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A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DO LEITOR NA INTERPRETAÇÃO TEXTUAL Daniela Silva Ribeiro1 Ismylla Silva Dos Santos2 Laiana Natieli Silva Ribeiro3 RESUMO O presente artigo busca constatar como o contexto histórico e social do leitor pode influenciar na interpretação textual. Além disso, visa inicialmente abordar acepções acerca do que é leitura e interpretação textual. E, por conseguinte, a partir da análise de um questionário sobre a letra da música “Ai, que saudades da Amélia” de Mário Lago aplicado a acadêmicos do ensino superior e a uma turma do 9º ano do ensino fundamental de uma escola localizada na cidade de Açailândia/MA. Busca tratar questões voltadas à visão que os discentes têm em relação ao conservadorismo (tradicionalismo), liberalismo (modernismo) e o feminismo. Em relação à metodologia, foi utilizada a abordagem, predominantemente, quantitativa, com pesquisa exploratória e bibliográfica. Além disso, quanto aos procedimentos técnicos foi feito um estudo de campo. Para tanto, o arcabouço teórico está centrado em Dell‟Isola (2011), Diana (2018), Freire (1984), Gadotti (1993), Koch; Travaglia (2009), Zilberman (1991), dentre outros. Sendo assim, a pesquisa alcançou seus objetivos, mostrando que as ideias e opiniões dos discentes estão inteiramente ligadas ao contexto histórico e social em que estão inseridos. Palavras-chave: Contexto histórico. Social. Leitura. Interpretação textual. 1Acadêmica de Letras da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL E-mail: danyelakiss_13@hotmail.com 2Acadêmica de Letras da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão - UEMASUL E-mail: ismylla12@gmail.com 3 Orientadora 1 INTRODUÇÃO Este trabalho objetiva averiguar a influência do contexto histórico e social do leitor na interpretação textual. Segundo Diana (2018) quando o leitor começa a ler um texto, a primeira ação que ele faz, mesmo que inconscientemente, é tentar compreender a que o conteúdo se refere. À medida que a leitura avança, alguns elementos ajudam a compreender qual assunto está sendo abordado. A esse conjunto de elementos, dá-se o nome de contexto. Por isso, a relação entre texto e o contexto sócio-histórico dos leitores contribuem para que um mesmo texto possa ser compreendido e interpretado de diferentes maneiras. Salienta-se que a temática desse trabalho surgiu a partir da problemática de que o leitor não consegue ser imparcial na hora de interpretar um texto, visto que o leitor acaba interpretando conforme os seus ideais, costumes, crenças, valores e os diferentes contextos no qual está inserido. Ressalta-se que o tema abordado neste artigo ainda foi pouco estudado, pois é um tema novo. Contudo, é reconhecível que o contexto histórico e o contexto social são dois dos contextos extralinguísticos mais relevantes no processo de interpretação textual. Como referencial teórico, temos Dell‟ Isola (2011) é hipnólogo, escritor, palestrante, e psicoterapeuta. Freire (1984) foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Gadotti (1993) é educador brasileiro e professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) desde 1991 e diretor do Instituto Paulo Freire em São Paulo. Além disso, temos Koch; Travaglia (2009), a primeira autora foi uma linguista brasileira nascida na Alemanha, professora titular da Universidade Estadual de Campinas por quase trinta anos, o segundo é Mestre em Letras (Língua Portuguesa) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1980) e Dou tor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (1991) Com Pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) e Zilberman(1991) nasceu em Porto Alegre, licenciou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorou-se em Romanística pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Dessa forma, essa pesquisa adotou como procedimentos técnicos a pesquisa exploratória, bibliográfica e o estudo de campo realizado em uma turma do ensino fundamental e com acadêmicos da cidade de Açailândia-MA, a fim de atingir os objetivos almejados neste estudo. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Acepções acerca do que é leitura A leitura, muitas vezes, é definida simplesmente como o ato de decodificar aquilo que está escrito, contudo Gadotti (1993, p.16) afirma “Ler é ver o que está escrito, interpretar, por meio da leitura, decifrar, compreender o que está escondido por um sinal exterior, descobrir, tomar conhecimento pela leitura”. Nessa perspectiva, é possível, pois, afirmar que o ato de ler compreende não só a atitude de decifrar o que o texto transparece, e sim visualizar para além do código, fazer assimilação entre o mundo, as experiências previas do leitor e o texto propriamente dito. Segundo Freire (1984, p. 6) “A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo”, isso significa dizer que, o aprendizado da leitura e da escrita é antes de qualquer coisa a compreensão de nossas percepções mundanas. Dessarte é possível coligir que o leitor, ao observar o mundo, fazendo inferências e levantando julgamentos coerentes em relação às situações corriqueiras da sociedade, terá um senso crítico aguçado frente à leitura da palavra. Apesar do papel importante que a leitura exerce, por muitas vezes ela acaba sendo trocada pelas mídias audiovisuais, em decorrência da necessidade de obtenção de informações de maneira imediata ou quais quer que sejam os outros motivos. Nesse sentido, Freire assegura: (...) a linguagem audiovisual teria que ser um acrescentamento à outra, e não uma substituição. Pelo menos no momento, eu não antevejo, não me vejo num mundo em que a palavra escrita desapareça. Depois de milênios sem a palavra escrita, foi a própria conquista da palavra escrita que def lagrou todo esse processo, toda essa evolução. E eu não vejo como agora ele desapareceria, por causa de uma nova linguagem. O que eu acho é que não é possível se resistir à nova linguagem. Aliás, eu não as vejo antagônicas, mas conciliáveis, constantemente”. (FREIRE, 2013). Por conseguinte, depreende-se que a leitura da palavra escrita tem perdido espaço para outros tipos de linguagem. Porém a prática da mesma deve ser sempre fomentada visto que ela serve também como veículo comunicacional, além de ser um agente de grande destaque no enriquecimento do imaginário infanto-juvenil. Batista (2019) salienta que seja por prazer, seja para estudar ou para se informar, a prática da leitura aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a interpretação textual. Além disso, é válido salientar que a maior responsável pela aprendizagem da leitura e escrita é a escola, pois é ele quem oferece a primeira experiência do encontro entre o cidadão com o leitor e o texto propriamente dito. Assim como Zilberman afirma: Sendo a entidade que recebe a incumbência de ensinar a ler, a escola tem interpretado esta tarefa de um modo mecânico e estático. Dota as crianças do instrumental necessário e automatiza seu uso, através de exercícios que ocupam o primeiro – mas dif icilmente o segundo ano do primeiro g rau. Ler confunde-se, pois, com a aquisição de um hábito e tem como conseqüênc ia o acesso a um patamar do qual não mais se consegue regredir. (ZILBERMAN, 1991, p. 16). Nesse caso, é possível entender que as deficiências causadas em uma grande parte da população no âmbito da escrita e da leitura, vêem majoritariamente do sistema educacional que trata a fluidez da leitura com a rigidez de atividades mecânicase estáticas. 2.2 Interpretação textual A definição de texto pode ser apresentada segundo Gadotti (1993, p. 16) da seguinte forma: “Texto vem do latim, textus, que significa tecido, encadeamento de uma narração, de texere, tecer. Um texto, portanto é algo acabado, uma obra tecida, um complexo harmonioso”. Duarte (2019) afirma que Interpretar um texto significa “desvendar seus mistérios” quanto à questão do discurso, pois esse (o discurso) representa a mensagem que ora se deseja transmitir. Dessa forma, a interpretação de texto consiste em saber o que se infere (conclui) do que está escrito. Ao estabelecer contato com algum escrito, o leitor vislumbra compreender a informação a ser transmitida por meio da leitura, e a partir de então ele começa a desenvolver variados significados para aquilo que foi lido. Entretanto, nem sempre esses sentidos estão de comum acordo com a intenção primeira do autor do texto. Mediante essa premissa é cabível ressaltar que tais significações estão estritamente relacionadas com seus conhecimentos prévios, as suas vivências e seus preceitos sociais e culturais. Segundo (DELL‟ISOLA, 2011) a “leitura só é feita mediante a interação do leitor com o texto”, ou seja, à medida que o leitor realiza a leitura ele começa a construir inferências que construirão seu juízo de valor, sua interpretação e compreensão da obra. Conforme Dell‟Isola as inferências tratam-se de: Uma operação mental em que o leitor constrói novas proposições a partir de outras já dadas. Não ocorre apenas quando o leitor estabelece elos lexicais , organiza redes conceituais no interior do texto, mas também quando o leito r busca, extratexto, informações e conhecimentos adquiridos pela experiênc ia de vida, com os quais preenche os “vazios” textuais. O leitor traz para o texto um universo individual que interfere na sua leitura, uma vez que extrai inferências determinadas por contexto psicológico, social, cultural, situacional, dentre outros. (DELL‟ISOLA, 2011, p. 44) Entende-se, pois, que a significação atribuída ao texto construída a partir da associação de fatores extratextuais e o texto escrito trata-se do armazenamento de informações na memória que se acomodam em modelos cognitivos denominados como: frames, esquemas, planos, scripts e as superestruturas ou esquemas textuais.Os frames são uma espécie de título aglutinador referente a determinado acontecimento social, como, as comemorações de Natal e Ano Novo. Os esquemas são sequências de etapas requeridas para montar um aparelho ou para fazê-lo funcionar. Já os planos envolvem o planejamento de etapas ou estratégias para obter determinado objetivo, como, vencer um jogo. Os scripts, por sua vez, são modos ritualizados sobre como agir e sobre o que dizer em determinadas ocasiões. Já as superestruturas ou esquemas textuais procedem do conhecimento acumulado através da experiência leitora sobre como são organizados os textos, a partir do conhecimento de vários outros textos já lidos que auxiliam a interpretar e compreender o texto que se lê no momento (KOCH; TRAVAGLIA, 2009). Em suma, esses fatores tratam-se de “estruturas cognitivas de expectativas que levam os indivíduos a organizar seus conhecimentos, segundo a experiência particular de cada um” (DELL ‟ISOLA 2011, p.50). Por isso é possível observar interpretações diferentes de um único texto mediante a visão de leitores distintos. Portanto, pode-se afirmar que a interpretação textual depende tão somente das intenções do escritor como dos fatores externos do texto que se entrelaçam com as vivencias do leitor e o modo como ele vê o mundo e a sociedade. 3 METODOLOGIA Com o foco em alcançar os objetivos desse deste estudo, foram utilizados diversos referenciais teóricos e metodológicos para a composição do corpo desse trabalho. Inicialmente, adotou-se como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica ou revisão literária, que segundo Gil (2002) é desenvolvido com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Além disso, posteriormente foi feito uma coleta de dados através de um estudo de campo que “procura o aprofundamento de uma realidade especifica” Gil (2002). Essa etapa foi construída com uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola e acadêmicos de uma Universidade ambos situados na cidade de Açailândia/MA. Quanto à forma de abordagem foi utilizado o método quantitativo, que de acordo com Gil (2002) este método é utilizado nos casos em que se procura identificar quantitativamente o nível de conhecimento, as opiniões, impressões, hábitos, comportamentos: quando se procura observar o alcance do tema, do ponto de vista do universo pesquisado, em relação a um produto, comunicação ou instituição. Dessa forma, foi feito a análise de um debate sobre a letra da música “Ai, que saudades da Amélia” de Mario Lago e foi aplicado um questionário avaliativo em uma turma do 9º ano do ensino fundamental. Buscando assim levantar dados acerca de questões voltadas a visão que os alunos têm em relação ao conservadorismo (tradicionalismo), liberalismo (modernismo), feminismo, etc. Ademais, tendo em vista seus objetivos, essa pesquisa pode ser classificada como uma pesquisa exploratória, levando em conta que geralmente pesquisas desse tipo assumem a forma de pesquisa bibliográfica de autores que falam sobre o tema proposto. Dessa maneira, buscou-se aposte teórico em autores como: Dell‟Isola (2011), Freire (1984), Gadotti (1993), Koch; Travaglia (2009), Zilberman(1991), dentre outros. 4 RESULTADOS E DISCURSSÕES 4. 1 Análise da entrevista aplicada no ensino superior No total foram 25 entrevistados do ensino superior, sendo 75% das pessoas do sexo feminino e 28% do sexo masculino com idades entre 19 e 30 anos de idade, todos ainda graduandos. A primeira pergunta do questionário visou identificar o modo de pensar dos familiares, com os quais os entrevistados conviveram/convivem. O segundo questionamento buscou investigar o modo como os próprios entrevistados julgavam a sociedade. A terceira e a quarta pergunta tiveram como objetivo verificar os posicionamentos dos familiares e dos próprios informantes em relação ao movimento feminista. E as duas ú ltimas estavam relacionadas com o texto “Ai que saudade da Amélia”. Gráfico 1 - Como você considera o modo de pensar das pessoas que habitam o lugar onde você foi criado? Fonte: Google formulários. No gráfico acima observa-se que 48% dos entrevistados afirmaram que, seus responsáveis e familiares mais próximos veem a sociedade de forma conservadora e tradicional, 16% os consideram modernos e liberais enquanto 44% estão em um meio termo. Dessa forma, é possível compreender que quase metade dos familiares dos colaboradores da pesquisa pensam o mundo de forma tradicionalista e conservadora. Gráfico 2 - Como você considera seu modo de vê a sociedade? Fonte: Google formulários. Quanto à segunda indagação, nota-se no gráfico 2 que 44% dos entrevistados afirmam ser modernos e liberais, 20% consideram-se conservadores tradicionalistas e os outros 36% estão em um meio termo. Vê-se que uma porcentagem considerável defende o pensamento modernista e liberal frente à sociedade, diferente dos dados do gráfico 1. Gráfico 3 - O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam sobre o feminismo? Fonte: Google formulários. O gráfico 3 demonstra que 36% dos familiares dos entrevistados são contra o movimento feminista, 28% são a favor, 16% nunca ouviram falar do movimento e 20% não o conhecem. Assim é perceptível que a maioria deles posiciona-secontra a ideologia feminista. Gráfico 4 - O que você acha do feminismo? Fonte: Google formulários. O gráfico acima mostra que 60% dos entrevistados posicionam-se afavor do feminismo, outros 36% são contra, 4% não sabem o que é e nenhum deles afirmou 4% que nunca ouviu falar. Nessa perspectiva,observa-se que mesmo que maioria dos interrogados tenham sido criados em lares conservadores e com famílias que se posicionam contra o movimento feminista,boa parte deles apresenta-se como liberal e a favor da ideologia em questão. Dessa forma, é possível inferir de maneira geral que o pensamento da sociedade contemporânea sofreu alterações, e que mesmo que o ser seja imerso em um lar com pensamentos retrógrados e conservadores, nada o impede de modular seus pensamentos como o bem entender. As duas últimas perguntas lançadas aos colaboradores da pesquisa dizem respeito à interpretação do texto “Ai que saudade da Amélia” de Mário Lago e Ataulfo Alves, e tinham o intuito de interligar a interpretação textual com o contexto histórico social dos leitores, isto é, verificar a reverberação dos pensamentos sociais do leitor nas inferências e conclusões que os mesmos fazem ao decodificar e interpretar quais quer que forem os textos. No questionamento voltado para a interpretação da música apresentada, que dizia: “Como você define a Amélia apresentada no texto acima?” obtiveram-se respostas que firmaram o propósito do presente estudo, uma vez que os colaboradores imprimiram em suas interpretações o seus pensamentos acerca do seu olhar e do seu pensar sobre a sociedade. Os liberais e modernos, por exemplo, apresentaram respostas como: “submissa”, “uma mulher sem vontade própria que não tem ambição e acha bom a vida ao lado de um homem que não oferece nada a ela, nesse sentido, um tanto imbecil, sem o mínimo de empoderamento” e “uma mulher extremamente submissa que coloca o marido a frente de tudo até dela mesma e que de certa forma deixa de viver a própria vida para viver a vida do cônjuge, além de ser extremamente conformada com sua realidade ao ponto de achar bonito a situação em que está”. Entretanto, os mais conservadores afirmaram: “Uma mulher tranquila” “Uma mulher simples, onde o sentimento era mais importante do que bens materiais, mantendo sua promessa onde de frente a todos, seus familiares, amigos, vizinhos e conhecidos de que na riqueza ou na pobreza ela estaria ao lado do homem que ela escolheu para viver o resto de sua vida” e “Uma mulher de verdade, sem frescuras”. A última pergunta indagava o seguinte: “O que imediatamente vem a sua cabeça quando ouve dizer que uma mulher é submissa ao marido?”o entrevistado A, por exemplo, diz: “Que ela serve de capacho está ali para servir ao marido e ser a dona de casa perfeita, que não reclama e vive para o marido”. O entrevistado B afirmou: “Que isso é ridículo, uma vez que ela é livre para fazer o que quiser”. O entrevistado C disse:“Que isso é só mais um pensamento machista da sociedade”. Outras respostas como “patriarcalismo”, “coisa do passado” ou “uma mulher que é controlada” “machismo enraizado, pensamento retrógrado e influência do cristianismo disseminador da cultura machista”foram sugeridas por aqueles que se consideravam liberais e modernos. Em contra partida, respostas do tipo “Submissão é honra, a mulher só está cumprindo um mandamento bíblico”, “De acordo com os meus conhecimentos religioso, ser submissa não é algo ruim. É apenas trabalhar em equipe um respeitando a decisão do outro. Ambos são submissos” ou “Meu pensamento é que o homem deve sim tomar as decisões” partiram dos mais conservadores e tradicionais. Dessa forma, observou-se que a grande maioria vê o termo como, a capacidade de se sujeitar a qualquer situação em decorrência da vontade opressora de outro. 4.2 Análise da entrevista aplicada no ensino fundamental O total de entrevistados do 9º ano do ensino fundamental foi 29 discentes, sendo que 48,3% dos alunos eram do sexo feminino e 51,7% do sexo masculino, com idades entre 14 e 19 anos de idade e todos inseridos no ensino fundamental ainda incompleto. A primeira pergunta do questionário objetivou averiguar qual a opinião dos familiares com os quais o entrevistado conviveu/convive. No gráfico 5, nota-se que 62,1% dos entrevistados alegaram que seus responsáveis e familiares mais próximos são conservadores e tradicionais, enquanto 37,9% consideram seus familiares modernos e liberais. Por isso, compreende-se que mais da metade dos entrevistados pensam de forma tradicionalista e conservadora. Gráfico 5: Como você considera o modo de pensar das pessoas que habitam o lugar onde você foi criado? Fonte: Google formulários. Vale ressaltar que o segundo questionamento teve como intuito investigar como os próprios entrevistados consideram o seu modo de pensar. Observa-se no gráfico 6, que 65,5% dos entrevistados consideram-se conservadores/tradicionais e 27,6 % consideram-se modernos/tradicionais. Desse modo, subentende-se que 19 das 29 pessoas entrevistadas se consideram conservadores/tradicionais. Gráfico 6: Como você considera seu modo de pensar? Fonte: Google formulários. A terceira questão teve como finalidade conferir a opinião dos familiares acerca do movimento feminista. Constata-se no gráfico 7, que 48, 3% dos familiares dos entrevistados são contra o feminismo, enquanto 27,6% são a favor do movimento feminista, 10, 3% são indiferentes, ou seja, não apresentam preferência ou opinião sobre o movimento e 13, 8% nunca ouviram falar sobre o movimentou ou não sabem o que é o feminismo. Gráfico 7 - O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam sobre o feminismo? Fonte: Google formulários. Além disso, a quarta pergunta teve como foco saber qual era a opinião dos entrevistados sobre o movimento feminista. O gráfico 8, mostra que 37,9% dos entrevistados posicionam-se contra o feminismo, outros 31% são a favor do movimento, 10,3% nunca ouviram falar sobre o feminismo ou não sabem o que é e 20,7% são indiferentes. Neste sentido, é perceptível que maioria dos interrogados foram criados em lares conservadores e com famílias que se posicionam contra o movimento feminista, por isso sofreram influência e como consequência a maioria também se apresenta como contrário ao movimento feminista. Gráfico 8 - O que você acha do feminismo? Fonte: Google formulários. A quinta questão proposta aos entrevistados visou analisar como o contexto histórico e social poderia interferir e influenciar na interpretação textual dos leitores, aos lerem o texto “Ai, Que saudades da Amélia” de Mario Lago. Dessa forma, a questão solicitava que o aluno respondesse a seguinte pergunta: “O que imediatamente vem a sua cabeça quando ouve dizer que uma mulher é submissa ao marido?”. Outrossim, observou-se que em singularidade a maioria dos discentes respondeu que a submissão está inteiramente ligada a obediência. Exemplo: o aluno A respondeu: “É uma mulher que é dependente do marido, e obedece todas as suas ordens”; aluno B: “Submissa é o quando a mulher é obediente ao seu marido”; aluno C: “O que vem a minha mente é o sentimento de obediência, companheirismo e harmonia para com o marido”; aluno D: ”Uma mulher que não pretende se por acima do marido, se o marido de alguma forma foi rebaixado ela também se rebaixa para apoiá-lo”; aluno E: ”Uma mulher que obedece as ordens do marido, porém voltado a religião, mulher quer dizer igreja e Deus o marido então a igreja deve ser submissa a Deus”, dentre outros. A sexta e última questão pedia para os discentes definirem a Amélia do texto apresentado. Constatou-se que uma grande porcentagem definiu a Amélia como uma mulher subserviente. Como responderam: aluno F: “Uma mulher conservadora e submissa que acata o modo de viver dos seus antepassados”; aluno G: “Ela é uma mulher submissa ao marido e muito humilde”; aluno H: “Uma mulher maravilhosa, que fica ao lado do marido independenteda situação”, dentre outros. Portanto, nota-se que os entrevistados imprimiram nas suas interpretações as suas ideologias, convicções e princípios religiosos, com base no contexto familiar em que estão imersos. A maioria adotou uma “postura” conservadora e tradicionalista com relação à ideologia abordada, se posicionando contra o movimento feminista. Além disso, observou-se que ao tentar interpretar o texto, os discentes se preocuparam apenas em compreender o que leram, mas não em perceber a intenção do que estava escrito e nem em notar o que estava implícito no texto. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao observar todos os dados coletados ao longo da pesquisa, entende-se que o leitor enquanto ser social imprime na interpretação do texto seus valores e crenças. E que a variação das formas de olhar o mundo, acaba construindo visões diferenciadas acerca do mesmo escrito, aquilo que chamamos de subjetividade. Além disso, é possível inferir que quanto maior o contato com a leitura mais a visão do leitor se amplia, isso fica claro quando comparamos as discussões levantadas durante a pesquisa na universidade e no ensino fundamental. Os acadêmicos de maneira instintiva levantaram inferências e questionamentos sobre o texto, os quais foram respondidos com o passar do diálogo de forma subjetiva, por outro lado os jovens discentes do ensino fundamental apenas afirmavam o óbvio não pararam para ler nas entrelinhas e muito menos levantaram questões a cerca do que fora lido e compartilhado. Nessa perspectiva, vale ressaltar que aqueles que têm uma visão mais moderna e liberal da sociedade, associaram a Amélia com uma figura passiva e sujeita às vontades alheias, enquanto os mais conservadores a julgam como correta , que faz as vontades do marido para seguir os preceitos bíblicos pregados pelas religiões cristãs ou pela parceria que a mesma tem com seu companheiro. Depreende-se também que os jovens do ensino fundamental maior possuem pensamentos conservadores similares aos dos familiares, tal fato de certa forma pode mostrar como a família detém o poder de influencia sobre o pensamento dos jovens. Enquanto que aqueles com maior idade já pensam e olham o mundo por si próprios e muitas vezes esse olhar acaba sendo diferente dos da família dele. REFERÊNCIAS BATISTA, Rafael. Importância da leitura; Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/ferias/a-importancia-leitura.htm>. Acesso em 4 de nov. de 2019. DELL‟ISOLA, Regina Lúcia Péret. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Belo Horizonte: Formato, 2011. DIANA, Daniela. Significado de Contexto - Significados. 2018. Disponível em: <https://www.significados.com.br/contexto/>. Acesso em: 4 de nov. 2019. DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. A interpretação textual; Brasil Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-interpretacao-textual.htm>. Acesso em 4 de nov. de 2019. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo, Cortez, 1984. FREIRE, Paulo. Educar com a mídia [recurso eletrônico]: novos diálogos sobre educação/ Paulo Freire, Sergio Guimarães. 1. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Leitura. São Paulo, Cortez, 1993. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. KOCH; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2009. ZILBERMAN, R. (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. APÊNDICE: Questionário SEXO: masculino ( ) feminino ( ) outros ( ) NOME:_____________________________________________________________ IDADE: Entre 14 e 19 anos ( ) entre 20 e 35 ( ) mais de 40 ( ) GRAU DE ESCOLARIDADE: Fundamental completo ( ) incompleto ( ) Médio completo ( ) incompleto ( ) Superior completo ( ) incompleto ( ) Analfabeto ( ) Como você considera o modo de pensar das pessoas que habitam o lugar onde você foi criado: ( ) conservadores/ tradicionais ( ) liberais/modernos Como você se considera: ( ) conservadxr/ tradicional ( ) liberal O que as pessoas que habitam o lugar onde você foi criado pensam sobre o feminismo? ( ) São contra o movimento ( ) São a favor do movimento ( ) Nunca ouviram falar sobre o movimento/Não sabem o que é ( ) São indiferentes O que você acha do feminismo? ( ) É contra o movimento ( ) É a favor do movimento ( ) Nunca ouviu falar sobre o movimento/Não sei o que é ( ) Indiferente O que imediatamente vem a sua cabeça quando ouve dizer que uma mulher é submissa ao marido? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ Leia o texto a seguir: Ai que Saudades da Amélia Mário Lago Nunca vi fazer tanta exigência Nem fazer o que você me faz Você não sabe o que é consciência Não vê que eu sou um pobre rapaz Você só pensa em luxo e riqueza Tudo o que você vê, você quer Ai meu Deus que saudade da Amélia Aquilo sim que era mulher Às vezes passava fome ao meu lado E achava bonito não ter o que comer E quando me via contrariado dizia Meu filho o que se há de fazer Amélia não tinha a menor vaidade Amélia que era a mulher de verdade Como você define a Amélia do texto apresentado? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________
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