Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Agente etiológico e Transmissão ........................ 4 4. Fisiopatologia .............................................................. 5 5. Apresentação Clínica ............................................... 8 6. Diagnóstico ...............................................................11 7. Tratamento da Tuberculose .................................16 Referências Bibliográficas .........................................20 3TUBERCULOSE 1. INTRODUÇÃO “Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire - O senhor tem uma escava- ção no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possí- vel tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.” – Manuel Bandeira Fonte: disponível em <http://www.funda- caoataulphodepaiva.com.br/blog/tubercu- lose-do-suplicio-a-inspiracao-literaria-2/>. Acesso em 16 de dez. de 2019 Manuel Bandeira foi um dos vários artistas brasileiros atingidos – e, iro- nicamente, inspirados – pela tuber- culose na sua época. Sobrevivente, obteve a cura para essa doença que não poupou muita gente no século XX: Castro Alves, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo... Todos infeliz- mente sucumbiram à tuberculose na flor da idade. De fato, essa doença marcou a vida e esteve presente em muitas obras da literatura, mas o que de fato é a tuberculose e qual a re- levância dela no nosso meio? Iremos falar dela nas próximas páginas! A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa, crônica, granulo- matosa e necrosante causada pelo ba- cilo álcool-ácido-resistente (BAAR). Mycobacterium tuberculosis ou por qualquer patógeno do complexo: My- cobacterium bovis, Mycobacterium africanum, Mycobacterium canetti, Mycobacterium pinnipedi, Myco- baxterium microti e Mycobacterium caprae. No entanto, o patógeno prin- cipal é o M. tucerbulosis, também chamado de Bacilo de Koch (BK). A forma mais comum da doença é a forma pulmonar, acometimentos extra-pulmonares também são fre- quentes e dignos de atenção da saú- de pública - formas pleural, ganglio- nar, miliar, osteomuscular, etc. 2. EPIDEMIOLOGIA A tuberculose segue como uma das principais ameaças à saúde pública mundial. Em 2015, cerca de 10,4 mi- lhões de pessoas desenvolveram tu- berculose, 580 mil delas na sua forma multirresistente ou resistente à rifam- picina, com 1,4 milhão de mortes. O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV consi- 4TUBERCULOSE derados prioritários para o controle da tuberculose globalmente. Foram 72 mil casos notificados em 2017, e a incidência variou de 10 a 74,7 ca- sos por 100 mil habitantes entre as unidades federais, com um coeficien- te de mortalidade de 2,2 mortes por 100 mil habitantes. Figura 1: Coeficiente de incidência da tuberculose, todas as foras, por Unidades Federadas, 2017. Fonte: Manual de Recomendações pra o Controle da Tuberculose no Brasil, Ministério da Saúde (MS), 2019. Não há uma epidemia de tuberculose no Brasil, mas concentrações dos ca- sos da doença: pessoas vivendo com HIV, em situações de rua e privadas de liberdade, população indígena, pessoas vivendo em aglomerados ou em situação de pobreza são as mais acometidas pela doença no país. 3. AGENTE ETIOLÓGICO E TRANSMISSÃO O M. tuberculosis é fino e ligeira- mente curvo. É um bacilo álcool- -ácido-resistente – ou seja, retêm coloração mesmo com mistura de álcool e ácido –, aeróbio, com pa- rede celular rica em lipídeos (como o ácido micólico), sua parede ce- lular diminui sua permeabilidade aos antibióticos e aumenta sua so- brevivência no interior de macrófa- gos, o que dificulta sua eliminação. É transmitido por via aérea de uma pessoa “bacilífera” com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente e estes podem ficar sus- pensos em pequenas partículas no ar. O termo “bacilífero” se refere a uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea e com amostra positiva no exame de escarro. Essa trans- 5TUBERCULOSE missão ocorre por via respiratória, por meio da inalação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espir- ro. As partículas menores de bacilos (núcleos de Wells) contêm um a dois bacilos que podem ficar suspensas no ar por horas, capazes de infectar outros indivíduos. Figura 2: M.Tuberculosis visto no microscópio. Fonte: Disponível em: <https://www.thermofisher.com/ blog/proteomics/mycobacterium-tuberculosis-using- -quantitative-proteomics-to-understand-virulence/> É por isso que, embora a tuberculo- se possa se apresentar de diversas formas, a forma pulmonar tem maior relevância no contexto epidemio- lógico, por ser a que mais frequen- temente torna o paciente capaz de transmitir o bacilo. A pessoa bacilí- fera pode infectar até 10 a 15 pes- soas, em média, de uma comunida- de no período de um ano. Após o início do tratamento, a transmissão cai gradualmente, tornando-se mui- to baixa após cerca de quinze dias, tornando importante a boa adesão e o acompanhamento por baciloscopia de controle. 4. FISIOPATOLOGIA Inicialmente, o M. tuberculosis infecta o organismo e entra nos macrófagos pela fagocitose. A partir daí, ele inibe a maturação do fagossomo e a for- mação do fagolisossoma, permitin- do sua multiplicação dentro desta célula incontroladamente, protegida da ação dos lisossomos. Logo, a in- fecção primária ocorre ao primeiro contato com o bacilo de Koch, haven- do uma reação do sistema imunoló- gico do indivíduo, particularmente por meio da fagocitose, como forma de controlar a infecção. No entanto, a bactéria é extremamente resistente ao fagossomo e inibe sua maturação, impedindo sua destruição e ficando em sua forma latente. Assim, durante essa infecção primária, ocorre grande disseminação do bacilo pelo corpo de forma oculta. A infecção pelo M. tuberculosis cur- sa em etapas, desde a infecção inicial com ataque aos macrófagos à ativa- ção de células Th1. Essas células T tanto controlam a infecção ao hos- pedeiro, como também são causa do dano causado pela doença, gerando granuloma e cavitação. Há então, posterior ativação dos recep- tores da imunidade inata, iniciando e aumentando esse tipo de resposta ao bacilo. Uma resposta Th1 é montada após 3 semanas, e essa resposta Th1 irá produzir o IFN-gama. Este, por sua vez, através de um conjunto de proces- 6TUBERCULOSE sos, estimula a destruição do macró- fago infectado, destruindo organelas danificadas e patógenos intracelulares – como o M. tuberculosis. Porém, essa mesma resposta Th1 que estimula os macrófagos e destrói micobacté- rias, gera a formação de granulomar e necrose caseosa. Esses macrófagos incentivados pelo IFN-gama se dife- renciam em “histiócitos epitelioides”, que se agregam a formam granulomas. Na maioria dos indivíduos, essa res- posta acontece antes que a destruição tecidual provoque danos maiores. Em outros, a infecção progride, e a respos- ta contínua gera focos necróticos. Os macrófagos ativados também se- cretam TNF e quimiocinas, que atra- em monócitos. Nesse contexto, a grande maioria dos indivíduos imunocompetentes irá passar por essa primeira infecção sem desenvolvimento da forma ativa da doença - apenas 2% a 5% des- tes irá desenvolver essa forma nos primeiros dois anos do contato com o bacilo. Duas a treze semanas após a infecção primária, a imunidade adap- tativa específica consegue controlar a replicação bacteriana. Após a infecção primária, 95% dos indivíduos entrarão em estado de la- tência, que é mantida pelo sistema imunológico ativo e competente - a evidência disso ocorre na reativa- ção da tuberculose em momentos de imunodepressão. A ativação tardia, ou reativação, podeocorrer em con- dições imunossupressoras, com o de- senvolvimento de comorbidades ou até mesmo sem causa aparente. Essa reativação da doença em hospedeiro com imunidade pré-existente gera resposta inflamatória intensa, com formação de granulomas caseosos e, posteriormente – caso o pulmão este- ja envolvido – de cavitação pulmonar. E de fato: a forma mais predominante da doen- ça é justamente e tuber- culose pulmonar. Logo, ocorre uma res- posta imune ativa, po- rém diminuída, conco- mitante à replicação do bacilo. Devido à infla- mação gerada nesse processo, há apoptose intensa, depletando as células T ativas contra o patógeno. 7TUBERCULOSE Já a forma extra-pulmonar da tuber- culose pode envolver qualquer órgão. A persistência desse patógeno em áreas bem oxigenadas, como o cór- tex renal e corpos vertebrais, pode explicar, em parte, a reativação da tuberculose nessas localidades – já que vimos que e trata de uma bacté- ria aeróbia. Tais formas extra-pulmo- nares apresentam, geralmente, uma patogênese em comum: secreção de um foco tuberculoso contíguo em cavidade serosa, podendo esse foco ser de longa duração ou ter surgido recentemente na infecção primária. SAIBA MAIS: inibidor de TNF-alfa é um medicamento do grupo dos imunobio- lógicos” e antagoniza o fator de necro- se tumoral alfa. O TNF-alfa é produzi- do pelos macrófagos, junto com outras quimiocinas, e é capaz de atrair monó- citos e ampliar a resposta imune contra o patógeno. O inibidor de TNF-alfa é utilizado em algumas doenças reumatológicas e inflamatórias, como a artrite reuma- toide, espondilite anquilosante e do- ença de Crohn. Ao bloquear a ação do TNF-alfa, que, nesses indivíduos, está sendo ativado por um mecanis- mo autoimune e causando lesão teci- Figura 3: Ilustração da resposta imune contra o M. tuberculosis. Fonte: Patologia – Bases Patológicas das Doenças. Robbins e Cotran, 9ed, 2016. 8TUBERCULOSE dual, também dificulta a resposta do hospedeiro contra patógenos como a tuberculose. É por isso que indivídu- os que utilizam esses fármacos preci- sam de avaliação prévia para infecção latente por tuberculose, e estão tam- bém em risco aumentado de desen- volver a doença em caso de infecção. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 8ed, 2016; e Patolo- gia – Base Patológica das Doenças – Robbins e Cotran, 9ed, 2016.] 5. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Tuberculose Pulmonar A apresentação clínica da tubercu- lose depende do estágio no curso natural da doença (doença primária, pós-primária ou miliar), localização e imunidade do hospedeiro. Os sinto- mas clássicos de febre vespertina, tosse, sudorese noturna e emagre- cimento podem ocorrer em quais- quer das apresen- tações. A TB pulmonar primária ocorre logo em seguida ao contato com o bacilo, sendo por- tanto mais comum em crianças. Febre baixa, sudorese noturna e inape- tência são sinto- mas muito frequen- tes nessa forma. Já a TB pulmonar pós-primária são mais comuns em adolescentes e jo- vens adultos. A tosse seca ou pro- dutiva é a principal característica. Além disso, se a tosse é produtiva, a expectoração pode se apresentar como mucoide ou purulenta, com ou sem sangue. Pode haver febre ves- pertina, que geralmente não ultra- passa os 38,5ºC e não é acompanha- da de calafrios. Além disso, fácies de emagrecimento ou doença crônica podem estar presentes no exame físi- co e, à ausculta respiratória, podemos perceber diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou mesmo um exame físico normal. A TB miliar, por sua vez, se refere a um padrão específico de acometi- mento pulmonar, podendo ocorrer nas formas primária e secundária, sendo mais comum em pacientes 9TUBERCULOSE imunossuprimidos. A apresentação clínica pode ser aguda ou subadgu- da, e sintomas como febre, astenia, emagrecimento, sudorese norturna e tosse ocorrem em até 80% dos ca- sos. Ao exame físico, pode aparecer hepatomegalia (30%), acometimento do SNC (30%) e alterações cutâneas eritemato-pápulo-máculo-vesiculo- sas, mas este último sintoma é menos comum. Nesses casos, radiografias do tórax mostram opacidades bilate- rais múltiplas e pequenas, denomina- das “infiltrados miliares”. Tuberculose Extra-pulmonar Aproximadamente 20% dos casos de tuberculose em paciente HIV-ne- gativo são formas extra-pulmonares. Em áreas endêmicas, é mais comum ocorrer associadamente com a for- ma pulmonar e atinge mais crianças e jovens adultos, nos quais represen- ta uma infecção primária progressiva. Em áreas não-endêmicas, ocorre de forma isolada mais comumente, afe- tando mais idosos e representando reativação da doença. Os sinais e sintomas da tuberculose ex- tra-pulmonar dependem do foco, órgão ou sistema atingido. As principais for- mas diagnosticadas em nosso meio são: Tuberculose pleural Forma mais comum de tuberculose extra-pulmonar em indivíduos sem coinfecção pelo HIV. Cursa frequen- temente com dor torácica pleurítica. Astenia, perda ponderal e anorexia ocorrem em cerca de 70% dos do- entes; febre com tosse seca acon- tecem em 60%. Em pacientes com mais tempo de evolução da doença e com derrame pleural mais volumoso, a dispneia pode estar presente. Em relação ao exame físico, observam-se macicez à percussão e ruídos respi- ratórios diminuídos. Radiografias de tórax frequentemente mostram der- rame pleural unilateral. Essa forma ocorre por extensão dire- ta de um foco caseoso subpleural que libera secreção para o espaço pleural, ou mesmo por via hematogênica. Nesses pacientes, o líquido pleu- ral tem características de exsudato, com predomínio de linfócitos e, na maior parte das vezes, pesquisa para BAAR e cultura estarão negativas. Níveis elevados de ADA (adenosina deaminase) no líquido pleural são fre- quentes e tem sido usado como crité- rio de diagnóstico da TB pleural. Já a cultura para TB do escarro é positiva em 50% dos pacientes. Empiema pleural tuberculoso Uma cavidade tuberculosa pode se romper e extravasar para o espaço pleural. Logo, teremos frequentemen- te líquido no espaço pleural e pneu- motórax. A baciloscopia e a cultura do líquido são frequentemente positivas, 10TUBERCULOSE ao contrário do que ocorre na tuber- culose pleural. Tuberculose ganglionar periférica É a forma mais frequente de tuber- culose extra pulmonar em indivídu- os coinfectados com HIV. O paciente apresenta com aumento subagudo dos linfonodos, de forma indolor e assimétrica, das cadeias cervicais anterior e posterior, bem como su- praclavicular. Em coinfectados com HIV, há maior tendência a acometi- mento de linfonodos bilateralmente. Ao exame físico, os linfonodos estão endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e ao plano profundo, podendo flutuar ou fistulizar espontaneamente, inflamando a pele subjacente. SE LIGA! O diagnóstico é obtido por meio do aspirado por agulha ou res- secção ganglionar, por exames bacte- riológicos e histopatológicos. Tuberculose pericárdica Sua apresentação clínica é subaguda e geralmente não está associada à tuberculose pulmonar, embora pos- sa ocorrer simultaneamente com a for- ma pleural. Dor torácica, tosse seca e dispneia são os principais sintomas dessa forma de tuberculose. Febre, emagrecimento, sudorese nortur- na, astenia, tontura e - por conta da disfunção das câmaras cardíacas di- reitas gerando congestão - edema de MMII, dor em hipocôndrio direi- to e aumento do volume abdominal - por disfunção das câmaras direitas secundária à disfunção. A pericardiocentese e a biópsia são métodos diagnósticos disponíveis. Se houver tamponamento, a pericardio- centese constitui também uma abor- dagem terapêutica. Tuberculose óssea Mais comum em crianças ou indivídu- os entre os 30 e 40 anos. As localiza- ções mais acometidas são a coluna vertebral e as articulações coxo- femoral e do joelho, embora outras localidades possam ser comprometi- das. A TB da coluna vertebral também é chamada de mal de Pott e compõe cerca de 1% dos casos de TB, além de 50% dos casosde TB óssea. A coluna torácica baixa e lombar são as mais frequentemente acometidas. O quadro clínico é constituído de dor lombar, dor à palpação local e su- dorese noturna. Tuberculose gastrointestinal As manifestações clínicas mais co- muns são febre, dor abdominal e san- gramento gastrintestinal ou obstrução. O diagnóstico é suspeitado em áre- as endêmicas para TB e HIV ou pelo achado de TB em outro local. A bióp- sia intraluminal dos sítios envolvidos é usada para estabelecer o diagnóstico. 11TUBERCULOSE 6. DIAGNÓSTICO Bacteriológico O exame bacteriológico é de extrema importância tanto para o diagnóstico quanto para o acompanhamento dos casos confirmados. Vamos dar uma olhada nos principais métodos utili- zados em nosso país: Exame microscópico direto - baciloscopia direta: a pes- quisa do BAAR (bacilo ál- cool-ácido-resistente), pelo método de Ziehl-Nielsen , é a técnica mais empregada em nosso meio. Executada corretamente, diagnostica de 60% a 80% dos casos de TC pulmonar em adultos - em crianças, a sensibilidade é diminuída pela dificuldade em realizá-lo. • A baciloscopia está indi- cada em: • Sintomático respiratório; • Caso de suspeita clíni- ca ou radiológica de TB pulmonar; • Acompanhamento e controle de cura em ca- sos confirmados; A baciloscopia de outros materiais também está indicada em suspeita de TB extra-pulmonar. Uma bacilos- copia positiva e o quadro clínico de TB juntos fecham o diagnóstico de tuber- culose e autoriza início do tratamento. No entanto, a confirmação bacterioló- gica só ocorre com a cultura (padrão- -ouro) e/ou testes moleculares. Teste rápido molecular para tuberculose: indica- do para o diagnóstico de tuberculose pulmonar e la- Pulmonar Extra-pulmonar Primária Empiema pleuralPleural ÓsseaGastrointestinal Pós-primária Ganglionar periférica Miliar Pericárdica Apresentação clinica 1 2 12TUBERCULOSE ríngea em adolescentes e adultos. Esse teste identi- fica o DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis pela técnica de PCR em tempo real e sua sensibili- dade é de 90% em adultos, sendo inclusive superior à baciloscopia. Também de- tecta resistência à rifam- picina, um dos antibióticos usados no tratamento, com sensibilidade de 95% O exame está indicado em: • Diagnóstico de novos casos de TB pulmonar e laríngea em adolescen- tes e adultos; • Diagnóstico de formas extra-pulmonares em materiais validados (lí- quor, gânglios e outros); • Triagem de resistência à rifampicina em casos de retratamento ou com suspeita de falência ao tratamento. Amostras recomendadas para rea- lização do teste: escarro, escarro in- duzido, lavado broncoalveolar, lavado gástrico, líquor, gânglios linfáticos e outros tecidos. Cultura para micobacté- ria, identificação e teste de sensibilidade: a cultura tem alta especificidade e sensibilidade no diagnós- tico. A identificação da es- pécie é feita por métodos bioquímicos e fenotípicos ou por meio de técnicas moleculares. Já os testes de sensibilidade identificam possível resistência a algum dos antibióticos utilizados no tratamento. A cultura confirma o resultado de mi- cobacteriose, sendo necessário teste adicional para identificar o patógeno específico. Radiológico Tuberculose primária: a presença do bacilo de Koch no parênquima pul- monar promove a formação de um processo inflamatório granulomatoso, que pode se manifestar como uma opacidade (nódulo ou consolidação) chamada nódulo de Ghon ou nódulo primário no raio-x. Em adultos, isso ocorre mais nos lobos superiores. A partir disso, pode progredir para ne- crose caseosa e disseminação bron- cogênica. Cavidades, consolidações, massas, nódulos ou opacidades re- ticulo-nodulares podem ser as apre- sentações radiográficas da doença. 3 13TUBERCULOSE SE LIGA! A disseminação para cadeias ganglionares pode ser vista como linfo- nodomegalias hilares ou alargamento mediastinal, mas principalmente na to- mografia computadorizada. A presença de bacilos ou de suas proteínas devido à disseminação ou contato anatômico pode acometer a pleura ou pericárdio, com derrame pleural - que pode ser visto no raio-x - e derrame pericárdico. Na TB miliar, opacidades difusas reticulo-micronodulares no raio- -x podem aparecer no parênquima pulmonar, devido à disseminação hematogênica. Tuberculose pós-primária: as al- terações são semelhantes à forma anterior, com predileção por lobos superiores e partes superiores dos lobos inferiores. Nódulos, massas e cavitações podem aparecer com a confluência de granulomas múlti- plos. Com a cura, essas cavidades cicatrizam e geram calcificações ou retrações do parênquima. As cavi- dades também podem permanecer com as paredes mais finas, repre- sentando sequela ou inatividade do processo específico. Em idosos e diabéticos, as cavitações tendem a aparecer relativamente com mais frequência em lobos infe- riores. Isso pode dificultar a visualiza- ção. Em relaçao a pacientes imunos- suprimidos por corticoesteroides ou por deficiência da imunidade celular, consolidações difusas e padrão miliar são mais frequentes. Outros achados são o espessamento da parede brônquica e o aspecto de “árvore em brotamento”. Histopatológico Formas pulmonares difusas e formas extrapulmonares podem requerer diagnóstico histopatológico. Nesses casos, a identificação de granulo- ma com necrose de caseificação é compatível com o diagnóstico de tu- berculose. Se houver granuloma sem necrose, o diagnóstico deve ser bem pensado, considerando que outras patologias podem simular outras do- enças granulomatosas, como sarcoi- dose e silicose. A busca de bacilos nos fragmentos utilizados também é de utilidade. Em pacientes muito imunocomprome- tidos, a identificação do granuloma pode ser dificultada e, nesses casos, o achado de bacilos contribui forte- mente para o diagnóstico. Como a certeza diagnóstica é dada pela cultura e posterior identificação da espécie, um ou dois fragmentos da biópsia devem, sempre que possí- vel, ser armazenados e enviados para cultura. 14TUBERCULOSE Outros métodos diagnósticos Adenosina deaminase (ADA): é uma enzima intracelular presente no linfóci- to ativado. Em fluidos, a sua detecção pode auxiliar no diagnóstico de TB. Diagnóstico Baciloscopia direta Cultura para micobactéria Adenosina deaminase Prova tuberculínica Nódulo primário em radiografia Derrame pleural/ pericárdico em radiografia Linfonomegalias hilares na TC Opacidade difusas reticulo- micronodulares Cavitações Granuloma com necrose de caseificação Teste rápido molecular Outros métodos Histopatológico Radiológico Bacteriológico Clínico DIAGNÓSTICO Diagnóstico de infecção latente pelo M. tuberculosis (ILTB) Quando um indivíduo saudável é ex- posto pelo M. tuberculosis, ele não necessariamente irá se infectar. E ainda que seja infectado, pessoas saudáveis geralmente permanecem sem desenvolvimento da doença por muitos anos, com imunidade parcial ao bacilo. Essa condição se chama “infecção latente pelo M. tubercu- losis” (ILTB), que a OMS estima que atinja cerca de ¼ da população mun- dial! Esses indivíduos não têm sinto- mas ou transmitem a doença, mas alguns testes específicos acusarão a infecção pelo BK. Antes de confirmar a ILTB, exclui-se primeiramente a TB ativa, por meio da história clínica e de exames clíni- co e radiológico. Isso porque 5% das pessoas infectadas vão adoecer na 15TUBERCULOSE primo-infecção; e mais 5% delas conseguirão controlar o bacilo a prin- cípio, mas anos depois irão desenvolver a doen- ça ativa. O maior risco de adoeci- mento se concentra nos dois primeiros anos da infecção, mas esta pode ficar latente por um período bem maior antes de manifestar-se. Condições associadas à manifestação da doença incluem a imunossupressão (como no HIV e em tratamento com imunossupressores), comorbidades, desnutrição e idades extremas (<2 anos e >60 anos). Ok, então se tanta gente assimestá com infecção latente pela TB, deve- mos rastrear todo mundo? Não! Só iremos rastrear aqueles indivíduos que potencialmente se beneficiarão do tratamento da tuberculose latente! Vejamos quais são: Contatos (nos últimos dois anos) de pacientes com TB pulmonar ou la- ríngea; Pessoa vivendo com HIV com TCD4+> ou igual a 350cél./mm³; Pessoas em uso de ini- bidor de TNF-alfa ou corticoesteroides (equi- valente a > igual a 15mg de prednisona por dia por mais de um mês); Pessoas com alterações radiológicas fibróticas sugestivas de sequela de TB; Pré-transplante que irão fazer terapia imunossu- pressora; Pessoas com silicose; Neoplasia de cabeça e pescoço, linfomas ou outras doenças hemato- lógicas; Neoplasias em terapia imunossupressora; Insuficiência renal em diálise; Diabetes mellitus; Baixo peso (<85% do peso ideal); Tabagistas (> ou maior a 1 maço por dia); Calcificação isolada (sem fibrose) na radio- grafia de tórax; Profissionais de saúde, pessoas que trabalham no sistema prisional ou em instituições de longa permanência. Diagnóstico pela prova tuberculínica: Nessa prova, mede-se a resposta imu- ne celular a um derivado proteico pu- rificado do M. tuberculosis, inoculado intradermicamente. A prova tuberculínica não serve como diagnóstico nem para exclusão de adultos com suspeita de TB. Logo, será apenas realizado como avalia- ção de possível ILTB em adultos. Dez nos após a vacina da BCG, ape- nas 1% das provas tuberculínicas positivas serão devidas à vacinação. Logo, é muito mais provável que um adulto que tenha uma prova tubercu- línica positiva se trate de um caso de ILTB, mesmo ele tendo sido vacinado quando bebê. Diagnóstico pelo IGRA: os IGRA são os ensaios de liberação de inter- feron-gama. Células anteriormente sensibilizadas pelo agente da tu- berculose produzem altos níveis de 16TUBERCULOSE interferon-gama. Além disso, seg- mentos genômicos ausentes na va- cina BCG e em outras micobactérias foram utilizados para o desenvolvi- mento desse método, aumentando a especificidade para o M. tubercu- losis. Esse método quantifica células T efetoras específicas que foram ati- vadas após exposição aos antígenos do M. tuberculosis. Está indicado na avaliação de ILTB de adultos. Por ser um exame mais caro, não está disponível no SUS. 7. TRATAMENTO DA TUBERCULOSE Antes de falarmos dos esquemas do trata- mento, vamos pincelar alguns conceitos que irão facilitar nosso en- tendimento sobre o mecanismo de ação e o objetivo dos medi- camentos propostos para a TB. Os antibióticos utili- zados no tratamen- to da TB interfe- rem na maquinaria enzimática ou blo- queiam a síntese de algum metabólito essencial à so- brevivência do bacilo. Os fármacos só atuam onde existe metabolismo, ou seja, onde a infecção está ativa, e não latente. Estes serão destruídos pelo sistema imunológico do indiví- duo. O bacilo depende de oxigênio e seu metabolismo se intensifica a depen- der da quantidade do gás presente na região. Na cavitação pulmonar, existe abundância de oxigênio, pH neutro e substâncias nutritivas. Nes- sas regiões, há maior quantidade de bacilos e estes adquirem resistência mais facilmente. Por outro lado, em granulomas, o oxigênio é mais es- casso e, o pH, menos favorável. Ali, o crescimento bacilar adquire um cará- ter mais intermitente Por fim, no interior dos macrófagos, há pouco oxigênio e o pH é acido, além de haver os mecanismos de de- fesa do hospedeiro. Nesses locais, a multiplicação é lenta e os bacilos são latentes. É por conta dessas popula- ções que o tratamento da tuberculose precisa ser bem longo. 17TUBERCULOSE Existem duas fases no tratamento da tuberculose: a fase intensiva e a fase de manutenção. A fase intensiva tem o objetivo de diminuir a população bacilar consideravelmente, incluindo os resistentes. Já a fase de manuten- ção visa à eliminação de bacilos la- tentes ou persistentes e a diminuição da chance de recidiva. Quais são os principais esquemas e quais remédios os compõem? Esquema básico: para casos novos e retratamento – sendo este a recidiva após cura ou reingresso após aban- dono. Válido para todas as formas de tuberculose, em coinfectados por HIV ou não – com exceção da tuberculose meningoencefálica e osteomuscular. Temos 4 fármacos principais - RIPE/ RHZE: rifampicina(R), isoniazida (I/H), pirazinamida (P/Z) e etambu- tol (E). No esquema básico, faremos 2 me- ses de RIPE/RHZE e 4 meses de RI/ RH. PA-824 Delamanide Isoniazida Protionamida Etionamida Cicloserina Terizidona Meropenem Imipenem Amoxicilina/c Lavulanatoo Etambutol SQ-109 Betaquilina Moxifloxacino Gatifloxacino Ofloxacino Rifampicina Rifabutina Linezolida Sutezolida AZD5847 Claritromicina Amicacina Canamicina Capreomicina PAS Clofazimina Espécies relativas Inibição da Sintese DNA Inibição da Sintese RNA Ribossomo Inibição da Sintese ácido fólico Espécies relativas Desestabilização da membrana Micobactin (↓captação de ferro) Inibe sintese ATP Sintese da parede celular Inibição da sintese de peptideoglicano Biossintese de ácido micólico Inibição da Sintese protéica MAPA TRATAMENTO 18TUBERCULOSE A atuação dos medicamentos vai de- pender da localidade e do ambiente onde o bacilo se encontra. Naqueles bacilos intramacrofágicos, agem os medicamentos que melhor se difun- dem em pH ácido e meio intracelular: rifampicina, pirazinamida e etambu- tol. Em lesõs caseosas, rifampicina é o mais efetivo e, por fim, nas cavita- ções, a rifampicina, estreptomicina e ESQUEMA FAIXA DE PESO UNIDADE/DOSE DURAÇÃO RHZE/RIPE 150/75/400/275 mg )comprimidos em doses fixas combinadas) 20 a 35 Kg 2 comprimidos 2 meses (fase intensiva) 26 a 50 Kg 3 comprimidos 51 a 70 Kg 4 comprimidos Acima de 70 Kg 5 comprimidos RH 300/150 mg ou 150/75 mg (comprimidos em doses fixas combinadas) 20 a 35 Kg 1 comp 300/150 mg ou 2 comp 150/75 mg 4 meses (fase de manutenção) 26 a 50 Kg 1 comp 300/150 mg + 1 comp de 150 mg/75 mg ou 3 comp 150/75 mg 51 a 70 Kg 2 comp 300/150 mg ou 4 comp 150/75 mg Acima de 70 Kg 2 comp 300/150 mg + 1 comp de 150/75 mg ou 5 comp 150/75 mg isoniazida são mais efetivas devido ao pH do meio. E como trataremos as tuberculoses meningoencefálica e osteomuscular? Esquema RIPE/RHZE por 2 meses (fase intensiva), seguido de esquema RI/RH por 10 meses (fase de manu- tenção). ESQUEMA FAIXA DE PESO UNIDADE/DOSE DURAÇÃO RHZE/RIPE 150/75/400/275 mg (comprimidos em doses fixas combinadas) 20 a 35 Kg 2 comprimidos 2 meses (fase intensiva) 26 a 50 Kg 3 comprimidos 51 a 70 Kg 4 comprimidos Acima de 70 Kg 5 comprimidos RH 300/150 mg ou 150/75 mg (comprimidos em doses fixas combinadas) 20 a 35 Kg 1 comp 300/150 mg ou 2 comp 150/75 mg 1 0meses (fase de manutenção) 26 a 50 Kg 1 comp 300/150 mg + 1 comp de 150 mg/75 mg ou 3 comp 150/75 mg 51 a 70 Kg 2 comp 300/150 mg ou 4 comp 150/75 mg Acima de 70 Kg 2 comp 300/150 mg + 1 comp de 150/75 mg ou 5 comp 150/75 mg 19TUBERCULOSE E se o paciente tiver mais de uma forma de acometimento: uma forma meningoncefálica ou osteoarticular e uma forma pulmonar, por exemplo? Nesse caso, seguiremos o esquema da forma meningoencefálica e osteo- articular: 2RHPE/10RH. Fase manutenção Patógeno: Complexo M. tuberculosis TratamentoAcometimento Tuberculose Nefropatas, hepatopatas, gestantes, etc Fase intensivaForma mais comum Imunossuprimidos Pleural, pericárdica, miliar, óssea, gastrointestinal, etc. 2 meses RIPE 4 meses seguintes RI Populações especiais 10 meses: Rifampicina Isoniazida 2 meses: Rifampicina Isoniazida Pirazinamida Etambutol Meningoencefálica e osteoarticularExtra-pulmonarPulmonar Infecção pós-primária Infecção prímária Outras localidades MAPA MENTAL RESUMO 20TUBERCULOSE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GOLDMAN L., AUSIELLO D. Cecil: Medicina. 25ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2018. Manual de Recomendações para o Controleda Tuberculose no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissí- veis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia –. Bases Patológicas das Doenças. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. “Tuberculose: do suplício à inspiração literária”. Disponível em: < http://www.fundacaoataulphodepaiva. com.br/blog/tuberculose-do-suplicio-a-inspiracao-literaria-2/>. Acesso em 16 de dez. de 2019. 21TUBERCULOSE
Compartilhar