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Fases Mitose COMO É REGULADA A SÉRIE PROGRAMADA DE MUDANÇAS QUE LEVAM UM ZIGOTO SE TORNAR UM SER HUMANO? GENES HOX, nos vertebrados • Em humanos estão representados por 39 membros dispostos em quatro grupos (A, B, C e D), localizados nos cromossomos 7, 17, 12 e 2, respectivamente, e contém 9 a 11 genes em cada um desses grupos • Estes genes são responsáveis por definir o plano corpóreo básico do embrião em desenvolvimento. Exemplo: no cromossomo 17 foram encontrados genes hoemobox que parecem regular a estrutura do SNC • A expressão dos genes HOX é iniciada na gastrulação O processo de diferenciação não é irreversível · Análogo de um Fator de Crescimento secretado: ✓ O p28sis mitógeno (Análogo ou subunidade ativa do PDGF) fosforila o Fosfatidil- Inositol independentemente de Proteínas G. Ele é codificado pelo gene do Simian Sarcoma Virus ("sis") . · Homólogo de Receptores de Fatores de Crescimento: ✓ O ERB b é uma versão truncada do Receptor do EGF codificado pelo gene do Avian Erythroblastosis Virus ("erb-b"). Esta forma do Receptor não conta com o domínio de captação do EGF extracelular, sendo ativo mesmo na ausência desse fator de crescimento. ✓ O ERB a (p65erb a) é uma forma variante do receptor do hormônio tireoideano · Proteínas Tirosina-Quinases: ✓ 50% de todos os oncogenes estão nessa categoria. ✓ Autofosforilação com feed back Positivo, transformando o IP em PIP2. ✓ Rous Sarcoma Virus("src"); Abelson Murine leukemia Virus ("abl"), vrz, neu, Yamaguchi 73 sarcoma Virus ("yes"), fgr · Proteínas Captadoras de GTP (Proteínas G): ✓ p21ras codificado pelo gene do Rat sarcoma Virus, mimetiza a proteína G. Trata-se de uma unidade a com uma mutação num ponto que modifica tão somente um aminoácido, (substituição de glycina no códon 12) mas que com isso reduz ou mesmo impede a atividade de GTPase, de maneira a impedir também a desativação do sistema do Inositol. É como emperrar uma chave, de maneira a tornar impossível o desligamento... · Proteínas Reguladoras da síntese de PIP2: ✓ Proteínas que estimulam a síntese de Fosfatidil Inositol difosfato (PIP2), conseqüentemente aumenta a síntese e a metabolização do IP3, assim como a liberação de Ca+2. Quando a síntese de PIP2 é bloqueada, ocorre redução do Ca+2 intracitoplasmático. ✓ Rous Sarcoma Virus ("src") e UR2 Sarcoma Virus ("ros") são oncogenes que codificam proteínas com essa atividade. · Proteínas Reguladoras da Transcrição: Nucleoproteínas (Fatores de transcrição) que se conectam ao DNA participando diretamente na sua replicação. ✓ p110myc , codificado pelo gene do Myelocytomatosis Virus; aumenta a síntese de mRNA em 40 vezes, em 45 minutos. ✓ p55fos, codificado pelo gene do FBJ osteossarcoma Virus; aumenta a síntese de mRNA em 40 vezes, em 120 minutos. ✓ p48myb, codificado pelo gene do Avian myeloblastosis Virus ✓ Vírus Linfotrópico-1 de células T (HTLV-1) ✓ A infecção pelo vírus HTLV-1 esta associada ao desenvolvimento de leucemias e linfoma de linfócitos T. ✓ Transmissão principalmente por aleitamento materno, outras vias são sexual e sanguínea. ✓ Apenas 3-5% dos indivíduos afetados desenvolvem leucemias em um período de latência entre 20-30 anos. ✓ O HTLV-1 é um retrovírus que possui um genoma de RNA linear de fita simples que infecta linfócitos T CD4+. ✓ O processo de carcinogênese por este vírus é mediado por mecanismos diretos e indiretos. Diretos → devido à ação dos produtos dos genes virais regulatórios TAX e REX, que se constituem de reguladores transcricionais e pós transcricionais, respectivamente; TAX é uma fosfoproteína de 40kDa que ativa a transcrição das ciclinas A, D2, E, além de genes envolvidos na apoptose. Ela interage com muitos fatores celulares que resultam na transativação de alguns genes e transrepressão de outros, modulando assim o ciclo celular e a apoptose. A proteína REX regula a expressão gênica viral pós-transcricionalmente, aumentando tanto o nível de RNA sem splicing no núcleo quanto a exportação nuclear, expressão dos transcritos sem splicing de gap/pol e transcritos env com splicing, estabilizando assim a tradução das proteínas virais. O gene HBZ de HTLV-1 é transcrito a partir da fita complementar do genoma pró-viral. Quanto aos mecanismos indiretos que podem levar ao desenvolvimento da neoplasia, estes estão associados à imunodeficiência. A perturbação dos mecanismos de vigilância imunológica causada por este vírus deve ser vista como central na indução das neoplasias associadas. Anticorpos contra proteínas virais estão presentes em indivíduos infectados, entretanto ainda não se sabe sobre a influência destes sobre a patogênese associada a essas infecções. Este pequeno vírus de RNA fita simples linear envelopado pertence a família Retroviridae. Sua célula alvo é o linfócito T CD4+. Este vírus associa-se etiologicamente não apenas à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), como também ao sarcoma de Kaposi, ao linfoma não Hodgkin e carcinomas cervical e anal. Embora o genoma viral se encontre integrado ao genoma celular, esse vírus não causa transformação maligna diretamente, já que não possui oncogenes. Entretanto, pela interação direta entre o envelope viral e o receptor celular T CD4+, aliado também ao correceptor de quimiocina CCR5 ou CXCR4-, o HIV-1 infecta e leva à morte de células críticas para a resposta imune efetiva. Entre as neoplasias causadas por infecção com vírus oportunistas estão: sarcoma de Kaposi, causado pelo herpesvírus 8 (HHV-8); linfomas não Hodgkin, causados por EBV; carcinoma cervical e anal, originado após infecção com alguns tipos de HPV. O HCV é um vírus de RNA fita simples linear de polaridade positiva, envelopado, que pertence à família dos Flaviviridae. O vírus está localizado principalmente no fígado, órgão pelo qual possui tropismo. A associação entre a infecção pelo vírus da hepatite C e o desenvolvimento do carcinoma hepático foi recentemente descrita. A infecção por este vírus causa uma inflamação de fígado mais severa que a causada pelo vírus HBV, sendo que 80% dos portadores deste vírus desenvolvem cirrose crônica e carcinoma hepático. Adicionalmente, embora o HCV não codifique nenhum oncogene, tem sido observado que a proteína viral NS3, que tem atividade de helicase e serina protease, liga-se à supressora tumoral p53, além de ser capaz de transformar fibroblastos NIH3T3. O HCV também expressa a fosfoproteína NS5A que, ao interagir com a proteína celular p21, demonstra-se como uma reguladora negativa da expressão de p21 e desencadeia a proliferação celular. O vírus da hepatite B é um vírus de DNA fita dupla circular envelopado que pertence à família Hepadnaviridae. Este se replica pela ação de uma transcriptase reversa para infectar hepatócitos (vírus hepatotrópico). Este vírus expressa três proteínas de superfície (Small Hepatitis B surface protein, SHB, Medium Hepatitis B surface protein, MHB e Large Hepatitis B surface protein, LHB). O carcinoma hepatocelular é um dos cânceres mais comuns no mundo e a infecção por HBV é responsável por 50-90% dos casos de HCC em áreas consideradas de alto risco. O processo de formação de tumor e metástase depende do acúmulo de alterações em dezenas ou até centenas de genes, que podem ser ativados ou inativados por mecanismos genéticos (mutações gênicas, quebras e perdas cromossômicas, amplificações gênicas, instabilidade genômica) e epigenéticos (metilação de DNA, acetilação de Histonas, microRNAs),sendo os oncogenes e os genes supressores de tumor os principais grupos envolvidos nesse processo. Estas alterações podem ser herdadas ou ocorrer em células somáticas. Oncogenes e Genes Supressores de Tumor As alterações genéticas podem ser classificadas em: a) Alterações de grande escala – afetam os cromossomos. Este tipo de mutação pode desencadear a alteração no número de cópias (ex: aneuploidia e euploidia) ou na estrutura dos cromossomos (ex: duplicações, deleções, inversões e translocações cromossômicas). b) Alterações de pequena escala – Afetam um gene, alterando um ou poucos nucleotídeos: • Mutações pontuais: - Silenciosa, troca de um nucleotídeo, porém, sem alterar o aminoácido codificado (isso porque o código genético é degenerado, ou seja, cada aminoácido pode ser codificado por mais de uma trinca de nucleotídeos). Em geral, este tipo de alteração não está associado à doença; - de sentido trocado (missense), troca de um nucleotídeo, acarretando na codificação de outro aminoácido. Pode ou não ser patogênica. - sem sentido (nonsense), troca de um nucleotídeo em um códon que codifica para um aminoácido de terminação, desta forma, a síntese proteíca é interrompida antes do seu término. Geralmente é patogênica. • Pequenas inserções ou deleções (INDELs) de nucleotídeos (ex: frameshift). Este tipo de mutação altera o código de leitura da sequencia de DNA a partir da posição onde foram inseridos ou deletados dos nucleotídeos. Na grande maioria dos casos é patogênica. ✓ O efeito de uma mutação depende do local do genoma em que ocorreu e da função da proteína codificada pelo (s) gene (s) afetado (s). ✓ Na grande maioria dos casos, as mutações relacionadas à doença ocorrem nos éxons. Dentre os genes que participam do processo de carcinogênese, as duas classes mais estudadas incluem os oncogenes e genes supressores de tumor, que controlam de forma positiva e negativa, respectivamente, a progressão do ciclo celular. Alterações nestes genes estão associadas à proliferação celular descontrolada e ao desenvolvimento tumoral. Em uma condição normal, os produtos de ambos, precisam atuar coordenadamente no controle da proliferação, da diferenciação e da morte celylar. De forma geral, dizemos que esses genes atuam de maneira oposta no processo de tumorigênese, de modo que os genes supressores de tumor atuam pela perda de função e os oncogenes atuam pelo ganho de função. Oncogenes são versões alteradas de genes presentes nas células normais, conhecidos como proto-oncogenes, apresentando-se no câncer irregularmente expressos ou mutados em relação aos seus equivalentes normais. Atuam de forma dominante no processo de tumorigênese e alteração em somente uma de suas cópias (alelo materno ou paterno) pode contribuir para o desenvolvimento do fenótipo de malignidade. Os oncogenes codificam proteínas que atuam como fatores de crescimento ou receptores de fatores de crescimento, participam na transdução de sinal, atuam como fatores de transcrição, entre outros. Muitos oncogenes conhecidos codificam proteínas quinases, incluindo receptores de fatores de crescimento com atividade tirosina quinase ou outras proteínas quinases localizadas no citoplasma As alterações nesses oncogenes levam à sua ativação constitutiva, mesmo na ausência de seus ligantes. Os oncogenes podem ser ativados por uma série de alterações genéticas, como rearranjos cromossômicos (translocações, inversões e deleções), amplificações, mutações pontuais e inserção de DNA viral. Alguns exemplos clássicos de oncogenes podem ser citados: ✓ Mutações nas proteínas da família Ras (N-, K-, H-Ras), que permanecem ligadas a GTP, resultando em uma sinalização ininterrupta da membrana ao núcleo e levando à proliferação celular descontrolada e à formação do fenótipo neoplásico maligno; ✓ Translocação entre os cromossomos 9 e 22 (formação do cromossomo Philadelphia) na leucemia mieloide crônica – síntese de uma proteína quimérica BCR – ABL, com atividade de tirosina quinase aumentada; ✓ Amplificação genica de EGFR (ERBB1) resultando em aumento de expressão e ativação constitutiva da atividade de tirosina quinase; ✓ Translocação entre os cromossomos 8 e 14 no linfoma de Burkitt – ativação do oncogene c-MYC, que passa a responder a um forte promotor constitutivo do gene da cadeia pesada de imunoglobulina, altamente expressa em células B. FIGURA 5.4. Proteínas da família Ras são acopladas na face interna da membrana celular e transmitam informações da membrana celular para o núcleo. A proteína Ras está ativa quando combinada com guanosina trifosfato (GTP) e inativa quando ligada à guanosina difosfato (GDP). Ras é convertida ao estado ativo pela troca da GDP pela GTP, estimulada por guanine nucleotide Exchange factor (GEF). Ativa, a as pode ligar-se a outras proteínas que estimulam a via MAP-quinase e dirigir a proliferação e a diferenciação celular. A atividade de Ras é finalizada pela hidrólise de GTP, que é estimulada por proteínas ativadoras de GTPase (GAPs), retornando ao seu estado inativo OS ONCOGENES JÁ CARACTERIZADOS são atualmente classificados em quatro grupos de acordo com seu modo de atuação: 1) os fatores de crescimento; 2) os receptores para fatores de crescimento; 3) os transdutores de sinal; e 4) os fatores de transcrição. 1) Fatores de crescimento: são proteínas que estimulam a célula a se dividir. Na ausência -> G zero; Vários oncogenes codificam proteínas que influenciam o crescimento e a diferenciação celular, na maioria dos casos aumentando a quantidade de proteína produzida. EX: oncogene C-sis, codifica uma das cadeias do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e a célula mutada fica sob controle autócrino, tornando-se menos sensível à regulação externa. Outros: hst2 e int-2 (fibroblastos) 2) Receptores para fatores de crescimento: Receptores são proteínas transmembrânicas, com um domínio externo ao qual se liga o fator de crescimento e um domínio citoplasmático capaz de ativar a cascata de sinalização intracelular. Alterações estruturais ou a superprodução desses receptores tem sido identificadas em alguns tumores resultando na ativação da proliferação celular, mesmo na ausência de estímulo extra celular. Exemplos: Receptor EGF (codificado pelo c-erbB) e o receptor de M- CSF (codificado por c-fms) 3) Transdutores de Sinal: Proteínas localizadas na face interna da membrana citoplasmática. Atuam em vias complexas como transdutoras ou amplificadoras do sinal desencadeado pela ligação do fator de crescimento ao seu receptor.Alterações nos comandos de proliferação podem ocorrer quando essas proteínas sofrem alterações estruturais que fazem com que elas emitam sinais proliferativos, mesmo na ausência de estimulo externo. Exemplos: c-abl e ras. 4) Fatores de transcrição: Proteínas nucleares que agem como fatores de transcrição possuem em sua estrutura domínios protéicos capazes de interagir com a região promotora dos genes, assim como com outros membros do mecanismo de transcrição da célula. Os fatores de transcrição frequentemente relacionados à formação de tumores são as proteínas das famílias myc, fos e jun. Na ausência de fatores de crescimento, esses genes se encontram desligados e seus produtos são indetectáveis na célula; no entanto, na presença destes, os níveis dessas proteínas se acumulam rapidamente no núcleo e são capazes de ativar uma série de genes. As alterações genéticas mais frequentes em oncogenes são as translocações e amplificações. No entanto, mutações pontuais são observadas em alguns casos, como, por exemplo, no oncogene ras. Os genes supressores de tumor, por sua vez, codificam proteínas que estão envolvidas no controle do ciclo celular, reparo de danos ao DNA e indução da apoptose. Além disso, os genes supressores de tumor atuam no processo de tumorigênese de forma recessiva, ou seja, somente há perda de suafunção quando as cópias dos alelos de ambos os cromossomos (paterno e materno) estão alteradas ou deletadas. Os genes supressores de tumor são geralmente inativados por mutações pontuais, deleção, metilação e inserção viral. 1971 → Primeiro gene supressor de tumor foi identificado - RETINOBLASTOMA HIPÓTESE “TWO HITS” → São necessárias duas alterações genéticas (“hits”) distintas envolvendo os dois alelos, para que haja inativação do gene supressor. Nos casos esporádicos de câncer, ambas as alterações ocorrem no tecido afetado ao longo da vida do indivíduo e são, portanto, denominadas mutações somáticas. Nos casos familiares de câncer, uma das mutações é herdada dos pais (mutação germinativa) o segundo “hit” ocorre com uma mutação somática no tecido afetado. Nos casos de retinoblastoma hereditário, mutação germinativa em um dos alelos do gene RB é herdada e está presente em todas as células do indivíduo, mas não é suficiente para o desenvolvimento do tumor, sendo necessária a mutação somática do outro alelo nas células da retina, para o desenvolvimento do tumor. Já nos casos esporádicos, são necessários dois eventos somáticos independentes para a inativação de ambos os alelos e, por isso, é muito mais raro e ocorre em idade mais tardia. Observou-se que a deleção do braço curto do cromossomo 13 estava frequentemente associada ao desenvolvimento de retinoblastomas. A proteína codificada pelo gene RB1 possui 928 aminoácidos, localiza-se predominantemente no núcleo e é expressa na maioria dos tecidos. Essa proteína regula o ciclo celular e na sua forma ativa e capaz de paralisar a célula na fase G0/G1 do ciclo celular, bloqueando o avanço para a fase S. É um dos genes supressores de tumor mais importantes e mais bem estuados. A proteína P53 está envolvida no controle do ciclo células, na apoptose e na manutenção da estabilidade genética. A P53 possui localização nuclear. A maioria das mutações se concentra nos éxons 5 a 8 entre os aminoácidos 130 a 290. Essa região compreende o local de ligação ao DNA. Ela é muito importante na célula, pois atua como “guardiã” do genoma. Ela age na síntese de DNA, durante a divisão mitótica, verificando se a molécula de DNA está integra para que o ciclo celular prossiga. Em células com o p53 mutado ou inativo, há um acúmulo de defeitos genéticos que culminam na transformação maligna, pois não ocorre a apoptose. A p53 é capaz de ativar vários genes celulares que atuam nos processos de integridade genômica e divisão celular. Um exemplo é o gene p21, que é um inibidor de quinases dependentes de ciclinas. Mutações em TP53 são descritas em mais da metade dos tipos de câncer conhecidos. Embora RB e TP53 sejam pertencentes a mesma classe, eles atuam de maneiras distintas. RB atua diretamente no controle d ciclo celular e TP53 atua principalmente na manutenção da integridade do genoma, de modo a pertencerem a subclasses diferentes de genes supressores de tumor, conhecidas como “controladores” e de “manutenção” respectivamente. Uma pequena porcentagem dos tumores (5-10%) está nvolvida com o fator hereditário, ou seja, ocorre a partir de alterações germinativas e que estão presentes em todas as células do indivíduo, conferindo ao seu portador uma maior predisposição em desenvolver diferentes tipos de câncer e/ou manifestações clínicas. A grande maioria dos casos de câncer é esporádica. Nestes casos, o desenvolvimento do tumor depende do acúmulo de diversas mutações somáticas tecido-específicas. Mutações encontradas nas células tumorais são adquiridas ao longo da vida e podem ocorrer em qualquer fase da vida, desde o momento da fecundação do oócito. No processo de divisão celular, o DNA das células normais é constantemente danificado por carcinógenos de origens tanto intrínsecas (ex., oxidação e metabolismo celular) como extrínsecas. A maior parte deste dano é reparada, porém, uma pequena fração pode ser convertida em mutações estáveis ou fixas. As taxas de mutação aumentam na presença de exposições a carcinógenos exógenos químicos (ex., substâncias presentes na fumaça do cigarro e no álcool) ou em várias formas de radiação, incluindo luz ultravioleta. Contudo, isso não significa que todas as mutações somáticas presentes no genoma do câncer estejam envolvidas em seu desenvolvimento e manutenção. A maioria dessas mutações é classificada como passengers, que não conferem vantagem seletiva e foram transmitidas durante a expansão clonal. Atualmente, um dos desafios das pesquisas em câncer consiste em identificar mutações condutoras, também conhecidas como mutações drivers, mutações causais que conferem vantagens proliferativas e são positivamente selecionadas pelo microambiente tecido-específico, ou seja, mutações diretamente envolvidas no desenvolvimento e na progressão da doença. Estudos de sequenciamento do genoma tumoral em larga escala têm possibilitado a identificação de genes, bem como a identificação de novas mutações que possam contribuir para a carcinogênese. Imunologia dos tumores • A relação entre o sistema imunológico e o câncer pode ser ilustrada pela teoria da imunoedição tumoral. • Células natural killers, linfócitos T-helper e T citotóxicos são as principais células efetoras de resposta imune antitumoral. • A evasão imune realizada pelos tumores envolve linfócitos T reguladores, células mieloides supressoras e as moléculas IDO e interleucina 10. Teoria da Imunovigilância tumoral → Atribui ao sistema imunológico a função fisiológica de não somente combater organismos infecciosos, mas também a capacidade de reconhecer células tumorais nascentes nos diversos tecidos, e uma vez tendo-as reconhecido, eliminá-las para impedir que o tumor se estabeleça no organismo. Teoria da Imunoedição tumoral → Sistema imune também pode influenciar na imunogenicidade dos tumores, pois quando originados em animais imunodeficientes eram mais imunogênicos (classificados como “Não editados” pelo sistema imune) do que os tumores desenvolvidos em animais imunocompetentes (“editados” pelo sistema imune). Ou seja, aparentemente as células tumorais imunogênicas são eliminadas pelo sistema imune. Entretanto, durante a tumorigênse, esta imunogenicidade pode ser perdida e o tumor pode então fugir do controle imunológico e progredir mesmo na presença do sistema imune. Essa hipótese é dividida em três fases contínuas e progressivas: eliminação (primeira), equilíbrio (segunda) e evasão (terceira). Entretanto, devido à influencia de fatores externos como condições ambientais, e etc, os tumores podem entrar diretamente na fase de equilíbrio ou evasão, sem passar pela eliminação. FASE DA ELIMINAÇÃO – NK’S Imunidade inata e adaptativa trabalham em conjunto para eliminar tumores nascentes, muito antes de serem clinicamente detectáveis. Se este processo é bem sucedido, o hospedeiro permanece livre de tumores. Essa eliminação ocorre, possivelmente, através da produção de sinais clássicos de perigo durante a fase inicial do desenvolvimento tumoral, tais como DAMPs, HSP e intetrferons do tipo 1. Esses sinais ativam células dendríticas e promovem uma resposta mediada por células T efetoras. Entretanto, componentes do sistema imune inato também tem papel decisivo. Destas, as células natural killer (NK) são as células da resposta imune inata mais bem estudadas. NK → Ausência de CD3 e expressão de CD56 e CD16 na superfície. de algum modo a baixa expressão do complexo de histocompatibilidade nas células-alvo aumentava a atividade citotóxica das células NK -> Uma estratégia frequentemente usada por células tumorais ou células infectadas por vírus é diminuir a expressão de moléculas do MHC para se tornarem menos visíveis ao sistema imune. ✓ O receptor inibitório nomeado KIR, é o responsável pelo reconhecimento do MHC de classe I na célula-alvo. A ligação entre o KIR e o MHC provoca uma série de sinais inibitóriosna NK que impedem o ataque dessa célula. Mas quando o KIR não encontra o MHC, a NK é ativada e elimina a célula-alvo. (TEORIA DO MISSING SELF) ✓ As células tumorais também podem interagir com as células NK de outra importante maneira: ativando-as. Essas interações ocorrem quando as células tumorais externalizam através de ligantes de superfície o estresse que estão sofrendo. O estresse provocado por dano ao DNA, infecção viral ou até transformação celular pela ativação de oncogenes pode induzir a expressão de ligantes cmo MICA, RAET1-D, ULBP1 ou H60. As células NK reconhecem esses ligantes nas células alvo através do receptor NKG2D e são então fortemente ativadas, aumentando a sua atividade citotóxica. (TEORIA DE ALTERED SELF) FASE DO EQUILÍBRIO ✓ O crescimento tumoral nessa fase é combatido principalmente por mecanismos imunes adaptativos. ✓ Células T, interleucina 12, IFN-B, INF-Y são necessários para manter o tumor em um estado de dormência. A edição tumoral ocorre nesta fase, e devido a uma constante pressão seletiva do sistema imune e à instabilidade genética das células tumorais, variantes menos imunogênicas do tumor podem surgir. Estas variantes não serão tão eficientemente reconhecidas pelo sistema imune, ficam resistentes aos mecanismos antitumorais, ou induzem um ambiente altamente imunossupressor propiciando que o tumor fuja do controle imunológico e entre na fase da evasão, em que as células tumorais proliferam, causando a doença câncer em si. ANTÍGENOS TUMORAIS: Antígenos são definidos como proteínas, polissacarídeos ou moléculas nucleares que são capazes de induzir uma resposta imune adaptativa. Três classes de antígenos tumorais têm o potencial de provocar essa resposta imune que é estritamente específica às células tumorais: (i) antígenos virais; (ii) antígenos provenientes de mutações gênicas e (iii) antígenos codificados por genes germinativos. A capacidade que certos vírus, como o HPV e HBV, têm de promover a transformação maligna tem sido considerada como indutora de uma importante classe de tumores, como por exemplo, o carcinoma cervical e o hepatocarcinoma. → expressarão em sua superfície proteínas codificadas pelo genoma Na fase do equilíbrio, as alterações genéticas geram diferentes classes de antígenos tumorais, que modulam a imunogenicidade tumoral e permitem que o sistema imune discrimine o que é normal e o que é tumoral. Esses antígenos são captados por células dendríticas que migram para os linfonodos e apresentam-nos para linfócitos T e B naïves. Uma vez ativados, os linfócitos B passam a secretar anticorpos na circulação sanguínea que podem eliminar as células tumorais por citotoxicidade mediada por anticorpos. No entanto, as células que desempenham um papel central no combate ao câncer são os linfócitos T CD4+ Th1 e T CD8+ citotóxicos, que por meio da secreção de IFN-γ e da via extrínseca de morte por Fas, respectivamente, mantêm o tumor sob controle imune por muitos anos.viral → organismo estranho. FASE DE EVASÃO O câncer pode escapar do controle imunológico por diversos mecanismos. Entre os principais, alterações genéticas podem levar a perda de antígenos imunogênicos, resistência aumentada às vias de citotoxicidade e expressão reduzida de proteínas de MHC. Além desses, os tumores podem escapar também pelo estabelecimento de um ambiente fortemente imunossupressor. Este estado é adquirido pela secreção de citocinas supressoras como TGF-β (transforming growth factor-beta), IDO (indoleamine 2,3-di-oxygenase) e interleucina 10 (IL-10). Além disso, células imunossupressoras como as células T reguladoras e células mieloides supressoras (MDSC – myeloid derived supressor cell) são recrutadas para o microambiente tumoral e fortalecem os mecanismos de evasão imune. Como resultado final o sistema imunológico deixa de funcionar com a barreira extrínseca antitumoral, não sendo capaz de controlar o desenvolvimento do tumor. Em resumo, para o estabelecimento e a progressão de um tumor, as células tumorais precisam superar mecanismos imunes capazes de reconhecê-las e eliminá-las. Para isso, frequentemente os tumores criam um ambiente altamente imunossupressor que frustra muitos dos ataques imunes e promove a sua progressão através de várias interações entre diferentes células do hospedeiro e do tumor. Entre as células do hospedeiro, as células T reguladoras e as mieloides supressoras contribuem fortemente para o estabelecimento desse ambiente supressor. Elas inibem ambas respostas imunes inatas e adaptativas através de diversos mecanismos, como a ativação dos receptores inibitórios CTLA-4, PD1 ou ainda a expressão de citocinas anti-inflamatórias IL-10 e TGF- β. Portanto, essas vias representam um obstáculo a ser superado quando se visa restabelecer a capacidade do sistema imune de combater o câncer. A polipose adenomatosa familiar (PAF) é uma doença hereditária , autossômica dominante ,com penetrância próxima de 100% , causada por uma mutação no Adenomatous polyposis coli (APC) , localizado no cromossomo 5q 21. PÓLIPO → Não causa metástase e não cresce para invadir outro órgão CARCINOMAS → carcinomas colorretais são caracterizados pela presença de displasia epitelial. São tumores malignos que se originam nos tecidos epiteliais O ADENOMA DE RETO → é um crescimento glandular com aspectos benignos e raramente evolui para o câncer ✓ Doença genética complexa que foi descrita pioneiramente por Corvisart em 1847. ✓ A idéia da predisposição hereditária para a formação de múltiplos adenomas e da enorme tendencia para transformação maligna só foi proposta no começo do século passado por J.P.Lockhart-Mummery (1925) em Londres. Consiste numa doença autossômica dominante, caracterizada pelo desenvolvimento de centenas ou milhares de adenomas no recto e no cólon, sobetudo durante a segunda década de vida O CARCINOMA colo-rectal é uma das neoplasias mais frequentes na sociedade ocidental, verificando-se que em cerca de 30% dos indivíduos com este cancro existe uma predisposição hereditária. Existem várias síndromes genéticas que aumentam a predisposição para carcinoma colo-rectal e que podem manifestar- se já na infância, sendo que a mais comum é a polipose adenomatosa familiar. A PAF é classicamente caracterizada pelo desenvolvimento de centenas ou milhares de adenomas no recto e no cólon, sobretudo durante a segunda década de vida. Quase todos os doentes com PAF que não são diagnosticados ou que não sejam submetidos a tratamento adequado desde uma fase precoce, vêm a desenvolver carcinoma colo-rectal. A maior parte dos doentes com PAF apresenta uma mutação no gene APC (adenomatous polyposis coli), que está localizado no cromossoma 5q22. PAF Atenuada → Não tem modificação no gene APC Uma outra forma de vir a desenvolver PAF é através das mutações bi-alélicas do gene MUTYH, que está localizado no cromossoma 1p34. → PAF CLÁSSICA FISIOPATOLOGIA O gene APC é um onco-supressor que está localizado no cromossomo 5q21-q22. Este gene é constituído por 15 exões e o exão 15 possui mais de 75% da sequencia de codificação da proteína APC, correspondendo alvo mais comum tanto para as mutações germinativas como para as somáticas. A proteína codificada pelo gene APC é constituída por 2843 aminoácidos (310KDa) e desempenha um papel fundamental na via de sinalização Wnt. Esta proteína multifuncional possui várias isoformas, surgindo no interior das células com a capacidade de interação com numerosas moléculas diferentes. A APC desempenha a sua função onco-supressora através da regulação negativa da onco-proteína-B-catenina. A activação da proteína APC leva á ubiquitinação e degradação da B-catenina, mantendo, desde modo, os seus níveis normais Contudo na sua ausência ou na sua disfunção, este processo não ocorre e consequentemente há uma acumulação de B- Caterina ao nível do núcleo celular que posteriormente interage com factores que promovem a transcriçãode genes que estão envolvidos em vários processos celylares, nomeadamente a entrada da célula n ciclo celular, proliferação, migração, apoptose e progressão da célula. Desde a identificação do gene APC já foram reportadas mais de 1100 mutações causadoras de PAF, sendo que a maior parte destas resultam numa proteína APC truncada, comprometendo deste modo a sua função. As mutações identificadas mais frequentes são: “nonsense” (28%), pequenas inserções (10%) e pequenas delecções (46%) Como foi referido anteriormente, as mutações bi-alélicas do gene MUTYH originam uma síndrome poliposa. Os doentes com esta síndrome apresentam uma grande variabilidade de manifestações clínicas, mas de um modo geral o número de ólipos adenomatosos presentes é inferior a 100. O gene MUTYH encontra-se no cromossoma 1p34.3-1p32.1 e contém 16 exões que codificam uma proteína com 535 aminoácidos. Esta proteína faz parte do sistema de reparação do DNA por excisão de bases. Este sistema é constituído por 3 proteínas (MUTYH, OGG1 e MTH1) e contribui para a protecção celular contra os efeitos mutagénicos do metabolismo aeróbico, sobretudo a oxidação da guanina que leva à formação de 8- oxoG. A activação deste sistema previne as mutações somáticas induzidas por 8- oxoG que possui uma grande afinidade para a adenina. O MUTYH é especificamente responsável pela remoção das adeninas erradamente emparelhadas com 8-oxoG. É frequente a presença de mutações nos genes APC e KRAS em adenomas ou tumores associados a mutações MUTYH. Uma vez que os doentes com Polipose associada ao gene MUTYH podem apresentar pólipos convencionais ou pólipos serreados foi sugerida a existência de duas vias de carcinogénese distintas, uma que leva ao surgimento de adenomas convencionais, com mutações no gene APC e/ou KRAS e uma outra via não-APC que leva ao desenvolvimento de pólipos hiperplásicos e adenomas serreados e sésseis com mutações KRAS. Já foram detectadas mais de 80 mutações patogénicas no gene MUTYH, sendo a maior parte destas mutações “missense”. A maior parte das mutações ocorrem predominantemente em dois hotspots: p.Y179C no exão 7 e p.G382D no exão 13. FENÓTIPOS - APC Baseado no número de pólipos e a idade de início da doença ✓ PAC Clássica e PAF atenuada PAF CLÁSSICA Apresenta transmissão autossômica dominantes, é caracterizada pela presença de centenas a milhares de pólipos adenomatosos no colón e no recto. Os pólipos que são identificados na adolescência geralmente são de pequenas dimensões, aumentando progressivamente em tamanho e em número. ✓ Cerca de 50% dos doentes com PAF desenvolvem adenomas por volta dos 15 anos, aumentando esta porcentagem para os 95% por volta dos 35 anos. ✓ O carcinoma colo-rectal ocorre inevitavelmente numa idade mais precoce do que nas formas esporádicas, surgindo em média por volta dos 35 anos, mas raramente ocorrem antes dos 20 anos. PAF ATENUADA Corresponde a uma variante da PAF com uma evolução mais benigna, caracterizada por um número mais reduzido de pólipos (10-99), com uma localização preferencialmente à direita do cólon, uma idade de inicio mais tardia e um menor risco de carcinoma colo-rectal (até 70%) FENÓTIPOS – MUTYH PAF atenuada e clássica – mutações bi-alélicas do gene MUTYH em cerca de 1/3 dos casos de PAF ateuada e em cerca de 10% dos casos de PAF clássica CORRELAÇÃO FENÓTIPO-GENÓTIPO De acordo com a correlação entre o genótipo e o fenótipo, a PAF pode ser classificada em 3 categorias: a) Polipose agressiva (início da doença mais precoce, maior número de pólipos e associada a mutações sobretudo do codão 1309), a PAF atenuada (associada a mutações nas extremidades do gene APC) e PAF clássica (corresponde ao fenótipo intermédio, cujas mutações ocorrem nas restantes regiões do gene) b) PAF atenuada (associada a mutações nas extremidades do gene APC) c) PAF clássica (corresponde ao fenótipo intermédio, cujas mutações ocorrem nas restantes regiões do gene) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Podem apresentar hemorragias gastrointestinais, dor abdominal e diarreia, contudo a maior parte permanece completamente assintomática, até surgirem os sintomas de carcinoma colo-rectal. Ao nível do colon e recto, a endoscopia flexível é considerada “Padrão ouro” para rastreio de doentes com PAF, está irá revelar a existência de numerosos pólipos adenomatosos. O número de pólipos é variável e os doentes podem ser classificados como tendo uma polipose ligeira (100-1000 pólipos), ou uma polipose severa (mais de 1000 pólipos). PAF CLÁSSICA → Pólipos apresentam-se como pequenas lesões com relevo e de contornos redondos. PAF ATENUADA → Pólipos apesar de também serem de pequenas dimensões (<1cm), têm uma aparência achatada, apresentando uma elevação mínima da mucosa. A lesão patognomónica da PAF consiste num “adenoma unicriptal”, que corresponde a uma cripta única envolvida por epitélio adenomatoso. O desenvolvimento adenomatoso geralmente inicia-se ao nível do recto e vai progredindo, acabando por envolver toda a mucosa do cólon. A maior parte dos pólipos são tubulares, se bem que alguns podem ser túbulo-vilosos, já as lesões puramente vilosas são raras. Os carcinomas são mais frequentes no cólon esquerdo, contudo podem surgir em qualquer porção do cólon. A maior parte parece desenvolver-se a partir dos pólipos pré-existentes, sobretudo daqueles que possuem maiores dimensões, com ulceração e contornos irregulares, apoiando, deste modo, a sequencia adenoma-carcinoma. Segundo local mais frequentemente envolvido na PAF é o intestino delgado, sendo o duodeno o local mais comum para o surgimento de lesões malignas. A hipertrofia congénita do epitélio pigmentar da retina é uma manifestação extraintestinal muito comum. Este achado benigno ocorre em aproximadamente 70%- 80% dos doentes. Esta lesão é assintomática e não demonstra progressão para malignidade, podendo ser observada através de fundoscopia. A existência de múltiplas lesões destas e com uma distribuição bilateral é uma manifestação típica da PAF, com uma especificidade de 95%-100%. → Considerado um excelente ponto de partida para o rastreio da PAF antes de avançar para os testes genéticos. O carcinoma da tiroide pode também surgir associado à PAF, sendo o tipo papilar o mais frequente nestes doentes. Este geralmente é multifocal e confinado a um único lóbulo. De um modo geral, os carcinomas da tiroide associados à PAF apresentam um comportamento não agressivo, com uma baixa incidência de doença metastática e a uma baixa mortalidade. Os tumores desmóides são um componente importante do fenótipo da PAF e surgem em cerca de 30% dos doentes que possuem uma mutação germinal no gene APC. A proliferação de fibroblastos leva à formação de lesões e tumores no interior do abdómen, podendo envolver o mesentério, a parede abdominal e locais extraabdominais como os membros. DIAGNÓSTICO Deve ser suspeitado em qualquer doente que possua 10 ou mais pólipos adenomatosos, independentemente da colonoscopia ter sido feita por rastreio ou por investigação de sintomas como hemorragias gastrointestinais, dor abdominal e/ou diarreia. Para fazer um diagnóstico definitivo de PAF é necessário recorrer a testes genéticos para a pesquisa de mutações na linha germinativa do gene APC, contudo, previamente aos testes genéticos deve-se oferecer aconselhamento genético aos doentes. Existem vários testes genéticos a que se pode recorrer, nomeadamente a sequenciação total do gene APC (teste com maior sensibilidade mas muito dispendioso), teste da proteína truncada (menos dispendioso mas menos sensível) e a análise de Southern blot. Quanto maior o número de adenomas detectados e quanto mais forte for a história familiar de polipose, maior a probabilidade de se tratar de PAF. Se for detectada uma mutação, devem ser feitos testes genéticos específicos para essa mutação a familiares de risco do doente estudado. Isto inclui todos osparentes em primeiro grau do doente, bem como todos os familiares em primeiro grau daqueles que posteriormente são identificados como portadores da mutação. Aconselhase que as crianças em risco devam fazer rastreio genético por volta dos 10 anos, apesar desta idade poder ser ajustada com base na idade média de surgimento de pólipos na sua família VIGILÂNCIA Os indivíduos com história familiar de PAF devem ser submetidos a aconselhamento genético e a testes de rastreio entre os 10-12 anos de idade, para a identificação de mutações. Posto isto, os doentes com história pessoal de PAF clássica devem ser submetidos a colectomia profiláctica na altura apropriada. Já os doentes sem manifestações mas com história familiar de PAF com uma mutação APC conhecida, devem realizar sigmoidoscopia flexível ou colonoscopia a cada 12 meses a começar entre os 10 e 15 anos. No caso dos doentes que não possuem manifestações, mas têm história familiar de mutação, sem no entanto serem submetidos a testes genéticos, estes devem fazer o seguinte esquema de vigilância: colonoscopias anuais a começar entre os 10-15 anos, sendo que a frequência deve ir diminuindo a cada década em que não se encontre nada. Após os 50 anos, os doentes são aconselhados a realizar sigmoidoscopia a cada 5 anos. Como também já foi referido anteriormente, um dos riscos da PAF, apesar de baixo, é o desenvolvimento de carcinoma gástrico a partir dos pólipos das glândulas fúndicas. Apesar do baixo risco, deve instituir-se um programa de vigilância para o evitar. Sendo assim, está recomendada uma esófagogastroduodenoscopia em indivíduos com PAF a partir dos 25 anos ou então antes da colectomia e esta deve ser repetida a cada 1 a 3 anos Risco de carcinoma no intestino delgado, mais precisamente no duodeno. A vigilância deve ser iniciada por volta dos 20-25 anos, sendo que o estudo endoscópico deve ser realizado a cada 2-3 anos destacam-se as síndromes de câncer hereditário em que o fenótipo característico é o desenvolvimento de câncer, como Câncer Colorretal Hereditário Não Poliposo (HNPCC), Polipose Adenomatosa Familiar (PAF), Retinoblastoma, Síndrome de Câncer de Mama e Ovário Hereditários (HBOC), Síndrome de Câncer de Mama e Colorretal Hereditários (HBCC), Doença de von HippelLindau (VHL), Síndrome de Li-Fraumeni etc. Alguns tipos chamam a atenção por estarem relacionados às formas hereditárias, como câncer de mama triplo negativo, câncer de mama em homens, câncer de ovário, câncer colorretal (com ausência da expressão das proteínas MSH2, MLH1, PMS2 e MSH6), câncer gástrico do tipo difuso e tumores adrenocorticais em crianças. Ainda podemos citar grupos mais suscetíveis a alguns tumores, como por exemplo o aumento da prevalência do câncer de mama e ovário entre pessoas das comunidades judias Ashkenazi e a população do Sul e Sudeste do Brasil, onde existe mais casos da síndrome de Li-Fraumeni, que aumenta o risco para tumores de partes moles, ósseos, mama, glândulas adrenais e entre outros. CÂNCER E HEREDITARIEDADE Câncer Familiar: Freqüência maior de alguma tipo de câncer em uma família porém sem um padrão de transmissão claramente definido. Não existe um fenótipo específico associado. Parece ser múltiplos alelos de baixa penetrância. BRCA 1 e BCRA2 – para câncer de mama - 3% dos Ca de mama Tumores que podem apresentar caráter familiar: Melanomas familiares, cólon, mama, ovário e cérebro, leucemias e linfomas Síndromes neoplásicas Hereditária Dominantes : Herança de uma mutação em um único gene autossômico dominante aumenta o risco de desenvolver câncer – geralmente a mutação é uma deleção de um alelo do gene de supressão tumoral; ou seja a pessoa nasce com a primeira mutação o que aumenta muito o risco de fazer as demais mutações que levam ao câncer Exemplo: Retinoblastoma : os portadores de mutação de um gene(alelo) supressor Rb aumenta em 10000 vezes o risco da criança desenvolver retinoblastoma bilateral e um osteossarcoma secundário. Polipose adenomatosa familiar: mutação de gene APC ✓ Síndrome de Li-Fraumeni: gene p53 – múltiplos tumores ✓ Síndrome do Ca de mama concomitante com Ca de ovário: gene BRCA 1 e 2 ✓ Neurofibromatose gene NF1 e 2 Síndromes do Defeito no Reparo do DNA: Herança autossômica recessivo – herança de uma mutação em um gene de reparo Doenças raras: Xeroderma pigmentosum, Síndroem ataxia-telangiectasia, sídrome de Bloom, e o HNPCC (Ca de cólon não associado à polipose heredo familiar Se caracteriza por múltiplos tumores, portanto as chancer de um ser maligno é muito maior Interações dos fatores genético e Não genéticos: As neoplasia são em sua maioria por fatores ambientais, mas a falta de história familiar NÃO exclui a hereditariedade. Fatores genético e Não genéticos interagem COMO SABER SE UM INDIVÍDUO TEM UMA SÍNDROME DA NEOPLASIA HEREDITÁRIA? LOCALIZAÇÃO DA MUTAÇÃO EM CÉLULAS SOMÁTICAS DE LOCALIZAÇÃO DIFERENTE DO TUMOR EX: SANGUE, FIBROBLASTO, ESFREGAÇO DA MUCOSA ORAL ETC BASES GENÉTICAS -Uma mutação pode ocorrer espontaneamente em uma célula durante o seu crescimento ou desenvolvimento, e esta mutação somática pode resultar em uma proliferação de células contendo material genético alterado (mutado). A maioria dos genes mantém sua função mesmo que um dos alelos seja inativado, portanto, para que haja perda da função gênica, fato que pode levar a um processo de neoplasia, é preciso que ambos os alelos sejam inativados. -No caso do câncer colorretal esporádico, ambos os alelos devem ser desligados por eventos genéticos fortuitos, como mutações somáticas, deleções ou hipermetilação. Via de regra, varias décadas são necessárias para que ambos os alelos dos genes envolvidos com o mecanismo de tumorigênese sejam perdidos e esta pode ser uma das explicações do porquê a freqüência de câncer colorretal esporádico é maior em indivíduos com idade mais avançada. -Uma mutação que ocorra antes ou durante a formação do zigoto é chamada de mutação germinativa e será transmitida para todas as células formadoras do organismo. Portanto, desta forma, uma mutação presente nos gametas pode ser transmitida pelos pais como um defeito hereditário. -Quando, ao nascimento, um dos alelos já está mutado, o alelo normal (selvagem) remanescente é responsável por manter a homeostase. Neste caso, apenas um evento genético esporádico será necessário para "desligar" este alelo selvagem e inativar totalmente o gene. -Portanto, os pacientes portadores de mutações germinativas freqüentemente desenvolvem câncer precocemente e, uma vez que a mutacão está presente em todas as células nucleadas do indivíduo, a doença associada a ela é, na maioria das vezes, multifocal. -Os genes mutados nos diferentes tumores humanos pertencem a três diferentes classes: oncogenes, genes supressores de tumor e genes de reparo de DNA°. -Os oncogenes são genes responsáveis, em uma célula normal, pelo estimulo da proliferação celular. A mutação em um destes genes pode levar ao descontrole da proliferação celular e, conseqüentemente, ao câncer. Os genes supressores de tumor são responsáveis pelo controle do crescimento celular, enquanto as enzimas que monitoram o DNA recém-duplicado e corrigem eventuais erros ocorridos durante a replicação são codificadas por um grupo de genes chamados Genes de Reparo do DNA. ORIENTAÇÕES AO PACIENTE Pólipos: Os pólipos dividem-se em dois grupos: aqueles sem e aqueles com potencial de malignidade. Os primeiros correspondem a 30% de todos os pólipos e não se transformam em câncer. Os pólipos com potencial de malignidade correspondem a 70% de todos os pólipos. Fazem parte desse grupo os pólipos adenomatosos tubulares (75% a 85%), os tubulovilosos (10% a 25%) e os vilosos (5%). Os vilosos são os mais perigosos. Dieta: Definitivamente alguns tipos de alimento causam câncer colorretal. A ingesta de 50 gramas de carne vermelha processada(frios e embutidos) ao dia aumenta em 16% o risco de câncer colorretal. Já o consumo de 100 gramas de carne vermelha ao dia aumenta em 12% o risco. De maneira menos robusta, há associação de dieta rica em gordura e o desenvolvimento de câncer colorretal. Ou seja, muitos tipos de alimentos associados ao estilo de vida ocidental moderno, como alimentos processados e do tipo fast food têm contribuído para o crescente maior número de casos no mundo. Obesidade:A obesidade, em especial, o ganho de peso durante a fase de adulto e meia idade está relacionada ao desenvolvimento de câncer colorretal. Retocolite ulcerativa: É uma doença inflamatória que se instala no intestino grosso, caracterizada por surtos de diarreia, eventualmente sanguinolenta. Alguns estudos sugerem que até um em cada cinco pacientes com retocolite ulcerativa pode desenvolver câncer colorretal. Doença de Crohn: É uma doença inflamatória que também acomete o intestino grosso e provoca sintomas semelhantes aos da retocolite ulcerativa. Portadores da doença de Crohn correm risco duas vezes maior de desenvolver câncer de cólon e de reto, risco menor do que o observado na retocolite ulcerativa. História familiar: Pessoas que tenham um parente de primeiro grau com câncer colorretal correm risco duas vezes maior de desenvolver a doença. Cerca de um em cada cinco pacientes tem outros parentes com esse tipo de câncer. O risco é maior quando o parente é de primeiro grau, tem menos de 50 anos ou quando existem dois ou mais parentes acometidos pela doença. Síndromes genéticas: As duas síndromes mais frequentemente associadas com o câncer colorretal são a polipose adenomatosa familiar (FAP, sigla em inglês) e o câncer colorretal hereditário não polipose (HNPCC, sigla em inglês), também chamado de síndrome de Lynch. O risco de um portador de polipose adenomatosa familiar (causada por uma mutação no gene APC) desenvolver câncer colorretal após os 50 anos pode chegar a 100%. Felizmente, ela é rara, responsável por não mais que 1% de todos os tumores colorretais. O risco de um portador das alterações cromossômicas características das síndromes de Lynch desenvolver câncer colorretal pode chegar a 80%. Felizmente, ela também é pouco frequente, responsável por somente 3% a 4% dos tumores colorretais. Histórico pessoal de tumores colorretais: Cerca de 2% dos que já tiveram câncer colorretal desenvolverão um novo tumor primário em outro local do intestino grosso. Tabagismo: Embora a associação do cigarro com câncer colorretal não seja tão conhecida, como a observada no câncer de pulmão, fumantes correm, não só maior risco de desenvolver a doença, como de morrer por câncer colorretal. Ante a diversidade de fatores – de proteção ou de agressão – é possível estalecer um guia de orientação simples e concisco, dirigido para as medidas preventivas que, na pratica médica, para qualquer moléstia podem ser agrupadas nas seguintes categorias: 1. Medidas cientificamente provadas quanto à eficácia e à segurança ao longo do tempo. 2. Medidas que são efetivas, mas que ao longo do tempo provocam efeitos colaterais indesejáveis 3. Medidas que são provavelmente efetivas e seguras. 4. Medidas que são consideradas inefetivas e, 5. Medidas que não tem base cientiífica nem medida de efetividade e segurança. Para a prevenção do câncer colorretal, o que está cientificamente provado quanto à eficácia e segurança é o exame periódico de coloscopia - acessorada pelo exame proctológico e pesquisa de sangue oculto nas fezes, para todas as pessoas acima de 50 anos de idade, para os menores de 50 anos com história familiar de câncer do intestino grosso ou com sintomas e sinais intestinais suspeitos e para as pessoas com doença intestinal inflamatória ou outros fatores de riscos reconhecidos. Baseado na inibição das prostaglandinas – fator estimulador do crescimento dos pólipos - pelos antinflamatórios não esteroidais e alicerçados na sugestão de resultados de estudo experimentais e epidemiológicos humanos, de que a aspirina e outros antifinflamatórios não esteroidais poderiam ter efeito protetor contra o câncer colorretal, Thun e col123 programaram testar essa hipótese num estudo prospectivo sobre mortalidade numa população de 662500 adultos que usavam aspirina cronicamente. Concluíram da análise dos resultados, que o uso regular de baixas doses de aspirina pode reduzir o risco fatal do câncer colorretal. Esse tipo de informação faz parte da categoria 2. O mais impressionante efeito de antiinflamatório na regressão de pólipos foi demonstrado com o uso do sulindac124, potente inibidor da síntese das prostaglandinas, via Cox-1 e Cox-2, regressão que parece independer da inibição Cox. Contudo, essa droga é contra-indicada numa série grande de situações clínicas, tem efeitos colaterais indesejáveis e freqüentes e, além disso, pouco tempo após suspensão do tratamento, os pólipos reaparecem124(categoria 2). As medidas provavelmente efetivas e seguras, do item 3, reúnem as dietas "balanceadas" com uso limitado, não mais que 10% de gosduras saturadas como fonte energética, com o uso regrado de alimentos altamente calóricos (os carboidratos de um modo geral); com o aumento do consumo de frutas e vegetais, principalmente os ricos em fibras – evitando, se possível, os cereais – com a diminuição da ingestão de carne vermelha submetida a altas temperaturas; com a diminuição ou abolição do consumo de bebidas alcoólicas; com o abandono do hábito de fumar, inclusive na forma passiva; com o aumento das atividades físicas, de forma regular e com o controle do peso corporal. Faz parte, mas são consideradas inefetivas (item 4) a suplementação vitaminica (inclui a vitamina C – apesar das controvérsias - o cálcio e a vitamina D). Nesses casos, se não acertarmos no câncer, estaremos acertando em outras doenças, principalmentes as cardiovasculares que matam tanto quanto ou mais que o câncer colorretal. Por fim, para uso em casos especiais e com caráter individual, temos os testes genéticos para idendificação do risco de câncer hereditário e para o aconselhamento genético destinado às seguintes pessoas: 1. História familiar de câncer envolvendo parente com idade inferior a 50 anos; 2. Pessoas de família com polipose dos cólons; 3. Pessoas de famílias em que vários membros tenham tido câncer do intestino grosso; 4. Pessoas de família em que o câncer aparece em parentes jovens; 5. Pessoas de família com múltiplos cânceres (ovário, útero, mama, tireóide, sistema nervoso central etc.). Estabelecidas todas essas regras, os conselhos gerais a serem difundidos seriam, para todos os tipos de doenças neoplásicas, os seguintes: a. Dieta rica em vegetais e frutas, com baixo teor de gorduras saturadas (não mais que 10% do valor catórico total ingerido) e limitada quantidade de carboidratos de alto teor calóricos ("farinhas brancas" e açúcar, em geral) b. Suplemento diário de cálcio, vitamina D e uso de polivitaminicos que contenha pelo menos 400 mg de acido fólico c. Perder peso – mater o índice da massa corpórea igual ou inferior a 25 d. Atividade física regular como preparo físico para o desempenho das atividades civis e sociais e. Abolir o cigarro e ostentar campanha contra o fumo em ambientes fechados lembrando que ala de fumante e ala de não fumantes em restaurantes não faz diferença alguma; lembrar que é proibido fumar em recintos fechados; f. Aconselhar o paciente a se submeter aos programas de rastreamento de lesões pré-malignas de acordo com o que já está bem estabelecido (pesquisa anual de sangue oculto nas fezes, exame proctológico completo e, a cada 5 anos, a coloscopia. Em suma, o câncer colorretal é prevenível e, também, curável; a chave para para o alcance desses objetivos é relativamente simples e pode ser aplicada em escala populacional, sobretudo se formos capazes de conscientizar cada médico, em particular, independente da sua área especialde atuação e proporcionar às pessoas o mais fácil alcance às inforamações médicas expressas em termos simples sobre a profilaxia e o diagnóstico precoce dessa neoplasia maligna. Problema 03 P.P: Como ajudar as amigas a entender a importância do preventivo e os resultados dos exames? 1. Explicar o protocolo para o rastreio do câncer de colo uterino. (Quais exames são, função de cada exame, indicação de cada, tempo, idade…) (citologia, colposcopia e histológico) 2. Descrever a epidemiologia do câncer de colo no Brasil e no mundo 3. Descrever a fisiopatologia do câncer de colo, sinais e sintomas e diagnóstico. 4. Comparar aspectos normais e patológicos do colo associando aos achados nos exames das amigas. (Ver critérios de malignidade) 5. Descrever a célula neoplásico e como ela se comporta. 6. Explicar o que é o rastreamento e quais os critérios para realização. 7. Explicar a classificação das lesões intraepiteliais relacionadas ao câncer de colo uterino. (Lesão intraepitelial de baixo grau e etc ) 8. Descrever a conduta a ser tomada após análise dos resultados de Francisca e Madalena. 9. Realizar um fluxograma de atendimento do rastreio ao diagnóstico. Compreender histopatologia é fundamental para compreender a biologia do câncer. A análise histopatológica desempenha um papel fundamental na avaliação diagnóstica e prognóstica de tumores, assim como na compreensão das etapas da carcinogênese. Tumor inicial → Tumor Primário Tumores ectópicos desde que com origem no tumor primário → Metástases Tumores Benignos → Não invadem os tecidos adjacentes e crescem localmente Tumores Malignos → Invadem estruturas vizinhas e originam metástases NEOPLASIA Neoplasia é uma palavra que deriva do grego e significa “novo crescimento”, denotando a sua característica básica de ser uma proliferação celular anormal. Hoje, sabe-se que as neoplasias possuem um certo grau de autonomia, tendo o seu crescimento independente dos fatores regulatórios locais. Entretanto, sabe- se também que essas células são dependentes de alguns fatores do organismo, como: o aporte sanguíneo, nutrientes e, em alguns casos, de fatores/receptores hormonais. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, o tumor é um aumento do volume em qualquer parte do corpo. Quando esse tumor é derivado de um crescimento celular, ele é chamado de neoplasia, essa neoplasia, por sua vez, pode ser benigna ou maligna e, quando maligna, é chamada de câncer. Os patologistas são capazes de diagnosticar uma neoplasia (e classifica-la como maligna ou benigna), com base nas características morfológicas do tecido. Todos os tumores, benignos e malignos, têm dois componentes básicos: ✓ Proliferação de células neoplásicas ✓ Proliferação do estroma de suporte constituído por tecido conjuntivo e vasos sanguíneos. Todas as neoplasias possuem duas estruturas em comum: o parênquima e o estroma. O parênquima é formado pelas células neoplásicas e vão determinar o comportamento da neoplasia. Já o estroma vai ser o tecido que vai dar a sustentação e a condição de crescimento à neoplasia, ele é constituído por tecido conectivo, vasos sanguíneos e células inflamatórias e vai envolver as células do parênquima. Dessa forma, essas estruturas mantêm uma comunicação constante fazendo com que haja a manutenção da neoplasia. A proliferação do estroma e o consequentes suprimento sanguíneo adequado são necessários, assim como o fornecimento da estrutura para a proliferação das células tumorais pelo tecido conjuntivo. Várias classificações foram propostas para as neoplasias e a mais utilizada leva em consideração dois aspectos básicos: o comportamento biológico (benigno ou maligno) e a histogênese (célula de origem). NEOPLASIAS BENIGNAS E MALIGNAS De acordo com o comportamento biológico, os tumores são divididos em benignos e malignos. Uma das etapas mais importantes do estudo das neoplasias é estabelecer essa diferença. Os critérios que permitem estabelecer com segurança o diagnóstico são, na maioria dos casos, morfológicos e encontram-se sumarizadas. Diferenciação: Os tumores benignos são geralmente bem diferenciados, enquanto os tumores malignos podem ser desde bem diferenciados a pouco diferenciados. A diferenciação é uma característica das neoplasias benignas, pois as células assemelham-se morfologicamente e funcionalmente com as células do tecido de origem, ou seja, são células ainda com um certo grau de funcionalidade e especialidade. Já a anaplasia é considerada uma característica de malignidade e pode-se dizer que é o contrário da diferenciação. Nesse caso, as células são tão diferentes (desdiferenciadas) de suas células antepassadas que fica difícil até de estabelecer o tecido de origem do tumor. ✓ Bem diferenciados ✓ Indiferenciados A falta de diferenciação, ou anaplasia, é marcada por uma série de alterações morfológicas. a) Pleomorfismo, tanto as células como os núcleos exibem variação no tamanho e na forma; b) Morfologia nuclear anormal, caracteristicamente os núcleos contêm uma abundância de DNA e são extremamente corados de forma escura- hipercromáticos. Os núcleos são desproporcionalmente grandes para a célula, e a relação núcleo-citoplasma pode chegar a 1:! Em vez do normal, 1:4 ou 1:6. A forma nuclear é muito variável, apresentando-se a cromatina muitas vezes agregada e distribuída ao longo da membrana nuclear. Grandes nucléolos estão geralmente presentes nesses núcleos. c) Mitoses, uma característica morfológica das mitoses na neoplasia maligna é o caráter atípico que pode levar à geração de células tripolares, quadripolares ou multipolares; d) Perda de polaridade: para além das anormalidades citológicas, a orientação das células anaplásicas encontra-se nitidamente perturbada. e) Outras características são a formação de células gigantes, algumas possuem apenas um único núcleo polimórfico enorme e outras, dois ou mais núcleos. Crescimento: A taxa de crescimento é também uma característica que permite a distinção entre um tumor benigno e maligno. ✓ Benignos → Crescimento lento e expansivo, possuindo um estroma adequado, com um bom suprimento vascular, raramente mostrando necrose e hemorragia ✓ Malignos → Crescimento rápido com a taxa de crescimento inversamente correlacionada ao seu grau de diferenciação. Devido ao seu carácter infiltrativo, alto índice de multiplicação celular, rapidez e desorganização no crescimento, geralmente apresentam uma desproporção muito grande entre o parênquima tumoral e o estroma vascularizado. Exibem frequentemente extensas áreas de necrose ou hemorragia. Encapsulamento: Os tumores benignos, que são encapsulados por tecidos conectivos, apresentam- se confinados dentro do tecido de origem. Os tumores malignos, por outro lado, podem adquirir a capacidade de penetrar a lâmina ou membrana basal, uma camada extracelular fina de mucopolissacarídeos e proteínas que separa o tecido epitelial dos tecidos conectivos subjacentes, vasos sanguíneos e linfáticos. A capacidade de penetrar a membrana basal leva à invasão local e a destruição do tecido adjacente. Morfologia: Na grande maioria dos casos, um tumor benigno pode ser distinguido de um tumor maligno com grande confiança em função da morfologia. Por vezes, no entanto, uma neoplasia desafia a categorização. O diagnóstico morfológico por si só nem sempre pode predizer o comportamento biológico ou curso clínico de uma neoplasia com certeza absoluta. No entanto, em geral existem critérios morfológicos pelos quais os tumores benignos e malignos podem ser diferenciados, bem como o comportamento dos tumores pode ser previsto Antigenicidade: As células dos tumores benignos, por serem bem diferenciadas, não apresentam a capacidade de produzir antígenos. Por outro lado, as células derivadas dos tumores malignos podem apresentar essa capacidade. Por exemplo, no câncer hepático,as células malignas voltam a produzir antígenos fetais (alfafetoproteína), que normalmente não são produzidos pelos hepatócitos e têm sido utilizados no diagnóstico deste tipo de câncer. Células Estaminais e Linhagens Celulares Cancerígenas: Um tumor clinicamente detectável contém uma população heterogênea de células, que teve origem no crescimento clonal da descendência de uma única célula. No entanto, tem sido difícil identificar as células-tronco tumorais, isto é, as células dentro de um tumor que têm a capacidade de iniciar e sustentar o tumor. Displasia: É encontrada principalmente em epitélios, e é caracterizada por um conjunto de mudanças que incluem a perda de uniformidade das células individuais, bem como uma perda na sua arquitetura espacial. As células displásicas também apresentam um considerável pleomorfismo e muitas vezes contêm núcleos hipercromáticos que são anormalmente grandes para o tamanho da célula. O número de mitoses é mais abundante do que o habitual, embora quase sempre obedeçam a padrões normais. A arquitetura do tecido pode ser desordenada, no entanto estas alterações estão confinadas a uma camada no interior do epitélio. Invasão local: Quase todos os tumores benignos crescem como massas expansivas que permanecem no seu local de origem e não têm a capacidade de infiltração, invasão ou metástase para locais distantes. Ao crescerem, expandem-se lentamente e levam a que se desenvolva uma faixa de tecido compacto, às vezes denominado cápsula fibrosa, que os separa do tecido hospedeiro. Essa cápsula é derivada em grande parte do estroma do tecido nativo, como resultado da atrofia das células parenquimatosas sob a pressão de expansão do tumor. Esse encapsulamento não impede o crescimento tumoral, mas mantém o tumor benigno como uma massa discreta, facilmente palpável e que pode ser cirurgicamente removida. A maioria dos tumores malignos é invasiva e pode, obviamente, penetrar as paredes do órgão. Esses tumores não reconhecem as fronteiras anatômicas normais. Essa capacidade invasiva torna a sua ressecção cirúrgica difícil e, mesmo se o tumor aparenta estar bem circunscrito, é necessário eliminar uma considerável margem de tecido aparentemente normal adjacente ao tumor infiltrativo. Próximo ao desenvolvimento de metástases, a invasividade é a mais fiável característica que diferencia as lesões malignas de benignas. Tem-se observado que alguns cânceres parecem evoluir a partir de uma pré-fase referida como carcinoma in situ. Isso frequentemente ocorre em tumores de pele, mama e alguns outros sítios, sendo o melhor exemplo o carcinoma do colo uterino. Os tumores epiteliais in situ exibem as características citológicas de malignidade, sem invasão da membrana basal. Essas lesões podem ser consideradas um passo inicial de um tumor invasivo, que com o tempo vai penetrar além da membrana basal e invadir o estroma. Metástases: As metástases marcam de forma inequívoca as neoplasias como malignas, porque as neoplasias benignas não metastizam. A capacidade de invasão dos tumores permite que estes penetrem nos vasos sanguíneos e linfáticos e se disseminem por todo o organismo. Em geral, os tumores mais agressivos e de mais rápido crescimento têm uma maior probabilidade devirem a metastizar. A disseminação dos tumores pode ocorrer por diversos mecanismos, entre eles: (1) invasão direta de cavidades ou superfícies corporais; (2) disseminação linfática; (3) disseminação hematogênica. DESENVOLVIMENTO DOS TUMORES É PROGRESSIVO Diferentes estádios podem refletir que estes tumores estão em fases diferentes de evolução, apresentando graus de agressividade e capacidade de invasão distintos. Tumores hiperplásicos → células que são ligeiramente diferente das normais, salientando-se apenas um aumento marcado no número de células. Metaplasia → Alteração mínima encontrada em tumores, presença de um tipo celular distinto que habitualmente não se encontra presente naquele local. Deve- se a uma alteração na diferenciação das células estaminais desse tecido, muitas vezes como resposta a uma agressão prolongada no tempo. Displasia → Habitualmente existem alterações citológicas que incluem variações no tamanho do núcleo, aumento da fixação de corantes ao nível do núcleo, aumento da relação núcleo-citoplasma, aumento da atividade mitótica e perda da estrutura citoplasmática habitual das células diferenciadas. A displasia é considerada uma transição entre um crescimento completamente benigno e um estado pré-maligno. Pólipos ou Papilomas → Alterações que podem ser detectadas a olho nu e contêm todas as células existentes no tecido normal. Ao ser analisado ao microscópio, este tipo de crescimento adenomatoso apresenta características displásicas, no entanto o crescimento é interrompido num determinado ponto e respeita os limites da membrana basal. Até que a membrana basal seja infringida, esta alteração é considerada benigna. Carcinoma in situ → Quando as mudanças displásicas se tornam mais evidentes e envolvem toda a espessura do epitélio, mas a lesão permanece confinada ao tecido normal, é considerado um estádio pré-cancerígeno. Tumor invasivo → Uma vez que as células tumorais avancem além dos limites normais. Tumor Maligno (Câncer) → Invade a membrana basal, o que pela primeira vez põe em risco potencial a vida do hospedeiro. Métodos que possam definir a rapidez do crescimento e a presença ou não de metástases são necessários à avaliação do prognóstico e tratamento a ser instituído. Entre esses métodos, os mais utilizados são a graduação histológica e o estadiamento. Estes sistemas de classificação foram desenvolvidos para expressar, pelo menos em termos semiquantitativos, o nível de diferenciação e a extensão da disseminação de um câncer no doente, como os parâmetros da gravidade clínica da doença. GRADUAÇÃO E ESTADIAMENTO DOS TUMORES MALIGNOS Graduação Histológica: A graduação histológica de um tumor é baseada no grau de diferenciação das células tumorais e no número de mitoses dentro do tumor como presumível correlação entre a neoplasia e a sua agressividade. Isto é, este sistema de classificação é uma medida da anaplasia celular (reversão da diferenciação) na amostra de tumor, e é baseado na sua semelhança com as células do tecido normal que se presume que tenha dado origem ao tumor. Os tumores podem ser classificados como: ✓ Grau I (75 a 100% diferenciados) ✓ Grau II (50 a 70%) ✓ Grau III ( 25 a 50%) ✓ Grau IV ( 0 a 25%) Estadiamento O estadiamento do câncer é baseado no tamanho da lesão primária, no seu grau de disseminação para gânglios linfáticos regionais, bem como na presença ou ausência de metástases por via sanguínea. Este sistema de classificação utiliza o chamado o TNM: tamanho do tumor primário (T); extensão da disseminação para linfonodos regionais (N); presença ou não de metástases (M). O estadiamento TNM varia para cada tipo de câncer, mas existem princípios gerais. Com a crescente dimensão, a lesão primária é caracterizada de T1 a T4, T0 é adicionado para indicar apenas uma lesão no local. N0 significaria o não envolvimento de gânglios linfáticos, enquanto N1 a N3 denotam o envolvimento de um maior número e variedade de gânglios. M0 significa sem metástases distantes, enquanto o M1 ou por vezes M2 indicam a presença de metástases por via sanguínea e um parecer sobre a sua quantidade. A combinação das diversas variantes de T, N e M determinam o estádio clínico do doente que varia de I a IV. Anatomia: O colo é a porção cilíndrica do útero em contato com a vagina. Mede cerca de 3 a 4cm de comprimento e relaciona-se anteriormente com a bexiga, posteriormente com o reto e na parte superior com o corpo uterino. A porção externa do colo ou ectocérvice faz saliência no lúmen da vagina e é revestida pelo epitélio pavimentosoestratificado enquanto as mucosas do canal endocervical e istmo são revestidas por um epitélio colunar simples secretor de muco. A região em que esses dois epitélios se encontram é denominada junção escamo-colunar (JEC). A região próxima da JEC é o local preferencialmente infectado pelo HPV e onde a maioria dos carcionamas invasores do colo do útero se originam. História Natural: O câncer do colo de útero é precedido por mudanças displásicas na JEC conhecidas como neoplasias intra-epiteliais cervicais (NIC) que podem progredir para o câncer invasor. Essas lesões foram descritas no início do século XX e receberam a denominação de displasia (leve, moderada, severa) e carcinoma in situ. Em 1967, Richard introduziu o termo neoplasias intra-epiteliais do colo do útero (NIC), dividindo-as em graus I, II e III de acordo com seu potencial evolutivo. ✓ Displasia leve → Neoplasia intra-epitelial de grau I (NIC I) ✓ Displasia moderada → Neoplasia intra-epitelial de grau II (NIC II) ✓ Displasia acentuada e carcinoma in situ → Neoplasia intra-epitelial de grau III (NIC III) Em 1988, na cidade de Bethesda, um grupo de especialista criou o sistema Bethesda para classificar as alterações citológicas observadas nas lesões intra- epiteliais que precedem o carcinoma invasivo. O câncer do colo do útero tem como causa quase exclusiva a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV), cujo desenvolvimento leva a transformações intra-epiteliais progressivas, seguindo 4 etapas (transmissão do HPV, persistência do vírus, progressão de um clone de células infectadas para uma lesão pré- cancerosa e invasão). Fatores de Risco: Multiplicidade de parceiros com histórico de infecções, a idade precoce na primeira relação sexual e a multiparidade. Outros fatores com papel ainda não conclusivo como tabagismo, alimentação pobre em alguns micronutrientes, principalmente vitamina c, betacaroteno e folato, e o uso de anticoncepcional. Quais os fatores de risco? O fator de risco mais importante para o desenvolvimento do câncer de colo uterino é a presença do vírus HPV (human papillomavirus) com seus subtipos oncogênicos. Mais que 97% dos tumores de colo uterino contêm DNA do HPV. Embora muitos tipos de HPV tenham sido associados com neoplasias anogenitais, os tipos 16, 18, 31, 35, 39, 45, 51, 52, 56 e 58 causam a maioria dos tumores invasivos.(1) Outros fatores associados com o desenvolvimento do câncer de colo uterino incluem início precoce de atividade sexual (< 16 anos), um alto número de parceiros sexuais ao longo da vida e história de verrugas genitais. Pacientes imunossuprimidas usando drogas imunossupressoras também apresentam risco aumentado desta neoplasia. Por fim, um dos fatores de risco mais importantes é o tabagismo ou mesmo exposição ao ambiente do tabaco, pois agentes carcinogênicos específicos do tabaco, presentes no muco e epitélio cervical, podem danificar o DNA das células do colo uterino, propiciando o processo neoplásico. FISIOPATOLOGIA HPV Existem 100 tipos de HPV, dentre os quais 14 são cancerígenos, com destaque para os tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer do colo do útero, sendo, portanto, tipos de alto risco. canal. O HPV acomete justamente a zona T, onde ocorre metaplasia escamosa, em que há diferenciação colunar em escamosa, resultando em neoplasias cervicais na ação do HPV. Qual o quadro clínico, sinais e sintomas do câncer do colo do útero? O tumor de colo uterino se apresenta na sua fase inicial de uma forma assintomática ou pouco sintomática, fazendo com que muitas pacientes não procurem ajuda no início da doença. O câncer de colo uterino cresce localmente atingindo vagina, tecidos paracervicais e paramétrios, com isso, podendo comprometer bexiga, ureteres e reto. A disseminação à distância ocorre principalmente por via linfática, envolvendo inicialmente os linfonodos pélvicos, e, após, os para-aórticos. A apresentação clínica depende principalmente da localização e extensão da doença. A paciente pode referir secreção vagina amarelada fétida e até sanguinolenta, ciclos menstruais irregulares, spotting intermenstrual, sangramento pós-coital e dor no baixo ventre. Nos estádios mais avançados, a paciente pode referir dor no baixo ventre mais importante, anemia, pelo sangramento, dor lombar, pelo comprometimento ureteral, hematúria, alterações miccionais, pela invasão da bexiga, e alterações do hábito intestinal, pela invasão do reto. As pacientes podem sentir dores na coluna lombar e bacia pélvica, pelo comprometimento, às vezes, da parede pélvica. Diagnóstico clínico e exames complementares ✓ O exame citopatológico é o método de rastreamento do câncer do colo do útero, indicado para a população alvo de 25 a 64 anos, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos normais (INCA, 2016; 2021) ✓ A colposcopia é um exame de diagnóstico onde, através de um aparelho chamado colposcópio (que possui lentes de aumento parecido com um binóculo), examinamos o Trato Genital Feminino. A Colposcopia e a citologia oncótica cérvico/vaginal (Papanicolau) são complementares. ✓ Quando a colposcopia indica a presença de alterações na parede do útero, o médico irá então pedir a realização de um exame de um exame histopatológico – BIOPSIA. Epidemiologia e Prevenção: O câncer do colo do útero é a segunda neoplasia mais comum entre mulheres no mundo sendo responsável, atualmente, por cerca de 500 mil casos novos e pelo óbito de aproximadamente 230 mulheres. Quase 80% dos casos novos ocorrem em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento devido principalmente à falta de um programa de rastreamento adequado. No Brasil é a segunda neoplasia maligna mais frequente no sexo feminino; O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo. Em 2018, foram 570 mil novos casos (84% dos novos casos no mundo). No Brasil, excluídos os de tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres. Para o ano de 2023 foram estimados 17.010 casos novos, o que representa uma um risco considerado de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2022). Mato Grosso do Sul tem uma taxa estimada de 17,73 casos para cada 100 mil mulheres. Na análise regional, o câncer do colo do útero é o primeiro mais incidente na região Norte (26,24/100 mil) e o segundo nas regiões Nordeste (16,10/100 mil) e Centro-Oeste (12,35/100 mil). Já na região Sul (12,60/100 mil) ocupa a quarta posição e, na região Sudeste (8,61/100 mil), a quinta posição (INCA, 2019). Estima-se que o tempo médio entre a lesão inicial e a fase clínica seja de 10 a 15 anos, permitindo um alto potencial de prevenção e cura. A prevenção do câncer do colo de útero é realizada por meio de um exame ginecológico chamado Papanicolau (citopatológico do colo do útero). O objetivo principal é diagnosticar as lesões pré-malignas do câncer do colo do útero. O exame citopatológico também pode identificar condições não neoplásicas como infecção ou inflamação. O INCA orienta coleta anual para mulheres sexualmente ativas principalmente entre 25 e 59 anos de idade e após 2 exames consecutivos anuais normais e coleta a cada 3 anos. RASTREAMENTO Cobertura, periodicidade e população-alvo Cobertura: Atingir alta cobertura da população definida como alvo é o componente mais importante no âmbito da atenção primária, para que se obtenha significativa redução da incidência e da mortalidade por câncer do colo do útero. Países com cobertura superior a 50% do exame citopatológico realizado a cada três a cinco anos apresentam taxas inferiores a três mortes por 100 mil mulheres por ano e, para aqueles com cobertura superior a 70%, essa taxa é igual ou menor a duas mortes por 100 mil mulheres por ano. Periodicidade: Reunião de Consenso, em 1988 definiu que, no Brasil, o examecitopatológico deveria ser realizado em mulheres de 25 a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais consecutivos negativos, a cada três anos. A rigor, adotou-se para o Brasil a recomendação da OMS na época. População-alvo: É consenso que mulheres que nunca tiveram relação sexual não correm risco de câncer do colo do útero por não terem sido expostas ao fator de risco necessário para essa doença: a infecção persistente por tipos oncogênicos do HPV. Quanto a idade. O estudo da IARC, acima mencionado, estimou que, ao iniciar o rastreamento aos 25 anos de idade, e não aos 20 anos, perde-se apenas 1% de redução da incidência cumulativa do câncer do colo do útero. A esses resultados, que mostram ineficiência ou baixa eficiência do rastreamento em mulheres com menos de 25 anos, agregam-se dois fatos: o primeiro é que há evidências de que o câncer do colo do útero que é diagnosticado em mulheres muito jovens é mais agressivo e inclui tipos histológicos mais raros do que no grupo etário 25-29 anos. O segundo fato é que a citologia com diagnóstico de lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) em mulheres com menos de 25 anos corresponderia mais frequentemente à NIC II do que a NIC III23 (evidência moderada). As NIC II em mulheres muito jovens tendem a ter comportamento evolutivo semelhante à lesão de baixo grau, com significativas taxas de regressão espontânea. RECOMENDAÇÕES: O método de rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras é o exame citopatológico. Os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual e, se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada 3 anos. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual. Os exames periódicos devem seguir até os 64 anos de idade e, naquelas mulheres sem história prévia de doença neoplásica pré-invasiva, interrompidos quando essas mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos. Para mulheres com mais 64 anos de idade e que nunca se submeteram ao exame citopatológico, devese realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos os exames forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais. Situações especiais: Gestantes: O rastreamento em gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como para as demais mulheres, devendo sempre ser considerada uma oportunidade a procura ao serviço de saúde para realização de pré-natal. Mulheres na pós-menopausa: Mulheres na pós-menopausa, sem história de diagnóstico ou tratamento de lesões precursoras do câncer de colo uterino, apresentam baixo risco para desenvolvimento de câncer. Mulheres na pós- menopausa devem ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais mulheres. Histerectomizadas: Mulheres submetidas à histerectomia total por lesões benignas, sem história prévia de diagnóstico ou tratamento de lesões cervicais de alto grau, podem ser excluídas do rastreamento, desde que apresentem exames anteriores normais. Em casos de histerectomia por lesão precursora ou câncer do colo do útero, a mulher deverá ser acompanhada de acordo com a lesão tratada. Imunossuprimadas: O exame citopatológico deve ser realizado nesse grupo de mulheres após o início da atividade sexual com intervalos semestrais no primeiro ano e, se normais, manter seguimento anual enquanto se mantiver o fator de imunossupressão. Mulheres HIV positivas com contagem de linfócitos CD4+ abaixo de 200 células/mm3 devem ter priorizada a correção dos níveis de CD4+ e, enquanto isso, devem ter o rastreamento citológico a cada seis meses. Inflamação sem identificação de agente: É caracterizada pela presença de alterações celulares epiteliais, geralmente determinadas pela ação de agentes físicos, os quais podem ser radioativos, mecânicos ou térmicos, ou, ainda, químicos como medicamentos abrasivos ou cáusticos, quimioterápicos e acidez vaginal sobre o epitélio glandular. Ocasionalmente, podem-se observar alterações decorrentes do uso do dispositivo intrauterino (DIU), em células endometriais e mesmo endocervicais. o. Os achados colposcópicos comuns são ectopias, vaginites e cervicites. Resultado citológico indicando metaplasia escamosa imatura: A palavra “imatura”, em metaplasia escamosa, foi incluída na Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos buscando caracterizar que essa apresentação é considerada como do tipo reparativa. Recomendação: Seguir a rotina de rastreamento citológico Resultado citológico indicando reparação: Decorre de lesões da mucosa com exposição do estroma e pode ser determinado por quaisquer dos agentes que determinam inflamação. É, geralmente, a fase final do processo inflamatório. Recomendações: Seguir a rotina de rastreamento citológico Resultado citológico indicando atrofia com inflamação: Na ausência de atipias, é um achado fisiológico após a menopausa, o pós-parto e durante a lactação. Existem evidências apontando para dificuldade em se fazer o diagnóstico diferencial entre atrofia vaginal e lesões intraepiteliais escamosas de baixo e alto grau. Recomendação: Seguir a rotina de rastreamento citológico. Na eventualidade do laudo do exame citopatológico mencionar dificuldade diagnóstica decorrente da atrofia, a estrogenização deve ser feita por meio da via vaginal com creme de estrogênios conjugados em baixa dose (0,5 g de um aplicador, o que contém 0,3 mg do princípio ativo) ou estriol vaginal, um grama com aplicador vaginal toda noite, durante 21 dias. A nova citologia será coletada entre cinco a sete dias após a parada do uso. Nas pacientes com história de câncer de mama ou outras contraindicações, o uso de estrogênios deve ser avaliado para cada paciente individualmente. O esquema recomendado pode ser o mesmo utilizado para as mulheres da população geral, como descrito acima pelo período máximo de 21 dias. Resultado citológico indicando alterações decorrentes de radiação ou quimioterapia: Esse achado pode ocorrer nos casos de mulheres tratadas por radioterapia pélvica. A quimioterapia também pode afetar as células do colo do útero. O esfregaço mostra células anormalmente aumentadas, com núcleos que parecem discarióticos, porém os demais elementos celulares presentes na amostra aparentam ser perfeitamente normais. Recomendações: Seguir a rotina de rastreamento citológico. A radioterapia ou a quimioterapia prévias devem ser mencionadas na requisição do exame. Achados microbiológicos: − Lactobacillus sp. − Cocos. − Outros Bacilos. São considerados achados normais, pois fazem parte da microbiota normal da vagina. Na ausência de sinais e sintomas, a presença desses microorganismos não caracteriza infecção que necessite tratamento. Recomendação: Seguir a rotina de rastreamento citológico. A paciente com sintomatologia, como corrimento, prurido ou odor genital anormal, na presença de agentes patogênicos (Gardnerella/mobiluncus sp, Trichomonas vaginalis, Candida sp) deve ser abordada conforme diretriz específica. Citologia com células endometriais normais fora do período menstrual ou após a menopausa: A presença de células endometriais espontaneamente esfoliadas, numa amostra citopatológica obtida fora do período menstrual ou de mulher na pós-menopausa, sem uso de terapia hormonal, ainda que mostrando aparência típica, demanda investigação da cavidade endometrial visto a possibilidade de sinalizarem uma anormalidade glandular no endométrio. Recomendações: Seguir a rotina de rastreamento citológico.. Avaliar indicação de investigação da cavidade endometrial. Categoria de diagnóstico citopatológico criada pelo Sistema Bethesda em 1988. O termo células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS – atypical squamous cells of undetermined significance) foi definido como achados citológicos caracterizados pela presença de alterações celularesinsuficientes para o diagnóstico de lesão intraepitelial, mas alterações mais significativas do que as encontradas em processos inflamatórios. . Como a nova categoria apresentava limitações por não definir se as alterações citológicas eram regenerativas ou neoplásicas, houve uma revisão dessa classificação em 2001. Essa categoria foi então reclassificada em células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASC-US) e células escamosas atípicas de significado indeterminado não podendo excluir lesão intraepitelial de alto grau(ASC-H). Essa subclassificação foi adotada pela Sociedade Brasileira de Citopatologia a partir de 2002, com as seguintes categorias: células escamosas atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas (ASC-US), em correspondência com a classificação ASC-US de Bethesda, e células escamosas atípicas de significado indeterminado não podendo excluir lesão intraepitelial de alto grau, como no Sistema Bethesda. Atualmente, as categorias de ASCUS, independente de sua subclassificação, representam a atipia citológica mais comumente descrita nos resultados dos laudos citopatológicos do colo do útero. Segundo dados registrados no Siscolo, em 2013, no Brasil, esses diagnósticos citológicos representaram 1,6% de todos os exames realizados e 57% de todos os exames alterados. A prevalência desse diagnóstico citológico no Brasil foi de 1,4% entre todos os exames realizados e de 48,8% considerando-se apenas os resultados alterados, em 2013. Entre as mulheres com esse diagnóstico, é observada prevalência de NIC II/III em 6,4% a 11,9% dos casos e de câncer, em 0,1% a 0,2%. A prevalência desse diagnóstico citológico no Brasil foi de 0,2%, entre todos os exames realizados, e de 8,8%, considerando-se apenas os resultados alterados em 2013.. Estudos revelam frequência de lesão de alto grau entre 12,2% e 68% e de câncer em torno de 1,3% a 3% nas mulheres com citologia de ASC-H. Células glandulares atípicas A prevalência desses diagnósticos citológicos no Brasil, em 2013, foi de 0,13%, entre todos os exames realizados, e de 4,7%, considerando-se apenas os resultados alterados. Apesar da baixa prevalência de AGC e da variabilidade dos estudos, esse diagnóstico se torna relevante pela possibilidade de tratar-se de neoplasia intraepitelial escamosa, AIS, adenocarcinoma invasor do colo uterino, adenocarcinoma do endométrio e, mais raramente, neoplasia extrauterina, além de outras derivações mullerianas. Achados de benignidades, como hiperplasia microglandular, adenose vaginal, pólipos endometriais, endocervicais, quadros inflamatórios, endometriose, efeitos radiógenos, gestação, uso prolongado de progestágenos, artefatos da própria escovação, metaplasia tubária, uso do DIU e alterações reativas (após conização, cauterizações ou biópsias) também podem ser responsáveis por essas atipias celulares. A categoria origem indefinida foi introduzida na Nomenclatura Brasileira de Laudos Cervicais destinada àquelas situações em que não se pode estabelecer com clareza a origem da célula atípica. A permanência dessa categoria na Nomenclatura Brasileira é importante para contemplar os casos que apresentam dificuldade na diferenciação segura entre uma lesão escamosa presente no interior de glândulas e uma lesão glandular. Além dessas condições, podem estar presentes outras neoplasias, primárias ou metastáticas Essa categoria tem baixa prevalência no Brasil. Segundo dados do Siscolo, foram registrados em 0,43% dos exames alterados e em 0,012% de todos os exames realizados em 2013. A prevalência de LSIL foi de 0,8% de todos os exames citopatológicos realizados no Brasil, em 2013. Considerando-se apenas os exames anormais, a prevalência de LSIL foi de 27,6%, representando o segundo diagnóstico citopatológico mais frequente e demandando investigação ou acompanhamento adicionais, precedida apenas pela categoria ASC-US. A LSIL representa a manifestação citológica da infecção causada pelo HPV, altamente prevalente e com potencial de regressão frequente, especialmente em mulheres com menos de 30 anos. Uma metanálise de estudos publicados após 1970 estimou que 47,4% das LSIL regridem após 24 meses; mas, mais importante, apenas 0,2% das mulheres com esse diagnóstico citológico evoluem para o carcinoma invasivo. A prevalência desse diagnóstico citopatológico no Brasil foi de 0,26% de todos os exames realizados e de 9,1% de todos os exames alterados em 2013. Cerca de 70% a 75% das mulheres com laudo citopatológico de HSIL apresentam confirmação histopatológica desse grau de doença e em 1% a 2%, de carcinoma invasor. . Os métodos de escolha para a abordagem dessas lesões têm sido os excisionais; pois, além de permitirem diagnosticar os casos de invasão não detectados pela citologia ou pela colposcopia, servem de tratamento quando a lesão é intraepitelial. Os diagnósticos citopatológicos de lesão de alto grau não podendo excluir microinvasão ou carcinoma epidermoide invasor são infrequentes: foram registrados no Brasil, em 2013, respectivamente, em 0,03% e 0,01% dos exames citopatológicos considerados satisfatórios e em 0,9% e 0,5% de todos os exames alterados. No Sistema Bethesda, a categoria lesão de alto grau não podendo excluir microinvasão existe apenas como uma observação a ser mencionada em casos de HSIL. Em consequência, existe apenas um estudo que demonstra um risco significativamente maior de lesão pré-invasiva e invasiva nesses casos em relação a HSIL. O carcinoma microinvasor constitui o estadiamento IA da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e também é denominado microcarcinoma. A prevalência do diagnóstico citopatológico de AIS ou invasor no Brasil foi menor do que 0,01% entre todos os exames realizados em 2013 e ocorreu em 0,29% de todos os exames alterados nesse ano. Todavia, 50% dos casos de AIS podem coexistir com lesões escamosas pré-invasivas ou carcinoma invasivo. Aproximadamente 48% a 69% das mulheres com laudo citopatológico sugestivo de AIS apresentam confirmação da lesão no exame de histopatologia e, dessas, 38% apresentam laudo de invasão. Propagação e Disseminação das Neoplasias Metástases: Formação de uma nova lesão tumoral a partir da primeira, mas sem continuidade entre as duas. A formação de metástase é um processo complexo que depende de inúmeras interações entre células malignas e componentes dos tecidos normais, especialmente do estroma. A formação de metástases envolve: 1. Destacamento das células da massa tumoral original 2. Deslocamento dessas células através da matriz extracelular (MEC) 3. Invasão de vasos linfáticos ou sanguíneos 4. Sobrevivência das células na circulação 5. Adesão ao endotélio vascular no órgão em que irão se instalar 6. Saída dos vasos nesse órgão (diapedese) 7. Proliferação no órgão invadido 8. Indução de vasos para o suprimento sanguíneo da nova colônia ✓ Esses processos ou etapas dependem de alterações na expressão de vários genes e de sinais gerados no estroma, não só do tumor como também do órgão em que a metástase se forma. TEORIA DA SEMENTE E DO SOLO SOLO: NICHO PRÉ-METASTÁTICO Nas metástases ocorrem os seguintes fenômenos: a) Destacamento de células tumorais do tumor primitivo Caderinas (associadas a B-catenina) são as moléculas de adesão envolvidas na aderência de uma célula a outra. O destacamento de células tumorais depende de profundas modificações na expressão de moléculas de adesão: Perda de algumas caderinas (Caderina E), expressão de caderinas N e R e mudança na expressão de integrinas, com inibição das que mantêm as junções entre as células e expressão daquelas que aumentam a ancoragem das células à matriz extracelular, favorecendo a emissão de pseudópodes para deslocamento. Tumoresepiteliais: Destacamento por meio de células isoladas ou em blocos celulares. O destacamento de células individualizadas faz-se por meio do processo chamado transição epiteliomesenquimal (TEM), em que células epiteliais perdem a característica de epitélio (mudança em caderinas e integrinas, inibição da expressão de ceratinas) e adquirem propriedades de células mesenquimais móveis (expressam moléculas de células mesenquimais, como vimentina, SMA-a, e proteínas G monoméricas da família RHO, indispensáveis para o deslocamento). A TEM induz resistência a apoptose após perda de adesão (apoptose induzida por perda de adesão é conhecida como anoiquia). Indução de TEM é bastante complexa e envolve fatores de transcrição como B-catenina e SNAIL (Inibidor de caderina E), através de mutações genéticas e epigenéticas b) Deslocamento de células isoladas O deslocamento de células isoladas que sofreram TEM faz-se por movimentos ameboides, com lançamento de pseudópodes orientados por agentes quimiotáticos que têm várias origens: 1. Na própria célula cancerosa (fator autócrino de motilidade) 2. No estroma, a partir da degradação de componentes da matriz 3. Em células do estroma (Fibroblastos e leucócitos que produzem quimiocinas para as quais as células tumorais tem receptores) CXCR 4 e 6 são receptores expressos em muitos tumores e relacionam-se com a progressão tumoral. Exemplo – Carcinoma de próstata - Expressão de receptores para quimiocinas CXCR 4 e 6 facilita a colonização em ossos em que os agonistas desses receptores (CXCL 12 e CXCL 16) são produzidos em grande quantidade. c) Deslocamento de células em bloco sem transição epiteliomesenquimal: Em tumores epiteliais, as células podem invadir a matriz em blocos ou em faixas que se destacam e se deslocam na MEC através de vias adequadamente formadas. Tais células permanecem aderidas umas as outras, sem terem sofrido TEM. Os mecanismos desse deslocamento são menos conhecidos, mas sabe-se que depende da criação de vias na MEC (por ação de metaloproteases) e da expressão de moléculas na membrana das células que permanecem aderidas no bloco, de modo a permitir modificações no citoesqueleto de todas as células do conjunto, facilitando o deslocamento. Enzimas hidrolíticas do grupo de metaloproteases (MMP), que desestruturam a rede de macromoléculas presentes no caminho. Tais enzimas são produzidas pelas próprias células tumorais ou células normais (fibroblastos, macrófagos) induzidas por células malignas. A atividade de MMP é modulada por ativadores e inibidores. Inibidor mais conhecido: TIMP Moléculas TIMP inibem expressão de MMP. Quanto mais TIMP menor a invasividade de células tumorais. Muitas células neoplásicas são capazes de notável mudança de sua conformação espacial, podendo deslocar-se entre fibras da MEC sem destruí-las, por meio do chamado movimento ameboide. d) Invasão de vasos sanguíneos e linfáticos Células tumorais, isoladas ou em blocos, deslocam-se em direção aos vasos sanguíneos e linfáticos, atraídas por quimiocinas produzidas por células endoteliais (CCL 19 e CCL 21) que atuam em receptores CCR 7 expressos nas células tumorais Macrófagos produz MMP e fator de crescimento para células tumorais Células tumorais produzem CFS que atua em receptores de macrófagos do tumor, ativando-os a produzir e secretar MMP e) Sobrevivência de células tumorais na circulação Ativação da coagulação sanguínea → Ativação de plaquetas → Capa de fibrina sobre as células tumorais, protegendo-as dos efeitos lesivos da resposta imunitária. Experimentalmente, o uso de anticoagulantes reduz a formação de metástases. 99% das células tumorais na circulação morrem; Trombocitopenia ou tratamento com heparina reduz o número de metastáses f) Saída de células tumorais circulantes para os órgãos e formação de novas colônias A célula precisa ter molécula de adesão para aderir ao endotélio. Essa etapa ocorre ainda no tumor primitivo, onde a célula tumoral sai “endereçada” para um determinado órgão. A saída do vaso depende de quimiotáticos produzidos no órgão de destino. Exemplo: No carcinoma colorretal, as células deixam o tumor primitivo expressando o receptor MET e a selectina E; esta permite adesão ao endotélio de sinusoides hepáticos, enquanto o receptor MET é ativado pelo HGF produzido por hepatócitos e induz migração das células tumorais para o lóbulo hepático. Células tumorais pouco diferenciadas migram para nichos (medula óssea) de onde se alojam e depois migram para os tecidos definitivos. g) Instalação, sobrevivência e proliferação de células tumorais em diferentes órgãos A maioria das células tumorais que caem na circulação morre, enquanto pequeno número extravasa para a MEC, onde podem ou não formar novas colônias. A formação de lesões secundárias depende de a célula extravasada encontrar um nicho adequado em que possa proliferar e formar novos vasos sanguíneos – ou seja, a semente implantada só origina metástase se o solo for adequado. Muitas vezes, a própria célula tumoral secreta fatores que estimulam células do órgão a produzir fatores de crescimento, quimiocinas e citocinas que favorecem o desenvolvimento da nova colônia. Células do carcinoma mamário produzem CSF-GM, IL-6 e TNF-a, que recrutam precursores da linhagem monocítica que se diferenciam em osteoclastos; estes iniciam a reabsorção óssea e a liberação de fatores de crescimento e citocinas que criam um nicho favorável para a sobrevivência e a proliferação de células tumorais que formam metástases osteolíticas. h) Nicho Pré-Metastático ✓ Célula tumoral induz modificações a distância no órgão alvo ✓ Esta mudança antecede a saída das células na circulação ✓ A formação deste nicho indica local de instalação da metástase ✓ Fatores sinalizadores envolvidos: VEGF, PIGF, TNF-α e TGF-β. Eles mobilizam células precursoras mieloides na medula óssea e induzem a produção da proteína S100. Esta exerce efeito quimiotático sobre os precursores mieloides VEGF+, atraindo-os para os espaços peribronquiolares, onde se forma o nicho pré-metastático. ✓ Chegam também ao nicho lisil-oxidase e fibronectina, originadas no tumor primitivo, que induzem modificações na MEC necessárias para facilitar a colonização de células tumorais. ✓ Os precursores mieloides produzem TNF-a r TGF-B que estimulam fibroblastos locais a secretar MMP e fatores de crescimento ✓ A produção de CXL 12 E CXL 16 pelas células precursoras mieloides é responsável pelo quimiotatismo de células tumorais que aderiram ao endotélio já ativado, expressando maior quantidade de selectina E. A expressão de certos genes para metástases pode favorecer o aparecimento de metástases e explicar por que dentro de um mesmo tumor há clones com potencial metastático diferente. Genes promotores de metástase: • H-RAS, o qual, transfectado para células NIH, confere potencial metastático. • MTA-1 e 2., só expressos em tumores metastáticos e em linhagens de células malignas com capacidade de metastatização. Genes supressores de metástases: • Transfecção do gene 2E1a de adenovírus, por exemplo, suprime a ação metastatizante de células malignas transformadas pelo oncogene RAS. • miRNA comporta-se como supressor de metástases (ex: carcinoma de mama) VIA DE DISSEMINAÇÃO DAS NEOPLASIAS a) Via Linfática ✓ Principal via de disseminação de carcinomas ✓ 1º sítio – linfonodo sentinela (Ex: Linfonodos do hilo pulmonar de um câncer de pulmão; Linfonodos axilares no câncer de mama) ✓ Algumas metástases “saltam” o sentinela ou até os linfonodos mais próximos (ex: metástases supraclaviculares de um câncer gástrico) ✓ Linfonodos acometidos, em geral, aumentam de volume ✓ Nem todo aumento de volume significa metástase b) Via Sanguínea ✓ As que penetram podem ir a qualquer parte do corpo ✓ 99% das células tumorais na circulação morrem ✓ Células tumorais podem ser detectadas nacirculação ✓ Grande número na fase de progressão do tumor ✓ Exemplos: Tumores de órgãos tributários do sistema porta dão metástase inicialmente no fígado; ✓ Cânceres localizados próximos a coluna vertebral (ex: tireoide), as células malignas podem ganhar o plexo venoso paravertebral e originar metástases nas vértebras. c) Outras vias ✓ Canais, ductos ou cavidades naturais ✓ Quando atingem a pleura ou peritônio, por exemplo, células neoplásicas podem originar metástases na serosa ou nos órgãos subjacentes Aspectos Imunitários das Neoplasias ✓ Células neoplásicas possuem antígenos capazes de induzir resposta imunitária. Taís antígenos, que são codificados pelo genoma da célula tumoral ou dos vírus associados às neoplasias, pertencem às seguintes categorias: ✓ antígenos normais das células de origem, incluindo os de diferenciação celular (p. ex., antígenos do sistema ABO podem ter epítopos alterados, de modo que um indivíduo do grupo A pode ter adenocarcinoma do estômago com antígeno O). ✓ Antígenos normais encontrados nas células de origem mas só durante o período embrionário, como os antígenos oncofetais. Não suscitam resposta imunitária relevante contra o tumor, mas são úteis como marcadores para diagnóstico e acompanhamento dos pacientes. - Principais representantes: - Carcinoembrionário (CEA) – Cânceres do sistema digestivo (colón, pâncreas e estomago) – também encontrado em doenças benignas - a-fetoproteína (AFP) - câncer hepático ou tumores germinativos do testículo – presente em doenças benignas também. ✓ Antígenos codificados por vírus associados a tumores (ex: Proteína E7 do HPV). Esses antígenos podem localizar-se no núcleo, no citoplasma ou na membrana citoplasmática. Os antígenos virais são sempre os mesmos nos diferentes cânceres produzidos pelo mesmo vírus, até em diferentes espécies. ✓ Antígenos específicos de tumores (TSA), ou seja, neoantígenos que não existem nas células não neoplásicas correspondentes. Derivados de: (1) expressão de genes que, nas células normais, são inativos. (ex: Genes MAGE encontrados em melanomas e etc); (2) mutações gênicas que ocorrem em neoplasias ✓ Antígenos expressos em células germinativas (antígenos câncer-testis). CTAs são muito expressos em melanomas, carcinoma da bexiga e carcinoma de células não pequenas do pulmão, moderadamente expressos em carcinomas da mama e da próstata e pouco expressos em carcinomas colorretal e renal. São conhecidas várias famílias (p. ex., MAGE, NY- ESO, GAGE, BAGE, RAGE), IMUNOLOGIA & CÂNCER ➔ Burnet e Thomas, 1957 – teoria da vigilância imunológica Imunoedição no câncer Processo que se desenvolve em três fases durante a carcinogênese: 1) Eliminação 2) Equilibro 3) Escape Fase de Eliminação: Sistema imunitário é estimulado e gera macrófagos ativados, linfócitos Tγδ, células NK e linfócitos T CD8+, que são capazes de eliminar o tumor (policiamento). Fase de Equilíbrio: Clones cancerosos possivelmente selecionados pela resposta imunitária conseguem sobreviver, proliferam, mas são mantidos sob controle da resposta imunitária, que elimina grande parte das células proliferadas e mantém o equilíbrio entre células que proliferam e células que são eliminadas. Fase de escape: clones selecionados conseguem escapar da resposta imunitária e cooptam as células desse sistema a tornar o microambiente tumoral mais favorável ao desenvolvimento do câncer. A resposta imunitária inata é ativada precocemente na carcinogênese. No local em que está ocorrendo a transformação maligna, DAMPs induzem a liberação de mediadores para iniciar a resposta imediata (inflamação), que faz o reconhecimento e a eliminação do clone transformado. Não se conhecem quais são esses DAMPs, mas admite-se que, em epitélios, moléculas mutadas nas células transformadas estimulam linfócitos Tγδ residentes, os quais produzem citocinas e quimiocinas que atraem células NK, NKT e dendríticas que fazem o reconhecimento das células transformadas e montam uma resposta adequada para sua eliminação, mediante ativação de linfócitos T CD4+ e T CD8+. A resposta inata, imediata, por meio de células NK e NKT, inicia a inibição do tumor nascente. IFN-γ e quimiocinas induzidas por células Tγδ, NK e NKT (CXCL 9, 10 e 11, que recrutam linfócitos T) não só favorecem a apoptose das células transformadas como também inibem a angiogênese, indispensável para a sobrevivência do tumor. A participação de outros linfócitos da imunidade inata (iLC2 e iLC3) é ainda pouco conhecida no câncer. Linfócitos B são ativados com cooperação de linfócitos T CD4+ e produzem anticorpos. A resposta inicial é do tipo Th1, com predomínio de linfócitos T CD4+ e T CD8+, produção de IFN-γ, recrutamento e ativação de macrófagos, o que cria um microambiente capaz de eliminar células cancerosas, embora estas tornam-se mais diϐíceis de reconhecer pela variação antigênica de que são capazes. As células cancerosas alteram a glicosilação de proteínas do glicocálice, aumentando a expressão de resíduos de ácido siálico, N-acetil galactosamina e resíduos de fucose (antígenos Lewis). Esses glicanos ativam receptores inibidores expressos em: (a) NKC e LT citotóxicos (receptores SIGLEC), reduzindo a citotoxicidade; (b) células dendríticas e macrófagos (receptores DC-SIGN e MGL), favorecendo a sua diferenciação em células dendríticas supressoras (tolerogênicas) que expressam ligantes de receptores inibidores e em macrófagos M2, que produzem metaloproteases que favorecem o deslocamento das células tumorais e produzem VEGF, favorecendo a angiogênese. O ciclo de replicação do genoma do HPV pode ser dividido em três estágios: primeiro, a replicação amplificacional do genoma viral após a entrada inicial; em segundo lugar, replicação de manutenção estável em proliferação de células infectadas, que envolve a segregação e partição dos plasmídeos virais em células filhas após a divisão celular; e, em terceiro lugar, a replicação amplificada do genoma viral na diferenciação de queratinócitos não divididos, que fornece os genomas virais que serão empacotados e liberados na forma de vírions.. Para integrar-se ao DNA celular, é necessário que haja uma quebra no genoma viral. Esta separação não ocorre de forma aleatória, pois a maioria ocorre nas regiões E1 e E2 do vírus. O resultado dessa quebra é uma perda de função desses dois genes, acompanhada de uma desregulação dos genes E6 e E7, resultando em transformação da célula hospedeira. Em particular, foi demonstrado que E6 interage com a proteína p53 e E7 com a proteína pRb, causando desregulação do ciclo celular.18 Essas duas proteínas atuam prevenindo a transformação celular, interrompendo sua divisão e proliferação Embora o alvo principal de E6 e E7 sejam p53 e pRb, respectivamente, muitas pesquisas mostraram que há muitos outros alvos de E6 e E7 que permitem que os tipos de HPV de alto risco sejam tumorigênicos. Câncer de Mama EPIDEMIOLOGIA Carcinomas são os principais tumores malignos da mama. Carcinoma mamário é a neoplasia maligna visceral mais frequente e a principal causa de morte por câncer em mulheres no mundo todo. A mais recente estimativa mundial, de 2020, aponta que, no mundo todo, ocorreram 2,25 milhões de novos casos da doença, representando 24,5% de todos os tumores malignos em mulheres. No Brasil, a Estimativa de Incidência de Câncer do Instituto Nacional do Câncer aponta que ocorrerão 66.280 mil casos novos de câncer de mama para cada ano do triênio 2020- 2022, representando 30% dos tumores malignos em mulheres. Esse valor corresponde a um risco estimado de 61,6 casos novos a cada 100.000 mulheres. No Brasil, na região Sudeste a frequência é de 81,1 casos/100.000 mulheres,enquanto na região Norte é de 21,3 casos/100.000 mulheres. O câncer de mama é a principal causa de óbito por câncer em mulheres no mundo inteiro, com cerca de 685.000 mortes estimadas em 2020 (15,5% dos óbitos por câncer em mulheres). É a segunda causa de morte por câncer em países desenvolvidos, atrás somente do câncer do pulmão, e a principal causa de morte por câncer nos países em desenvolvimento. No Brasil, foi a primeira causa de morte por câncer na população feminina (14,23 óbitos/100.000 mulheres, 16,1% do total de óbitos) em 2019, tendo as regiões Sul e Sudeste as maiores taxas (16,14 e 15,08 óbitos/100.000 mulheres), respectivamente. O câncer de mama é raro antes dos 35 anos, crescendo rápida e progressivamente com a idade, sendo descoberto, principalmente, entre 40 e 60 anos. Há referência de que a doença vem atingindo um maior número de mulheres jovens. FATORES DE RISCO Fatores de risco elevado (risco relativo quatro vezes maior) Idade superior a 50 anos País de origem (Estados Unidos, norte da Europa e Escandinávia) História familiar: Câncer em parentes de primeiro grau e história de câncer na pré-menopausa. BRCA 1 e 2 Síndromes genéticas: Li-Fraumeni, ataxia-telangiectasia e outras Hiperplasia atípica (especialmente quando associada a história familiar) Fatores de risco Moderado (risco relativo de duas a quatro vezes maior) Qualquer antecedente familial de CA de mama Estimulação estrogênica prolongada: nuliparidade, menarca precoce, menopausa tardia, primeira gestação tardia (após 35 anos) História pessoal de CA do ovário ou do endométrio Exposição à radiação ionizante Hiperplasia ductal usual (sem atipias) Fatores de risco baixo (risco relativo de uma a duas vezes maior) Reposição hormonal na menopausa Ingestão de álcool Obesidade após a menopausa Estatura elevada na adolescência História de doença benigna da mama ETIOLOGIA E PATOGÊNESE Os principais fatores envolvidos no aparecimento do carcinoma da mama são: a) Hormônios Estrógenos estimulam a produção de fatores de crescimento, além de promoverem a proliferação celular. Carcinomas com células positivas para receptores de estrógeno respondem ao tratamento com antagonistas de estrógenos, reforçando o papel desses hormônios nas células malignas. − Estudos sugerem risco aumentado com a administração da terapia combinada, se o uso for superior a cinco anos, mas o efeito desaparece cinco anos após a parada da medicação. O risco pode ser mais importante em mulheres com maior IMC. b) Alterações genômicas, sobretudo 1. Inativação de genes supressores de tumor: BRCA-1, BRCA-2, TP53 e PTEN); 2. Amplificação do gene HER2, que codifica a proteína HER2, um receptor de membrana com atividade tirosino-cinase envolvido no estímulo exagerado da divisão celular. Anticorpos anti-HER2 bloqueiam sua ação indutora na proliferação celular e tem bons resultados no tratamento de várias neoplasias 3. Os produtos dos genes BRCA1 e BRCA 2 são proteínas envolvidas no reparo do DNA. Defeitos nesses genes aumento a chance de mutações gênicas serem mantidas nas células e de originar neoplasias 4. O produto do gene PTEN inibe a via PI3K-AKT, funcionando, portanto, como um dos freios da divisão celular. Sua inativação → proliferação celular aumentada. 5. Proteína p53, guardiã do genoma e codificada pelo gene TP53, é a principal repressora da divisão celular, além de estimular a apoptose. CLASSIFICAÇÃO Os carcinomas da mama são classificados segundo dois parâmetros: ➔ Aspectos morfológicos. Quanto a localização e a extensão, os carcinomas são classificados em in situ e invasivo. ➔ Achados moleculares: 1. tumores luminais, que se originam de células que podem expressar receptores de estrógeno (RE) e/ou receptores de progesterona (RP); 2. tumores HER2+; 3. tumores basais, que são triplo-negativos, ou seja, não expressam RE, RP e HER2 CARCINOMA IN SITU É definido como proliferação epitelial maligna restrita aos ductos ou dúctulos mamários, sem invasão do estroma. Até há pouco tempo, o carcinoma ductal in situ (CDIS) constituía somente pequeno número dos carcinomas mamários diagnosticados (0,8 a 5%). Graças ao uso da mamograϐia como método de rastreamento, a frequência de carcinoma in situ chega hoje a 25% de todos os cânceres da mama. Achados mamográficos: microcalcificações agrupadas e pleomórficas, com distribuição segmentar. Outras alterações como densidade assimétrica, lesão espiculada e presença de nódulos associam-se mais a neoplasia invasiva. CARCINOMA DUCTAL IN SITU É o tipo de carcinoma in situ mais frequente na mama. A lesão é formada por células coesas, com distribuição segmentar e confinada ao sistema ducto-lobular. Há vários subtipos histológicos, como sólido, cribriforme, micropapiplar, papilar e comedocarcinoma. No entanto, somente os subtipos comedocarcinoma e micropapilar têm relevância clínica, o primeiro por se associar mais comumente a focos de invasão e o segundo pela tendencia à multicentricidade. Comedocarcinoma (carcinoma ductal in situ com comedonecrose) é tumor de alto grau nuclear associado a necrose extensa no interior do ducto. Microcalcificações são frequentes e podem ser detectadas por mamografia, que é capaz de sugerir esse diagnóstico. Quando extensa, comedonecrose pode ser visível macroscopicamente como pontos brancos ou amarelados que drenam material necrótico quando se faz compressão do espécime. SINAIS E SINTOMAS São considerados sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama e de referência urgente para a confirmação diagnóstica: ✓ Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos. ✓ Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual. ✓ Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade. ✓ Descarga papilar sanguinolenta unilateral. ✓ Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos. ✓ Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral. ✓ Presença de linfadenopatia axilar. ✓ Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja. ✓ Retração na pele da mama. ✓ Mudança no formato do mamilo PROGNÓSTICO Marcador prognóstico é definido como qualquer elemento capaz de informar, no momento do diagnóstico, a evolução da neoplasia. Marcador preditivo é aquele que fornece informações para a seleção de pacientes potencialmente capazes de responder a tratamentos específicos. O protótipo de marcador preditivo são receptores hormonais, que predizem resposta à terapêutica hormonal adjuvante. Fatores prognósticos incluem parâmetros tradicionais como idade ao diagnóstico, estádio da doença, tamanho, tipo e grau histológico do tumor, margens cirúrgicas, invasão angiolinfática e metástases linfáticas e sanguíneas. A mortalidade em 10 anos em pacientes com câncer precoce (estádio TNM T1a/bN0M0) é de 4%. Sobrevida de cinco anos cai de 95% para 85% quando há linfonodos regionais comprometidos e para 25% diante de metástases a distância. a) Envolvimento axilar: É o fator de prognóstico de maior impacto: Metástases axilares associam-se a menor sobrevida. ✓ Nº de linfonodos envolvidos tem importância também ✓ Procurar metástases ocultas por meio de imuno-histoquímica ou PCR b) Tamanho do tumor: Quando maior o tumor, maior é o número de células malignas e maior a probabilidade de surgirem clones com capacidade metastática. ✓ Em casos axila-negativos, tumores menores que 1 cm muito raramente metastatizam a distância e, em geral, não requerem terapia adjuvante; tumores maiores que 3 cm têm taxa de recidiva elevada e necessitam de terapia adjuvante. c) Tipo histológico: Carcinomas compadrão histológico especial em 90% da neoplasia são considerados um tipo de tumor especial puro. ✓ Os carcinomas tubular, mucinoso e cribriforme puros associam-se a excelente prognóstico. ✓ Carcinomas invasivos de tipo não especial e aqueles com padrões mistos têm pior prognóstico. ✓ Carcinomas micropapilares e metaplásicos são mais agressivos. d) Grau Histológico: O sistema de graduação histológica recomendado é o de Nottingham, que avalia três características: formação tubular, pleomorfismo nuclear e índice mitótico. e) Índice proliferativo: Tem boa correlação com sobrevida e período livre de doença. O índice pode ser determinado por citometria de ϐluxo, que avalia a fase S do ciclo celular, ou por imuno- histoquímica, usando os marcadores MIB-1/Ki-67. ✓ Tumores com índice proliferativo elevado têm comportamento mais agressivo. Em carcinomas RE-positivos, positividade em mais de 10% de células indica melhor resposta a inibidores de aromatase. Os locais mais comuns de metástases dos tumores de mama são os pulmões, ossos e fígado. Entretanto, a doença pode também se disseminar para outras partes do corpo como cérebro, cavidade abdominal, ovários e pele. “analisar os locais mais acometidos por metástase à distância no câncer primário da mama, sendo em 51% dos casos o osso, seguido de 17% para o pulmão, 16% para o cérebro e 6% para o fígado”. DIAGNÓSTICO ✓ Exame físico ✓ Exames complementares de rastreamento ✓ Estadiamento − radiografia de tórax – realizada para diagnosticar se a doença se disseminou para os pulmões; − tomografia computadorizada – detecta a disseminação do câncer de mama para outros órgãos; − ressonância magnética – proporciona uma visão mais abrangente e profunda do tecido mamário; − ultrassom – mapeia o órgão e tecidos para identificar o alcance da doença; − tomografia PET Scan – consegue identificar as células cancerosas pela aplicação de glicose, que estimula a atividade dessas células; − cintilografia óssea – mostra se a doença se disseminou para os osso e diagnosticar pequenas áreas de disseminação da doença não visualizadas num raio-X. RASTREAMENTO O rastreamento pode ser oportunístico ou organizado. No primeiro, o exame de rastreio é ofertado às mulheres que oportunamente chegam às unidades de saúde, enquanto o modelo organizado convida formalmente as mulheres na faixa etária alvo para os exames periódicos, além de garantir controle de qualidade, seguimento oportuno e monitoramento em todas as etapas do processo. A experiência internacional tem mostrado que o segundo modelo apresenta melhores resultados e menores custos (Brasil, 2021). Mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama: Mamografia a cada dois anos, para mulheres de 50 a 69 anos. ➔ Não se recomenda mais o autoexame das mamas; Orientar apenas a analisar mudanças e conscientização BIOPSICOSSOCIAIS Diante dessa nova realidade, é importante que o paciente aceite o diagnóstico, suas limitações e aprenda a conviver com o câncer, reconhecendo suas perdas e adaptando-se a esse novo marco que divide um antes e depois da doença instalada Um indivíduo acometido pelo câncer necessita mobilizar recursos psicossociais para lidar com o estresse advindo após o diagnóstico. A doença apresenta significativas transformações tanto físicas quanto psicológicas e a pessoa acaba sendo exposta às mais diversas condições ao longo de todas as fases do adoecimento. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA O princípio do respeito à pessoa é central na bioética. Tem algumas características que o compõe, tais como a privacidade, a veracidade e a autonomia. “A autonomia da vontade é a constituição da vontade, pela qual ela é para si mesma uma lei - independentemente de como forem constituídos os objetos do querer. O princípio da autonomia é, pois, não escolher de outro modo, mas sim deste: que as máximas da escolha, no próprio querer, sejam ao mesmo tempo incluídas como lei universal” Kant, 1785 Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir na direção desta deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar a consideração sobre as opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudiciais para outras pessoas. Virtualmente, todas as teorias concordam que duas condições são essenciais à autonomia: ✓ o liberdade (independência do controle de influências) e ✓ o ação (capacidade de ação intencional) Ninguém está capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da ordem pública. Da mesma forma, a assistência à saúde básica é uma condição para o exercício da autonomia. A autonomia, um dos princípios bioéticos descritos pelos autores Beauchamp e Childress (2013, p. 137), corresponde à capacidade das pessoas de decidir sobre ou buscar algo que seja melhor para si segundo os seus próprios valores e, para que isso ocorra, o indivíduo deve ser livre para decidir, sem coações externas de controle que influenciem as suas decisões, bem como deve possuir consciência, razão e compreensão das opções que lhe são ofertadas. O respeito à autonomia envolve o respeito aos direitos fundamentais do indivíduo, considerando-o um ser biopsicossocial e espiritual, dotado de capacidade para tomar suas próprias decisões. Existe algo na natureza humana que resiste a ser coagido e forçado a agir. Ironicamente, às vezes, o reconhecimento do direito da liberdade do outro de não mudar é o que torna a mudança possível. Rollnick, Miller e Butler Distanásia é o contrário da eutanásia: consiste em utilizar todos os meios possíveis para prolongar de forma artificial a vida de um doente moribundo, sem que haja qualquer esperança de cura. Também se considera distanásia a morte em más condições de apoio humano e clínico, associada à dor e sofrimento, causando desconforto e incomodo significativos. Obstinação terapêutica é uma intervenção médica já inadequada à situação real do doente, gravosa para este e família e/ou desproporcionada face aos resultados expectáveis. A obstinação conduz à distanásia. “Se você tratar uma doença você ganha ou você perde. se você tratar uma pessoa eu garanto, você vai ganhar, não importa o resultado” Patch Adams ESTADIAMENTO DO CÂNCER É um sistema de classificação anatômico utilizado para tumores sólidos que é universalmente aceito, simples e de fácil aplicabilidade. É revisado a cada 4 anos. O sistema de estadiamento utilizado para o câncer de mama é o sistema TNM da American Joint Committee on Cancer (AJCC). O sistema AJCC mais recente (janeiro/ 2018) usa sistemas de estadiamento clínico e patológico para o câncer de mama: O estágio patológico, também denominado estágio cirúrgico, é determinado pela análise da amostra do tecido removido durante a cirurgia. Se a cirurgia não for possível, o tumor recebe o estadiamento clínico, que está baseado nos resultados do exame físico, biópsia e exames de imagem. O estágio clínico é usado no planejamento do tratamento. No entanto, quando a doença está disseminada o estágio clínico não tem a mesma precisão que o estágio patológico para prever o prognóstico da paciente. Nos dois sistemas de estadiamento, 7 critérios principais são usados: T. Indica o tamanho do tumor primário e se disseminou para outras áreas. N. Descreve se existe disseminação da doença para os linfonodos regionais. M. Indica se existe presença de metástase em outros órgãos, como pulmões ou fígado. ER. O tumor é receptor de estrogênio. PR. O tumor é receptor de progesterona. HER2. O tumor tem a proteína HER2. G. O grau do câncer indica o quanto as células cancerígenas se parecem com células normais. O estadiamento TNM varia para cada tipo de câncer, mas existem princípios gerais.Com a crescente dimensão, a lesão primária é caracterizada de T1 a T4, T0 é adicionado para indicar apenas uma lesão no local. N0 significaria o não envolvimento de gânglios linfá- ticos, enquanto N1 a N3 denotam o envolvimento de um maior nú- mero e variedade de gânglios. M0 significa sem metástases distantes, enquanto o M1 ou por vezes M2 indicam a presença de metástases por via sanguínea e um parecer sobre a sua quantidade. Os tumores sólidos tem capacidade de invadir tecidos circunjacentes. Continuidade: propagação do tumor, por extensão local (continuação pelas estruturas); ex: carcinoma epidermoide de esôfago invadindo o estômago Contiguidade: quando o tumor que está em um órgão invade outro órgão ou tecido que se encontra imediatamente ao lado. Ex: tumor de parede anterior do reto que infiltra a próstata e bexiga Implantes: câncer de ovário, em que células neoplásicas podem se desprender do tumor e implantar na superfície de qualquer outro órgão O estadiamento do tumor leva em consideração três eventos importantes na história natural do câncer: O tamanho e/ou grau da extensão local do tumor primário (T) A presença ou ausência de metástases para linfonodos regionais (N) Presença ou ausência de metástase a distância (M) Estadiamento Clínico: Ex: câncer de mama inflamatório o diagnóstico é puramente clínico Estadiamento clínico leva em consideração dados sobre a história e exame físico, mas muitas vezes utiliza métodos complementares, como endoscopias e métodos de imagem. Estadiamento cirúrgico: Ex: câncer de ovário Estadiamento Patológico Linfonodo Sentinela (LNS): É o primeiro linfonodo a receber drenagem linfática do tumor primário. Pode ser identificado com ajuda de corante (azul patente) que ao ser injetado ao redor do tumor, atinge os vasos linfáticos locais e cora o LNS, podendo ser biopsiado. SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS Constituem manifestações clínicas que não podem ser explicadas apenas pela existência de um tumor em determinado local (tumor primário ou metástase) ou por substâncias produzidas no órgão de origem da neoplasia. Manifestações Endócrinas: Por desrepressão de certos genes, células tumorais passam a produzir hormônios não sintetizados no ótgão de origem do tumor. Por esse motivo, fala-se em produção ectópica de hormônios. Os exemplos mais conhecidos são: − Síndrome de Cushing: Aparece em alguns tipos de câncer, principalmente carcinoma de pequenas células do pulmão. Células tumorais produzem ACTH ou peptídeos com atividade biológica semelhante, o que resulta em estimulação excessiva da cortical da suprarrenal. − Hipercalcemia: Deve-se a produção de substâncias com ação biológica semelhante à do paratormônio → reabsorção óssea excessiva e aumento de cálcio na circulação. O TGF-a, produzido por certos tumores, também é implicado na hipercalcemia, pois in vitro é capaz de estimular osteoclastos. Carcinomas de células escamosas do pulmão e carcinomas de mama, rim e ovário são associados a esse achado. Manifestações hematológicas: Alguns tumores (hepatocarcinoma, hemangioblastoma do cerebelo, leiomioma uterino etc) podem produzir eritropoetina e, consequentemente, eritrocitose. Mais importante, porém, é a anemia que acompanha muitos cânceres (quando não há causa direta aparente). Outra manifestação hematológica é o estado de hipercoagulabilidade sanguínea em pessoas com câncer. Células neoplásicas ou produtos de sua destruição contêm fatores pró-coagulantes que favorecem a formação de trombos. Trombose associada a câncer é manifestação clínica frequente e pode apresentar-se em forma de coagulação intravascular disseminada, endocardite trombótica abacteriana ou tromboflebite migratória (Síndrome de Trousseau). Manifestações neuromusculares: Podem surgir sinais e sintomas de degeneração cerebelar, demência, neuropatia periférica e manifestações semelhantes às da polimiosite e miastenia gravis. Os mecanismos responsáveis por esses quadros são desconhecidos. Outras manifestações: Dedos em baqueta de tambor e osteoartropatia hipertrófica aparecem em pacientes com alguns cânceres, principalmente broncopulmonar. Acantose nigricante é lesão caracterizada por hiperceratose e hiperpigmentação cutânea; pode apresentar-se como doença genética, que é rara, ou, mais frequentemente como manifestação paraneoplásica. O critério mais adotado para se dar nome a um tumor é o histomorfológico, pelo qual a neoplasia é identificada pelo tecido ou célula proliferante. Algumas regras são importantes: (1) o sufixo -oma é empregado na denominação de qualquer neoplasia, benigna ou maligna; (2) a palavra carcinoma indica tumor maligno que reproduz epitélio de revestimento; quando usada como sufixo, também indica malignidade (p. ex., adenocarcinoma, hepatocarcinoma); (3) o termo sarcoma refere-se a uma neoplasia maligna mesenquimal; usado como sufixo, indica tumor maligno de determinado tecido (p. ex., fibrossarcoma, lipossarcoma etc.); (4) a palavra blastoma pode ser usada como sinônimo de neoplasia e, quando empregada como sufixo, indica que o tumor reproduz estruturas com características embrionárias (nefroblastoma, neuroblastoma etc.) Na forma mais usual de denominar um tumor, toma-se o nome da célula, do tecido ou do órgão reproduzido e acrescentam-se os sufixos - oma, -sarcoma ou -carcinoma: lipoma (tumor benigno que reproduz lipócitos); hemangioma (tumor que reproduz vasos sanguíneos); condrossarcoma (tumor maligno que forma cartilagem); TRATAMENTO CÂNCER MULTIDISCIPLINAR − Três modalidades principais: cirurgia, radioterapia e quimioterapia − Cirurgia e radioterapia: controle local da doença − Quimioterapia: sistêmica O emprego da radioterapia e quimioterapia aliadas a cirurgia, pode aumentar a chance de cura para os 2/3 dos pacientes com câncer que apresentam a doença não detectável ao término do tratamento cirúrgico. CIRURGIA A cirurgia é a modalidade terapêutica mais antiga no tratamento do câncer. ✓ Vantagens: Capacidade de cura em um determinado grupo de pacientes que apresenta doença localizada ✓ Desvantagem: Riscos e morbidades advindos dos procedimentos cirúrgicos, perdas de função ou deformidades e a incapacidade de curar casos com a doença a distância. No planejamento cirúrgico, o diagnóstico, estadiamento e as condições clínicas do paciente são fundamentais. O estadiamento é primordial para o manejo dos tumores malignos e tem como objetivos: ✓ Ajudar o médico no planejamento terapêutico ✓ Ajudar na avaliação dos resultados do tratamento ✓ Indicar o prognóstico ✓ Contribuir para a pesquisa sobre o câncer Os tumores passiveis de ressecção adequada devem inicialmente ser submetidos a tratamento cirúrgico. Quimioterapia e radioterapia adjuvantes dependem do tamanho do tumor, grau de malignidade, localização e situação microscópica das margens cirúrgicas. Algumas razões para o emprego da quimioterapia e radioterapia neoadjuvantes nos sarcomas de partes moles: A) Em virtude do alto índice de metástase dessas neoplasias, especula-se que o tratamento sistêmico precoce seja benéfico; B) Dependendo da efetividade do quimioterápico e da resposta tumoral ao mesmo pode-se realizar uma ressecção oncológica adequada; C) Após a ressecção, pode-se analisar a efetividade da droga em função do grau de necrose tumoral. CONCEITO: O tratamento adjuvante é feito com o objetivo de destruir as células cancerígenas que possam ainda estar presentes no organismo após essa intervenção. Já o tratamento neoajuvante é realizado antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o tamanho ou a extensão do tumor antes da intervenção principal. CIRURGIA CURATIVA: ✓ Excisão local com margem adequada ✓ Ressecção completa marginal ✓ Ressecção com linfadenectomia ✓ Ressecção ampliada ✓ Amputações e desarticulações CIRURGIA PALIATIVA: ✓ Ablação endócrina (ooforectomia, orquiectomia) ✓ Citorredução ✓ Higiênica✓ Hemostática ✓ Desobstrutiva ✓ Anti-álgica CIRURGIA PROFILÁTICA: ✓ Colectomia total (PAF) ✓ Mastectomia Bilateral (mutação germinativa de BRCA1) ✓ Gastrectomia Total (mutação germinativa de caderina-E) ✓ Tireoidectomia total (mutação germinativa de RET) CIRURGIA DAS METÁSTASES CIRURGIAS RECONSTRUTURAS Classificação das cirurgias de acordo com o resultado da ressecção: R0: Margens microscópicas livres R1: Ressecção macroscópica completa, com margens microscópicas comprometidas R2: Ressecção com doença macroscópica residual RADIOTERAPIA A radioterapia é a modalidade terapêutica baseada na radiação ionizante. A radiação ionizante, em razão de suas características físicas, tem a capacidade de promover ionização no meio em que incide. Quando a ionização acontece no interior da estrutura celular, ocorrem alterações de macromoléculas indispensáveis às funções vitais, levando a célula à morte ou à inviabilidade biológica. ➔ As células neoplásicas tem maior sensibilidade à radiação ionizante por estarem em contínuo processo de multiplicação. A radiação atua diretamente no DNA, danificando sua estrutura ou indiretamente, formando compostos químicos que interagem no DNA → gerando incapacidade de multiplicação ➔ As células normais, por outro lado, tem maior capacidade de promover o reparo do DNA. A radioterapia pode ser antes ou após tratamento cirúrgico. Pré-operatória: Destruição de células tumorais na superfície do tumor e permitir margens de ressecção adequadas. Desvantagem: alterações no achado anátomo- patologico, alterando o estadiamento, aumento de riscos de complicações pós-operatórias no leito tumoral irradiado. O emprego da radioterapia concomitante à quimioterapia pode aumentar taxas de resposta tumoral. A maior parte dos tratamentos radioterápicos se faz através do isso de fótons. Empregam-se elétrons em situações muito específicas e uso de prótons e nêutrons é ainda mais raro. Teleterapia: 90% dos tratamentos. Utiliza raios X produzidos em equipamentos de ortovoltagem e em acelerados lineares, ou raios gama emitidos por unidades de Cobalto 60. De acordo com a energia da radiação, pode ser dividida em radioterapia superficial, ortovoltagem e megavoltagem. QUIMIOTERAPIA A Quimioterapia age de forma sistêmica no controle da doença metastática ou micrometastática. Podemos dividir as estratégias que empregam os quimioterápicos em três contextos: tratamento neoadjuvante, adjuvante ou paliativo. Neoadjuvante: ANTECEDE o tratamento local definitivo quando for localizado. Um dos seus objetivos principais é a preservação do órgão, como no caso das neoplasias de canal anal, laringe e bexiga. Adjuvante: Amplamente empregado; A razão para tal estratégia é a de tratar micrometástases quando se conseguiu o controle local da doença. Ex: câncer de mama, pacientes com tumores maiores que 1cm pode-se indicar a quimio adjuvante (ciclofosfamida e etc) A manipulação hormonal ou hormonioterapia no contexto adjuvante para o tratamento do câncer de mama tem grande destaque. Para paciente cuja expressão do receptor de estrógeno é positiva, o uso do tamoxifeno, independentemente do status axilar ou menopausa, mostrou significativo aumento de sobrevida global. Aproximadamente 25% das pacientes com câncer de mama tem expressão do produto do oncogene HER2/Neu aumentada → podem receber Traztuzumab ou hereptin (anticorpo monoclonal humanizado) A Imunoterapia ou bioterapia ou terapia com vacinas, é ma área com crescente aplicação na oncologia. Tem-se empregado citocinas, como o interferon e interleucinas (IL-2), como moduladores do sistema imunológico a fim de potencializarem a resposta natural do hospedeiro contra os tumores. Terapia molecular do câncer: Tumores gastrointestinais evita-se cirurgia exclusiva e pode utilizar GIST que expressa um receptor transmembrana com atividade quinase-cKIT A quimioterapia antineoplásica tem como princípios básicos: ✓ Ser erradicativa: usa-se a maior dose com toxicidade aceitável; ✓ Ser intensiva: Dose erradicativa única ou em poucos dias ✓ Ser intermitente: intervalo de tempo para a recuperação de tecidos normais como, por exemplo, a população celular da medula óssea. Na avaliação dos pacientes canditados a quimioterapia antineoplásica, alguns parâmetros precisam ser monitorados, como quadro hematológico, reserva medular, função renal e hepática, idade, estado nutricional e psicológico e performance status, entre outros. VIAS de administração dos medicamentos: ✓ Intravenosa, injeção ou infusão ✓ Indica-se emprego de cateter venoso quando forem realizadas muitas sessões, infusões continuas e etc ✓ Via oral em casos como melfalan, clorambucil e capecitabina ✓ Subcutanea: interferon, CGCSF ✓ Intravesical (BCG) nos tumores superficiais de bexiga ✓ Etc Mecanismo de resistência aos medicamentos: Fenômeno da resistência a múltiplos medicamentos, com a identificação do gene MDR1 que codifica uma glicoproteína trans-membrana, importante no transporte celular. Avaliação da resposta terapêutica ✓ Resposta Completa – resolução completa ao menos por 30 dias ✓ Resposta Parcial – redução igual ou superior a 50% das lesões mensuráveis, ao menos por 30 dias ✓ Ausência de Resposta - quadro inalterado ou redução inferior a 50% ou progressão inferior a 25% no mesmo período ✓ Progressão da doença – progressão igual ou superior a 25% no período ou aparecimento de nova lesão. Os efeitos mais frequentes incluem mielossupressão, náuseas, vômitos, diarreia e alopecia. Os efeitos colaterais decorrentes da radioterapia estão relacionados com a dose da radiação, forma de administração, a extensão e localização da área a ser irradiada, a qualidade e poder de penetração da radiação e de fatores individuais do paciente. Náusea, vômito e diarréia, como efeitos do tratamento imunossupressor, são os que mais debilitam o paciente com câncer, alem de serem freqüentemente apontados como fatores contribuintes para o abandono do tratamento. Os efeitos adversos são comuns em Pacientes que recebem qualquer terapia contra câncer, particularmente, citopenias, efeitos gastrointestinais, lise tumoral e síndromes de liberação de citocinas. Os pacientes também podem ter efeitos adversos resultantes do câncer (p. ex., depressão, dor) O tratamento bem- sucedido desses efeitos adversos é importante porque isso melhora a qualidade de vida (ver também Visão geral do tratamento contra o câncer). IMUNOSSUPRESSÃO E DOENÇAS OPORTUNISTAS Os tratamentos aplicados para o combate do câncer, sejam eles com medicamentos (como a quimioterapia, a terapia alvo ou a hormonioterapia),cirúrgicos ou radioterápicos, podem provocar efeitos colaterais que variam de pessoa para pessoa. Uma das reações a estes procedimentos é a imunossupressão. Isso significa que o tratamento do câncer pode interferir no funcionamento do sistema imunológico de várias maneiras: pela doença, propriamente — o fato de o sistema imunológico estar lutando contra o câncer pode fazer com que ele deixe de se proteger contra possíveis infecções; reações físicas relacionadas ao tratamento, como falta de sono, estresse, má alimentação e outros efeitos colaterais; mau funcionamento da medula óssea, reduzindo a produção de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo. Essa condição pode ser um dos efeitos da quimioterapia e também da radioterapia — especialmente se a radiação atingir áreas extensas do corpo, como região pélvica, pernas, tórax ou abdome; cânceres que afetam ou têm origem na medula óssea como o câncer de sangue ou, ainda, aqueles que se disseminam para os ossos. Eles podem comprimir as células da medula óssea, diminuindo a produção dos glóbulos brancos. Neste sentido, é indicadoque a pessoa com câncer procure evitar situações que possam ser porta de entrada para vírus e bactérias. Assim, é importante sempre: ✓ fazer repouso e manter uma dieta balanceada; ✓ evitar lugares aglomerados e o contato com pessoas doentes; ✓ não compartilhar copos de bebidas, utensílios e itens pessoais, como escovas de dente; ✓ lavar as mãos frequentemente, especialmente após usar o banheiro e antes de comer; ✓ tomar banho diariamente e usar produtos cosméticos capazes de impedir o ressecamento e a descamação da pele; ✓ não manusear objetos pontiagudos e cortantes, como tesouras, facas e barbeadores, para evitar cortes; ✓ evitar a ingestão de alimentos crus, como carnes, mariscos e ovos; ✓ higienizar cuidadosamente frutas e vegetais antes do consumo; ✓ evitar o contato com detritos dos animais domésticos; ✓ escovar dentes e gengivas com escova macia para não correr o risco de lesões na região. As infecções podem iniciar-se em qualquer parte do corpo. No entanto, os locais mais comuns são boca, pele, pulmões, trato urinário, reto e áreas genitais. Assim, além dos sinais locais de infecção, há sintomas que podem ser indicativos que é preciso buscar atendimento especializado. Os principais são: ✓ febre — sinal mais importante de infecção; ✓ calafrios ou suor excessivo; ✓ dor de garganta ou estomatite; ✓ dor abdominal; ✓ dor ou ardência ao urinar; ✓ diarreia ou feridas ao redor do ânus; ✓ tosse ou falta de ar; ✓ vermelhidão, inchaço ou dor, especialmente ao redor de um corte ou ferida; ✓ corrimento anormal ou coceira vaginal. Artigo: Avaliação de eventos infecciosos oportunistas em crianças portadoras de leucemias Essa alta suscetibilidade a infecção e/ou doenças oportunistas é descrita como consequência da imunossupressão decorrente da própria neoplasia, da quimioterapia, uso de corticoesteróides, uso de cateteres ou antibióticos de amplo espectro.9 Assim, principalmente nas leucemias agudas, os pacientes apresentam-se neutropênicos e com comprometimento de componentes da imunidade celular e da barreira física (pele e mucosas).20 Esta última, quando lesionada (mucosite), é importante fator de risco para infecções sistêmicas, frequentemente causadas por microorganismos da microbiota endógena.21 A tiflite ou enterocolite neutropênica é um exemplo, onde a necrose na mucosa serve de porta de entrada a toxinas produzidas por bactérias como o Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa, sendo uma doença de alta mortalidade devido à ausência de sintomas específicos. No paciente neutropênico, entre os sítios mais comumente envolvidos em infecções encontram-se os pulmões, a corrente sanguínea, a pele e partes moles.22 Sendo assim, este estudo observou as seguintes doenças oportunistas ou sítios de infecção em ordem decrescente de frequência: pneumonia, septicemia, infecção/infestação intestinal, infecção de cateter, sinusite, infecção urinária, fungemia e varicela, herpes labial, tiflite, toxoplasmose e outras de menor ocorrência. Paciente fora de possibilidades terapêuticas: Fases 1ª fase: Negação: Mecanismo de defesa que caracteriza-se pela não inclusão, negação de afetos ameaçadores ao indivíduo. É importante avaliar a magnitude e a utilidade deste mecanismo frente à crise do adoecer. Caso o paciente se recuse a fazer o tratamento por achar que não está doente, está sendo prejudicial. No entanto, se durante a fase de exames, o paciente se mostra esperançoso, acreditando que os exames não constatarão nenhuma anomalia grave, serve para protegê-lo, amenizando o impacto emocional e dando-lhe tempo de se preparar caso o câncer seja constatado, funcionando de forma benéfica. 2ª fase: Raiva: Manifestação psíquica que visa proteger o indivíduo da situação tida como ameaçadora e invasiva imposta pela hospitalização e tratamento, em que o paciente se relaciona de forma ativa com o outro, porém desorganizada. 3ª fase: Negociação: Fase caracterizada pela negociação, onde o paciente tem conhecimento da possibilidade de morte como fato concreto e objetiva continuar projetos iniciados, o que indica o uso de mais funções do ego por parte do paciente para enfrentamento da crise e uma postura ativa diante dela. Normalmente observa-se a manifestação de aspectos religiosos na barganha, com o paciente, por exemplo, pedindo a Deus que o mantenha vivo só até o casamento do filho; que lhe dê melhoras, condições de ir à cerimônia. É também comum a busca de outras formas de barganha por parte do paciente e familiares, como tratamentos alternativos, cirurgias espirituais, etc. É importante observar se estas trocas, negociações são viáveis e benéficas ao paciente. No caso do paciente oncológico, ele pode pedir ao médico que adie a quimioterapia, que não a faça no dia da cerimônia, porque os efeitos colaterais do tratamento poderiam impedi-lo de ir ao casamento. A barganha com a equipe pode aproximar pacientes e profissionais e viabiliza o diálogo - a respeito das reais condições do paciente, limites e possibilidades que a doença oferece - entre equipe, paciente e familiares. 4ª fase: Depressão: Esta fase se caracteriza pelo contato do paciente com a situação de perda da saúde e da possibilidade de morte. Esta vivência traz como característica uma tristeza acompanhada de sinais depressivos de natureza elaborativa. Esta elaboração é benéfica ao paciente que enfrenta a crise do adoecer, pois a angústia existencial decorrente faz com que o paciente questione, faça uma reflexão e encontre meios de lidar com a doença e o tratamento. 5ª fase: Aceitação: Fase em que o paciente tem compreensão das suas possibilidades e dos limites impostos pela doença, tratamento e hospitalização, tendo o paciente adquirido recursos a fim de melhor lidar com a sua situação. A ansiedade do paciente está em um limite mais suportável para ele, sua família e equipe de profissionais. Ele aceita a sua condição, sua doença, sua morte e torna-se mais sereno. Normalmente está cansado e fraco, tendo necessidade de dormir com freqüência em intervalos curtos. É quase uma fuga de sentimentos, como se a dor e a luta tivessem cessado e fosse chegado o momento de repouso antes da longa viagem. A aceitação lhe traz paz e ele deseja ficar só. Nesta fase os familiares precisam de ajuda, compreensão e apoio mais do que o paciente