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GRUPO SER EDUCACIONAL SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR - SESPI FACULDADE UNINASSAU – UNIDADE PARNAÍBA CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS PARNAÍBA-PI 2020 MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS Trabalho de conclusão de curso de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU Parnaíba, como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Engenharia Civil. Orientador: Prof.º: Brehno Narciso de Castro Oliveira PARNAÍBA-PI 2020 MARLON ANDERSON SILVA DE ALBUQUERQUE ROMPIMENTO HIPOTÉTICO E DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE INUNDAÇÃO DA BARRAGEM CALDEIRÃO NO MUNICÍPIO DE PIRIPIRI/PI UTILIZANDO HEC-RAS Trabalho de conclusão de curso de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Faculdade Maurício de Nassau - UNINASSAU Parnaíba, como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Engenharia. Orientador: Prof.º: Brehno Narciso de Castro Oliveira APROVADA EM: _____/______/______ BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________ BREHNO NARCISO DE CASTRO OLIVEIRA ___________________________________________________________________ JOSE ROBERTO DA CUNHA LIMA ___________________________________________________________________ LEANDRO ARAUJO CAVALCANTE PARNAÍBA-PI 2020 Dedico esta monografia à minha mãe, Antonia Maria, meu avô Herminio Nonato (em memória) e a minha filha Maria Valentina. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus por ter me permitido chegar até aqui e mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas ao longo desta trajetória, ter sido minha força e esperança para nunca desistir. Agradeço, a todos os professores que compartilharam saberes durante esta caminhada acadêmica. Durante minha vida passaram diversos profissionais de vários níveis de escolaridade que sem dúvida foram base para a humildade e o respeito na vida profissional, para que possamos sempre lembrar da linha de frente das obras, que são os trabalhadores, pedreiros, serventes, auxiliares, topógrafos, enfim, a todos os trabalhadores que sempre serão os moldes de toda a construção. “Eu sempre me preparo para o fracasso e acabo surpreendido pelo sucesso”. Steven Spielberg RESUMO As barragens representam soluções hidrográficas empregadas há muitos anos, por civilizações antigas como: Babilônia, Índia, Egito e Pérsia, que já as utilizava como recurso para armazenamento de água, sustento de fazendas e localidades urbanas em períodos de estiagem. No mundo todo as estruturas de engenharia podem estar sujeitas a falhas, situação não obstante às barragens. Muitos acidentes ratificam o risco potencial associado às estruturas de barramento. A incidência de rompimentos evoca a necessidade de discussões sobre o perigo potencial destas construções devido ao volume e as características do material armazenado. A ruptura acarreta prejuízos ambientais e materiais, danos ao patrimônio público e privado, além da perda da vida humana, principal dano causado por estes rompimentos. Diversas ferramentas são utilizadas atualmente para investigação das possíveis rupturas dessas estruturas, possibilitando o estudo e desenvolvimento de planos de prevenção eficazes. Desse modo, o estudo de Dam-Break com auxílio de softwares visa analisar e dirimir os impactos causados pelo rompimento de maciços e a avaliação dos riscos que esta pode causar a vidas humanas e à economia de uma região. A presente pesquisa apresenta como objetivo principal – gerar simulações hidrodinâmicas computacionais de rompimento hipotético do maciço da Barragem de Caldeirão, no município de Piripiri-PI, e com os resultados obtidos, determinar os hidrogramas de vazão a jusante da Barragem, mapa de inundação e analisar o possível impacto causado nas imediações da barragem, bem como o resgate de toda população ribeirinha. A Metodologia empregada para a realização deste estudo, caracteriza-se pela análise geométrica digital da superfície do canal e de todo o vale a jusante do maciço, bem como a previsão do hidrograma de rompimento usando fórmulas empíricas para obtenção destes diagramas e as vazões de pico (Qp). A utilização do software hec-ras, para a presente analise mostrou-se eficiente para esse tipo de simulação, mostrando de forma eficaz o panorama de risco para o caso de um rompimento da barragem em estudo. PALAVRAS CHAVE: Barragens. HEC-RAS. Inundação. Rompimento. ABSTRACT Dams represent hydrographic solutions used for many years by ancient civilizations such as Babylon, India, Egypt, and Persia, which already used them to store water, supporting farms and urban locations during periods of drought. All over the world, engineering structures can be subject to failure, a situation despite dams. Many accidents confirm the potential risk associated with bus structures. The incidence of ruptures evokes the need for discussions about the potential danger of these constructions due to the stored material's volume and characteristics. The rupture causes environmental and material damage, damage to public and private property, in addition to the loss of human life, the main damage caused by these disruptions. Several tools are currently used to investigate possible disruptions in these structures, enabling the study and development of effective prevention plans. Thus, the study of Dam-Break with the aid of software aims to analyze and resolve the impacts of the rupture of massifs and assess the risks that this can cause to human lives and the economy of a region. This study aims to generate hydrodynamic computational simulations of hypothetical rupture of the Caldeirão dam massif in the municipality of Piripiri-PI. The results obtained determine the flow hydrographs downstream of the dam, flood map, and analyze the possible impact caused in the vicinity of the dam and the rescue of the entire riverside population. The methodology used to carry out this study is characterized by the digital geometric analysis of the channel surface and the whole valley downstream of the massif and the prediction of the rupture hydrograph using empirical formulas to obtain these diagrams peak flows (Qp). The use of the HEC-RAS software for the present analysis proved efficient for this type of simulation, effectively showing the risk scenario for a dam failure under study. Keywords: Dams. HEC-RAS. Inundation. Disruption. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Tipos de barragens de acordo com o material empregado........................18 Figura 2: Barragem Caldeirão.................................................................................27 Figura 3: CURVAS COTA x ÁREA x VOLUME – Barragem Caldeirão...............29 Figura 4: Cheia Máxima..........................................................................................30 Figura 5: Imagem do site do INPE na escolha do satélite e coleta de imagens.........31 Figura 6: Imagem satélite geral com área de interesse que será gerada a MDT........32Figura 7: Imagens de satélite com bandas espectrais distintas.................................32 Figura 8: Processamento de conversão da imagem..................................................33 Figura 9: Resultado da imagem processada.......................................................... 34 Figura 10: Equações empíricas para dimensões de brecha e vazão de pico..............34 Figura 11: Resultados obtidos por Ferreira e Andrzejewski (2015) através de equações empíricas.................................................................................................35 Figura 12: Número de barragens de acordo com os estados do nordeste, sua Categoria de Risco (CR) e Dano Potencial Associado (DPA).................................37 Figura 13: Comprimento do rio adotado para cálculos ...........................................43 Figura 14: Tempo de abertura das brechas...............................................................44 Figura 15: Hidrogramas de Vazão...........................................................................45 Figura 16: Hidrograma da Barragem de Caldeirão..................................................45 Figura 17: Onda de Inundação.................................................................................46 Figura 18: Onda de cheia máxima...........................................................................47 Figura 19: Mancha de inundação referente ao rompimento da barragem................47 Figura 20: Áreas com potencial destrutivo..............................................................48 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Estudos de caso que utilizaram o Software HEC-RAS para análise do possível rompimento de barragens..........................................................................38 Quadro 2 - Dados de entrada da Barragem Caldeirão..............................................40 Quadro 3 – Volume do reservatório em função das equações empíricas.................................................................................................................41 Quadro 4 – Vazão de Pico pelas Equações Empíricas.............................................42 Quadro 5 - VAZÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO - Q(t) m3/s.................................43 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Quatro maiores desastres envolvendo barragens entre 1959 e 1979.......18 Tabela 2 – Possibilidade de falha dos diferentes tipos de barragens........................20 Tabela 3 – Principais estudos pesquisados que analisaram o rompimento hipotético de uma barragem.....................................................................................................24 Tabela 4: Características hidrológicas da Barragem Caldeirão...............................30 LISTA DE SIGLAS/ABREVIATURAS ANA Agência Nacional de Águas CBDB Comitê Brasileiro de Barragens CNRG Conselho Nacional de Recursos Hídricos CR Categoria de Risco DPA Dano Potencial Associado PAE Plano de Ação Emergencial PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens USACE U.S Army Corps of Engineers MDT Modelo Digital do Terreno SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 11 2. OBJETIVOS ................................................................................................................................... 14 2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................................... 14 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 14 3. APORTE TEÓRICO ..................................................................................................................... 15 3.1 Barragens no Brasil e implicações legais.................................................................................... 15 3.2 Tipos de barragens ..................................................................................................................... 17 3.3 Segurança das Barragens ............................................................................................................ 19 3.4 Medidas de prevenção para rompimento de barragens ............................................................... 20 3.5 Simulação de rompimento com HEC-RAS ................................................................................ 21 3.6 Artigos analisados para composição do Referencial Teórico...................................................... 23 4. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 26 4.1 Tipo de estudo ............................................................................................................................ 26 4.2 Objeto de Estudo ........................................................................................................................ 27 4.3 Área de Estudo - Descrição da Barragem Caldeirão no município de Piripiri-PI ....................... 27 4.4 Georreferenciamento das imagens .............................................................................................. 30 4.5 Procedimentos para coleta de dados ........................................................................................... 33 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................................... 37 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 49 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 51 11 1. INTRODUÇÃO As barragens configuram-se como grandes estruturas, usadas há mais de 6.000 anos para diversas finalidades, pelo setor da construção civil. A principal função de uma barragem é o armazenamento de água para consumo humano. O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) define-as como obstáculos que possuem alta capacidade para reter qualquer líquido, rejeitos ou detritos, para fins de armazenamento ou controle, podendo variar de tamanho, sendo geralmente usadas para fornecimento de água, geração de energia hidroelétrica, para controle de cheias, para a irrigação, regularização de vazões, contenção de rejeitos, geração de energia elétrica, turismo e psicultura. As barragens representam soluções hidrográficas empregadas há muitos anos, por civilizações antigas como: Babilônia, Índia, Egito e Pérsia, que já as utilizava como recurso para armazenamento de água, sustento de fazendas e localidades urbanas em períodos de estiagem. A primeira barragem registrada no mundo, data de 4800 a.C., no Egito, e no Brasil a primeira barragem foi construída no século XVI em Recife. O grande marco histórico, propulsor que impulsionou a construção dos primeiros barramentos brasileiros, deve-se a seca devastadora que assolou a região Nordeste do país, no ano de 1877, causada por fenômenos naturais. Atrelada a este fatídico episódio, no final da década de 90, o Brasil, enfrentou uma grande crise no sistema energético, que culminou na criação de parcerias público-privadas para a construção de centrais hidrelétricas, que tinham como propósito solucionar a busca energética, e acompanhar o desenvolvimento e o crescimento econômico do país (PEREIRA, et al., 2017). As barragens representam atualmente obras hidráulicas fundamentais para a melhoria da qualidade de vida da população, uma vez que representam uma fonte de água para consumo, contribuempara o controle das cheias, são utilizadas na produção de energia e ainda para as atividades industriais. Contudo estas obras necessitam de atenção e monitoramento constante, pois estão sujeitas a rupturas ocasionadas por circunstâncias naturais, como: fenômenos meteorológicos, terremotos, erosão interna, galagamento e deslizamento de encostas, e por questões artificiais como: falha humana na operação dos equipamentos de operação e segurança, degradação da estrutura ligada a fatores construtivos e/ou ausência de manutenção, e ainda erros de projeto (LOPES JUNIOR, 2020). No mundo todo as estruturas de engenharia podem estar sujeitas a falhas, situação não obstante às barragens. Muitos acidentes ratificam o risco potencial associado às estruturas de barramento, como por exemplo, os rompimentos que aconteceram em: Malpasset (1959), na 12 França, Vaiont (1963), na Itália, Teton (1976), nos Estados Unidos e Macchu II (1979), na Índia, que somaram mais de 4.000 mil mortes (KÜHLAMP et a., 2016). Analisando o rompimento de barragens que ocorreram no Brasil, destaca-se o rompimento ocorrido na barragem de Algodões, localizada no rio Pirangi, no município de Cocal-PI, construída em 2001, que apresenta características semelhantes à barragem de Caldeirão, objeto de estudo da presente pesquisa. O rompimento da barragem de Algodões ocorreu em 2007, no dia 27 de maio, deixando 80 feridos, 11 mortos e atingindo uma área total de 50 km², ocasionada pela onda de cheia. A incidência de rompimentos evoca a necessidade de discussões sobre o perigo potencial destas construções devido ao volume e as características do material armazenado. A ruptura acarreta prejuízos ambientais e materiais, danos ao patrimônio público e privado, além da perda da vida humana, principal dano causado por estes rompimentos. Objetivando minimizar as chances de falha e rompimento, especificações cada vez mais restritivas vem sendo aprovadas por meio de legislações, em todo o mundo. Diversas ferramentas são utilizadas atualmente para investigação das possíveis rupturas dessas estruturas, possibilitando o estudo e desenvolvimento de planos de prevenção eficazes. Desse modo, o estudo de Dam-Break com auxílio de softwares visa analisar e dirimir os impactos causados pelo rompimento de maciços e a avaliação dos riscos que esta pode causar a vidas humanas e à economia de uma região. Estabelecendo parâmetros mínimos de segurança para essas estruturas. O estudo de Dam-Break visa mitigar os impactos causados pelo rompimento dessas estruturas e poder avaliar os riscos que ela causa a vidas humanas e à economia de uma região. É necessário que sejam estabelecidos parâmetros mínimos de segurança para essas estruturas. Com a grande quantidade de alertas feitos nos últimos anos, foi escolhida com base na sua grande importância, tanto em questões humanas e econômicas, além do fator risco a barragem de Caldeirão, localizada no município de Piripiri-PI, cujo uma possível tragédia desse porte, afetaria enormemente a todos da região. A Lei federal, nº 12.334, promulgada no Brasil em setembro de 2010, estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens – PNSB, que estabelece o desenvolvimento e a aplicação de um sistema que tem como objetivo a classificação das barragens, de acordo com o seu dano potencial. Em continuidade as ações para maior fiscalização e controle da execução de barragens, em dezembro de 2015, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, publicou nova resolução normativa, sobre segurança das barragens voltadas para a geração de energia elétrica. 13 A PNSB determina para as barragens classificadas como – dano potencial associado alto, que seus empreendedores realizem uma análise das consequências adversas, tendo em vista a possibilidade de ruptura, ou falha operacional da barragem, através da modelação de cheias induzidas e do mapeamento das zonas de risco a jusante. Desta forma a presente pesquisa apresenta como objetivo principal – gerar simulações hidrodinâmicas computacionais de rompimento hipotético do maciço da Barragem de Caldeirão, no município de Piripiri-PI, e com os resultados obtidos, determinar os hidrogramas de vazão a jusante da Barragem, mapa de inundação e analisar o possível impacto causado nas imediações da barragem, bem como o resgate de toda população ribeirinha. O desenvolvimento deste estudo norteia-se através da investigação da influência e incidência das chuvas sobre o maciço da barragem, tendo em vista as consequências que esta pode causar; da identificação dos parâmetros influenciadores para a formação da brecha de ruptura, tendo em vista as simulações e dados objetivos pelos hidrogramas de vazão a jusante, e ainda da modelagem do nível de risco e comprometimento das populações ribeirinhas a jusante do maciço, bem como mediante análise e proposição de soluções que possam mitigar os impactos causados em decorrência de um possível rompimento. A Metodologia empregada para a realização deste estudo, caracteriza-se pela análise geométrica digital da superfície do canal e de todo o vale a jusante do maciço, bem como a previsão do hidrograma de rompimento usando fórmulas empíricas para obtenção destes diagramas e as vazões de pico (Qp). A vazão de pico, assim como as vazões para cada intervalo de tempo foram calculadas, o que resultou no hidrograma de rompimento. Para uma melhor análise dos dados encontrados foram realizadas várias comparações entre diferentes vazões de pico, gerando diversos hidrogramas. A metodologia proposta para se chegar no hidrograma usado na simulação, baseou-se no ajuste da vazão de pico Qp, para que a área do hidrograma ficasse igual ao volume do reservatório, admitindo um tempo de pico (Tp) pre- estabelecido e determinado a remoção instantânea do barramento. 14 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL A presente pesquisa tem por objetivo geral simular computacionalmente o rompimento hipotético da barragem de Caldeirão no município de Piripiri-PI. 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Definir o hidrograma de cheia, baseado nos autores pesquisados e nos dados da barragem de Caldeirão, objeto de estudo da presente pesquisa; Simular o avanço da onda de cheia hipotética da ruptura da barragem, com a utilização de programas computacionais; Verificar a área de inundação gerada; Analisar o impacto causado nas imediações do canal à jusante da barragem, e através de resultados gráficos como hidrogramas de vazão a jusante da barragem e mapa de inundação; Investigar a influência que as equações empíricas de parâmetros definidores da formação de brechas sobre o hidrograma de vazão imediatamente a jusante da barragem; Identificar o nível de risco que o rompimento da barragem causa às vidas humanas e edificações próximas ao canal a jusante da barragem. 15 3. APORTE TEÓRICO 3.1 Barragens no Brasil e implicações legais A humanidade ao longo da história tem encontrado nas barragens inúmeros benefícios que possibilitaram o desenvolvimento econômico e agrícola de vários países. As barragens apresentam inúmeras finalidades, desde a geração de energia elétrica, armazenamento de rejeitos minerais e industriais, bem como o controle de cheias, abastecimento de água, irrigação, entre outros aspectos, que variam mediante o objetivo a qual se destinam (ROCHA, 2015). Encontram-se evidências históricas de que as barragens juntamente com seus reservatórios, correspondem a uma das construções mais antigas elaboradas pelo homem. Babilônia, Egito, Pérsia e Índia, por exemplo, já utilizavam essa estrutura para armazenar água, para o consumo e irrigação durante os prolongados períodos de seca (JANSEN, 1983 apud KÜHLAMP et al., 2016). No Brasil a construção de barragens teve início em 1877, apósuma seca catastrófica enfrentada na região Nordeste do país (CDBD, 1982). Barragem, de acordo com a Legislação Brasileira é definida como “qualquer estrutura em um curso permanente ou temporário de água para fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas associadas” (BRASIL, 2010). A primeira barragem de que se tem registros construída no Brasil, localiza-se na cidade de Recife (PE), atualmente conhecida como Açude Apipucos, datada no século XVI, devido à sua impressão em um mapa de 1577 (CBDB, 2011 apud KÜHLAMP et al., 2016). O Brasil, no final da década de 90 (noventa), em decorrência de uma crise enfrentada pelo setor energético acompanhou a construção de várias centrais hidroelétricas, oriundas de parcerias provenientes de empresas públicas e privadas, que contribuíram para o surgimento de um conjunto importante de barragens. O aumento exponencial dessas construções viabilizara estudos no tocante ao impacto natural que as barragens causam ao meio ambiente, tendo em vista a sustentabilidade desses empreendimentos, além de viabilizarem uma análise quanto aos potenciais danos provenientes da ruptura das mesmas (PEREIRA et al., 2017). Historicamente falhas nas estruturas de barragens culminaram em catástrofes que afetaram a população, propriedades, bens e materiais, devido ao, conforme explica Neto (2016) apud Santos (2019, p. 300) “aumento significativo da vazão, velocidade e profundidade do escoamento ao longo da planície de inundação”. No Brasil, para evitar problemas estruturais nas barragens e garantir a segurança desses 16 empreendimentos, em 20 de setembro de 2010, instituiu-se a Lei 12.334 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), dando surgimento ao Plano de Ação Emergencial (PAE), que deve ser elaborado obrigatoriamente para todas as barragens que possuem um índice elevado de Dano Potencial Associado (DPA) (BRASIL, 2010). As barragens contempladas pela Lei nº 12.334, devem apresentar uma das características descritas a seguir: a) reservatório com capacidade maior ou igual a 3.000.000 m³; b) maciço com altura maior ou igual a 15 m, devendo este ser medido da crista ao ponto mais baixo da fundação; c) armazenamento de resíduos perigosos; d) DPA de categoria médio ou alto, analisando o risco potencial de perda de vidas humanas, tendo em vista fatores ambientais, econômicos e sociais (BRASIL, 2010). A PNSB estabelece um sistema de classificação de barragens destinadas à disposição de rejeitos, acumulação de resíduos industriais e acumulação de água, sendo estes posteriormente detalhados, através do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), observando “as categorias de risco, dano potencial associado e volume do reservatório” (PEREIRA et al., 2017, p. 76), definidos na Resolução nº 143, promulgada em 10 de julho de 2012 (CNRH, 2012). O presente documento quando classifica uma barragem com alto potencial de dano, “força os empreendedores a avaliar as consequências adversas no caso de ruptura da barragem, aspecto que obriga à modelação de cheias induzidas e ao mapeamento das zonas de risco a jusante” (PEREIRA et al., 2017, p. 76). A elaboração do Plano de Ação Emergencial (PAE) é realizada mediante modelagem hidrodinâmica da onda de cheia, obtida através do cálculo do rompimento hipotético da barragem em estudo e posterior delimitação das áreas no entorno do vale que poderão ser inundadas, situadas à jusante da barragem (ANA, 2016). A compilação de informações e a regulamentação de ações que contribuam para o gerenciamento da segurança das barragens construídas pelos governos, conforme determinação da PNSB, atribui ao órgão fiscalizador a responsabilidade de exigir do empreendedor o cumprimento das recomendações e protocolos de segurança, de informar a ANA toda e qualquer inconformidade inerente ao risco à segurança do empreendimento, e ainda, de preencher e manter atualizado o cadastro das barragens, conforme a situação atual. A execução do Plano de Ação Emergencial (PAE) baseia-se no levantamento das regiões que foram afetadas pelas ondas de inundação em função do intervalo de tempo entre a hora de rompimento da barragem e a chegada da onda nas regiões afetadas. Deste modo o objetivo do PAE concentra-se em elencar uma série de estratégias que minimizem os riscos à 17 vida, bem como possa dirimir o impacto ao patrimônio (KUHLAMP et al., 2016). 3.2 Tipos de barragens Existem diversos tipos de barragens, que se distinguem conforme o material empregado na sua construção e a finalidade para o qual foi projetada. Os tipos mais usuais no Brasil são barragem de terra, de enrocamento com face de concreto, barragem de concreto, gravidade aliviada, arco contraforte. Nessa perspectiva, as barragens de terra representam cerca de 75% das barragens em todo o mundo, devido principalmente o seu baixo custo, já que os materiais necessários para a sua construção são aqueles disponibilizados na natureza. Ademais, podem ser utilizados diversos tipos de fundação para a sua construção o que confere versatilidade no projeto de execução desse tipo de obra (DE MELO, 2014). As barragens de enrocamento com face de concreto, por usa vez, caracterizam-se por enrocamento e placas de concreto sobre o talude de montante. Entre as vantagens da construção desse tipo de barragem está a rapidez na execução independendo do clima, proporciona menores volumes de material e maior altura do maciço. Em relação as barragens de concreto, esta é documentada desde 1887 com a execução da barragem de San Mateo nos Estados Unidos. Esse tipo de maciço é composto principalmente por concreto simples, convencional ou compactado, ou ainda, concreto armado. No mundo houve um crescente aumento no número de barragens desse tipo entre os anos de 1996 e 2002 com 251 construídas e mais 34 em execução em 35 países (WENDLER, 2010). E como alternativa a barragem de gravidade maciça está a barragem de gravidade aliviada, com vantagens quanto economia no volume e diminuição das áreas sobre as quais pode agir a subpressão e a pressão intersticial. Além dessas as barragens de arco também demonstram ser excelentes alternativas, tendo em vista que fazem uso de menor quantidades de concreto em comparação com as demais, sendo permitido fundações com baixa qualidade já que a menor parte da carga é efetivamente transferida a fundação. Por último as barragens de contraforte, estas já não são muito utilizadas no Brasil em razão dos tipos de gravidade aliviados (GOUVEIA, 2020). 18 Figura 1: Tipos de barragens de acordo com o material empregado. Fonte: HICKMANN, 2016. Apesar da diversidade de barragens no nosso país, inúmeros são os problemas que estas podem acarretar, seja para o meio social, ambiental e até mesmo econômico. Apresentando riscos de ruptura, podendo estes ocorrer de forma súbita ou gradual. As barragens de concreto, por exemplo, podem apresentar rupturas por deslizamento ou galgamento, ocasionadas por uma falha súbita, ou instantânea, que ocorre em um pequeno intervalo de tempo, provocando a remoção de uma grande porção do maciço da barragem. Existe também a falha gradual, mais comum em barragens de terra, onde o rompimento acontece de forma mais lenta, como sugere a própria nomenclatura deste tipo de ruptura, podendo demorar algumas horas para que a brecha alcance o estágio final de abertura (VISHER, 1997 apud KUHLAMP et al., 2016). Portanto, é necessário o desenvolvimento de planos que possam superar os problemas que esses maciços possam ocasionar, seja no momento da execução, ou mesmo para prevenção de catástrofes. Desta forma torna-se necessário calcular e analisar essas prováveis situações de rompimento, apresentando hidrogramas com a variação da vazão eda cota com o tempo e, ainda o mapa de inundação causado pelo seu rompimento. 19 3.3 Segurança das Barragens As estruturas de engenharia estão sujeitas a falha, quer seja por erro de projeção, dimensionamento, execução ou operação. Deste modo as barragens ao longo do tempo podem apresentar problemas associados às estruturas do barramento, que culminaram em acidentes, com risco potencial para as regiões alagadas. Ao longo da história ocorreram inúmeros acidentes trágicos em barragens, como por exemplo, a de Malpasset (1959), na França, Vaiont (1963), na Itália, Teton (1976), nos Estados Unidos e Macchu II (1979), na Índia. Os locais supracitados totalizaram mais de 4.000 mil mortes e danos incalculáveis ao patrimônio público e privado (KUHLAMP et al., 2016). Na metade do século XX, após constatação da capacidade destrutiva das barragens, mediante uma eventual ruptura, que libera em segundos uma quantidade exorbitante de água, no lado à jusante do maciço, formando uma onda de inundação, capaz de causar danos irreversíveis à população existente na região, passou-se a analisar com mais atenção o tema sobre segurança de barragens. A tabela 02 a seguir, mostra os quatro maiores acidentes envolvendo barragens no período de 1959 a 1979 (KUHLAMP et al., 2016). Tabela 1 – Quatro maiores desastres envolvendo barragens entre 1959 e 1979. Barragem (ano de ocorrência) Tipo, altura (m) (ano de construção) Evento Malpasset (1959) Arch, 61 m (1954) -Problema de fundação e falta de suporte lateral do pilar; colapso total (421 mortes). Reservatório de Vaiont (1963) Arch, 262 m (1960) -Deslizamento da encosta do reservatório, despejando 200 x 106 de material dentro do reservatório; A onda gerada ultrapassou a crista da barragem em 110 m; A barragem ficou intacta após o evento, porém a onda gerada foi capaz de devastar vilarejos a jusante (c. 2000 mortes). Teton (1976) Barragem de terra, 93 (em construção) -Erosão interna ocasionada por um corte em trincheira mal projetado; Ruína total da estrutura (11 mortos e prejuízo de 500 milhões de dólares). Macchu II (1979) Barragem de terra e de gravidade 26 m -Cheia catastrófica; mau funcionamento da comporta; Galgamento da barragem que não resistiu e foi completamente 20 (1972) erodida (estima-se 2000 mortos). Fonte: KÜHLAMP et al., 2016, adaptado NOVAK, 1990. Brunner (2014) determina uma lista de eventos ligados diretamente ao rompimento de barragens, composta por 11 itens, a saber: cheias, piping, escorregamento, abalos sísmicos, falhas de fundação, falha na operação das comportas, problemas estruturais, ruptura de uma barragem à montante, esvaziamento rápido do reservatório, sabotagem e remoção planejada do barramento. O supracitado autor, em seus estudos, relacionou os prováveis tipos de falhas que comumente ocorrem de acordo com o tipo de barragem, conforme observa-se na tabela a seguir. Tabela 2 – Possibilidade de falha dos diferentes tipos de barragens. Tipo de Falha Barragem de Terra/Enrocamento Barragem de gravidade Barragem em arco Barragem com contraforte Barragem com múltiplos Arcos Galgamento X X X X X Piping X X X X X Problemas de fundação X X X X X Deslizamento X X X Tombamento X X Cracking X X X X X Falha de equipamento X X X X X Fonte: KÜHLAMP et al., 2016, adaptado BRUNNER, 2014. No período entre 2014 e 2016, três barragens brasileiras romperam, provocando danos inestimáveis às regiões afetadas, objetivando minimizar as falhas e, por conseguinte evitar novos rompimentos, as Instituições Regulamentadoras e Legislações que normatizam este setor, tem se empenhado para estabelecer diretrizes e especificações cada vez mais rigorosas que possam garantir a segurança desses empreendimentos (ROCHA, 2015). 3.4 Medidas de prevenção para rompimento de barragens O nosso país em menos de 10 anos presenciou duas tragédias relacionadas ao rompimento de barragens, a de Mariana em 2015 e a da Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho em 2019. Tais fatos demonstram a importância de se elaborar planos e medidas preventivas capazes de evitar esse tipo de acontecimento (LOPES, MORAES, BARBIERI 2016). 21 Atualmente sabe-se que é proibido barragens de alteamento a montante, porém ainda é registrado dezenas dessas em todo o país com alto risco associado. Além disso, medidas vêm sendo tomadas a respeito de tornar públicas todas as pesquisas relacionadas ao risco de rompimento das barragens, tonando assim esse assunto acessível a toda população. Eugenio Singer (2019) acrescenta que, faz-se necessário a instalação e o monitoramento periódico de acelerômetros, inclinômetros, radares, piezômetros e satélites, além da realização dos monitoramentos tradicionais, comumente realizados, para um melhor acompanhamento da evolução de possíveis problemas que o maciço da barragem possa apresentar. O supracitado autor reforça ainda, que a equipe de fiscalização e acompanhamento da barragem deve de acordo com as suas dimensões, apresentar um número maior de engenheiros e geólogos geotécnicos, de modo semelhante ao observado na medicina do trabalho para atuarem de forma mais efetiva no manejo de controle de danos da barragem. Ademais, podem ser incluídos estudos e diretrizes internacionais, tais como pesquisas sismológicas para o rastreamento de possíveis tremores e movimentos terrestres que possam afetar a estrutura do maciço. Quanto ao monitoramento, medidas também devem ser adotadas como a utilização de laser e fotogramas. De acordo com Singer (2019) “São tecnologias que ajudam na identificação de pequenas mudanças na conformação da barragem, no nível de água e na pressão total”. Uma ferramenta bastante empregada atualmente é a simulação de rompimento dessas barragens, avaliando todo o fluxo do líquido e os possíveis danos. Dentre os softwares utilizados está o HEC-RAS com análises que possibilita a simulação unidimensional do escoamento em canais abertos, sob o regime permanente e não permanente, e também na condição de fundo móvel (transporte de sedimentos) o estudo de barragens específicas, tornando-se assim mais uma ferramenta na prevenção desse tipo de catástrofe. Portanto, é imprescindível a implementação de uma gestão de riscos eficaz, considerando a probabilidade de ocorrência e a gravidade de suas consequências. 3.5 Simulação de rompimento com HEC-RAS O HEC-RAS configura-se como um software para simulação de modelo hidrodinâmico, desenvolvido pelo U.S Army Corps of Engineers (USACE), que viabiliza, “a simulação hidráulica de fluxo, para regimes permanente e não permanente, transporte de sedimento, computação de leito móvel, modelagem da temperatura e qualidade d’água, transporte e destino de nutrientes e rompimento de barragens” (SANTOS, 2019, p. 301). 22 O software pode ser obtido gratuitamente, apresentando layout simplificado, podendo ser instalado no sistema Windows, viabilizando o acesso e a integração com plataformas externas e no seu pacote encontra-se o aplicativo HEC-GeoRas, “que permite importar informações geométricas de software de SIG, para simulação e retorno de resultados, de modo a viabilizar a elaboração de mapas de inundação e de risco” (SANTOS, 2019, p. 301). Neto (2016) explica que para a realização da análise e processamento dos dados matemáticos, o software HEC-RAS, utiliza uma malha computacional, composta por células em formatos de triângulo, quadrado, retângulo, ou polígonos de 05 até 08 faces. O programa analisa o movimento e a direção do escoamento entre as células, conforme o perfil encontrado entre as faces das células, tomando como referência os detalhes do terreno em estudo. O software HEC-RAS encontra-se disponível para a comunidade técnicae científica, constituindo-se como o exemplo mais difundindo em termos internacionais para análise da onda de cheia oriunda do processo de rupturas de barragem. Através deste modelo é possível [...] calcular e apresentar graficamente as curvas de regolfo de escoamentos unidimensionais, em regime permanente, lento ou rápido, e em regime variável. Baseia-se na solução da equação unidimensional da conservação da energia. As versões mais recentes do modelo HEC-RAS incluem algoritmos para modelar rupturas de barragens que consideram o alargamento da brecha ao longo do tempo (PEREIRA et al., 2017, p. 77). Os cálculos de escoamento são realizados através das equações de Saint-Venant, analisando como variáveis os princípios de conservação da massa e a quantidade de movimento, conforme as equações seguir, em que t refere-se a tempo em s; x é relativo a direção do escoamento em m; u representa a velocidade média do escoamento em m/s; g significa a aceleração da gravidade em m/s², h representa a espessura da lâmina líquida em m; S0 remete- se a declividade da calha do canal em m/m e finalmente temos Sf que refere-se a média da declividade da linha de energia em m/m (KÜHLAMP et al., 2016). a) Conservação da Massa 23 b) Conservação da Quantidade de Movimento KÜHLAMP (et al. 2016, p. 35) determina os parâmetros essenciais para a elaboração de um estudo hipotético de rompimento de barragem, utilizando o software HEC-RAS. Sendo estes a a condição de contorno de montante (hidrograma de montante); a condição de contorno de jusante (inclinação a jusante, cotagrama ou curva de descarga); as seções transversais ao longo do eixo do rio (seções topobatimétricas); a estruturas hidráulicas e suas características (barragens, pontes, diques) e os coeficientes de rugosidade da superfície (número de Manning). Dessa forma, o software é uma ferramenta eficaz na simulação do rompimento de barragens, evidenciando faixas de inundações e os danos associados. Dessa forma, o software é uma ferramenta eficaz na simulação do rompimento de barragens, evidenciando faixas de inundações e os danos associados. 3.6 Artigos analisados para composição do Referencial Teórico Após uma análise geral dos artigos encontrados, foram descartados aqueles que não estabeleciam ligação direta com os objetivos da presente pesquisa, os que foram publicados antes de 2015, e aqueles que não detalhavam a metodologia de estudos utilizada para apresentação dos resultados. Ao final da pesquisa foram selecionados e incluídos no estudo para análise e discussão um total de sete trabalhos acadêmicos que contribuíram para a composição do referencial teórico do presente trabalho e nortearam os caminhos adotados para a construção deste estudo. A tabela-03 apresenta de forma simplificada os dados mais relevantes, à cerca do conteúdo abordado para composição deste referencial teórico, de acordo com cada um dos trabalhos acadêmicos analisados, destacando de forma resumida o autor/ano das publicações, o tipo de estudo, o objetivo norteador da pesquisa realizada e os resultados encontrados pelos autores, com ênfase na comprovação da importância deste tipo de estudo para mensurar os impactos provocados pelo consequente colapso de uma barragem. 24 Tabela 3 – Principais estudos pesquisados que analisaram o rompimento hipotético de uma barragem AUTOR/ ANO ESTUDO/ AMOSTRA OBJETIVO RESULTADOS PEREIRA et al., 2017 Estudo de caso com simulação utilizando software Apresentar um modelo simplificado para estimar a área inundada por cheias geradas pela ruptura de barragens e uma proposta de melhoria deste modelo simplificado pela introdução de uma rotina de cálculo para modelação do amortecimento de cheias baseada no método de Muskingum-Cunge. Verificou-se que os resultados obtidos em termos das áreas de inundação são idênticos, contudo, o amortecimento da onda de cheia ocorre de maneira menos acentuada do que na formulação inicialmente utilizada. O artigo faz ainda uma comparação dos resultados obtidos pelos dois modelos simplificados e o modelo HEC-RAS. ROCHA, 2015 Estudo de caso pautado em revisão de literatura Avaliar a aplicabilidade de métodos e critérios geralmente adotados em estudos de ruptura Os resultados sugerem que a topografia pode ser o principal fator de influência na previsão da mancha de inundação. SANTOS, 2019 Estudo de caso Avaliar o comportamento da onda de cheia ao longo do vale de jusante da barragem de Jatunaíba, bem como o alcance da mancha de inundação e da profundidade e velocidade máximas da lâmina d’água. Os resultados encontrados, apesar do caráter preliminar do estudo, podem auxiliar na composição de cenários e servir como ponto de partida para a elaboração do Plano de Ação Emergencial da barragem. KUHLKAMP, 2016 Estudo de caso Entender o impacto do rompimento de uma das barragens do rio Irani nas outras estruturas de barramento existentes no mesmo rio. Ao longo do desenvolvimento do estudo foram simulados, através de um modelo hidrodinâmico elaborado no software HEC-RAS, três cenários hidrológicos diferentes. A elaboração do modelo contou com seções topobatimétricas, níveis de água aferidos em campo, modelo digital do terreno e características das pontes e barramentos existentes no curso do rio. RAMAN; LIU, 2019 Examinar a causa do rompimento da barragem de Brumadinho e comparar as observações com simulações de modelo: HEC-RAS, desenvolvido pelo US Army Corps of Engenheiros, para prevenir que uma tragédia semelhante se repita. Os resultados apontam a extensão do fluxo de lama do HEC-RAS e a simulação corresponde à atual inundação devido ao rompimento da barragem. Esta técnica de simulação pode mais tarde ser usada para futuras previsões de colapso de barragens. 25 LOPES JÚNIOR, 2020 Estudo de caso Definir e comparar a mancha de inundação em decorrência da ruptura de uma barragem por meio de modelagens unidimensionais dinâmica e estática. Os resultados obtidos com a metodologia aplicada servem de apoio na mitigação dos efeitos resultantes da ruptura de uma barragem, principalmente no que diz respeito à classificação do empreendimento quanto ao Dano Potencial Associado e na elaboração do Plano de Ação Emergencial, instrumentos da Lei 12.334/10 que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens. AMARAL, 2017 Estudo de caso Simular as ondas de cheia induzidas pela barragem de Peti, em São Gonçalo do Rio Abaixo-MG. Já os objetivos específicos foram: analisar a área de uso e ocupação do solo a montante da barragem; definir o hidrograma de cheia e simular o avanço da onda de cheia hipotética da ruptura da barragem, com a utilização de programas computacionais; verificar a área de inundação gerada. Os resultados apontam a onda de cheia que ocasionaria o rompimento hipotético de Peti pela formação da brecha por meio do programa computacional HEC-RAS, definindo a área atingida a jusante. As consequências do rompimento simulado foram: impactos socioeconômicos e a perda de vidas humanas, atingindo cerca de 30 mil pessoas. FONTE: "Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada". 26 4. METODOLOGIA A atual pesquisa compreende a uma revisão sistemática quanti-qualitativa que busca compreender a utilização do software HEC-RAS na simulação do rompimento de barragens, analisando a simulação do rompimento hipotético da barragem de Caldeirão, localizada ao norte do estado do Piauí. 4.1 Tipo de estudo A presente pesquisa, trata-se de um estudo de caso, voltado para a avaliação da ruptura de barragens com o uso da ferramentaHec-Ras, que proporciona a modelagem hidrodinâmica do rio e da barragem, e ainda com uso do GIS associado a essa ferramenta pode-se obter informações das consequências oriundas de uma possível ruptura, podendo assim criar ações de mitigação. O Hec-Ras é um programa do pacote da HEC, que faz parte de um sistema integrado de análises hidráulicos onde o usuário interage com o sistema usando uma interface gráfica. Esse sistema é capaz de trabalhar em regime permanente, análise unidimensional e bidimensional de regime não permanente, transporte de sedimentos e qualidade da água (BRUNNER, 2014). A modelagem no Hec-Ras consistiu na configuração da geometria (seção da barragem e do reservatório), do regime não permanente e o plano de simulação do sistema. A modelagem inicial para o estudo e posterior analise dos resultados foi feita com uso do HEC- GeoRAS, que é uma interface do Hec-Ras no ArcGis, e consequentemente exportação para o Hec-Ras, porém o modelo digital do terreno não foi condizente com a realidade e, por tanto utilizou-se a ferramenta RAS Mapper, o qual trouxe um MDT com maior qualidade nas elevações. Essa ferramenta consiste em um sistema de informação geográfica do próprio Hec- Ras, que permite a modelagem hidrodinâmica de sistemas, a digitalização de redes de rio, seções transversais e, a análise de estação de dados do terreno de um modelo digital de elevação. Este sistema é equivalente a outros sistemas de informações geográficas como QGis ou ArcGis, contudo, o RAS Mapper possui ferramentas especializadas para o software Hec-Ras, que viabilizaram uma melhor modelagem da superfície digital, e consequente obtenção dos resultados. Os resultados encontrados estão dispostos em quadros com os dados de entrada dos cálculos e demais dados dos autores pesquisados, tabelas elaboradas em excel, e imagens que apresentam os gráficos dos hidrograma e imagens via satélite utilizadas para composição desta 27 pesquisa. 4.2 Objeto de Estudo O objeto de estudo da presente pesquisa é a Barragem Caldeirão, construída sobre o rio de igual nome, que é um afluente do rio Matos e engloba o sistema hidrográfico do rio Parnaíba. A construção do barramento culminou no surgimento do açude Caldeirão, que ao passar dos anos, tornou-se um ponto turístico na região. A barragem está localizada a 9 km do centro do município de Piripiri, em um povoado chamado Lagoa, ao norte do estado do Piauí, distando apenas 165 km da capital – Teresina. O açude ocupa uma área de mais ou menos 1 mil hectares e conta com uma capacidade de mais de 54 milhões de metros cúbicos de água. Figura 2: Barragem Caldeirão FONTE:www.oitomeia.com.br/colunas/no-fluxo/2019/02/09/barragem-do-acude-caldeirao/ 4.3 Área de Estudo - Descrição da Barragem Caldeirão no município de Piripiri-PI Os dados apresentados no presente trabalho, referente à barragem em estudo encontram-se no site do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). A barragem do Açude Caldeirão localiza-se no município de Piripiri, estado do Piauí, a cerca de 180 km da capital do estado - Teresina-PI. Conforme dados do IBGE de 2019, a cidade de Piripiri possui uma população estimada em 63.742 habitantes, estando a uma altitude de 170 metros e tendo uma área total de 1.409 km². O acesso à barragem pode ser feito a partir de Teresina pela BR-343, e por Fortaleza, pela BR-222 até a localidade de Piripiri, onde se situa a barragem. O Açude Caldeirão tem como 28 finalidade básica a regularização do rio de mesmo nome, garantindo a irrigação das férteis várzeas da região, que devido ao potencial de armazenamento da barragem torna habitável a região que outrora antes da sua construção não era possível devido aos períodos prolongados de seca, tal como se verificou em 1900, 1908, 1915, 1919, 1927 e 1932. Os trabalhos de construção foram iniciados em 01 de abril de 1937 e concluídos em meados de 1945, por administração direta do DNOCS. Durante a execução da obra, problemas não determinados levaram à modificação do projeto. Além da introdução dos muros de concreto referidos no item Arranjo Geral, foi adotada uma seção com enrocamento a jusante a partir da berma situada na cota 94,00, revestida com pedra argamassadas, eliminando-se as manilhas anteriormente existentes abaixo da referida berma, sendo os demais detalhes construtivos preservados. A barragem compreende uma área drenada na bacia hidrográfica do rio Caldeirão que corresponde a 220 km², com um volume acumulado no reservatório de 54.600.000 m³, regularizando uma vazão de 2,16 m³/s. A capacidade de irrigação do reservatório é de 1.400 ha em anos de pluviosidade média e de cerca de 700 ha em anos secos. Os estudos do Açude Caldeirão, considerando os trabalhos de campo e escritório, foram elaborados pela Comissão do Piauí, no período de agosto de 1933 a julho de 1936, quando foi iniciada a elaboração dos desenhos do Projeto Executivo, concluídos por volta de julho de 1937, pela Seção Técnica da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), antiga denominação do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). A bacia hidrográfica localiza-se entre os postos de Piripiri e Pedro Il. Calculou-se através da média precipitada nestes postos, a chuva média, sendo observadas as precipitações que ocorreram por um período de 22 anos de observação. A seguir, admitiu-se como válido um coeficiente de escoamento correspondente a 20% da chuva precipitada e calculado o volume afluente na bacia. O volume armazenável foi obtido considerando-se, para as perdas por evaporação ano a ano, valores baseados em observações levadas a efeito no Açude Cedro e as possibilidades de acumulação estabelecidas topograficamente pela bacia hidráulica. A barragem Caldeirão, com altura máxima de 22 m, é constituída de um maciço de terra com enrocamento a jusante, a partir da berma situada na cota 94,00, revestido com pedra argamassadas. Durante a construção foi incorporada uma cortina de concreto armado 15,00 m a montante do eixo da barragem, engastada de 1,5 m a 2 m na rocha, entre as estacas 49 e 61 (trecho da ombreira esquerda até a cota do terreno natural em torno de l 00,00), portanto, com 120 m de comprimento. No trecho restante, e no mesmo alinhamento, previu-se a execução de um muro de chicana de cerca de 2 m de altura, mais um engaste de 0,70 m em rocha. A união 29 entre a cortina e o muro da chicana é feita através do engastamento de 1m. A barragem Caldeirão está assente em grande parte sobre rocha e contém um "cut-off" de alvenaria argamassada, destinado a evitar possíveis infiltrações no contato entre o maciço e a rocha de fundação. O material sílico-argiloso utilizado no maciço da barragem foi proveniente de jazida localizada na ombreira esquerda da mesma. A disposição geral das estruturas inclui a barragem de terra fechando o vale, com 746 m de comprimento de crista, o vertedouro situado na ombreira direita, imediatamente após o final da barragem, e a tomada d'água em torre, cujo conduto se situa sob a barragem, na ombreira esquerda, conforme observa-se na figura 1. Figura 3: CURVAS COTA x ÁREA x VOLUME – Barragem Caldeirão FONTE: DNOCS A cheia máxima é determinada utilizando a fórmula de Ryves. Os parâmetros principais foram determinados, obtendo-se os valores indicados na tabela 1, conforme observa- se na figura 2. Tabela 4: Características hidrológicas da Barragem Caldeirão DESCRIÇÃO TOTAL Área da bacia 220 km² Comprimento do talvegue 36 km Pluviometria média anual 1.500 mm Coeficiente de escoamento 20% Volume afluente 54 x 106 m³ Cheia máxima 195 m³/s FONTE: DNOCS 30 Figura 4: Cheia Máxima FONTE: DNOCS A ampliação do Açude Público Caldeirão, atualmente com o Projeto Executivo concluído, possibilitará a elevação da capacidade do reservatório dos 54,6 x 106m³atuais para 190 x l06m³, constituindo-se, assim, na principal fonte hídrica da região, para a perenização do curso d'água principal, para o abastecimento d'água da cidade de Piripiri e para a implantação do Projeto de Irrigação de Piripiri, com uma superfície total irrigável de aproximadamente 3.000 ha. 4.4 Georreferenciamento das imagens Foram usadas imagens do tipo SRTM, disponibilizadas de forma gratuita no Catálogo do INPE (http://www.dgi.inpe.br/catalogo/). Para a escolha das imagens, determinou-se o tipo de satélite, o sensor, o nível de tratamento das imagens, conforme descrição abaixo, a ainda foram estabelecidas a data de início da pesquisa das imagens e o percentual de nuvens. Satélite escolhido: CBERS-4 (satélite de parceria BRASIL-CHINA) Instrumento: MUX (http://www.cbers.inpe.br/sobre/cameras/cbers3-4.php) Nível de tratamento: 4 (NIVEL MAIS TRATADO) – trata-se de imagem CBERS nível 3 refinada pelo uso de modelo digital de elevação, e compatível com aplicações que requerem uma modelagem cartográfica acurada em qualquer tipo de terreno. (http://www.dgi.inpe.br/Suporte/files/politica_de_dados_cbers_v.1.4_PT.htm) http://www.dgi.inpe.br/catalogo/ http://www.cbers.inpe.br/sobre/cameras/cbers3-4.php http://www.dgi.inpe.br/Suporte/files/politica_de_dados_cbers_v.1.4_PT.htm 31 O período estipulado para a escolha da imagem, corresponde aos dias: 01/01/2020 a 01/10/2020. A data da imagem escolhida foi 29/08/2020. Foi escolhida uma cobertura de 10% de nuvens em todos os quadrantes da imagem escolhida e determinado o país, estado e município, da referida imagem. As informações da imagem escolhida encontram-se descritas, a seguir: CBERS4-MUX 154/105 2020-08-29 Data:2020-08-29 Hora:13:04:00 Satélite: CBERS-4 Sensor: MUX Nível: 4 (Com aplicação de Modelo Numérico de Elevação do Terreno). Após refinamento da busca o site apresenta todas as imagens que envolvem o sensor escolhido pra o intervalo de datas e considerando a quantidade de nuvens. As imagens são gratuitas, conforme a política de dados. Cada imagem baixada possui diversas BANDAS que correspondem a um intervalo do espectro eletromagnético, com isso consegue-se fazer composições coloridas, reprojetar as imagens, fazer recortes e por fim trabalhar em cima delas, conforme a finalidade desejada. Figura 5: Imagem do site do INPE na escolha do satélite e coleta de imagens Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada” A figura – 6 apresenta a imagem com melhor qualidade nas elevações e, por isso foi escolhida para compor o presente estudo. A MDT consiste em um modelo geométrico de 32 referência utilizado para propagar a cheia gerada pela ruptura da barragem. Figura 6: Imagem satélite geral com área de interesse que será gerada a MDT Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada” A figura – 7 apresenta imagens com Bandas espectrais distintas, para efeito comparativo. Figura 7: Imagens de satélite com bandas espectrais distintas Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada” 33 A figura 8 mostra a conversão realizada no RAS Mapper que transforma a imagem do tipo - .tif em uma imagem de formato - .hdf, que é melhor preparada para as visualizações que serão feitas no software. Figura 8: Processamento de conversão da imagem Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada” A imagem a seguir, gerada por satélite, representa a topografia local da área em que encontra-se o objeto de estudo da presente pesquisa, a MDT – Modelo Digital do Terreno – representando a imagem em 3D que foi utilizada para gerar a mancha da superfície. Figura 9: Resultado da imagem processada Fonte: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada” 34 4.5 Procedimentos para coleta de dados Ferreira e Andrzejewski (2015) apresentam três mecanismos básicos para análise de rompimento de barragem, a saber: análise comparativa de casos similares, o uso de equações empíricas, e o uso de um modelo de rompimento com embasamento físico, para a realização da presente pesquisa, utilizou-se o método de equações empíricas para calcular as dimensões de brecha e a vazão de pico, analisando diversos autores que estimam parâmetros, com base em estatísticas históricas. A imagem, a seguir, contempla algumas dessas equações. FIGURA 10: Equações empíricas para vazão de pico FONTE: Adaptado de COSTA (1985) e WAHL (1998). 35 Realizou-se o cálculo da vazão de pico, pois esta é uma variável utilizada para calcular a vazão em função do tempo, que são fundamentais para traçar os hidrogramas. O hidrograma correto que de fato, representa a barragem em estudo, deverá ter sua área de gráfico, igual ou de valor aproximado ao volume do reservatório. Após essa análise, observou-se o tamanho da brecha, que varia de acordo com o tipo de barragem, na presente pesquisa, trata-se de uma barragem de terra, com enrocamento, bem como o tempo de abertura da brecha. O tempo médio apresentado na Figura 11 (que traz a percepção de diversos autores,) é de 0,82h. Para os cálculos desta investigação, adotou-se este valor de 0,5h. FIGURA 11 – Resultados obtidos por Ferreira e Andrzejewski (2015) através de equações empíricas FONTE: FERREIRA E ANDRZEJEWSKI, 2015. A meia hora adotada para os cálculos, que equivale a 1800 segundos, representa o tempo de início da brecha até o momento em que a barragem entrará em colapso. Para estimar o tamanho da abertura, considerou-se que a mesma atingiu 80% do maciço. De acordo com a tabela acima, esse tamanho poderia ser bem menor, entretanto considerou-se para a presente analise o rompimento total do maciço, entendendo que os 20% restantes, correspondem a parte do maciço que resta, após o rompimento total. Após os dados de entrada encontrados e parametrizados, definiu-se um hidrograma específico para cada autor, com base na vazão de pico pré-estabelecida por cada autor, em que posteriormente este valor foi colocado na equação da vazão em função do tempo, adotando-se para o fator tempo um intervalo de 0,2h, o que significa que a cada 12 minutos foi calculado um valor para o hidrograma. No item 5.1 encontra-se a tabela com os valores de vazão pico 36 estabelecidos para cada autor e a figura que apresenta o gráfico comparativo dos hidrograma encontrados baseado nos autores e o da barragem de Caldeirão. Após encontrados os valores da vazão em função do tempo, calculou-se a integral para definir a área do gráfico que deve ser igual ao volume do reservatório. Encontra-se na tabela 07 no item 5.1 a discrepância em percentual dos valores da área dos gráficos, oriundos dos valores de pico estabelecidos pelos autores, com a realidade da barragem objeto deste estudo. Para definir o hidrograma de Caldeirão, utilizou-se a mesma equação no software, adotando o mesmo tempo de pico e o valor do fator k, a única alteração em valores deu-se na vazão de pico, conforme uma das vertentes apresentadas no estudo realizado por Mota (2017), que ressalta que manter o fator k (variável que pondera a equação) em 0,5, pois este valor oferece resultados que apresentam sempre as melhores e as maiores vazões. Após a realização deste cálculo, observou-se que a área do gráfico do hidrograma corresponde a um valor muito próximo ao volume do reservatório, o que valida os resultados encontrados. Após os dados obtidos no modelo hidrodinâmico utilizou-se ferramentas de geoprocessamento para gerar o mapa com a mancha de inundação associadas à cartografia da região e a maior vazão de pico encontrada. De posse dos dados da simulação e software de geoprocessamento, seguiu-se a etapa de confecção do mapa, que indicará em escala adequada, a área impactada com o rompimento da barragem, e baseada no cálculo do riscohidrodinâmico indicar o nível de risco às comunidades a jusante dentro da zona de inundação. 37 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Uso do software HEC-RAS para as pesquisas de simulação de rompimento de barragens Atualmente a tecnologia dispõe de muitas ferramentas para a prevenção de catástrofes, tais como rompimento de barragens. Desastres como esse tem sido documentado a décadas, e desde então algumas medidas preventivas são adotadas com objetivo de diminuir os riscos e avaliar as possíveis consequências. Softwares já são bastante empregados para simulação do rompimento desses maciços, na qual possibilitam avaliar a vazão dos fluidos da barragem sobre um determinado local. O que pode trazer uma perspectiva diferenciada para estudos de caso dessa área. De acordo com ANA (2014) o nordeste do país possui cerca de 88 barragens, seja como reservatório de água ou depósito de resíduos de minérios. Todos esses maciços são inspecionados e possuem algum risco com possíveis danos associados, o gráfico abaixo mostra a distribuição dessas barragens e quais possuem Categoria de Risco (CR) e Dano Potencial Associado (DPA) alto. Figura 12: Número de barragens de acordo com os estados do nordeste, sua Categoria de Risco (CR) e Dano Potencial Associado (DPA). FONTE: Elaboração própria a partir de ANA 2014. Observa-se que a região Nordeste apresenta um número considerável de barragens categorizadas como alto risco, correspondendo a 81% dos maciços analisados. Além disso, todas as construções apresentadas demonstram alto Dano Potencial Associado (DPA). Isso 38 sugere a necessidade de se obter dados e elaborar medidas capazes de prevenir o rompimento destas construções. A categoria de risco (CR) está relacionada com os aspectos da barragem capazes de influenciar na segurança, tais como características técnicas, estado de conservação e plano de segurança. Já o Dano Potencial Associado (DPA) tem relação com o dano que ocorre em consequência da ruptura, podendo ser calculado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais, econômicos e ambientais que a ruptura poderá promover (ESMERALDO et al., 2017). Anderáos e colaboradores (2013) salienta que essa categorização funciona como um medidor para planejamento de tomadas de decisões no que concerne o monitoramento, de forma que essas barragens se tornem mais seguras com periodicidade de inspeções e se necessário a elaboração de um Plano de Ação Emergencial (PAE). Assim são realizados estudos envolvendo a simulação do rompimento de barragens com auxílio de softwares para a melhor visualização do possível problema, principalmente no que concerne a vazão de fluidos e a área que poderá ser afetada. O HEC-RAS é bastante utilizado pois possui uma série de aplicações, desde a simulação de transporte de sedimentos até mesmo a elucidação das principais causas de ruptura de estruturas dessa natureza (WILLINGHOEFER, 2015). O quadro 1 apresenta os estudos de caso que utilizaram o software HEC-RAS para as pesquisas de simulação de rompimento de barragens presentes no Nordeste brasileiro. Quadro 1 - Estudos de caso que utilizaram o Software HEC-RAS para análise do possível rompimento de barragens. Barragem Estado Resultados Referência Barragem de Santa Helena Bahia A simulação com HEC-RAS possibilitou observar uma mancha de inundação no vale a jusante do barramento em questão. VIEIRA, 2018 Bacia hidrográfica do rio Paraíba Alagoas A falta de dados impossibilitou melhores resultados do software que correspondesse com a realidade. MEDEIROS, 2017 Reservatório Banabuiú Ceará O software obteve resultados satisfatórios. A faixa de inundação obtida pelo HEC-RAS está coerente para a simulação desejada. Oliveira, 2018 Barragem de Pedras Altas Bahia Estudo com o software mostrou a possibilidade de inundação do distrito de Pedras Altas, com resultados coerentes com a realidade. Souza, Fontes 2016 39 Barragem Armando Ribeiro Gonçalves Rio Grande do Norte O programa foi eficaz nos dados apresentados apenas para alguns trechos do estudo, apresentando deficiência na precisão das cotas de inundação. Medeiros, Zanella 2019 Santo Amaro Bahia O HEC-RAS foi eficaz na modelagem hidrodinâmica, permitindo representar o comportamento do sistema hídrico e estimar valores quanto a população que poderá ser atingida. Borges, Fontes, Nascimento 2017 Maranguapinho CE O software demonstrou bons resultados em todos os trechos analisados, com dados precisos capazes de estimar as faixas de inundações em diferentes situações. Giordani, 2018 Fonte: "Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada". O quadro acima descrito apresenta os estudos de casos realizados com intuito de simular o rompimento de barragens e estimar as possíveis faixas de inundação, bem como, todos os danos que esta pode causar. Na maioria dos casos o software demonstrou bons resultados, com dados que correspondiam a realidade. E aqueles que os resultados não foram considerados satisfatórios, foi devido principalmente à falta de informações que o programa exigia ou ainda, as características da área estudada. O estudo apresentado por Vieira (2018) demonstrou a instabilidade de corpos de inundação simulada pelo HEC-RAS e comprovou a influência deste na minimização dos impactos e prevenção catástrofes. Isto foi observado também por Oliveira (2018) em seus estudos de rompimento de barragem no Ceará, em que foram gerados no software HEC-RAS, através da topografia elaborada mediante um modelo digital de elevação – MDE, utilizando imagens SRTM, os mapas de inundação, nos quais pode-se observar as potenciais áreas que seriam inundadas, o que viabilizou a criação das próximas modelagens, necessárias para a elaboração dos Planos de Ação de Emergência das barragens, conforme expressa a Lei nº 12.334/2010. Já Medeiros e Zanella (2019) demonstraram que esse programa foi eficaz apenas para alguns trechos devido à forte influência das marés nas áreas contempladas, com necessidade de estudos posteriores das vazões específicas para esta área de forte interação fluviomarinha. Porém em outros trechos os resultados se mostraram eficazes, evidenciando a vulnerabilidade das regiões inseridas à jusante da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves. 40 Desse modo, o software ainda possui algumas limitações, exibindo vantagens e desvantagens de acordo com a área a ser simulada. Dentre as vantagens deste programa está em trabalhar com versões pouco simplificadas na equação de Saint Venant, agregando valor a um estudo de escoamento. Ele permite a integração com poderosos softwares, como o ArcGIS e o Civil 3D, e assim facilita a criação de mapas de inundação. Ainda, o HEC-RAS exibe grande precisão e confiabilidade, considerando os dados apresentados como significativos durante a tomada de decisões relacionadas aos impactos causados por uma determinada inundação. Já as desvantagens estão relacionadas ao escoamento unidirecional e a falta de manutenção do escoamento em partes da seção. Portanto, a utilização do software HEC-RAS pode ser uma ferramenta bastante eficaz no estudo do possível rompimento de barragens, evidenciando as faixas de inundação e possibilitando a elaboração de planos capazes de prevenir esse tipo de catástrofes com perdas de vidas, ambiental e econômica. 5.2 Parametrização dos dados Nesta seção serão apresentadas as imagens georreferenciadas em formato raster e vetorial (TIN) e as seções que foram feitas no Hec-GeoRas. Inicialmente para realização da análise da simulação do rompimento da Barragem de Caldeirão, foram adotados, os seguintes dados de entrada, como pode-se observar no quadro 2. Quadro 2 - Dados de entrada da Barragem CaldeirãoFONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” O quadro 3 apresenta a Variação do Volume do Reservatório em Função da Vazão de Pico das Equações Empíricas estudadas, considerando a variação de Tempo de Pico e o fator k fixo. Volume do Reservatório V 54.600.000,00 m3 Área do reservatório As 10.000.000,00 m2 Largura do Barramento Bd 746,00 m Altura do barramento Hd 22,00 m Largura Final da Brecha (80% de Bd) Bb 596,80 m Altura final da Brecha (80% de Hd) Hb 17,60 m Profundidade média (33%de Hd) Ymédio 7,33 m Tempo de Desenvolvimento da Brecha Tp 1.800,00 s Aceleração da Gravidade g 9,80 m/s² 41 Quadro 3 – Volume do reservatório em função das equações empíricas Equação Tp (s) k Vol. Do Reservatório (m³) Variação Lou 1800 0,5 20.492.044,11 -62,47% Hagen 1800 200.711.892,31 267,60% Saint-Venant 1800 100.323.056,03 83,74% Schoklistch 1800 89.731.705,92 64,34% Bureau 1800 42.228.510,34 -22,66% Sing 4500 1.021.149.741,46 1770,24% Wetmore e Fread 2170 421.125.256,20 671,29% FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” No quadro 4 estão listadas as vazões de pico de cada autor, que foram utilizadas para parametrização dos dados e análise comparativa com os valores correspondentes à Barragem de Caldeirão. Quadro 4 – Vazão de Pico pelas Equações Empíricas Equação Vazão de Pico - Qp (m3/s) Lou 2.806,83 Hagen 27.491,75 Saint-Venant 13.741,38 Schoklistch 12.290,66 Bureau 5.784,10 Sing 74.911,20 Wetmore e Fread 48.930,10 FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” No quadro 5 Tabela calcula as Vazões em função do Tempo Q(t) que foram obtidas pelas Vazões de Pico (Qp) de cada autor. O tempo de pico (tp) adotado para a presente análise é de 0,5 horas para todas as equações. Quadro 5 - VAZÃO EM FUNÇÃO DO TEMPO - Q(t) m3/s t (s) Tempo (hs) Lou Hagen Saint- Venant Schoklistch Bureau Sing Wetmore e Fread AÇUDE CALDEIRÃO - - - - - - - - - - 720,00 0,20 2.396,26 23.470,41 11.731,37 10.492,85 4.938,03 63.953,61 41.772,88 6.384,72 1.440,00 0,40 2.774,53 27.175,46 13.583,28 12.149,26 5.717,55 74.049,34 48.367,16 7.392,61 1.800,00 0,50 2.806,83 27.491,75 13.741,38 12.290,66 5.784,10 74.911,20 48.930,10 7.478,65 2.160,00 0,60 2.782,13 27.249,82 13.620,45 12.182,50 5.733,20 74.251,96 48.499,50 7.412,84 42 2.880,00 0,80 2.630,19 25.761,67 12.876,62 11.517,20 5.420,10 70.196,97 45.850,89 7.008,01 3.600,00 1,00 2.407,60 23.581,43 11.786,86 10.542,48 4.961,39 64.256,12 41.970,47 6.414,92 4.320,00 1,20 2.159,31 21.149,59 10.571,33 9.455,29 4.449,74 57.629,68 37.642,25 5.753,38 5.040,00 1,40 1.909,54 18.703,22 9.348,55 8.361,60 3.935,04 50.963,67 33.288,18 5.087,88 5.760,00 1,60 1.671,35 16.370,18 8.182,41 7.318,57 3.444,19 44.606,46 29.135,82 4.453,22 6.480,00 1,80 1.451,39 14.215,78 7.105,57 6.355,41 2.990,91 38.736,03 25.301,40 3.867,16 7.200,00 2,00 1.252,58 12.268,48 6.132,23 5.484,83 2.581,21 33.429,89 21.835,56 3.337,42 7.920,00 2,20 1.075,58 10.534,84 5.265,70 4.709,78 2.216,47 28.705,99 18.750,02 2.865,82 8.640,00 2,40 919,76 9.008,73 4.502,89 4.027,51 1.895,38 24.547,53 16.033,83 2.450,67 9.360,00 2,60 783,79 7.676,90 3.837,19 3.432,09 1.615,17 20.918,47 13.663,42 2.088,37 10.080,00 2,80 665,94 6.522,58 3.260,22 2.916,03 1.372,31 17.773,11 11.608,95 1.774,35 10.800,00 3,00 564,36 5.527,67 2.762,93 2.471,24 1.162,99 15.062,12 9.838,20 1.503,70 11.520,00 3,20 477,21 4.674,09 2.336,28 2.089,63 983,40 12.736,25 8.319,00 1.271,51 12.240,00 3,40 402,73 3.944,60 1.971,65 1.763,50 829,92 10.748,48 7.020,64 1.073,06 12.960,00 3,60 339,29 3.323,19 1.661,05 1.485,69 699,18 9.055,24 5.914,66 904,02 13.680,00 3,80 285,40 2.795,36 1.397,22 1.249,71 588,13 7.616,96 4.975,21 760,43 14.400,00 4,00 239,73 2.348,10 1.173,67 1.049,76 494,03 6.398,25 4.179,17 638,76 15.120,00 4,20 201,12 1.969,94 984,65 880,69 414,46 5.367,81 3.506,12 535,89 15.840,00 4,40 168,54 1.650,80 825,13 738,02 347,32 4.498,21 2.938,12 449,07 16.560,00 4,60 141,09 1.381,94 690,74 617,82 290,75 3.765,59 2.459,59 375,93 17.280,00 4,80 118,00 1.155,77 577,70 516,71 243,17 3.149,31 2.057,05 314,41 18.000,00 5,00 98,60 965,78 482,73 431,77 203,19 2.631,61 1.718,90 262,72 FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” Os valores apresentados no Quadro 5, geram o hidrograma de vazão a jusante na hora do colapso para cada Autor. A integral dessa função, deve ser igual ao volume do reservatório objeto de estudo deste trabalho. De posse de todas as informações, o Hidrograma de Decaimento Parabólico, observado na figura 12, foi o adotado para esta análise. Esse tipo de gráfico apresenta-se de forma mais recorrente em barragens de terra, em que os trechos de descida representam um decaimento exponencial, o que significa que o tempo de esvaziamento ocorre de forma mais gradual, quando comparada a outros modelos. 43 Figura 12: Hidrograma de decaimento parabólico FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” O comprimento do rio, adotado para os cálculos, foi escolhido por abranger uma área mais urbana, com aproximadamente 22 km de extensão. Figura 13: Comprimento do rio adotado para cálculos FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” 44 A figura 14 apresenta os dados que embasam o tempo de abertura das brechas. A média utilizada para os cálculos é de 0,5 horas. Para os cálculos da Barragem de Caldeirão não foram considerados o comprimento de brecha dessa tabela e sim 80% do tamanho do barramento. Figura 14: Tempo de abertura das brechas Fonte: MOTA, 2017. 5.3 Modelagem no HEC-RAS A modelagem no Hec-ras tem como objetivo analisar a influência de diversos parâmetros que definem o tempo e a forma que a brecha é gerada e a influência das equações empíricas presentes no Hec-ras no hidrograma a jusante da barragem e na vazão de pico. A modelagem do presente estudo consistiu em configurar uma geometria de todo o vale a jusante do barramento, o que inclui o canal do rio e as seções transversais. Além disso, as condições de contorno iniciais para a simulação em regime não-permanente são baseadas em uma serie temporal de vazões, o que melhor se enquadrou para tal pesquisa. A Figura 15 apresenta essas series temporais que geram os hidrograma de vazão, pautados nas equações individuais de cada autor, considerando os dados de entrada da barragem 45 e o mesmo fator k para todas as equações. A Qp foi calculada em cima das equações de cada um dos autores e assim foi aplicada na equação Q(t) para gerar o hidrograma. Figura 15: Hidrogramas de Vazão FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” O gráfico correspondente a Figura 16 apresenta o Hidrograma de rompimento hipotético da Barragem de Caldeirão. A área do gráfico é igual ao volume do reservatório. O Tempo de pico (Tp) adotado foi de 0,5hs, ou 30 minutos. O hidrograma a seguir representa o modelo mais fiel da vazão a jusante, quanto ao rompimento da barragem. Para chegar a este resultado, alterou-se a Vazão de Pico (Qp) até que a área do gráfico correspondesse ao volume do reservatório. Figura 16: Hidrograma da Barragem de Caldeirão FONTE: “Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada.” 46 Na modelagem realizada no HEC-RAS, analisou-se a influência das equações empíricas dos hidrogramas, a influência dos parâmetros que definem a abertura da brecha e, por conseguinte a simulação, onde o software gerou a área inundada. A imagem 16, contempla o gráfico do hidrograma gerado pelo software na simulação, como vê-se na linha tracejada e a linha azul apresenta o estágio ou onda de inundação que foi gerada com propagação. Figura 17: Hidrograma e Onda de Inundação HEC-RAS FONTE: “Elaborado pelo autor, com base