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Reforma Psiquiátrica e o Estigma dos Transtornos Mentais

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Atividade final – Os desafios atuais da reforma psiquiátrica e como o estigma pode configurar um impasse para a oferta de cuidado humanizado e efetivo a essa população. RGU: 11620123
Dentre os principais desafios da reforma psiquiátrica de acordo com o ministério público, lista-se abaixo dois:
· Acessibilidade e Equidade – É possível que cerca de 3% da população brasileira necessita de cuidados contínuos em saúde mental, em função de transtornos severos e persistentes. Ou seja, cerca de 5 milhões de brasileiros demandam de uma rede de cuidados mais densa. E ao falar em cuidados na forma de consulta médico-psicológica, aconselhamento, grupos de orientação e outras formas de abordagem, esse número cresce, sendo aproximadamente 20 milhões de pessoas no Brasil. Ainda, é possível observar o crescente número de transtornos graves associados ao consumo de álcool e outras drogas. Tal consumo atinge pelo 12% da população acima de 12 anos, sendo o impacto do álcool dez vezes maior que o do conjunto das drogas ilícitas. 
Dessa forma, o modelo hospitalocêntrico, por ser concentrador de recursos e de baixa cobertura, é incompatível com a garantia da acessibilidade. Sem a potencialização da rede básica ou atenção primária de saúde, para a abordagem das situações de saúde mental, não é possível desenhar respostas efetivas para o desafio da acessibilidade. O acesso dos pacientes ao serviço é um desafio para toda rede de saúde e saúde mental. A médica psiquiatra e professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Maria Cecília Carvalho diz: "Esse é um desafio que aparece quando se avança em direção à não exclusão. É um problema do avanço de um modelo em transformação. Isolando o paciente psiquiátrico, de alguma forma ele era ‘contido', mas isso não resolvia a situação, nem do ponto de vista sanitário, de saúde mesmo, nem do ponto de vista dos direitos humanos. A implantação de um novo modelo traz desafios e, entre eles, o principal é o acesso ao tratamento”.
· Formação de Recursos Humanos – Um dos principais desafios para o processo de consolidação da Reforma Psiquiátrica Brasileira é a formação de recursos humanos capazes de superar o paradigma da tutela do louco e da loucura. O processo da Reforma psiquiátrica exige cada vez mais da formação técnica e teórica dos trabalhadores, muitas vezes desmotivados por baixas remunerações ou contratos precários de trabalho. Ainda, várias localidades do país têm muitas dificuldades para o recrutamento de determinadas categorias profissionais, geralmente formadas e residentes nos grandes centros urbanos. Por esta razão, desde o ano de 2002 o Ministério da Saúde desenvolve o Programa Permanente de Formação de Recursos Humanos para a Reforma Psiquiátrica, que incentiva, apóia e financia a implantação de núcleos de formação em saúde mental para a Reforma Psiquiátrica, através de convênios estabelecidos com a participação de instituições formadoras ( especialmente universidades federais ), municípios e estados.
Segundo o Ministério da Saúde, existem hoje em funcionamento no país, 1.650 CAPS. Um balanço da saúde mental do Ministério revela que, em 2010, havia apenas 55 CAPS 3, que funcionam 24 horas e possuem leitos. As residências terapêuticas contabilizavam 570 unidades em funcionamento em dezembro de 2010 e mais 183 em processo de implantação. O Ministério reconhece que ainda é preciso avançar bastante na oferta dos serviços de saúde mental. "Hoje nós não temos cobertura no país todo, não são todas as pessoas que estão tendo acesso: 70% do território têm alguma oferta, mas a ideia primeira é que 100% tenha alguma oferta, e depois, que 100% tenha ofertas que qualifiquem a vida das pessoas. Então, são dois eixos, um quantitativo e outro qualitativo", conclui Roberto Tykanori, coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde nos últimos 5 anos.
VASCONCELOS (2010), destaca como desafios a serem enfrentados pela reforma: o corporativismo médico, a flexibilização das políticas trabalhistas, a consolidação da atenção à crise, a emergência de grupos desfiliados associados ao uso abusivo de drogas, e a fragmentação do movimento antimanicomial. Muitos desafios são colocados pelo autor assim como muitos caminhos para superação destes, o que nos mostra que a reforma psiquiátrica brasileira continua em construção e merece cada vez mais participação social.
Por fim, destacam-se ainda como desafios o estigma em relação à atenção dos portadores de transtornos mentais nos hospitais gerais, a dificuldade de financiamento e a distribuição irregular dos serviços, o que proporciona vazios na cobertura.
No tocante ao estigma sobre às doenças mentais, esse constitui um dos principais obstáculos no acesso aos serviços de saúde mental. Ele acaba atingindo não somente as pessoas com doenças mentais, como também os seus familiares, profissionais e serviços de atenção à saúde mental, e a própria psiquiatria enquanto especialidade médica. Entre outras consequências, as pessoas com doenças mentais muitas vezes nem sequer têm sua condição reconhecida e menos ainda tratada adequadamente. O que ocasiona um impasse para a oferta de cuidado humanizado e efetivo para essa população. Com frequência, elas experimentam uma série de desvantagens em relação à estudo, emprego, moradia e legislação social, quando não um processo de exclusão social mais amplo. Estas pessoas usualmente desenvolvem um processo de autoestigmatização, experimentando uma baixa autoestima, pior saúde física, insatisfação e baixa qualidade de vida. 
A relação entre estigma e doenças mentais é bastante antiga e se reflete na compreensão da loucura como uma possessão demoníaca e uma punição por um pecado cometido, já presente na Bíblia e ao longo dos séculos seguintes (p. ex., em Malleus Maleficarum). Quando já não bastava isolar os portadores de doenças mentais da sociedade, a aplicação de rótulos no que eles apresentavam de diferente e a associação destes a traços indesejáveis (estereótipos negativos) vieram a acentuar esta separação: eles deixam de ser considerados “um de nós” e são constituídos como um grupo à parte (“eles x nós”), grupo este que passa a experimentar discriminação e perda de status (Link & Phelan, 2001). A noção de que as pessoas com doenças mentais são vistas pela população com medo, desconfiança e até mesmo aversão, e consideradas como perigosas, sujas, imprevisíveis e sem valor, tem sido comprovada por estudos realizados desde a década de 1950.
Segundo Corrigan et al. (2001), psicólogos sociais têm identificado três abordagens para mudar atitudes estigmatizantes: educação (que procura substituir atitudes estigmatizantes com concepções precisas sobre as doenças), contato (que desafia atitudes públicas sobre doenças mentais através da interação direta com pessoas que tem estas doenças) e protesto (que suprime atitudes estigmatizantes direcionadas a doenças mentais e comportamentos que promovem estas atitudes). Segundo estes autores, todas elas, entretanto, apresentam limitações: educação leva a uma melhora nos atributos relacionados a diversas doenças mentais, porém, de forma não duradoura e sem necessariamente mudar atitudes; o contato com portadores produz mais mudanças positivas que educação para algumas doenças mentais (p. ex., depressão e psicose) mas não para outras (p. ex., uso habitual de cocaína e retardo mental); protesto não produz mudanças significativas nos atributos relacionados a diversas doenças mentais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.
Vasconcelos EM, organizador. Desafios políticos da reforma psiquiátrica brasileira. São Paulo: Hucitec Editora; 2010.
JÚNIA, Raquel. Desafios da Reforma Psiquiátrica. 2016. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/desafios-da-reforma-psiquiatrica.Acesso em: 09 dez. 2020.

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