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Renata Scavazza - Zootecnia UFRGS 2018/2 CBS06049 Microbiologia e Parasitologia para Zootecnia Atividade sobre o artigo: “Microbiota ruminal: diversidade, importância e caracterização” Orientações: As questões abaixo deverão ser respondidas individualmente com a leitura do artigo enviado. Este artigo será objeto de estudo para a próxima prova. 1. Quais as características físicas do ambiente ruminal? E também caracteriza este ambiente em relação a sua composição microbiana. Os ruminantes possuem um sistema digestivo peculiar com características físicas próprias bem definidas, a ressaltar: a anaerobiose - conservada pelos gases resultantes da fermentação (CO 2, CH4 e alguns traços de Hidrogênio), temperatura constante (38ºC a 42ºC) regulada pelos próprios mecanismos fisiológicos de termorregulação e pH também constante (entre 6 e 7) devido à remoção dos ácidos na fermentação, neutralizados pela saliva e baixo teor de O 2 no compartimento. Estas características implicam limitações para as populações a habitarem-no, sendo povoado então por microrganismos obrigatoriamente anaeróbios como fungos (8% da microbiota total), protozoários não-patogênicos (2% dos produtos finais da fermentação), micoplasmas, bacteriófagos e bactérias (60 a 90% da biomassa microbiana). O número exato ainda é incerto, no entanto acredita-se que foram quantificadas mais de 400 espécies, 5 a 10% da população total, oriundas do trato digestório de vários animais, estabelecendo interações harmônicas interespecíficas e favorecendo o ruminante ao aproveitamento de uma gama de alimentos para obtenção de nutrientes. 2. As bactérias presentes no rúmen são classificadas de acordo com os substratos de degradação. Como elas estão classificadas? E o que isto promove dentro do ambiente ruminal? Segundo o tipo de substrato em que agem e nos produtos finais da fermentação, são classificadas como: a) Fermentadoras/ degradadoras de carboidratos estruturais (celulolíticas): em sua maioria gram-positivas, degradam celulose para formar acetato, dióxido de carbono, succinato, gás hidrogênio, formato, butirato, lactato e etanol; b) Fermentadoras/ degradadoras de carboidratos não-estruturais: b.1) Amilolíticas – gram-negativas, capta amido para formar propionato (precursor para formação de C 6H12O6); b.2) Pectinolíticas – podem utilizar NH 3, aminoácidos ou peptídeos para a síntese de proteínas, produzindo acetato, formato e etanol; c) Lipolíticas – hidrolisam triglicerídeos em glicerol e ácidos graxos; d) Proteolíticas – gram-positivas, em sua maioria capazes de degradar a proteína, geram NH 3 como substrato utilizável pelas celulolíticas; e) Metanogênicas – gram-positivas, utilizam substratos das celulolíticas (CO 2 e H 2) para sintetizar CH 4; 3. Qual o impacto do ambiente ruminal, sobre as bactérias celulolíticas? Algumas mudanças no ambiente ruminal podem prejudicar a digestão da celulose por estas bactérias. Quando a dieta dos animais é baseada em pastejo, esta consta nível alto de celulose e carboidratos solúveis ingeridos e, nesta situação, o pH não tem diminuição acentuada. Mas caso ocorra diminuição do pH abaixo de 5,9, o crescimento das bactérias celulolíticas minimiza ou até cessa, pois esta instabilidade nos valores Renata Scavazza - Zootecnia UFRGS 2018/2 CBS06049 Microbiologia e Parasitologia para Zootecnia ocasiona acúmulo de ânions na célula bacteriana, resultando em uma toxicidade. Outro fator é a inclusão de grãos na alimentação, como contém concentrações de amido, acaba favorecendo então a digestibilidade pelas bactérias Amilolíticas, resultando em competição entre os grupos de bactérias. 4. O que já pode ser observado em relação a flutuação e ou variações nas populações de protozoários dentro do rúmen? Segundo estudos, as populações de protozoários ruminais são encontradas nas seis primeiras semanas de vida do animal e apresentarão variações em relação ao período do dia, explicada de modo que a saliva é considerada a principal fonte de protozoários dos ruminantes, logo sua produção bem como a idade, metabolismo, saúde, ingestão de água, alimento (dieta disponibilizada) e a base nutricional influenciam nesta variação, por exemplo, uma dieta à base de concentrados favorece a predominância de protozoários do gênero Entodinium spp, em dietas com alto teores de fibras encontram-se em maior quantidade os gêneros Diplodinium spp. e Epidinium spp - sua celulase auxilia na degradação deste material, relata-se maior diversidade de espécies e algumas exclusivas quando oferecido feno em relação à dietas de grãos, também com outras espécies exclusivas. 5. Qual o percentual da população fúngica dentro do rúmen e como eles podem ser veiculados para outros animais? Os fungos representam 8% da massa microbiana ruminal quando a dieta ofertada for de alta concentração de fibras. Respondem à digestão da parte lignificada da parede celular de forrageiras diminuindo a rigidez estrutural, fator vinculado à alta atividade de enzimas, locomoção e aderência para degradação de celulose e hemicelulose, aumentando assim a superfície de aderência para as bactérias. Podem ser adquiridos nos próprios alimentos e bebedouros, onde se aderem à superfície, ou transmitidos pelo ar, primeiro contato materno e gotículas salivares. 6. O que ocorreria com os herbívoros se não fosse a presença da microbiota ruminal? Qual o real papel desta comunidade dentro do rúmen? Em geral, em herbívoros pode-se comparar que o intestino é proporcionalmente maior, visto que os vegetais são menos nutritivos comparado a outros modelos alimentares e de difícil digestão: nenhum vertebrado possui enzimas capazes de hidrolisá-las. Um mecanismo fisiologicamente útil e “inteligente” é albergar então microrganismos em compartimentos (ceco ou estômago) deste modo, uma relação associativa é estabelecida, com os hospedeiros oferecendo o ambiente essencial para desenvolvimento e colonização dos microrganismos e estes cooperando na degradação de fibras e oferecendo nutrientes resultantes de seus processos. 7. A Microbiota Ruminal pode ser alterada? De que maneira isso já foi observado? Alterações significativas da microbiota estão vinculadas principalmente à alimentação destes animais, visto que a fermentação dos alimentos altera o pH pela produção de ácidos logo após a ingestão, diminuindo a população de protozoários, bactérias e fungos menos resistentes. Estudos testando diferentes ofertas de alimento e contabilizando a microbiota, indicam que também a nutrição tem papel importantíssimo neste assunto, como relatado anteriormente, dependendo da alimentação à campo (tipo de gramínea/ forrageira, estações do ano) , concentrados, feno ou até mesmo grãos, irão afetar o desenvolvimento microbiano caso ocorrerem baixos teores protéicos e a disponibilidade de N no compartimento ruminal também pode ser uma condição limitante. Renata Scavazza - Zootecnia UFRGS 2018/2 CBS06049 Microbiologia e Parasitologia para Zootecnia 8. Para o estudo da microbiota que técnicas vêm sendo realizadas?Quais as vantagens e desvantagens? ⬥ Roll-tube technique: cultura de bactérias em tubos de ensaio Vantagens – ótimo para espécies extremamente sensíveis a O 2, pode ser inspecionado a qualquer momento sem perturbar as condições de anaerobiose Desvantagens – tecnicamente difícil para isolamento de estirpes, não permite identificação de algumas culturas pois essas tem que ser feitas in vitro. ⬥ In vivo: experimentação feita em tecido vivo Vantagens – os organismos mantêm suas atividades vitais com observação feita imediatamente após a coleta Desvantagens – normalmente os organismos identificados representam somente uma parte da população microbiana, de valor subestimado. ⬥ PCR (Reação em Cadeia Polimerase): multiplicação de determinados trechos de DNA utilizando o primer de PCR. Vantagens – pode ser aplicável em métodos de isolamento e identificação com utilização de relativamente pouca quantidade de matriz Desvantagens – precisa-se conhecimento prévio da sequência e fácil amplificação de erros. ⬥ qPCR (PCR quantitativa em Tempo Real): permite quantificação do alvo durante o processo de amplificação do DNA Vantagens - possibilita a quantificação das bactérias e protozoários alvo com maior acurácia. Desvantagens - permite a detecção dos produtos de reação apenas no final de todos os ciclos ⬥ Quimiostatos: biorreator ao qual um novo meio de cultura é continuamente adicionado Vantagens - alta precisão e confiabilidade quando aplicado em meios de cultura Desvantagens - taxas de crescimento microbiano estão relacionadas às taxas de diluição aplicadas e necessidade de um nutriente limitante (C ou N) ⬥ Metagenômica: estudo de material genético recuperado diretamente a partir de amostras ambientais Vantagens – formulação de probióticos específicos Desvantagens - tende a focar em classes majoritárias de um conjunto de dados e não forneceram bons resultados em populações de baixa abundância 9. Como os protozoários podem ser estudados? Em relação à quantificação, pode ser feita in vivo de contagem através de câmaras, e metodologias baseadas na utilização de observações em microscópio, a qPCR também tem sido utilizada. Estes estudos juntamente com o avanço das técnicas podem esclarecer as interações entre as populações microbianas com o hospedeiro, a fim de otimizar a eficiência nutricional e a saúde dos animais. Renata Scavazza - Zootecnia UFRGS 2018/2 CBS06049 Microbiologia e Parasitologia para Zootecnia 10. Quais os benefícios dos estudos de metagenômica? Fornece uma visão ampla da estrutura da comunidade, sua riqueza e distribuição de espécies, como também do potencial metabólico/ funcional de uma comunidade microbiológica presente. Permitem o estudo e composição de probióticos específicos a trazer benefícios, a inserção de microrganismos no rúmen, otimização da fermentação ruminal e o desenvolvimento de vacinas para as bactérias produtoras de metano. Estes estudos juntamente com o avanço das técnicas de pirosequenciamento podem esclarecer as interações entre as populações microbianas com o hospedeiro, a fim de otimizar a eficiência nutricional e a saúde dos animais.
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