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97 Música, a arte sempre presente A palavra música tem sua raiz na palavra grega mousikós, que na Antiguidade fazia refe- rência às musas e a qualquer vínculo humano com a inspiração artística. Entretanto, ao longo da história, essa palavra ficou limitada a toda a forma de criação artística relacionada à combi- nação dos sons. Ao coordenar os sons, o homem consegue produzir fenômenos acústicos em vários as- pectos, dos mais simples e primitivos como as músicas tribais1 até os sons das grandes sinfô- nicas. A música tem o poder de unir as pessoas e consegue chegar a todos os lugares. Ela está presente em todas as culturas e por vezes está apoiada apenas na tradição oral. Mesmo assim, ela consegue resistir ao tempo e mostrar as particularidades de cada povo. Aqui no Brasil temos vários exemplos de musicalidade, como o samba e a bossa-nova que estão entre os temas do capítulo. Veremos também como o som é produzido, as diversas formas de música, a representação gráfica do som e os cinco elementos que definem o som e a música. É importante conferir o que o estudioso na área musical, Bruno Kiefer, escreveu no Pre- âmbulo de seu livro, Elementos da Linguagem Musical: A música-arte é, entre outras coisas, uma linguagem. Para entendê-la, precisamos, antes de mais nada, ouvir ativamente. Mas só isso não basta. Precisamos ter um mínimo de conhecimento para entendê-la. Afinal de contas estudamos Português durante anos, lendo críticas e documentários sobre cinema com o intuito de aprofundar a nossa compreensão, por que a música haveria de fazer distinção? Se uma análise da Nona de Beethoven poderia nos revelar, muito além da personalidade do autor, aspectos essenciais da 1 Músicas tribais fazem parte de um gênero que emergiu ou foi influenciado pela cultura africana. As músicas tribais africanas, por exemplo, no caso do Brasil foram trazidas pelos escravos na época da colonização. Como tendências genuinamente tribais podemos citar o Axé, Funk, Rap, Maracatu e o Reggae. cultura de seu tempo, com todo o condicionamento histórico que remonta à Idade Média, por que então pretender que uma audição ingênua, destituída de qualquer conhecimento de música como arte, permita aprender o que essa obra tem de profundo e original? (KIEFER, 1979, p. 18) Kiefer acredita que é fundamental certa dose de conhecimento musical para poder usu- fruir de uma obra musical. Também acreditamos nisso e vamos ajudá-lo a entender e se aproximar da música através desse trabalho. Para tanto, vamos evitar ao máximo os aspectos técnicos e procurar fazer desse capítulo uma produtiva reflexão pelos caminhos musicais. O que é o som? O som é o resultado da propagação de ondas formadas pela vibração de algum tipo de objeto. No caso da música, esses objetos são os instrumentos musicais, por exemplo: as cordas de um violão ou a pele de um tambor. Em outras palavras, quando um objeto vibra, ele movimenta o ar ao seu redor, esse ar produz vibrações na forma de ondas e se espalha em diversas direções propagando o som. A citação a seguir classifica brevemente o que vem a ser o conteúdo de uma onda sonora: O som é o produto de uma sequência rapidíssima (e geralmente imperceptível) de impulsões e repousos, de impulsos (que se representam pela ascensão da onda) e de quedas cíclicas desses impulsos, segui- das de sua reiteração. A onda sonora, vista como um microcosmo, contém sempre a partida e a con- trapartida do movimento, num campo praticamente sincrônico [...] não é a matéria do ar que caminha levando o som, mas sim um sinal de movimento que passa através da matéria modificando-a [...] (WISNIK, 1989, p. 18) As ondas sonoras são apenas sensações, mas podemos representá-las graficamente. Veja a seguir algumas representações gráficas do som. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 98 intensidade • : esse aspecto diz respeito ao volume e à intensidade do som, serve também para dar riqueza à música, enfa- tizando as suas passagens musicais. É também a qualidade que temos de julgá- -lo mais forte ou mais fraco que outro. Timbre • : é a qualidade do som. Sua maior importância está em definir a origem do som, por exemplo, um prato ou um triângulo emitem timbres metálicos e um contrabaixo emite timbre grave. Essa é a qualidade que dá oportunidade ao ouvido de diferenciar sons de altura e mesma intensidade, emitidos por fontes diferentes. Todas essas propriedades são representa- das ao mesmo tempo quando temos a possibili- dade de ouvir a apresentação de uma orquestra, como na imagem a seguir. Uma orquestra é um conjunto de músicos que executam obras musicais por meio de instrumentos musicais. Orkhéstra é um vocábulo grego e sua primeira significação era “dançar”. Posteriormente, foi utilizado para designar o espaço ocupado pelos senadores no teatro romano e foi apenas no século XVIII que foi reconhecido como é atual- mente. P re fe it ur a do M un ic íp io d e M ar in gá . Orquestra Sinfônica do Paraná. Harmonia, ritmo e melodia Ao compor uma música, o autor precisa se- lecionar sons. Para fazer essa escolha ele entra em um mundo de infinitas escalas musicais pos- Ondas sonoras – modelo para reprodução. Som agudo e forte Som agudo e fraco Som grave e fracoSom grave e forte A seguir, veremos as propriedades do som que fazem com que as ondas se modifiquem como as que você viu na ilustração anterior. Os cinco elementos que definem o som Já vimos que a música tem como matéria- -prima o som e é importante assinalar também que o som se define por meio de cinco proprie- dades: altura, duração, densidade, intensidade e timbre. Altura • : é a responsável pela distinção do som, ou seja, se ele é grave, médio ou agudo. A direção das ondas do som agudo se dirige para cima e a direção das ondas do som grave se dirige para baixo, enquanto que a altura média se mantém intermediária. Quanto maior a frequência, maior a altura, ou seja, mais agudo é o som. duração • : essa propriedade do som nos permite observar o espaço de tempo em que cada onda se propaga. Algumas podem permanecer por um tempo longo, enquanto que outras são rápidas. Não podemos esquecer das pausas, que são os momentos de ausência de som. densidade • : serve para identificar a com- plexidade da música e pode ser classifi- cada como cheia/complexa ou simples/ primitiva. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 99 síveis. Esse músico necessariamente transitará pelas implicações da harmonia, do ritmo e da melodia. Não se pode pensar música sem esses elementos e é deles que trataremos agora. A harmonia estuda as relações de enca- deamento dos sons e obedece a uma série de normas, chamadas de composição. Ela é a organização interna dos sons e se refere aos acordes. Acorde é a emissão de três ou mais sons distintos. A palavra harmonia teve vários significados no decorrer da história e desde o século XIX é usada para designar tudo o que se relaciona aos acordes. Existem várias aplicações desse termo em música, por exemplo: harmonia entre sons sucessivos de uma melodia, harmo- nia entre sons simultâneos e harmonia entre sons de uma escala. Na música eletrônica e na música concreta2 o sentido tradicional da palavra harmonia se perde. A melodia, derivada dos radicais gregos me- los e odé, significa sucessão melódica de sons e canto. Do ponto de vista teórico, podemos resu- mir isso em um conceito que exprime a sucessão de sons isolados. Melodia significa, portanto, a sucessão de sons e silêncios (pausas) que procuram manter na música uma característica de cantabilidade. O compositor pode alternar ou repetir a relações melódicas de uma música de forma a tornar a música mais interessante e não deixá-la monótona. A melodia encontra apoio musical na harmo- nia e no ritmo. Um fato que não se pode deixar de citar é que uma melodiaé mais do que uma sucessão de sons: “[...] cada elemento adquire a sua significação não isoladamente mas sim como parte de um todo. [...] Muito característico das linhas melódicas é seu caráter ondulatório. Este implica um crescimento ou decrescimento de tensões, condicionadas novamente, pelo contexto” (KIEFER, 1979, p. 50). A palavra ritmo vem do grego rhythmos e quer dizer: aquilo que flui, aquilo que se move. 2 Música concreta é uma modalidade de música eletrônica que edita o áudio de sons naturais ou industriais, ou seja, são coloca- dos fragmentos de objetos sonoros, que podem ser desde ruídos de ambiente até de sons de máquinas. Esse gênero nasceu na década de 1940-1950 com a evolução da tecnologia na área de áudio, dos microfones e dos gravadores magnéticos. Mas essa palavra também está associada a outras ideias, como por exemplo, a de medida. Ritmo é o encadeamento das durações dos sons colocados de forma organizada. Ele se fundamenta em duas qualidades: a duração e a intensidade dos sons. A variação de sua re- petição e o tempo, ou seja, a duração dos sons é que vão caracterizar um ritmo. Se pensarmos no fluir tranquilo de uma corrente de água ou na emissão contínua de um som no qual nada se altere, não teremos a noção de ritmo. Fa- lamos em ritmo a partir do momento em que o fluir apresenta descontinuidades. [...] a percepção das continuidades traz consigo a comparação, a meida- de entre fragmentos daquilo que flui. Constatamos fragmentos mais longos, outros mais curtos, por exemplo. (KIEFER, 1979, p. 23) Quando o ritmo é regido por regras, chama- -se métrica e o estudo do ritmo é chamado de prosódia. Vejamos a seguir uma breve apresen- tação de ritmos encontrados na história durante o desenvolvimento dos estilos musicais. Ritmos musicais através dos tempos Período gótico • : ocorreu entre o século XII e o século XIV. No início tinha um ritmo rígido e anguloso que lhe conferiu um ca- ráter tosco e forte. Entretanto, ao final do século XIII surge um movimento que pre- tendia romper com essa rigidez e conferir mais liberdade à musica gótica e é essa que conhecemos em nossos dias. renascença • : transição da música gótica para a renascentista. O ritmo é fluído e tranquilo, quebrado por pequenas assi- metrias e uma leve flexibilidade. A divisão dos tempos é feita em duas ou quatro partes iguais e é disso que resulta o fluir tranquilo da música renascentista. Barroco • : o que mais chama a atenção no ritmo desse período é a regularidade ma- temática de seu som. O período Barroco é marcado por um ritmo pesado e seus principais representantes foram Bach, Händel e Vivaldi. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 100 clássico • : teve sua origem dentro do Roco- có e está impregnado dessa tendência. O ritmo pesado, matemático e uniforme do período anterior desaparece e ocorre uma variedade rítmica. Seus principais autores foram Beethoven, Haydn e Mozart. romantismo • : nesse período ocorre uma novidade em termos de ritmo: a plas- ticidade. Por meio dela ocorrem sutis inflexões no andamento da música. É preocupação dos autores românticos descrever estados emocionais e é por essa razão que o ritmo se torna plástico, ou seja, há uma sobreposição de ritmos. O resultado disso é que o ritmo global acaba se tornando difuso. século XX • : o ritmo é redescoberto como elemento fundamental e muitas obras de percussão se destacam com novidades. Muitos compositores procuram complicar, inventar ritmos e uma nova estética surge. Outra característica dessa época é que rit- mos primitivos3 são trazidos para a música erudita4. No universo da música do século XX surgem possibilidades sonoras inusita- das ao unir sons de instrumentos da mú- sica primitiva (congas, gonguê, marimba, etc) a instrumentos clássicos (violinos, pianos, etc) em arranjos para músicas de compositores consagrados, como por exemplo, o grupo mineiro Uakti. Os instrumentos musicais A história dos instrumentos musicais é remota e sua origem se perdeu no tempo. Não há notícias de povos, por mais primitivos que fossem, que não tenham feito uso de instru- mentos musicais. O que parece confirmar que 3 Ritmos primitivos são derivados da música tribal. 4 Música erudita (ou música clássica) se refere à modalidade mu- sical academicamente estudada, elaborada dentro das tradições constituídas entre os séculos XVI e XIX. É o oposto da música popular. a música é inerente ao homem. É possível que muitos instrumentos tenham surgido ao mesmo tempo em locais distintos do planeta e numa época muito remota, mas seu uso como entre- tenimento é recente. Os povos mais primitivos acreditavam que os deuses foram os criadores dos instrumentos musicais, pois para eles a música tinha origem divina. Para os gregos antigos, a flauta foi criada por Pan, a cítara por Apolo e a lira por Hermes. Os orientais, por outro lado, acreditavam que sua origem estava em tentar imitar os sons da natu- reza e os historiadores modernos concluem que a origem dos instrumentos estava intimamente ligada aos ritos religiosos e à dança. As pesquisas arqueológicas no período Paleolítico encontraram instrumentos feitos de pedra e ossos utilizados como chocalhos, apitos e matracas. No Neolítico surgiram tambores, flautas e até instrumentos de corda. Foi ape- nas em torno do ano 3 000 a.C. que surgiram as liras, as harpas e os alaúdes no Egito. Os instrumentos de palheta surgiram muito tempo depois, na Idade Média. Foi com a invenção da prensa por Gutem- berg (1390-1468) que ocorreu maior estímulo e a divulgação de partituras musicais. Isso provo- cou uma popularização da música com o apare- cimento de instrumentos novos e aperfeiçoados. Juntamente com essa popularização firmaram-se os primeiros fabricantes de instrumentos e com a Revolução Industrial, ocorreu a mecanização que tornou possível fabricar instrumentos em larga escala barateando seus custos e popula- rizando ainda mais a música da época. O início do século XIX trouxe a formação das grandes orquestras e os instrumentos adquiriram as formas que conhecemos hoje em dia. O próxi- mo passo dessa evolução foi o uso da tecnologia que equipou os músicos para a execução da músi- ca do século XX com instrumentos eletroacústicos e geradores de alta frequência. Sabemos que todo som nasce de uma vi- bração e as vibrações produzem ondas que se movimentam pelo espaço chegando aos nossos ouvidos. Esses sons produzidos podem ser dividi- dos em sons da natureza e sons mecânicos. Nos- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 101 so mundo está imerso em sons que se propagam com particularidades e características diversas. Os instrumentos musicais fazem parte de uma classificação integrada aos sons mecânicos. Classificação dos instrumentos musicais Existem muitas formas de agrupar os instru- mentos musicais a fim de classificá-los. A seguir veremos uma tabela com a classificação pontual de instrumentos divididos em sopro, percussão e cordas e, em seguida, alguns exemplos espe- cíficos de instrumentos com suas respectivas ilustrações. sopro Percussão cordas Flauta Tímpano Violino Oboé Carrilhão Viola Clarinete Xilofone Violoncelo Fagote Triângulo Contrabaixo Trompete Prato Alaúde Saxofone Bumbo Guitarra Trombone Castanhola Harpa Trompa Pandeiro Cravo Tuba Caixa Piano A bateria é um instrumento formado por um conjunto de tambores e pratos. Foi no século XX que a bateria se destacou como instrumento musical ao participar ativamente de bandas e orquestras. Em seu início, cada pessoa tocava uma coisa de cada vez: o bumbo, a caixa e os pratos. Foi apenas com a invenção do pedal, em 1910, que foi possível que uma pessoa execu- tasse o instrumento e, posteriormente, com a ideia de acoplar tudo em um único instrumento surgiu a bateria como conhecemos hoje. Bateria. D om ín io púb lic o. O violão é um dos instrumentos mais popu- lares da atualidade e sua origem provavelmente remete a um instrumento árabe chamado alaú- de. Esse instrumento foi conhecido no ocidente por meio das invasões muçulmanas, posterior- mente adaptado ao contexto europeu e passou a se chamar vihuela. Violão e guitarras. Is to ck P ho to . A guitarra surgiu em torno de 1930 e a tran- sição do violão para esse instrumento eletrônico ocorreu quando inseriram captadores eletrônicos que funcionavam como uma espécie de microfo- ne. Seu uso foi popularizado nos anos de 1950 e 1960 e atualmente é possível que existam mais de 50 milhões de guitarristas no mundo inteiro. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 102 A flauta é um pequeno instrumento musical onde o som é produzido por meio de um orifício aberto em uma das extremidades de um tubo. Sua característica em termos de som é que as notas agudas são claras e frias, enquanto que as notas graves são intensas e doces. C om st oc k C om pl et e. Flauta. O saxofone foi criado em 1840 por Adolphe Sax e é um instrumento de metal que se constitui por um tubo com aproximadamente 24 orifícios controlados por uma clave. Pode ser encontra- do em diversos tamanhos e sua sonoridade é anasalada, suave e lírica. D om ín io p úb lic o. Saxofone. A vida do homem inspira a música A música religiosa é um estilo musical pró- prio para celebrações ritualísticas e sua principal característica é ser fundamentalmente orante, ou seja, constitui-se de orações reforçadas por sons e ritmos. Muitas delas se apresentam envolvidas por batuques que predispõem um envolvimento corporal, chegando a alguns ca- sos a levar o ouvinte a estados hipnóticos. Veja esta passagem do livro O Som e o Sentido que expõe brevemente o contexto ritual e místico da música: [...] a música é um espelho de ressonância cósmica, que compreende todo o universo sob a dimensão demasiado humana – da voz. O canto nutre os deuses que cantam e que dão vida ao mundo [...] Mas o homem que canta profundamente, e realiza interiormente o sacrifício, ascende ao mundo divino na medida em que investe da energia plena do ser, ganhando como homem-cantor a imortalidade dos deuses-cantores. (WISNIK, 1989, p. 39) Está indicado acima, nas palavras de José Miguel Wisnik, que a música com fins religiosos é essencialmente voltada para uma pulsação que esteja a serviço da elevação espiritual do homem. Assim como a música religiosa, a música militar tem compromisso duplo: deve servir como arte e como motivadora das tropas militares. Sua característica fundamental é a beleza. A quali- dade de seus arranjos são fundamentalmente dotados de grande harmonia e vigor. Muitos gran- des músicos fizeram composições para músicas militares, incluindo Ludwig van Beethoven, que compôs em 1802 a Terceira Sinfonia (Opus 55) feita em homenagem a Napoleão Bonaparte. O compositor queria enaltecer as qualidades de liderança de Napoleão, que ele acreditava ter a nobreza de espírito e a integridade de caráter que um grande militar deve possuir. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 103 Música brasileira A palavra samba é de origem africana, provavelmente de Angola ou Congo, que tinha seu significado ligado às danças tribais e em sua raiz era dito “semba”. O costume foi trazido ao Brasil pelos escravos africanos e o primeiro samba foi gravado em 1917, escrito por Mauro Almeida e Donga. Foi com a difusão do rádio na década de 1930 que o samba adentrou os lares brasileiros e tornou-se mais popular com as criações de Noel Rosa, Cartola e Ary Barroso. Posteriormen- te, na década de 1970, surgiu outra geração de sambistas com Paulinho da Viola, Jorge Aragão, Beth Carvalho e Elza Soares, entre outros. Os mais importantes sambistas do país foram Pixinguinha, Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Clara Nunes e Lamartine Babo. Os estados brasileiros onde o samba tem sua maior repercussão são a Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, entretanto existem algumas peculiaridades em cada um deles. Por exemplo, na Bahia, o samba é influenciado pelo maxixe, tem letras simples e ritmo repetitivo. No Rio de Janeiro há influência das comunidades do morro e as letras das músicas falam das mazelas da vida urbana, muitas vezes com humor. Em São Paulo, o samba expõe a mistura de raças com letras elaboradas e a visão dos trabalhadores da terra. Entre os principais tipos de samba po- demos citar: samba-enredo, samba do partido alto, pagode, samba-canção, samba carnava- lesco, samba exaltação, samba de gafieira e o sambalanço. Surgida no Rio de Janeiro, a Bossa Nova foi batizada com esse nome em função da forma como o samba era tocado naquela época e se tornou um dos gêneros mais destacados da música brasileira. A Bossa Nova teve seu início numa das faixas de um disco que contou com pouquíssi- ma aceitação pelo público. Essa faixa do disco continha a música Chega de Saudade, de 1958, que foi composta por Vinicius de Moraes, escrita por Tom Jobim e ficou quase um ano sem ser gravada, abandonada por seus criadores. Essa canção, que marcou a história da música bra- sileira, tinha como referência o samba-canção e era dividida em três partes. Gravada meses depois, no ano de 1959 por João Gilberto, Che- ga de Saudade acabou ganhando o Brasil e o mundo. Inicialmente considerado um ritmo intelectu- al e elitista, a Bossa Nova rapidamente tornou-se popular em todo o Brasil e em 1962 foi apresen- tada ao público americano no Carnegie Hall de Nova York. Desse espetáculo participaram alguns de seus idealizadores: Tom Jobim, João Gilberto, Luiz Bonfá, Carlos Lyra, Sergio Mendes e Roberto Menescal, entre outros. Outra música que marcou o movimento da Bossa Nova foi Garota de Ipanema, que teve aproximadamente 100 regravações através de vozes importantes como Frank Sinatra e Sarah Vaughan. Foi em 1965 que Vinicius de Moraes e Edu Lobo compuseram Arrastão, cantada por Elis Regina no importante Festival da Música Popular Brasileira, que marcou o fim da Bossa Nova e o início da MPB, que dominou a cena pública da música brasileira até o surgimento do Pop Rock Nacional. Para saber mais Grupo Uakti (RIBEIRO, 2009) No mundo pós-guerra, grandes avanços tecnológicos vêm ocorrendo em praticamente todas as áreas do conhecimento. O impacto da ciência se fez sentir também na música, mediante o advento do rádio, da televisão e dos diferentes meios de suporte fonográfico. No que concerne aos instrumentos musicais, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 104 ressaltam-se o surgimento e desenvolvi- mento de novos instrumentos eletrônicos e sua própria evolução, que acompanha, de certa forma, o desenvolvimento acelerado da informática. Entretanto, Marco Antonio Guimarães, fundador e líder do grupo Uakti, nos chama a atenção para a relativa inércia na criação de instrumentos musicais acús- ticos tradicionais. De fato, observa-se que o surgimento de novos instrumentos para concerto encontra-se praticamente esta- cionado desde o final do século XIX. De lá para cá, as principais mudanças nessa área restringiram-se à melhoria dos métodos de fabricação e ao aperfeiçoamento dos princí- pios de funcionamento e produção do som. Um fato comumente verificado é o hiato entre construtores de novos instrumentos acústicos e os compositores. Esse afasta- mento impede o desenvolvimento de um repertório específico para ambos, o que, de certa forma, explica a tendência de acumula- ção das funções de construtor e compositor de novos instrumentos. No século XX, an- tecedendo a experiência de Marco Antonio Guimarães com o Uakti, deve-se ressaltar o trabalho histórico de dois construtores de novos instrumentos acústicos, que consegui- ram integrar suas novas fontes sonoras ao seu processocompositivo: Harry Partch1 nos EUA e Walter Smetak2 no Brasil. 1 Harry Partch nasceu na cidade de Oakland, Califórnia, EUA, em 24 de junho 1901, vindo a falecer em San Diego, Califórnia, em 3 de setembro de 1974. Harry Partch idealizou e construiu uma série de instrumentos, em sua maioria de cordas e percussão. 2 Walter Smetak, nascido em 1913, de origem suíça, era vio- loncelista, compositor e construtor de instrumentos não tradi- cionais. Emigrou para o Brasil em 1937, onde trabalhou como Os trabalhos de Partch e Smetak são exceções dentro de um quadro no qual há poucos estudos sistemáticos ou consolida- dos sobre a criação de novos instrumentos musicais. Na Inglaterra, um projeto pioneiro denominado Alternative Tuning Projects dirigi- do por Patrick Ozzard-Low3 em parceria com a London Guildhall University, visa à criação de um Centro de Novos Instrumentos Musicais. Tal empreendimento contemplará, prioritaria- mente, o surgimento de novos instrumentos orquestrais no século XXI, reunindo tanto estudiosos de diferentes áreas. Contudo, a partir da década de 1980, a construção de novos instrumentos musicais passou a congregar, cada vez mais, construtores, compositores e grupos de músicos. Desde 1986, o festival Sound Symposium, realiza- do bienalmente na cidade de Saint John´s, Newfoundland, Canadá, dedica-se à temá- tica da construção de novos instrumentos musicais e instalações sonoras. O simpósio reúne construtores e instrumentalistas de diversos países, promovendo o intercâmbio de ideias e experiências construtivas de performance. violoncelista das mais importantes orquestras e institutos de artes, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde viveu até meados da década de 1950. Finalmente, mu- dou-se para Salvador, no ano de 1957, a convite do professor Hans Joachim Koellreutter, para lecionar nos Seminários de Música da UFBA. A partir de 1958, paralelamente à sua ativida- de como violoncelista e professor, começou a se dedicar, com maior intensidade, à construção de novos instrumentos. 3 Patrick Ozzard-Low, pianista, compositor e filósofo, nasceu na Inglaterra em 1958. Dicas de estudo No texto complementar você pode ver a mú- sica Chega de Saudade, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim que reconstitui a vida boêmia no contexto carioca dos anos 1960. Essa música é um mosaico do comportamento e dos sentimen- tos daquela época. Você pode percebê-la como uma espécie de romance escrito por seus prota- gonistas. A Bossa Nova foi um amplo movimento musical que pode ser tomado como o retrato de uma época. De acordo com esse pensamento, pesquise letras de músicas desse movimento. Para saber um pouco mais sobre a história da Bossa Nova, consulte o site comemorativo dos 50 anos da Bossa Nova no seguinte endereço: Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 105 <www.abril.com.br/bossa-nova-50-anos/>. A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) foi criada em 1940 e tem sua sede no Rio de Janeiro. Foi somente na década de 1970 que a OSB alcançou projeção nacional com o Proje- to Aquarius. Esse projeto tinha a intenção de aproximar a população mais carente de cultura da música clássica e previa concertos ao ar livre, abertos ao público em geral. Foi nessa época que o maestro Isaac Karabtchevsky as- sumiu a OSB e a dirigiu por 26 anos. Acesse o seguinte endereço, no site: <www.youtube. com/watch?v=PhbeYFmGvEQ>, para assistir a um vídeo da Orquestra Sinfônica Brasileira, com entrevistas de seus formadores e de seus ouvintes. Exercícios de aplicação Observe a indicação dos instrumentos a 1. seguir e relacione com a coluna. ritmo:b) melodia:c) 1) Sopro 2) Percussão 3) Cordas ( ) Violino ( ) Tambor ( ) Alaúde ( ) Flauta ( ) Pandeiro ( ) Bumbo ( ) Trompa ( ) Guitarra ( ) Violoncelo ( ) Oboé ( ) Saxofone ( ) Prato Resuma com suas palavras os seguintes 2. conceitos musicais: harmonia:a) Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 106 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 107 Gabarito Exercícios de aplicação Resposta: 3, 2, 3, 1, 2, 2, 1, 3, 3, 1, 1, 2.1. 2. Harmonia é a organização dos sons; ela a) obedece a algumas regras. Melodia é a sucessão de sons e silên-b) cios que se alternam e repetem durante a execução da música. Ritmo é a variação e a repetição de sons c) dentro da música; é a duração dos sons que determina o ritmo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 108 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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