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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PSICOPEDAGOGIA SHEILA DAMIÃO LEAL FRACASSO ESCOLAR E AVALIAÇÃO RIO DE JANEIRO 2009 1 FRACASSO ESCOLAR E AVALIAÇÃO SHEILA DAMIÃO LEAL Projeto de monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para obtenção de grau de especialista em Psicopedagogia. Orientador: Flávia Cavalcanti RIO DE JANEIRO 2009 2 FRACASSO ESCOLAR E AVALIAÇÃO SHEILA DAMIÃO LEAL Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, como requisito parcial para obtenção de grau de Especialista em Psicopedagogia. Aprovada em ________de_________________de 2009. ______________________________________________ Avaliador: Prof. RIO DE JANEIRO 2009 3 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por estar sempre me abençoando na caminhada por está vida. Depois, a uma pessoa muito especial : minha mãe, pela coragem e força que me proporciona. Enfim, a todos que indiretamente participaram desta caminhada : pai, irmãos, cunhadas, sobrinho e amigos. 4 AGRADECIMENTOS Uma noite eu tive um sonho. Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e, através do Céu, passavam cenas na minha vida. Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia : uma era o meu e o outro era do Senhor. Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás para as pegadas na areia e notei que muitas vezes no caminho de minha vida havia apenas um par de pegadas na areia. Notei também, que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso aborreceu- me e então perguntei ao Senhor : “ Senhor, Tu me disseste que uma vez que eu resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo, mas notei que durante as maiores atribulações do meu viver havia na areia dos caminhos da vida apenas um par de pegadas. Não compreendo porque nas horas que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixastes.” O Senhor me respondeu : “ Meu precioso filho, Eu te Amo e jamais te deixarei nas horas do teu sofrimento. Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi justamente ai que Eu te carreguei nos braços. Tu sabes o quanto tevês que me carregar nesta caminhada. Obrigado, Senhor por mais está Vitória. E também, pelo carinho, dedicação e profissionalismo da professora Flávia Cavalcanti. 5 RESUMO O fracasso escolar é hoje um grande problema para o sistema educacional. Muitas vezes, para se livrar da responsabilidade deste fracasso busca-se um “culpado”, ou seja, geralmente patologiza o aprendente . Este trabalho tem como objetivo questionar esta atitude e ampliar este foco. Assim, propõe discutir o fracasso escolar a partir de outras variáveis: como a prática avaliativa, que também influencia no processo de aprendizagem. A partir de tal prática refletirei a respeito do papel do psicopedagogo com relação ao fracasso escolar, como tal profissional poderá intervir nesta situação para revertermos tal quadro. Palavras-chave: Fracasso escolar, avaliação e intervenção psicopedagógica . 6 METODOLOGIA Para alcançar aos objetivos que propõe este trabalho acadêmico, foram utilizados diversos autores significativos para tal estudo. Tendo como referencia estudos bibliográficos , procurei sintetizá-los de maneira clara e objetiva para o aperfeiçoamento da obra. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO__________________________________________________8 CAPITULO I : FRACASSO NA APRENDIZAGEM_____________________11 CAPITULO II : AVALIAÇÃO E FRACASSO ESCOLAR_________________23 2.1 – PRÁTICAS AVALIATIVAS______________________________25 2.2 – O PAPEL DO PROFESSOR NA AVALIAÇÃO______________28 CAPITULO III: O PSICOPEDAGOGO FACE AO FRACASSO ESCOLAR__31 3.1 – APRENDIZAGEM E FRACASSO ESCOLAR_______________31 3.2 – A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA__________________32 CONSIDERAÇÕES FINAIS_______________________________________36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ________________________________38 8 INTRODUÇÃO Muitos autores e pesquisadores têm contribuído com estudos sobre o fracasso escolar nos últimos anos. Nem sempre a escola consegue atingir plenamente seus objetivos, deparando com situações em que os alunos não cumprem com o mínimo esperado. Quais as possíveis razões para o baixo rendimento escolar? Onde está o erro : na carência cultural do aluno, nos problemas concernente ao fator biológico e ou psicológico, ou no sistema escolar como um todo? O índice de repetência e baixo rendimento escolar são preocupantes. É necessário destacar as possíveis causas responsáveis pelo problema, apresentando alternativas para mudanças de posicionamento do professor e de outros profissionais da educação. Diante das questões levantadas acima, discutirei o cotidiano da escola com suas práticas educativas, que mais tem sido fator de exclusão do que o momento de estudo, bem como, o trabalho do Psicopedagogo neste processo. Assim as causas do fracasso escolar e a forma que a escola está organizada, seu compromisso ético e social é o objetivo maior deste trabalho. A escolha por este tema surgiu devido ao momento atual de reflexão e questionamentos em relação à educação, até porque como profissional da Educação senti a necessidade de discutir tal tema, tentando assim buscar alternativas para minimizar este problema. Identificando as possibilidades para reverter tal quadro do fracasso escolar e apresentar possíveis soluções para os problemas encontrados em cada situação. É importante ressaltar que a literatura voltada nas questões que tangem o fracasso escolar não apresentam soluções plausíveis para sanar tais dificuldades de aprendizagem. A trajetória histórica que envolve o fracasso escolar, sempre nos apresentou que as causas dos problemas de aprendizagem escolar encontrava-se na criança. Isto porque, ela era portadora de atraso no 9 desenvolvimento cognitivo e emocional. Segundo estudos realizados em diferentes épocas, tiveram por premissa rotular esses indivíduos como sendo os maiores responsáveis pelo fracasso escolar. Contudo, ao longo deste trabalho tentarei desmistificar os mitos que cercam esta temática. As explicações contraditórias e mal compreendidas que envolvem o fracasso escolar, acabam por perpetuar tais afirmações. E é neste momento que o professor precisa questionar sobre tais informações, refletindo sobre as verdadeiras causas que envolvem o fracasso escolar. Nesta perspectiva, destacarei dois pólos que se evidenciam nesse processo: o fracasso escolar, pólo negativo e seu reverso: a aprendizagem -, ambos objetos centrais desse processo. A aprendizagem e a não-aprendizagem estão sendo tratadas como algo individual, muitas vezes inerente ao aluno em particular, quando na verdade a grande maioria das dificuldades de aprendizagem perpassam o sistema no qual o aluno esta inserido. Seja no patamar do micro-espaço, aquele no qual o aluno esta presente todos os dias – determinada escola ou sala de aula-, ou em um patamar mais amplo – o sistema em si (municipal, estadual ou federal), as políticas públicas implementadas para esse ou aquele segmento ou ainda, a situação do próprio estado ou país. Portanto, cabe destacar que a maneira pela qual concebemoso significado do fracasso escolar está intimamente ligado à concepção de escola e de vida de quem se propõe a analisar e entender o problema. Nos últimos anos a escola brasileira tem sido responsável por produzir o fracasso escolar, já que o sucesso, as pesquisas e avaliações tem demonstrado com grande veemência, que não é para todos. Ignora-se que a Educação tem que ser pensada privilegiando o universo do aluno, seja como função da realidade socioeconômica e cultural em que está inserido, ou nas relações e nas condições que a escola oferece aos educandos em processo de apropriação do conhecimento. Dessa forma, compreendo que a escola funciona como um instrumento que motiva o educando na relação social e, a sua relação com o próprio meio 10 e como individuo social deve sempre ser levada em consideração no processo de aprendizagem. Pois, o saber advém dessa relação, sendo assim, um ser coagido, limitado, ignorado jamais poderá contribuir para o crescimento coletivo. A da inteligência humana deve ser embasada na cooperação mútua, criando e possibilitando condições plenas para o desenvolvimento de um individuo critico e atuante. Sendo assim, podemos dizer que é importante compreender o processo de construção e, o tipo de implicações envolvidas no processo de ensino- aprendizagem, não deixamos de ressaltar que esse processo não é imediato, mas ele advém da complexidade da sociedade, da condição do sujeito e de sua interação com a realidade vivida. O tema em questão será desenvolvido em três momentos distintos. O primeiro capítulo concentra-se nas abordagens de autores em relação ao fracasso escolar; no segundo capítulo é apresentado a forma como a escola está organizada, bem como os sistemas de avaliações que são adotados nas escolas brasileiras e no terceiro capítulo é citado a importância e as contribuições do Psicopedagogo na intervenção do fracasso escolar. Partindo do exposto acima, farei uma análise crítica sobre o assunto mencionado, utilizarei para isso alguns teóricos que discutem esse assunto. Afim, de embasar tal trabalho. 11 CAPÍTULO I – FRACASSO NA APRENDIZAGEM Como fenômeno histórico, o fracasso escolar nem sempre existiu, devido ao fato da maioria da população brasileira não ter conseguido acesso à escola no passado, quando esta ainda atendia à elite. Com o movimento da educação para todos, no início do século XX, a população menos favorecida passou a freqüentar o ambiente escolar, a qual não se adaptou a realidade da nova clientela. As idéias atualmente existentes no Brasil a respeito das dificuldades de aprendizagem escolar, advém da necessidade do país em modernizar-se e isso só poderá acontecer se houver um investimento maciço na área educacional. Portanto, a trajetória histórica do fracasso escolar na realidade brasileira pode ser identificada a partir de alguns pontos básicos : explicações para o fracasso escolar baseadas na teoria do déficit e da diferença cultural; explicações adivindas das crises do sistema social, que estariam sendo reproduzidas no sistema escolar; o momento do fracasso analisado à luz do próprio sistema educacional que é gerador de obstáculos à realização de seus objetivos e o fracasso escolar como depositário das dificuldades dos protagonistas que atuam no processo educacional. Diante desses aspectos levantados e que serão discutidos posteriormente, vale ressaltar primeiramente sobre as raízes históricas das concepções sobre o fracasso escolar que já nos séculos XIX e XX na Europa e nos E.U.A foram objetos de estudos e reflexões que desafiariam estudiosos e especialistas. Os primeiros especialistas a se ocuparem de caso de dificuldades de aprendizagem foram os médicos. O final do século XVIII e o início do século XIX foram de grande desenvolvimento nas ciências médicas e biológicas, especialmente na psiquiatria. Com os estudos da neurologia, da neurofilosofia e da neuropsiquiatria, os distúrbios de aprendizagem tinham um tratamento 12 diferenciado, sendo os portadores de tais distúrbios designados como anormais escolares. A corrente psicopedagógica para explicar a questão do fracasso escolar tem, no campo psicométrico, o embrião dessa abordagem. Inicialmente, com os trabalhos de Binnet, em 1985, autor da primeira escala métrica da inteligência para crianças; posteriormente, com os trabalhos de Claparéde – que influenciaram uma geração de psicólogos e pedagogos nessa questão da mediação da inteligência. Claparéde refere-se ao termo aptidões como sendo uma disposição natural do indivíduo, disposição esta que teria que levar em conta a educação, o nível de fadigamento, o exercício e o estado afetivo. Com o desenvolvimento dos testes os indivíduos puderam ser classificados como mais aptos e menos aptos, independentemente das influências ambientais, inclusive a de natureza sócio-econômica. A crença na oportunidade iguais era viabilizar através de dois recursos : o uso de instrumentos mediação das verdadeiras disposições naturais e o aprimoramento no sistema escolar. Todas as participações de psicólogos e pedagogos, em especial nas primeiras décadas do século XX, influenciaram a abordagem da análise das dificuldades de aprendizagem sob a luz do conhecimento das aptidões dos indivíduos. Os testes psicológicos nas escolas fazerem parte da vida cotidiana nos países capitalistas centrais. Dois pontos são importantes neste momento : a psicometria e a pedagogia nova, que estava sendo introduzida, principalmente nos meios educacionais da Europa e da América do Norte. Os testes de QI adquiriram um grande peso nas decisões dos educadores a respeito do destino escolar dos alunos que tiveram acesso à escola. Outro ponto que convém ressaltar é a influência das teorias psicanalísticas nas concepções sobre as causas das dificuldades de 13 aprendizagem. Inicialmente tida como “anormal escolar”, a criança que apresentava problemas de ajustamento ou de aprendizagem escolar passou a ser vista como “criança problema”. Se antes as dificuldades eram identificadas por instrumentos da medicina e da psicologia, que falavam em anormalidades genéticas e orgânicas, o são por instrumentos da psicologia clínica de inspiração psicanalística, que buscam no ambiente sócio-familiar as causas dos desajustes infantis. As causas do fracasso vão desde as físicas até as emocionais e de personalidade, passando pelas intelectuais. No estudo da fundamentação sobre o fracasso escolar cabe uma palavra a respeito das questões de hereditariedade. Se na literatura psicológica predeterminista do desenvolvimento humano foi substituída por uma concepção interacionista, por outro lado a introdução de novas concepções, vindas da psicologia e da antropologia a respeito da influência ambiental e da teoria psicanalista no pensamento educacional, criou outras expressões simplificadoras que levaram pais e educadores a uma atitude também fatalistas frente a supostas causas físicas e psicológicas do fracasso escolar. Pude observar que essas concepções tiveram um peso significativo na análise do fracasso escolar. Convém lembrar que essas idéias foram estudadas e analisadas por estudiosos brasileiros principalmente nas primeiras décadas do século XX, mas precisamente na década de setenta, quando houve um investimento maior no campo educacional, pois como já foi citado mais acima, o país precisava de pessoas capacitadas para competir no mercado mundial, bem como foi nesta década que médicos e psicológos introduziram em nosso país a abordagem psiconeurológica ao desenvolvimento humano, trazendo com ela noções de disfunção cerebral mínima e de dislexia, objetos privilegiados pela atenção dos médicos, psicólogos e fonodiólogos. Inicialmente destinadoa atender alunos de melhor nível sócioeconômico, toda “uma equipe” de apoio analisava as dificuldades de aprendizagem que poderiam gerar fracasso escolar e procurava suprir as deficiências apresentadas. 14 A partir dessas pesquisas várias foram as abordagens que historicamente tentam explicar o fenômeno do fracasso escolar em nosso país. Eis algumas delas : Ø Abordagem psicologicista - Explica o fracasso escolar pela existência de diferenças individuais na capacidade de aprendizagem das crianças : as crianças que não aprendem são consideradas como portadoras de distúrbios mentais, sensórias ou neurológicos, que originam dificuldades lingüistica, motora ou afetivas. Ø Abordagem biologicista- Essa abordagem tem como pressuposto as disfunções biológicas e a desnutrição como responsáveis pela não aprendizagem dos alunos. As duas abordagens citadas apresentam que as dificuldades estão no aluno, que por algumas característica individual (orgânica ou psicológica) não consegue aprender ou se adaptar. Essas abordagens interpretadas unilateralmente, dão origem a idéias equivocadas sobre homogeneidade na aprendizagem, testagens, categorização, classificação dos alunos, encaminhamento e exclusões diversas. Ø Abordagem culturalista – Essa abordagem supõe as crianças com dificuldades como produto de um ambiente cultural desfavorecido, pobre em estímulos e vivências. Parte da constatação de que a maior parte das crianças que fracassam são oriundas da classe popular. Essa abordagem dá origem a estudos valorativos e comparativos, segundo os quais há uma cultura dominante (universal) e culturas inferiores (cultura popular). Traz a idéia de educação compensatória pela “carência cultural”. Torna possível, a crença de que as crianças de meios desfavorecidos têm dificuldades de aprender. 15 Ø Abordagem antropológica – Essa abordagem entende o fracasso não como um produto da família ou da escola isoladamente, mas de fatores externos que atingem a ambos. Analisa as relações de classes social que processos internos da família e da escola e as relações entre esses grupos sociais. Analisa o micro em suas relações com o macro (social). Permite, dessa forma, tecer uma rede de significados para o fracasso escolar. A partir dessas diferentes abordagens sobre o tema, pude perceber o quanto ele é complexo e concluir que sua análise não pode ser reducionista. Identificar as caraterísticas individuais, psicológicas ou biológicas que interferem no rendimento escolar é importante, mas, não para justificar o fracasso ou excluir o aluno do processo, e sim, para contribuir com a escola e a família no sentido de superação. Obviamente, existem patologias de aprendizagem, mas pelos índices do fracasso que ainda temos no Brasil, seria incoerente acreditarmos que todas as crianças por ele atingidas são portadoras de tais patologias. Outro risco que corremos é o de pensar que uma criança de classe popular, somente pela sua origem, está predestinada ao fracasso na escola ou de ficarmos apenas na análise ideológica do problema, sem considerarmos a individualidade e singularidade de cada sujeito no processo de construção de sua aprendizagem. A realidade do cotidiano da escola e suas relações com o processo de ensino-aprendizagem e muito complexa combater o fracasso escolar tem sido uma preocupação constante na educação. Mas a realidade existe e conforme Perrenoud : “... temos que enfrentar a complexidade dos processos mentais e sociais, a ambivalência ou a incoerência dos atores a das instituições, as flutuações da vontade política, a renovação dos currículos e das didáticas, as rupturas teóricas e ideológicas ao longo das décadas.” (PERRENOUD,2001, p.15) 16 É muito importante discutir que tipo de escola o Brasil precisa e qual o aluno que se encontra nesta escola antes de editarem o seu currículo. Isso permitirá que uma escola, de conteúdos novos e de qualidade adequados a sua clientela seja construída para que as camadas populares permaneçam dentro dela e não excluídas e reprovadas como até agora vem acontecendo. O estudo das questões que permeiam o fracasso escolar nos leva a crer que, se uma criança fracassa na aprendizagem escolar, não se deve ao fato dela ser deficiente ou possuir deficiências em seu contexto sócio-famíliar, mas é um fracasso da própria escola, por sua incapacidade de avaliar sua própria estrutura e pelo desconhecimento dos processos pelos quais as tem revelado incompetentes no aproveitamento das qualidades dos alunos, no processo de transmitir os conhecimentos formais as que se propõe. “ As dificuldades para superar o fracasso estão mais no campo social do que no campo pessoal, embora, sempre, recaia sobre o indivíduo a responsabilidade maior desta recuperação.”( GRINSPUN, 2002,p.69) Para a aquisição da competência, torna-se urgente que a escola, a partir de uma ampla reflexão de sua prática pedagógica e função social, tenha clareza dos fatores que determinam as causas do fracasso escolar e supere os mitos que há tanto tempo marcaram a realidade. Nessa perspectiva, a escola não pode ser um lugar de reproduções das desigualdades sociais a serviço de classes privilegiadas da sociedade. Deve ser um espaço que favoreça a construção de uma nova sociedade, dando a seus usuários condições de analisar está sociedade, identificar suas contradições e apontar alternativas de superação das mesmas. Considerando as condições históricas e culturais de nossa sociedade, é fundamental lutar pela efetiva democratização do saber, promovendo a igualdade real de oportunidade para todos, com vistas a diminuir a desigualdades entre classes. 17 Para que possamos continuar buscando a escola desejada, precisamos definir alguns caminhos. Durante muitos anos, as pesquisas sobre fracasso escolar se preocupavam em descobrir suas causas ou verificar o que “faltava” nas crianças que “fracassavam”. Considero aqui alguns autores que vêm produzindo um movimento diferente que priorizam a investigação dos processos que produzem as experiências de fracasso e sucesso escolar e das relações que os alunos mantém como a escola e o saber. Charlot (2000), aborda o fracasso escolar a partir da perspectiva da relação com o saber e com a escola. Devemos segundo o autor, compreender a realidade social a partir dos processos que a constróem. A globalização nos empurra para uma sociedade de informações, e a informação, por si só, não é saber. Torna-se saber apenas quando trata do sentido do mundo, da vida, das relações com o mundo e do ser humano consigo mesmo. “ É preciso tentar entender com histórias singulares se desenvolvem no interior de espaços sociais que são as mesmas para todos, e continuam sendo histórias individuais, singulares.”( CHARLOT,1996,p.9) A escola deve ter sentido para a vida do aluno, pois a criança que vai à escola vive também fora dela, tem práticas, conhecimentos construídos nas relações com a comunidade. Se não encontra sentido na escola, não pode aprender . “ Há uma diferença extremamente importante entre aquelas crianças para quem a verdadeira vida está fora da escola, e aqueles que tiveram acesso a outro universo na escola, um universo que produz sentido, dá prazer, e que é para elas a verdadeira vida, em relação ao saber.” ( CHARLOT, 1996, p.12) Tais idéias me leva a pensar a questão das diferenças e no desafio que é para a escola trabalhar com a diversidade. Somos seres humanos originais, pertencentes a uma cultura, e temos o direito de ser respeitados 18 na nossa sociedade singularidade. A escola deve conhecer as diferenças culturais, acolhê-las e respeitá-las, exercendo o duplo papel de não esquecer a realidade da comunidade, estabelecendorelações com ela, e, ao mesmo tempo, permitir um espaço para o distanciamento necessário para que a criança perceba que pode viver de outras maneiras. O direito a diferença cultural é emancipatório na medida em que se afirma, e ao mesmo tempo, a identidade de todos os seres humanos e o direito de cada um deles de ser sujeito singular. Cada ser humano tem o direito de ter raízes e construir sua subjetividade de acordo com elas. Se na escola isso não for respeitado , existe um risco maior de fracasso escolar, pois os alunos terão de viver na contradição, no “sem sentido”. “Não podemos subestimar o choque cotidiano das culturas. Ele influencia o fracasso escolar : as rejeições, as rupturas na comunicação, os conflitos de valores e as diferenças de costumes contam tanto quanto o eventual elitismo dos conteúdos.” (PERRENOUD, 2001, p.57) Em lugar de perceber que existem diferentes culturas, imaginamos que existe apenas uma cultura, a dominante, com a idéia equivocada de que cultura é algo que podemos ter ou não ter. Desta forma, as diferenças culturais se tornam um obstáculo para crianças oriundas da classe popular e acarretam maior possibilidade de fracasso escolar para elas. No sentido de romper com esses conceitos, (Bernard) Lahire (1997) realizou uma pesquisa enfatizando o sucesso escolar emergentes nas classes populares. Preocupou - se em analisar as diferenças “secundárias” entre famílias populares, com renda e escolaridade aproximadas, 19 observando crianças com desempenhos e comportamentos escolares diversos dentro de famílias com realidade sócio-culturais semelhantes. “Se a família e a escola podem ser consideradas como redes de interdependências estruturadas por formas de relações sociais específicas, então o “fracasso” ou o “sucesso” escolares podem ser apreendidos como o resultado de uma maior ou menor contradição, do grau mais ou menos elevado de dissonância ou de consonância das formas de relações sociais de uma rede de interdependência a outra.”( LAHIRE, 1997, p.19) Lahire afirma que, embora exista tendência de apresentar as classes populares como homogêneas, suas pesquisas explicitam a diversidade das relações que tais classes podem ter com a aprendizagem escolar, e que as situações de sucesso escolar “estão longe de ser improváveis em meios populares.” (LAHIRE,1997,p.51) Sendo assim, pude pensar que nem todas as crianças da escola pertencentes à classe popular, encontram-se em situação de fracasso. Devemos então, nos perguntar o que é fracasso e o que é sucesso para a escola, para os alunos a para a comunidade onde estão inseridos ? Como as crianças se relacionam com o saber e com a escola ? Que relações existem entre a vida da escola e vida da comunidade. A partir de tais indagações, é possível pensarmos a educação para além da escola oportunizando o rompimento de algumas práticas, buscando a lógica da permanência, da aprendizagem, do diálogo, da participação, da inclusão. 20 “Estabelecem-se canais, até então inusitados, da comunidade para a escola e da escola para comunidade, que buscam reeducar, tanto uma quanto a outra. Tais processos não são lineares – sobretudo pela dificuldade em demover idéias naturalizadas do fracasso escolar e constituem “espaços e construção.” ( MOLL,2000, p.162) Já afirmei nesse trabalho a necessidade de ampliar nosso olhar sobre o fenômeno do fracasso escolar, tão complexo. Nesta perspectiva é que se estabelece a relação entre o combate ao fracasso escolar, trata-se de olhar para as questões da aprendizagem ou da educação para além dos muros da escola. “ A escola que pode enfrentar o fracasso escolar prevenindo-o é uma escola voltada para diversidade, voltada para o respeito ao particular de cada um, voltada a igualdade entre os diferentes : é uma escola cuja participação da comunidade é completamente indispensável, onde pais questionam e repensam sua função educacional junto aos professores : é uma escola que abandona seus isolamentos isolamento da comunidade e transforma-se em uma comunidade de aprendizagem, envolvendo a todos : pais, alunos e professores, transformando as relações entre os diferentes atores do fazer educativo; é uma escola que caminha na busca de uma ruptura paradigmática que substitua os valores de competição e utilitarismo por valores de solidariedade e igualdade.” ( DORNELLES, 2000, p.28) Devido aos fatores anteriormente apresentados, percebe-se que a grande maioria dos professores tem uma formação precária, conduzindo-o a não preocupar-se em ver seu conhecimento como um fator principal de transformação social. O conhecimento para ele, tem um valor em si mesmo. É uma mera repetição. É responsabilidade de todos nós professores que 21 devemos mudar a postura com relação ao trabalho realizado com os alunos e sociedade, precisamos definir o que esperamos realmente da escola. Não resta dúvidas de quem se vê excluído da escola, ou quem tem acesso a ela fica à margem dos conhecimentos e competências que ela promete, serão os marginalizados do próximo século. Sabemos de modo geral que a escola é o lugar onde o aluno tem a oportunidade de desenvolver-se culturalmente. O preenchimento de todos os quesitos de uma escola bem equipada, sem a presença de professores devidamente capacitados, não trará a mínima possibilidade de transformação e avanço nesses alunos. Entretanto, a mera constatação dos fatos não é o bastante para a reversão desse quadro, onde professores e alunos compartilham de uma frustração mútua na qual se materializa uma ideologia de incompetência. Porém em se tratando de dados estatísticos, percebe-se que o Brasil nas questões de fracasso escolar revela um aumento considerável do número de matrículas. Através do senso escolar, que é uma pesquisa de alcance nacional da qual participam todos os estabelecimentos de ensino público e privado é feito através do preenchimento de questionários padronizados, fixados pelo decreto n.º 73.177 de 20 d novembro de 1973. O objetivo desse censo é produzir os dados e informações educacionais de forma ágil e fidedigna, retratando a realidade educacional, sendo instrumentos de avaliação, planejamento e auxílio ao processo decisório para estabelecimento de políticas voltadas para a reformulação do quadro educacional brasileiro. Os dados estatísticos revelam que houve aumento do número de matrículas considerável no Ensino Fundamental, porém, no Ensino Médio e na Educação Superior, houve uma estagnação. Contudo, não existem dados específicos nas questões que tangem os alunos que fracassam. Constatando apenas os Estados que obtiveram êxito e/ou fracasso na Educação. 22 Os desafios do futuro, portanto, são claras : melhorar a qualidade do ensino para todas as faixas etárias, e aumentar o acesso tanto de criança com menos de 5 anos a Educação Infantil, quanto de adolescentes e jovens ao Ensino Fundamental e Médio. 23 CAPÍTULO II – AVALIAÇÃO E FRACASSO ESCOLAR AVALIAÇÃO Análise sobre a instituição escolar, nos permite refletir a cerca de inúmeros aspectos, tais como : : a prática educativa, o compromisso social e éticos dos professores, a formação profissional, a estrutura e os componentes do processo de ensino, nos métodos e os meios de ensino, a relação professor-aluno, enfim, diversas são as situações que podem levar o aluno ao fracasso. Contudo, o número de alunos que vão sendo reprovados e que abondanam a escola é assustador. Segundo Perrenoud, ( 1991, p.11) “os alunos são comparados e depois classificados em virtudes de uma norma de excelência definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos.”. Certamente é possível observarinúmeros problemas que afloram durante a prática docente quando tema é avaliação. Avaliar é necessário em todas as atividades humanas e, em se tratando da questão educacional, mostra-se essencial, permanente e contínua, assim como preza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9394/96 e de forma sociocultural no imaginário coletivo dos educadores : o agir em função dos desejos. Para Luckesi ( 1998), a avaliação é uma apropriação qualitativa sobre os dados relevantes do processo de ensino e aprendizagem que auxilia o professor a tomar decisões sobre o seu trabalho. De fato deve-se considerar a idéia de avaliação como inerente ao próprio ato de aprender. A partir do autor é possível observar as diferenças de prática avaliativa realizados em sala de aula : a classificação do aluno após a medida do 24 quantitativo do que o aluno aprendeu e o ato dinâmico, aberto que oportuniza o aluno a vencer as etapas da aprendizagem. Em relação a primeira, numa visão mecanicista, o professor com toda a sua autoridade, é o único dono do saber na sala de aula quando faz uso dessa avaliação. Apesar de ser a escola o lugar onde se aprendeu, a valorização recai sobre os acertos, sendo estimulada a competição. “ Percebe-se o aluno sendo observado apenas em situações programadas. ”( Hoffmann, 2000, p.25) Hoffmann ainda salienta que nessa prática avaliativa tradicional, a postura do professor é “ corrigir tarefas e provas do aluno para verificar respostas certas e erradas e, como base nessa verificação periódica, tomar decisões ao seu aproveitamento escolar.” (2000, p.95) A escola não pode continuar trabalhando com verdades absolutas, prontas e acabadas. A avaliação da aprendizagem necessita cumprir o seu verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar a construção da aprendizagem bem sucedida. Em se tratando da segunda observação, a avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso já é encontrado no ambiente de sala de aula que possui a característica ‘de não julgar’. Como preza Luckesi (1998), o acolhimento afastado é o julgamento. Numa perspectiva semelhante, Hoffmann ( 2000 ) apresenta a avaliação mediadora, que avalia as várias manifestações dos alunos em situação de aprendizagem. “...para acompanhar as hipóteses que vem formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas do conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa que lhes favoreça a descoberta de melhores soluções ou formulação de hipóteses preliminarmente formuladas.” (HOFFMANN,2000,p.96) 25 A falta de clareza conceitual, bem como, de competência técnica na elaboração de objetivos educacionais, na seleção e construção de instrumentos de medida tomada de decisões, tem contribuído para que a avaliação na sala de aula seja desenvolvida de forma fragmentada e descontextualizada. É preciso ter coragem para questionar, refletir e realizar uma avaliação dinâmica, significativa e libertadora. A ação educativa deve contar com a curiosidade de conhecer a quem se educa, possibilitando a descoberta de si próprio. 2.1 – Práticas avaliativas A maneira como uma escola avalia é o reflexo da educação que ela valoriza. A avaliação deve ser capaz de julgar o valor do aluno e possibilitar que ele cresça, como indivíduo e como integrante de uma comunidade. Vários professores usam o termo avaliação, ora se referindo ao ato de medir, ora se referindo ao julgamento de valor. E para alguns, avaliação reduz-se à testagem bimestral. A falta de clareza desses conceitos tem certamente implicações na prática avaliativa. O que acontece freqüentemente é que o aluno é avaliado somente em determinados momentos, através de notas onde o conhecimento é medido. “Porém, o erro ou acerto de cada uma das questões não indica quais foram os saberes usados para respondê-las, nem os processos de aprendizagem desenvolvidos para adquirir o conhecimento demostrado, tampouco o raciocínio que conduziu à resposta.” (Esteban, 2002, p.100). Nesta prática positivista e tecnicista há uma ênfase na atribuição de notas e na classificação de desempenho, em testes e provas com resultados quantitativos e numéricos - o importante é o produto. Nesse modelo, a 26 avaliação é ameaçadora, um instrumento de dominação, uma verdadeira arma que desperta o medo. “ Pouco a pouco, eles vão perdendo a motivação para continuar se esforçando, vão se sentindo realmente incapazes de aprender e vão se resignando a um fracasso que vai marcar o resto de suas vidas.” ( Ceccon, 1982, p.17) Espera-se da escola que ela cumpra o seu papel de fornecer instrução, criar e recriar o conhecimento. Mas na verdade, a escola produz muito fracasso pois reproduz o modelo ideológico da sociedade capitalista, a serviço de uma classe dominante. Estebam, coloca que a “Avaliação vai se distanciando do processo ensino/aprendizagem, ressaltando sua função de controle social mediada pela prática pedagógica.”( Op cit, 2002, p.102). Assim sendo, atende à necessidade de selecionar e excluir quando nota com avaliação ( nota é apenas uma forma de expressar os resultados de uma avaliação); o rendimento do educando vislumbra numa dinâmica de inclusão/exclusão, reprovação/sucesso. A avaliação escolar ainda apresenta uma imagem negativa : lembra prova e nota, que provocam nervosismo e mal-estar. Desvaloriza uma série de manifestações de saber pelo fato de nivelar por baixo. O medo de ser avaliado faz com que os alunos acabem se preocupando mais com os resultados do que com o processo, pois percebem que essa prática avaliativa é castradora e classificatória. A instituição escolar que mantém a lógica do ‘exame’ apresenta- se como elemento disciplinador, o que provoca a violência simbólica ‘o que contribui para que ele vá internalizando um forte sentimento de inferioridade e de culpa por seu fracasso, por suas impossibilidades”. ( Esteban, 2002, p.108). Esteban (2002), expõe que a correção de uma resposta errada pode ajudar o aluno a aprender o que não sabe, mas também pode impedir a busca de novos conhecimentos. A avaliação deve ter um caráter diagnóstico, onde o professor questione as dificuldades expressas e retorna essas dificuldades, procurando meios para solucioná-las. Bem como, a avaliação não deve ser considerada responsabilidade exclusiva do professor. “ Delegá-la aos alunos, 27 em determinados momentos, é uma condição didática necessária para que se construam instrumentos de auto-regulação para as diferentes aprendizagens .” ( PCN, vol 1, p.86) Mas como avaliar um estudante que avançou muito, mais não atingiu os objetivo propostos para a série? Aprova ou reprova o aluno que no fim do ano ‘deu um estalo’ ? A avaliação tradicionalmente tem pretendido atribuir objetivamente valores aos processos desenvolvidos e resultados alcançados, no entanto, o cotidiano da sala de aula nos mostra quanto podem variar estes valores, como é impreciso o ato de avaliar, como cada processo de avaliação comporta diferentes análises ( Esteban, 2002, p.185) Contudo posso dizer que a sociedade tende a premiar os alunos que se adaptam, ou melhor, aquele que se incorpora do saber escolar. Tendo como termômetro desse saber, a avaliação realizada e sistematizada pelo sistema. Não poderia deixar de evidenciar o peso que é colocado na avaliação, em decorrência da incapacidade crescente dos alunos. Os analfabetos funcionais, que são incapazes de aprender os conteúdos por meio da leitura. O que me remete a Luckesi (1999), a avaliação que se prática na escola é a avaliação de culpa. Aponta ainda, que as notas são usadas para fundamentar necessidades de classificação dos alunos, onde são comparados desempenhos e, não objetivos que se deseja atingir. Assim, Perrenoud( 1999), lembraque é necessário determinar também quanto e em que nível os objetivos devem e estão sendo atingidos. Para isso é necessário o uso de instrumentos e procedimentos adequados ( Libâneo, 1994). Concordo que e na escola que o sujeito aprende e consequentemente e lá que deveria esta se preparando para identificar e solucionar suas necessidades. Não posso deixar de ressaltar que a escola é legitimado como espaço, é também onde o conhecimento é produzido historicamente. Por esse 28 motivo que tendo esquecido o professor de ensinar e aluno de aprender, que a população escolar vem reproduzindo os índices de fracasso de nossas escolas. Elas ainda trabalham com métodos que repetidamente vem sendo considerados inadequados para a construção de indivíduos atuantes e críticos Enfim, fazer da avaliação um instrumento auxiliar da aprendizagem é o desafio no atual contexto escolar. 2.2 – O papel do professor na avaliação Muitas das vezes a falta de articulação entre a teoria , ou seja, o seu discurso e a sua prática, gera uma das piores ações do ser humano, a exclusão. Muitas vezes o professor nem se dar conta desse processo no momento da avaliação, o que ele quer é se “livrar” do problema e nem percebe que a repetência causa a evasão, que é sinônimo de exclusão. Assim , como poderemos pensar numa educação/avaliação que emancipa os indivíduos ? A avaliação se transforma no elemento principal da exclusão. Todo discurso sobre a inclusão através da educação será meramente uma utopia? A escola que temos hoje, mas acessíveis as camadas populares, deveria ser uma outra escola. O que acontece é que a escola continua no modelo que atendia a classe dominante e, o “sonho” da inclusão social através da educação, se transformou no “pesadelo” da exclusão. Nem a escola, nem os profissionais que participam do processo educativo, estavam preparados para essa mudança, ou seja, esse público. O resultado desse processo é a reprovação e a evasão em massa, principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O modelo de escola e de profissionais que está ai é para atender os “bons alunos”, ou seja, aqueles que obedecem, isso fica claro na prática dos 29 profissionais que fazem a escola. Quando o aluno não se enquadra no “padrão” estabelecido, fica perdido sem saberem o que fazer. Esse processo é complexo, pois a formação dos profissionais, principalmente do professor não lhe dá subsídios para conviver com a diversidade, o resultado disso é catastrófico e o “sonho” de se transformar a sociedade através da educação se transforma em uma utopia. Mesmo que a sala de aula seja constituída pelo movimento, pela surpresa, pela turbulência, pela desordem, pela diferença, as práticas escolares e os processos ensino/aprendizagem estão estruturados para conduzir a homogeneidade, à linearidade, considerados essências para uma boa relação pedagógica. Isso fica implícito no discurso do professor e explicito na sua prática avaliativa, quando é dado um único modelo de avaliação para todos, sem respeitar a diversidade. Segundo Demo (2004), cuidar da aprendizagem do aluno, é olhar cada um com atenção, saber de sua história, família, sobrevivência, representações sócias, amizades, problemas. Por vezes, há que acentuar a igualdade de condições de todos, outras vezes será o caso não tratar de modo igual a desiguais: o aluno que vai mal precisa de maior cuidado. Assim, o fracasso escolar tem como um dos fatores principais a ação pedagógica do educador. A avaliação é um dos aspectos principais deste fenômeno, principalmente quando o professor não assume a responsabilidade desse fracasso, colocando a culpa somente em outros aspectos, principalmente na falta de interesse do aluno, ou seja, o aluno se transforma no agente principal do seu próprio fracasso. Na concepção de Hoffmann (2003), o professor não assume absolutamente a responsabilidade em relação ao fracasso do aluno. Em primeiro lugar, porque representaria assumir sua incompetência na organização do trabalho pedagógico, uma apresentação inadequada de 30 estímulos de aprendizagem, em segundo lugar, porque aquilo que faz geralmente se traduz em resultados positivos para alguns alunos, então o problema está nos alunos que não aprendem e não na ação do professor. Sem ultrapassar a visão comportamentalista de conhecimento, nenhuma outra hipótese é levantada pelo professor sobre as dificuldades que os alunos apresentam, senão a sua desatenção e desinteresse. Em terceiro lugar, porque, coerente com tal visão de conhecimento, o avaliar reduz-se, para ele, a observação, o registro de resultados alcançados pelos alunos ao final de um período. Tal visão não absorve uma perspectiva reflexiva e mediadora da avaliação. Enfim, cabe a nós professores refletirmos a respeito do mundo que se quer ter, através da avaliação. Pode perpetuar o status ou pode-se transformar a sociedade, sendo que por traz do tipo de avaliação está o tipo de homem que se pretende formar : submisso ou autônomo, que apenas se submete a pensamentos ou o que pensa por si mesmo.Portanto, devemos assumir o fracasso escolar como um desafio e uma das possíveis alternativas para a superação está na avaliação. 31 CAPÍTULO III – O PSICOPEDAGOGO FACE AO FRACASSO ESCOLAR O psicopedagogo deve buscar o que significado o aprender para esse sujeito e sua família, tentando descobrir a função do não aprender. Conhecer como se dá a circulação de conhecimento na família, qual a modalidade aprendizagem da criança, não perdendo de vista qual é o papel da escola na construção do problema de aprendizagem apresentado, tentando também engajar a família no projeto de atendimento para ampliar seu conhecimento sobre a dificuldade, modificando o seu modo de pensar e de agir com relação a criança e o desempenho escolar. 3.1 Aprendizagem e Fracasso Escolar Não poderia falar em fracasso escolar sem deixar de comentar a importância do vínculo para a aprendizagem. Além de tentarmos analisar os fatores que contribuem para seu surgimento, é necessário conceituar aquilo que viria a ser seu oposto: a aprendizagem. “Pois sabemos que a aprendizagem é um processo vincular, ou seja, que se dá no vínculo entre ensinante e aprendente, ocorre portanto entre subjetividades. Para aprender, o ser humano coloca em jogo seu organismo herdado, seu corpo e sua inteligência construídos em interação e a dimensão inconsciente . A aprendizagem tem um caráter subjetivo pois o aprender implica em desejo que deve ser reconhecido pelo aprendente. O desejar é o terreno onde se nutre a aprendizagem.” (FERNÁNDEZ, 2001, p.36 ). Aprender passa pela observação do objeto, pela ação sobre ele, pelo desejo. A aprendizagem é a articulação entre saber, conhecimento e informação. Esta última é o conhecimento objetivado que pode ser transmitido, o conhecimento é o resultado de uma construção do sujeito na interação com 32 os objetos e o saber é a apropriação desses conhecimentos pelo sujeito de forma particular, própria dele, pois implica no inconsciente. A partir disso, posso definir aprendizagem como uma construção singular que o sujeito vai fazendo a partir de seu saber e assim ele vai transformando as informações em conhecimento, deixando sua marca como autor e vivenciando a alegria que acompanha a aprendizagem. Este processo se difere bastante do fracasso escolar que pode evidenciar uma falha nesta relação vincular ensinante- aprendente. Alicia Fernández diferencia fracasso escolar, problema de aprendizagem e deficiência mental. “ Para ela no fracasso escolar a criança não tem um problema de aprendizagem, mas eu, como docente, tenho um problema de ensinagem com ele. ”(FERNANDEZ, 2001,p.56 ). O problema de aprendizagempode ser um sintoma de outros conflitos ou ainda uma inibição cognitiva, e a deficiência mental tem incidência pequena na população. Enfim, a escola valoriza a inteligência e se esquece da interferência afetiva na não aprendizagem. O sujeito pode estar em dificuldades de aprendizagem por ter ligado este fato a uma situação de desprazer. Está situação pode estar ligada a algum acontecimento escolar. Portanto, a escola pode provocar na criança conflitos que influenciarão seu gosto pelo aprender. 3.2 - A Intervenção Psicopedagógica Considerando os fatores implicados no processo da aprendizagem, poderíamos pensar no papel do psicopedagogo com relação ao fracasso escolar. Assim, psicopedagogo vem fazendo parte do cotidiano escolar, e no que se refere ao fracasso escolar, vem respondendo a ele com suas atribuições em um trabalho em conjunto com a equipe da escola. Levando em considerações os aspectos do fracasso escolar cabe ao Psicopedagogo estar sempre atento a essas questões para não mencionar resposta errada quando solicitado, ou ausência de resposta, pois ele não é 33 simplesmente transmissor de informações, deve ir além, preocupando-se em desenvolver capacidades e ter clareza na distinção entre erros de informação e problemas no desempenho de capacidades. Segundo Júlio Groppa ( 2002, p.48), “ um desempenho é classificado como satisfatório, ou não, dependendo das variáveis do contexto.” Por isto, é preciso que o Psicopedagogo desenvolva um trabalho cauteloso e realizado com muita distinção em suas atitudes. O Psicopedagogo tem que ter sabedoria para enfrentar situações aparentemente sem solução, sua atuação exige discernimento entre “certo e errado”, pois uma atitude distante do cotidiano pode vir a destruir todo um trabalho levando o aluno à desistência escolar. Para conhecer fracasso escolar precisamos partir do princípio de que não é algo genérico, mas que diz respeito a um certo aluno, e sua história, em uma certa escola, em um certo sistema. Para detectar certo problema faz se necessário fazer um diagnóstico. Os Psicopedagogos ao longo de sua trajetória utilizou-se e ainda se permitem a utilizar de alguns recursos como testes, desenhos históricos, atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, etc. É bem verdade que estes tipos de recursos se tornam imprescindíveis como instrumentos de linguagem, pois muitos alunos que não conseguem se comunicar através da linguagem falada, o fazem por meio da linguagem escrita demostrando algum tipo de informação que são colhidos a partir dessa atividade. O trabalho do Psicopedagogo para com esses alunos é realizado com o auxílio do professor da classe, para a melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, além de prevenir os problemas relacionados ao aprendizado. Mais uma vez a atenção do Psicopedagogo é de real valor pois muitas crianças e adolescentes preferem acreditar, e reforçar na crença fazendo com que os outros acreditem também, que vão mal nos estudos meramente por falta de interesses, pensamentos errôneos que os fazem nutrir um sentimento destrutivo de sua 34 capacidade. O trabalho do psicopedagogo pode ser relacionado a um trabalho de ‘formiguinhas”, onde devagar e em conjunto tem função transformadora, permitindo que o indivíduo se torne cidadão consciente em grau crescente de reflexão. Desta forma o exercício do psicopedagogo é percebido de forma global ao ato de educar e para a compreensão satisfatória dos objetivos da educação. O Psicopedagogo deve colaborar para a promoção do desenvolvimento das potencialidades e capacidades dos educandos. Em se tratando de desempenho escolar a autora Grinspun faz a seguinte colocação : “ ao declarar-se “incompetentes” ante ao fracasso escolar, a Escola abre caminhos para que o aluno internalize esse fracasso como algo pessoal, social ou biológico.” (GRINSPUN, 2002, p.81) A natureza desse discurso nos faz refletir como este ainda é muito comum em nossa formação, portanto cabe a nós psicopedagogo juntamente com toda a equipe pedagógica reavaliar a nossa prática, pois temos a oportunidade de estarmos a frente como agentes transformadores da educação. As afirmações de que as causas do Fracasso Escolar até então estavam agrupadas na escola ou na clientela deparam – se agora, com uma outra visão do problema : a escola é inadequada aos novos tempos isto porque, o papel da escola é muito diferente de que alguns anos. Segundo o pedagogo e filósofo Gadotti (1989, p.23) “As exigências são outras e o papel do educador é adaptar-se : deixar de ser um selecionador para que se tornar um gestor do conhecimento.” Em outras palavras, de nada adianta ficar se lamentando. De todas as profissões estão se exigindo mais competências, presença e versatilidade. Por que seria diferente com a educação ? Todos falam que só haverá espaço no mercado de trabalho para quem tiver conhecimentos. Porém percebe-se que os professores em sua grande maioria apresenta um discurso arcaico, isto porque o professor idealiza um estudante que não existe. 35 Suponho que os problemas extra escolares influenciam nas atividades, porém, este não é o fator determinante do fracasso escolar. A escola em nossa sociedade contemporânea cada vez mais tem reconhecido a dificuldade que enfrenta ao educar integralmente, percebendo o quanto é difícil trabalhar valores e atitudes educativas quando a sociedade impõe valores contrários. Verifica-se que é inútil esperar que a escola desenvolva valores e atitudes que a comunidade não assuma como próprios. Não é possível pensar uma escola onde um espera que o outro solucione os problemas e onde as pessoas não modifiquem seus hábitos arraigados de não-envolvimento e não-participação. Retornando nessas colocações iniciais, sobre o trabalho do Psicopedagogo podemos afirmar que não existe presença constante do trabalho do mesmo nas escolas. Para que o trabalho realizado obtenha resultados satisfatórios é necessário que o Psicopedagogo desenvolva um trabalho em equipe com todos os integrantes da área pedagógica, para tratar a fundo os possíveis problema existentes. Uma escola sintonizada com as conquistas da sociedade e, portanto, comprometida com a maioria da população, não se satisfaz em garantir o acesso de todos na escola, mas luta também pela permanência a fim de que todos tenham acesso ao conhecimento que nela buscam. Reverter o quadro do fracasso escolar é, pois, função de uma escola que se prenda fazer um trabalho em conjunto com todos os comprometidos da escola em busca de resultados satisfatórios. “ Só é bem sucedido na escola o aluno que, se vendo acreditado, acredita em sua capacidade de aprender.” (MAIA, 1990, p.59) 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente trabalho objetivei apresentar que não existe um único “culpado” pelo fracasso escolar. Muitas vezes a escola, situa o problema do fracasso no indivíduo, considerando-o como portador de algum tipo de “desvio” ou “anormalidade” e a avaliação que se da de forma meramente quantitativa. Assim, o “insucesso” é atribuído a debilidade das capacidades intelectuais e a cultura desviante. Sendo assim, culpa-se somente o aluno por tal fracasso desconsiderando que há ocasiões em que a avaliação do sistema educacional é totalmente fora da nossa realidade. Contudo, ao longo dessa produção pesquisei e apresentei a necessidade urgente de uma mudança de postura em relação a avaliação, no sentido de situar o papel dos profissionais comprometidos com a educação deste país. Também pude observar que pensar em fracasso escolar, a partir da perspectiva da escola, não é mais suficiente e nem tem possibilitado a reversão deste fenômeno. É necessário ampliar a forma de analisar o fracasso para alémdos muros da escola. O professor considerado agente de mudança social, não vem refletindo seriamente sobre a sua prática educativa e sobre as condições e contextos em que ocorrem o processo ensino-aprendizagem. Não basta ao educador criticar a metodologia e a eficiência de sua ação docente. É preciso que o professor assessore seu alicerce de um embasamento teórico que as ciências educacionais colocam à sua disposição como referencial teórico, além de uma postura critica. Torna-se necessário ainda destacar predominantemente em nosso cotidiano escolar, destacando a urgência de ser adotar uma nova postura 37 visando a sua melhoria bem como, a compreensão de seu verdadeiro significado. Então de acordo com está pesquisa, pode-se supor que o melhor caminho para a melhoria do desempenho escolar dos alunos, surgirão a partir do momento em que a escola estiver aberta as mudanças, aceitando a realidade do fracasso escolar para que assim possamos encontrar soluções para este problema. Enfim, buscar soluções para este problema não consiste em patologizar o aprendente mas em ampliar este foco, abrindo espaço para outras variáveis que também influenciam o processo da aprendizagem como a instituição, o método de ensino e avaliação, as relações ensinante - aprendente e os aspectos sócio-cultural. Portanto está mudança deverá estar voltada para uma reflexão, com decisão critica a cerca de tal educação oferecida, apoiada no respeito e dedicação, associada ao comprometimento na formação de cidadãos atuantes e críticos. 38 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais – introdução. Brasília, 1998. CECCON, Claudius ; OLIVEIRA, Miguel Darcy e Rosiska. A Vida na Escola e a Escola da Vida. Petrópolis, RJ, Vozes, 1982. CHARLET, Bernard. Da Relação com o Saber. Elementos para uma teoria. Poro Alegre, Artmed, 2000. DEMO, Pedro. Sociologia da Educação: sociedade e suas oportunidades. Brasília : Plano Editorial, 2004. DORNELES, Beatriz Vargas. As Várias Faces do Caleidoscópio : Anotações sobre o Fracasso Escolar. In Pátio Revista Pedagógica, n.º 11, Porto Alegre, Artmed, 2000. ESTEBAN, Maria Tereza. O que sabe quem erra? Reflexões sobre avaliação escolar.Rio de Janeiro: DP&A, 2001. ______________________. O que sabe quem erra? 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SHEILA DAMIÃO LEAL RIO DE JANEIRO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO CAPÍTULO I – FRACASSO NA APRENDIZAGEM CAPÍTULO II – AVALIAÇÃO E FRACASSO ESCOLAR AVALIAÇÃO 2.1 – Práticas avaliativas CAPÍTULO III – O PSICOPEDAGOGO FACE AO FRACASSO ESCOLAR REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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