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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Saúde Mental do adulto
Elaboração
Joana Pantoja Scharinger
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
SAÚDE MENTAL DO ADULTO ............................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
A FILOSOFIA E A HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................. 9
CAPÍTULO 2
A POLÍTICA BRASILEIRA DE SAÚDE MENTAL ............................................................................. 24
CAPÍTULO 3
DESAFIOS DA SAÚDE MENTAL NA VIDA ADULTA ....................................................................... 41
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 51
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, mais de 450 milhões de pessoas, no 
mundo, sofrem de transtornos mentais. A Saúde Mental é parte integral da saúde de qualquer 
indivíduo. No entanto, ao longo da história, em todo o planeta, pessoas acometidas por transtornos 
mentais sofreram grandes violações de seus direitos e passaram por longos anos de isolamento, 
discriminação e exclusão social. No Brasil não foi diferente. Por isso, com base no movimento da 
Reforma Psiquiátrica, o governo brasileiro desenvolveu uma Política Nacional de Atenção à Saúde 
Mental. Seu objetivo foi o de superar um passado de muitos desafios e desrespeito a essa população 
específica, para promover a atenção psicossocial que ela necessita.
Objetivos
 » Compreender a Reforma Psiquiátrica, sua importância, diretrizes e dimensões. 
 » Compreender os serviços e estratégias da política brasileira de atenção à saúde 
mental, a partir de uma perspectiva psicossocial.
8
9
UNIDADE ÚNICASAÚDE MENTAL 
DO ADULTO
CAPÍTULO 1
A Filosofia e a História dos Direitos 
Humanos
Balada do Louco
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz 
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal 
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
10
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
Mas louco é quem me diz 
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal 
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz
Composição: Os Mutantes
Louco, doido, maluco, alienado, lunático, pinel, tantã... quantas são as palavras para 
se referir à loucura! Muitas dessas palavras estão associadas no imaginário popular 
a estereótipos dos mais variados. A que essas palavras o remetem? Como você 
aprendeu a associá-las dessa maneira? 
Uma das propostas deste estudo é criar fundamentos para desconstruir os 
estereótipos em relação à loucura e compreender de onde eles surgiram. 
Um pouco de história: os primórdios da 
Psiquiatria no Brasil
Aqueles que já tiveram contato com indivíduos acometidos pela esquizofrenia sabem que muitos 
estereótipos em torno da pessoa considerada louca são fruto do desconhecimento e da desinformação. 
Inúmeros fatos históricos contribuíram para a construção de um imaginário social injusto sobre 
a loucura. Com o objetivo de desconstruir esse imaginário e de defender os direitos das pessoas 
com transtorno mental, nasceu, no Brasil, o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, com 
os mesmos propósitos de um importante movimento social internacional conhecido como Luta 
Antimanicomial. 
Para abordar a temática da Saúde Mental faz-se imprescindível compreender tais heranças 
históricas. Focaremos nosso estudo nos primórdios da psiquiatria brasileira, em especial na história 
do primeiro hospital psiquiátrico que aqui existiu. 
O Modelo Manicomial: O Hospício Pedro II
Em1852, foi inaugurado o Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro. Essa instituição foi o primeiro 
serviço especializado, no Brasil, para a população com problemas de saúde mental. Essa decisão foi 
consequência de uma campanha realizada em 1841 por médicos preocupados com os “loucos” naquela 
cidade. Esses médicos reivindicavam a criação de um asilo para “alienados” (AMARANTE, 2003).
11
SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
O Hospício Pedro II foi uma construção grandiosa em forma de um enorme palácio. Sua arquitetura 
foi inteiramente baseada nos chamados asilos europeus, que eram instituições religiosas de 
caridade especializadas em receber populações excluídas socialmente, tais como prostitutas, pobres, 
portadores de doenças venéreas, desabrigados, deliquentes e loucos. 
Quando inaugurado, o Hospício Pedro II tinha a proposta de seguir as novas tendências médicas 
europeias da época, buscando um modelo diferente dos asilos, e se propunha a ser menos uma 
instituição religiosa e mais uma instituição médica. Porém, na prática, o Hospício Pedro II 
apresentava as seguintes características:
 » Os médicos eram subordinados às irmãs de caridade que atuavam nas enfermarias, 
ou seja, os médicos não eram uma figura central na instituição.
 » A assistência era majoritariamente religiosa, e não médica.
 » Faltavam médicos e critérios diagnósticos.
 » Havia superlotação.
 » Misturavam pacientes criminosos, pacientes adultos e pacientes crianças, sem que 
houvesse alas especiais para cada grupo. 
É importante destacar que, mesmo com todos esses problemas, o Hospício Pedro II foi um marco 
importante na história brasileira da Psiquiatria e Saúde Mental. Afinal, foi a primeira atuação do 
governo em direção ao cuidado dessa população desassistida. E embora essa assistência tenha sido 
dessa forma, foi a primeira vez no Brasil que alguma assistência especializada foi direcionada a 
pessoas denominadas “loucas”. 
Figura 1. Hospício Pedro II, em 1856
Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bertichem_1856_hospicio_pedro_ii_praia_vermelha.jpg>
12
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
Figura 2. Atualmente, o Palácio da UFRJ, antigo Hospício Pedro II. 
Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:UFRJ-Praia_Vermelha.jpg>
Nessa época, os médicos acreditavam que o tratamento da “loucura” deveria ser centrado no 
isolamento e no tratamento moral. Achavam que ao isolar o chamado “alienado mental” era 
possível o conhecimento científico sobre sua doença. Esse seria um método cientificamente 
comprovado, exatamente do mesmo modo como os botânicos faziam com as plantas ao examiná-
las (AMARANTE, 2003). O conhecimento científico deveria ser baseado na observação e na análise 
sistemáticas dos fenômenos perceptíveis da doença. Assim, acreditava-se que, ao isolar o paciente, 
seria mais facilmente observada a doença e seus agentes, já que se evitariam interferências externas. 
Assim, seria possível observar, descrever, comparar e classificar a doença mental. Nesse sentido, 
entendia-se que era necessário retirar o “louco” do meio social e isolá-lo no ambiente institucional. 
Essa prática do isolamento tinha como objetivo a cura. 
Além do isolamento, outra diretriz prática do hospício era o tratamento moral. Essa proposta 
considerava que o tratamento deveria envolver um regime disciplinar incorporado no dia a dia da 
instituição. Nesse sentido, a instituição tinha o papel fundamental de reconduzir o paciente ao seu 
estado racional. Afinal, acreditava-se que a loucura era um estado de alienação mental que levava o 
sujeito à irracionalidade. Considerava-se que o ambiente em que o paciente estava era determinante 
em seu tratamento. Fazia parte do tratamento moral o chamado “trabalho terapêutico”, que eram 
atividades práticas laborais. Segundo o entendimento científico, o trabalho dentro da instituição 
ajudaria o indivíduo a combater as ideias confusas e as falsas percepções da realidade, presentes na 
loucura. Assim, o tratamento moral considerava que a partir de certas práticas seria possível realizar 
mudanças significativas nos pacientes (AMARANTE, 2003). Algumas das práticas envolvidas no 
tratamento moral eram:
 » Utilização da autoridade médica, sem violência, porém com intimidação e repressão, 
vigilância rigorosa, aplicando-se castigo e punição disciplinar. Os médicos 
acreditavam que esses métodos corrigiriam os desvios de comportamento. 
 » Outros meios repressivos que visavam corrigir os comportamentos eram a privação 
de visitas, passeios e recreação e a redução de alimentos. 
 » Estadia na cela-forte e banhos de emborcação, como forma de persuasão da 
obediência, ou como meio de acalmar o paciente e atingir a remissão do surto.
13
SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
 » Utilização de camisa de força ou isolamento do paciente em quartos acolchoados, 
com o objetivo de acalmar o paciente em surto.
 » Estabelecimento do trabalho como instrumento terapêutico, muito similar ao 
que conhecemos hoje como terapia ocupacional. Acreditava-se que por meio da 
obrigação do trabalho se alcançaria a ordem e racionalidade. Desse modo, atividades 
ocupacionais como manufatura de calçados eram realizadas dentro da instituição. 
Figura 3. Camisa de Força 
Fonte: <http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/camisa.html>
O famoso médico francês Philippe Pinel foi um grande defensor do isolamento e do tratamento 
moral enquanto formas de tratar a loucura. Seus trabalhos na Europa já influenciavam grande parte 
da psiquiatria no mundo ocidental e não era diferente no Brasil daquela época. 
Quem foi Philippe Pinel? 
Por muitos considerado o pai da psiquiatria, Pinel (1745-1826) foi o médico 
responsável por organizar o primeiro hospital psiquiátrico e o primeiro livro sobre 
psiquiatria no mundo moderno. Ele foi o autor do “Tratado Médico-Filosófico 
sobre a Alienação Mental”. Esse tratado foi considerado um marco na história da 
medicina por inaugurar a psiquiatria enquanto especialidade médica. Também foi 
conhecido por defender o uso da não violência física no tratamento dos pacientes. 
Pinel fez parte do primeiro grupo de médicos que passou a compreender a loucura 
enquanto doença e a defender que essas pessoas deveriam receber tratamento 
(PEREIRA, 2004). 
Antes de Pinel, os “loucos” eram considerados perigosos e eram acorrentados 
ao lado de criminosos. Pinel, juntamente com outros médicos, foi o percussor 
no movimento de considerar um tratamento mais humanizado para as pessoas 
consideradas “loucas”. 
Na sua época, não existiam as noções de saúde mental ou de transtorno mental. 
Ele definiu “loucura” como alienação mental, e esse foi um conceito muito 
utilizado pelos médicos de sua geração. Segundo ele, o alienado estaria sofrendo 
de um desequilíbrio das paixões. O alienado mental possuía paixões em excessivas 
proporções. Nesse sentido, o “louco” era dominado por paixões artificiais e situava-
14
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
se distante de uma realidade objetiva. Esse conceito de alienação mental definia o 
louco enquanto totalmente alheio e alienado do meio que o cercava e da ordem e 
moral a sua volta. (AMARANTE, 2003). 
Não poderíamos deixar de mencionar que uma das palavras para se referir à pessoa 
“louca”, na língua portuguesa, é a palavra pinel. Amplamente utilizada na linguagem 
popular e informal, a origem desse termo provavelmente está associado ao pai da 
psiquiatria.
Philippe Pinel ficou muito famoso por desacorrentar pacientes em um hospital 
psiquiátrico na França e por defender que essas pessoas deveriam receber 
tratamento sem violência. Por outro lado, suas propostas de tratamento incluíam 
o uso da camisa de força e banhos de emborcação. Isso não parece contraditório? 
Hoje em dia esses métodos são considerados violências contra o indivíduo, mas essa 
não era a visão daquela época. 
Figura 4. Famosa pintura do século XIX retratando Philippe Pinel desacorrentando “alienados mentais” em um Hospital 
Psiquiátricona França
Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Philippe_Pinel_à_la_Salpêtrière.jpg>
Continuando a descrever o percurso histórico do Hospício Pedro II, uma grande mudança ocorreu 
com a instituição em 1890. Após uma série de críticas por parte dos médicos quanto à limitação 
de sua atuação, o hospício foi desvinculado da Santa Casa de Misericórdia, mudou o nome para 
Hospício Nacional de Alienados e passou a ser administrado pelo Estado. A nova proposta era de 
permitir uma maior atuação dos médicos de modo que eles ocupassem um papel central nas práticas 
do hospital. 
Mais tarde, na década de 1930, novas intervenções terapêuticas psiquiátricas foram elaboradas pela 
ciência e incorporadas pelo hospício. Essas descobertas foram os eletrochoques e a lobotomia. 
Essas práticas, extremamente repudiadas nos dias de hoje, foram consideradas inovadoras para a 
época. A lobotomia é um procedimento neurocirúrgico irreversível que secciona as fibras dos lobos 
frontais. Acreditava-se que esse procedimento brutal poderia curar comportamentos violentos e 
suicidas. Já a eletroconvulsoterapia era a indução de convulsão pela aplicação de eletrochoques. 
Essas práticas foram muito questionadas e cerca de duas décadas depois já estariam em desuso.
15
SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Em 1940, o Hospício Nacional de Alienados foi transferido para outro bairro do Rio de Janeiro e 
teve suas dependências ampliadas, incluindo um centro cirúrgico para a prática da lobotomia. Nessa 
época, o hospital mudou de nome novamente, vindo a se chamar Centro Psiquiátrico Nacional. 
Figura 5. Aparelho de eletrochoque, em 1934
Fonte: <http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/eletro2.html>
A reforma psiquiátrica
Com o advento da noção de cidadania e, mais tarde, de direitos humanos, juntamente com o avanço 
científico, o modelo asilar e manicomial começou a ser intensamente criticado em muitas partes do 
mundo. Foram necessárias muitas décadas de transformações sociais para a loucura começar a ser 
desmistificada e considerada de uma perspectiva mais humanizada. Até isso acontecer, muitos atos 
de violência, maus-tratos, inclusive óbitos, ocorreram. 
Vimos até agora que a história de transformações da primeira instituição psiquiátrica brasileira 
é acompanhada pelas mudanças na história da psiquiatria. A partir de 1960, duas grandes 
transformações influenciaram todo esse panorama brasileiro e foram dois fatores de grande impacto 
na psiquiatria no Brasil e no mundo (AMARANTE, 2003): 
 » A Reforma Psiquiátrica, enquanto movimento de defesa dos direitos e da cidadania 
do portador de transtorno mental. 
 » A descoberta dos neurolépticos: medicamentos que atuam nos Sistema Nervoso 
Central e inibem atividades delirantes e alucinatórias típicas da loucura. 
Recapitulando o percurso histórico que abordamos até aqui:
Quadro 1.
1852 1890 1940 1960/70
Criação da primeira Instituição 
psiquiátrica no Brasil. Modelo asilar 
e religioso. Hospício Pedro II.
Hospício Nacional de Alienados. 
Administrado pelos médicos. Modelo 
ainda com aspectos asilares.
Centro Psiquiátrico Nacional. 
Ampliado com centros cirúrgicos 
para lobotomia. 
Reforma Psiquiátrica e 
descoberta dos neurolépticos.
16
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
O contexto da Reforma Psiquiátrica 
A chamada Reforma Psiquiátrica brasileira teve início a partir da década de 1970. Ela foi acompanhada 
pelo movimento de Reforma Sanitária que já estava ocorrendo paralelamente na área da sáude. 
Esse último movimento defendia a saúde coletiva, preventiva, a igualdade no acesso aos serviços e a 
importância dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). 
Assim, a Reforma Psiquiátrica é o resultado do encontro de dois processos: 
 » De um lado, os movimentos sociais que pediam pelos direitos dos pacientes psiquiátricos.
 » De outro, a crise do próprio modelo oferecido pelo hospital psiquiátrico. 
Cabe destacar que a Segunda Guerra Mundial também determinou considerável influência nesse 
contexto da psiquiatria. Esse conflito provocou um profundo impacto na humanidade, o que gerou 
muitas transformações em como as pessoas lidavam com algumas questões, causando, inclusive, o 
desenvolvimento de olhares inovadores sobre diversas temáticas. Não há como desvincular algumas 
dessas transformações com o processo da Reforma Psiquiátrica. A seguir, alguns dos aspectos importantes:
 » As condições de pobreza, exclusão e violência vividas durante a Segunda Guerra 
trouxeram muitas modificações no fato de como a humanidade passou a tolerar 
qualquer desrespeito contra os seres humanos (AMARANTE, 2003a). Após se 
assistir o horror dos centros de concentração, os movimentos de direitos humanos 
se fortaleceram, se disseminaram e se internacionalizaram. 
 » Diante desse contexto, os hospícios e manicômios começaram a ser alvos de muitas 
acusações de desrespeito aos direitos humanos dos pacientes. Entre as críticas, 
mencionavam-se os seguintes fatores: exclusão, privação de liberdade, maus-tratos, 
abandono e desassistência. (AMARANTE, 2003a). De fato, passou-se a observar 
que muitos pacientes entravam em um estado de cronificação, no qual passavam 
anos internados e sofriam consequências negativas dessa experiência, chegando 
a ter seu quadro de saúde mental agravado. Todos esses fatores acentuavam, aos 
olhos da sociedade, a semelhança entre o que se via nos hospícios e o que se viu nos 
campos de concentração. 
Em consequência a esses fatores, diversas iniciativas que buscavam modificações das práticas 
institucionais assim o fizeram. A esse conjunto de transformações denominou-se Reformas 
Psiquiátricas (AMARANTE, 2003a). É importante destacar que essas mudanças não visavam 
simplesmente modificar as atividades dentro dos manicômios. Na verdade, essas reformas visavam 
uma total reformulação de como assistir a “loucura” e de todo o espaço social que ela se encontrava. 
De acordo com o Ministério da Saúde (2005, p.6), 
[...] A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo, composto 
de atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios 
diversos, nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no 
17
SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
mercado dos serviços de saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de 
pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, 
e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. Compreendida 
como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais 
e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações 
interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por 
impasses, tensões, conflitos e desafios. 
As dimensões da Reforma Psiquiátrica 
Segundo Amarante (2003), a Reforma Psiquiátrica envolve quatro dimensões: teórica, assistencial, 
jurídica e sociocultural. Isso significa que ela busca provocar transformações nessas quatro esferas 
da sociedade. 
Dimensão teórica
A Reforma Psiquiátrica busca questionar conceitos como os de doença mental e normalidade. 
Há, na verdade, um questionamento de toda a teoria psiquiátrica tradicional. Esta, que considera 
o hospital um lugar onde doente mental deve estar para poder ser curado e, assim, voltar ao 
seu estado normal. Essa noção carrega uma bagagem teórica que a Reforma Psiquiatra quer 
desconstruir, ou seja, fazer uma nova leitura e um novo entendimento do que seja a loucura e a 
chamada doença mental. 
Uma nova abordagem considera a doença e a saúde mental como partes naturais da vida do ser 
humano, e não mais como um desvio de comportamento ou algo a ser corrigido. Essa nova perspectiva 
concebe um novo modelo de assistência denominado modelo de atenção psicossocial 
(AMARANTE, 2003). 
Nesse modelo, há uma nova abordagem do paciente. Ele não é mais considerado um ser “sem 
razão e juízo”, ou um “alienado mental”, como descreveu Pinel.O “louco” agora é um sujeito. Isso 
significa que ele é considerado um sujeito de deveres e de direitos, possui responsabilidades e 
é um cidadão (AMARANTE, 2003). Passa-se a acreditar que o sujeito com transtorno mental é 
capaz de ter autonomia apesar de toda sua condição de dificuldades. O objetivo também é vencer 
muitos estereótipos que o “louco” carrega. Por exemplo, o de ser perigoso. O doente não deve ser 
considerado necessariamente perigoso, incapaz ou irresponsável. Ele agora ganha capacidade de se 
restabelecer com autonomia, deve ser cuidado e receber atendimento integral em sua saúde. 
Enquanto disciplina, a psiquiatria deve ser considerada, juntamente com muitas outras, para 
explicar o fenômeno da loucura. Ou seja, a interdisciplinaridade passa a ser de extrema importância. 
A psiquiatria não é mais uma ciência absoluta que detém todo o saber sobre a loucura. Ao contrário, 
ela é capaz de explicar parcialmente o sujeito e de poder ajudá-lo em sua jornada da vida. Ela deve 
contar com várias outras esferas para contribuir no processo de tratamento. 
18
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
O modelo psicossocial busca cuidar do sujeito em sua totalidade, de modo integral, pois entende 
que a saúde mental do ser humano envolve/afeta todos os aspectos de sua vida e não somente o 
seu aspecto psicológico e neurológico. Com isso, o tratamento de um sujeito com transtorno mental 
passa a ter foco não apenas no psiquiátrico e psicológico, mas também no social. O sujeito é um ser 
complexo e deve ser cuidado e assistido de acordo com essa leitura. Com essa nova abordagem, não 
basta o tratamento envolver medicamentos, psicoterapia e terapias ocupacionais. Outros fatores 
também são de crucial relevância e ganham destaque. Por exemplo, a importância de constituição 
do vínculo entre o profissional e o sujeito para que se desenvolva confiança e a importância de o 
profissional prover escuta ao sujeito que lhe pede ajuda. 
Mais importante do que curar a doença mental é dar condições dignas e necessárias para que aquele 
sujeito possa receber tratamento adequado e com seus direitos humanos respeitados, assim como 
sua história de vida, e considerando seus potenciais e capacidades. 
Dimensão assistencial
Em consequência das mudanças na teoria e nessas novas leituras dos conceitos básicos da psiquiatria, 
transformações fundamentais ocorreram nas práticas de assistência à saúde mental. 
Primeiramente, o modelo de assistência que, antes, era centrado na hospitalização e no isolamento, 
agora passa a focar em uma ação integrada ao indivíduo em seu território e domicílio. A palavra 
território ganha um especial significado nessa nova perspectiva. Território não é somente o bairro 
ou comunidade onde se mora, mas um lugar social em que criamos nossos vínculos, redes sociais 
e referências de vida. Assim, a assistência à saúde mental, agora, deve prover cuidado aos seus 
indivíduos a partir de uma atuação em toda a sua rede social, mantendo o indivíduo integrado a ela, 
à sua família, aos amigos, ao trabalho, à escola etc. (AMARANTE, 2003). 
Manter o indivíduo integrado em seu território passa a ser uma das funções de cuidado da rede de 
saúde mental, pois entende-se que a saúde mental do indivíduo inclui esse aspecto de socialização e 
de integração social. Se relembrarmos a psiquiatria tradicional, veremos que essa nova perspectiva 
tem uma leitura completamente oposta. Na psiquiatria tradicional, vimos que, para tratar a 
“loucura”, se considerava essencial o isolamento social do indivíduo. Esse era um requisito científico 
visto como essencial para o tratamento – o indivíduo com transtorno mental deveria ser excluído 
socialmente para ser tratado. Ao contrário, a Reforma Psiquiátrica tem como um de seus principais 
entendimentos o não isolamento. Deve-se prezar a integração do indivíduo em sua comunidade e 
reforçar seus laços sociais. Assim, o tratamento e o cuidado devem ser feitos junto à inserção social, 
incluindo as estruturas de lazer, trabalho e família. 
A organização desse novo serviço se dá por meio de uma rede diversificada, ou seja, que não se centra 
apenas no hospital, mas em várias outras estruturas. Assim, o serviço é realizado em rede, em que 
várias estruturas diferentes se conectam. Por exemplo, leitos em hospitais, ambulatórios, centros 
de saúde, residências terapêuticas, cooperativas sociais de trabalho, ONGs etc. É essencial que esses 
serviços estejam integrados e atuem em conjunto para prestar cuidado integral ao indivíduo em sua 
própria comunidade. Por isso, essa nova perspectiva deve ter um serviço interdisciplinar que inclua 
diferentes disciplinas além da psiquiatria.
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Um dos fatores essenciais em atuar na própria comunidade é a busca do próprio serviço de integrar à 
sociedade o indivíduo com transtorno mental. O objetivo desse processo será incluí-lo na sociedade 
e promover a diminuição dos estereótipos e preconceito sobre a “loucura”. Como já mencionamos, 
o atendimento deve prezar o vínculo, o cuidado, a escuta e o acolhimento dessa pessoa, para que 
sua integração seja reforçada. (AMARANTE, 2003). O objetivo é criar um ambiente participativo e 
de cooperação, no qual a família e a sociedade trabalhem conjuntamente no cuidado da pessoa com 
transtorno mental. 
Assim, percebemos que o foco não é mais tanto em curar o indivíduo de sua doença. O foco agora é 
garantir seus direitos humanos, prover um tratamento com respeito, prover qualidade de vida e sua 
integração e participação na sociedade. 
Para promover tamanha transformação nos serviços psiquiátricos do país, torna-se essencial 
investir na formação do profissional e de técnicos da área de saúde mental. Afinal, de nada adianta a 
criação de um novo modelo de atenção se os profissionais ainda atuarem de acordo com concepções 
tradicionais da psiquiatria manicomial. 
Dimensão jurídica 
Com a Reforma Psiquiátrica, grandes transformações ocorreram no campo jurídico. Na psiquiatria 
manicomial, o louco era considerado incapaz e inimputável perante a lei. Isso significa que a pessoa 
considerada louca não responde por si e não tem condições de gerir sua própria vida, ficando tutelada 
por sua família e sem muitos de seus direitos civis (AMARANTE, 2003). O próprio isolamento dos 
hospícios cerceava os direitos básicos de ir e vir ou de tomar decisões sobre sua própria vida e a 
pessoa perdia sua cidadania. 
Nesse sentido, muitos progressos foram já realizados e a luta da Reforma Psiquiátrica é para 
respeitar os direitos da pessoa com transtorno mental, dando a ela voz, autonomia e capacidade 
de decisão. Ou seja, ao invés de excluídos da sociedade e considerados incapazes que eles sejam 
considerados cidadãos, incluídos socialmente. 
Uma importante realização nesse sentido foi a Lei Federal no 10.216/2001, que reformulou a 
assistência de saúde mental e definiu que o tratamento deve ser oferecido com serviços de base 
comunitária. Essa lei, denominada Paulo Delgado, reforçou a Reforma Psiquiatra no Brasil e 
criou avanços nesse sentido; porém, ainda há uma longa caminhada a se fazer no que se refere às 
conquistas da saúde mental no campo jurídico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). 
Toda discussão jurídica gira em torno de uma nova leitura da “pessoa com transtorno mental”. 
Ou seja, compreendê-la de uma outra perspectiva – passar a chamá-la de “usuária dos serviços 
de saúde mental”, ao invés de “paciente”, que inclui um entendimento de passividade frente 
ao tratamento. 
Transcrevemos, a seguir, parte dessa importante lei em que constam seus pontos mais relevantes 
pois todo o profissional de saúde mental do Brasil deve ter conhecimento de seu conteúdo. Além 
disso, em cada artigo são descritos inúmeros elementos da Reforma Psiquiátrica. 
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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
Lei no 10.216, de 6 de abril de 2001.
Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais 
e redireciona o modelo assistencialem saúde mental. 
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de 
transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem 
qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, 
orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, 
família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de 
evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. 
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, 
a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente 
cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste 
artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno 
mental:
I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, 
consentâneo às suas necessidades;
II – ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo 
de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela 
inserção na família, trabalho e na comunidade;
III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV – ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V – ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para 
esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII – receber o maior número de informações a respeito de sua 
doença e de seu tratamento;
VIII – ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos 
invasivos possíveis;
IX – ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de 
saúde mental. 
Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política 
de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos 
portadores de transtornos mentais, com a devida participação da 
sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento 
de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades 
que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos 
mentais.
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será 
indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem 
insuficientes. 
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção 
do paciente em seu meio.
§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado 
de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de 
transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência 
social, psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros.
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos 
mentais em instituições com características asilares, ou seja, 
aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não 
assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo 
único do art.2o. 
Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual 
se caracterize situação de grave dependência institucional, 
decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, 
será objetivo de política específica de alta planejada e reabilitação 
psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade 
sanitária competente e supervisão de instância a ser definida 
pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, 
quando necessário.
Art.6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante 
laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica:
I – internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento 
do usuário;
II – internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento 
do usuário e a pedido de terceiro; e
III – internação compulsória: aquela determinada pela justiça. 
[...]
Essa lei foi de extrema relevância para o avanço da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Vários pontos 
dela enfatizam aspectos opostos aos defendidos pela psiquiatria tradicional. Dois aspectos devemos 
enfatizar:
1. A lei é enfática ao defender que deve ser evitado, ao máximo, a internação hospitalar 
das pessoas com transtornos mentais. Isso vai claramente contra a proposta de 
que o hospital tem um papel central no tratamento e que essas pessoas devem 
permanecer isoladas. 
22
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
2. Ao contrário do isolamento, outro ponto importante da lei ressalta a inserção de 
pessoas com transtornos mentais na comunidade, junto à família e aos laços sociais. 
Assim, qualquer internação que ainda ocorra deve ser breve e pontual, visando sua 
reinserção em seu meio social o quanto antes. 
Dimensão sociocultural
A dimensão sociocultural está relacionada ao envolvimento da sociedade e às transformações no 
imaginário social (AMARANTE, 2003). O objetivo dessa transformação é mudar o modo como a 
sociedade em geral lida e entende a “loucura” e a “doença mental”. Por exemplo, muitos estereótipos 
e preconceitos são associados à “loucura”, tal como a noção de perigo em torno da pessoa com 
transtorno mental. Por isso, faz parte da Reforma Psiquiátrica transformar esse panorama e propor 
a inserção do “louco” na comunidade, para que os mitos sobre a “loucura” sejam desconstruídos. 
Uma maneira eficiente de transformar o imaginário social é por meio de campanhas do governo e 
de movimentos sociais. Sabe-se que, por ser 18 de maio o “dia nacional da luta antimanicomial”, o 
governo federal tem se esforçado para não deixar essa data passar em branco e tenta sensibilizar a 
população com campanhas para inserção do indivíduo com transtorno mental. 
Outra medida importante a ser utilizada é incluir a loucura como temática cultural em filmes, 
novelas, literatura, produções artísticas e outros meios de comunicação. 
Como você acha que a loucura tem sido retratada atualmente nos meios de 
comunicação? Relembre alguns personagens de novela ou de filmes e analise até 
que ponto esses personagens carregam heranças da psiquiatria tradicional. 
Você já ouviu falar no Museu de Imagens do Inconsciente? Esse museu, localizado 
no Rio de Janeiro, surgiu dos ateliês de pintura do Centro Psiquiátrico Pedro II. A 
psiquiatra brasileira Nise da Silveira foi responsável por organizá-lo durante a prática 
de Terapia Ocupacional, em 1946. No entanto, a produção artística dos pacientes 
foi tão rica que se transformou em um museu. O museu foi inaugurado em 1952 e 
conta com obras de pintura e de modelagem. Destaca-se a importância do museu 
na luta antimanicomial ao expor a alta qualidade artística dos pacientes e por ajudar 
a desconstruir os estereótipos em torno da “loucura”. Vale a pena visitar o museu!
Quem foi Nise da Silveira?
Nise da Silveira (1905-1999) foi uma influente psiquiatra brasileira. Ela foi revolucionária 
para a sua época pois realizava críticas intensas aos tratamentos que considerava 
desumanos e agressivos aos pacientes. Deu voz artística aos seus pacientes por meio 
da Terapia Ocupacional e criou o Museu da Imagem de Imagens do Inconsciente. 
Para saber mais sobre o Museu de Imagens do Inconsciente e sobre Nise da Silveira acesse:
<www.museuimagensdoinconsciente.org.br>
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Para organizarmos todo o conhecimento sobre a Reforma Psiquiátrica até agora, veja o Quadro 2, 
a seguir:
Quadro 2. Abordagens e perspectivas da Psiquiatria Tradicional versus a Reforma Psiquiátrica
Psiquiatria Tradicional Reforma Psiquiátrica
 » Modelo Manicomial, baseado em Hospícios onde o Hospital tem 
figura central. 
 » Atua sobre a doença mental e alienação mental. 
 » Tem como objetivo curar a doença.
 » Isolamento como modo de tratamento, segregação e exclusão dos 
indivíduos longe da família e de seus laços sociais. 
 » Tratamento moral como fundamento, baseado na disciplina do 
hospital, na vigilância e na punição. 
 » O “doente mental” era considerado perigoso, incapaz e 
inimputável. 
 » Modelo territorial de assistência, que conta com uma rede de serviços.
 » Perspectiva de um sujeito complexo.
 » Crítica aos estereótipos sobre a “loucura”.
 » Tem como objetivo produzir saúde.
 » Proposta de Atenção Integral e Modelo Psicossocial. 
 » Visaa inserção e inclusão social, e integração do indivíduo na comunidade.
 » Considera o “usuário do serviço de saúde mental” como um sujeito.
Para consolidar o seu aprendizado sobre a Reforma Psiquiátrica, propomos um 
exercício. Assista a um dos filmes da lista abaixo e escreva um pequeno texto sobre 
ele, analisando em que aspectos a abordagem da Saúde Mental atende ou não a 
proposta da Reforma Psiquiátrica. 
 » Garota, Interrompida. (EUA, 1999). Direção James Mangold. 
 » Bicho de Sete Cabeças (Brasil, 2001). Direção Laís Bodanzky.
 » Um Estranho no Ninho (EUA, 1975). Direção Milos Forman.
 » Veronika Decide Morrer (EUA, 1009). Direção Emily Young.
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CAPÍTULO 2
A Política Brasileira de Saúde Mental 
Maluco Beleza
Enquanto você se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real
Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza maluco beleza
E esse caminho que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir
Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez
Vou ficar
Ficar com certeza maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza maluco beleza
Composição: Raul Seixas
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Vimos que os primórdios da psiquiatria no Brasil incluiu uma forte herança da psiquiatria 
tradicional manicomial, com o hospital enquanto figura central. Ao mesmo tempo, vimos que o 
governo brasileiro tem definido medidas para transformar esse panorama e gradualmente realizar 
uma completa transformação da assistência de saúde mental de acordo com a Reforma Psiquiátrica.
Para isso, o Ministério da Saúde estabeleceu uma Política Nacional de Saúde Mental apoiada na Lei 
no 10.216/2001. Essa Política se propõe a consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberto 
e de base comunitária, posto que busca garantir a livre circulação das pessoas com transtornos 
mentais pelos serviços, comunidade e cidade, e oferece cuidados com base nos recursos que a 
comunidade oferece. 
Os pilares dessa Política envolvem as seguintes estruturas e serviços:
 » Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) 
 » Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) 
 » Centros de Convivência e Cultura 
 » Leitos de atenção integral (em hospitais gerais, nos CAPS III).
Além desses serviços, destaca-se o Programa de Volta para Casa, que oferece bolsas para egressos 
de longas internações em hospitais psiquiátricos. 
Os Centros de Atenção Psicossocial
De acordo com o Ministério da Saúde (2004, p.9), 
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são instituições destinadas a 
acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração 
social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca de autonomia, 
oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é 
buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como 
seu ‘território’, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de 
usuários e familiares. 
Os CAPS possuem função estratégica na Política Nacional de Saúde Mental porque têm papel 
fundamental na contribuição da Reforma Psiquiátrica. Isso porque são estruturados de tal forma 
que têm função de fortalecer e estabelecer a Reforma Psiquiátrica e suas propostas. No lugar de 
um sistema hospitalocêntrico e focado no isolamento do paciente dentro dos hospitais, os CAPS 
possibilitam que o tratamento e a promoção da saúde aconteçam dentro da própria comunidade, 
permitindo a preservação dos laços sociais, familiares e comunitários. Nessa abordagem, o usuário 
do serviço de saúde mental tem liberdade para ir e vir e possui a maioria de seus direitos humanos 
preservados. 
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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
A função do CAPS na Política Nacional de Saúde Mental é estratégica e age em concordância com a 
Reforma Psiquiátrica. Por isso, é importante que os profissionais de Saúde Mental saibam como um 
CAPS funciona, como é organizado e age, a fim de compreenderem como uma prática alinhada com 
a Reforma Psiquiátrica deve se dar. 
Entre as principais funções do CAPS, o Ministério da Saúde destaca:
 » Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando internações 
psiquiátricas.
 » Acolher e atender pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, 
procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território.
 » Promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações 
intersetoriais.
 » Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de 
atuação.
 » Dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica de saúde.
 » Organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios.
 » Articular estrategicamente a rede e a política de saúde mental num determinado 
território.
 » Promover a reinserção social do indivíduo por meio do acesso ao trabalho, ao lazer, 
ao exercício dos direitos civis e ao fortalecimento dos laços familiares e comunitário.
De acordo com o Ministério da Saúde, os CAPS são o núcleo de uma nova clínica da Saúde Mental, 
pois têm toda sua estrutura e funcionamento baseada na Reforma Psiquiátrica. Assim, os CAPS são 
estruturas que se propõem a substituir os hospitais psiquiátricos, ao contrário do que se pensa – que 
são apenas estruturas que complementam estas instituições. 
Para se organizar a rede de atenção à saúde mental nos municípios brasileiros levam-se em conta os critérios: 
populacional, ou seja, a população daquele território, e as demandas específicas daquela população. 
Assim, o Ministério da Saúde define cinco tipos de CAPS e cada um atende a uma clientela específica. 
São eles:
 » CAPS I: são serviços para cidades de pequeno porte, que devem dar cobertura para 
toda clientela com transtornos mentais severos durante o dia (adultos, crianças e 
adolescentes e pessoas com problemas devido ao uso de álcool e outras drogas).
 » CAPS II: são serviços para cidades de médio porte e atendem durante o dia clientela adulta.
 » CAPS III: são serviços 24 horas, geralmente disponíveis em grandes cidades, que 
atendem clientela adulta.
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
 » CAPSi: são serviços para crianças e adolescentes, em cidades de médio porte, que 
funcionam durante o dia.
 » CAPSad: são serviços para pessoas com problemas pelo uso de álcool ou outras 
drogas, geralmente disponíveis em cidades de médio porte. Funciona durante o dia. 
O Ministério da Saúde determina que todos os CAPS tenham uma equipe multidisciplinar de 
profissionais, com presença obrigatória de psiquiatra, enfermeiro, psicólogo e assistentes sociais, 
e, ainda, de outros profissionais da área da saúde. Além disso, os CAPS devem estar preparados 
fisicamente para receber a população à qual se destinam. De acordo com o Ministério da Saúde 
(2004), o espaço do CAPS deve contar com os seguintes recursos físicos:
 » consultórios para atividades individuais (consultas, entrevistas, terapias);
 » salas para atividades grupais;
 » espaço de convivência;
 » oficinas;
 » refeitório; 
 » sanitários; e
 » área externa para oficinas, recreações e esportes.
Destaca-se que muitas práticas dos CAPS ultrapassam seus limites físicos, pois na sua proposta de 
trabalho em rede realizam projetos em conjunto com outras instituições e outras organizações do 
bairro e da comunidade em que o Centro está inserido. 
O processo de atendimento no CAPS inclui vários passos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004): 
1o – Encaminhamento: a pessoa com transtorno mental procura pessoalmente o serviço do CAPS 
ou é encaminhada pelo Programa de Saúde da Família ou por qualquer outro serviço de saúde. A 
pessoa pode ir sozinha ou acompanhada e, preferencialmente, deve procurar o CAPS que atende sua 
região de moradia. 
2o – Acolhimento: ao chegar no CAPS, a pessoa deverá participar de um processo de acolhimento, 
no qual os profissionais deverão escutaro seu sofrimento e buscar compreender sua história e sua 
atual situação. Esse é um primeiro contato e nesse momento se inicia um vínculo terapêutico de 
confiança com os profissionais do CAPS. Faz parte desse processo estabelecer um diagnóstico para 
que se criem algumas diretrizes para o tratamento. 
3o – Projeto Terapêutico: a partir do acolhimento, os profissionais do CAPS, juntamente com o 
usuário e sua família, iniciam a construção de uma estratégia ou um projeto terapêutico individual 
para aquela pessoa com transtorno mental. Cada caso é único e individual e por isso o projeto 
terapêutico deve atender às especificidades de cada caso. Por exemplo, há casos em que o usuário 
28
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
se encontra em uma condição de isolamento dentro de casa e, devido à (ao) gravidade/estágio 
avançado do transtorno mental, se encontra isolado e incapaz de sair de casa. Nesses casos, para se 
atender à especificidade da situação, é possível o atendimento domiciliar. 
Sobre as atividades terapêuticas do CAPS, leia o texto a seguir extraído do relatório Saúde Mental 
no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). 
Os CAPS podem oferecer diferentes tipos de atividades terapêuticas. Esses recursos 
vão além do uso de consultas e de medicamentos, e caracterizam o que vem 
sendo denominada clínica ampliada. Essa ideia de clínica tem sido construída nas 
práticas de atenção psicossocial, provocando mudanças nas formas tradicionais de 
compreensão e de tratamento dos transtornos mentais.
O processo de construção dos serviços de atenção psicossocial também tem revelado 
outras realidades, isto é, as teorias e modelos prontos de atendimento vão se 
tornando insuficientes frente às demandas das relações diárias com o sofrimento e a 
singularidade desse modo de atenção. É preciso criar, observar, escutar, estar atento 
à complexidade da vida das pessoas, que é maior que a doença ou o transtorno. 
Para tanto, é necessário que, ao definir atividades como estratégias terapêuticas 
nos CAPS, se repensem os conceitos, as práticas e as relações que podem promover 
saúde entre as pessoas: técnicos, usuários, familiares e comunidade. Todos precisam 
estar envolvidos nessa estratégia, questionando e avaliando permanentemente os 
rumos da clínica e do serviço. 
Os CAPS devem oferecer acolhimento diurno e, quando possível e necessário, 
noturno. Devem ter um ambiente terapêutico e acolhedor, que possa incluir pessoas 
em situação de crise, muito desestruturadas e que não consigam, naquele momento, 
acompanhar as atividades organizadas da unidade. O sucesso do acolhimento da 
crise é essencial para o cumprimento dos objetivos de um CAPS, que é o de atender 
aos transtornos psíquicos graves e evitar as internações. Os CAPS oferecem diversos 
tipos de atividades terapêuticas como, por exemplo: psicoterapia individual ou em 
grupo, oficinas terapêuticas, atividades comunitárias, atividades artísticas, orientação 
e acompanhamento do uso de medicação, atendimento domiciliar e aos familiares. 
Algumas dessas atividades são feitas em grupo, outras são individuais, outras 
destinadas às famílias, outras são comunitárias. Quando uma pessoa é atendida no 
CAPS, ela tem acesso a vários recursos terapêuticos:
 » Atendimento individual: prescrição de medicamentos, psicoterapia, 
orientação.
 » Atendimento em grupo: oficinas terapêuticas, oficinas expressivas, 
oficinas geradoras de renda, oficinas de alfabetização, oficinas culturais, 
grupos terapêuticos, atividades esportivas, atividades de suporte social, 
grupos de leitura e debate, grupos de confecção de jornal.
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
 » Atendimento à família: atendimento nuclear e a grupo de familiares, 
atendimento individualizado a familiares, visitas domiciliares, atividades 
de ensino, atividades de lazer com familiares.
 » Atividades comunitárias: atividades desenvolvidas em conjunto com 
associações de bairro e outras instituições existentes na comunidade que 
têm como objetivo as trocas sociais, a integração do serviço e do usuário 
com a família, a comunidade e a sociedade em geral. Essas atividades 
podem ser festas comunitárias, caminhadas com grupos da comunidade, 
participação em eventos e grupos dos centros comunitários.
 » Assembleias ou Reuniões de Organização do Serviço: a Assembleia é um 
instrumento importante para o efetivo funcionamento do CAPS como 
um lugar de convivência. É uma atividade, preferencialmente semanal, 
que reúne técnicos, usuários, familiares e outros convidados para, juntos, 
discutirem, avaliarem e proporem encaminhamentos para o serviço. 
Discutem-se os problemas e sugestões sobre a convivência, as atividades 
e a organização do CAPS, ajudando a melhorar o atendimento oferecido. 
Estar em tratamento no CAPS não significa que o usuário tenha que ficar a maior 
parte do tempo dentro dele. As atividades podem ser desenvolvidas fora do serviço, 
como parte de uma estratégia terapêutica de reabilitação psicossocial, que poderá 
se iniciar ou ser articulada pelo CAPS, mas que se realizará na comunidade, no 
trabalho ou na vida social. 
Dessa forma, o CAPS pode articular cuidado clínico e programas de reabilitação 
psicossocial. Assim, os projetos terapêuticos devem incluir a construção de 
trabalhos de inserção social, respeitando as possibilidades individuais e os princípios 
de cidadania que minimizem o estigma e promovam o protagonismo de cada 
usuário frente à sua vida. Como vimos, muitas coisas podem ser feitas num CAPS, 
desde que tenham sentido para promover as melhores oportunidades de trocas 
afetivas, simbólicas, materiais, capazes de favorecer vínculos e interação humana. 
Demos somente alguns exemplos, mas com certeza existem muitas práticas sendo 
realizadas nos CAPS que poderiam ser descritas aqui.
Em nosso estudo, apenas estamos focando no serviço público de saúde mental. 
Você já se perguntou como o serviço privado deve funcionar? Lembre-se que muitas 
vezes o serviço privado deve levar em conta a noção de lucro em seu funcionamento. 
Desse modo, como será que um serviço privado de saúde mental funciona? Será 
que os serviços privados de saúde mental estão tão comprometidos com a Reforma 
Psiquiátrica quanto os serviços públicos? Faça uma pesquisa e descubra!
Para se ter um panorama geral da distribuição de CAPS pelo território brasileiro, podemos analisar 
a seguinte tabela do Ministério da Saúde (2010):
30
UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
Tabela 1. Distribuição de CAPS pelo território brasileiro
UF População CAPS I CAPS II CAPS III CAPS
IV
CAPS
V
Total Indicador 
CAPS/100.000 
hab
Norte 15.359.603 39 22 2 3 11 77 0.38
Acre 691.132 0 1 0 0 1 2 0.29
Amapá 626.609 0 0 0 1 2 3 0.48
Amazonas 3.393.369 1 3 1 0 0 5 0.15
Pará 7.431.020 20 11 1 2 3 39 0.40
Rondônia 1.503.928 10 5 0 0 1 16 0,73
Roraima 421.499 1 0 0 0 1 2 0.36
Tocantins 1.292.051 7 2 0 0 1 10 0.50
Nordeste 53.591.197 334 120 13 34 70 526 0.77
Alagoas 3.156.108 36 6 0 1 2 45 0.86
Bahia 14.637.364 109 30 3 7 14 163 0.75
Caerá 8.547.809 43 27 3 6 17 96 0.89
Maranhão 6.367.138 36 13 1 3 6 59 0.65
Paraíba 3.769.977 36 9 2 7 8 62 1.19
Pernambuco 8.810.256 19 17 1 6 10 53 0.50
Piauí 3.145.325 23 5 0 1 4 33 0.68
Rio Grande do 
Norte
3.137.541 12 10 0 2 5 29 0.73
Sergipe 2.019.679 20 3 3 1 4 31 1.11
Centro-Oeste 13.895.375 43 24 1 5 15 88 0.48
Distrito Federal 2.606.885 1 2 0 1 2 6 0.21
Goiás 5.926.300 9 14 0 2 4 29 0.41
Mato Grosso 3.001.692 25 2 0 1 5 33 0.68
Mato Grosso 
do Sul
2.369.498 8 6 1 1 4 20 0.70
Sudeste 80.915.332 169 165 27 53 96 510 0.54
Espírito Santo 3.487.199 7 8 0 1 3 19 0.44
Minas Gerais 20.033.665 74 44 8 11 18 155 0.61
Rio de Janeiro 20.033.665 74 44 8 11 18 155 0.61
São Paulo 41.384.039 55 75 19 28 59 236 0.53
Sul 27.719.118 140 75 3 27 50 295 0.82
Paraná 10.686.247 34 26 2 7 20 89 0.68
Rio Grande do 
Sul
10.914.128 63 36 0 14 22 135 0.95
Santa Catarina 6.118.74343 13 1 6 8 71 0.82
Brasil 191.480.630 725 406 46 122 242 1541 0.63
Fonte: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/smdados.pdf>
Ao analisar esse quadro, verificamos que o território nacional possui ao todo 1.541 CAPS. Também 
percebemos que a maioria é CAPS I e que muitas regiões não possuem uma cobertura suficiente de 
acordo com seu número populacional. O Ministério da Saúde (2010) considera que, utilizando-se o 
parâmetro de 1 CAPS para cada 100.000 habitantes, se verifica que o serviço de assistência do CAPS 
cobre 63% da população. 
31
SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
Além disso, se realizado um comparativo histórico com a cobertura desse serviço, desde 1998, 
percebe-se que grandes avanços foram realizados. Naquele ano, havia apenas 148 CAPS no 
território nacional. Assim, embora a cobertura de 63% ainda não seja a ideal, tudo indica que há 
uma perspectiva positiva para o futuro de continuidade da expansão dos serviços, no modelo CAPS, 
ao longo dos próximos anos. 
O gráfico a seguir, do Ministério da Saúde, mostra a expansão dos CAPS de 1998 a 2010: 
Gráfico 1. Expansão dos CAPS de 1998 a 2010
Fonte: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/smdados.pdf>
O Processo de Desinstitucionalização
Além do importante papel dos CAPS na Reforma Psiquiátrica, duas outras ações do governo merecem 
destaque. São elas: O Programa de Volta para Casa e as Residências Terapêuticas. Essas 
duas ações têm em comum a proposta de, juntamente com os CAPS, seguir as diretrizes da Reforma 
Psiquiátrica e o Processo de Desinstitucionalização. 
Por desinstitucionalização entende-se o processo de transformação da assistência de Saúde Mental, 
no qual se reduz consideravelmente o tempo que o sujeito permanece dentro das instituições 
psiquiátricas. A justificativa para esse processo provém da Reforma Psiquiátrica e da consideração 
de que pessoas com longos históricos de internação têm seu quadro de transtorno mental agravado 
ou cronificado, além de serem excluídas socialmente. Para isso, buscam-se reduzir os leitos nos 
hospitais psiquiátricos e expandir serviços substitutivos como, por exemplo, os CAPS, Centros de 
Convivência e Residências terapêuticas. 
O Programa de Volta para Casa
O “Programa de Volta para Casa” é uma efetiva estratégia que visa reintegrar à sociedade as pessoas 
com longo histórico de hospitalização. Essa estratégia tem mostrado positivos resultados. Muitas 
pessoas com transtornos mentais foram abandonadas pelas famílias e deixadas por muitos anos 
em instituições psiquiátricas. Elas, no geral, vêm de uma longa história de isolamento e exclusão 
social. Esse programa provê assistência, acompanhamento e integração social desse sujeito fora da 
unidade hospitalar. Além disso, prevê o pagamento do auxílio-reabilitação ao beneficiário. 
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Muitos casos que nele são incluídos possuem uma história tão longa de exclusão social que 
nem possuem mais documentos básicos como carteira de identidade ou certidão de nascimento 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Esse é um dos grandes desafios do programa, ou seja, incluir 
socialmente pessoas que estiveram por muitos anos às margens da sociedade, sem exercerem sua 
cidadania e com seus direitos humanos violados. 
Ele auxilia o sujeito a retornar para casa de familiares, repúblicas ou residências terapêuticas. Para 
participar do programa a pessoa tem que ter passado por período superior a dois anos ininterruptos 
em hospitais psiquiátricos. Depois de sair do hospital, o paciente passa a ser acolhido nos CAPS e ganha 
um projeto terapêutico individualizado que busca sua reinserção na sociedade, escola ou trabalho. 
Em 2011, o Programa de Volta para Casa atingiu 614 municípios com mais de 3.700 beneficiários. 
Mostra Virtual do Programa de Volta para Casa:
<http://www.ccs.saude.gov.br/VPC/index.html#nogo>
As Residências Terapêuticas
O Ministério da Saúde define as Residências Terapêuticas como moradias custeadas com recursos das 
internações psiquiátricas e implantadas pelo município para quem perdeu seus vínculos familiares. 
Esses serviços buscam uma efetiva reintegração social dos sujeitos com transtorno mental. 
As Residências Terapêuticas são casas localizadas no espaço urbano e que têm como principal 
objetivo garantir o direito à moradia das pessoas egressas de hospitais psiquiátricos (MINISTÉRIO 
DA SAÚDE, 2005). Essas residências se configuram como equipamentos de saúde, pois são peças-
chave no processo de Reforma Psiquiátrica e buscam auxiliar o morador no seu processo de 
reintegração social. Esse processo muitas vezes não é fácil e envolve muitos desafios. 
Ao possibilitar o direito à moradia, juntamente com o direito de circular livremente pela cidade, 
as Residências Terapêuticas devolvem para o sujeito sua cidadania e seu direito de se incluir à 
comunidade. Afinal, provavelmente esse sujeito passou muitos anos de isolamento. 
O trecho a seguir descreve os Serviços Residenciais Terapêuticos e foi retirado do relatório 
Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005).
Uma Residência Terapêutica deve acolher, no máximo, oito moradores. De 
forma geral, um cuidador é designado para apoiar os moradores nas tarefas, 
dilemas e conflitos cotidianos do morar, do co-habitar e do circular na cidade, 
em busca da autonomia do usuário. De fato, a inserção de um usuário em um 
Serviço de Residências Terapêuticas é o início de longo processo de reabilitação 
que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador. Cada residência 
deve estar referenciada a um Centro de Atenção Psicossocial e operar junto à 
rede de atenção à saúde mental dentro da lógica do território. Especialmente 
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
importantes nos municípios-sede de hospitais psiquiátricos, onde o processo 
de desinstitucionalização de pessoas com transtornos mentais está em curso, as 
residências são também dispositivos que podem acolher pessoas que, em algum 
momento, necessitam de outra solução de moradia.
O processo de implantação e expansão desses serviços é recente no Brasil. Nos 
últimos anos, o complexo esforço de implantação das residências e de outros 
dispositivos substitutivos ao hospital psiquiátrico vem ganhando impulso nos 
municípios, exigindo dos gestores do SUS uma permanente e produtiva articulação 
com a comunidade, a vizinhança e outros cenários e pessoas do território. De fato, é 
fundamental a condução de um processo responsável de trabalho terapêutico com 
as pessoas que estão saindo do hospital psiquiátrico, o respeito por cada caso, e ao 
ritmo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade. Dessa forma, a expansão 
desses serviços, embora permanente, tem ritmo próprio e acompanha, de forma 
geral, o processo de desativação de leitos psiquiátricos.
A expansão dos Centros de Atenção Psicossocial, o desativamento de leitos 
psiquiátricos e, em especial, a instituição, pelo Ministério da Saúde, de incentivo 
financeiro, em 2004, para a compra de equipamentos para esses serviços, são alguns 
dos componentes para a expansão dessa rede, que contava, em 2002, com apenas 
85 residências em todo o país. Essa rede deverá experimentar, ainda, nos próximos 
anos, grande expansão. Estimativas do Ministério da Saúde indicam que cerca de 
12.000 pessoas poderão se beneficiar dos Serviços Residenciais Terapêuticos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (2010), a rede de Residências Terapêuticas atendeu, 
em 2010, o total de 3.062 moradores, em 564 residências. Essa cobertura é considerada baixa pelo 
Ministério da Saúde, pois se considera que ainda não há necessária articulação entre esses serviços e a 
política habitacional do governo. Além disso, outras problemáticas incluem o fato de não haver equipes 
profissionais suficientemente qualificadas para trabalhar nas moradias e há, ainda, grande resistência por 
parte das famílias e por parte das comunidades para reintegrar pacientesegressos de longas internações. 
O Gráfico 2 mostra a expansão do serviço de Residências Terapêuticas entre 2002 e 2010. 
Gráfico 2. Expansão do serviço de Residências Terapêuticas entre 2002 e 2010 
Fonte: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/smdados.pdf>
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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
A Política de Álcool e Outras Drogas
Todas as pessoas acometidas por transtornos mentais devem ser assistidas integralmente e têm 
o direito ao cuidado. Porém, devemos prestar atenção especial a uma questão específica de saúde 
mental de índices crescentes e alarmantes. Trata-se dos problemas mentais provenientes do uso 
de álcool e outras drogas. Segundo informações do Ministério da Saúde (2004a), o uso de álcool e 
outras drogas se tornou um grave problema de saúde pública. Essa é uma problemática não apenas 
da realidade brasileira, mas de proporção mundial. Segundo o Ministério da Saúde (2004a), entre 
todas as drogas lícitas e ilícitas o consumo prejudicial de álcool é o que mais causa danos à saúde 
e é o mais grave do ponto de vista da saúde pública. Por essa grave razão, a Política Nacional de 
Saúde Mental propõe ações específicas voltadas a esse segmento específico. Assim, direcionada a 
essa população há uma política específica de prevenção, tratamento e educação. 
O Ministério da Saúde enfrenta grandes desafios para atender a essa população específica. A 
dependência das drogas é um transtorno que afeta pessoas de diferentes maneiras, por diferentes 
razões e em diferentes contextos. É muito frequente o abandono do tratamento por parte do 
usuário por não desejar ou não suportar o período necessário de abstinência. Além disso, muitos 
consumidores de drogas nem chegam a procurar os serviços de saúde mental. Consequentemente, a 
adesão ao tratamento e às práticas preventivas é considerada baixa. Um grande desafio a se considerar 
é o aparecimento de novas substâncias de abuso e novas formas de consumo que requerem novas 
estratégias de prevenção e adaptações do tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004a). Outra 
questão preocupante é a tendência mundial do uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, 
incluindo o álcool (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004a). 
Segundo o Ministério da Saúde (2004, p.24),
[...] os CAPS I, II e III destinam-se a pacientes com transtornos mentais 
severos e persistentes, nos quais o uso de álcool e outras drogas é secundário à 
condição clínica de transtorno mental. Para pacientes, cujo principal problema 
é o uso prejudicial de álcool e outras drogas, passam a existir, a partir de 2002, 
os CAPSad. 
Assim, os CAPSad têm o objetivo de oferecer atendimento diário a pacientes que fazem uso 
prejudicial de álcool e outras drogas. Assim como todos os outros CAPS, aqueles mantêm a mesma 
proposta de permitir um planejamento terapêutico individualizado, de se basear em serviços 
comunitários e de valorizar a inserção social do sujeito. Entre as intervenções presentes nos CAPSad 
estão: atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico e de orientação), atendimentos em 
grupo, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, desintoxicação ambulatorial, encaminhamento 
para leitos psiquiátricos em hospitais quando necessário. 
Os CAPSad também se propõem a atuar de modo preventivo. Essa atuação se dá mediante um 
processo de planejamento, implantação e implementação de variadas estratégias para a redução de 
risco do uso de álcool e outras drogas. As estratégias de prevenção devem considerar os seguintes 
elementos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004):
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
 » Fornecimento de informações à comunidade sobre os danos do álcool e outras 
drogas.
 » Alternativas para lazer e atividades livres de drogas.
 » Facilitação de problemas pessoais e acesso ao suporte para tais problemas.
 » Fortalecimento de vínculos afetivos, estreitamento de laços sociais.
 » Melhora da autoestima.
No que se refere às diretrizes para uma Política Nacional de Redução dos Danos à 
Saúde Causados pelas Bebidas Alcoólicas, o Ministério da Saúde (2004a) elaborou o 
seguinte documento:
Diretrizes para uma política nacional, integral 
e intersetorial de redução dos danos à saúde 
e ao bem-estar causados pelas bebidas 
alcoólicas
I – Introdução
1. O consumo de bebidas alcoólicas, bem como de outros tipos de drogas, sejam 
elas lícitas ou ilícitas, faz parte da cultura humana desde as épocas mais remotas. Do 
ponto de vista da saúde pública, o que importa é desenvolver ações intersetoriais 
que sejam eficazes no sentido de reduzir os danos à saúde causados pelo consumo 
prejudicial do álcool e outras drogas, incluídos os psicofármacos.
2. Entre todas as drogas lícitas e ilícitas, o consumo prejudicial de bebidas alcoólicas 
é aquele que mais danos produz à saúde e ao bem-estar, sendo o mais grave do 
ponto de vista da saúde pública.
3. Entende-se como uso prejudicial de bebidas alcoólicas o consumo que pode 
acarretar danos à saúde e ao bem-estar da pessoa e dos ambientes sociais. O uso 
prejudicial guarda relação diretamente proporcional com os padrões de consumo 
(quantidade, tipo, qualidade, forma e hábito de uso). Deve ser ressaltado que 
problemas associados ao uso de álcool podem ocorrem também com o uso eventual 
ou fortuito.
4. Os danos à saúde e ao bem-estar causados pelo consumo prejudicial de bebidas 
alcoólicas incluem: a) agravos à saúde física; b) agravos à saúde mental; c) problemas 
no relacionamento familiar, interpessoal e social; d) problemas relacionados ao 
trabalho (desempenho, absenteísmo, acidentes, relações interpessoais); e) acidentes 
de trânsito; f ) acidentes domésticos e outros acidentes; g) situações de violência 
doméstica e outras em que o álcool pode atuar como desencadeante ou facilitador; 
h) situações de conflito com a lei.
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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
5. Uma política integral e intersetorial de redução dos danos causados pelo álcool 
deve contemplar a atenção integral à saúde e à vida, buscando atenuar, minimizar 
e/ou eliminar todos os danos mencionados.6. Essa política deve envolver governo e 
sociedade, em todos os seus segmentos: área cultural e educacional, área sanitária, 
meios de comunicação, setor produtivo, comércio & serviços, organizações não 
governamentais etc.
7. Deve, ainda, utilizar a lógica ampliada de redução de danos como referencial para 
as ações políticas, educativas, terapêuticas e preventivas, em todos os níveis.
II – Pressupostos éticos da política
8. Todos os consumidores têm direito a informações sobre os efeitos do uso 
prejudicial de álcool e sobre a possibilidade de modificação dos padrões de consumo, 
e a orientações voltadas para o uso responsável, no sentido da responsabilização e 
autonomia da pessoa.
9. É obrigação do governo e da sociedade proteger os segmentos mais vulneráveis 
do consumo prejudicial e do desenvolvimento de hábito e dependência, como as 
crianças e adolescentes.
10. Da mesma forma, é obrigação do governo e da sociedade adotar medidas, 
discutidas democraticamente, que atenuem e previnam os danos do álcool em 
situações específicas, como transportes, ambientes de trabalho, eventos de massa, e 
em contextos de maior vulnerabilidade.
III – Conceito de bebida alcoólica
11. Para os efeitos dessa política, é considerada bebida alcoólica toda bebida que 
contiver 0.5 grau Gay-Lussac ou mais de concentração, incluindo-se aí bebidas 
destiladas, fermentadas e outras preparações, como a mistura de refrigerantes 
e destilados, além de preparações farmacêuticas que contenham teor alcoólico 
significativo.
IV – Alertas sobre os malefícios do álcool
12. O consumidor deve ser alertado sobre os danos potenciais associados ao 
consumo de bebidas alcoólicas, bem como sobre os danos diretos à saúde.
13. Recursos educacionais e de comunicação social devem ser utilizados em 
benefício da melhor informação e conhecimento sobre os danos associados, e ainda 
sobre os limites do uso que não é prejudicialà saúde.
V – Da política de atenção à saúde para usuários de álcool
14. Deve sem implementada uma política integral, intersetorial e inclusiva de atenção 
aos usuários e dependentes de bebidas alcoólicas, com ações na rede básica de 
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
saúde, e atendimento na rede hospitalar não psiquiátrica, quando necessário, além 
de programas de suporte e reintegração social.
VI – Do controle da propaganda
15. A propaganda de bebidas alcoólicas deve ser controlada, de modo a proteger 
segmentos vulneráveis, como crianças e adolescentes, e proteger o consumidor 
de associações indevidas entre o efeito decorrente do consumo de bebidas e 
estereótipos de sucesso e inserção social que não correspondam à realidade desses 
usuários.16. A restrição e o controle devem levar em conta o meio de veiculação da 
propaganda, sendo diferenciadas para os diversos meios, como rádio, TV, imprensa 
escrita, cartazes, folhetos, mídia eletrônica etc.
17. O patrocínio de eventos esportivos como meio de propaganda também deve ser 
objeto de restrição e controle, tendo em vista a proteção de crianças e adolescentes 
e da sociedade em geral. A associação entre álcool e eventos esportivos deve ser 
vista como um problema a ser equacionado.
VII – Do controle da venda, distribuição e locais de consumo
18. A venda e consumo devem ser restritos, especialmente em lugares de grande 
concentração de pessoas, veículos de transporte coletivo, proximidade de estradas, 
postos de gasolina, escolas, hospitais etc.
19. Devem ser induzidas posturas municipais e outras medidas que restrinjam 
espacial e temporalmente os pontos de venda e consumo de bebidas alcoólicas.
20. Ações preventivas de restrição da venda e consumo devem ser realizadas em 
contextos de maior vulnerabilidade a situações de violência e danos sociais. A venda 
para menores de 18 anos deve ser objeto de fiscalização rigorosa.
VIII – Política fiscal
21. Devem ser discutidas as linhas gerais de uma política fiscal que desestimule o 
consumo de bebidas alcoólicas.
IX – Das iniciativas de promoção da saúde e prevenção primária
22. A prevenção é essencial para a saúde pública; devem ser estimuladas, em todo o 
País, práticas educativas, relativas ao uso de álcool e outras drogas, que estimulem 
a percepção, a reflexão e a articulação das pessoas frente à temática em questão, de 
forma pragmática e responsável.
23. Todos os ministérios do governo devem estar implicados intersetorialmente 
nas iniciativas de educação, promoção de saúde e de hábitos saudáveis, reforço da 
mudança de padrões de consumo, ênfase na responsabilização e autocuidado.
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UNIDADE ÚNICA │ SAÚDE MENTAL DO ADULTO
24. As escolas, sejam de natureza pública ou privada, devem ser local privilegiado 
para iniciativas de prevenção do consumo de bebidas alcoólicas.
X – Prevenção e tratamento nos ambientes de trabalho
25. Governo, sociedade, empregadores e empregados devem ser chamados a 
desenvolver e participar de políticas integrais de prevenção e tratamento dos danos 
à saúde e ao bem-estar causados pelo consumo de bebidas alcoólicas, respeitados 
os direitos individuais, a privacidade e a cidadania dos trabalhadores.
26. Os ambientes de trabalho devem ser vistos como locais privilegiados para 
iniciativas de prevenção do uso prejudicial de bebidas alcoólicas.
(Fonte: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/politica_de_ad.pdf>)
A população em situação de rua
Além da grave problemática do uso de álcool, outro sério problema na área de saúde mental é o 
consumo de drogas por parte da população de rua. Esse cenário possui muita gravidade porque essa 
população acaba por não ter acesso aos serviços de rede de saúde, pois não procuram ajuda. Segundo 
o Ministério da Saúde (2010a, p.4), “há uma distância histórica entre os serviços da rede de saúde 
e a população usuária de drogas em situação de rua, que levanta, há muito tempo, a necessidade 
de articular intervenções biopsicossociais efetivas, urgentes e integradas in loco.” Isso significa que 
há a necessidade urgente de a Política Nacional de Saúde Mental atuar no contexto de rua de modo 
efetivo e alcançar essa população. 
Uma ação estratégica do Ministério da Saúde para acessar essa população é o Consultório de Rua 
(CR). Trata-se de um dispositivo público da rede de saúde mental que visa atuar no contexto de 
rua ao ofertar ações de promoção, prevenção e cuidados primários. Segundo o Ministério da Saúde 
(2010a), a característica mais importante do Consultório de Rua é o de oferecer cuidado no próprio 
espaço da rua, preservando o contexto social dessa população específica. 
Os Consultórios de Rua do SUS são uma modalidade de atendimento dirigido aos usuários de drogas 
que vivem em altas condições de vulnerabilidade social. São dispositivos clínicos comunitários 
e se adaptam ao contexto de rua (Ministério da Saúde, 2010a). Seu objetivo é o de promover a 
acessibilidade dos serviços de saúde mental às populações em situação de exclusão social. Levando 
esse serviço até essas populações, o governo lhes possibilita o exercício de direitos e da cidadania. 
O Consultório de Rua conta com uma equipe com profissionais de saúde mental, tal como médico, 
psicólogo, técnicos de enfermagem e educadores sociais. O Consultório atua em um carro como 
‘Van’, de tal modo que facilita a locomoção dessa equipe no contexto social de rua. O carro e sua 
equipe têm o objetivo de servir como referência para os usuários, com o propósito de estabelecimento 
de vínculo e acolhimento, assim como proposta no CAPS. Porém, ao contrário do CAPS, em que 
o usuário é quem busca o serviço, no Consultório de Rua a equipe tem papel fundamental de se 
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SAÚDE MENTAL DO ADULTO │ UNIDADE ÚNICA
fazer conhecer no ambiente da rua, explicitar o propósito de sua presença e construir um setting 
terapêutico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010a). 
O texto a seguir foi extraído do relatório Consultório de Rua do SUS (2010) e descreve as principais 
diretrizes dessa prática:
Diretrizes dos Consultórios de Rua
 » Constituir-se como dispositivos públicos componentes da rede de 
atenção integral em álcool e outras drogas, que ofereçam ações de 
promoção, prevenção e cuidados primários no espaço da rua a usuários 
com problemas decorrentes do uso de substâncias psicoativas.
 » Priorizar o direito ao tratamento de qualidade a todo usuário de álcool 
e outras drogas, ofertado pela rede de serviços públicos de saúde, 
assegurando o acesso a ações e serviços compatíveis com as demandas 
dos usuários.
 » Promover ações que enfrentem as diversas formas de vulnerabilidade e 
risco.
 » Ter como eixo político o respeito às diferenças, a promoção de direitos 
humanos e da inclusão social, o enfrentamento do estigma.
 » Atuar a partir do reconhecimento dos determinantes sociais de 
vulnerabilidade, risco e dos padrões de consumo, levando em 
consideração a estreita relação entre a dinâmica social e os processos de 
adoecimento.
 » Assegurar o cuidado no território, na perspectiva da integralidade, do 
trabalho em redes, garantido uma atenção diversificada aos usuários de 
álcool e de outras drogas.
 » Priorizar as ações dirigidas às crianças e adolescentes em situações de 
vulnerabilidade, haja vista a iniciação cada vez mais precoce do consumo 
de substâncias psicoativas e as graves repercussões do seu uso no 
desenvolvimento psicossocial dos jovens.
 » Considerar a rede social de relacionamento da população-alvo como 
fatores de agravamento ou redução das condições de vulnerabilidade, 
isto é, levar em conta fatores de risco e de proteção, em cada contexto.
 » Incentivar o trabalho de natureza interdisciplinar e enfoque intersetorial, 
considerando a complexidade que envolve os contextos de vida da 
população que vive em situação de rua e a necessidade de ações de 
atenção integral aos usuários de psicoativos com tais características.
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 » Manter articulação permanente da rede de saúde e intersetorial,

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