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A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DO LEITOR NA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

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A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DO LEITOR NA 
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL 
 
Daniela Silva Ribeiro1 
Ismylla Silva Dos Santos2 
Laiana Natieli Silva Ribeiro3 
 
RESUMO 
 
O presente artigo busca constatar como o contexto histórico e social do leitor pode 
influenciar na interpretação textual. Além disso, visa inicialmente abordar acepções 
acerca do que é leitura e interpretação textual. E, por conseguinte, a partir da análise 
de um questionário sobre a letra da música “Ai, que saudades da Amélia” de Mário 
Lago aplicado a acadêmicos do ensino superior e a uma turma do 9º ano do ensino 
fundamental de uma escola localizada na cidade de Açailândia/MA. Busca tratar 
questões voltadas à visão que os discentes têm em relação ao conservadorismo 
(tradicionalismo), liberalismo (modernismo) e o feminismo. Em relação à 
metodologia, foi utilizada a abordagem, predominantemente, quantitativa, com 
pesquisa exploratória e bibliográfica. Além disso, quanto aos procedimentos técnicos 
foi feito um estudo de campo. Para tanto, o arcabouço teórico está centrado em 
Dell‟Isola (2011), Diana (2018), Freire (1984), Gadotti (1993), Koch; Travaglia 
(2009), Zilberman (1991), dentre outros. Sendo assim, a pesquisa alcançou seus 
objetivos, mostrando que as ideias e opiniões dos discentes estão inteiramente 
ligadas ao contexto histórico e social em que estão inseridos. 
 
Palavras-chave: Contexto histórico. Social. Leitura. Interpretação textual. 
 
 
 
 
1Acadêmica de Letras da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - 
UEMASUL 
E-mail: danyelakiss_13@hotmail.com 
2Acadêmica de Letras da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - 
UEMASUL 
E-mail: ismylla12@gmail.com 
3 Orientadora 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Este trabalho objetiva averiguar a influência do contexto histórico e social do 
leitor na interpretação textual. Segundo Diana (2018) quando o leitor começa a ler 
um texto, a primeira ação que ele faz, mesmo que inconscientemente, é tentar 
compreender a que o conteúdo se refere. À medida que a leitura avança, alguns 
elementos ajudam a compreender qual assunto está sendo abordado. A esse 
conjunto de elementos, dá-se o nome de contexto. 
 Por isso, a relação entre texto e o contexto sócio-histórico dos leitores 
contribuem para que um mesmo texto possa ser compreendido e interpretado de 
diferentes maneiras. Salienta-se que a temática desse trabalho surgiu a partir da 
problemática de que o leitor não consegue ser imparcial na hora de interpretar um 
texto, visto que o leitor acaba interpretando conforme os seus ideais, costumes, 
crenças, valores e os diferentes contextos no qual está inserido. 
Ressalta-se que o tema abordado neste artigo ainda foi pouco estudado, pois 
é um tema novo. Contudo, é reconhecível que o contexto histórico e o contexto 
social são dois dos contextos extralinguísticos mais relevantes no processo de 
interpretação textual. 
Como referencial teórico, temos Dell‟ Isola (2011) é hipnólogo, escritor, 
palestrante, e psicoterapeuta. Freire (1984) foi o mais célebre educador brasileiro, 
com atuação e reconhecimento internacionais. Gadotti (1993) é educador brasileiro 
e professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) 
desde 1991 e diretor do Instituto Paulo Freire em São Paulo. 
Além disso, temos Koch; Travaglia (2009), a primeira autora foi 
uma linguista brasileira nascida na Alemanha, professora titular da Universidade 
Estadual de Campinas por quase trinta anos, o segundo é Mestre em Letras (Língua 
Portuguesa) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1980) e Dou tor 
em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (1991) Com Pós-doutorado 
em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) e Zilberman(1991) 
nasceu em Porto Alegre, licenciou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul e doutorou-se em Romanística pela Universidade de Heidelberg, na 
Alemanha. 
Dessa forma, essa pesquisa adotou como procedimentos técnicos a pesquisa 
exploratória, bibliográfica e o estudo de campo realizado em uma turma do ensino 
fundamental e com acadêmicos da cidade de Açailândia-MA, a fim de atingir os 
objetivos almejados neste estudo. 
 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
2.1 Acepções acerca do que é leitura 
 
 A leitura, muitas vezes, é definida simplesmente como o ato de decodificar 
aquilo que está escrito, contudo Gadotti (1993, p.16) afirma “Ler é ver o que está 
escrito, interpretar, por meio da leitura, decifrar, compreender o que está escondido 
por um sinal exterior, descobrir, tomar conhecimento pela leitura”. 
 Nessa perspectiva, é possível, pois, afirmar que o ato de ler compreende não 
só a atitude de decifrar o que o texto transparece, e sim visualizar para além do 
código, fazer assimilação entre o mundo, as experiências previas do leitor e o texto 
propriamente dito. 
 Segundo Freire (1984, p. 6) “A leitura da palavra é sempre precedida da 
leitura do mundo”, isso significa dizer que, o aprendizado da leitura e da escrita é 
antes de qualquer coisa a compreensão de nossas percepções mundanas. Dessarte 
é possível coligir que o leitor, ao observar o mundo, fazendo inferências e 
levantando julgamentos coerentes em relação às situações corriqueiras da 
sociedade, terá um senso crítico aguçado frente à leitura da palavra. 
Apesar do papel importante que a leitura exerce, por muitas vezes ela acaba 
sendo trocada pelas mídias audiovisuais, em decorrência da necessidade de 
obtenção de informações de maneira imediata ou quais quer que sejam os outros 
motivos. Nesse sentido, Freire assegura: 
 
(...) a linguagem audiovisual teria que ser um acrescentamento à outra, e 
não uma substituição. Pelo menos no momento, eu não antevejo, não me 
vejo num mundo em que a palavra escrita desapareça. Depois de milênios 
sem a palavra escrita, foi a própria conquista da palavra escrita que 
def lagrou todo esse processo, toda essa evolução. E eu não vejo como 
agora ele desapareceria, por causa de uma nova linguagem. O que eu acho 
é que não é possível se resistir à nova linguagem. Aliás, eu não as vejo 
antagônicas, mas conciliáveis, constantemente”. (FREIRE, 2013). 
 
 
 Por conseguinte, depreende-se que a leitura da palavra escrita tem perdido 
espaço para outros tipos de linguagem. Porém a prática da mesma deve ser sempre 
fomentada visto que ela serve também como veículo comunicacional, além de ser 
um agente de grande destaque no enriquecimento do imaginário infanto-juvenil. 
Batista (2019) salienta que seja por prazer, seja para estudar ou para se informar, a 
prática da leitura aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a interpretação 
textual. 
 Além disso, é válido salientar que a maior responsável pela aprendizagem da 
leitura e escrita é a escola, pois é ele quem oferece a primeira experiência do 
encontro entre o cidadão com o leitor e o texto propriamente dito. Assim como 
Zilberman afirma: 
 
Sendo a entidade que recebe a incumbência de ensinar a ler, a escola tem 
interpretado esta tarefa de um modo mecânico e estático. Dota as crianças 
do instrumental necessário e automatiza seu uso, através de exercícios que 
ocupam o primeiro – mas dif icilmente o segundo ano do primeiro g rau. Ler 
confunde-se, pois, com a aquisição de um hábito e tem como conseqüênc ia 
o acesso a um patamar do qual não mais se consegue regredir. 
(ZILBERMAN, 1991, p. 16). 
 
Nesse caso, é possível entender que as deficiências causadas em uma 
grande parte da população no âmbito da escrita e da leitura, vêem majoritariamente 
do sistema educacional que trata a fluidez da leitura com a rigidez de atividades 
mecânicase estáticas. 
 
 
2.2 Interpretação textual 
 
 A definição de texto pode ser apresentada segundo Gadotti (1993, p. 16) da 
seguinte forma: “Texto vem do latim, textus, que significa tecido, encadeamento de 
uma narração, de texere, tecer. Um texto, portanto é algo acabado, uma obra tecida, 
um complexo harmonioso”. 
 Duarte (2019) afirma que Interpretar um texto significa “desvendar seus 
mistérios” quanto à questão do discurso, pois esse (o discurso) representa a 
mensagem que ora se deseja transmitir. Dessa forma, a interpretação de texto 
consiste em saber o que se infere (conclui) do que está escrito. 
 Ao estabelecer contato com algum escrito, o leitor vislumbra compreender a 
informação a ser transmitida por meio da leitura, e a partir de então ele começa a 
desenvolver variados significados para aquilo que foi lido. Entretanto, nem sempre 
esses sentidos estão de comum acordo com a intenção primeira do autor do texto. 
 Mediante essa premissa é cabível ressaltar que tais significações estão 
estritamente relacionadas com seus conhecimentos prévios, as suas vivências e 
seus preceitos sociais e culturais. 
 Segundo (DELL‟ISOLA, 2011) a “leitura só é feita mediante a interação do 
leitor com o texto”, ou seja, à medida que o leitor realiza a leitura ele começa a 
construir inferências que construirão seu juízo de valor, sua interpretação e 
compreensão da obra. 
 Conforme Dell‟Isola as inferências tratam-se de: 
 
Uma operação mental em que o leitor constrói novas proposições a partir de 
outras já dadas. Não ocorre apenas quando o leitor estabelece elos lexicais , 
organiza redes conceituais no interior do texto, mas também quando o leito r 
busca, extratexto, informações e conhecimentos adquiridos pela experiênc ia 
de vida, com os quais preenche os “vazios” textuais. O leitor traz para o 
texto um universo individual que interfere na sua leitura, uma vez que extrai 
inferências determinadas por contexto psicológico, social, cultural, 
situacional, dentre outros. (DELL‟ISOLA, 2011, p. 44) 
 
 Entende-se, pois, que a significação atribuída ao texto construída a partir da 
associação de fatores extratextuais e o texto escrito trata-se do armazenamento de 
informações na memória que se acomodam em modelos cognitivos denominados 
como: frames, esquemas, planos, scripts e as superestruturas ou esquemas 
textuais.Os frames são uma espécie de título aglutinador referente a determinado 
acontecimento social, como, as comemorações de Natal e Ano Novo. Os esquemas 
são sequências de etapas requeridas para montar um aparelho ou para fazê-lo 
funcionar. Já os planos envolvem o planejamento de etapas ou estratégias para 
obter determinado objetivo, como, vencer um jogo. Os scripts, por sua vez, são 
modos ritualizados sobre como agir e sobre o que dizer em determinadas ocasiões. 
Já as superestruturas ou esquemas textuais procedem do conhecimento acumulado 
através da experiência leitora sobre como são organizados os textos, a partir do 
conhecimento de vários outros textos já lidos que auxiliam a interpretar e 
compreender o texto que se lê no momento (KOCH; TRAVAGLIA, 2009). 
 Em suma, esses fatores tratam-se de “estruturas cognitivas de expectativas 
que levam os indivíduos a organizar seus conhecimentos, segundo a experiência 
particular de cada um” (DELL ‟ISOLA 2011, p.50). Por isso é possível observar 
interpretações diferentes de um único texto mediante a visão de leitores distintos. 
 Portanto, pode-se afirmar que a interpretação textual depende tão somente 
das intenções do escritor como dos fatores externos do texto que se entrelaçam com 
as vivencias do leitor e o modo como ele vê o mundo e a sociedade. 
 
 
3 METODOLOGIA 
 
 Com o foco em alcançar os objetivos desse deste estudo, foram utilizados 
diversos referenciais teóricos e metodológicos para a composição do corpo desse 
trabalho. Inicialmente, adotou-se como procedimento metodológico a pesquisa 
bibliográfica ou revisão literária, que segundo Gil (2002) é desenvolvido com base 
em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. 
 Além disso, posteriormente foi feito uma coleta de dados através de um 
estudo de campo que “procura o aprofundamento de uma realidade especifica” Gil 
(2002). Essa etapa foi construída com uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental 
de uma escola e acadêmicos de uma Universidade ambos situados na cidade de 
Açailândia/MA. 
Quanto à forma de abordagem foi utilizado o método quantitativo, que de 
acordo com Gil (2002) este método é utilizado nos casos em que se procura 
identificar quantitativamente o nível de conhecimento, as opiniões, impressões, 
hábitos, comportamentos: quando se procura observar o alcance do tema, do ponto 
de vista do universo pesquisado, em relação a um produto, comunicação ou 
instituição. 
Dessa forma, foi feito a análise de um debate sobre a letra da música “Ai, que 
saudades da Amélia” de Mario Lago e foi aplicado um questionário avaliativo em 
uma turma do 9º ano do ensino fundamental. Buscando assim levantar dados acerca 
de questões voltadas a visão que os alunos têm em relação ao conservadorismo 
(tradicionalismo), liberalismo (modernismo), feminismo, etc. 
Ademais, tendo em vista seus objetivos, essa pesquisa pode ser classificada 
como uma pesquisa exploratória, levando em conta que geralmente pesquisas 
desse tipo assumem a forma de pesquisa bibliográfica de autores que falam sobre o 
tema proposto. Dessa maneira, buscou-se aposte teórico em autores como: 
Dell‟Isola (2011), Freire (1984), Gadotti (1993), Koch; Travaglia (2009), 
Zilberman(1991), dentre outros. 
 
4 RESULTADOS E DISCURSSÕES 
 
4. 1 Análise da entrevista aplicada no ensino superior 
 
 No total foram 25 entrevistados do ensino superior, sendo 75% das pessoas 
do sexo feminino e 28% do sexo masculino com idades entre 19 e 30 anos de idade, 
todos ainda graduandos. 
A primeira pergunta do questionário visou identificar o modo de pensar dos 
familiares, com os quais os entrevistados conviveram/convivem. O segundo 
questionamento buscou investigar o modo como os próprios entrevistados julgavam 
a sociedade. A terceira e a quarta pergunta tiveram como objetivo verificar os 
posicionamentos dos familiares e dos próprios informantes em relação ao 
movimento feminista. E as duas ú ltimas estavam relacionadas com o texto “Ai que 
saudade da Amélia”. 
Gráfico 1 - Como você considera o modo de pensar das pessoas que 
habitam o lugar onde você foi criado? 
Fonte: Google formulários. 
 
No gráfico acima observa-se que 48% dos entrevistados afirmaram que, seus 
responsáveis e familiares mais próximos veem a sociedade de forma conservadora e 
tradicional, 16% os consideram modernos e liberais enquanto 44% estão em um 
meio termo. Dessa forma, é possível compreender que quase metade dos familiares 
dos colaboradores da pesquisa pensam o mundo de forma tradicionalista e 
conservadora. 
 
Gráfico 2 - Como você considera seu modo de vê a sociedade? 
 
Fonte: Google formulários. 
 
 
 Quanto à segunda indagação, nota-se no gráfico 2 que 44% dos 
entrevistados afirmam ser modernos e liberais, 20% consideram-se conservadores 
tradicionalistas e os outros 36% estão em um meio termo. Vê-se que uma 
porcentagem considerável defende o pensamento modernista e liberal frente à 
sociedade, diferente dos dados do gráfico 1. 
 
Gráfico 3 - O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam 
sobre o feminismo? 
 
Fonte: Google formulários. 
 
 O gráfico 3 demonstra que 36% dos familiares dos entrevistados são contra o 
movimento feminista, 28% são a favor, 16% nunca ouviram falar do movimento e 
20% não o conhecem. Assim é perceptível que a maioria deles posiciona-secontra a 
ideologia feminista. 
 
Gráfico 4 - O que você acha do feminismo? 
 
 
 
Fonte: Google formulários. 
 
O gráfico acima mostra que 60% dos entrevistados posicionam-se afavor do 
feminismo, outros 36% são contra, 4% não sabem o que é e nenhum deles afirmou 
4% 
que nunca ouviu falar. Nessa perspectiva,observa-se que mesmo que maioria dos 
interrogados tenham sido criados em lares conservadores e com famílias que se 
posicionam contra o movimento feminista,boa parte deles apresenta-se como liberal 
e a favor da ideologia em questão. 
Dessa forma, é possível inferir de maneira geral que o pensamento da 
sociedade contemporânea sofreu alterações, e que mesmo que o ser seja imerso 
em um lar com pensamentos retrógrados e conservadores, nada o impede de 
modular seus pensamentos como o bem entender. 
As duas últimas perguntas lançadas aos colaboradores da pesquisa dizem 
respeito à interpretação do texto “Ai que saudade da Amélia” de Mário Lago e 
Ataulfo Alves, e tinham o intuito de interligar a interpretação textual com o contexto 
histórico social dos leitores, isto é, verificar a reverberação dos pensamentos sociais 
do leitor nas inferências e conclusões que os mesmos fazem ao decodificar e 
interpretar quais quer que forem os textos. 
No questionamento voltado para a interpretação da música apresentada, que 
dizia: “Como você define a Amélia apresentada no texto acima?” obtiveram-se 
respostas que firmaram o propósito do presente estudo, uma vez que os 
colaboradores imprimiram em suas interpretações o seus pensamentos acerca do 
seu olhar e do seu pensar sobre a sociedade. 
Os liberais e modernos, por exemplo, apresentaram respostas como: 
“submissa”, “uma mulher sem vontade própria que não tem ambição e acha bom a 
vida ao lado de um homem que não oferece nada a ela, nesse sentido, um tanto 
imbecil, sem o mínimo de empoderamento” e “uma mulher extremamente submissa 
que coloca o marido a frente de tudo até dela mesma e que de certa forma deixa de 
viver a própria vida para viver a vida do cônjuge, além de ser extremamente 
conformada com sua realidade ao ponto de achar bonito a situação em que está”. 
Entretanto, os mais conservadores afirmaram: “Uma mulher tranquila” “Uma 
mulher simples, onde o sentimento era mais importante do que bens materiais, 
mantendo sua promessa onde de frente a todos, seus familiares, amigos, vizinhos e 
conhecidos de que na riqueza ou na pobreza ela estaria ao lado do homem que ela 
escolheu para viver o resto de sua vida” e “Uma mulher de verdade, sem frescuras”. 
A última pergunta indagava o seguinte: “O que imediatamente vem a sua 
cabeça quando ouve dizer que uma mulher é submissa ao marido?”o entrevistado 
A, por exemplo, diz: “Que ela serve de capacho está ali para servir ao marido e ser 
a dona de casa perfeita, que não reclama e vive para o marido”. O entrevistado B 
afirmou: “Que isso é ridículo, uma vez que ela é livre para fazer o que quiser”. O 
entrevistado C disse:“Que isso é só mais um pensamento machista da sociedade”. 
Outras respostas como “patriarcalismo”, “coisa do passado” ou “uma mulher 
que é controlada” “machismo enraizado, pensamento retrógrado e influência do 
cristianismo disseminador da cultura machista”foram sugeridas por aqueles que se 
consideravam liberais e modernos. 
Em contra partida, respostas do tipo “Submissão é honra, a mulher só está 
cumprindo um mandamento bíblico”, “De acordo com os meus conhecimentos 
religioso, ser submissa não é algo ruim. É apenas trabalhar em equipe um 
respeitando a decisão do outro. Ambos são submissos” ou “Meu pensamento é que 
o homem deve sim tomar as decisões” partiram dos mais conservadores e 
tradicionais. 
Dessa forma, observou-se que a grande maioria vê o termo como, a 
capacidade de se sujeitar a qualquer situação em decorrência da vontade 
opressora de outro. 
 
 
4.2 Análise da entrevista aplicada no ensino fundamental 
 
O total de entrevistados do 9º ano do ensino fundamental foi 29 discentes, 
sendo que 48,3% dos alunos eram do sexo feminino e 51,7% do sexo masculino, 
com idades entre 14 e 19 anos de idade e todos inseridos no ensino fundamental 
ainda incompleto. 
A primeira pergunta do questionário objetivou averiguar qual a opinião dos 
familiares com os quais o entrevistado conviveu/convive. No gráfico 5, nota-se que 
62,1% dos entrevistados alegaram que seus responsáveis e familiares mais 
próximos são conservadores e tradicionais, enquanto 37,9% consideram seus 
familiares modernos e liberais. Por isso, compreende-se que mais da metade dos 
entrevistados pensam de forma tradicionalista e conservadora. 
 
Gráfico 5: Como você considera o modo de pensar das pessoas que 
habitam o lugar onde você foi criado? 
 
Fonte: Google formulários. 
 
 Vale ressaltar que o segundo questionamento teve como intuito investigar 
como os próprios entrevistados consideram o seu modo de pensar. Observa-se no 
gráfico 6, que 65,5% dos entrevistados consideram-se conservadores/tradicionais e 
27,6 % consideram-se modernos/tradicionais. Desse modo, subentende-se que 19 das 
29 pessoas entrevistadas se consideram conservadores/tradicionais. 
 
Gráfico 6: Como você considera seu modo de pensar? 
 
Fonte: Google formulários. 
 
A terceira questão teve como finalidade conferir a opinião dos familiares 
acerca do movimento feminista. Constata-se no gráfico 7, que 48, 3% dos familiares 
dos entrevistados são contra o feminismo, enquanto 27,6% são a favor do 
movimento feminista, 10, 3% são indiferentes, ou seja, não apresentam preferência 
ou opinião sobre o movimento e 13, 8% nunca ouviram falar sobre o movimentou ou 
não sabem o que é o feminismo. 
 
Gráfico 7 - O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam 
sobre o feminismo? 
 
 
 
Fonte: Google formulários. 
 
 
Além disso, a quarta pergunta teve como foco saber qual era a opinião dos 
entrevistados sobre o movimento feminista. O gráfico 8, mostra que 37,9% dos 
entrevistados posicionam-se contra o feminismo, outros 31% são a favor do 
movimento, 10,3% nunca ouviram falar sobre o feminismo ou não sabem o que é e 
20,7% são indiferentes. Neste sentido, é perceptível que maioria dos interrogados 
foram criados em lares conservadores e com famílias que se posicionam contra o 
movimento feminista, por isso sofreram influência e como consequência a maioria 
também se apresenta como contrário ao movimento feminista. 
 
 
Gráfico 8 - O que você acha do feminismo? 
 
 
 
Fonte: Google formulários. 
 
 A quinta questão proposta aos entrevistados visou analisar como o contexto 
histórico e social poderia interferir e influenciar na interpretação textual dos leitores, 
aos lerem o texto “Ai, Que saudades da Amélia” de Mario Lago. Dessa forma, a 
questão solicitava que o aluno respondesse a seguinte pergunta: “O que 
imediatamente vem a sua cabeça quando ouve dizer que uma mulher é submissa ao 
marido?”. 
 Outrossim, observou-se que em singularidade a maioria dos discentes 
respondeu que a submissão está inteiramente ligada a obediência. Exemplo: o 
aluno A respondeu: “É uma mulher que é dependente do marido, e obedece todas 
as suas ordens”; aluno B: “Submissa é o quando a mulher é obediente ao seu 
marido”; aluno C: “O que vem a minha mente é o sentimento de obediência, 
companheirismo e harmonia para com o marido”; aluno D: ”Uma mulher que não 
pretende se por acima do marido, se o marido de alguma forma foi rebaixado ela 
também se rebaixa para apoiá-lo”; aluno E: ”Uma mulher que obedece as ordens do 
marido, porém voltado a religião, mulher quer dizer igreja e Deus o marido então a 
igreja deve ser submissa a Deus”, dentre outros. 
 A sexta e última questão pedia para os discentes definirem a Amélia do texto 
apresentado. Constatou-se que uma grande porcentagem definiu a Amélia como 
uma mulher subserviente. Como responderam: aluno F: “Uma mulher conservadora 
e submissa que acata o modo de viver dos seus antepassados”; aluno G: “Ela é 
uma mulher submissa ao marido e muito humilde”; aluno H: “Uma mulher 
maravilhosa, que fica ao lado do marido independenteda situação”, dentre outros. 
Portanto, nota-se que os entrevistados imprimiram nas suas interpretações as 
suas ideologias, convicções e princípios religiosos, com base no contexto familiar 
em que estão imersos. A maioria adotou uma “postura” conservadora e 
tradicionalista com relação à ideologia abordada, se posicionando contra o 
movimento feminista. Além disso, observou-se que ao tentar interpretar o texto, os 
discentes se preocuparam apenas em compreender o que leram, mas não em 
perceber a intenção do que estava escrito e nem em notar o que estava implícito no 
texto. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao observar todos os dados coletados ao longo da pesquisa, entende-se que 
o leitor enquanto ser social imprime na interpretação do texto seus valores e 
crenças. E que a variação das formas de olhar o mundo, acaba construindo visões 
diferenciadas acerca do mesmo escrito, aquilo que chamamos de subjetividade. 
Além disso, é possível inferir que quanto maior o contato com a leitura mais a 
visão do leitor se amplia, isso fica claro quando comparamos as discussões 
levantadas durante a pesquisa na universidade e no ensino fundamental. Os 
acadêmicos de maneira instintiva levantaram inferências e questionamentos sobre o 
texto, os quais foram respondidos com o passar do diálogo de forma subjetiva, por 
outro lado os jovens discentes do ensino fundamental apenas afirmavam o óbvio 
não pararam para ler nas entrelinhas e muito menos levantaram questões a cerca do 
que fora lido e compartilhado. 
Nessa perspectiva, vale ressaltar que aqueles que têm uma visão mais 
moderna e liberal da sociedade, associaram a Amélia com uma figura passiva e 
sujeita às vontades alheias, enquanto os mais conservadores a julgam como correta , 
que faz as vontades do marido para seguir os preceitos bíblicos pregados pelas 
religiões cristãs ou pela parceria que a mesma tem com seu companheiro. 
Depreende-se também que os jovens do ensino fundamental maior possuem 
pensamentos conservadores similares aos dos familiares, tal fato de certa forma 
pode mostrar como a família detém o poder de influencia sobre o pensamento dos 
jovens. Enquanto que aqueles com maior idade já pensam e olham o mundo por si 
próprios e muitas vezes esse olhar acaba sendo diferente dos da família dele. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BATISTA, Rafael. Importância da leitura; Brasil Escola. Disponível em: 
<https://brasilescola.uol.com.br/ferias/a-importancia-leitura.htm>. Acesso em 4 de 
nov. de 2019. 
 
DELL‟ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sociocultural. 
Belo Horizonte: Formato, 2011. 
 
DIANA, Daniela. Significado de Contexto - Significados. 2018. Disponível em: 
<https://www.significados.com.br/contexto/>. Acesso em: 4 de nov. 2019. 
 
DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. A interpretação textual; Brasil Escola. 
Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-interpretacao-textual.htm>. 
Acesso em 4 de nov. de 2019. 
 
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo, Cortez, 1984. 
 
FREIRE, Paulo. Educar com a mídia [recurso eletrônico]: novos diálogos sobre 
educação/ Paulo Freire, Sergio Guimarães. 1. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. 
 
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Leitura. São Paulo, Cortez, 1993. 
 
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 
2002. 
 
KOCH; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2009. 
 
ZILBERMAN, R. (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 
Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICE: Questionário 
 
SEXO: masculino ( ) feminino ( ) outros ( ) 
NOME:_____________________________________________________________ 
IDADE: Entre 14 e 19 anos ( ) entre 20 e 35 ( ) mais de 40 ( ) 
GRAU DE ESCOLARIDADE: Fundamental completo ( ) incompleto ( ) 
 Médio completo ( ) incompleto ( ) 
 Superior completo ( ) incompleto ( ) 
 Analfabeto ( ) 
 
Como você considera o modo de pensar das pessoas que habitam o lugar 
onde você foi criado: ( ) conservadores/ tradicionais 
 ( ) liberais/modernos 
Como você se considera: ( ) conservadxr/ tradicional 
 ( ) liberal 
O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam sobre o 
feminismo? 
( ) São contra o movimento ( ) São a favor do movimento ( ) Nunca ouviram falar 
sobre o movimento/Não sabem o que é ( ) São indiferentes 
 
O que você acha do feminismo? 
( ) É contra o movimento ( ) É a favor do movimento ( ) Nunca ouviu falar sobre o 
movimento/Não sei o que é ( ) Indiferente 
 
O que imediatamente vem a sua cabeça quando ouve dizer que uma mulher é 
submissa ao marido? 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________ 
Leia o texto a seguir: 
 
Ai que Saudades da Amélia 
Mário Lago 
 
Nunca vi fazer tanta exigência 
Nem fazer o que você me faz 
Você não sabe o que é consciência 
Não vê que eu sou um pobre rapaz 
 
Você só pensa em luxo e riqueza 
Tudo o que você vê, você quer 
Ai meu Deus que saudade da Amélia 
Aquilo sim que era mulher 
Às vezes passava fome ao meu lado 
E achava bonito não ter o que comer 
E quando me via contrariado dizia 
Meu filho o que se há de fazer 
 
Amélia não tinha a menor vaidade 
Amélia que era a mulher de verdade 
 
Como você define a Amélia do texto apresentado? 
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