Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
41 A arte depois da Grécia Antiga A arte romana Roma constituiu-se no maior império da Antiguidade e, no auge de seu esplendor, se esten- deu da costa mediterrânea do Oriente Médio, passando pelo norte da África, Península Ibérica, Gália (hoje França), Bretanha, parte da Germânia, Macedônia, península Ática (Grécia) e, é claro, a península Itálica. Em vários desses lugares a influência cultural imposta pelo império foi tão grande que neles nasceram as línguas latinas, que nada mais eram do que o latim (língua dos romanos) diluído com os elementos linguísticos de cada região. Da derivação do latim nasceram o português, o espanhol, o francês, o romeno e o italiano. GréciA AnTiGA Fonte: Arte nos séculos. São Paulo: Abril Cultural, 1969. p. 270. v. 15. 0 440Km Escala gráfica aproximada IE S D E B ra si l S .A . A da pt ad o. A partir de tantas conquistas e absorvendo elementos de culturas mais antigas, a arte roma- na serviu de fundamento para vários movimentos artístico posteriores. Para a história da arte, o fato de os romanos terem adotado a cultura grega como referência para construção da sua própria cultura fez com que as duas civilizações passassem a ser denominadas de Antiguidade Clássica. No início de suas conquistas, os roma- nos absorveram intensamente a cultura grega; seus navios, chamados de Galeões, chegavam da Grécia carregados de mármore e bronze. Essas peças tinham a função de ornamentar os fóruns romanos e a partir desses originais os artistas romanos faziam cópias. Mais tarde, entretanto, eles gerenciaram seus talentos e deram toques de brilhantismo e inovação à arte intelectualizada dos gregos. Dessa forma, os romanos desenvolveram particularidades e conquistaram uma linguagem artística própria. Esse reflexo pode ser percebi- do no tratamento que eles deram aos deuses gregos, que mantiveram sua significação e sua importância, mas foram rebatizados: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 42 Zeus, o chefe dos deuses, tornou-se Júpiter; Afrodite, deusa do amor, tornou-se Vênus; Atena, deusa da sabedoria, virou Minerva; Apolo, deus da beleza e perfeição, Phebo; Ares, deus da guerra, Marte; Eros, deus do amor, Cupido; e assim por diante. A relação dos diferentes povos com cada um dos deuses dizia muito sobre esses povos. Diferentes cidades gregas tinham predileção por deuses diferentes. Atenas adotou Atena como sua padroeira, deusa da sabedoria e da guerra. Em Roma, era grande o culto ao deus Marte, que também era um deus da guerra, mas, dizia-se, ridicularizado pelos outros deuses do Olimpo pela sua falta de perspicácia. Ele representava um lado mais agressivo e menos estrategista da guerra, que agradava mais aos romanos que aos atenienses. Analisando as esculturas romanas que ve- mos a seguir, podemos observar a progressão de temas e técnicas. Ao se afastar do Hele- nismo (cultura derivada da Grecia Antiga), os romanos desenvolvem técnicas diferenciadas retratando temas relacionados diretamente ao seu contexto. Vênus de Médici, século II a.C. Florença, Galeria Delli Uffizi. Mármore. D om ín io p úb lic o. D om ín io p úb lic o. Busto de Romano, 27 a.C. Roma, Palazzo Barberini. Bronze. D om ín io p úb lic o. Imperador Augusto, 14 d.C. Museu do Vaticano. Mármore. A primeira escultura, a Vênus de Médici (século II a.C.), traz toda a referência do Hele- nismo Grego. As duas outras são típicas mani- festações artísticas romanas. A técnica apurada e a observação da natureza vão determinar o Coluna Trajana e detalhe, 113 d.C. Roma. D om ín io p úb lic o. D om ín io p úb lic o. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 43 talento dos romanos para os retratos, como o Busto de Romano, em que observamos o re- gistro da biografia dos indivíduos no seu rosto (rugas, expressão, particularidades, enfim, a personalidade do retratado que se revela). No terceiro exemplo vemos outro tema constante da escultura romana, seus imperadores, nesse caso, Augusto, o primeiro e o mais retratado imperador romano. Na verdade, os romanos retratavam, em sua arte, uma maior funcionalidade do que os gregos pretendiam. A Grécia era famosa por sua idealização da beleza e intelectualidade exacerbada; isso é o que podemos observar na influência da primeira estátua analisada anterior- mente, datada do século II a.C. Ao observar as duas estátuas posteriores, percebemos o reflexo de um povo romano que era guerreiro, fundador do maior império de todos os tempos. A produção em série de bustos de mili- tares, políticos e imperadores era uma carac- terística romana. Essas peças serviam para adornar os prédios públicos de toda a Europa, reafirmando o poderio militar e a presença polí- tica dos romanos. Outra tarefa executada pelos artistas romanos era a construção de colunas para proclamar as vitórias militares e contar suas histórias, fato herdado do antigo Oriente. A imagem ao lado narra uma das vitórias de Trajano (53-117 d.C.). As colunas eram monumentos com baixos- relevos e serviam para retratar episódios do governo dos imperadores, em uma linguagem descritiva, próxima à dos quadrinhos de hoje. Essa espécie de monumento continha relevos narrativos e ficava exposta no Fórum para que vi- sitantes e habitantes pudessem reverenciá-la. A Coluna Trajana (113 d.C.) comemora a vi- tória do imperador Trajano na Dácia. No detalhe, vemos episódios dessa história apresentados de forma sequenciada. Ela tem a altura de um edifício de dez andares e originalmente tinha em seu cume uma estátua dourada do imperador Trajano, que foi substituída no século XVI por uma estátua de São Pedro1. Uma grande contribuição da arte romana para a humanidade foi a arquitetura. Seus construtores além de desenvolverem novas formas arquitetôni- cas, foram os primeiros a usar o concreto, fato que possibilitou a construção de grandes monumentos, como os que vemos na sequência. 1 Essa prática ocorreu em alguns importantes monumentos da arte romana, pois quando a Igreja Católica tornou-se uma grande força política na Europa, tratou de apoderar-se de monumentos já existentes e deixar sua marca religiosa. D om ín io p úb lic o. Busto de Romano, 27 a.C. Roma, Palazzo Barberini. Bronze. D om ín io p úb lic o. Imperador Augusto, 14 d.C. Museu do Vaticano. Mármore. A primeira escultura, a Vênus de Médici (século II a.C.), traz toda a referência do Hele- nismo Grego. As duas outras são típicas mani- festações artísticas romanas. A técnica apurada e a observação da natureza vão determinar o Coluna Trajana e detalhe, 113 d.C. Roma. D om ín io p úb lic o. D om ín io p úb lic o. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 44 Maison Carrée, século I. Nimes, França. D om ín io p úb lic o. Na Arquitetura, foram realizados templos, como o Maison Carrée (século I) em Nimes, França, que dão continuidade à tradição grega, em estilo coríntio-romano. As guerras tornaram Roma imensamente rica e os templos eram or- namentados em ouro com requintes de grandes palácios. O palácio de Nero, por exemplo, era conhecido como a residência mais extraordinária da cidade. Também chamada de Casa de Ouro, tinha um pórtico de 1 600 metros de comprimento e, para termos uma ideia dos requintes da época, no salão de banquetes havia um mecanismo para borrifar perfume durante as refeições. Teatro em Orange, século I. (S TR O N G , 1 9 6 6 , p. 1 6 5 ) Os teatros também seguem a tradição grega aperfeiçoada, como o Teatro Orange (século I), que encontra-se em uma província francesa e foi construído pelo Imperador Augusto. Tem mais de 100 metros de comprimento e entrou na lista da Unesco como patrimônio da humanidade. Talvez nenhuma outra obra de arquitetura tenha causado tanto impacto até os dias atu- ais quanto aarena do Coliseu de Roma. Ele é constituído de três ordens de arcos sobrepostos que tinham a função de sustentar os assentos do teatro. O Coliseu é o maior exemplo da ha- bilidade dos arquitetos romanos em sustentar um pesado auditório sobre arcadas e abóbadas. Esse estilo desenvolvido pelos romanos seguirá pela Idade Média, mesmo depois da queda do Império Romano do Ocidente. Se olharmos ou- tras maravilhas arquitetônicas da humanidade, seguramente veremos influência desse marco da arquitetura em muitas de suas estruturas. Coliseu de Roma, 70-80 d.C. Ju pi te r Im ag es /D P I Im ag es . Arco de Sétimo Severo. A le xa nd re Z . Como as colunas serviam para celebrar as conquistas (vitórias bélicas) dos imperadores, seu formato foi reutilizado por Napoleão, na França (século XVIII) para celebrar suas vitórias, construindo, em 1836, o famoso Arco do Triunfo de Paris. Um exemplo das realizações romanas é o Arco de Sétimo Severo, mostrado acima. Ele foi edificado para comemorar o aniversário de ascensão de Lucio Sétimo Severo em 203 d.C., Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 45 No ano 165, há registros de que o império foi atacado por uma epidemia que matou 1/3 da população. Enfraquecidos e tocados pela con- duta fraternal dos cristãos, os romanos foram progressivamente convertidos, até que no ano de 313 o cristianismo torna-se a religião oficial do Império Romano. As primeiras esculturas e relevos de Jesus não o representam na cruz, símbolo que vai tomar força na Idade Média. Entretanto, poste- riormente, a arte cristã foi totalmente permeada por simbologias. A seguir podemos perceber nas palavras da historiadora Gina Pischel o clima que atravessava esse momento da história e a força da representação simbólica da época: No primeiro momento do pensamento cristão, a arte, como a ciência e a filosofia, enquanto expressão divina, apresentam uma linguagem simbólica. Os afrescos das catacumbas, os ciclos dos mosaicos nos batistérios e basílicas, as esculturas figurativas, não demonstram o real significado simbólico que eles encerram. Pomba, símbolo da paz eterna; anjo, simbolizando a pureza isenta de pecado; fênix representando a ressurreição à imortalidade, são – como peixe que em grego, tem as iniciais de Cristo, Filho de Deus, Salvador – os temas mais comuns. (PISCHEL, 1966, p. 143) Na primeira escultura vemos um retrato de Cristo dos primeiros séculos de sua era. O alto- relevo de um sarcófago (tú- mulo) retrata passagens do Velho e Novo Testamento: sacrifício de Abraão, prisão de São Pedro, Cristo en- trega seus mandamentos a São Pedro e o julgamen- to de Pilatos. Esses são importantes exemplos da intenção narrativa e sim- bólica da arte cristã. (L A S S U S , 1 9 6 6 , p. 1 5 ) Sarcófago Colunar, século IV. Roma, Museu de Latrão. um vitorioso Imperador Romano. No topo dessa construção havia uma inscrição que dedicava o Arco a Sétimo e seus filhos, entretanto, após sua morte, seu filho, Caracalla, matou o irmão Geta e retirou seu nome. Portanto, os Arcos são considerados criações dos povos romanos. O teatro romano não conheceu a populari- dade e o esplendor do teatro grego. As tragédias gregas foram relidas pelos romanos eruditos que adaptaram os textos de um dos maiores autores que foi Sêneca (5 a.C-65 d.C). Os textos trágicos dificilmente eram encenados em Roma, sendo geralmente apresentados em leituras. A comédia foi um gênero mais presente e difundido. Nessa área apareceram alguns gran- des autores, os mais famosos que chegaram até nós são: Plauto (254 a 184 a.C.) e Terêncio (185-159 a.C.). Os mimos eram artistas popula- res de feiras que, além de atores, eram também malabaristas e acrobatas; eles garantiam o entretenimento da plebe. A ascensão da Igreja na Idade Média Convencionalmente foi estabelecido que a Era Antiga (antes de Cristo) é separada da Era Moderna (depois de Cristo) pelo Nascimento de Jesus. Entretanto, não há um demarcador espe- cífico para essa época ou para a história da arte, pois não há um evento artístico que represente essa mudança. Mas, sem dúvida, a religião cris- tã pode ser tomada como mudança essencial na história da humanidade e isso se confirma na representação artística da época. Na sequência, apontaremos as principais tendências artísticas de uma era impulsionada pela fé. Jesus pregou na Palestina, domínio romano na época, e desagradou tanto os hebreus quanto os romanos. Ambos não aceitavam a ideia de um deus único, (Messias), pois essa crença opunha-se ao politeísmo dos deuses olímpicos. Então os cristãos, nos seus dois primeiros sécu- los de história, sofreram grande perseguição. Cristo, século IV. Roma, Museo delle Terme. (S TR O N G , 1 9 6 6 , p. 1 6 5 ) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 46 A arte da Igreja na Idade Média Depois da queda do Império Romano do Ocidente, a Europa ficou sem poder centraliza- do. Ernest Gombrich (1999), historiador da arte aponta que os germânicos, embora tivessem o desejo de tomar para si a cultura clássica dos romanos, não tinham condições de compreendê- -la em sua elaboração. Para esse mesmo his- toriador, os mil anos de permanência da Idade Média (século V a XV) foram marcados por tentativas sucessivas de restaurar a civilização clássica em novos moldes e com uma nova in- fluência, a da Igreja Católica. Entretanto, essa pretensão foi alcançada apenas mais tarde, na Renascença (século XIV-XVI). Sem um centro de poder, as regiões tive- ram de se manter sozinhas. Nessas pequenas regiões aos poucos apareceram lideranças, formadas pelos “mais fortes” ou por antigos nobres regionais que conseguiram manter o seu poder local. Era o sistema feudalista que se ins- talava: os senhores feudais formavam pequenos exércitos e eram mantidos pelo trabalho dos camponeses, que cediam parte da sua produção em troca de sua proteção. Era uma negociação de quem detém poderes e influências. A Igreja se aproximou desses senhores e, oferecendo um “lugar no céu”, conquistou pri- vilégios e poderes, tornando-se a grande força da Idade Média. Assim, a arte produzida nessa segunda metade da Idade Média foi a arte da Igreja. As igrejas tornaram-se o centro da vida social nas cidades na Idade Média, portanto a arquitetura desenvolveu-se enormemente e iniciaram-se os primórdios da arte bizantina2. Assinala-se nessa época o início do afastamento dos artistas do estilo greco-romano: Nunca teria sido possível à arte da corte bizantina tornar-se cristã por excelência se a própria Igreja não se tivesse convertido em uma autoridade absoluta e não se sentisse senhora do mundo. Em outras palavras, o estilo Bizantino só foi capaz de se firmar onde havia arte cristã, porque a Igreja Católica no Ocidente desejava chamar para si o poder que o im- perador já tinha em Bizâncio. O objetivo artístico era 2 O Império Bizantino refere-se desde o ano de 330 até a queda de Constantinopla em 1453. o mesmo em ambos os casos: a arte deveria ser a expressão de uma autoridade absoluta, de grandeza sobre-humana e mística inacessibilidade. (HAUSER, 1998, p. 135) A arte bizantina tinha um forte apelo emocio- nal que carregava consigo certo mistério para, de alguma forma, compensar a insuficiência técnica de suas esculturas, pois estas não tinham ne- nhuma função de embelezamento, mas de sim- ples contemplação: “Foi na França que as igrejas românicas começaram a ser decoradas com esculturas, embora a palavra decorar, também nesse caso, seja um tanto enganadora. Tudo o que pertencia à igreja tinha sua função definida e expressava uma ideia precisa, relacionada com os ensinamentos da Igreja”(GOMBRICH, 1999, p. 176). Num segundo momento, o mundo bizantino teve, em sua estrutura, uma amarga controvérsia a respeito da utilização de pinturas realistas em seus trabalhos e isso mudouo rumo da repre- sentação humana na arte da época: Em 730, o imperador Leão III decretou a ilegalidade de qualquer imagem de Cristo, da Virgem ou de qualquer anjo ou santo que tivesse a forma humana. O decreto conferiu poderes ao militares religiosos, conhecidos como iconoclastas (destruidores de imagens), que velaram para que durante mais de um século, a arte religiosa se restringisse a imagens não humanas, como folhas e padrões abstratos. (BECKETT, 1994, p. 27) O império Bizantino tornou-se o centro de uma brilhante civilização combinando a arte pri- mitiva cristã e a tendência oriental que impunha cores e brilhos em sua decoração. O próximo passo nessa caminhada vem a ser o surgimen- to do estilo Românico, que toma emprestado alguns elementos da arquitetura romana. O estilo Românico desenvolveu-se no século X derivado dos princípios da arquitetura romana (paredes e colunas robustas, arcos e abóbadas), mas buscando mais verticalidade, o “olhar para as alturas”. No entanto, as catedrais não dei- xavam de ser verdadeiras fortalezas feitas para resistir a ataques de inimigos. A partir do século XII, com o poder da Igreja firmado em quase toda a Europa, foi possível a evolução para o estilo Gótico, que, com novas técnicas (arcos em ogiva, arcobotantes e con- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 47 trafortes), permitiu ampliar o espaço interno das catedrais, aumentando sua leveza e luminosida- de. Com esses elementos, o Gótico tornou-se um estilo internacional. O auge desse estilo se deu com a constru- ção de catedrais com estruturas elaboradíssi- mas, o que tornou possível chamá-las de “Bíblias de pedra”. A evolução das técnicas arquitetô- nicas permitiu a troca de paredes grossas e pequenas janelas por enormes vitrais inundando a atmosfera de luz e trazendo para os fiéis uma mostra da grandiosidade do poder divino. Na sequência, vemos exemplos significati- vos dos dois estilos. Percebe-se que na Catedral de Toulouse, representante do estilo Românico, a busca pela verticalidade exigiu uma estrutura pesada, caracterizada pelos arcos de susten- tação, colunas e paredes robustas, em detri- mento das janelas, que são muito pequenas. Na Catedral de Troyes, construída dois séculos mais tarde, em época de plena expansão do estilo Gótico, observamos os arcos em ogiva, a ampliação do espaço interno e uma estrutura mais leve, abrindo espaço para que os grandes vitrais favoreçam a iluminação interna. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 5 0 ) Catedral de S. Saturnino de Toulouse, século XI. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 5 0 ) Catedral de Troyes, século XIII. No quadro a seguir são apontadas as prin- cipais diferenças entre os dois estilos: românico Gótico elevação Altura média Altura elevada Planta Vários espaços Espaço único Arco Redondo Ogival (pontiagudo) suporte Paredes grossas Colunas vazadas Atmosfera Escuro e solene Iluminado e leve Aparência Severa Ricamente decorada Tendência Horizontal Vertical A pintura medieval As pinturas medievais resumem-se a painéis das igrejas e iluminuras (ilustrações dos livros sagrados) e vão retratar os temas da Igreja Cató- lica: passagens bíblicas, a vida dos santos e os horrores do inferno. As pinturas também tinham a função de valer-se como elemento auxiliar no ensino, para que a população analfabeta tivesse acesso aos ensinamentos cristãos. Os ícones3 eram realizados para mostrar a importância da contemplação e da oração, dessa forma, pre- 3 Ícone: espécie de arte pictórica com finalidade religiosa. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 48 servando a memória cristã. A pintura cristã teve seu início na Itália e teve um lento desenvolvimento, mas sempre deixou evidente a intenção de ostentar elegância e expressar espiritualidade. Os dois exemplos a seguir trazem cenas do Velho e Novo Testamento. A iluminura do ano de 1250 ilustra a embriaguez de Noé, a construção da torre de Babel, o sacrifício de Isaac e o cativeiro no Egito. Já o painel de Duccio mostra a traição de Judas e a Agonia no Horto. Interessante observar a ausência de perspectiva nas obras, que será descoberta somente a partir do século XV. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 1 2 3 ) Página do Velho Testamento, 1250. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 1 4 7 ) Painel da Maestà, 1311. Duccio. Siena, Museo del´Opera del Duomo. As primeiras iluminuras faziam parte da arte dos povos nômades que se converteram ao cristianismo e eram realizadas em pequenas di- mensões para que fossem fáceis de transportar. Esses artefatos, feitos em pergaminho de pe- quenas dimensões e de formas delicadamente encantadoras, eram fruto da disciplina imposta pela Igreja aos olhos treinados dos artífices da Idade Média. Os painéis, por sua vez, eram tra- balhados em madeira e tinham igual interesse em contar histórias de forma didática com traços e maneiras delicadas e sinuosas. Percebemos no decorrer de nosso estudo que as artes plásticas estavam submetidas à arquitetura das grandes igrejas. Dessa forma, prospera a arte dos vitrais que eram elementos igualmente usados para narrar cenas religiosas. A seguir observamos um vitral da catedral de Poitiers, na França, que traz o tema da Crucifi- cação. Nas esculturas dos cinco Profetas que decoram a fachada da catedral de Estrasburgo, observamos como a valorização das vestes e dos cabelos contrasta com o desinteresse pelo corpo dos retratados, característica típica da arte religiosa medieval. Vitral da catedral de Poitiers, século XII. D om ín io p úb lic o. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 49 Profetas, século XIII. Pórtico da catedral de Estrasburgo. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 1 4 4 ) A seguir, observamos como dois temas re- correntes na arte religiosa medieval são retrata- dos de forma espontânea e viva no relevo gótico alemão. Na Santa Ceia da catedral de Naumberg, todas as seis figuras aparecem entretidas, com gestos efêmeros e naturais. No Juízo Final da catedral de Bamberg, a ênfase aparece na rea- ção emocional dos condenados, dando um tom burlesco e inovador à obra. Santa Ceia, século XIII. Catedral de Naumberg. (K ID S O N , 1 9 6 6 , p. 1 1 8 ) Juízo Final, século XIII. Catedral de Bamberg. D om ín io p úb lic o. A Igreja julgava que o teatro fazia concorrên- cia às missas. Assim, ele foi muito perseguido. Há registros de concílios (decretos da igreja católica) do século VII que determinavam que atores não poderiam receber a comunhão. Outro concílio dizia que sacerdotes que assistissem a apresentações teatrais seriam expulsos da Igreja. Assim, os mimos (artistas populares de teatro) mantêm-se de modo discreto durante toda a primeira metade da Idade Média. No século XIII a Igreja toma o teatro como meio para catequizar e conquistar fiéis: são os Mistérios, ou Autos Sacramentais. Os atores geralmente eram recrutados entre os padres de determinada paróquia e as apresentações aconteciam nos pátios das igrejas. Os títulos de alguns autos: “Mistério dos Reis Magos”, “Milagres de Nossa Senhora”, “A Ressurreição de Lázaro”, “O Nascimento do Senhor” etc. O fim da Idade Média A partir do século XIV um movimento teatral importantíssimo estava nascendo na Itália: a Commedia dell’Arte. Artistas populares que es- tavam dispersos começaram a se reunir e formar companhias que apresentavam comédias com grande apelo popular. As companhias viajavam geralmente em carroças, que também serviam de palco, pelas cidades da Itália e do resto da Europa. A Commedia dell’Arte, pelas suas origens populares, tem como característica a comunica- ção intensa com o público. A maioria dos atores era analfabeta, então os textos, na verdade, eram roteiros das situações que a peça deveria contar e as cenas se desenvolviam com muita improvi- sação. Os personagenseram representativos da luta de classes da época: havia o criado esperto (Arlequino), os enamorados, o velho rico rabu- gento (Pantalone), a cortesã, o falso intelectual (Dottore), o valentão trapalhão (Capitano) e ou- tros. As peças mudavam seu enredo básico, mas contavam sempre com os mesmos personagens. Os atores se especializavam em determinado personagem ao longo de suas carreiras. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 50 Arlequino. D om ín io p úb lic o. Pantalone. D om ín io p úb lic o. Dottore. D om ín io p úb lic o. Capitano. D om ín io p úb lic o. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 51 A Commedia dell’Arte sobreviveu durante os séculos XV a XVIII, mas influenciou profundamente toda comédia produzida durante essa época e de- pois dela. A estrutura dos personagens é usada em peças e filmes até os dias atuais. Com o Carlitos de Chaplin e o Didi Mocó de Renato Aragão, temos exemplos de personagens que nasceram do Arle- quino, o criado simples, malandro e esperto. Para saber mais O simbolismo das cores (ECO, 2004, p. 121) A Idade Média acredita que cada coisa no universo tem um significado sobrenatural e que o mundo é um livro escrito pela mão de Deus. Cada animal tem uma significação moral ou mística, assim como cada pedra e cada erva (e isso é narrado nos bestiários, lapidários e herbários). É costume atribuir valores positivos ou negativos também às cores, embora os estudiosos por vezes se contradigam sobre a significação desta ou daquela cor, por duas razões principais: antes de mais nada, para o simbolismo me- dieval cada coisa pode ter dois significados opostos segundo o contexto em que é vista (assim, o leão pode significar às vezes Cristo e às vezes o Demônio); e em segundo lugar, a Idade Média durou quase dez séculos, e num período de tempo tão longo verificam-se mudanças nos gostos e nas convicções acer- ca de tais significados. Durante os primeiros séculos, o azul-escuro foi considerado, junto com o verde, uma cor de escasso valor, pro- vavelmente porque ainda não se conseguia obter azuis vivos e brilhantes e, portanto, as roupas ou as imagens azuis tinham uma aparência desmaiada e pálida. A partir do século XII o azul torna-se uma cor apreciada: basta pensar no valor místico e no esplendor estético do azul dos vitrais e das rosáceas das catedrais, que domina sobre as outras cores e contribui para filtrar a luz “celestial”. Em certos períodos e em certos lugares, o negro é a cor dos reis, em outros é a cor dos cavaleiros misteriosos que ocultam a própria identidade. Note-se que nos roman- ces do ciclo de Rei Arthur os cavaleiros de cabelos ruivos são vis, traidores e cruéis, mas apenas alguns séculos antes disso, Isidoro de Sevilha dizia que entre os cabelos mais belos estavam os loiros e os ruivos. Dicas de estudo Assista ao filme O Nome da Rosa. Você terá uma visão panorâmica da sociedade da época e poderá conferir, principalmente, a arquitetura românica que estudamos até agora. Baseado no romance de mesmo nome escrito por Umberto Eco, essa obra discute a transição da Idade Mé- dia para a Modernidade. O filme mostra a história de estranhas mortes que ocorrem num mosteiro italiano durante a Idade Média, onde as vítimas aparecem sempre com a língua e os dedos ro- xos. A chegada de um monge para investigar os crimes revela os verdadeiros motivos das mortes e a instalação de um tribunal da Inquisição. No site <www.musee-moyenage.fr/> você terá acesso às mais belas imagens da arte medieval. O Museu de Cluny, também chamado de Museu Nacional da Idade Média dedica-se a preservar a maior coleção de arte medieval da França e provavelmente a maior do mundo. Fun- dado em 1843, foi residência do colecionador Alexandre du Sommerard e guarda objetos desde a Roma Antiga até o século XVI. Exercícios de aplicação As imagens a seguir são da Catedral de 1. Curitiba, construída entre 1876 e 1893, em estilo neogótico. Observando atentamente, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 52 percebemos elementos em comum com as catedrais góticas medievais. Identifique esses elementos. Catedral de Curitiba. Frente. P au lo Y uj i T ak ar ad a. Catedral de Curitiba. Interna. D om ín io p úb lic o. Catedral de Curitiba. Lateral. D iv ul ga çã o P re fe it ur a de C ur it ib a. O Arco do Triunfo é um monumento, loca-2. lizado na cidade de Paris, construído em comemoração às vitórias militares de Napo- leão Bonaparte, que inaugurou-o em 1836. Fale sobre o surgimento dos arcos e para que serviam. Arco do Triunfo, Paris. D om ín io p úb lic o. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 53 Gabarito Exercícios de aplicação Arcos em ogiva, colunas vazadas, interior 1. amplo, leve e ricamente decorado e a pre- sença de vitrais. Os Arcos são criações dos romanos. Ser-2. viam para celebrar as conquistas (vitórias bélicas) dos imperadores. Um exemplo das realizações romanas é o Arco de Sétimo Severo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 54 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Compartilhar