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POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR, MERENDA E CANTINA Profa. Roseli Moreira 2 SUMÁRIO 1 Histórico e discussão da merenda escolar ............................................................................. 3 2 Programas de alimentação escolar ........................................................................................ 9 3 Impactos da alimentação no desenvolvimento do educando .............................................. 23 4 Educação, cultura e fiscalização nas escolas ......................................................................... 36 5 Gestão da alimentação escolar ............................................................................................. 43 6 Cozinhas e cantinas ............................................................................................................... 49 3 BLOCO 1. HISTÓRICO E DISCUSSÃO DA MERENDA ESCOLAR 1.1 Introdução à merenda e cantina Você, provavelmente está se questionando sobre a importância dessa disciplina para sua formação. Pois bem, saiba que estudar alimentação escolar, em especial no que se refere aos temas merenda e cantina, é na atualidade uma tarefa desafiadora dada a abrangência de seus propósitos político-pedagógicos e de cidadania. Assim, mais do que garantir que a merenda seja oferecida aos educandos, é preciso controlar quantidade e qualidade com vistas a uma alimentação saudável que implique diretamente sobre a garantia da aprendizagem de todos. O profissional que se disponha a atuar nessa área deve estar receptivo às diferentes culturas alimentares próprias de um país com dimensões continentais como o Brasil. Reconhecer o impacto da alimentação no desenvolvimento dos educandos, bem como os desajustes em função de sua precariedade, também é papel do profissional responsável pelas merendas e cantinas. Compreender a diferença entre alimentação e alimentação saudável será essencial para traçar planos de atuação e projetos que incentivem a boa alimentação no âmbito escolar e na extensão para os lares de onde os educandos são oriundos. Os impactos da merenda na vida de boa parte dos brasileiros em idade escolar ressalta o quão importante é o debate sobre o que se oferta e em quais condições isso se dá. Assim, discutir merenda escolar e instituição de cantinas de modo responsável é, atualmente, uma tarefa que se diferencia quase que radicalmente se comparada à décadas passadas (1930-1940) já que nesse período a alimentação escolar ainda não se constituía como política pública e sim como ação filantrópica garantida por organizações internacionais por meio de doações. Ser um profissional que, longe de atuar filantropicamente, tem uma incumbência de implementar ações de políticas públicas significa ser um agente transformador no 4 cenário nacional no que se refere à aprendizagem como um direito a todos os educandos. Isso se refere a superar a visão médico-terapêutica de décadas passadas para a apropriação de ações sustentáveis estimulando a revitalização da saúde na escola sob uma base de respeito pelo bem comum e de afeto e diálogo, seja entre educadores, seja entre educadores e educandos, seja entre educandos e comunidade, seja entre educadores e comunidade ou entre diferentes setores, tais como saúde e educação. 1.2 Panorama histórico de alimentação escolar Década 1930-1940: Início dos debates sobre alimentação escolar por meio de movimentos sociais em prol de merenda escolar. A priori visava a arrecadação de fundos para fornecer alimento aos alunos. Tais movimentos não possuíam espaços suficientes de debate junto ao governo que alegava não possuir verbas para esse fim (DIAS; ESCOUTO, 2016); Década de 1950: no governo JK foi assinado o Decreto nº 37.106 criando a Campanha de merenda Escolar (CME), atualmente denominado programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). No início a merenda advinha de organizações internacionais por meio de doações, o que restringia a alimentação escolar a apenas uma parcela das escolas, priorizando as regiões com maior índice de desnutrição, iniciando, assim, pela região Nordeste do país (DIAS; ESCOUTO, 2016); Década de 1960-1970: Houve uma diminuição nas doações, o que obrigou o governo federal a comprar produtos nacionais para a alimentação escolar. Dessas aquisições, 54% do total gasto em merenda ainda se referia, até a década de 1970, a produtos industrializados (DIAS; ESCOUTO, 2016); Década de 1980: Promulgação da Constituição Federal do Brasil que passa a definir: 5 A educação como direito de todos os cidadãos; Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Repasse de recursos públicos às escolas e entidades educativas sem fins lucrativos; Recursos para material didático; transporte; alimentação e assistência à saúde. Desse modo a alimentação fica garantida como um direito do estudante (DIAS; ESCOUTO, 2016). Década de 2000: Lei n. 11.947/2009 define que 30% do valor repassado pelo PNAE deve ser destinado à aquisição de produtos da agricultura familiar e dos empreendedores rurais, garantindo uma alimentação mais saudável e o respeito às diversas culturas alimentares das diferentes regiões do país. 1.3 Discussão sobre merenda escolar Em entrevista com a professora especialista Maria de Fátima Borges, diretora de escola da Prefeitura do Município de São Paulo que trouxe contribuições sobre alimentação escolar. Ela apresentou os projetos de alimentação que implementou em sua gestão na unidade escolar; comentou se houve mudança de atitude dos educadores e dos alunos; contou se houve alguma intervenção nas famílias; e qual a relação entre alimentação escolar e cidadania. 1.4 Parâmetros atuais da alimentação saudável Os convidados do Participação Popular (...)[,] a nutricionista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e conselheira do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), Rosane Maria da Silva Nascimento, e a nutricionista e coordenadora de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério da Educação (MEC), Eliene Ferreira de Sousa, [falam sobre alimentação saudável nas escolas]. O deputado Lobbe Neto (PSDB-SP), autor do PL 127/2007, que “dispõe sobre a substituição de alimentos não saudáveis, nas escolas de educação infantil e do ensino fundamental, público e privado”, participa do programa por telefone e o presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de ensino do DF, Luiz Claudio, concede entrevista ao programa, direto do 6 shopping Conjunto Nacional, na área central de Brasília (ALIMENTAÇÃO, 2015). 1.5 Parâmetros atuais da alimentação escolar Atualmente o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tem como parâmetros: Suplementação das necessidades nutricionais; Formação de bons hábitos alimentares; Construção de cardápio balanceado; Acompanhamento dos casos tanto de desnutrição quanto de obesidade. O programa costuma observar a apresentação dos alimentos de modo que avaliem a qualidade de suas condições higiênico-sanitárias. Outro aspecto observado refere-se aos utensílios tanto em sua capacidade para atendimento quanto nas suas condições de higiene e das formas de acondicionamento para evitar contaminações. Nesse contexto, o educador responsável pela merenda tem a tarefa de apontar irregularidades e de atuar, junto à gestão, para que sejam corrigidas. A relação de diálogo entre o educador responsável pela merenda, o nutricionista, as merendeiras e o CAE (Conselho de Alimentação Escolar) é essencial para que, em conjunto, possam garantir o atendimento com qualidade. O cardápio é item de alta relevância no cotidiano do serviço de merenda escolar. Pensado por nutricionistas, ele busca atender às necessidades das diferentes faixas etárias matriculadasna Educação Básica, atendendo a um balanceamento nutricional bem como à preocupação com uma boa apresentação do alimento de modo que esse fique também atrativo para o consumo. Os porcionamentos também são definidos a partir das faixas etárias que serão atendidas, respeitando suas especificidades e garantindo os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento cognitivo e imunológico dos educandos. Reeducar hábitos alimentares carregados de vícios oriundos das famílias, como o apelo aos fast-foods, também se constitui como um dos parâmetros para alimentação escolar saudável. 7 Para que tais parâmetros sejam alcançados, o trabalho do educador responsável pela merenda, do gestor, do CAE e do nutricionista deve constar de planejamento, realização de diagnósticos do estado nutricional dos estudantes, acompanhamento e avaliação do cardápio (aceitação/rejeição), além da capacitação dos recursos humanos e do controle de qualidade. Os cardápios devem respeitar os hábitos alimentares da região do país em que cada escola está localizada, sua vocação agrícola e a preferência por produtos básicos. Os produtos devem ser, preferencialmente, semielaborados e in natura evitando, portanto, os multiprocessados. Quanto à aquisição dos alimentos, visando à redução de custos, orienta-se dar preferência a produtos regionais. O PNAE, em sua resolução n. 015/2003, define como obrigatório no cardápio fornecer, no mínimo, 15% das necessidades energéticas e nutricionais diárias dos alunos. As Diretrizes do PNAE reforçam a preocupação com o direito à alimentação e não como um programa de caráter paternalista. Por isso orienta que o termo merenda escolar, que tende a caracterizar-se por refeições rápidas, reduzidas ao equivalente a um lanche, seja substituído por alimentação escolar que mais se aproxima do conceito de refeição completa. Referências ALIMENTAÇÃO e uniforme podem ser incluídos em gastos constitucionais com educação. Senado Notícias, 4 jun. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/czjGm4>. Acesso em: 10 out. 2018. ALIMENTAÇÃO saudável nas escolas. Câmara dos Deputados, 10 abr. 2015. Disponível em: <https://goo.gl/Xm5e9A>. Acesso em: 10 out. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Escolas promotoras de saúde: experiências do Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: <https://goo.gl/YzzsFP>. Acesso em: 9 out. 2018. 8 ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual das cantinas escolares saudáveis: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <https://bit.ly/2A2dWmj>. Acesso em: 10 out. 2018. CARVALHO, Fabio Fortunato Brasil de. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em práticas pedagógicas. Physis, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 1207-1227, dez. 2015. Disponível em: <https://goo.gl/6yEejz>. Acesso em: 10 out. 2018. DIAS, L. B.; ESCOUTO, L.F.S. Um breve histórico sobre alimentação escolar no Brasil. Revista Científica de Ciências Aplicadas da FAIP, v. 3, n. 5, maio 2016. Disponível em: <https://goo.gl/WHdERg>. Acesso em: 9 ago. 2018. HÁBITOS alimentares no Brasil: conheça a cultura em cada região brasileira. Alimentação em Foco, 1º fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/syg81P>. Acesso em: 10 out. 2018. 9 BLOCO 2. PROGRAMAS DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR Segundo Peixinho (2014, p. 9), O PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar] é o mais antigo programa do governo brasileiro na área de alimentação escolar e de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), sendo considerado um dos maiores e mais abrangentes do mundo no que se refere ao atendimento universal aos escolares e de garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável. Esta política pública, gerenciada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), (...) atende (...) todos os alunos matriculados na educação básica das escolas públicas, federais, filantrópicas, comunitárias e confessionais do país, segundo os princípios do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e da SAN. (...) Desta forma, o PNAE, cuja responsabilidade constitucional é compartilhada entre todos os entes federados, envolve um grande número de atores sociais como gestores públicos, professores, diretores de escola, pais de alunos, sociedade civil organizada, nutricionistas, manipuladores de alimentos, agricultores familiares, conselheiros de alimentação escolar, entre outros. (...) O PNAE tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o período em que permanecem na escola. A infância é um período da vida em que o alimento é imprescindível para o desenvolvimento, em que a alimentação é um dos requisitos para um crescimento contínuo e para a vida saudável de uma criança. Segundo Ribeiro e Silva (2013, p. 79), “Podemos observar em várias pesquisas que a alimentação realmente influencia no desenvolvimento de aprendizagem da criança. Segundo Cavalcanti (2009, p. 28) ‘a infância corresponde ao período de formação dos hábitos nutricionais da vida adulta. É nessa fase que se fundam as bases para uma alimentação balanceada e saudável’”. 2.1 PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar e dimensões legais Art. 208 da Constituição Federal de 1988 ⇒ Alimentação Escolar passa a ser direito constitucional. 10 Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)(Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (BRASIL, 1988). Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 Documentos de orientação educacional como a LDB nº 9.394, de 1996 incluem o direito à educação para todos, acrescidos da Lei n° 11.947, de 2009, apontando para que os conteúdos educacionais sejam trabalhados de maneira interdisciplinar nas escolas; garante a Lei: ‘[...] II - a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida, na perspectiva da segurança alimentar e nutricional” (BRASIL, 2009). Dessa maneira, ao garantir a universalidade do ensino, a LDB 9.394, de 1996 traz para o Estado o dever de manter a criança na escola. Alimentação e promoção do desenvolvimento integral da criança na escola, mais que os anseios da sociedade brasileira, refletem um cenário de lutas de um povo faminto por dignidade e equidade social que estão por vir. (...) Nos últimos vinteanos, após implantação da LDB, em seu artigo art. 4º, VIII, inclui-se a alimentação escolar como dever do Estado e um direito humano e social de toda criança e adolescente que frequentem a educação infantil e o ensino fundamental, mediante a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), coordenado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) (...) (BRASIL, 1996). Lei nº 11.947, de 16/6/2009 (...) Lei nº 11.947, de 2009, que institui o PNAE, garantindo o direito à alimentação escolar. Destacamos o art. 2: “São diretrizes da alimentação escolar: alimentação saudável e adequada como aquela que faz: [...] uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura alimentar, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc14.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc14.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc59.htm#art1 11 contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de ações específicas” (BRASIL, 2009). (...) Ao atender a alimentação escolar aos alunos da educação básica por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, o governo e o Ministério da Educação propõem ações educativas que perpassem pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, na perspectiva do desenvolvimento de práticas saudáveis de vida e da segurança alimentar e nutricional, conforme disposto Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, em seu art. 15. (...) (...) é preciso acompanhar os projetos implementados nas escolas, desde o cardápio, e até mesmo a distribuição da merenda, conforme os artigos 18 e 19 da Lei nº 11.947, de 2009: “Art. 18. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de suas respectivas jurisdições administrativas, Conselhos de Alimentação Escolar - CAE, órgãos colegiados de caráter fiscalizador, permanente, deliberativo e de assessoramento [...] Art. 19. Compete ao CAE: I - acompanhar e fiscalizar o cumprimento das diretrizes estabelecidas na forma do art. 2o desta Lei; II - Acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos destinados à alimentação escolar; III - Zelar pela qualidade dos alimentos, em especial quanto às condições higiênicas, bem como a aceitabilidade dos cardápios oferecidos; IV - Receber o relatório anual de gestão do PNAE e emitir parecer conclusivo a respeito, aprovando ou reprovando a execução do Programa” (BRASIL, 2009). Resolução FNDE/CD Nº 26 de 17/06/13 Art. 1º Estabelecer as normas para a execução técnica, administrativa e financeira do PNAE aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades federais. Parágrafo único. A alimentação escolar é direito dos alunos da educação básica pública e dever do Estado e será promovida e incentivada com vista ao atendimento das diretrizes estabelecidas nesta Resolução. Art. 2º São diretrizes da Alimentação Escolar: I – o emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica; II – a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida na perspectiva da segurança alimentar e nutricional; III – a universalidade do atendimento aos alunos matriculados na rede pública de educação básica; IV – a participação da comunidade no controle social, no acompanhamento das ações realizadas pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios para garantir a oferta da alimentação escolar saudável e adequada; 12 V – o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e preferencialmente pela agricultura familiar e pelos empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos; e VI – o direito à alimentação escolar, visando garantir a segurança alimentar e nutricional dos alunos, com acesso de forma igualitária, respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições de saúde dos alunos que necessitem de atenção específica e aqueles que se encontrem em vulnerabilidade social (BRASIL, 2013). 2.2 Uso de verba para aquisição de merenda Segundo o site do Ministério da Educação, O Ministério da Educação, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, garante a transferência de recursos financeiros para subsidiar a alimentação escolar de todos os alunos da educação básica de escolas públicas e filantrópicas. O repasse é feito diretamente aos estados e municípios, com base no censo escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. De acordo com o site do PNAE, Atualmente, o valor repassado pela União a estados e municípios por dia letivo para cada aluno é definido de acordo com a etapa e modalidade de ensino: Creches: R$ 1,07 Pré-escola: R$ 0,53 Escolas indígenas e quilombolas: R$ 0,64 Ensino fundamental e médio: R$ 0,36 Educação de jovens e adultos: R$ 0,32 Ensino integral: R$ 1,07 Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral: R$ 2,00 Alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado no contraturno: R$ 0,53 (...) Com a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, 30% do valor repassado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades. Ainda segundo o site do PNAE, “Este encontro – da alimentação escolar com a agricultura familiar – tem promovido uma importante transformação na alimentação escolar, ao permitir que alimentos saudáveis e com vínculo regional, produzidos diretamente pela agricultura familiar, possam ser consumidos diariamente pelos alunos da rede pública de todo o Brasil”. 13 Órgãos gestores e áreas gestoras Do ponto de vista operacional, o PNAE funciona assim: O Governo Federal, por meio do FNDE, é o responsável pela definição das regras do Programa. É aqui que se inicia o processo de financiamento e execução da alimentação escolar; As Entidades Executoras (EEx) – que são as Secretarias de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e as escolas federais – se responsabilizam pelo desenvolvimento de todas as condições para que o Programa seja executado de acordo com o que a legislação determina; A Unidade Executora (UEx) (...) é uma sociedade civil com personalidade jurídica de direito privado, vinculada à escola, sem fins lucrativos, que pode ser instituída por iniciativa da escola, da comunidade ou de ambas. Podem ser chamadas de “Caixa Escolar”, “Associação de Pais e Mestres”, ‘Círculo de Pais e Mestres” ou “Unidade Executora”. Representa a comunidade educativa. O Conselho de Alimentação Escolar é responsável pelo controle social do PNAE, isto é, por acompanhar a aquisiçãodos produtos, a qualidade da alimentação ofertada aos alunos, as condições higiênico-sanitárias em que os alimentos são armazenados, preparados e servidos, a distribuição e o consumo, a execução financeira e a tarefa de avaliação da prestação de contas das EEx e emissão do Parecer Conclusivo. Contudo, existem outras instituições que apoiam o PNAE. São elas: O Tribunal de Contas da União e o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União que são dois órgãos de fiscalização do governo federal; O Ministério Público Federal que, em parceria com o FNDE, recebe e investiga as denúncias de má gestão do Programa; As Secretarias de Saúde e de Agricultura dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que são responsáveis pela inspeção sanitária, por atestar a qualidade dos produtos utilizados na alimentação ofertada e por articular a produção da agricultura familiar com o PNAE; e O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Nutricionistas que fiscalizam a atuação desses profissionais (BRASIL, 2017). Segundo o site do Ministério da Educação, “Os recursos do PNAE são liberados em dez parcelas, de forma a cobrir os 200 dias do ano letivo da educação básica. As secretarias da educação, que são responsáveis pelas redes de ensino, recebem os valores e operam a alimentação escolar” (BRASIL, 2018). 14 Distribuição de Recursos financeiros executados e nº de alunos atendidos no período de 1995 a 2017: Ano Recursos Financeiros (em milhões de Reais) Alunos atendidos (em milhões) 1995 590,1 33,2 1996 454,1 30,5 1997 672,8 35,1 1998 785,3 35,3 1999 871,7 36,9 2000 901,7 37,1 2001 920,2 37,1 2002 848,6 36,9 2003 954,2 37,3 2004 1.025 37,8 2005 1.266 36,4 2006 1.500 36,3 2007 1.520 35,7 2008 1.490 36,6 2009 2.013 47,0 2010 3.034 45,6 2011-2016* 3.500 45,0 2017 4.500 41,0 *Segundo o Portal de notícias do FNDE não houve reajuste de 2011 a 2016 Fonte: PEIXINHO, 2014. 2.3 Merenda: PNAE e agricultura familiar Segundo o site do SEAF, “A aquisição da agricultura familiar para a alimentação escolar está regulamentada pela Resolução CD/FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013, [atualizada pela Resolução CD/FNDE nº 04, de 2 de abril de 2015], que dispõe sobre o 15 atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do PNAE”. A alimentação escolar passou a contar (...) [a partir da Resolução nº 26/13] com produtos diversificados e saudáveis. E essa iniciativa pode ser bastante ampliada: é preciso obedecer ao limite mínimo, que é de 30%, mas podem ser aplicados até 100% dos recursos repassados pelo FNDE à alimentação escolar na compra da agricultura familiar. O programa incorpora, assim, elementos relacionados à produção, acesso e consumo, com o objetivo de, simultaneamente, oferecer alimentação saudável aos alunos de escolas públicas de educação básica do Brasil e estimular a agricultura familiar nacional. O apoio ao desenvolvimento sustentável local ocorre pela priorização da compra de produtos diversificados, orgânicos ou agroecológicos, e que sejam produzidos no próprio município onde está localizada a escola, ou na mesma região, com especial atenção aos assentamentos rurais e comunidades indígenas e quilombolas. Nesse sentido, para o município, significa a geração de emprego e renda, fortalecendo e diversificando a economia local, e valorizando as especificidades e os hábitos alimentares locais. Para o agricultor familiar, representa um canal importante de comercialização e geração de renda com regularidade, contribuindo para a inclusão produtiva, a geração de emprego no meio rural e o estímulo ao cooperativismo e ao associativismo. Para os alunos da rede pública de ensino, é o acesso regular e permanente a produtos de melhor qualidade nas escolas: um passo adiante para a garantia de alimentos e hábitos saudáveis, com respeito à cultura e às práticas alimentares regionais. (...) As Entidades Executoras – EEx são as instituições da rede pública de ensino federal, estadual e municipal que recebem recursos diretamente do FNDE para a execução do Pnae: • Secretarias estaduais de educação • Prefeituras • Escolas federais As compras podem ser feitas de forma centralizada, pelas secretarias estaduais de educação e prefeituras, ou de forma descentralizada, pelas Unidades Executoras das escolas (UEx). As UEx não recebem recursos diretamente do FNDE. (...) De acordo com a Lei nº 11.326/2006, é considerado agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, possui área de até quatro módulos fiscais, mão de obra da própria família, renda familiar vinculada ao próprio estabelecimento e gerenciamento do estabelecimento ou empreendimento pela própria família. Também são considerados agricultores familiares: silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores, indígenas, quilombolas e assentados da reforma agrária. O agricultor familiar é reconhecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário por meio da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Este documento é o instrumento de identificação do agricultor familiar, utilizado para o acesso às políticas públicas (BRASIL, 2016). 16 2.4 Cantina: fundamentos legais Portaria Interministerial nº 1010 de 08 de maio de 2006 Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, INTERINO, E O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, e Considerando a dupla carga de doenças a que estão submetidos os países onde a desigualdade social continua a gerar desnutrição entre crianças e adultos, agravando assim o quadro de prevalência de doenças infecciosas; Considerando a mudança no perfil epidemiológico da população brasileira com o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, com ênfase no excesso de peso e obesidade, assumindo proporções alarmantes, especialmente entre crianças e adolescentes; Considerando que as doenças crônicas não transmissíveis são passíveis de serem prevenidas, a partir de mudanças nos padrões de alimentação, tabagismo e atividade física; Considerando que no padrão alimentar do brasileiro encontra- se a predominância de uma alimentação densamente calórica, rica em açúcar e gordura animal e reduzida em carboidratos complexos e fibras; Considerando as recomendações da Estratégia Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto à necessidade de fomentar mudanças socioambientais, em nível coletivo, para favorecer as escolhas saudáveis no nível individual; Considerando que as ações de Promoção da Saúde estruturadas no âmbito do Ministério da Saúde ratificam o compromisso brasileiro com as diretrizes da Estratégia Global; Considerando que a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) insere-se na perspectiva do Direito Humano à Alimentação Adequada e que entre suas diretrizes destacam-se a promoção da alimentação saudável, no contexto de modos de vida saudáveis e o monitoramento da situação alimentar e nutricional da população brasileira; Considerando a recomendação da Estratégia Global para a Segurança dos Alimentos da OMS, para que a inocuidade de alimentos seja inserida como uma prioridade na agenda da saúde pública, destacando as crianças e jovens como os grupos de maior risco; Considerando os objetivos e dimensões do Programa Nacional de Alimentação Escolar ao priorizar o respeito aos hábitos alimentares regionais e à vocação agrícola do município, por meio do fomento ao desenvolvimento da economia local; Considerando que os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam sobre a necessidade de que as concepções sobre saúde ou sobre o que é saudável, valorização de hábitos e estilos de vida, atitudesperante as diferentes questões relativas à saúde perpassem todas as áreas de estudo, possam processar-se regularmente e de modo contextualizado no cotidiano da experiência escolar; Considerando o grande desafio de incorporar o tema da alimentação e nutrição no contexto escolar, com ênfase na alimentação saudável e na promoção da saúde, reconhecendo a escola como um espaço propício à formação de hábitos saudáveis e à construção da cidadania; Considerando o caráter intersetorial da promoção da saúde e a importância assumida pelo setor Educação com os esforços de mudanças das condições 17 educacionais e sociais que podem afetar o risco à saúde de crianças e jovens; Considerando, ainda, que a responsabilidade compartilhada entre sociedade, setor produtivo e setor público é o caminho para a construção de modos de vida que tenham como objetivo central a promoção da saúde e a prevenção das doenças; Considerando que a alimentação não se reduz à questão puramente nutricional, mas é um ato social, inserido em um contexto cultural; e Considerando que a alimentação no ambiente escolar pode e deve ter função pedagógica, devendo estar inserida no contexto curricular, resolvem: Art. 1º Instituir as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes pública e privada, em âmbito nacional, favorecendo o desenvolvimento de ações que promovam e garantam a adoção de práticas alimentares mais saudáveis no ambiente escolar. Art. 2º Reconhecer que a alimentação saudável deve ser entendida como direito humano, compreendendo um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas, sociais e culturais dos indivíduos, de acordo com as fases do curso da vida e com base em práticas alimentares que assumam os significados socioculturais dos alimentos. Art. 3º Definir a promoção da alimentação saudável nas escolas com base nos seguintes eixos prioritários: I - ações de educação alimentar e nutricional, considerando os hábitos alimentares como expressão de manifestações culturais regionais e nacionais; II - estímulo à produção de hortas escolares para a realização de atividades com os alunos e a utilização dos alimentos produzidos na alimentação ofertada na escola; III - estímulo à implantação de boas práticas de manipulação de alimentos nos locais de produção e fornecimento de serviços de alimentação do ambiente escolar; IV - restrição ao comércio e à promoção comercial no ambiente escolar de alimentos e preparações com altos teores de gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal e incentivo ao consumo de frutas, legumes e verduras; e V - monitoramento da situação nutricional dos escolares. Art. 4° Definir que os locais de produção e fornecimento de alimentos, de que trata esta Portaria, incluam refeitórios, restaurantes, cantinas e lanchonetes que devem estar adequados às boas práticas para os serviços de alimentação, conforme definido nos regulamentos vigentes sobre boas práticas para serviços de alimentação, como forma de garantir a segurança sanitária dos alimentos e das refeições. Parágrafo único. Esses locais devem redimensionar as ações desenvolvidas no cotidiano escolar, valorizando a alimentação como estratégia de promoção da saúde. Art. 5º Para alcançar uma alimentação saudável no ambiente escolar, devem-se implementar as seguintes ações: I - definir estratégias, em conjunto com a comunidade escolar, para favorecer escolhas saudáveis; II - sensibilizar e capacitar os profissionais envolvidos com alimentação na escola para produzir e oferecer alimentos mais saudáveis; III - desenvolver estratégias de informação às famílias, enfatizando sua corresponsabilidade e a importância de sua participação neste processo; IV - conhecer, fomentar e criar condições para a adequação dos locais de produção e fornecimento de refeições às boas práticas para serviços de 18 alimentação, considerando a importância do uso da água potável para consumo; V - restringir a oferta e a venda de alimentos com alto teor de gordura, gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal e desenvolver opções de alimentos e refeições saudáveis na escola; VI - aumentar a oferta e promover o consumo de frutas, legumes e verduras; VII - estimular e auxiliar os serviços de alimentação da escola na divulgação de opções saudáveis e no desenvolvimento de estratégias que possibilitem essas escolhas; VIII - divulgar a experiência da alimentação saudável para outras escolas, trocando informações e vivências; IX - desenvolver um programa contínuo de promoção de hábitos alimentares saudáveis, considerando o monitoramento do estado nutricional das crianças, com ênfase no desenvolvimento de ações de prevenção e controle dos distúrbios nutricionais e educação nutricional; e X - incorporar o tema alimentação saudável no projeto político pedagógico da escola, perpassando todas as áreas de estudo e propiciando experiências no cotidiano das atividades escolares. Art. 6º Determinar que as responsabilidades inerentes ao processo de implementação de alimentação saudável nas escolas sejam compartilhadas entre o Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária e o Ministério da Educação/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Art. 7º Estabelecer que as competências das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e de Educação, dos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde, Educação e Alimentação Escolar sejam pactuadas em fóruns locais de acordo com as especificidades identificadas. Art. 8º Definir que os Centros Colaboradores em Alimentação e Nutrição, Instituições e Entidades de Ensino e Pesquisa possam prestar apoio técnico e operacional aos estados e municípios na implementação da alimentação saudável nas escolas, incluindo a capacitação de profissionais de saúde e de educação, merendeiras, cantineiros, conselheiros de alimentação escolar e outros profissionais interessados. Parágrafo único. Para fins deste artigo, os órgãos envolvidos poderão celebrar convênio com as referidas instituições de ensino e pesquisa. Art. 9º Definir que a avaliação de impacto da alimentação saudável no ambiente escolar deva contemplar a análise de seus efeitos a curto, médio e longo prazo e deverá observar os indicadores pactuados no pacto de gestão da saúde. Art. 10º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação (BRASIL, 2006). 19 Nota Técnica nº 02/2012 – COTAN/CGPAE/DIRAE/FNDE Experiências de regulamentação da comercialização de alimentos não saudáveis em cantinas escolares têm sido desenvolvidas em alguns estados e municípios brasileiros, cita-se como exemplo: Florianópolis/SC - Lei municipal n.º 5.853, de 04 de junho de 2001. Abrangência: Unidades educacionais públicas e privadas que atendem a educação básica do Município. Santa Catarina/SC - Lei estadual n.º 12.061, de 18 de dezembro de 2001. Abrangência: Unidades educacionais públicas e privadas que atendem a educação básica do Estado. Paraná/ PR - Lei estadual n.º 14.423, de 02 de junho de 2004 e Lei estadual n.º 14.855, de 19 de outubro de 2005. Abrangência: Unidades educacionais públicas e privadas que atendam a educação básica do Estado. Rio de Janeiro/RJ - Decreto municipal n.º 21.217, de 01 de abril de 2002, Portaria n.º 02/2004, da I Vara da Infância e da Juventude e Lei estadual n.º 4.508, de 11 de janeiro de 2005. Abrangência: Rede pública e privada do município e Estado. Distrito Federal/DF - Lei n.º 3.695, de 8 de novembro de 2005. Abrangência: Escolas de educação infantil e de ensino fundamental e médio das redes pública e privada. São Paulo/SP - Portaria conjunta COGSP/CEI/DSE, de 23 de março de 2005. Abrangência: Rede pública do Estado. Ribeirão Preto/ SP - Resolução Municipal n.º 16/2002, de 29 de julho de 2002 (BRASIL, 2007). Goiás/GO – Secretaria de Estado de Educação. Portaria GAB/SEDUC nº 3405, de 18 de maiode 2011. Resolve que fica terminantemente proibido, dentro das dependências permanentes à Secretaria de Estado de Educação, o comércio de qualquer tipo de produto ou mercadoria, seja por servidores ou por terceiros. É importante destacar que tais documentos têm por objetivo a regulamentação de alimentos que podem ou não ser comercializados nas cantinas escolares, contando com a proibição de refrigerantes, doces e alimentos considerados não saudáveis. De forma geral estas regulamentações abordam: - Proibição do comércio dos seguintes itens: bebidas alcoólicas; balas, pirulitos e gomas de mascar; refrigerantes, sucos artificiais; salgadinhos industrializados; salgados fritos e pipocas industrializadas; - Oferta de duas opções de frutas sazonais diariamente; - Presença obrigatória de mural ou material de comunicação visual para divulgação de informações relacionadas à alimentação e nutrição; - Proibição de exposição de cartazes publicitários que estimulem a aquisição e o consumo de balas, chicletes, salgadinhos e refrigerantes. 20 Manual das cantinas escolares saudáveis A cantina escolar tem um compromisso social na saúde da comunidade escolar na qual ela se insere, pois os lanches e produtos que comercializa têm importante impacto na saúde dos alunos. À primeira vista, a influência na formação dos hábitos alimentares de crianças e adolescentes parece um trabalho difícil, mas é uma ação de grande importância em longo prazo, pois colabora para o desenvolvimento de uma vida mais saudável. Além disso, uma cantina que se preocupa com a saúde da comunidade escolar, a partir da oferta de alimentos adequados e saudáveis, desenvolve a confiança nos pais e alunos. (...) (...) para a promoção da alimentação saudável de crianças, adolescentes e clientes em geral, é necessário que a cantina promova mudanças em: Sua estrutura: Manter equipamentos, utensílios, bancadas, pisos e paredes sempre limpos e de acordo com a legislação que trata dos aspectos higiênico-sanitários (RDC nº 216). Sempre que possível, devem ser realizadas modificações no ambiente da cantina, ressaltando os lanches saudáveis e retirando as propagandas dos alimentos industrializados e ricos em gordura e açúcar. Seu conteúdo: O conteúdo mais importante de uma cantina são os alimentos que ela oferece. E preciso trocar salgados fritos por assados, refrigerantes por sucos naturais e os demais lanches não saudáveis por alimentos saborosos e nutritivos. Trabalhar a divulgação desses alimentos é fundamental. Sua clientela: A clientela, no caso, as crianças, adolescentes, professores e funcionários, precisa ser sensibilizada para trocar seus lanches antigos por lanches saudáveis e, assim, passar a ter mais qualidade de vida. Mobilizar os pais para essa mudança também é imprescindível. Seus funcionários: O apoio dos seus funcionários para que eles também se envolvam na promoção de alimentos saudáveis com todos os cuidados de higiene que isso requer (BRASIL, 2010). Conclusão A partir das discussões realizadas nesse bloco, podemos concluir que é expressa a necessidade de unir o trabalho de merendeiras e donos de cantina em prol de uma alimentação saudável e que o profissional responsável pela alimentação escolar precisa, necessariamente, estar atento às orientações do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde e com trabalho de escuta e formação às famílias formando o tripé: Escola família serviço de saúde Em relação à parte educacional, os professores devem inserir no conteúdo de suas aulas informações sobre alimentação saudável, hábitos de consumo, tipos de alimento 21 e como eles influenciam a saúde das pessoas e a relação de alimentação com a mídia e a cultura. Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <https://goo.gl/HwJ1Q>. Acesso em: 22 ago. 2018. ______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 1996. Disponível em: <https://goo.gl/SD4KAm>. Acesso em: 22 ago. 2018. ______. Ministério da Saúde. Portaria interministerial n. 1.010, de 8 de maio de 2006. Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: <https://goo.gl/mzMXPw>. Acesso em: 3 set. 2018. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: <https://goo.gl/UkE0T7>. Acesso em: 3 set. 2018. ______. Lei n. 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica... Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jun. 2009. Disponível em: <https://goo.gl/Zcesh4>. Acesso em: 27 ago. 2018. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual das cantinas escolares saudáveis: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <https://bit.ly/2A2dWmj>. Acesso em: 10 out. 2018. 22 ______. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução n. 26 de 17 de junho de 2013. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jun. 2013. Disponível em: <https://goo.gl/T4RYFN>. Acesso em: 27 ago. 2018. ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados, do Distrito Federal e da União. Cartilha Nacional da Alimentação Escolar. 2. ed. Brasília, 2015. Disponível em: <https://bit.ly/2pMzIEA>. Acesso em: 20 set. 2018. ______. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Aquisição de produtos da agricultura familiar para a alimentação escolar. Brasília: FNDE, 2016. Disponível em: <https://goo.gl/VZ6Nx9>. Acesso em: 10 out. 2018. GABRIEL, C. G. et al. Regulamentação da comercialização de alimentos no ambiente escolar: análise dos dispositivos legais brasileiros que buscam a alimentação saudável. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 71, p. 11-20, 2012. Disponível em: <https://goo.gl/1kYmjM>. Acesso em: 3 set. 2018. PEIXINHO, A. et al. Cartilha Nacional da Alimentação Escolar. Brasília: MEC, 2014. Disponível em: <https://goo.gl/jp4DVX>. Acesso em: 27 ago. 2018. RIBEIRO, Gisele Naiara Matos; SILVA, João Batista Lopes da. A alimentação no processo de aprendizagem. Revista Eventos Pedagógicos, v. 4, n.2, p. 77-85, ago./dez. 2013. Disponível em: <https://goo.gl/HmbHE2>. Acesso em: 10 out. 2018. 23 BLOCO 3. IMPACTOS DA ALIMENTAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO Este bloco tratará de dois fenômenos atuais que influenciam direta ou indiretamente o desenvolvimento da criança e do adolescente em idade escolar. São eles: desnutrição e obesidade. 3.1 Alimentação e desenvolvimento cognitivo Em entrevista concedida para a nossa disciplina, a convidada Maria de Fátima nos trouxe contribuições a respeito do impacto da alimentação no desenvolvimento cognitivo das crianças em idade escolar. Podemos destacar que a escola tem papel fundamental sobre a construção de hábitos saudáveis de alimentação, principalmente em um contexto cada vez mais impregnado pela cultura do “fast-food” e do consumo de alimentos ultraprocessados em substituição aos naturais dentro da própria rotina familiar. Uma alimentação pobre em nutrientes, além de afetar a saúde física da criança, também atinge negativamenteo seu desenvolvimento cognitivo. Por isso uma dieta equilibrada se torna tema essencial na luta contra os casos de desnutrição e obesidade que influenciam o desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes em idade escolar. E, nesse contexto, a alimentação escolar tem papel preponderante. 3.2 Desnutrição e obesidade O Brasil ainda está distante de um cenário ideal no que se refere à qualidade de vida. Nesse contexto, muitos indivíduos se deparam com uma realidade de miséria, pobreza, desigualdade social e abandono por parte das autoridades políticas; e é nesse cenário que a desnutrição infantil se apresenta, por conta da privação de muitas pessoas de suas necessidades básicas (FRAGA; VARELA, 2013). 24 Dois problemas impactam a infância e o desenvolvimento das crianças e apesar de parecerem antagônicos fazem parte de um mesmo problema: a má alimentação. São eles, a desnutrição e a obesidade. Segundo o site da Fundação Maria Cecília Vidigal, No mundo, 1,9 bilhão de pessoas estão acima do peso, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS). No universo infantil, 600 milhões de crianças são consideradas obesas. Por outro lado, cerca de 2 bilhões de pessoas, em todo o planeta, apresentam deficiências de micronutrientes, sendo 156 milhões de crianças, até cinco anos de idade, vítimas da desnutrição crônica, e 50 milhões apresentam desnutrição aguda (baixo peso para a altura). Desnutrição: De acordo com Cazarré (2017), “Em 2016, a desnutrição afetava 7,7% de crianças menores de 5 anos em todo o mundo, segundo o relatório [do The State of Food Security and Nutrition in the World 2017]. O dado representa cerca de 17 milhões de crianças”. Segundo estudos divulgados em 2016, realizados pelo Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI), o Brasil era “exemplo” no combate à fome. O relatório publicado em Bruxelas aponta que os programas sociais tiveram eficácia na redução da pobreza, da fome e da desnutrição. Porém, após a crise econômica vemos que esses dados tiveram um retrocesso. De acordo com Weinberg, Bustamante e Sampaio (2018), houve um aumento considerável de mortes por desnutrição. A porcentagem foi de 12,6% em 2016 para 13,1% em 2017 (Dados divulgados pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) consolidados pela Fundação Abrinq). “Desnutrição e mortalidade infantil andam de mãos dadas, porque a criança malnutrida é mais vulnerável”, explica o médico sanitarista Nelson Neumann, coordenador internacional da Pastoral da Criança no Brasil. Adultos desnutridos também afetam o desenvolvimento dos filhos. “A má nutrição da mãe pode resultar em crianças menos saudáveis pela vida inteira” (WEINBERG; BUSTAMANTE; SAMPAIO, 2018). http://www.paho.org/bra/ http://www4.planalto.gov.br/consea/comunicacao/noticias/2017/organizacoes-internacionais-querem-estimular-uso-de-experiencias-do-brasil-no-combate-a-obesidade-infantil http://www.sbp.com.br/pdfs/Cadernos_Micronutrientes_MS.pdf http://www.sbp.com.br/pdfs/Cadernos_Micronutrientes_MS.pdf http://www.minhavida.com.br/saude/temas/desnutricao http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_desnutricao_criancas.pdf 25 Segundo o site Minuto Nutrição, A principal causa da desnutrição é a falta de ingestão de nutrientes. As consequências da desnutrição são: - Emagrecimento; - Problemas cardíacos; - Anemia; - Mau funcionamento intestinal; - Aumento da quantidade de bactérias no estômago que podem causar câncer; - Baixa imunidade, facilitando a entrada de microorganismos e favorecendo a instalação de doenças; - Dificuldade na cicatrização de feridas; - Atraso no desenvolvimento corporal e intelectual nas crianças; - Atrofia muscular; - Pele, cabelos e unhas frágeis; (...) Todas essas consequências podem ser tratadas. Mas as crianças desnutridas poderão apresentar problemas de saúde irreversíveis como baixa estatura ou baixo desenvolvimento intelectual e até mesmo esterilidade e problemas hormonais. Obesidade: De acordo com Chaput e Tremblay (2006, p. 1), A obesidade infantil resulta de uma falha do sistema de autorregulação do corpo na modulação de influências ambientais em relação às propensões genéticas individuais. Diversos fatores envolvidos nas complexas interações genes-ambiente que causam a obesidade promoverão um equilíbrio energético positivo em longo prazo. Resultados de estudos longitudinais sugerem que a causa última da obesidade tende a ser um pequeno desequilíbrio crônico de energia, que é difícil de detectar por meio dos métodos atuais de mensuração de ingestão e gasto de energia. É provável que mudanças ambientais – por exemplo, em nutrição e estilo de vida – sejam as principais responsáveis pela atual epidemia de obesidade, uma vez que um conjunto de genes não pode modificar-se em menos do que uma geração. Segundo o site da Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde Brasil (2015), os principais fatos sobre a obesidade são: A obesidade mais do que duplicou desde 1980 em todo o mundo. (...) A maior parte da população mundial vive em países onde o sobrepeso e a obesidade matam mais pessoas do que o baixo peso. 41 milhões de crianças com menos de 5 anos estavam com sobrepeso ou obesas em 2014. (...) 26 Conforme Guimarães (2017), De acordo com o estudo divulgado na [revista científica The] Lancet, a prevalência de obesidade global em meninas saltou de 0,7% em 1975 para 5,6% em 2016. Em meninos, a alta foi ainda maior: saiu de apenas 0,9% em 1975 para 7,8% em 2016. Como consequência, 124 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos ao redor do mundo estavam obesos em 2016. De acordo com Portilho (2018), as causas podem ser genéticas, no entanto, pesquisas mostram que “95% dos casos estão ligados à falta de atividades físicas e à alimentação incorreta, com excesso de gorduras e açúcares”. Como reverter os impactos da desnutrição e da obesidade nas crianças? Desnutrição O combate à desnutrição é uma causa social e de responsabilidade em âmbitos federais: Programas sociais para erradicação da fome no país; Alimentação rica em nutrientes; Oferta de merenda adequada nas escolas; Campanhas que incentivem o aleitamento materno. Obesidade De acordo com a Federação Mundial de Obesidade, para reduzir a obesidade é preciso: Aumentar o aleitamento materno na infância; Limitar o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura; Encorajar os jovens a praticar exercícios físicos. 27 3.3 Desnutrição e desempenho escolar Segundo Mendes (2016), Dentre (...) [as maiores] problemáticas [da atualidade], destaca-se a fome e, resultante dela, a desnutrição. Há uma preocupação tamanha quanto a desnutrição infantil, que pode ser ocasionada pela deficiente educação alimentar oferecida às crianças. Uma vez desnutrida, a criança leva consigo consequências que geralmente são irreparáveis, em seu desenvolvimento físico e mental, ocasionando, por exemplo, deficiências na aprendizagem devido ao retardo na inteligência, problemas na calcificação dos ossos e nas funções vitais do mesmo. (...) É importante ressaltar que os indivíduos que não recebem quantidade calórico-proteica necessária por dia, não atingem o pleno desenvolvimento na infância, levando consigo efeitos nocivos para toda a vida e consequentemente para a própria atividade socioeconômica do país. É inadmissível que, aproximadamente, 150 milhões de crianças sejam desnutridas no mundo, e que muitas, morrem deste mal, enquanto toneladas de alimentos são desperdiçados diariamente. O Brasil apresenta um dos índices mais altos e preocupantes: um em cada dez brasileiros sofre de desnutrição. Conforme Sawaya (2006), Outra maneira de conhecer as causas da desnutrição e suas consequências para uma considerávelparcela das crianças pobres brasileiras é procurar compreendê-las como decorrência das concepções e das ações que se estabelecem entre os diferentes grupos sociais e as instituições a partir das relações sociais, econômicas e políticas que estruturam a sociedade brasileira. Isso num cenário de desigualdade, no qual grande parte da população vive com salário mínimo que não lhe dá condições de uma vida digna e com alimentação saudável. Além desses, há também os que estão abaixo da linha da pobreza que não possuem habitação, saneamento básico, saúde e outros direitos que em tese são garantidos por lei na condição de cidadãos que, supostamente, são. Segundo Viveiros (2014), O déficit de proteínas prejudica a produção de enzimas e hormônios na criança, o crescimento do corpo, a imunidade e a cicatrização, e a falta de vitaminas e minerais causa diversos problemas ao organismo, dentre eles a fadiga e danos neurológicos. Além disso, quando o sistema imunológico não se desenvolve de forma correta, a criança fica muito mais sujeita às patologias, e estas se apresentam em formas bem mais graves do que as que ocorreriam em um organismo bem nutrido. 28 Todos esses fatores se apresentam como entraves no desenvolvimento escolar da criança. Desse modo, o rendimento se torna bem menor do que o esperado, e o interesse pelo ambiente escolar diminui, o que reduz significativamente as perspectivas de um futuro melhor para a criança, dando continuidade a um ciclo de exclusão social. De acordo com o site Portabilis (2017), (...) uma nutrição insuficiente (...) pode trazer sérias consequências não apenas para a saúde do corpo, mas também à saúde da mente. Dificuldade de concentração é um dos grandes sintomas de uma alimentação deficitária ou inadequada. Crianças mal alimentadas terão maior dificuldade na realização das atividades propostas. Já uma alimentação saudável faz com que o aluno adoeça menos, falte menos às aulas e ainda, tenha um melhor desempenho. (...) Os recursos do Pnae destinam-se ao atendimento das necessidades nutricionais do aluno durante sua permanência nas aulas, especialmente. Por isso, os nutrientes que afetam diretamente a capacidade de aprendizado do aluno são priorizados. Segundo Recine e Radaelli (2001, p. 15), A desnutrição pode apresentar caráter primário ou secundário, dependendo da causa que a promoveu. Causas primárias A pessoa come pouco ou “mal”. Ou seja, tem uma alimentação quantitativa ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes. Causas secundárias A ingestão de alimentos não é suficiente porque as necessidades energéticas aumentaram ou por qualquer outro fator não relacionado diretamente ao alimento. Exemplos: presença de verminoses, câncer, anorexia, alergia ou intolerância alimentares, digestão e absorção deficiente de nutrientes. (...) A desnutrição também pode ser causada por: Desmame precoce O desmame precoce pode causar desnutrição em crianças entre 0 e 2 anos de idade. De modo geral, o desmame no Brasil se dá em torno de duas semanas ou num período menor do que três meses de idade. A alimentação introduzida normalmente é insuficiente para satisfazer as necessidades dos lactentes entre famílias de baixo poder aquisitivo (...). Socioeconômicos Crianças provenientes de famílias de baixa renda apresentam um risco maior relacionado a deficiências alimentares. Além disso, condições sanitárias precárias contribuem para o aparecimento de infecções, parasitoses e da desnutrição. Culturais Fatores culturais influenciam muito o consumo de alimentos. Mitos, crenças e tabus podem interferir negativa ou positivamente nos aspectos nutricionais, sendo mais comuns os prejuízos que os benefícios. Renda e disponibilidade de alimentos 29 Quanto mais alta a renda, maior é o acesso a hortaliças, frutas e outros elementos variados. A dieta, é claro, tem melhor qualidade. Quanto menor a renda, maior o comprometimento tanto da qualidade quanto da quantidade de alimentos consumidos. De acordo com Cazarré (2017), Após uma trajetória de queda, que durou mais de uma década, a fome em todo mundo parece estar aumentando de novo, afetando atualmente 11% da população mundial, segundo o relatório [The State of Food Security and Nutrition in the World 2017 (o estado da segurança alimentar e nutrição no mundo)]. Enquanto em 2015 o número de pessoas subalimentadas no mundo era 777 milhões, agora o problema alcançou 815 milhões de pessoas. Conforme Recine e Radaelli (2001, p. 19), A desnutrição leva a uma série de alterações na composição corporal e no funcionamento normal do organismo. Quanto mais grave for o caso, maiores e também mais graves serão as repercussões orgânicas. As principais alterações são: Grande perda muscular e dos depósitos de gordura, provocando debilidade física. Emagrecimento: peso inferior a 60% ou mais do peso ideal (adultos) ou do peso normal (crianças). Desaceleração, interrupção ou até mesmo involução do crescimento. Alterações psíquicas e psicológicas: a pessoa fica retraída, apática, triste. Alterações de cabelo e de pele: o cabelo perde a cor (fica mais claro), a pele descasca e fica enrugada. Alterações sanguíneas, provocando, dentre elas, a anemia. Alterações ósseas, como a má formação. Alterações no sistema nervoso: estímulos nervosos prejudicados, número de neurônios diminuídos, depressão, apatia. Alterações nos demais órgãos e sistemas respiratório, imunológico, renal, cardíaco, hepático, intestinal etc. 3.4 Impactos da obesidade no desenvolvimento do educando Em entrevista concedida pela Dra. Michelle, ela abordou como o desenvolvimento do educando pode ser impactado pela obesidade. Muitos são os casos de crianças que dormem em sala de aula e se alijam de atividades de campo como correr, escalar e saltar obstáculos ou somente brincar com o grupo. Essas crianças são em geral obesas ou pelo menos possuem sobrepeso, o que lhes impede a agilidade própria de sua faixa etária. Os hábitos alimentares advindos da cultura familiar influenciam diretamente 30 sobre esse quadro e, uma vez que começam a frequentar o ambiente escolar, requerem cuidados específicos para que percam peso e ganhem maior qualidade de vida e de saúde. A hora da refeição na escola, portanto, precisa ultrapassar a ideia de mera recreação para assumir o lugar de educação alimentar, momento privilegiado para a construção de hábitos saudáveis de alimentação. 3.5 Prática pedagógica para uma alimentação saudável Houve um aumento dos casos de doenças que têm como uma das causas a má alimentação atrelado aos fatores como mudança do perfil alimentar da população. Por isso entende-se que a escola seja o lugar ideal para fomentar a alimentação saudável, pois é na infância e na adolescência que começam a se definir os hábitos alimentares. Nesse contexto, a atividade física e a alimentação são fatores indissociáveis para a qualidade de vida do educando. Afinal, a educação alimentar das crianças deixou de ser uma responsabilidade exclusiva da família, tornando-se um assunto de relevância no contexto escolar. A alimentação saudável é um tema interdisciplinar que se aplica a diferentes disciplinas, como Ciências, Educação Física, Matemática, entre outras, uma vez que trata de temas como atividade física, dieta e evolução dos níveis de obesidade (gráficos). Esses temas visam desenvolver elementos de uma vida saudável, pois é na escola que a criança pequena passa boa parte do seu dia, construindo seus hábitos físicos e alimentares. Atualmente, é muito comum nos depararmos com crianças e adolescentes em idade escolar, obesos e inativos, substituindo a prática de atividades físicas (como as brincadeiras em grupo que há pouco tempo realizávamos nas ruas, calçadas, quintais etc.) pela televisão, pelo computador e, mais fortemente,pelo celular. Por isso, praticar atividades físicas, no âmbito escolar, será de grande valia para que os educandos sigam sua vida adulta praticando atividades físicas e tendo consciência do seu valor para a saúde. A escola precisa, necessariamente, se constituir em um ambiente promotor de bons hábitos alimentares como evidenciado no documento da Organização Mundial da 31 Saúde (OMS) “Estratégia Global para Alimentação Saudável e Atividade Física” (BRASIL, 2004, p.43). Questões como corporeidade e ludicidade precisam caminhar juntas ao trabalho para uma alimentação saudável, visto que os educandos terão maior interesse e disponibilidade para o aprendizado. Desse modo, jogos, campanhas nutricionais e tantas outras atividades podem constituir o currículo no que tange à alimentação saudável. Considerando que cabe à escola uma parcela importante na tarefa de educar para práticas alimentares saudáveis, cabe também ao profissional responsável pela merenda, junto ao nutricionista, integrar e mobilizar a comunidade escolar. Nesse caso, tais profissionais precisam estar aptos a desempenhar o papel de articuladores de ações educativas, reunindo os esforços de outros colaboradores como a direção, coordenação pedagógica e docentes para o desenvolvimento de projetos de educação permanente em alimentação e nutrição. Alves (2003 apud SANTOS, 2013) cita que “ser fisicamente ativo desde a infância possui muitos benefícios não só na área física, mas também nas esferas sócio e emocional, e pode levar a um melhor controle das doenças crônicas da vida adulta”. A escola precisa ser bastante criativa para competir com os meios de comunicação e com as novas tecnologias. Assim, construção de hortas, visitas a uma feira de orgânicos, gincanas e competições saudáveis, observação e debate sobre o que é consumido em casa e na escola, leitura orientada de rótulos, oficinas de culinária e de reaproveitamento de alimentos passam a ser incentivo para que meninos e meninas coloquem a mão na massa e aprendam fazendo. Segundo Voll Pilates Group (2017), “O excesso do consumo de alimentos ricos em sódio, corantes, açúcares e conservantes, aliados ao sedentarismo é o grande responsável por diversas doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, colesterol alto, entre outras” próprias do momento atual. Assim ao desenvolver atividades como as citadas acima é preciso observar se esses alimentos estão no roteiro de trabalho, por exemplo, nas oficinas de culinária. Caso isso ocorra, muito do trabalho realizado será em vão. http://blogeducacaofisica.com.br/controle-da-pressao-arterial/ 32 Os educadores envolvidos na alimentação escolar devem buscar o diálogo com valores culturais, sociais e afetivos que envolvem as práticas alimentares em diferentes contextos já que vivemos numa sociedade multicultural e, portanto, com grande diversidade de hábitos alimentares. Outra parte importante da alimentação é a hidratação. O consumo de água é essencial para o bom funcionamento do organismo. Incentivar as crianças e adolescentes a carregarem garrafinhas de água durante as aulas é tarefa importante dos educadores no processo de construção de parâmetros para uma vida saudável. A água traz diferentes benefícios: • Regula a temperatura do corpo durante as atividades físicas ou quando o clima está muito quente (...). • Desintoxicação – A ingestão frequente de água, nos estimula a ir mais ao banheiro, pelo aumento da diurese, ou seja, a água auxilia na limpeza do trato urinário fazendo com que haja a prevenção de infecções (...). • Absorção e transporte de nutrientes e glicose (...). • Perda de peso – Por meio da diminuição da retenção de líquidos, uma vez que o trabalho renal é estimulado (...). • (...) em ação conjunta com as fibras alimentares, o líquido participa da formação e hidratação do bolo fecal (EQUIPE MAMUT, 2018). Conclusão A desnutrição e o excesso de peso, entre outras doenças crônicas não transmissíveis, coexistem e muitas vezes nas mesmas comunidades. Esse fenômeno pode ser considerado um dos maiores desafios para as políticas públicas no momento e, por isso, exige atenção à saúde tendo como propósito a formação integral do indivíduo com uma abordagem centrada na promoção da saúde. Para tanto, é preciso entender que a obesidade é um fenômeno cultural que pode e deve ser corrigido com o trabalho conjunto entre família e escola. A desnutrição, contudo, é um fenômeno socioeconômico e político, marcado pela desigualdade evidente em nossa sociedade. Para esse problema, a escola também tem papel importante junto às políticas públicas de saúde e de alimentação escolar. A importância desse trabalho se confirma pelo impacto que tanto a obesidade como a desnutrição trazem para o corpo e para o desenvolvimento cognitivo das crianças e 33 adolescentes em idade escolar. Daí a necessidade de trabalhos conjuntos entre profissionais da saúde, da educação e famílias. Referências ALIMENTAÇÃO e nutrição: folhas informativas. 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Nesse processo, a escola não se corresponsabilizava pelos insucessos dos educandos, já que também não eram oferecidas a todos as oportunidades de aprendizagem e de construção de conhecimento visando a uma educação de qualidade. Atualmente, a escola tem como uma de suas incumbências ser PROMOTORA DE SAÚDE, relacionando saúde aos aspectos globais ligados à qualidade de vida, incluindo cidadania, numa relação entre meio, sociedade e cultura na garantia do acesso aos direitos básicos para a justiça social, entre os quais está a educação. 4.1 Alimentação e sociabilidade do educando Nesta aula, falaremos sobre sociabilidade. Qual a ligação das relações sociais com a comida? Você se lembra, na sua infância, do momento do lanche? Do lazer no período da merenda em sua escola? Das conversas, risadas? Isso tudo fez parte do seu desenvolvimento social. Quando pensamos em alimentação, a princípio, podemos entendê-la como um ato mecânico para suprir necessidades orgânicas. Porém, vemos que a sociedade tem outro vínculo com a alimentação. Pense em um almoço em família ou um jantar para alguma determinada comemoração. Em todas essas ocasiões podemos perceber que o foco principal não está em alimentar-se, mas sim na união e socialização das pessoas. 37 Assim, levamos essa afetividade para nossa cultura. Partilhamos a comida, estreitamos os vínculos e também expressamos nossa identidade cultural. A identidade cultural de um grupo social é a representação do processo histórico, fruto dos elementos de sua tradição e seus costumes. E a escola? Qual o papel da escola nesse processo de sociabilizar o aluno? Sociabilizar significa tornar sociável, pertencente ao grupo, aceitando seus costumes, hábitos e características. E é no ambiente escolar que proporcionamos a união e envolvimento da diversidade cultural de seus componentes em todos os aspectos que circundam a educação. E assim como em sociedade, na escola o aluno também possui afetividade com a hora da alimentação. Chegamos ao ponto mais importante da nossa aula: o aluno tem um envolvimento afetivo com a merenda. Sendo assim, a hora da alimentação pode proporcionar momentos para aprofundamento das relações sociais, trocas culturais. Cabe à escola apresentar e contribuir para a aquisição de novos conhecimentos e formação de novos hábitos sociais, culturais e alimentares também. Agora você deve estar se perguntando: mas enfim, na prática, como trabalhar a sociabilização dos alunos a partir da alimentação escolar e ainda abordar um assunto tão importante nos dias de hoje, a alimentação saudável? Vídeo Que tal conhecer um projeto feito com crianças de uma escola de Educação Infantil em Alagoas? É o que mostra o vídeo “Alunos de Campo Alegre participam de projeto sobre alimentação Escolar” https://www.youtube.com/watch?v=iYsvczRPM74 De forma simples e extremamente significativa essa escola trabalhou alimentação saudável, questões culturais e sociais e os alunos se envolveram no projeto de forma colaborativa. E como disse a coordenadora do projeto, os alunos, após passarem por essa experiência, podem socializar seu aprendizado, levando para suas famílias os costumes adquiridos na escola. https://www.youtube.com/watch?v=iYsvczRPM74 38
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