-pass, um reator de 0,4 mH foi escolhido para os BCS de ORX e SLV I e um reator de 0,24mH foi escolhido para os BCS de SLV II (Silves, lado Lechuga) e Lechuga (LEC). Isto resulta em correntes de descarga com freqüências de, respectivamente, 866 Hz e 916 Hz. O amortecimento desejado é obtido através da introdução de um resistor de 4 (ORX e SLV I) e de 3 (SLV II e LEC) conectado em paralelo ao reator. O projeto deste circuito é efetuado de forma a atender ao especificado na Norma IEC142-2. Para evitar que a corrente de regime permanente circule através do reator, o que elevaria as perdas do conjunto, um gap auxiliar é conectado em série com o resistor, cujo disparo ocorre quando tensões associadas aos requisitos de sobrecarga dos capacitores surgem nos seus terminais. Desta forma, o resistor é inserido apenas durante a operação de descarga e não é necessário dimensioná-lo para operação em regime permanente. O referido elemento é dimensionado para suportar um ciclo de trabalho de duas descargas consecutivas. III. TESTES DE ACEITAÇÃO EM FÁBRICA O processamento das funções de proteção dos BCS do Lote C é feito por controladores digitais programáveis da família Simatic TDC (Technology and Drives Control). Cada rack possui 21 slots, onde são instalados os módulos de processamento, de entradas e saídas, comunicação e do sistema ótico de medição [5]. Fig. 10. Funções de proteção dos BCS integrantes do Lote C [5] Existem dois sistemas independentes e redundantes, que operam simultaneamente em condições normais, um definido como Master e o outro como Slave. O Master define quais parâmetros de instalação e ações do operador são válidas, executa os comandos e atualiza o Slave, caso seja detectada diferença entre eles. A comutação dos sistemas entre os estados Master e Slave pode ser feita manualmente pelo operador ou de forma automática, caso seja detectada falha no sistema Master. Caso haja falha em ambos os sistemas, ocorre o by-pass do BCS ou sua reinserção é bloqueda, caso esteja fora de operação. Exitem três estados possíveis para o BCS, a serem selecionados pelo operador: BCS by-passado, desconectado e aterrado. BCS conectado, porém by-passado. Housings dos MOV 6 BCS inserido e em operação. A Fig. 10 mostra as mais relevantes funções de proteção associadas aos BCS integrantes do Lote C. Neste item, é apresentado uma descrição dos testes de aceitação em fábrica (Factory Acceptance Tests – FAT) dos sistemas de proteção e controle dos BCS do Lote C do sistema Tucuruí – Manaus [4]. Para a realização dos testes, não é necessária a representação do sistema elétrico de potência, sendo os paineis reais dos BCS conectados a caixas de teste que simulam os eventos associados à atuação das proteções objeto de cada teste. A. Proteções do Capacitor Série Este grupo é formado pelas seguintes funções: Alarme de Desbalanço, Desbalanço Nível Baixo, Desbalanço Nível Alto e Sobrecarga. A atuação das três últimas funções provoca o by-pass do BCS. A proteção de sobrecarga procura cobrir situações onde correntes elevadas, mas inferiores às correntes de curto-circuito, circulam pelos capacitores. Em tais casos, não haverá condução de corrente pelos MOV, mas o capacitor deve ser protegido dos efeitos da sobrecarga. Esta proteção é implementada através da produção de um sinal que comanda diretamente o fechamento do disjuntor de by-pass, sem requerer a ação do Spark Gap. B. Proteções do Metal Oxide Varistors (MOV) Este grupo é formado pelas seguintes funções: Alta Corrente no MOV, Sobretemperatura e Gradiente de Temperatura no MOV, todas produzindo o by-pass dos BCS. A proteção Alta Corrente no MOV produz o by-pass do conjunto quando a corrente do MOV atinge seu valor limite devido à ocorrência de uma falta nas proximidades do equipamento (falta interna). Enquanto isso, a proteção Sobretemperatura produz o by-pass por energia, que se dá durante uma falta interna remota, nos moldes do apresentado no item II deste trabalho. Nesta situação, a ordem de by-pass será produzida quando a temperatura dos housings do MOV (Fig. 9) de cada fase atingir 160C. Este valor é calculado através do modelo térmico do MOV elaborado pelo Fabricante e que leva em consideração, dentre outros, os seguintes parâmetros: Número de housings por fase, mínimo 7 e máximo 9. Número de colunas em paralelo por housing (3). Número de discos de MOV em série por coluna (13). Energia nominal do conjunto por fase, determinada a partir dos estudos sistêmicos (item II). A partir daí, é construído o modelo térmico do MOV e definidos os seguintes parâmetros: Temperatura máxima do MOV por fase, a partir da qual será produzido o sinal de by-pass para o Spark Gap, definida em 160C para os MOV do Lote C. Temperatura máxima na qual poderá ocorrer a reinserção dos BCS, definida em 105C para os MOV do Lote C. Uma vez atingida a temperatura de by-pass, o tempo necessário para o resfriamento e conseqüente reinserção do BCS poderá chegar a algo em torno de duas horas. A proteção Gradiente de Temperatura do MOV identifica variações anormais de temperatura dos MOV, provocadas por correntes de curto insuficientes para fazer com que os limites de corrente e energia definidos para by-pass sejam atingidos. C. Proteções do Spark Gap O Spark Gap destina-se a proteger o MOV contra sobrecargas durante a ocorrência de faltas internas. O sistema de proteção efetua o disparo do Spark Gap nas seguintes situações: A magnitude da corrente no MOV é superior ao valor definido para a mais severa falta externa. A temperatura do MOV atinge seu valor limite, indicando que o limite de energia acumulada no MOV foi atingido. As seguintes proteções produzem o bloqueio da reinserção dos BCS: Autodisparo: Spark Gap disparando sem a geração do comando correspondente pelo sistema de proteção. Condução prolongada: Tempo de condução do Spark Gap superior ao máximo estabelecido em projeto, indicando eventuais problemas no fechamento do disjuntor de by-pass. Atraso ou Recusa no Disparo: Identifica problemas no sistema de geração do comando de disparo do Spark Gap. IV. CONCLUSÕESa. Os testes de aceitação de fábrica dos sistemas de proteção dos BCS do Lote C, realizados integralmente no Brasil, foram concluídos com sucesso, tendo sido comprovado o atendimento integral dos requisitos de especificação. b. É apresentado o roteiro utilizado para definição das energias dos MOV dos referidos BCS, requisito fundamental para o dimensionamento dos referidos equipamentos. c. São apresentadas as principais características nominais dos equipamentos que integram os BCS do Lote C do Sistema Tucuruí-Manaus. d. Os elevados valores de energia calculados para os MOV devem-se em grande parte ao elevado grau de compensação utilizado (70% em cada trecho) e à peculiar localização dos BCS, onde a falta interna para um deles representa uma falta externa para o outro. V. REFERÊNCIAS [1] Edital de Leilão n 004/2008-ANEEL, ANEXO 6C – LOTE C – Interligação Tucuruí – Macapá – Manaus: Trecho Oriximiná – Cariris (Manaus), disponível em www.aneel.gov.br. [2] Anderson, P. and Farmer, R., Series Compensation of Power Systems, PBLSH! Inc. Califórnia, USA, 1996, pp. 347-369. [3] Kunal Sharma, ―Tucuruí-Manaus Lote C Basic Design Report‖, 100404_Tucuruí-Manaus_LOT C_Basic_Design_Rev3, Maio 2010. [4] Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus - Bancos de Capacitores Série – Sistema de Controle e Proteção – Relatório de Testes de Aceitação em Fábrica (FAT), (4) G60105 – A0225 – U0004, Junho 2011. [5] Interligação Tucuruí-Macapá-Manaus – Subestações Oriximiná-Silves- Lechuga – Bancos de Capacitores Série – Sistema de Controle e Proteção – Descrição do Fornecimento, (4) G60105 – A0225 – R0001, Agosto 2009.
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