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Princípio do Duplo Grau de Jurisdição como Garantia Individual

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FACULDADES INTEGRADAS DE ARACRUZ
DIREITO
GIOVANA CAMPOS
LAURA CABIDELLI
LUANA QUIRINO
LUANA SIVIRINO
RAFAELA PONTES
WESLEY FRAGA
PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
ARACRUZ-ES
2020
O Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
A exigência do duplo grau de jurisdição enquanto garantia individual, permite ao interessado a revisão do julgado contrário aos seus interesses, implicando o direito à obtenção de uma nova decisão em substituição à primeira. O princípio do duplo grau de jurisdição traz, na sua essência, o direito fundamental de o prejudicado pela decisão poder submeter o caso penal a outro órgão jurisdicional, hierarquicamente superior na estrutura da administração da justiça.
 O impedimento de que o tribunal ad quem conheça além daquilo que foi argumentado em primeiro grau é uma objeção à supressão de instância. A revisão feita por órgãos colegiados concede que a matéria de fato e de direito, seja examinada por um número maior de juízes pois se tem plena experiência judicante. Com isso a possibilidade de permitir o reexame da matéria por quem não esteve pessoalmente na instrução criminal sejam elas documentais ou periciais, diminui, pois a ligação com elas no estágio de produção não é necessário para constituição do convencimento judicial.
 A Convenção Americana de Direitos Humanos, garante o direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior, os direitos e as garantias previstos na CADH passaram a fazer parte dos direitos fundamentais, sendo consequentemente autoaplicáveis. Não existe nenhuma dúvida da existência do direito ao duplo grau de jurisdição no sistema brasileiro, entretanto o posicionamento do STF em face o tema é de que a CADH ingressa no sistema jurídico interno com status “supralegal”, ou seja, acima das leis ordinárias, mas abaixo da Constituição.
 Surge problema concreto nos crimes que, por decorrência da prerrogativa de função do agente, são julgados originariamente pelos tribunais. É o caso de um deputado estadual que cometa um delito de homicídio, que, como vimos no estudo da competência, será julgado pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado. Dessa decisão, poderá a parte prejudicada interpor apenas recurso especial (STJ) e/ou recurso extraordinário (STF), com uma série de restrições para sua admissibilidade e, principalmente, restrito à discussão de matéria de direito. Não há mais espaço para discussão sobre o mérito ou mesmo a prova. Como se dará o duplo grau de jurisdição se o agente for um Ministro de Estado, cujo julgamento é originariamente atribuído ao STF? Nesta situação não haverá. Há, nessa circunstância uma falha da garantia do duplo grau de jurisdição em benefício da vantagem funcional e do julgamento originário por um órgão colegiado. Porém vem o seguinte questionamento isso é constitucional? A Constituição não aprova explicitamente o duplo grau de jurisdição, mas sim os casos em que terá julgamento originário pelos tribunais, sendo capaz de ter uma continência à garantia que decorre da CADH. Além disso, ainda que o duplo grau fosse consagrado no texto constitucional, toleraria a supressão ou limitação pelo próprio sistema constitucional.
Ferreira Mendes esclarece que o próprio modelo jurisdicional positivado na Constituição afasta a possibilidade de aplicação geral do princípio do duplo grau de jurisdição. Elucida o autor que “se a Constituição consagra a competência originária de determinado órgão judicial e não define o cabimento de recurso ordinário, não se pode cogitar de um direito ao duplo grau de jurisdição, seja por força de lei, seja por força do disposto em tratados e convenções internacionais”.
Na lição acima quando o autor se refere ao não cabimento de recurso ordinário, está fazendo alusão à categoria doutrinária de recurso ordinário, ou seja, àqueles meios de impugnação que têm por objeto provocar um novo exame (total ou parcial) do caso penal, alcançando tanto as matérias de direito como também fáticas. Logo, quando o imputado é julgado originariamente por um tribunal, eventual recurso será “extraordinário”, na medida em que os tribunais superiores somente podem entrar no exame da aplicação da norma jurídica efetuada pelo órgão inferior, ou seja, um juízo limitado ao aspecto jurídico da decisão impugnada.
 	A tendência de fortalecer a decisão de primeiro grau, restringindo a matéria recursal às questões de direito, mas para que isso aconteça é fundamental que o julgamento seja efetuado por órgão colegiado já na instância originária. No padrão espanhol os crimes graves enfrenta em primeiro grau, de acordo com o caso, da Audiencia Provincial ou da Sala de lo Penal de la Audiencia Nacional, ambos órgãos colegiados. O recurso de Cassação nesta circunstância está limitado somente ao exame da aplicação da norma jurídica, elaborada pelo órgão jurisdicional inferior, de modo a restringir o reexame ao aspecto jurídico da sentença refutada.
Em lição também aplicável ao nosso modelo, Armenta Deu explica que as limitações à segunda instância são legítimas, desde o ponto de vista da adequação constitucional, pois a norma fundamental prescreve a revisão das sentenças penais condenatórias, o que não significa, exatamente, a constitucionalização da segunda instância penal, pois a exigência se satisfaz também por meio de um recurso extraordinário como o de cassação.
A vigência dos princípios de imediação e oralidade é fundamental do juízo penal, e a plena análise das situações fáticas em segundo grau gera uma indesejável condicionante, que é o fato de a prova ser praticada no julgamento de primeiro grau, com o órgão ad quem fazendo um juízo de apreciação mediata, ou seja, através de materiais escritos e sem o contato do julgador com a prova. Existindo um órgão colegiado em primeiro grau, poderá existir restrição recursal; mas jamais restrição recursal com julgamento monocrático em primeiro grau.

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