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CONFLITOS TÍPICOS DA ADOLESCÊNCIA Professor: Me. Paulo Rogério da Silva Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Marcus Vinicius Almeida Editoração Bruna Stefane Martins Marconato Qualidade Textual Produção de Materiais DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SILVA, Paulo Rogério da. Adolescência e suas Características Psicossociais. Paulo Rogério da Silva. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 35 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Adolescência. 2. Psicossociais. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| REBELDIA ADOLESCENTE: MITO OU REALIDADE? 12| CONFLITOS FAMILIARES E ESTILOS PARENTAIS 16| VIOLÊNCIA E VIVÊNCIA ESCOLAR 22| FATORES DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Refletir sobre os rótulos e representações sociais em torno do adolescen- te como indivíduo. • Apresentar os estilos parentais e sua representatividade na educação do adolescente. • Pensar sobre a violência escolar simbólica e física. • Apresentar os fatores de risco envoltos no desenvolvimento dos adolescentes. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Rebeldia Adolescente: mito ou realidade? • Conflitos Familiares e Estilos Parentais • Violência e Vivência Escolar • Fatores de Risco na Adolescência CONFLITOS TÍPICOS DA ADOLESCÊNCIA INTRODUÇÃO introdução Neste encontro nos debruçaremos sobre a compreensão da etapa do desen- volvimento humano denominada adolescência, analisando o contexto social, histórico e educacional em que está inserido. Desta maneira, buscaremos pro- blematizar o existir adolescente sob a ótica da noção hegemônica de “juventude alienada” enclausurada pela lógica individualista. Neste estudo, desenvolveremos uma escuta sob os modos como os jovens manifestam seus propósitos, buscando visualizar os processos de produção dos desejos, unindo pontos entre as diversas perspectivas da diferença, na construção do protagonismo da juventude. Assim, ampliaremos o conceito de adolescência, que nos tempos atuais deixa pistas de um esgotamento do modo de existir capitalístico, bem como uma urgente necessidade de romper com o sujeito universal e abstrato, possibilitando a busca por novas formas de dar sentido a um existir inventivo e não generalista. Este encontro pretende promover uma discussão em torno de um possível silenciamento da juventude, bem como espaço insuficiente para o reconhe- cimento e a expressão das diferenças na atualidade. Sendo assim, a seguir, lançaremos juntos um olhar sobre as manifestações da juventude para encon- trar sentido em seus modos de existir. Possuiremos como inspiração questões guia para a promoção da discus- são: Qual a influência dos rótulos e representações sociais em torno do existir adolescente? Como os estilos parentais exercem influência e representativida- de na educação do adolescente? De que maneira o adolescente está exposto as diferentes faces da violência? Quais os fatores de risco envoltos no desen- volvimento dos adolescentes? E então, vamos em união costurar as ideias, por meio de análises e proble- matizações desta etapa do desenvolvimento ao qual todos os seres viventes passam, inerente as diferenças que possam existir. Bons estudos! Pós-Universo 6 A adolescência é um fenômeno de transição para o sujeito que se encontra entre a infância e a maturidade em seu processo de desenvolvimento humano, percebida como uma fase difícil, a beira da patologia, contornada por conflitos “naturais” (ROCHA; GARCIA, 2008).Tal conceito convoca a pensar sobre a produção de uma adolescên- cia, principalmente após observar como a sociedade e a cultura acentuam uma ideia de crise, a partir de sua própria hipocrisia e paradoxos, inserindo no sujeito “adoles- cente” suas falhas e defeitos projetivamente. REBELDIA ADOLESCENTE: MITO OU REALIDADE? Pós-Universo 7 O jovem que se encontra nesta fase tem dificuldade em escapar do nó produzido pelas inúmeras demandas impostas a ele, tais como: inserção no mercado de traba- lho, formação acadêmica, constituição de uma família própria, entre outros modelos normativos e individualizantes. A compreensão do processo de desenvolvimento como uma capacidade de ressignificar e criar formas de identificação, posicionamen- to e papéis, denuncia a multiplicidade do sujeito em sua heterogeneidade de vozes e posições que o conduzem para “a abertura, para a inovação e para a construção de novos posicionamentos e processos de significação acerca do mundo, do outro e de si mesmo” (ROSSETI-FERREIRA, 2004). Na década de 90, no Brasil, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA,sob a lei nº 8.069/90, indicando como normativa que a adolescência começa a partir dos doze anos de idade e tem seu esgotamento aos dezoito anos. No entanto, se torna demasiado reduzido pensar nesta etapa da vida considerando apenas res- trições fisiológicas ou de organização social. A adolescência é recorrentemente tratada como uma síndrome por possuir como propriedade um conjunto de características tomadas como sintomas compor- tamentais deterministas desta faixa etária. Desta forma, desconsidera-se uma forte influência de costumes e tradições, bem como de aspectos históricos internalizados pelo sujeito e pela sociedade em movimento. Pensar a adolescência é considerar o trabalho psíquico necessário investido pelo sujeito para se inserir no mundo (PAPALIA; OLDS, 2000). O conceito de adolescência surge como objeto, esgotado por questões psicolo- gizantes mesmo biologizantes inerentes às vontades e desejos. Etapa pela qual todo ser humano passa de forma inevitável e ligeiramente similar. O sujeito é catalogado conforme suas mudanças físicas, sendo colocado à margem de aspectos individuais e psicossociais. E a partir desta visão desenvolvimentista, questões comportamen- tais e emocionais são colocadas à mercê da escolha do sujeito adolescente, sendo próprias de sua constituição sem ser considerado qualquer modo de existir através da diferença (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005). Mudanças corpóreas, comuns na puberdade, devem ser significadas, porque pro- porcionam ao sujeito uma nova visão de si e, consequentemente, o reconhecimento de uma identidade. Entretanto a adolescência se amplia diferenciando-se da puber- dade por se tratar de um fenômeno cultural que engloba um processo no qual se adquirem as características psicológicas e sociais da condição adulta. Pós-Universo 8 A adolescência é marcada, principalmente, por mudanças externas e ocasionam implicações internas, apontando para mudanças importantes na forma dos sujeitos estarem no mundo e perceberem sua existência e o contexto ao qual estão inseri- dos. Tal percepção determina outras formas de agir e aponta para outros caminhos que não os já traçados. E, portanto, se refere ao encontro de situações sociais com a transformação da energia psíquicaque demanda do sujeito posicionamento frente aos diferentes conflitos (MOREIRA; ROSÁRIO; SANTOS, 2011). Pensando em uma diferenciação entre adolescência e juventude, é possível verificar marcações bem significativas. A adolescência numa perspectiva desenvol- vimentista surge a partir das mudanças físicas próprias da puberdade, em que um sujeito, apropriado de um novo corpo faz movimentos de busca do seu lugar no mundo, comuns e inerentes a qualquer ser. No entanto, tal conceito é produtor de normatização, docilização do corpo, tornando-o útil e obediente para o capitalismo, colocando em ação o poder em ato (FOUCAULT, 2009). A adolescência surgiu na mo- dernidade, categorizada e compartimentada tanto na realidade social como no curso da vida individual em torno de classes sociais e em função de faixas etárias, raciona- lizada em sua trajetória, teorizada pela ciência, especificamente pela psicologia do desenvolvimento, passou a ser um processo ordenável, sequencial e universal rumo à maturidade (ROCHA; GARCIA, 2008). Além disso, buscar compreender os sujeitos jovens se restringindo apenas à faixa etária é como tentar enxergar através de uma parede, isto é, sem retirá-la; dessa forma, toda a visão se reduzirá à parede. Desta maneira é mais que urgente problematizarmos o conceito de adoles- cência, conectando a diferentes interfaces, lançando para o campo discursivo dos embates de sentidos, e assim promovermos uma escuta em torno do vir a ser jovem, no desenvolvimento de sua juventude como processualidade que promove uma desterritorialização, implicando em criação, invenção. Pós-Universo 9 Para pensarmos sobre o vir a ser jovem acompanhe a seguir um aprofun- damento sobre o conceito de Devir: “devir é movimento de compor nos corpos o inusitado a partir do encontro com o outro, definindo em cada sujeito uma lista de afetos e devires em uma multiplicidade de aconteci- mentos que nunca cessam. Assim, todo devir se dá no encontro e no acaso” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.18-19). Assim, ao visualizarmos o jovem como um ser em formação, poderíamos compreendê-lo como um devir juventu- de? Acompanhe a seguir! Fonte: adaptado de Deleuze e Guattari (1997). atenção Dessa maneira, no devir juventude, o sujeito não se reduz de forma individual, esboça uma configuração subjetiva, circulando em intensidade como combustível para novos encontros, produtor de heterogeneização, sobrevoa diferentes territórios existenciais. Ainda que, sob influência de aspectos psicossociais, num percurso de (in) definições: busca identitária, tendência de estar em grupo, deslocamento constante de situa- ções e vínculos, atitude de contestação e insatisfações sociais, intelectualização dos fatos, mudanças de humor, separação do universo familiar e questionamento dos valores sociais, a juventude promove aberturas e espaço para novas possibilidades, pois tais fatos acabam por desenvolver uma crise desperta no descrédito dos lugares institucionais tradicionais (SOUSA, 2006). Os termos adolescência e juventude são usados indiscriminadamente na lite- ratura contemporânea e se referem às experiências concernentes a uma categoria que ao mesmo tempo é social e psicológica. Visando ampliar as condições de emer- gência sobre este momento do desenvolvimento do sujeito de forma ampla, faz-se necessária a compreensão do conceito juventude, bem como sua função na socie- dade contemporânea, em que foi ganhando um lugar cada vez maior de destaque (ROCHA; GARCIA, 2008). Pós-Universo 10 Para Knobel (1977), o jovem que apresenta comportamentos opositores e questionado- res, expressando-se por meio de instabilidades emocionais, afetivas e comportamentais, dentro de um determinado quadro de aceitabilidade e suportabilidade do contexto ao qual está inserido, estaria vivenciando o que denomina “síndrome da adolescên- cia normal”. E constitui sua maturidade em meio a esta “síndrome” mediante alguns marcos em seu desenvolvimento psíquico-afetivo: • Busca de si e da sua identidade: através da aquisição de uma consciência de si como um ser no mundo ao qual habita uma ampliação da percepção corpórea, bem como a maturação de sua identidade, por meio de vínculos. • Separação progressiva dos pais: em que o jovem faz uma transição para novos grupos, buscando pares semelhantes e ideias, valores e caráter. • Tendência Grupal: a partir da constituição de vínculos com seus pares, o jovem consegue, por meio do espelhamento e da uniformidade entender as transformações decorrentes desta etapa do desenvolvimento. • Necessidade de intelectualização e fantasias: nesta etapa, o jovem busca validar ou contestar algumas hipóteses, assim como criar novas suposições através se suas percepções singulares sobre o mundo e o universo. • Crises Religiosas: é nesta fase, e a partir da etapa anterior, que o jovem pode se posicionar de maneira cética ou apaixonada sobre a existência de figuras idealizadas criadas pela religião. • Deslocamento Temporal: O jovem tende a passar por um sincretismo tem- poral, no qual nem possui as urgências e limitações espaço-temporais da infância e tampouco a ilusória infinitude temporal da adultez, mas oscila entre ambas em uma tentativa de manipular o tempo, buscando contro- lá-lo de alguma maneira. • Desenvolvimento sexual: no qual o jovem percebe as novas formas que compõem seu corpo e desenvolve maneiras de melhor explorá-lo, bem como experimentar relações com outros corpos. • Posicionamento social reivindicatório: nesta etapa, o jovem ao ter ampliado sua percepção de mundo e de sua relação com este, questiona os valores, regras e ordens, muitas vezes transferindo suas insatisfações familiares para a sociedade e cultura. Pós-Universo 11 Para Kehl (2007, p. 89-90), “a juventude é um estado de espírito, é um jeito de corpo, é um sinal de saúde e disposição”. Fase de transição entre a infância e a vida adulta, a juventude emerge marcada por complexidades, entendida como uma construção sociocultural que tem a ver com as experiências vi- venciadas pelos sujeitos e como estas são significadas e narradas em cada contexto histórico-social. O conceito de juventude é elástico e ultrapassa marcações etárias ou critérios biológicos, incorporando em si múltiplas di- mensões fazendo alargar a própria formação do ser. Fonte: Kehl (2007). saiba mais Assim, em meio ao desenvolvimento do jovem, a família e a escola possuem a res- ponsabilidade de amparar, orientar, estar presente e suportar as inconstâncias e transitoriedades desta etapa do desenvolvimento. Como dito por Winnicott (1983), em sua teoria do amadurecimento pessoal, em que conceitua o cuidado como a rea- lização da tarefa principal do ser humano em relação ao outro. O cuidado é entendido aqui como possibilidade de potencializar no outro o seu desenvolver e amadurecer sadio, enfrentando todas as tarefas intrínsecas a este processo. Pós-Universo 12 A juventude tem convocado a sociedade a pensar a diferença, uma vez que seus modos de expressão sobre o sentir e o existir se expõem de forma distinta aos modos convencionalmente instituídos por condutas juvenis em tempos passados. E, a partir disso, é possível perceber um tensionamento sobre o regime institucional vigente e, ao tencioná-lo, produzem-se novas possibilidades de luta, visibilidades e enfren- tamentos na direção de seus direitos e deveres. A própria juventude problematiza sua participação política e social, implicados a questionar os modos de condução do viver em sociedade, bem como das crenças sustentadas sobre as instituições e seu modo de funcionamento. O sujeito jovem é um ser atravessado por fluxos, devires, multiplicidades e diferenças (COIMBRA; BOCCO; NASCIMENTO, 2005). CONFLITOS FAMILIARES E ESTILOS PARENTAIS Pós-Universo 13 E, desta maneira, alguns estilos parentais podem se tornar norteadores ou obso- letos conforme o desenvolvimento maturacional dos jovens.Podemos pensar nos seguintes estilos parentais como corriqueiros norteadores da educação dos jovens na atualidade: • Estilo parental autoritário, com regras e normas muito rígidas, sem espaço para diálogo, problematizações ou questionamentos, os jovens tendem a se desenvolver de maneira arredia, pouco confiantes em si e com autoes- tima baixa ou ainda podem apresentar comportamentos dissimulatórios com mentiras e transgressões ocultadas por um falso comportamento de aceitação e obediência. • Estilo parental permissivo, em que os pais utilizam como justificativa a necessidade de ampliação da consciência e percepção de si para permitirem que os jovens conduzam sua vida de acordo suas necessidades recém-ad- quiridas. Uma característica importante deste estilo parental é a angústia diante da necessidade de amor e admiração dos seus descendentes. • Estilo parental democrático, por meio de diálogos e posicionamento afetivo, mas orientador de condutas e direcionamentos de escolhas. Neste estilo parental, a comunicação é fluídica e igualitária, buscando visualizar as singularidades e potências do ser em desenvolvimento, bem como da família que se desenvolve em conjunto. No monitoramento parental democrático, a estratégia de manutenção do vínculo da família com o jovem visa oportunizar a sua protagonização com a história para se reinventar com ela, manifestando seu desejo de vida através e em meio ao seu desen- volvimento. Rolnik (2005) nos ajuda a pensar sobre a realidade na qual o jovem está inserido, em que a subjetividade não se limita ao ‘eu’. O que se produz é resultado da junção entre múltiplas dimensões ou de linhas de força entrelaçadas na construção de novos cenários. Como dito por Corso (2015) “não existe saída “fora” dos outros, não existe felicidade senão coletiva. As saídas sempre são coletivas. É um destino muito pequeno ser só um e não deixar que os outros nos alterem”. Pós-Universo 14 A família se desenvolve maturacionalmente junto com o jovem, constituindo-se enquanto norteadora de ambos os progressos. Assim, a família também pode se constituir enquanto testemunha da narrativa do jovem. O ato de testemunhar é a possibilidade de criar lugares de sentido, resgatando a dignidade, a partir da voz de quem sofreu na materialidade o ato de existir. Os modos de narrar dos jovens abrem espaço para as transformações, colocan- do o tempo como questão decisiva nos conflitos sociais e na consequente busca por mudança social. “A juventude que se situa, biológica e culturalmente, em uma íntima relação com o tempo, representa um ator crucial,interpretando e traduzindo para o resto da sociedade seus dilemas conflitos básicos” (MELUCCI, 1997, p. 7). Muitas vezes, tal maturação gera conflitos e desacordos desencadeados pela aceitação e adequação ao novo ser que se apresenta e convoca novas maneiras de se fazer pre- sente. Comumente, tais conflitos podem parecer recentes ou “inusitados”, mas uma observação mais criteriosa pode vir a detectar afastamento afetivo ou falta de fluxo comunicacional ao longo de todo o desenvolvimento deste ser, desde criança até a juventude e muitas vezes seguem para além da vida adulta. A violência intrafamiliar exercida contra adolescentes é recorrente e historica- mente praticada em todas as esferas sociais na sociedade brasileira, presente desde o princípio dos tempos. Sendo, de acordo com Venturini, Bazon, Biasoli-Alves (2004), um significante do abuso de poder da família, que muitas vezes “coisifica” os seres, fazendo deles objetos, ignorando seus direitos fundamentais. Tal violência se expres- sa de formas diversas, seja simbólica, através de uma presença mais hostil, pouco tolerante a manifestações singulares ou expressividade de desejos, ou através de vio- lência física entre os familiares e testemunhada pelo jovem. Ou ainda por meio de violência física com o uso de força hostil e agressiva, de maneira direta ao jovem. Desta maneira, a violência intrafamiliar possui influências diretas sob os comporta- mentos dos jovens que se expressam diversas vezes replicando tais comportamentos na rua ou na escola. Os jovens expostos à violência intrafamiliar tendem a possuir baixa tolerância à frustração, irritabilidade e comportamentos arredios. Assim con- forme Krom (2000) no ciclo de vivências familiares as situações vividas e repetidas tendem a potencializar seus significados, promovendo a constituição de um “núcleo de sentido” determinante de uma concepção singular de mundo, caracterizando desta maneira um mito familiar. Pós-Universo 15 Foucault (1987) nos auxilia a pensar sobre os modos de identificar e principal- mente diagnosticar os mecanismos de poder exercidos pelas instituições, dentre elas a família, e também na sociedade, classificando o poder disciplinar como autor dos acontecimentos decorrentes de uma atitude padronizada no mundo atual. Na era dos corpos disciplinados, a disciplina se torna ferramenta que orientará todo o pro- cesso de construção do poder e normas de condutas. Assim podemos problematizar os reflexos de uma estrutura familiar fragilizada como reflexiva de um despreparo da família em lidar com os dilemas da juventude como uma “herança” que desejosa- mente para o benefício do vínculo familiar deveria ser abandonada. Conforme a perspectiva foucaultiana, existem alguns métodos de controle do social, sendo o mais evidente a reprodução da moral transgeracional, que permi- tem o controle total das ações do corpo, e que realizam uma direção constante de suas forças e lhes impõe uma relação de dócil utilidade. E, assim, preferivelmente, a família poderia criar espaços para que seja possível a manifestação de um desejo, promotor de certa ambiguidade, na qual, da mesma forma que possui potencial li- bertador, autorizando o sujeito a ser livre para se permitir e conduzir a si mesmo, o desejo também pode provir de demandas sociais ditadas em prol e por um coletivo. Pós-Universo 16 A escola possui uma representação territorial fundamental para o desenvolvimento e expressividade dos jovens, possibilitando oportunidade de evolução da cidadania e socialização, ofertando espaço para formação ideológica, esclarecimento sobre a situação política, econômica e social nacional e global e com acentuação da per- cepção dos jovens para o entendimento sobre suas escolhas em relação às possíveis consequências. A escola pode potencializar a capacidade individual de agir e compor vontades coletivas, viabilizando meios para a geração de formas de resistência na luta pela liberdade dos corpos,subjetividades, desejos e afetos, dando fluidez para variadas formas de viver. VIOLÊNCIA E VIVÊNCIA ESCOLAR Pós-Universo 17 Violência escolar A escola por ser ambiente de expressão das diferenças e também das realidades vividas na sociedade reflete os aspectos mais evidentes desta, sendo a violência um dos mais recorrentes, a violência escolar se incorpora ao cotidiano escolar. Por ser proveniente do fenômeno da violência global, a violência escolar se manifesta de ma- neiras mais sutis, através de pouco espaço para criação, com regras e normas muito enrijecidas que restringem a existência de diferenças, como violências direcionadas em decorrência de uma constituição física ou genética, idade, sexo ou etnia. Ou ainda, pode se manifestar de maneira mais estrutural, determinada muitas vezes, pela região em que está inserida a escola, em que diminui as chances de ascen- são social dos jovens de classe popular dificultando a transformação de sua realidade. E também de acordo com as características culturais em que a escola está inserida, por exemplo, se a sociedade possui um funcionamento democrático ou autoritaris- ta, níveis de desigualdade econômica ou por expressões de baixa tolerância a outras diferenças, tais como, gênero, credo e etnias. A escola também pode ser alvo de violência quando é atravessada pelo contextosocial ao qual está inserida, como em zonas de acentuada incidência de criminalidade, com assaltos, roubos ou furtos dentro ou nos entornos da escola. Bem como atenta- dos violentos mais expressivos contra alunos, professores e funcionários, como uma invasão na escola realizada por um tiroteio dentro ou nas proximidades da escola. Charlot (2002) se refere às situações nas quais a violência ocorre dentro do ambiente escolar, sem necessariamente possuir ligação com a escola e suas atividades ou fre- quentadores, em que, desta maneira a escola é um território de expressão de uma violência pontual, mas que poderia ter ocorrido em qualquer outro local. A violência escolar, como referida por Abramovay e Rua (2002) possui ainda uma recorrência de alvos com perfis mais comumente atingidos, como os jovens de etnia negra, com status socioeconômico menor ou com diversidade de gênero. E assim podemos imaginar mais uma vez a violência escolar como um reflexo da violência da sociedade, quando vemos tais perfis também serem alvos mais comuns da vio- lência global. E ainda, como vimos anteriormente nos estudos sobre violência intrafamiliar, os implicados com a violência escolar podem vir a expressar suas frustrações no am- biente escolar e então, a partir disto, teríamos uma variabilidade na expressão dos Pós-Universo 18 papéis diante da violência, em que ora podem ser os alvos de comportamentos vio- lentos, ora autores de tais comportamentos (WATSON, et al, 2005). Além disso, as testemunhas dos atos violentos intrafamiliares ou na escola podem desempenhar papéis determinantes na manutenção ou perpetuação da violência, muitas vezes constituindo uma espécie de espectador ao qual o agressor intensifica- ria ou abrandaria o ato violento de maneira a tingir com maior ou menor intensidade a vítima ou a testemunha. São muitos os atores da violência escolar e podem desempenhar papéis varia- dos na expressividade da violência. Por exemplo: existem os autores da ação, que expressam seus comportamentos violentos de maneira direta a um alvo; existem os alvos de tais comportamentos violentos, os quais, muitas vezes, não conseguem constituir maneiras de denunciar a violência; e existem as testemunhas, que não possuem ato ou intenção em denunciar ou intervir de alguma maneira para o impedimento do desenvolvimento da violência. Fonte: a autora. atenção Bullying O bullying se refere a uma violência direcionada de maneira repetida ao longo de uma extensão de tempo com ações negativas, que podem tanto ser físicas, psicoló- gicas ou sexuais, por parte de pares semelhantes, que possua alguma representação de poder e que exerça autoridade. O bullying naturalmente compreende o mesmo perfil de alvo da violência social e escolar, para o direcionamento dos seus atos violen- tos, como uma pessoa ou grupo de pessoas em condição de desigualdade de poder, que no caso específico do bullying ainda pode ser proveniente do status de popula- ridade, pode se referir a aspectos e características físicas, socialização e engajamento grupal, características expressivas como extroversão ou introversão, bem como sinali- zadores de inteligência, faixa etária, gênero, etnia e posicionamento socioeconômico. Assim, o bullying só pode existir entre pares, não podendo ser exercido entre pro- fessor aluno. Bem como não pode ser decorrente de brigas ocasionais ou pontuais, como entre grupos rivais. O bullying é impreterivelmente exercido por intimidação entre pares, com variações entre: jovem contra jovem; ou um grupo contra um único jovem. Pós-Universo 19 Um aspecto muito importante que deve ser adotado pela escola no cotidia- no escolar é a discussão de estratégias entre a comunidade escolar quanto à definição e caracterização do que seja violência escolar, bem como suas consequências concretas como a aplicabilidade da lei, quando passível de punição penal e estiver relacionado às formas mais brutas de violência. Ou sobre suas consequências indiretas ou visivelmente menos evidentes, como comportamentos arredios, prejuízos emocionais e/ou psicológicos, mas que representam danos profundos e permanentes muitas vezes acompanhan- do a vítima e a família ao longo de sua vida. Fonte: a autora. atenção Estratégias de enfrentamento A escola é ambiente de ensaio do cotidiano na sociedade. É na escola que os jovens experimentam as relações, o desenvolvimento de vínculos e a aquisição do senti- mento de pertencimento a um propósito na expressão de suas competências. A escola é palco para ensaio da adultez. Por isso, a escola torna-se ambiente propício para a experimentação das transgressões, com comportamentos contrários às regras da instituição, mas que não infringem leis propriamente, como o absenteísmo, me- diante não realização de trabalhos escolares, rejeição a participação em atividades ou baixa atuação em aula, entre outros. Além do absenteísmo, a escola pode ser palco de incivilidades, quando quebra as regras de boa convivência por meio de desordens, empurrões, grosserias, xingamen- tos, mas que não se refere à quebra de normas internas ou a uma lei propriamente. De acordo com Abramovay (2005), as incivilidades são comportamentos e atitudes que desencadeiam rompimentos com a ordem cotidiana. Na maioria de vezes, a in- civilidade beira entre a provocação e a brincadeira e visa promover tensionamento no ambiente, além de raiva, medo, vergonha, ansiedade, entre outros. Diante desse cenário, podemos pensar sobre a importância de incluir tais situa- ções, como agravantes para a violência escolar, pois o acúmulo destes tensionamentos pode gerar um sentimento de desamparo, insegurança e desrespeito dentro da escola, muitas vezes contribuindo ou sendo propulsor para a evasão escolar. Somado a isso, estar em um ambiente hostil pode impulsionar uma ideia sobre os ambientes educacionais e acabar por generalizá-los como pouco continentes ou demasiada- mente desafiadores, o que pode vir a afastar os jovens do ambiente escolar ao longo de sua vida. Pós-Universo 20 Dessa maneira, existem alguns atravessamentos na escola que podem desenca- dear lugares indutores de poder, em que, desta maneira, seja possível crer na atuação do educador, como um fazer em que possa ser pensado e redefinido novos padrões e parâmetros, facilitando o emergir de forma livre um canal de comunicação, repleto de desejos e possibilidades. A produção de subjetividade é uma produção que envolve instâncias individuais, coletivas e institucionais, porém seu entendimento não se limita a nenhuma disciplina científica, bem como a semiologia, isoladamente dão conta de explicar suas estratégias de produção e reprodução diante de restrições ambientais. Ou seja, um conjunto de regulamentos escolares, direcionados por processos empíricos e refletidos para controlar e até corrigir as ações dos corpos pode vir a surtir ações de submissão e manipulação de funcionamento: corpo útil, corpo inte- ligível e corpo dócil, que pode ser submetido, e que pode ser utilizado, transformado e aperfeiçoado. De forma econômica e de utilidade, a disciplina minimiza as forças do corpo e em termos políticos de obediência, dissocia o poder do corpo, fazendo surgir uma relação de sujeição estrita. Resumindo: a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada, pois, con- forme Foucault (1987), a disciplina fabrica corpos submissos, ou como chamava o autor, corpos “dóceis”. A partir disso, podemos pensar que para transmutar o disciplinar, objeto do fazer no educar, a escola poderá promover o desenvolvimento da autogestão por crer que a vida constitui alvo de lutas biopolíticas; lutas por direito à vida, à saúde, à felicidade e à satisfação das necessidades. A autogestão prioriza a autoconsciência, constituindo um princípio fundamental de identidade subjetiva. A autogestão é apolítica e é tanto um meio quanto umafinalidade nas ações de qualquer sujeito em que possa ter sido semeada. O semear da autogestão possibilita a criação de uma forma de sociabilidade apolítica, uma forma de o sujeito resgatar sua capacidade de autonomia em confor- midade às demandas do mundo e se manter em harmonia com sua subjetividade. Pós-Universo 21 A subjetividade, conforme Guattari e Rolnik (2010), pode ser contemplada como um conjunto de condições e relações que torna possível o surgimen- to de uma nova forma de pensar, que pode ser autorreferencial, individual, mas também pode ser produzida socialmente, fazendo com que a identi- dade e a alteridade assumam uma mesma postura, obedeçam às mesmas instâncias individuais e/ou coletivas de produção de desejos e sentidos, como uma opera social, mas não se limita, mesclando afetos e códigos de conduta. Assim, antes de educar ou em meio ao processo da educação, a escola necessita ofertar espaço para a construção do ser, através de comuni- cação aberta, objetivando desenvolver o autoconhecimento e autogestão. Fonte: Guattari e Rolnik (2010). saiba mais Podemos pensar sobre o educar como ato; no entanto, sua atuação vai muito além da tarefa. O processo de educar existe um operante, educar exige corpo, exige presença, em uma dança dialética, considerada por Freire (2008) fundamental à prática peda- gógica, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Como referenciado por Pimenta (2002) sobre o saber docente, que se alimenta do fazer, da prática e das teorias da educação, primordiais ao educar, possibilitando aos sujeitos que se disponibilizam ao educar, uma amplitude de pontos de vista, fa- cilitando a geração de ações contextualizadas. No entanto, ao educar, o sujeito se implica enquanto ser constitui o saber ao mesmo tempo em que é constituído, al- cançando novos panoramas de análise, possibilitando a compreensão dos contextos experienciados. Desta maneira, em meio a tais considerações, podemos conceber que na transferência dos saberes estão implícitos processos de criação, envolvimen- to, conexão e pertencimento, na medida em que conecta os sujeitos em torno de uma troca mútua. Ou seja, educar é um ofício, um trabalho, mas também convoca a vocação de estar presente e disponível para o outro. A educação atual, com o turbilhão de informações e demandas comunicacionais, não se satisfaz com (re)produções, necessitando de presença para perceber as ur- gências de cada ser, de cada grupo, de cada ambiente, a cada momento, aceitando e concebendo a flexibilidade das transformações inerentes ao viver. Em suma, a edu- cação, em todas as suas instâncias, precisa de encontro, acolhimento, afeto, diálogo e aceitação, para uma aprendizagem cooperativa, vinculada e solidária na constitui- ção de um ambiente educacional que possibilite a criação contínua de condições para a construção dos saberes. Pós-Universo 22 A constante necessidade de exploração e investigação acerca de suas potencialida- des pode desencadear nos jovens uma tendência a fantasias e a intelectualizações que muitas vezes se manifestam de maneiras tão constantes quanto dominantes dos pensamentos dos jovens. Desta maneira, a recorrência destes fatores pode represen- tar risco ao funcionamento psíquico, emocional ou comportamental destes jovens. Assim, levando em conta a amplitude em torno das subjetividades inerentes ao desenvolvimento de cada jovem, podemos inserir ao seu cotidiano uma iminen- te situação de risco psicossocial, caracterizado como todas as vivências nas quais o jovem seja exposto a situações de estresse por questões socioambientais ou por características individuais de funcionamento (AMPARO, et al., 2008). Os processos FATORES DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA Pós-Universo 23 desencadeadores dos fatores que expõem os jovens ao risco possuem similaridade com os pontuados anteriormente nos aspectos referentes à violência intrafamiliar e à violência escolar, sendo eles: por características de gênero; situação de saúde; carência de habilidades sociais; baixa ou acentuada intelectualidade; instabilidade psicológica, emocional e/ou afetiva, questões econômicas, sociais ou ambientais e ainda fragilidade na rede de apoio ao jovem. Fatores de risco relacionados à sexualidade dos jovens Os riscos relacionados à sexualidade dos jovens podem se configurar singularmen- te, na proporção em que possui influência sobre sua capacidade de preservação ou exposição de sua imagem ou integridade física e/ou emocional. Conforme o desen- volvimento das preferências, durante a constituição de sua identidade e no decorrer das percepções sobre suas potencialidades e singularidades, os jovens experimentam sua sexualidade consigo, através da manipulação do seu corpo em uma tentativa de auto reconhecimento deste corpo recém-formado. Experienciam as relações e a sexualidade entre os pares opostos e/ou iguais, sendo bastante frequente um po- sicionamento sexual inicial reconhecidamente sem preferências hetero ou homo afetivas, mas com estrito caráter exploratório relacional. Estes fatores se apresentam como de risco agravado quando o jovem encontra em seu cotidiano ou em sua comunidade uma constante erotização e estimulação da exploração de seu corpo como objeto. Assim, na elaboração de seus desejos e devires, levados pelas emoções e re- compensas provenientes do prazer descoberto pela utilização dos seus corpos os jovens acabam diversas vezes por não mediar as possíveis consequências de seus atos, o que pode acarretar em gravidez ou a contaminação por doenças sexualmen- te transmissíveis. A gestação na adolescência caracteriza acentuado impacto sobre a saúde pública do país pelo fato de estar também associada à disseminação de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) (TABORDA, et al., 2014). E ainda: a gravidez precoce e o uso de preservativos ou outros métodos contraceptivos possui associação bastante próxima com a baixa escolaridade. Pós-Universo 24 Conforme Taborda et al. (2014), os jovens expostos à gravidez precoce e as DSTs em sua maioria, possuíam conhecimento sobre o uso de preservativos e métodos contraceptivos, mas que pela urgência do momento optaram por não utilizar tais métodos ou julgaram ser irrelevantes. Desta maneira, é necessário destacar a im- portância de esclarecimentos ofertados tanto pela família quanto pela escola, não somente sobre os aspectos mais imediatos com relação aos cuidados com o corpo, mas também de orientação através de uma comunicação mais aberta e honesta. Fatores de risco relacionados ao uso de substâncias entre os jovens As constantes flutuações do humor, assim como o estado de ânimo entre os jovens são frequentemente uma resposta à sensibilidade sobre aspectos ambientais ou sobre sua carência em elaborar e organizar os pensamentos e emoções. Muitas vezes, tais inconstâncias internas, somadas a instabilidades ambientais e a curiosi- dade e tendência à transgressão das regras podem ocasionar o encontro dos jovens a utilização de substâncias, tais como tabaco, álcool, drogas ilícitas entre outras, ini- cialmente com intenção de uso recreativo. Feijó e Oliveira (2001) refere como um movimento inato do jovem uma orien- tação em busca de prazer. Desta maneira, é importante ver além da consequência imediata, com o uso de substâncias, mas buscar entender os mecanismos que desen- cadeiam tal comportamento. Assim, a utilização da substância se caracteriza como um sintoma expressivo de uma estrutura maior seja de fuga ou de fragilidade psí- quica e/ou emocional, ou ainda pelo fácil acesso do jovem à substância. Estudos nacionais e internacionais são concomitantes em suas conclusões quando sinalizam que o uso de drogas lícitas é bem mais acentuado do que o das ilícitas e ainda destacam o álcool e o tabaco como os mais consumidos pelos jovens (FEIJÓ; OLIVEIRA, 2001). Desse modo, podemos pensar sobre a representatividade dosusos de substâncias utilizadas pela família ou ainda sobre os apelos midiáticos indutores de consumo que acabam por estimular ou despertar a curiosidade dos jovens para estas substâncias. Pós-Universo 25 Fatores de risco relacionados aos transtornos de humor e alimentares entre os jovens É recorrente a incidência da expressão das frustrações e insatisfações através de alterações abruptas de humor e com consequente influências sobre o consumo e hábitos alimentares entre os jovens. Conforme Gonçalves et al. (2013), entre os fatores de risco para os transtornos alimentares, a mídia e os ambientes social e fa- miliar possuem papel de destaque entre os maiores responsáveis sobre os hábitos alimentares dos jovens. A mídia, assim como o contexto social, refere forte poder sobre a relação a qual o jovem estabelece com sua imagem. Podemos problematizar sobre a sociedade atual, bem como o contexto cultural da atualidade, em que o culto à felicidade, à beleza e à necessidade de expressar seu bem-estar é constantemente valorizado e poten- cializado. Nos tempos atuais, a expressão de tristeza, ansiedade ou raiva é oprimida pelo silenciamento das insatisfações. Assim como estar devidamente sintonizado com as ultimas tendências sobre as formas dos corpos (magro, alto, forte, etc.), ou sobre a vestimenta e aparelhos tecnológicos, caracteriza os jovens como integrados a sociedade. A partir disso, quem não estiver “adequado” ou “encaixado” pelas novi- dades será destacado como diferente ou desconectado da atualidade. Conforme Gonçalves et al. (2013), entre as possíveis consequências dos transtor- nos alimentares estão: • Problemas nutricionais: através de déficit no crescimento e ganho de peso; • Prejuízos à saúde bucal: com o surgimento de queilose, erosão dental, pe- riodontites e hipertrofia; • Prejuízos nas glândulas salivares; • Prejuízos sociais. Fatores de risco sobre a finitude da vida entre os jovens e as possíveis estratégias de enfrentamento O potencial destrutivo que devolve e abate de forma aniquiladora os jovens que se propõe a experimentar a vida e o viver sem mediação das consequências pode oca- sionar em torná-lo vítima de vivências hostis denunciando o desespero e instalando Pós-Universo 26 o caos social. Além disso, tais vivências podem ser promovedoras de angústias e pos- sibilitar a criação da existência de um vazio, muitas vezes incapacitando o jovem a dar conta de uma dor interna contínua e ininterrupta reproduzindo falhas nos me- canismos de proteção e expostas ao risco de viverem afogadas no desespero por toda a vida (ALBORNOZ, 2006; BOWLBY, 1985). No entanto, como salientado por Drehmer (2011), a questão de desamparo pode estar vinculada à sensação de falha ambiental, sendo esta fantasiada ou real, mobi- lizadora de uma dor psíquica gerada pela privação intensa de um objeto gerador de amparo. Podendo ser um fator desencadeador de trauma, o qual é marcado por uma carga excessiva de sofrimento que invade e inunda o psiquismo, proveniente de uma dificuldade em não conseguir um investimento libidinal em si mesma que garanta sua existência. E, por conseguinte, o impedimento do encontro com um am- biente continente que o auxilie na constituição do seu psiquismo (DREHMER, 2011). Hecht & Silva (2009) orientam que depois de sabido acerca da importância de um vínculo saudável, os jovens que passaram por experiências traumáticas e de- sestruturantes em sua constituição buscaram estabelecer novas oportunidades de relacionamento saudável, mostrando que o determinante não é o evento em si, mas sim a forma como foi elaborado o trauma, levando em conta o potencial criativo e regenerativo de cada ser. Pois como orienta Sequeira (2009), uma situação traumá- tica não significa trauma, é preciso acreditar na capacidade que cada sujeito possui de suportar a pressão ambiental e algumas vezes tais situações, ao invés de destru- tivas, tornam-se fonte de fortalecimento para o ego. Assim, podemos pensar que não existe aspecto saudável ou doente da existência humana, cujo sentido seja independente do momento no processo ao qual pertence ou no qual teve origem. A partir disto, para entender aspectos do comportamento é necessário estabelecer a etapa do amadurecimento em que se encontra o sujeito (DIAS, 2008). Desta forma, podemos destacar a importância fundamental da família e da escola, em adentrar a vida dos jovens como norteadores e oportunizadores de fertilidade das potências singulares destes jovens, auxiliando na expressão de suas vontades e desejos através de diálogos construtivos que levam a problematização sobre os padrões de consumo e de bem-estar, bem como sobre suas escolhas e pos- síveis consequências. atividades de estudo 1. Qual a influência dos rótulos e representações sociais em torno do existir adolescente? a) Restringem o existir dos jovens, limitando ou reduzindo a uma faixa etária com características comportamentais restritas e generalizadas. b) Orientam os jovens a se comportarem em sociedade, pois dessa maneira todos podem ser iguais. c) Conduzem os jovens para as escolhas certas conforme o desejo de sua família e sociedade. d) Oportunizam que o jovem possa ser criativo e singular. e) Possibilita o desenvolvimento das potencialidades juvenis. 2. Como os estilos parentais exercem influência e representatividade na educação do adolescente? a) Os jovens não possuem influências da família, pois preferem estar entre amigos. b) Os estilos parentais permissivo e autoritário são os que melhor atendem às ne- cessidades dos jovens. c) A família se desenvolve maturacionalmente junto com o jovem, constituindo-se enquanto norteadora de ambos os progressos. d) A família tem que ser apenas espectadora dos processos desenvolvimentais dos jovens. e) Os jovens naturalmente buscam outras influências e representatividades, por isso a família se torna obsoleta. atividades de estudo 3. De que maneira o adolescente está exposto às diferentes faces da violência? I) Apenas por ser adolescente. II) Por se colocar em risco ao estar entre amigos. III) Quando se propõe a explorar o mundo, na tentativa de conhecer a si e o funcio- namento da sociedade. IV) O jovem não está mais e nem menos exposto que o restante da sociedade. V) Por pertencer a uma etnia específica; credo, cor, característica física, genética ou diversidade de gênero e também conforme a região e contexto sócio econômico. De acordo com o que estudamos, estão corretas as afirmativas: a) Apenas a afirmativa I; b) Apenas a afirmativa III; c) As afirmativas I, II e III; d) As afirmativas III e V; e) As afirmativas I, e IV; 4. Quais os fatores de risco envoltos no desenvolvimento dos adolescentes? a) Não conseguir ingressar no mercado de trabalho. b) Falta de interesse em se comunicar de maneira fluente e direta com a família e com a escola. c) Comportamentos desafiadores. d) Estar entre seus pares. e) Os fatores que constituem maior risco ao desenvolvimento sadio dos jovens são referentes à sexualidade, uso de substâncias, transtornos de humor e transtornos alimentares. resumo Vimos os rótulos e representações sociais em torno do conceito de adolescente e ainda promo- ver uma discussão em torno da necessidade de ampliação deste contexto, explanando sobre suas potências e visibilidades. Acompanhamos como os jovens, ao se constituírem através de um novo formato corpóreo também se constitui enquanto pessoa, mediante a ocupação de espaços que possibilitem seu existir de maneira plena e saudável. Estudamos a presença e influência dos diferentes estilos parentais, tais como autoritário, permissivo e democrático.E a partir deste conhecimento, podemos refletir sobre as formas de representação na educação dos jovens derivativas de cada estilo parental, para, em seguida, observarmos que o estilo que conseguir manter como orientação a comunicação fluídica, bem como um posiciona-mento empático diante dos jovens pode promover melhores resultados levando ao fortalecimento dos vínculos e estabelecendo padrões comunicacionais e relacionais saudáveis para o futuro. Vimos a violência intrafamiliar e a violência escolar e suas diferentes faces e falas para com os jovens. Desta maneira, podemos acompanhar alguns fatores que são indutores e propagadores de violência, tais como as diferenças étnicas, genéticas, sociais e culturais. Destacamos fatores que representam maior risco para o desenvolvimento dos jovens, como a exploração e reconhecimento de sua sexualidade, em que muitas vezes acaba por desencadear em gravidez precoce ou contaminação por DSTs, devido à restrição na mediação e problemati- zação das consequências sobre comportamentos impulsivos. A exposição ao uso de substâncias, tanto lícitas quanto ilícitas, também se destacou como fator de risco, tendo em vista o acesso a estas substâncias. Assim como os transtornos de humor e os transtornos alimentares, conforme uma demanda midiática que pode corroborar por influenciar padrões de comportamentos aos quais os jovens tendem a se espelhar, quando sem orientação, presença ou cuidados necessários. material complementar Na Natureza Selvagem Autor: Jon Krakauer Editora: Companhia das Letras Sinopse: uma história comovente e envolvente contada sob o olhar de um jornalista do New York Times, que narra uma parte da vida de Chris McCandless, a partir de seu diário de viagem. Chris é um garoto que teria tudo para ter uma vida tipicamente normal, com boas condições fi- nanceiras, amigos, uma boa família e um carro. No entanto, assim que completa os estudos, inspirado por viagens anteriores pelos Estados Unidos, resolve tomar um novo rumo e seguir em uma aventura para o Alasca selvagem. O autor ainda traça um paralelo entre todas as his- tórias de jovens que se propuseram a aventuras semelhantes e traçaram suas descobertas em torno de si e do mundo em que habitavam. referências ABRAMOVAY, M. Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília: UNESCO no Brasil. 2005. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001452/145265POR.pdf> Acesso em: 27 jul. 2017. ______; RUA, M. das G. Violências nas escolas. Brasília: UNESCO no Brasil, 2002. ALBORNOZ, A. C. G. Psicoterapia com crianças e adolescentes institucionalizados. São Paulo: Casa Psi Livraria 2006. AMPARO, D. M. do et al. Adolescentes e jovens em situação de risco psicossocial: redes de apoio social e fatores pessoais de proteção. Estudos de Psicologia, v. 13, n. 2, p. 165-174, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v13n2/09.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2017. BOWLBY, J. Perda, Tristeza e Depressão. v. 3 - Apego e Perda. São Paulo: Martins Fontes, 1985. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 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Justificativa: A família se desenvolve maturacionalmente junto com o jovem, cons- tituindo-se enquanto norteadora de ambos os progressos. Assim a família também pode se constituir enquanto testemunha da narrativa do jovem. O ato de testemu- nhar é a possibilidade de criar lugares de sentido, resgatando a dignidade, a partir da voz de quem sofreu na materialidade o ato de existir. 3. d) As afirmativas III e V; Justificativa: Quando um sujeito jovem se propõe a explorar o mundo, na tentativa de conhecer a si e o funcionamento da sociedade, pode se expor a riscos no decor- rer de tais descobertas. Além disso, as diferenças possuem dificuldades de encontrar aceitação na cultura da sociedade atual e, desta maneira, os jovens podem ainda estar mais suscetíveis às violências por pertencer a uma etnia específica; credo, cor, característica física, genética ou diversidade de gênero e também conforme a região e contexto sócio econômico. 4. e) Os fatores que constituem maior risco ao desenvolvimento sadio dos jovens são referentes à sexualidade, uso de substâncias, transtornos de humor e transtornos alimentares. Justificativa: Levando em conta a amplitude em torno das subjetividades inerentes ao desenvolvimento de cada jovem, podemos inserir ao seu cotidiano uma iminen- te situação de risco psicossocial, caracterizado como todas as vivências nas quais o jovem seja exposto a situações de estresse por questões socioambientais ou por ca- racterísticas individuais de funcionamento (AMPARO, et al., 2008). _26in1rg _35nkun2 _z337ya _2xcytpi _1ci93xb _3as4poj _49x2ik5 _2p2csry REBELDIA ADOLESCENTE: MITO OU REALIDADE? CONFLITOS FAMILIARES E ESTILOS PARENTAIS VIOLÊNCIA E VIVÊNCIA ESCOLAR FATORES DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA
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