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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2008 Leitura e Produção Textual Disciplina na modalidade a distância 3ª edição revista e atualizada Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educação Superior a Distância Campus UnisulVirtual Avenida dos Lagos, 41 Cidade Universitária Pedra Branca Palhoça – SC - 88137-100 Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 E-mail: cursovirtual@unisul.br Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Avaliação Institucional Dênia Falcão de Bittencourt Biblioteca Soraya Arruda Waltrick Capacitação e Assessoria ao Docente Angelita Marçal Flores (Coordenadora) Caroline Batista Elaine Surian Enzo de Oliveira Moreira Patrícia Meneghel Simone Andréa de Castilho Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luisa Mülbert Ana Paula Reusing Pacheco Bernardino José da Silva Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Eduardo Aquino Hübler Fabiano Ceretta Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lauro José Ballock Lívia da Cruz (auxiliar) Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Maria da Graça Poyer Maria de Fátima Martins (auxiliar) Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Fogaça Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Rose Clér Estivalete Beche Raulino Jacó Brüning Rodrigo Nunes Lunardelli Criação e Reconhecimento de Cursos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Desenho Educacional Daniela Erani Monteiro Will (Coordenadora) Design Instrucional Ana Cláudia Taú Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Luiz Henrique Queriquelli Lívia da Cruz Lucésia Pereira Márcia Loch Viviane Bastos Viviani Poyer Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Avaliação da Aprendizagem Márcia Loch (Coordenadora) Cristina Klipp de Oliveira Silvana Denise Guimarães Design Visual Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Disciplinas a Distância Enzo de Oliveira Moreira (Coordenador) Gerência Acadêmica Márcia Luz de Oliveira Bubalo Gerência Administrativa Renato André Luz (Gerente) Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Ana Paula Reusing Pacheco Gerência de Produção e Logística Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francisco Asp Logística de Encontros Presenciais Graciele Marinês Lindenmayr (Coordenadora) Aracelli Araldi Cícero Alencar Branco Daiana Cristina Bortolotti Douglas Fabiani da Cruz Fernando Steimbach Letícia Cristina Barbosa Priscila Santos Alves Formatura e Eventos Jackson Schuelter Wiggers Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador) José Carlos Teixeira Eduardo Kraus Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (Coordenador) Adriana Silveira Andréia Drewes Caroline Mendonça Cláudia Noemi Nascimento Cristiano Dalazen Dyego Helbert Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda Gabriela Malinverni Barbieri Jonatas Collaço de Souza Josiane Conceição Leal Maria Eugênia Ferreira Celeghin Maria Isabel Aragon Priscilla Geovana Pagani Rachel Lopes C. Pinto Tatiane Silva Vinícius Maykot Serafi m Relacionamento com o Mercado Walter Félix Cardoso Júnior Secretaria de Ensino a Distância Karine Augusta Zanoni Albuquerque (Secretária de ensino) Ana Paula Pereira Andréa Luci Mandira Andrei Rodrigues Carla Cristina Sbardella Deise Marcelo Antunes Djeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva Bruchado James Marcel Silva Ribeiro Janaina Stuart da Costa Jenniff er Camargo Lamuniê Souza Liana Pamplona Luana Tarsila Hellmann Marcelo José Soares Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani Rosângela Mara Siegel Silvana Henrique Silva Vanilda Liordina Heerdt Vilmar Isaurino Vidal Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coordenador) Jeff erson Amorin Oliveira Marcelo Neri da Silva Pascoal Pinto Vernieri Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Leitura e Produção Textual. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância. Por falar em distância, isso não signifi ca que você estará sozinho. Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual Chirley Domingues Mônica Mano Trindade Palhoça UnisulVirtual 2008 Design instrucional Flávia Lumi Matuzawa 3ª edição revista e atualizada Leitura e Produção Textual Livro didático 410 D71 Domingues, Chirley Leitura e produção textual : livro didático / Chirley Domingues, Mônica Mano Trindade ; design instrucional Flavia Lumi Matuzawa, [Carolina Hoeller da Silva Boeing]. – 3. ed. rev. e atual. – Palhoça : UnisulVirtual, 2008. 158 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografi a. ISBN 978-85-7817-050-9 1. Língua e linguagem. 2. Leitura. 3. Produção de textos. I. Trindade, Mônica Mano. II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Boeing, Carolina Hoeller da Silva. IV. Título. Edição – Livro Didático Professor Conteudista Chirley Domingues Mônica Mano Trindade Design Instrucional Flávia Lumi Matuzawa Carolina Hoeller da Silva Boeing (3ª edição revista e atualizada) Projeto Gráfi co e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Higor Ghisi Luciano Vilson Martins Filho (3ª edição revista e atualizada) Revisão Ortográfi ca Carmen Maria Cipriani Pandini Ficha catalográfi ca elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2007 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Palavras das professoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 – Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 UNIDADE 2 – Leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 UNIDADE 3 – Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 UNIDADE 4 – Textos acadêmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 UNIDADE 5 – Tópicos gramaticais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 149 Comentários e respostas das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 151 Sumário Palavras das professoras Informações excessivas, instantâneas e superfi ciais, características do século XXI, levam-nos a ter de fazer escolhas, defi nir e manifestar nossas opiniões diante dos acontecimentos do mundo e, especialmente, do nosso meio social. O fato é que, para sabermos nos posicionar ante esse dinamismo, precisamos aprimorar nossas habilidades de escuta, leitura e escrita, responsáveis pela nossa interação no mundo, o que somente se torna possível através de um estudo de língua portuguesa comprometido em nos preparar para a vida pessoal, acadêmica e profi ssional. Aqui, você está convidado a intensifi car as suas habilidades de leitura e escrita. Fará exercícios que o levarão a indagar sobre a intenção contida nos textos, possibilitando-lhe desenvolver uma postura mais crítica sobre a sua produção textual. De forma integrada à leitura, você desenvolverá a prática de produção de textos, possibilitando-lhe adequar a sua escrita ao contexto que se fi zer necessário. Para desenvolver mais as suas habilidades na leitura e na escrita, dedique-se ao estudo de cada unidade e lembre-se da importância das atividades práticas, pois somente você poderá investir na sua formação como leitor e escritor, duas importantes funções que certamente exercerá ao longo da sua vida acadêmica e profi ssional. Bom trabalho! As autoras Plano de estudo O plano de estudo visa a orientá-lo(a) no desenvolvimento da disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecerão o contexto da disciplina e sugerirão formas de organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/ mediação. São elementos desse processo: o livro didático; ! o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - ! EVA; as atividades de avaliação (complementares, a distância ! e presenciais). Ementa Níveis de linguagem: características dos diversos tipos de linguagem e suas funções. Leitura: compreensão e análise crítica de texto. Produção de texto: tipos e gêneros textuais; coerência e coesão; adequação à norma culta. Carga horária 60 horas – 4 créditos 12 Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivo(s) A disciplina visa ao desenvolvimento da competência do estudante na realização de atividades relacionadas ao uso da língua, tanto do ponto de vista da produção quanto da recepção. Portanto, são objetivos específi cos: estimular o acadêmico à realização de atividades práticas ! de leitura e produção textual; propiciar o conhecimento dos diversos gêneros textuais, ! com a identifi cação das características e da linguagem própria de cada um, bem como suas aplicações na sociedade; possibilitar o estudo de regras específi cas para adequação ! do texto à modalidade culta da língua. Conteúdo programático/objetivos Os objetivos de cada unidade defi nem o conjunto de conhecimentos que você deverá deter para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Neste sentido, veja a seguir as unidades que compõem o livro didático desta disciplina, bem como os seus respectivos objetivos. Unidades de estudo: 5 Unidade 1 – Linguagem (10 h/a) Esta unidade, de caráter introdutório, apresentará os conceitos de língua, linguagem e variação lingüística, defi nições básicas e essenciais ao desenvolvimento da disciplina, bem como um estudo sobre níveis de linguagem e funções de linguagem. Unidade 2 – Leitura (15 h/a) Esta unidade abordará a importância da leitura e sua infl uência na escrita, as características dos textos literários e não-literários e os níveis de informação explícito e implícito, enfocando a 13 Nome da disciplina aplicação desses conceitos, a partir de atividades de leitura e interpretação textual. Unidade 3 – Texto (15 h/a) Nesta unidade, serão apresentados os conceitos essenciais à prática de produção de texto, como a defi nição de gêneros textuais, intertextualidade e polifonia, e os elementos responsáveis pela coerência e coesão dos enunciados, enfocando a aplicação desses conceitos, a partir de atividades de produção escrita. Unidade 4 – Textos acadêmicos (10 h/a) Nesta unidade, serão apresentados alguns dos gêneros textuais que circulam no ambiente acadêmico, como resumo, resenha e relatório, focando o objetivo, as características e a linguagem adequada a cada um desses textos. Unidade 5 – Tópicos gramaticais (10 h/a) Nesta unidade, serão apresentados alguns tópicos gramaticais, enfocando a necessidade do conhecimento de tais regras para a adequação do texto à norma culta da língua. Agenda de atividades/ Cronograma Verifi que com atenção o EVA, organize-se para acessar ! periodicamente o espaço da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo, e da interação com os seus colegas e tutor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço ! a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades ! relativas ao desenvolvimento da disciplina. 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) UNIDADE 1 Linguagem Objetivos de aprendizagem Ao fi nal da unidade você terá subsídios para compreender: ! A diferença entre língua e linguagem. ! As causas da variação lingüística. ! As situações de uso das modalidades da língua. ! As funções da linguagem. Seções de estudo Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos: Seção 1 Língua, Linguagem e Variação. Seção 2 Níveis de Linguagem. Seção 3 Funções da Linguagem. 1 16 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de conversa Durante muito tempo, acreditou-se que dominar a língua portuguesa era falar difícil, ou seja, empregar vocabulário culto e usar frases de efeito com estrutura mais complexa. Hoje, no entanto, sabemos que usar bem o português é, sobretudo, saber adequar a linguagem a diferentes situações sociais das quais participamos. Por exemplo, sabemos que é preciso ter um cuidado especial com a língua quando nos submetemos a uma entrevista de emprego, ou quando elaboramos um texto acadêmico. Mas, em uma conversa com amigos ou familiares, podemos usar uma linguagem mais coloquial. Assim sendo, pode-se dizer que a língua apresenta variações e o que determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de comunicação. Esse é o tema da presente unidade, que tem como objeto o estudo da linguagem e suas variações. Aqui, você encontrará conceitos básicos de introdução para um trabalho de leitura e produção de textos. São conceitos essenciais, que serão retomados no decorrer das demais unidades, logo precisam ser bem compreendidos para facilitar o seu crescimento na disciplina. Bons estudos! Seção 1 – Língua, linguagem e variação Comunicação provém de communicare, verbo latino que signifi ca pôr em comum. Para Medeiros (2000, p. 15), a fi nalidade da comunicação é pôr em comum não apenas as idéias, sentimentos, pensamentos, desejos, mas também compartilhar formas de comportamento, modos de vida determinados por regra de caráter social. A comunicação implica, fundamentalmente, a utilização de uma linguagem. A linguagem humana, segundo Koch (1997a, p. 9), tem sido concebida de maneiras diversas, e a mais recente dessas concepções considera a linguagem como atividade, como forma de ação, como 17 Leitura de Produção Textual Unidade 1 lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dosmais diversos tipos de atos. A linguagem se materializa de duas formas. Na primeira, denominada de linguagem não-verbal, exploram-se sinais, gestos e imagens. Na segunda, denominada de linguagem verbal, utilizam-se signos, ou seja, é uma modalidade constituída de um sistema de sinais convencionados. Esse conjunto de signos é o que denominamos de língua. Bem, agora que já abordamos os conceitos básicos sobre a linguagem humana, vamos resumi-los para assimilá-los melhor. Resumindo: Linguagem ! : capacidade do ser humano de se comunicar por meio de um língua. Língua ! : código, sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade. Linguagem verbal ! : constituída de um sistema de códigos convencionados. Linguagem não-verbal ! : constituída por imagens, gestos, emoticons, expressão facial etc. Para diferenciar melhor a linguagem verbal da linguagem não-verbal, observe os seguintes exemplos: Texto A Uma das maneiras de ver o mundo é sob a fi gura da antítese. Assim, as categorias que encontramos são: os ricos e os pobres, os brancos e os negros, os homens e as mulheres, os heterossexuais e os homossexuais etc. 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Texto B Figura 1 – Ilustração sobre antítese. (Fonte: Platão e Fiorin. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,1996.) É fácil perceber que no primeiro exemplo, por meio da linguagem verbal, há uma afi rmação genérica entre as diferenças existentes no mundo. Da mesma forma, no segundo, essa temática aparece, uma vez que a fi gura pretende, através da oposição entre a cor e o tamanho das mãos, chamar a atenção para a fome e a desnutrição no continente africano. Ainda, o texto pode ser elaborado pela associação dos dois tipos de linguagem, o que denominamos de linguagem mista. Observe a charge: Texto C Figura 2 – charge do Lula Papai Noel. (Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006). A compreensão desse texto de humor ocorre pela associação da imagem-fi gura de Papai Noel – com a linguagem verbal – o conteúdo das cartas e a fala da personagem. Inclusive a própria defi nição da personagem – Presidente Lula e Papai Noel – depende do conteúdo de sua fala. 19 Leitura de Produção Textual Unidade 1 — Então, agora que você já sabe que língua é um código por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si, passemos ao seguinte questionamento: A língua portuguesa, no Brasil, é um código único a todos os falantes? Para responder a pergunta, você deve levar em conta, por exemplo, a diferença que existe na linguagem em diversos níveis, como: a linguagem que você usa com o seu chefe não é a mesma que você usa com os seus amigos. Ou ainda, o vocabulário dos jovens está mais aberto às mudanças e novidades, diferente do que acontece com os mais idosos, que tendem a um conservadorismo. Aliás, causa-nos grande estranhamento ouvir pessoas idosas, por exemplo, usando uma gíria, não é mesmo? Isso acontece porque temos consciência de que há várias formas de usarmos a língua que falamos. Assim sendo, se você respondeu NÃO para a pergunta anterior, então você já está próximo do conceito de nosso próximo assunto, ou seja, Variação Lingüística. A língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro. Aliás, assim como a cultura brasileira é plural, há também a pluralidade lingüística, o que é facilmente observado em nosso país. Essa pluralidade é o que denominamos variação lingüística, e esse é o tema que vamos abordar agora. Mas qual é o objetivo de estudarmos tal assunto? Estudar a variação lingüística oportunizará você a perceber que diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e profi ssão são responsáveis pela variação da língua. Devemos observar, no entanto, que não há um uso melhor que o outro. Em uma mesma comunidade lingüística, coexistem usos diferentes, não existindo um padrão de linguagem que possa ser considerado superior. 20 Universidade do Sul de Santa Catarina O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a situação concreta de comunicação. Níveis de variação lingüística É importante observar que o processo de variação ocorre em todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais perceptível na pronúncia ou no vocabulário. Também são vários os fatores que determinam a variação, entretanto, vamos dar ênfase à variação regional, à variação social e à variação por faixa etária, que serão explicadas a seguir. 1) Variação regional (territorial ou geográfi ca) Ocorre entre pessoas de diferentes regiões em que se fala a mesma língua. Segundo Travaglia, essa variação normalmente acontece [...] pelas infl uências que cada região sofreu durante sua formação; porque os falantes de uma dada região constituem uma comunidade lingüística geografi camente limitada em função de estarem polarizados em termos políticos, econômicos, culturais e desenvolverem então um comportamento lingüístico comum que os identifi ca e distingue. (2002, p. 42). Então, como você pode ver, são os diferentes falares que se encontram no Brasil como os falares gaúcho, nordestino, carioca, o chamado dialeto caipira etc. Essa diferença pode ser percebida em relação à pronúncia, como por exemplo, a diferença do r e do s, na fala de cariocas, gaúchos, paulistas. Além disso, também fi ca evidente a diferença em nível vocabular, pois temos várias palavras usadas para fazer referência ao mesmo objeto, e o uso de um ou outro vocábulo varia de região para região. É o que ocorre em: pipa – papagaio – pandorga – maranhão; ! pão francês – pão de trigo – cacetinho; ! aipim – mandioca – macaxeira. ! 21 Leitura de Produção Textual Unidade 1 2) Variação social Ocorre entre pessoas que pertencem a diferentes grupos sociais. Neste caso, podemos dividir a língua em vários “dialetos” ou “jargões” que, na dimensão social, representam as variações que ocorrem de acordo com a classe a que pertencem os usuários da língua. Podemos, então, considerar como variedades dialetais de natureza social, os jargões profi ssionais (linguagem dos artistas, médicos, professores, operários), como também as gírias usadas por diversos grupos como: jogadores de futebol, cantores de Rap, freqüentadores de academias de ginástica etc. Assim, pessoas com relações bastante estreitas e interesses comuns tendem a usar uma linguagem mais específi ca. Vejam os exemplos nos textos a seguir: Então a nossa fi losofi a é mostrar pras pessoas, né, tentar passar pras pessoas que elas podem brilhar, que elas são importantes (...) Então nós viramos pro negro e falamos: pô, negócio seguinte, tu é bonito, tu não é feio como dizem que tu é feio. Teu cabelo não é ruim como dizem que teu cabelo é ruim, entendeu? Meu cabelo é crespo, entendeu? Existe cabelo crespo, existe cabelo liso. Não tem essa de cabelo bom, cabelo ruim. Por que que cabelo de branco é bom e meu cabelo é ruim? (Fala de um cantor de Rap) Outro dia o coruja estava batendo lata e encontrou um tatu. - E aí? Eles acertaram o pilão? - Que nada, o espada abiu o caderno e passou o maior chapéu no piolho! (FUSARO, Kárin. Gírias de todas as tribos. São Paulo: Panda, 2001) 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Você entendeu os textos dos exemplos? Talvez você sinta difi culdades em relação ao segundo, caso você não compreenda a gíria dos taxistas. Releia o texto, considerando este vocabulário: Quadro 01 – quadro de referência de gírias e seus signifi cados Gíria Signifi cado Abrir o caderno Falar demais, contar a vida. Bater lata Andar com o carro vazio, à procura de passageiro. Chapéu Golpe, ato de não pagar ao taxista. Coruja Taxista que trabalha no período noturno. Espada Passageiro difícil de enganar. Pilão Corrida prefi xada. Piolho Taxista queassalta o passageiro, até mesmo à mão armada. Tatu Passageiro inocente, vítima fácil. 3) Variação por faixa etária Os dialetos, na dimensão de idade, representam as variações decorrentes da diferença no modo de usar a língua de pessoas de idades diferentes, normalmente em faixas etárias diversas: crianças, jovens, adultos e velhos. Assim, seria um fato raríssimo presenciarmos uma pessoa idosa usando expressões como linkar (ligar um site a outro), subir um arquivo (mandar um arquivo para a internet), até mesmo pela pouca ou nenhuma intimidade que esse grupo de pessoas tem com o computador e, conseqüentemente com a internet. — Até aqui você viu algumas variações lingüísticas. Na próxima seção, você verá a variação de registro, que também é um conceito importante no estudo da linguagem. 23 Leitura de Produção Textual Unidade 1 Seção 2 – Níveis de linguagem Na seção anterior, você estudou os conceitos de língua e linguagem, assim como as variações lingüísticas. Dando continuidade ao assunto, vamos abordar a variação de registro, que se defi ne pela forma de utilização da linguagem, levando em conta o contexto da situação. Um exemplo disso é a forma como falamos com um adulto ou com uma criança. Quando falamos com a criança, a nossa linguagem é mais gestual, mudamos o tom da voz, ou seja, imitamos as próprias crianças. Antes de estudar esse tipo de variação, que chamaremos de níveis de linguagem, é necessário que você refl ita um pouco sobre as características da língua falada e da língua escrita. Nas situações de fala, há um contato direto entre os interlocutores, isto é, falante e ouvinte, o que nos permite fazer repetições e explicações, caso nosso ouvinte não nos compreenda. Já nas situações de escrita, o contato entre autor e leitor é indireto, logo torna-se necessária a formulação de um texto claro, possível de ser compreendido pelo leitor, sem a possibilidade da intervenção simultânea do autor. Isso desencadeia uma série de diferenças entre fala e escrita, em relação à estrutura e à organização do texto, que podem ser resumidamente apresentadas no quadro a seguir: 24 Universidade do Sul de Santa Catarina Quadro 02 – Comparativo entre língua oral e escrita Língua oral Língua escrita Repetição de palavras Vocabulário amplo e variado. Frases inacabadas e interrompidas Frases completas. Seqüência de orações com ou sem conexão Orações coordenadas ou subordinadas. Frases feitas, clichês, provérbios, gírias Uso restrito de frases feitas, provérbios, gírias. Marcas da oralidade, como daí, né, tá etc. Ausência desses marcadores. As características do Quadro 02 são predominantes, mas não podem ser vistas como exclusivas do texto oral ou do texto escrito. Você sabe que nossa produção oral não é sempre igual. Quando falamos, fazemos variações em função do contexto da conversação e de nossos interlocutores. Assim também a escrita não é uniforme. Podemos escrever de várias formas, considerando a fi nalidade do texto e o leitor a quem nos dirigimos, concorda? Isso signifi ca que há outro tipo de variação, que pode ser registrado tanto na fala quanto na escrita. Por isso, mais importante que observar as variações entre fala e escrita é observar e fazer uso das diferenças entre os níveis de linguagem. Perceba que no nosso dia-a-dia, em casa, no trabalho, no encontro com os amigos, expressamo-nos de diferentes formas, ou seja, não nos referimos ao nosso chefe da mesma maneira como nos dirigimos a um amigo, não é mesmo? Daí a necessidade de usar adequadamente os dois níveis de linguagem: culto e coloquial. A modalidade culta é a língua padrão. É a variedade lingüística de maior prestígio social. É aquela usada nas situações formais tanto na fala quanto na escrita. 25 Leitura de Produção Textual Unidade 1 É facilmente observada em um discurso de formatura, na apresentação de um projeto, na defesa de uma monografi a, ou ainda, na produção de textos acadêmicos, jurídicos, empresariais etc. A modalidade coloquial é a linguagem que utilizamos no nosso cotidiano, para situações informais, tanto na fala quanto na escrita. É a linguagem que usamos no nosso dia-a-dia, nas conversas com os amigos, com a família, ou ainda, na produção de alguns textos, como bilhetes ou mensagens eletrônicas. A escolha das modalidades se dá, portanto, em função do nível de formalidade exigido no contexto. Assim, situações mais informais permitem o uso da modalidade coloquial e situações mais formais exigem o uso da modalidade culta. Veja os seguintes exemplos: Situação hipotética: confraternização entre os funcionários da empresa X. Contexto 1 Se você fi car encarregado de publicar um convite a todos os funcionários, você se preocupará em ser objetivo e, principalmente, ser compreendido por todos, até mesmo pelos que não o conhecem. Além disso, como pessoas que ocupam cargos hierarquicamente superiores ao seu também serão seus interlocutores, você tenderá à formalidade. Provavelmente, seu texto fi cará parecido com o que sugerimos abaixo. “No espírito de encerramento de mais um ano de trabalho, convidamos a todos os colaboradores desta empresa para um jantar comemorativo. Local: Restaurante XXX Data: 15/12/2006 Horário: 20 horas É necessário confi rmar presença até dia 10/12/2006, pelo e-mail XXX@XX.br.” 26 Universidade do Sul de Santa Catarina Contexto 2: Agora você é um dos funcionários da empresa que recebeu o convite. Seu interesse é saber se as pessoas que trabalham mais próximas de você, ou seja, aquelas com as quais você tem mais intimidade comparecerão. Muito provavelmente, você mandará a elas um e-mail, de forma descontraída, próximo ao sugerido: “E aí, pessoal. Tô a fi m de ir no jantar do dia 15. Quem vai? Vamos combinar um esquema de carona? Tô esperando. Abração.” Sabemos que a maioria das situações de fala tendem a ser mais informais que as situações de escrita, o que leva as pessoas a uma conclusão equivocada: é comum que as pessoas façam uma associação de conceitos e denominem uma modalidade como linguagem oral/coloquial e a outra como linguagem escrita/culta. No entanto, como você pode ver no exemplo acima, houve a ocorrência dos dois níveis – culto e coloquial – nos dois textos simulados, e ambos foram produzidos de forma escrita. Além disso, lembre-se de que os conceitos anteriormente apresentados explicitam que tanto a modalidade culta quanto a coloquial aparecem em situações de fala e escrita. É importante não confudir essa diferença entre modalidade culta e coloquial com a diferença entre fala e escrita. Para fi nalizar esta seção, gostaríamos de reforçar que o objetivo de estudar as modalidades que lhe foram apresentadas é fazer com que você fi que atento à necessidade de adequação de seu texto falado ou escrito à situação de uso. O ideal é que você se sinta apto a fazer uso da modalidade culta, quando isso se fi zer necessário, e da modalidade coloquial, em situações permitidas. Lembre-se disso, no decorrer da disciplina, em todas as atividades de produção textual. A seguir, você estudará as funções da linguagem como um dos recursos disponíveis para marcar a intencionalidade de um texto. 27 Leitura de Produção Textual Unidade 1 Seção 3 – Funções da linguagem Como você já estudou na primeira seção, a linguagem é utilizada para que a comunicação se efetive. Para isso, em um processo de comunicação, alguns elementos são necessários, tais como: Emissor ! – aquele que emite, codifi ca a mensagem. Receptor ! – aquele que recebe, decodifi ca a mensagem. Mensagem ! – o conteúdo transmitido pelo emissor. Código ! – o conjunto de signos usado na transmissão e na recepção da mensagem. Referente ! – o contexto relacionado ao emissor e ao receptor. Canal ! – o meio pelo qual a mensagem circula. No processo de comunicação, todos esses elementos estão envolvidos, mas, em razãoda intencionalidade do texto, um ou outro elemento deve ser enfatizado, o que resulta nas funções da linguagem. A seguir, apresentamos cada uma das funções, suas características e contextos de ocorrência, fi nalizando com um exemplo. 1. Função emotiva (ou expressiva) É centralizada no emissor, revelando sua opinião ou emoção. Portanto, é notável no texto o uso da primeira pessoa do singular, das interjeições e exclamações. Predominante em textos literários, biografi as, memórias, cartas pessoais. 28 Universidade do Sul de Santa Catarina O meu amor, o meu amor, Maria É como um fi o telegráfi co da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas... De vez em quando chega uma E canta (Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá) Canta e vai-se embora Outra nem isso, Mal chega, vai-se embora. A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fi o de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo: As andorinhas é que mudam. (POEMINHA SENTIMENTAL, Mário Quintana) 2. Função referencial (ou Denotativa) É centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. A linguagem do texto é objetiva, direta e prevalece o uso da terceira pessoa do singular. Predominante em textos acadêmicos, científi cos e em alguns textos jornalísticos como a notícia. EDUCAÇÃO NÃO REDUZ DESIGUALDADE RACIAL Estudo do IBGE revela que quanto maior a escolaridade do trabalhador brasileiro, maior é a diferença no salário dos brancos em relação ao dos pretos e pardos. O levantamento teve por base a Pesquisa mensal de Emprego do instituto, restrita às seis maiores regiões metropolitanas do país. (Folha de São Paulo, 18/11/2006, p. 01) 29 Leitura de Produção Textual Unidade 1 3. Função apelativa (ou conativa) É centralizada no receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso dos pronomes tu e você, ou o nome da pessoa a quem o emissor se refere. Predominante em sermões, discursos e textos publicitários, já que estes se dirigem diretamente ao consumidor. Celular de graça Na sua mão CLARO A vida na sua mão Você ainda ganha o dobro de minutos do seu plano por até 12 meses. (Texto publicitário – NOKIA – publicado no Diário Catarinense em 19/11/2006) 4. Função fática É centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a efi ciência do canal. Predominante na conversação, como saudações, falas informais e falas telefônicas, quando fazemos uso da linguagem mais por exigência das relações sociais do que pela necessidade de transmissão da mensagem. No elevador: - Bom dia! - Bom dia! - Que calor tem feito. - Pois é. - Até logo. -Tchau. 30 Universidade do Sul de Santa Catarina 5. Função poética É centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Valorizam-se as palavras e suas combinações. Predominante em textos com linguagem fi gurada, como poemas, letras de música, textos publicitários. Quando os sapatos ringem - quem diria? São os teus pés que estão cantando! (QUINTANA, Mário. Verão. In: Mário Quintana de Bolso. Porto Alegre: L&M, 1997, p. 140.) 6. Função metalingüística É centralizada no código. É quando a linguagem é usada para falar dela mesma. Ocorre quando um texto comenta outro texto, ou quando o poema fala do próprio poema ou quando o cinema explica como se faz um fi lme. Predominante em dicionários. As expressões são data venia, permissa venia, concessa venia. O senhor, para não usar de aspereza com o juiz, o senhor bota data venia, que quer dizer “com o devido respeito”, bota antes data venia e aí fala o que quiser para o juiz. Os sinônimos de data venia seriam permissa venia, concessa venia. Eu jamais repito data venia no mesmo processo. Só data venia, data venia, fi ca enfadonho, né? (Fala de um advogado no exercício de sua função). É importante você observar que os textos selecionados apresentam como função predominante aquela que pretendemos exemplifi car, mas isso não exclui a possibilidade de um mesmo texto apresentar mais de uma função de linguagem, fato que ocorrerá na atividade proposta para este assunto. 31 Leitura de Produção Textual Unidade 1 Síntese Ao término desta unidade, você deve ter compreendido alguns conceitos básicos para o estudo da língua portuguesa, os quais retomaremos aqui: a) Linguagem deve ser defi nida como a capacidade de comunicação do ser humano. Manifesta-se tanto por signos lingüísticos, ou seja, por palavras, quando denominada de linguagem verbal, quanto por imagens, o que caracteriza a linguagem não-verbal. b) Língua é um código, conjunto de signos, estabelecido por uma determinada sociedade, em um determinado espaço geográfi co. c) As línguas não são uniformes. Elas variam, pois as pessoas falam de modo diferente em relação à pronúncia, ao vocabulário, ao uso de gírias e expressões e à estrutura gramatical. Vários fatores podem infl uenciar essa variação, mas apresentamos como os mais relevantes alguns fatores externos, tais como: Geográfi co: ! variação decorrente do local onde o falante vive. Social ! : variação decorrente do grupo social ao qual o falante pertence, ou a profi ssão que exerce. Idade ! : variação decorrente da faixa etária do falante, uma vez que as expressões coloquiais e as gírias mudam rapidamente com o decorrer do tempo. d) Além da variação geográfi ca, social e etária, há a variação de registro. Trata-se das possibilidades de diferentes usos da língua por um mesmo falante. Em situações informais, tem-se a opção pelo nível coloquial; já em situações formais, pelo nível culto. Tais modalidades, coloquial e culta, são observadas tanto em textos falados quanto escritos. e) Seis elementos compõem o processo de comunicação: emissor, receptor, mensagem, código, contexto e canal. Quando produzimos nossos textos, enfatizamos um ou outro elemento, de modo intencional, o que resulta em seis diferentes funções da linguagem: emotiva, centrada no emissor; apelativa, centrada 32 Universidade do Sul de Santa Catarina no receptor; poética, centrada na mensagem; metalingüística, centrada no código; referencial, centrada no contexto, e fática, centrada no canal. O objetivo de você ter estudado este conteúdo, aqui brevemente resumido, é adquirir conhecimentos básicos sobre a língua para que possa aplicá-los nos processos de leitura e produção textual, desenvolvidos nas unidades seguintes. Atividades de auto-avaliação 1) Procure no seu cotidiano, exemplos de textos que são elaborados por meio de linguagem verbal, não-verbal e pela junção de ambas. 33 Leitura de Produção Textual Unidade 1 2) Leia o texto de apoio e busque exemplos de variação percebidos por você no seu dia-a-dia, na sua comunidade. NÃO EXISTEM LÍNGUAS UNIFORMES Sírio Possenti Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo no Brasil e que isso se deve ao “povinho” que habita esse país (conhecem a piada?), poderia talvez achar que tem um argumento defi nitivo, quando observa que “até mesmo para falar somos um povo desleixado”. Esse modo de encarar os fatos da linguagem é bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas têm a respeito dos campos nos quais são especialistas. Em outras palavras, é uma avaliação falsa. Mas como existe, e como também é um fato social associado à linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno da linguagem, especialmente para os profi ssionais, dois fatos são importantes: a) todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a variedade lingüística é o refl exo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ou grupos, essas diferenças se refl etem na língua. Ou seja: a primeiraverdade que devemos encarar é relativa ao fato de que em todos os países (ou em todas as “comunidades de falantes”) existe variedade de língua. E não apenas no Brasil, porque seríamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem mesmo sua rica língua. A segunda verdade é que as diferenças que existem numa língua não são casuais. Ao contrário, os fatores que permitem ou infl uenciam na variação podem ser detectados através de uma análise mais cuidadosa e menos anedótica. Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são externos à língua. Os principais são os fatores geográfi cos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de profi ssão etc. Ou seja: as pessoas que moram em lugares diferentes acabam caracterizando-se por falar de algum modo de maneira diferente em relação a outro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razão, a distância – só que esta social) acabam caracterizando sua fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo vale para diferentes sexos, idades, etnias, profi ssões. De uma forma um pouco 34 Universidade do Sul de Santa Catarina simplifi cada: assim como certos grupos se caracterizam através de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trajes, por terem determinados hábitos etc), também podem caracterizar-se por traços lingüísticos. Para exemplifi car: podemos dizer que fulano é velho porque tem tal hábito (fuma cigarro sem fi ltro, por exemplo), ou porque fala “Brasil” com um “l” no fi nal (ao invés de falar “Brasiu”, com uma semivogal, como em geral ocorre com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para a identifi cação social. Por isso, é freqüentemente estranho, quando não ridículo, um velho falar como uma criança, uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos não podem ou não querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem objeto de gozação por parte dos colegas, porque em nossa sociedade a correção é considerada uma marca feminina. Também há fatores internos “a língua que condicionam a variação. Ou seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não “errar” em certos casos. Em outras palavras, há erros que ninguém comete, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, outro). Mas nunca se ouve alguém dizer peto, jeto ao invés de peito e jeito. Por que será que os mesmos falantes ora eliminam e ora mantêm a semivogal? Alguém pode explicar por que o i cai antes de certas consoantes e não diante de outras? Alguém pode explicar por que o u cai antes de t (outro) e o i não cai no mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de semivogal (i ou u) e a consoante seguinte são parte dos fatores internos relevantes para explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece. Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, “comédia dos erro”, mas nunca “o bois”, “um caras” ou “comedia do erros”. Ouviremos muitas vezes “nós vai”, mas nunca “eu vamos”. Assim, as variações lingüísticas são condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores sociais, ou por ambos ao mesmo tempo. Alguns sonham com uma língua uniforme. Só pode ser por mania repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a humanidade inventou. E a variedade lingüística está entre as variedades mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana. Numa língua uniforme talvez fosse possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor? E como os falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que avisar (dizer, por exemplo, “estou irritado”, “estou á vontade”, “vou tratá-lo formalmente”)? POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras, 1996, p. 33. 35 Leitura de Produção Textual Unidade 1 3) Os textos, a seguir, são transcrições de falas em situação coloquial. Reescreva, adequando-os à linguagem culta. a) A TV eu acho que nem sempre é uma boa infl uência para as crianças e também não espero que eduque essas crianças com os programas tão violentos. Até nos desenhos animados tem essa violência e com a apelação sexual dos outros programas. 36 Universidade do Sul de Santa Catarina b) Se tem um problema que é difícil de enfrentar é a miséria que quanto mais parece que tem programa social, mais parece que tem família vivendo na rua com criança na rua pedindo esmola e ainda muitas vezes as mulheres desta família que já está na rua continua engravidando, dá a impressão que nunca acabará o mesmo cenário. 37 Leitura de Produção Textual Unidade 1 4) O texto que segue é um trecho de uma publicidade institucional fi nanciada pela Unicef e pela Fundação Odebrecht. Leia-o e identifi que pelo menos duas funções de linguagem. Você acha normal que uma criança carente fracasse na escola? Nós não. Os altos índices de repetência escolar só não são mais perversos que o conformismo da nossa sociedade com esse absurdo. Um absurdo que está presente de modo signifi cativo entre as classes sociais mais ricas e de modo esmagador entre as classes mais pobres. 38 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais Para aprofundar os tópicos abordados sugerimos a leitura de: FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristóvão. Prática de texto para estudantes universitários. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992. (Do capítulo primeiro ao sétimo) UNIDADE 2 Leitura Objetivos de aprendizagem Ao fi nal da unidade você terá subsídios para: ! Diferenciar, a partir de características específi cas, textos literários e não-literários. ! Compreender que o processo de leitura como construção de sentido envolve conhecimento contextual. ! Perceber que o processo de leitura como construção de sentido envolve, também, o uso de estratégias como a extrapolação do nível explícito de informações. ! Reconhecer as possibilidades de processar inferências sobre as informações implícitas, tais como os pressupostos e os subentendidos. Seções de estudo Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos: Seção 1 O que signifi ca ler? Seção 2 Possíveis leituras. Seção 3 Nas entrelinhas. 2 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de conversa Nesta unidade, você é convidado à leitura, pois desenvolver essa competência é um dos objetivos da disciplina. É importante estar ciente de que para fazer um bom curso superior você deverá dedicar um tempo aos estudos extra-aula. Esses estudos pressupõem ter às mãos boas fontes de leitura e fazer bom uso delas. Portanto, é preciso ler. Sem o exercício da leitura, não será possível desenvolver competências necessárias ao aprendizado esperado nas diversas áreas, como capacidade de compreensão, síntese, argumentação e investigação científi ca. Portanto, convidamos você a nos acompanhar no roteiro de leitura proposto nesta unidade, partindo da conceituação básica sobre o ato de ler, focalizando diferentes modos de leitura, até a compreensão de como podemos inferir a partir do que lemos. É necessário que você, ao realizar o estudo de cada seção, busque ampliar sua prática de leitura, não só aproveitando as referências bibliográfi cas que lhe serão indicadas, como também pesquisando outras fontes nas bibliotecas. Igualmente se faz necessário que você compreenda que o seu desempenho nas atividades de escrita (direcionadas nas unidades subseqüentes) dependerá de leituras prévias, ou seja, ler é condição essencial para quem se propõe a escrever. SEÇÃO 1 – O que signifi ca ler? Nesta seção, vamos trabalhar um poucocom a leitura, uma atividade essencial para quem quer escrever bem. Para tanto, iniciaremos com os conceitos de leitura de uma forma bastante resumida e exercitaremos a leitura e a interpretação de textos variados. Então... mãos à obra para mais um desafi o. Defi nir o que signifi ca LEITURA não é uma tarefa fácil, pois, a cada dia, novos conceitos são atribuídos a este vocábulo. Poderíamos considerar, para início de conversa, o conceito mais abrangente: ler é decodifi car códigos. No entanto, sabemos que a leitura é uma atividade muito mais abrangente, pois o ato de 41 Leitura e Produção Textual Unidade 2 ler, segundo Orlandi (1999), é um processo que envolve habilidades além das que se resolvem no imediatismo. Assim, mais do que decodifi car códigos, o que fazemos durante uma leitura é construir signifi cados a partir daquilo que lemos. Portanto, se adotamos essa perspectiva de leitura, não podemos mais considerá-la um simples ato de decodifi cação de um produto pronto, mas sim, um processo de signifi cação e de construção do texto. Nesse sentido, devemos levar em consideração que a leitura é um processo que se dá a partir da interação entre leitor e texto. Assim sendo, o leitor constrói o signifi cado do texto a partir dos objetivos que guiam a leitura. Pense um pouco: quais motivos levariam você à realização de uma leitura? Talvez, sejam diversos os objetivos que o impulsionam a ler um texto, iniciando pelos mais prazerosos, como devanear, preencher um momento de lazer, passando pelos mais úteis, como procurar uma informação concreta, seguir uma pauta de instruções para realizar atividades (cozinhar, conhecer regras de um jogo), até os mais complexos, como confi rmar ou refutar um conhecimento prévio, aplicar a informação obtida com a leitura de um determinado texto na realização de um trabalho. Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler, você deve atentar para o fato de que, na realização de qualquer atividade de leitura, como destaca Orlandi (1999), alguns fatores se impõem e, entre eles, destacamos: As especifi cidades e a história do sujeito leitor. ! Os modos e os efeitos de leitura de cada época e ! segmento social. Dessa forma, ainda que o conteúdo de um texto não mude, é possível que dois leitores com histórias de leitura e objetivos diferentes subtraiam dessa leitura informações distintas. 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Conceituando A partir do que vimos anteriormente, podemos agrupar a defi nição de leitura em duas grandes concepções: leitura como decodifi cação; ! leitura como construção de signifi cado. ! Considerando a segunda concepção – leitura como construção de signifi cado – a mais adequada à competência que se pretende desenvolver nesta disciplina, iniciemos o nosso roteiro de leitura pela observação de dois textos aqui propostos. Neste momento, você está convidado a fazer a leitura dos textos para, em seguida, prosseguir com o conteúdo da unidade. Então, vamos ler? TEXTO 1 Ela tem alma de pomba Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há dúvida. Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar, dar uma volta pela praça para depois pegar a sessão das 8 no cinema. Agora todo mundo fi ca em casa vendo uma novela, depois outra novela. O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um jogo do Cachoeiro F.C. com a estrela do Norte F.C., se pode fi car tomando cervejinha e assistindo a um bom Fla-Flu, ou a um Internacional X Cruzeiro, ou qualquer coisa assim? Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há dúvida. Eu mesmo confesso que lia mais quando não tinha televisão. Rádio, a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um livro. Televisão é incompatível com livro – e com tudo mais nesta vida, inclusive a boa conversa... 43 Leitura e Produção Textual Unidade 2 Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira mais que o desejável. O menino fi ca ali parado, vendo e ouvindo, em vez de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido, inventar uma besteira qualquer para fazer. Por exemplo: quebrar o braço. Só não acredito que televisão seja “ máquina de fazer doido”. Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer o doido dormir. Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de TV, em cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar. Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o ódio e rancor no peito das crianças, e até de outros adultos. Se o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma, então sua tendência é para ser um fator de rixas intermináveis. - Agora, você se agarra nessa porcaria de futebol. - Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar essa besteira dessa novela? - Não sou eu não, são as crianças! - Crianças, para a cama. Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade – num apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa orgulhosa mansão a criatura solitária tem nela a grande distração, o grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, o suspense, a fascinação dos dramas do mundo. A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente importante, é a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher velha, do homem doente ... ou dos que estão parados, paralisados, no estupor de alguma desgraça ... ou que no meio da noite sofrem o assalto de dúvidas e melancolias ... mãe que espera fi lho, mulher que espera marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe... (Rubem Braga) 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Você acaba de ler uma crônica de Rubem Braga e deve estar pensando: como posso interpretar este texto? Vamos esclarecer isso. Acompanhe o seguinte roteiro: 1. Você pode já ter lido outras crônicas do mesmo autor, o que permitirá que você faça comparações deste texto com outros, em relação à linguagem e ao estilo próprio de Rubem Braga. Caso isso não tenha ocorrido, é uma boa oportunidade para você pesquisar sobre o autor. Vá à biblioteca, pesquise na internet e faça outras leituras. 2. Um dos primeiros aspectos que chama atenção na leitura de um texto é a linguagem utilizada: perceba que estamos diante de um texto de fácil leitura, uma leitura a ser feita no nosso cotidiano, com uma linguagem próxima ao nível coloquial (o que você já estudou na seção 2 da primeira unidade). Esses traços caracterizam a crônica que, segundo Antônio Cândido, “não é um gênero maior, [...] é um gênero menor. ‘Graças a Deus’, porque assim, ela fi ca perto de nós. [...] Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, a crônica se ajusta à sensibilidade de todo o dia”. 3. Após essas observações mais gerais sobre o autor e o tipo de texto por ele produzido, passemos a defi nir o tema abordado e o ponto de vista assumido pelo autor em relação a isso. Veja que o autor fala da “televisão”, um tema conhecido por todos e já amplamente debatido em nossa sociedade. Em um primeiro momento, ele nos apresenta as desvantagens da TV. E isso é feito, em seqüência, do primeiro ao sétimo parágrafo do texto. Ao contrário, no oitavo e nono parágrafos, há a compensação, quando o autor admite um aspecto positivo da TV. O mesmo ocorre nos dois últimos parágrafos do texto. Em meio a essa oposição entre vantagens e desvantagens da TV, o autor lança uma outra questão. Aponta para a possibilidade que todos nós temos de desligar o aparelho, caso a programação nos incomode. E é nesse momentoque ele retrata os confl itos familiares que essa atitude pode causar, por meio de um diálogo presente na maioria das famílias brasileiras. Então, podemos concluir que o autor não se posiciona de forma a defender exclusivamente um ponto de vista, mas nos apresenta o problema, de forma a nos fazer ponderar sobre os dois lados Sugestão: Leia Crônicas 5 – Para Gostar de Ler. Editora Ática. Você encontrará outras crônicas de Rubem Braga e de mais três autores brasileiros: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. 45 Leitura e Produção Textual Unidade 2 da questão. Esta é mais uma característica da crônica, que não tem como objetivo a defesa de uma única idéia para persuadir o leitor. Ao contrário, lança-se o problema para a refl exão. 4. Dada a temática e o posicionamento do autor, passemos a enumerar os argumentos e a forma como foram apresentados. Identifi camos no texto parágrafos em que são apresentadas vantagens e desvantagens em relação à TV, então, facilmente poderemos listar quais seriam esses aspectos: Negativos: prejudica outras atividades como passeios pela ! praça, ida ao cinema, ida ao campo de futebol, leitura e conversa. No caso das crianças, concorre com outras brincadeiras que possibilitam mais criatividade e com as atividades físicas. Positivos: auxilia no combate à solidão, permite às ! pessoas o relaxamento e o desvio das preocupações. Sim, resumidamente, são esses os argumentos apresentados pelo autor. Você deve compreendê-los, não necessariamente aceitá- los. Por fi m, o interessante é perceber como esses argumentos foram formulados: pela linguagem simples e pelos exemplos do cotidiano, inclusive com locais e situações bem específi cas (Cachoeiros de Itapemirim). Ora, a leitura equivocada seria aquela que julgasse que o tema do texto é a cidade citada. O uso de exemplos específi cos, no início do texto, não signifi ca que o problema debatido seja local. O exemplo é apenas uma forma de representação de algo maior. Cabe a você, leitor ou leitora, fazer as comparações e as adequações necessárias. Veja agora o segundo texto, que aborda um tema nada novo, mas ainda muito pertinente nos dias atuais. 46 Universidade do Sul de Santa Catarina TEXTO 2 A ética dos pequenos atos O que a história real de um político que fura a fi la nos ensina sobre liderança. É incrível como aprendemos sobre as pessoas usando a técnica denominada “observação passiva”. Trata-se, simplesmente, de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente nas pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma experiência com a qual pude aprender sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido político, desses que passam a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de corrupção. Quando o funcionário anunciou o embarque, recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros das fi las 15 a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação. Como eu estava na fi leira 12, esperei. O político, porém, foi o primeiro a se postar no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas. Durante o vôo refl eti sobre o episódio. Por que o fato me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja, o descumprimento de uma norma de conduta – ponderei – constitui uma contravenção. Pequena, inocente e até insignifi cante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem, mesmo descumprindo as normas, do avião ou da República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado nas pequenas coisas – positivas e negativas –, principalmente se for o líder de um grupo. Sempre alguém notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará: “Ele é assim”. Para terminar a história do político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de emocionar- se ao vê-lo. E comentou: “Ele é um bom político – rouba, mas 47 Leitura e Produção Textual Unidade 2 faz”. O que me levou a perguntar-lhe: “O senhor não acha que ele poderia fazer sem roubar?”. “Mas ele é um político...São todos assim”, ponderou. Esse conceito conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar os outros, fi ca livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua compaixão. Não se trata disso, e sim de obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus próprios. Sobre isso, diria Platão: “Ética sem competência não se instala. Competência sem ética não se sustenta”. A não ser, é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço cultural, o que signifi caria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for um líder. (Eugênio Mussak. Publicado na revista Você S/A, de novembro de 2006, p. 114) Agora, façamos um exercício de leitura, pautando-nos em um roteiro equivalente ao do texto 1. Pausa para exercitar a teoria 1. Como já informado, este texto foi publicado na revista Você S/A. Essa revista é voltada a leitores com interesse no mercado profi ssional, por isso seu foco está em reportagens sobre o desempenho das empresas, as possibilidades de atualização e aperfeiçoamento dos profi ssionais, a busca do equilíbrio entre carreira e vida pessoal, dicas econômicas etc. Nesse contexto, é pertinente que haja um espaço destinado à publicação de textos opinativos sobre temas relevantes a esse mundo profi ssional, como a seção Papo de líder, onde encontramos os textos do professor Eugênio Mussak, consultor na área de Liderança, Desenvolvimento humano e profi ssional. 2. A compreensão do texto apresentado requer que você identifi que, em um primeiro momento, o tema a ser debatido e a forma como o autor o aborda. Defi nimos o assunto de um texto quando respondemos, de forma bem ampla e genérica, do que o texto trata. Neste caso, o assunto em pauta é “ética”. Caso você tenha mais interesse nessa área, acesse www.vocesa.com. br e leia a coluna publicada mensalmente. 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Já o tema, que é uma delimitação do assunto, só é defi nido quando conseguimos especifi car qual é o recorte que o autor faz no texto, isto é, dentre as várias possibilidades de abordar o assunto geral, qual é a escolhida pelo autor. Neste caso, o texto não fala de ética, de forma geral, ao contrário, fala especifi camente da atitude ética esperada em pequenas coisas. Para isso, é interessante notar os dois primeiros parágrafos: antes do debate em si, o autor traz para o texto um trecho narrativo, em que nos relata um fato ocorrido. A partir desse relato, que envolve elementos como lugar e personagens, somos levados ao ponto central do texto: “o descumprimento a uma norma de conduta”, atitude esta condenada pelo autor do texto. 3. Tendo clareza sobre o tema e o posicionamento do autor, passemos a entender qual é a argumentação que sustenta a sua tese. A pergunta que devemos fazer é: Por que a atitude do político é condenada? Por que o autor é contra a atitude do político que, segundo ele, nem chega a causar problemas e é insignifi cante? A resposta que encontramos no terceiro parágrafo é: “A ética nas grandes coisas começa nas pequenas”. Sim, esse é o ponto central do texto. Essa é a mensagem a ser transmitida. Enfi m, essa é a tese defendida pelo autor, que acrescenta ao texto um elemento mais sofi sticado, uma fi gura de linguagem chamada comparação, quando segue com “as pessoas agem no atacado como agemno varejo”. Assim, todo o restante do texto segue nessa linha argumentativa, chamando a atenção para o fato de que sempre seremos observados e julgados pelos nossos pequenos atos. Dando seqüência, ainda encontramos, no penúltimo parágrafo, uma crítica à própria postura do brasileiro que, de um modo geral, aceita a atitude condenada pelo autor, quando esta parte de um político. Finalizando a leitura, podemos perceber que, no último parágrafo, o autor reitera seu posicionamento, defendendo a ética como um valor a ser considerado e, como sustentação a sua argumentação, faz referência a Platão, por meio de um recurso denominado de citação. A citação, como um elemento de elaboração textual, é um recurso que você estudará na próxima unidade. 49 Leitura e Produção Textual Unidade 2 Para fi nalizar essa seção, você viu que não há uma receita para aprender a ler. Não há roteiro pré-estabelecido que dê conta de nortear a leitura de todos os textos. O que propusemos nesta seção foi mostrar a você alguns pontos que nunca podem ser desconsiderados nessa atividade: busque se informar sobre o contexto: conhecer o autor ! e prestar atenção na época e no local de publicação do texto já fornece pistas de como a leitura deve ser conduzida. Diante da constatação de “quem escreveu” e “quem é o leitor alvo”, você já consegue elaborar algumas expectativas sobre a forma de abordagem do tema; leia quantas vezes for necessário para identifi car o tema, ! a tese defendida, se for o caso, e os argumentos que sustentam essa tese. Escreva isso em tópicos e observe como esses tópicos estão divididos nos parágrafos; volte ao texto e confi ra se você sabe o signifi cado de ! todos os termos utilizados. Use o dicionário. Até aqui, nossa intenção foi motivá-lo a ler e mostrar que este é um ato complexo, quando se pretende ir além da decodifi cação das palavras. O que você está estudando é pertinente ao ato de ler, independente de qual seja o seu objeto de leitura, isto é, independente do texto. Na próxima seção, trataremos de especifi car algumas diferenças que deverão ser percebidas por você na leitura de textos literários e não-literários. SEÇÃO 2 – Possíveis leituras Vamos dar continuidade ao nosso roteiro de leitura, iniciado na seção anterior, partindo da observação dos dois textos. Analise-os a seguir. 50 Universidade do Sul de Santa Catarina TEXTO 1 Estudante de 21 anos morre de anorexia em Araraquara A estudante Carla Sobrado, 21, morreu anteontem em Araraquara (273 Km de SP) de parada cardíaca, provavelmente decorrente de anorexia nervosa, doença que a obrigava a se submeter a tratamento há cinco anos. (Folha de São Paulo, 18/11/2006 – Cotidiano C1) TEXTO 2 Notícia de Jornal João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Manuel Bandeira) Você reparou na diferença entre os dois textos? Pelo menos, podemos apontar três diferenças: A primeira é em relação à ! forma: o primeiro texto é escrito em prosa, e o segundo, em verso. A segunda diferença está na ! linguagem: o primeiro texto apresenta uma linguagem objetiva, não fi gurada, e o segundo apresenta rimas nos verbos: Chegou,Cantou, Dançou, atirou. 51 Leitura e Produção Textual Unidade 2 A terceira é em relação ao nível de ! informatividade: o primeiro trata as informações com bastante precisão, especifi cando o local (Araraquara) e o tempo (16/11) associados ao fato noticiado. Já no segundo, as informações são mais vagas, pois não se sabe precisamente quando (uma noite) e em que local da Lagoa ocorreu o fato. Podemos, então, a partir dessas diferenças, trazer à tona uma discussão sobre as características do texto literário e do não-literário. Para conhecer o texto literário, devemos partir do princípio de que ele não tem o compromisso com a realidade, com a verdade, com a informação. Literatura é a arte da fi cção. São textos escritos para emocionar, como por exemplo: poesia, contos, crônicas, romances etc. O texto literário deve, então, como disse Horácio, «instruir e deleitar». Outra característica que diferencia o texto literário é a linguagem. Assim sendo, no texto literário, as palavras adquirem um valor conotativo: mais do que dizem, sugerem. A partir dessas afi rmações, podemos dizer que o texto literário: é ambíguo, plurissignifi cativo e, portanto, aberto a várias ! interpretações; tem uma intenção estética, procurando provocar ! a surpresa e o prazer. Para tal, recorre a processos estilísticos que refl itam um modo original, diferente de ver e de falar do mundo; apresenta o compromisso com a verdade da mensagem ! em um plano secundário; apresenta como recursos predominantes a função poética ! da linguagem e a linguagem conotativa; pode ser em prosa ou em verso. ! 52 Universidade do Sul de Santa Catarina O texto não-literário, por sua vez, procura transmitir com objetividade uma mensagem. São textos que lemos nos jornais, nas revistas, nos artigos científi cos etc. Assim sendo, o texto não-literário: evita a ambigüidade, procurando a objetividade; ! tem uma intenção utilitária; ! estabelece como relevante a verdade da informação; ! tem como recurso predominante a função informativa e a ! linguagem denotativa; é quase exclusivamente em prosa. ! Conceituando A linguagem conotativa ! , predominante no texto literário, constitui-se da apresentação das palavras e das expressões em seu sentido não literal e não estável. É a linguagem fi gurada, rica em recursos que indicam o valor da subjetividade no sentido do texto. A linguagem denotativa ! , predominante no texto não-literário, faz uso das palavras e das expressões em seu sentido mais literal e estável. É a linguagem que visa à construção do sentido pelo viés da objetividade. Para fi nalizar esta seção, veja se você compreendeu e se consegue perceber, no exemplo a seguir, o que caracteriza o primeiro texto como não-literário e o segundo como literário. Vamos praticar? O Rio de Janeiro é uma cidade de fama mundial, consolidada como destino turístico para os diferentes fl uxos turísticos que se dirigem ao cone sul. Cartão postal do país, a cidade destaca-se por sua exuberante beleza natural, formada pela perfeita harmonia entre o mar e a montanha. Junte-se a esta topografi a monumentos históricos, variada oferta de meios de hospedagem, bares, restaurantes, o sol, a praia, o verde das encostas e chega-se à receita do que faz com que o carioca seja um povo alegre e hospitaleiro. Nele se 53 Leitura e Produção Textual Unidade 2 identifi ca o estilo de viver, produzir, comportar-se, estar atento a todos os acontecimentos, lançar moda e expressões. [...] (http://www.rio.rj.gov.br/comudes/turismo.htm) Retrato de uma cidade Tem nome de rio esta cidade onde brincam os rios de esconder. Cidade feita de montanha em casamento indissolúvel com o mar. Aqui amanhece como em qualquer parte do mundo mas vibra o sentimento de que as coisas se amaram durante a noite. As coisas se amaram. E despertam mais jovens, com apetite de viver os jogos de luz na espuma, o topázio do sol na folhagem, a irisação da hora na areia desdobrada até o limite do olhar. Formas adolescentes ou maduras recortam-se em escultura de água borrifada. Um riso claro, que vem de antes da Grécia (vem do instinto) coroa a sarabanda a beira-mar. Repara, repara neste corpo que é fl or no ato de fl orir entre barraca e prancha de surf, luxuosamente fl or, gratuitamente fl or ofertada à vista de quem passa no ato de ver e não colher. (Carlos Drummond de Andrade. In: http://www.memoriaviva.com.br/ drummond/poema061.htm) Você notou que, apesar desses textos abordarem a mesma temática, eles também possuem diferenças?54 Universidade do Sul de Santa Catarina Pois bem, o primeiro texto (não-literário) fala da cidade do Rio de Janeiro de modo claro, pois sua linguagem é objetiva e possui um único sentido: o denotativo. Já no segundo texto (literário), a linguagem de Drummond é poética, portanto, provoca uma interpretação por meio de associações, isto é, trabalha com o sentido não-literal: o conotativo. SEÇÃO 3 – Nas entrelinhas Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura, propomos, nesta última seção, que você estude os níveis de informação textual. Quando lemos um texto, podemos perceber que algumas informações estão explícitas, ou seja, aparecem claramente expressas, enquanto outras não. Observe o seguinte exemplo. Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006, A26. Nesta charge, o que há de informação explícita é exatamente aquilo que expressa a fala do personagem: alguém foi selecionado no teste de beleza. Isso nos leva a deduzir, do primeiro quadrinho, que a selecionada é uma das candidatas presentes na sala de espera. Claro que essa primeira interpretação se faz pela associação da linguagem verbal com a não-verbal. No entanto, no segundo quadro, a leitura que podemos fazer da linguagem não-verbal é que o abajur foi selecionado. Porém, se a nossa leitura se encerra neste ponto, deixamos de atribuir sentido 55 Leitura e Produção Textual Unidade 2 ao texto, uma vez que causa muita estranheza um objeto ser selecionado em um teste realizado por pessoas. Então, ao observarmos a charge mais atentamente, chegamos à interpretação desejada: entendemos que o padrão de beleza é tão exigente e até absurdo em relação à magreza das pessoas, que, no ambiente retratado na charge, somente o abajur, sendo um objeto de menor espessura, enquadra-se no perfi l de modelo. É relevante você saber que só compreendemos isso porque acionamos o conhecimento que temos do contexto. Sendo a charge um dos modelos de humor de maior conotação sociopolítica, seu propósito é ironizar questões atuais da sociedade, exigindo do leitor conhecimento de mundo, isto é, dos fatores extralingüísticos aos quais elas se referem para que ocorra de fato a compreensão no momento de leitura. Isso signifi ca que, para a compreensão de enunciados, segundo Ilari e Geraldi (1987), é necessário que o interlocutor faça inferências, isto é, leia as informações que se apresentam no texto de forma implícita. Logo, o que você vai aprender nesta seção são os tipos de inferência, que se classifi cam como pressupostos e subentendidos. Por exemplo, quando dizemos “o professor parou de fumar”, inferimos que o professor fumava. Esse tipo de inferência classifi camos como pressuposição. Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de que fumar é prejudicial à saúde. Esse tipo de inferência pode ser classifi cada como “subentendido”. Perceba que chegamos ao pressuposto fumava porque a locução parou de é uma “pista” de que anteriormente a ação era feita. Ao contrário, chegar ao subentendido requer conhecimento de mundo, tanto que, em nosso exemplo, estamos imaginando um leitor que saiba sobre a ligação entre cigarro e saúde. Isso pode variar de leitor para leitor, logo cabe a você fazer a inferência de acordo com o contexto: ele poderia ter parado de fumar por uma razão fi nanceira, ou porque sua mulher exigira etc. 56 Universidade do Sul de Santa Catarina Resumindo Há dois níveis de informação: explícito e implícito. A informação explícita é a que está literalmente expressa no texto. A informação implícita é a que aparece velada no texto, ou seja, de forma não direta. Chega-se à leitura do nível implícito por inferências, que se classifi cam em pressupostos e subentendidos. Pressuposto é uma inferência que não depende do contexto, enquanto o subentendido está ligado à situação de comunicação em que o ato da fala é produzido. — Agora que você já se familiarizou com esses conceitos, que foram introduzidos na charge apresentada no início desta seção, vamos conhecer um pouco mais sobre pressuposição e subentendido. Como vimos no exemplo anterior, o pressuposto foi ativado pela expressão lingüística “parou de”. Segundo Koch (1997), essas expressões podem ser chamadas de marcadores de pressuposição. Vejamos outros exemplos em que aparecem esses marcadores: a) Ele passou a trabalhar. Pressuposto: ele não trabalhava antes. b) Ele continua bebendo. Pressuposto: ele já bebia. c) Lamento que ele tenha sido demitido. Pressuposto: ele foi demitido. d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a Europa. Pressuposto: meu irmão se casou. Nesses enunciados, estamos chamando atenção para a expressão que ativa a pressuposição, mas podemos, ainda, retomar a leitura dos mesmos e fazer outras inferências, ativadas pelo nosso 57 Leitura e Produção Textual Unidade 2 conhecimento de mundo, inclusas na categoria do subentendido, concorda? Veja exemplos: a) Ele passou a trabalhar. (Pressuposto: ele não trabalhava antes) Subentendido: ele pagará suas contas, sem precisar dar satisfações a ninguém. b) Ele continua bebendo. (Pressuposto: ele já bebia.) Subentendido: ele terá problemas de saúde. c) Lamento que ele tenha sido demitido. (Pressuposto: ele foi demitido.) Subentendido: a demissão foi injusta. d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a Europa. (Pressuposto: meu irmão se casou.) Subentendido: ele quis curtir a vida de solteiro. Lembre-se de que os subentendidos apresentados são possíveis leituras, que podem variar de acordo com o contexto, portanto, não podemos tomar tais interpretações como “verdadeiras”, diferentemente da pressuposição, que não pode ser negada por nenhum leitor. Para fi nalizar esta seção, observe como fazemos esses tipos de inferência em nosso cotidiano: 1) Em um texto publicitário publicado na revista Época (31/06/2006, p. 64), encontra-se o seguinte enunciado: PROTEÇÃO PARA A GENTE NÃO É SÓ SE PREOCUPAR COM AIR BAG . E SIM COM O AIR DE MANEIRA GERAL. 58 Universidade do Sul de Santa Catarina A informação explícita é que a GM possui duas preocupações: a segurança das pessoas e a preservação do meio ambiente. No entanto, no nível implícito, há um pressuposto de que as outras marcas teriam como único diferencial o AIR BAG. Ativamos esse pressuposto, através da expressão ‘PARA A GENTE NÃO É SÓ AIR BAG’, o que nos faz inferir que para os demais concorrentes, apenas o AIR BAG é importante. Além do pressuposto, podemos acrescentar outras inferências, tais como os seguintes subentendidos: a) A GM preocupa-se muito com a vida de seus clientes. b) A GM quer conquistar um público preocupado com o meio ambiente. c) A GM quer montar carros com mais detalhes do que seus concorrentes etc. 2) Em um texto informativo publicado na Folha Online (14/11/2006), encontra-se a seguinte chamada: PASSAGEIROS ENFRENTAM ATRASOS EM VÔOS NO QUARTO DIA DA NOVA CRISE AÉREA A informação explícita é que há atrasos nos vôos. Porém, implicitamente, há um pressuposto de que já houvera crises antes. Perceba, então, que este recurso da pressuposição tem a função de relembrar o leitor das notícias anteriormente publicadas. Ainda, caso o leitor desconheça essa informação, ele poderá recuperá-la ao acionar este tipo de inferência. Além disso, o leitor que tem acompanhado as notícias sobre a crise em questão extrapolará a interpretação, visto que estará munido de informações contextuais para inferir com subentendidos, por exemplo: a) O governo ainda não autorizou a contratação de novos controladores de vôos. b) O consumidor continua sendo a vítima. c) As empresas aéreas não ligam para o consumidor etc. 59 Leitura e Produção Textual Unidade 2 Desse modo, a partir dos conceitos expostos e dos exemplos comentados, esperamos que você tenha compreendido que, quando iniciamos