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Kamilla Galiza / 6º P 1 Definição Pneumonia é todo e qualquer processo inflamatório agudo do parênquima pulmonar decorrente da infecção por algum micro-organismo. Ocorre preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, contendo neutrófilos e exsudato purulento com debris celulares e com os agentes causadores. Figura 1. Preenchimento alveolar confluente com sangue e pus. Do ponto de vista clínico, a pneumonia adquirida na comunidade (PAC) caracteriza-se pelo aparecimento de manifestações agudas do aparelho respiratório (tosse e ao menos mais um entre expectoração, dor torácica e dispneia), pela presença de sinais focais ao exame físico do tórax na dependência da extensão do comprometimento pulmonar (estertores crepitantes e macicez à percussão torácica) e por pelo menos um sinal de comprometimento sistêmico (sudorese, calafrios, febre igual ou superior a 38º C, tremores ou mialgias). Etiologia Naturalmente, as vias aéreas são estéreis, porém, quando contaminadas podem causar pneumonia. As causas estão em: • Aspiração das vias aéreas superiores. • Inalação de aerossóis (principalmente em virais) • Via hematogênica. De acordo com a gravidade: Ambulatório: S. pneumoniae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, vírus respiratórios, H. influenzae; Enfermaria: S. pneumoniae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, vírus respiratórios, H. influenzae, Legionella sp.; UTI: S. pneumoniae, bacilos gram-negativos, H. influenzae, Legionella sp., S. aureus, vírus influenza; Pode ocorrer o encontro de infecções mistas com dois ou mais agentes, sendo que o vírus influenza pode anteceder e facilitar a ação de agentes bacterianos como S. pneumoniae, S. aureus e H. influenzae. Fatores de risco Condições Mecanismo de predisposição Idade avançada Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram negativos. Tabagismo Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares. DPOC Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos alveolares; aumenta a colonização da faringe e da árvore traqueobrônquica por Gram-negativos. Alcoolismo Inibe a tosse e os reflexos glóticos; inibe a quimiotaxia para neutrófilos e o metabolismo oxidativo destas células; aumenta a colonização faríngea por Gram-negativos Diabetes mellitus Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram negativos. ICC Mecanismo desconhecido Uremia crônica Menos capacidade fagocítica; inibe a quimiotaxia para neutrófilos e o metabolismo oxidativo destas células. Infecções virais Lesão do epitélio traqueobrônquico (perda da atividade ciliar). Kamilla Galiza / 6º P 2 Queda da consciência Inibição da tosse e dos reflexos glóticos – aspiração de grandes quantidades de material faríngeo ou gástrico. Doença cerebrovascular Inibição da tosse e dos reflexos glóticos; distúrbio da deglutição. Fases Evolutivas da Pneumonia Pneumocócica (Protótipo) 1. Congestão: nesta fase, as bactérias se multiplicam rapidamente no interior dos alvéolos, os vasos dilatam- se ingurgitando-se de sangue. Um exsudato fibrinoso, com poucos neutrófilos, já pode ser visto no espaço alveolar. 2. “Hepatização” Vermelha: caracterizada pela exsudação de hemácias, neutrófilos e fibrina para o interior dos alvéolos. O espaço alveolar já se encontra totalmente ocupado por este exsudato. Como predominam as hemácias, o aspecto macroscópico do lobo pulmonar acometido é semelhante ao fígado – daí o nome “hepatização”. 3. “Hepatização” Cinzenta: as hemácias começam a se desintegrar e o exsudato passa a conter basicamente neutrófilos e debris celulares. Seria a fase supurativa da pneumonia... O aspecto macroscópico revela uma consolidação de cor cinza claro. 4. Resolução ou Organização: o exsudato celular dá lugar a um material semifluido e granulado, formado pelos debris das células inflamatórias. Estes vão sendo consumidos por macrófagos até a completa resolução do processo. Na maioria das vezes, o parênquima pulmonar volta ao normal. Aqui cabe ressaltar que a pneumonia pneumocócica não costuma destruir os septos alveolares. Esta regra não vale para a pneumonia estafilocócica, por germes Gram-negativos entéricos e por anaeróbios. Tipos Histopatológicos de Pneumonia Bacteriana 1. Pneumonia Lobar: caracterizada pela consolidação alveolar extensa, ocupando uma grande área do parênquima pulmonar, como um lobo inteiro. O agente principal é o Streptococcus pneumoniae, mas qualquer bactéria de alta virulência pode desenvolver este padrão pneumônico. 2. Broncopneumonia: caracterizada pela consolidação alveolar multifocal – são múltiplos focos acinares (ou lobulares), coalescentes, que predominam na região peribrônquica. Este é o tipo mais frequente de apresentação da pneumonia. Qualquer agente infeccioso causador de pneumonia pode cursar com este padrão. Patogenia A pneumonia é resultado da: • Proliferação dos patógenos microbianos nos espaços alveolares; • Resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos; Os microrganismos podem chegar às vias respiratórias inferiores pelos seguintes mecanismos: • Aspiração de secreções orofaríngeas (durante o sono ou nos pacientes com níveis deprimidos de consciência); • Inalados na forma de gotículas contaminadas; • Disseminação hematogênica ou por extensão dos espaços pleural ou mediastinal infectados (casos raros); A pneumonia evidencia-se apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares ingerirem ou destruírem os microrganismos é “vencida”; • Quando isso acontece, os macrófagos alveolares ativam a resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias respiratórias inferiores; • Essa resposta inflamatória do hospedeiro, mais do que a proliferação dos microrganismos, desencadeia a síndrome clínica da pneumonia; A liberação de mediadores inflamatórios como a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral (TNF) provoca febre; As quimiocinas como a IL-8 e o fator de estimulação das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão; • Isso causa leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas; Kamilla Galiza / 6º P 3 Os mediadores inflamatórios liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos recém-recrutados acarretam extravasamento alveolocapilar; • Até mesmo os eritrócitos conseguem atravessar a membrana alveolocapilar e isso causa hemoptise; • O extravasamento capilar é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis à ausculta; A hipoxemia é atribuída ao preenchimento dos espaços alveolares; • Além disso, alguns patógenos bacterianos interferem na vasoconstrição hipoxêmica e essa interferência pode causar hipoxemia grave; A dispneia tem como causas: • Redução da complacência pulmonar secundária ao extravasamento capilar; • Hipoxemia; • Hiper estimulação do centro respiratório; • Secreções profusas; • Broncoespasmo desencadeado pela infecção; Se a doença for grave, as alterações da mecânica pulmonar secundárias às reduções do volume e da complacência pulmonares, bem como o shunt intrapulmonar do sangue, podem levar o paciente à insuficiência respiratória e à morte. Quadro clínico – Típico O quadro clínico clássico da pneumonia comunitária “típica” é representado pela pneumonia pneumocócica. A doença se apresenta de forma hiperaguda (2-3 dias), com uma história de calafrios com tremores, seguidos de febre alta (39-40º C), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta (esverdeada). O exame físico pode revelar prostração, taquipneia (FR > 24 ipm), taquicardia (FC > 100 bpm) e hipertermia (Tax > 38º C). Os achadospositivos no exame do aparelho respiratório podem variar desde simples estertores inspiratórios até uma síndrome de consolidação e/ou de derrame pleural. A síndrome de consolidação é caracterizada pela presença do som bronquial (“sopro tubário”), aumento do frêmito toracovocal, submacicez, broncofonia e pectorilóquia fônica. A síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. Os exames laboratoriais inespecíficos geralmente revelam uma leucocitose neutrofílica entre 15.000-35.000/mm3, com desvio para esquerda. A ativação dos neutrófilos pode ser notada à hematoscopia pela presença de granulações grosseiras no citoplasma e/ou corpúsculos de Dohle. O hematócrito, os índices hematimétricos e as plaquetas costumam estar normais no início do quadro. A leucopenia pode ocorrer e é considerada um importante sinal de mau prognóstico. A bioquímica na maioria das vezes está normal, mas pode mostrar hiponatremia leve a moderada em alguns casos. A hiponatremia grave e a elevação das enzimas hepáticas são mais comuns na pneumonia por Legionella pneumophila. O aumento agudo das escórias renais sugere sepse grave ou nefrite intersticial pelo antibiótico utilizado. A gasometria arterial depende da gravidade e extensão da pneumonia, bem como da reserva cardiopulmonar prévia do paciente. Os achados mais frequentes são a hipoxemia e a alcalose respiratória. O encontro de hipoxemia grave (PaO2 < 60 mmHg), acidose metabólica ou respiratória são importantes sinais de mau prognóstico. Diagnóstico O diagnóstico de pneumonia comunitária geralmente é feito pelo quadro clinicolaboratorial em conjunto com a Kamilla Galiza / 6º P 4 radiografia de tórax nas incidências PA e perfil. O exame de escarro pode revelar dados que corroboram o diagnóstico e sugerem o agente etiológico. Exames invasivos e semi- invasivos (ex.: broncofibroscopia) não devem ser solicitados de rotina, mas podem ser necessários em casos selecionados. Etiológico A recomendação atual é a procura do agente etiológico somente se houver motivo para acreditar que o resultado possa alterar o antibiótico que você selecionou empiricamente. Por exemplo: pneumonia sem critérios de gravidade, com apresentação típica, em adulto jovem, sem comorbidade = pneumococo (não há necessidade de lançar mão de propedêutica diagnóstica cara e invasiva para tentar confirmar um dado que já tem alta probabilidade pré- - teste). Assim, na PAC, em especial nos casos que serão tratados em regime ambulatorial, a escolha do antibiótico é empírica, com base nos agentes mais frequentemente identificados em estudos epidemiológicos, eventualmente com algum ajuste em função de fator de risco específico ou situação epidemiológica (influenza aviária, Legionella, tuberculose...). Segundo a ATS/IDSA, nos pacientes que serão internados, deve-se colher hemoculturas e escarro (Gram + cultura) se houver indicação. Pacientes com pneumonia grave deverão ser avaliados por hemocultura, cultura do escarro (aspirado endotraqueal se for intubado) e dosagens de antígenos urinários para Legionella pneumophila e Streptococcus pneumoniae. Exames laboratoriais Na avaliação inicial dos pacientes, a saturação periférica de oxigênio (SpO2) deve ser verificada rotineiramente, antes do uso de oxigênio suplementar e logo no início da avaliação. Uma gasometria arterial deve ser realizada na presença de SpO2 ≤ 90% em ar ambiente e em casos de pneumonia considerada grave. A presença de hipoxemia indica o uso de oxigênio suplementar e admissão hospitalar. O exame mais frequentemente solicitado é o hemograma. Pode haver leucocitose com desvio à esquerda, mas este é um achado de baixa especificidade e sensibilidade diagnóstica para PAC. Leucopenia em geral se correlaciona com pior prognóstico, independentemente do agente etiológico. A dosagem de proteína C reativa (PCR) tem baixa sensibilidade e especificidade para predição da etiologia bacteriana. O nível de proteína C reativa inicial não apresenta boa associação com a gravidade da doença, mas 95% dos pacientes hospitalizados têm níveis superiores a 50 mg/L. Entretanto, a PCR pode ser útil no acompanhamento da resposta terapêutica, sobretudo naqueles cuja hospitalização é necessária. Falha ao tratamento ou complicações devem ser consideradas se o nível de PCR não se reduz por pelo menos 50% no quarto dia de terapia. Dosagens de glicemia, eletrólitos e transaminases não têm valor diagnóstico, mas auxiliam na decisão da hospitalização, devido à identificação de comorbidades descompensadas. Cabe ressaltar que a elevação da ureia, independentemente do contexto do paciente, é o único achado laboratorial isolado com valor prognóstico adverso na PAC. Principais testes microbiológicos para diagnóstico etiológico em PAC A necessidade de testes para determinar o diagnóstico etiológico de PAC pode ser justificada por várias razões. A principal delas é quando o resultado do teste mudará o manejo do antibiótico. O espectro da terapia antibiótica pode ser ampliado, ajustado ou completamente alterado com base no teste diagnóstico. Além disso, ajustar o antibiótico auxilia a diminuir custos, efeitos colaterais e a possibilidade de resistência. 1. Hemoculturas: quando coletadas previamente ao tratamento, são positivas para um patógeno em 5 a 14% dos pacientes hospitalizados por PAC. O rendimento desse teste é relativamente baixo, e quando analisado o impacto da positividade na tomada de decisões, ele é menor. S. pneumoniae é o agente mais frequentemente isolado. Resultados falso-positivos são associados com a duração de internação prolongada, em função de isolamento de contaminantes com cocos Gram- positivos, muitas vezes Staphylococcus coagulase- negativo, e consequentemente há aumento na prescrição de vancomicina. Culturas positivas raramente levam a modificação ou ajuste de antibioticoterapia. A indicação de hemocultura é para pacientes com PAC grave, pois podem ser infectados com patógenos diferentes de S. pneumoniae, incluindo S. aureus, P. aeruginosa e outros bacilos Gram- negativos. Além disso, o rendimento é maior, há possibilidade de o agente isolado não ser coberto pela antibioticoterapia empírica usual e pode afetar o manejo do antibiótico. Pacientes com deficiências de complemento, asplenia, doenças hepáticas crônicas e leucopênicos têm incidência maior de bacteremia e também têm indicação de coleta do teste. Kamilla Galiza / 6º P 5 2. Escarro: o escarro pode ser submetido à bacterioscopia pelo método de Gram e à cultura. A utilidade desse teste é motivo de controvérsias em razão da variação na adesão por parte dos laboratórios de microbiologia clínica para as amostras-padrão. A sensibilidade e a especificidade da bacterioscopia pelo método de Gram variam substancialmente. Os resultados da cultura devem ser interpretados com base na quantificação de crescimento (leve, moderado, intenso); deve-se estabelecer correlação com a clínica e com a coloração de Gram. As diretrizes reconhecem as limitações do teste e recomendam que seja realizado antes do tratamento, em espécime de escarro de boa qualidade, com medidas apropriadas para coleta, transporte e processamento para assegurar a qualidade. 3. Testes de antígeno urinário: são métodos alternativos ou complementares para detectar S. pneumonia e Legionella. Dentre as vantagens em relação à hemocultura pode-se citar a disponibilidade imediata dos resultados, a validade mesmo após o início do antibiótico e a alta sensibilidade. As desvantagens incluem sensibilidade e especificidade baixas em pacientes sem bacteremia e não há patógeno disponível para testes de sensibilidade ao antimicrobiano nos casos de S. pneumoniae. Os testes com antígeno urinário para o diagnóstico de Legionella têm a desvantagem de ser útil apenas para o diagnóstico deinfecção por Legionella pneumophila do grupo 1, porém, este é o sorogrupo mais frequente (em 80% das doenças causadas por Legionella adquirida na comunidade). 4. PCR (polimerase chain reaction): a reação em cadeia de polimerase pode ajudar a melhorar a acurácia do diagnóstico microbiológico. É mais sensível para detecção de patógenos atípicos e vírus. A maioria dos reagentes para PCR, contudo, não estão comercialmente disponíveis, bem como não há critério para teste de validação. 5. Sorologias: são realizadas, mais comumente, para diagnóstico de agentes atípicos, como C. pneumoniae, M. pneumoniae, Legionella spp. É necessário soro nas fases aguda e de convalescença, e considera-se a quadruplicação do título como resultado positivo. No entanto, deve-se considerar que o diagnóstico é retrospectivo, assim é mais utilizado em estudos epidemiológicos ou em casos de falência de tratamento. Exames complementares Hemograma completo: permite a identificação de leucopenia; • Leucocitose além de plaquetopenia < 100.000 pode significar critério menor de gravidade; Bioquímica: a dosagem de ureia sérica acima de 65 mg/dl é um indicador de gravidade; • Glicose sérica e ionograma devem ser solicitados; Gasometria arterial: deve ser realizada se a SpO2 estiver abaixo de 92%, ou se houver suspeita de alguma doença pulmonar crônica ou PAC grave; Biomarcadores: os dois atualmente usados são a proteína C- reativa (PCR) e a procalcitonina (PCT); • Os níveis desses reagentes de fase aguda aumentam na presença de uma resposta inflamatória, particularmente com patógenos bacterianos; • A PCR pode ser útil na identificação de piora da doença ou falha do tratamento, e a PCT pode ajudar para determinar a necessidade de terapia antibacteriana; • Esses testes não devem ser usados soizinhos, mas, quando interpretados em conjunto com outros achados da história, exame físico, radiologia e exames laboratoriais, podem ajudar na escolha da antibioticoterapia e manejo adequado de pacientes gravemente enfermos com PAC. Conduta clínica As diretrizes da IDSA/ATS e do Consenso Brasileiro sugerem que se use um escore de gravidade para auxiliar na decisão de tratamento ambulatorial ou internação na PAC. Dentre os dois escores mais usados em PAC, o PSI (Pneumonia Severity Index) e o CURB65, os autores sugerem a utilização deste último, por ser mais simples e por ter sido desenvolvido e validado para caracterizar gravidade da PAC. O PSI foi criado para estratificar o risco de óbito, e, posteriormente, seus resultados foram extrapolados para decisão sobre o local de tratamento. Pacientes com escore de 0 ou 1 (apenas ganhou ponto pela idade) podem ser tratados ambulatorialmente. Escores de 2 ou mais indicam internação do paciente, mas atenção! Avalie o paciente! Mesmo com a utilização de critérios objetivos como números, a avaliação complementar do médico é importante na tomada de decisão. Ela deve considerar a possibilidade de o paciente tomar ou não medicação por via oral, o apoio que o paciente terá durante seu tratamento ambulatorial, a presença de comorbidades que podem ser descompensadas pela pneumonia (diabetes, insuficiência cardíaca, DPOC...). Além disso, lembre-se de que as internações têm um custo 25 vezes maior, prolongam o período de retorno às atividades do dia a dia, além de maior risco de TEP e infecção por agentes mais virulentos e resistentes. Kamilla Galiza / 6º P 6 A indicação para internação em CTI será dada de acordo com a Tabela 11. Um critério maior ou três critérios menores → TERAPIA INTENSIVA Segundo o Consenso Brasileiro, para definir PAC grave, usamos o escore proposto por Ewig e colaboradores que diz o seguinte: Recomenda-se internação em UTI quando o paciente apresentar um critério maior ou dois critérios menores. Tratamento da PAC Como já conversamos, o tratamento inicial para a maioria dos pacientes permanece empírico. O antibiótico deve ser escolhido de acordo com o quadro clínico do paciente. Vamos dividir o tratamento da mesma maneira que fizemos a abordagem inicial: ambulatório, enfermaria e terapia intensiva. Tratamento empírico Acompanhe nas Tabelas a seguir as indicações para cada tipo de situação. Primeiro no ambulatório, segundo a ATS/IDSA. O que diz o Consenso Brasileiro? Ver Tabela 14. No paciente internado, veja na Tabela 15 as recomendações, também segundo a ATS/IDSA. O que diz o Consenso Brasileiro sobre tratamento empírico para pacientes internados? Ver Tabela 16. E no CTI, como tratar segundo a ATS/IDSA? Ver Tabela 17. Kamilla Galiza / 6º P 7 Complicações Diversas são as complicações da pneumonia bacteriana. O derrame pleural parapneumônico ocorre em 20-70% dos casos, sendo mais comum na pneumonia estafilocócica e por anaeróbios. O derrame pleural é considerado um sinal de pior prognóstico, acarretando maior morbimortalidade. O derrame complicado e o empiema devem ser abordados com toracostomia + drenagem com tubo em selo d’água. A septação pleural é uma evolução comum do derrame complicado ou do empiema pleural, se estes forem inadequadamente drenados. O encarceramento pulmonar é uma complicação possível. A pneumonia necrosante, definida como a presença de cavitações < 2 cm ou de abscesso pulmonar (cavidades > 2 cm com nível hidro- aéreo), é uma evolução comum nas pneumonias por S. aureus, Gram-negativos entéricos ou anaeróbios. A formação de bronquiectasias pode ocorrer como complicação tardia das pneumonias necrosantes, especialmente se houver obstrução brônquica. Outras complicações: sepse, choque séptico, pneumotórax, atelectasia por rolha de secreção etc. Em quanto tempo o paciente começa a melhorar? A ausência de resposta ao tratamento ou piora clínica/radiológica em 48 ou 72 horas é considerada como fracasso precoce. Quando ocorre piora do quadro clínico após as 72 horas iniciais de tratamento é considerada falha tardia. As principais causas de fracasso são: 1. Antibioticoterapia errada; 2. Não era pneumonia: embolia pulmonar, vasculites, pneumonia eosinofílica, de hipersensibilidade etc.; 3. É pneumonia, mas por agentes pouco usuais: infecções fúngicas, pneumocistose, nocardiose, leptospirose, hantavirose, psitacose etc.; 4. Aconteceram complicações: pulmonares (abscesso) ou extrapulmonares (empiema). Prevenção Vacina anti-influenza (vírus inativado) Todas as pessoas com mais de 60 anos, indivíduos com alto risco1 para complicações do influenza, contatos íntimos de pessoas com alto risco e profissionais de saúde. 1 Doença cardiovascular, renal, hepática ou pulmonar crônica (incluindo asma), doença metabólica crônica (incluindo diabetes), hemoglobinopatias, gestantes, imunocomprometidos por doença ou medicamento (HIV, pós-transplante), indivíduos com menos de 18 anos em tratamento crônico com aspirina. Vacina antipneumocócica Indicada em pacientes com 60 anos ou mais, necessitando de dose de reforço cinco anos após, e em situações especiais de alto risco2. Pessoas que receberam a primeira dose após os 65 anos e/ou que não têm asplenia/imunodepressão não necessitam reforço. 2 Doença cardiovascular, renal, hepática e pulmonar crônica, diabetes mellitus, fístula liquórica, alcoolismo, asplenia, imunocomprometidos por doença ou medicamento. Referencia • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação- - Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia e Serviços. – 1ª ed. atual. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. • Longo DL, et al. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 19th ed. New York: McGraw-Hill, 2015. • Goldman L, Schafer AL, et al. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia:Elsevier Saunders, 2016. Kamilla Galiza / 6º P 1 Anatomia das vias aéreas inferiores Brônquios Os brônquios são tubos que se estendem ínfero-lateralmente, da bifurcação da traqueia para os hilos dos pulmões, onde formam a árvore brônquica. O brônquio principal direito é mais largo, menor e direcionado mais verticalmente que o brônquio principal esquerdo. Cada brônquio principal ao penetrar nos pulmões, divide-se para formar os brônquios lobares (secundários), sendo três do lado direito e dois do lado esquerdo, onde cada um supre um lobo do pulmão. Os brônquios lobares continuam a se ramificar formando brônquios ainda menores, denominados brônquios segmentares (terciários), que suprem os segmentos broncopulmonares. Os brônquios segmentares são: Os brônquios segmentares continuam a se dividir em torno de 20 a 25 gerações de ramos e terminam nos brônquios terminais. Cada brônquio terminal dá origem a diversas gerações de brônquios respiratórios, que por sua vez, fornecem, cada um, 2 a 11 ductos alveolares; cada ducto dá origem a 5 ou 6 sacos alveolares revestidos por alvéolos (unidade estrutural básica de trocas gasosas no pulmão). Pulmões Os pulmões são órgãos pares, grandes e esponjosos, de forma piramidal, situados no interior da cavidade torácica, separados entre si pelo coração, vísceras e pelos grandes vasos do mediastino. Tem com função captar o oxigênio inalado do ar atmosférico e desprender o gás carbônico. Cada pulmão tem: um ápice, que sobe acima da abertura superior do tórax e é coberto pela pleura cervical (ou cúpula pleural); e três faces que se adaptam ao contorno da cavidade torácica. A face costal, grande, lisa e convexa, está em contato com a pleura e as costelas. Nessa face, encontramos também as fissuras, que dividem os pulmões em lobos. O pulmão direito possui duas fissuras: a fissura oblíqua, que tem início em nível da cabeça da 5ª costela, curva-se para baixo e termina em nível da 6ª articulação condrocostal, e separa os lobos superior e médio do inferior. A fissura horizontal inicia-se na superfície da fissura oblíqua, no ponto de interseção da linha axilar média com a 6ª costela, e separa o lobo superior do médio no pulmão direito. O pulmão esquerdo possui apenas uma fissura que separa o lobo superior do lobo inferior, a fissura oblíqua. A face mediastinal, é ligeiramente côncava, contém uma fenda vertical, o hilo, que é uma área por onde os brônquios principais, vasos pulmonares, vasos bronquiais, vasos linfáticos e nervos entram ou saem do pulmão. A face diafragmática, também côncava, forma a base do pulmão, e repousa sobre a cúpula diafragmática. Essa Kamilla Galiza / 6º P 2 concavidade é mais acentuada na base do pulmão direito por causa da posição mais elevada do fígado. Tuberculose pulmonar Definição A tuberculose é uma doença granulomatosa crônica com um estágio latente único normalmente causado pelo bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) Mycobacterium tuberculosis. O local afetado com mais frequência pela doença é o pulmão, mas pode acometer extrapulmonarmente como os gânglios linfáticos, pleura, ossos e articulações. Agente etiológico O principal agente causal da tuberculose é o Mycobacterium tuberculosis. De forma mais rara, a doença também pode ser causada por outras espécies do complexo M. tuberculosis, como o M. bovis. ➔ Mycobacterium tuberculosis: tem crescimento lento (18 a 24 horas para duplicação) que pode permanecer intracelularmente por períodos prolongados. O bacilo é chamado de Koch. § É um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) – técnica de Ziehl-Neelsen: aquece, adiciona álcool e ácido, e azul de metileno, e os bacilos retem coloração avermelhada, em contrates com meio azul. § Por ser estritamente aeróbio, o bacilo de Koch procura microambientes com altas tensões de O2, com os ápices pulmonares. § De todos os infectados, somente cerca de 5-10% adoecem, com muitos se tornando fontes de infecção. Um adulto com forma bacilífera, tem capacidade de infectar 10/15 pessoas no ano. Transmissão e infectividade ➔ Transmissão: aerógena. O que determina se terá infecção, é: 1. Carga bacilífera expelida pelo tuberculoso. Nem todo infectado com BK vai ser bacilífero, de forma que não transmite a doença. Já os que desenvolvem a doença, infectados doentes, podem sim eliminar bacilos. Mesmo assim, nem todo doente vai transmitir BK, pois eles podem ser multibacilíferos (forma cavitaria da doença com baciloscopia positiva no escarro), os grandes responsáveis pela transmissão, ou paucibacilíferos (geralmente não cavitários e com baciloscopia negativa, porém cultura positiva), transmissão baixíssima. Ainda existem os não bacilíferos, formas extrapulmonares da tuberculose. Obs: Cumpre ressaltar que crianças com TB pulmonar de um modo geral não são bacilíferas, logo, não desempenham papel importante na cadeia de transmissão. Sendo assim, sempre que encontrarmos uma criança doente, temos que procurar o adulto que lhe transmitiu a infecção (geralmente algum contato intradomiciliar multibacilífero). 2. Intensidade e frequência do contato. Estima-se que são necessários de 20 a 200 bacilos para desencadear o processo da infecção, pois quanto maior o inóculo de bacilos, menos a resistência do indivíduo e maior chance da infecção. Por isso contatos esporádicos raramente são infectados, enquanto contatos diários e familiares são. 3. Sistema imune do hospedeiro: aspectos genéticos, doenças debilitantes ou imunossupressão. 4. Condições ambientais: lugares confinados e com pouca luz solar tem maior probabilidade de transmissão. Patogênese 1. Primo-infecção É o primeiro contato com o agente infeccioso. O bacilo, ao entrar alcançar o espaço alveolar, é fagocitado por macrófagos locais, contudo, eles não têm a capacidade de matar ou inativar o patógeno. Dessa forma, o bacilo consegue se proliferar livremente até que um momento aquele macrófago não suporta mais e liberando-os para infectar novos macrófagos, linfonodos, corrente sanguínea e diversos órgãos. Assim se inicia a disseminação linfo- hematogênica do BK. Nesse momento ainda não há uma resposta imune específica, por isso a replicação está alta. 2. Surgimento da imunidade: Após 2 a 10 semanas, a imunidade celular específica começa a se desenvolver: linfócitos TCD4 são ativados, que tem a função de potencializar a ação bactericida dos macrófagos. Assim linfócitos vão se acumulando em volta dos macrófagos, nos focos de disseminação linfonodal e hematogênica. Em 95% dos casos, essa fase é efetiva, controlando esses focos e deixando o indivíduo completamente assintomático. A junção dos macrófagos e linfócitos formam o granuloma (tipo de hipersensibilidade IV), que no centro há uma reação necrótica sólida do tipo caseosa, assim surgindo o famoso granuloma caseoso. Esse foco é chamado de foco primário ou nódulo de Ghon. ➔ Nódulo de Ghon: geralmente único, localizado no terço superior do pulmão. Esse é visto pela radiografia quando atinge dimensões > 8mm. Pode aparecer em outros locais e raramente é múltiplo. Obs: além do foco primário, existem múltiplos focos de disseminação linfo-hematogênica em vários órgãos, inclusive no próprio pulmão. Um pequeno número de bacilos permanece latente no interior desses granulomas, os quais podem ser reativados, determinando uma nova proliferação de bacilos → TB pós-primária. ➔ Adenopatia hilar: o foco nos linfonodos satélites também pode crescer, levando à adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral. A associação dela com o nódulo de Ghon é chamada de complexo primário. Kamilla Galiza / 6º P 3 Mecanismo da doença O desenvolvimento da doença em si, depende da resposta imune ao bacilo. Quando há grande carga de bacilos, apesar destes serem desprovidos de toxinas muito lesivas, a respostaimunológica é grande e acaba lesionando o tecido, formando assim focos de granulomas caseosos. Esses granulomas, 95% das vezes, são regressivos, de forma que o corpo consegue conter a infecção. No entanto, alguns focos são progressivos e reativados, dos quais a doença é instalada. § Bacilo → sistema imune consegue conter infecção → nódulo primário de Ghon (foco regressivo). § Bacilo → sistema imune não consegue ganhar do bacilo, evoluindo para a infecção → foco progressivo ou reativado → forma primária progressiva e forma pós- primária. E o que faz aquele cáseo se proliferar ou não? Dentro dele o pH é ácido e tem pouco O2 – ambiente não favorável ao bacilo, porém se há potencialização da ação destrutiva dos macrófagos, mas não suficiente para matar o patógeno, isso pode aumentar a osmolaridade de dentro do cáseo, aumentando a osmolaridade do local, de forma a puxar água e nutrientes para dentro = meio perfeito para crescimento do bacilo. Se essa lesão conseguir atingir um brônquio, haverá O2 e surgindo assim a caverna tuberculosa = perfeito para acúmulo de bacilos de Koch. Classificação da tuberculose Dentre os 10% que desenvolvem a tuberculose, eles são divididos na tuberculose primária e na pós-primária: ➔ Tuberculose primária: em 5% dos casos, a primo-infecção evolui diretamente para a doença, ocorrendo dentro dos primeiros três anos da primo-infecção – em geral no primeiro ano. § Primária típica: mais comum em crianças entre 2 e 12 anos, por terem resposta imunológica exacerbada nos linfonodos hilares e mediastinais. O complexo primário costuma ser representado por uma pequena área de pneumonite, ocupando terço médio do pulmão + grande adenomegalia hilar e/ou mediastinal ipsilateral. § Primária progressiva: ocorre quando paciente está imunodeprimido ou quando há infecção por grande número de inóculos. Oque acontece é que o foco primário evolui para uma grande área de inflamação granulomatosa e exsudativa = pneumonia tuberculosa. § Tuberculose miliar: forma mais comum em crianças < 2 anos e não vacinadas com BCG, ou em imunodeprimidos graves (ex: desnutrição, SIDA). Tem acometimento macroscópio multinodular pulmonar. ➔ Tuberculose pós-primária: os outros 5%, só desenvolvem a doença após 3 anos da infecção, por reativação de foco latente ou por reinfecção (nova inalação de bacilos). § Acomete adultos (> 15 anos). § Pode ocorrer por reativação de um foco latente, ou por reinfecção. A TB pós primária tem grande tendência de assumir padrão cavitário, por isso é altamente contagiosa (diferentemente das crianças, que evoluem ara formas não cavitarias e, em geral, não transmitem a doença). § Raramente tem adenopatia hilar e mediastinal. § Reativação: Acha-se que por uma queda da imunidade, os bacilos que estavam latentes, conseguem ser reativados e voltam a se proliferar. Os segmentos posteriores dos lobos superiores e o segmento superior dos lobos inferiores (segmento 6) são os mais acometidos pela tuberculose pós-primária. o Reinfecção: após nova carga inalada, a doença tem as mesmas características da reativação. ➔ Tuberculose extrapulmonar: tuberculose extrapulmonar pode afetar qualquer órgão e sistema, porém os mais acometidos são: pleura, linfonodos, ossos, articulações, meninges, cérebro, rins, genitália interna, pericárdio, peritônio e intestino. As manifestações vão depender de qual órgão foi acometido. Exemplos: § Se a pleura for acometida, isso levaria a uma pequena quantidade de bacilos no espaço pleural, levando a um derrape pleural. Tuberculose no Imunodeprimido (AIDS) Tem um grande espectro, dependendo do grau da imunodepressão da pessoa – estimado pela quantidade de CD4+. Quando CD4 está entre 350-500/mm³, a TB assume padrão cavitário, semelhante a TB pós-primária. Se CD4 está < 350/mm³, a TB assume forma exsudativa, acometendo grandes áreas pulmonares. Nos casos de imunodepressão extrema, há uma reação inflamatória inespecífica: muitos bacilos, neutrófilos, linfócitos e macrófagos → essa é a reação “não reativa”. Obs: se não tratados logo, pacientes com AIDS evoluem rapidamente para óbito. Prova tuberculínica (PPD ou PT) ➔ Identifica infectados pelo bacilo de Koch (infecção latente ou infecção-doença). ➔ O PT é usado para emprega de diagnóstico de infecção latente em adultos, e infecção ativa em crianças. ➔ Só se torna positiva após 2/10 semanas do contato com o BK, pois é necessário o desenvolvimento da imunidade específica. A reação do PPD é, na verdade, o acúmulo de TCD4 no local que foi introduzido os antígenos do M. tuberculosis. ➔ A prova tuberculínica é feita com a administração intradérmica de 2 UT (“Unidades Tuberculínicas”) no 1/3 médio da face anterior do antebraço esquerdo, equivalente a 0,1 ml da solução padrão utilizada no Brasil (PPD -RT 23). ➔ A leitura é feita 48-72h após. Clínica Tuberculose pulmonar primária ➔ Paciente se infectou há menos de 3 anos. ➔ Quase sempre uma doença autolimitada. ➔ Faixa etária mais comum: crianças (< 15 anos) O quadro clínico clássico da TB primária é encontrado principalmente em crianças recém-infectadas, predominando < 4 anos. As manifestações são: ➔ Forte predisposição à adenopatia hilar e mediastinal. ➔ Sintomas acompanham achados radiológicos. ➔ Clínica parecida com pneumonia atípica: § Febre baixa (38-39°C) – dura em média 14 a 21 dias, podendo levar até 2 a 3 meses. § Tosse seca. § Não tem coriza, sinusite, cefaleia. o Estado geral costuma estar preservado. ➔ Apesar da clínica ser inespecífica, os achados radiológicos são muito sugestivos: Kamilla Galiza / 6º P 4 § Adenopatia hilar e/ou mediastinal ipsilateral ao foco primário. Obs: a TB primária é a principal causa de adenopatia hilar/mediastinal unilateral em crianças. Porem as vezes pode vir bilateral (15% dos casos), podendo confundir o diagnóstico com sarcoidose. § Foco comumente localizado no lobo médio (lembrando: pulmão direito), mas estar nos outros lobos pulmonares também. § No foco, RX mostra infiltrado, que eventualmente pode ser nodular. § Os achados radiológicos da tuberculose pulmonar primária tendem a desaparecer ao longo de seis meses a um ano, mesmo sem tratamento específico → doença autolimitada. O foco primário muitas vezes deixa uma cicatriz, um nódulo pequeno geralmente calcificado – o tuberculoma. ➔ Complicações da TB primária: § Atelectasia: pela compressão de um brônquio pela adenopatia hilar. O local mais comum é o lobo superior direito. A tendencia é a resolução espontânea da atelectasia, à medida que a adenopatia e o edema brônquico se reduzem naturalmente. Obs: relembrando que Atelectasia significa colapso ou perda de volume pulmonar. Pode envolver um pulmão todo, ou apenas algum lobo. Acontece por obstrução intrínseca de uma via aérea ou pela compressão externa dos linfonodos, massas e outros. § Pneumonia tuberculosa: quando há ruptura de um linfonodo infectado dentro do brônquio, causando inoculação alveolar. Forma-se um exsudato mononuclear com áreas de necrose caseosa, ocupando alvéolos. § Evolução para TB miliar: forma linfo-hematogênica. Comum em crianças < 2 anos, não vacinadas pelo BCG. Tem acometimento macroscópio multinodular pulmonar (miolo de pão). § Evolução para forma primária progressiva. Ocorre principalmente em crianças desnutridas e HIV positivos. O foco primário evolui para infiltrado broncopneumônico progressivamente maior, capaz de cavitar e disseminar o bacilo para os outros segmentos do pulmão. O quadro é de uma pneumonia multilobular necrosante, de curso arrastado e sem resposta aos antibióticos convencionais Observação importante: I. Tuberculose primária no adulto: § Se o adulto evolui com infecção primária, ele terá curso semelhante ao da infância, porém com uma importante diferença: não faz adenopatia hilar/mediastinal (a não ser que seja HIV positivo).§ O adulto é mais propenso à tuberculose pleural primária do que a tb pulmonar primária. § Atenção: diabéticos, gastrectomizados, desnutridos e HIV positivos = tem maior chance de adoecer após primo-infecção. Eles podem se apresentar como uma pneumonia atípica, com pequeno infiltrado unilateral ou com uma forma primária progressiva. § Às vezes, após a primo-infecção, o adulto desenvolve a forma apical semelhante à tuberculose pós- primária. Nestes casos, é provável que o foco primário tenha sido controlado, mas o período de latência foi curto, havendo Kamilla Galiza / 6º P 5 uma reativação precoce do foco intersticial no lobo superior. Tuberculose pulmonar secundária ➔ Paciente se infectou há MAIS de 3 anos. ➔ É a forma crônica da TB pulmonar. ➔ Faixa etária mais comum: adultos entre 15 – 40 anos. ➔ É a forma que causa cavitação – latência, e é responsável pela transmissão da doença na população. A TB pós-primária acontece ou por uma reativação de um foco latente, ou por reinfecção. ➔ Na TB pós-primária, o individuo já desenvolveu memória imunológica contra bacilo, por isso: PPD positivo. ➔ Um ou mais focos bacilares hematogênicos localizados no interstício pulmonar são reativados (focos de Simon). As manifestações clínicas do TB pós-primário: a maioria é oligossintomática. ➔ Tosse crônica: seca, mucoide ou com expectoração purulenta, associada ou não a hemoptoicos. ➔ Perda de peso: após alguns meses de tosse. ➔ Febre vespertina: 38-38,5°C. ➔ Sudorese noturna. ➔ Exames laboratoriais podem revelar: § Anemia leve normocítica normocrômica (anemia de doença crônica). § Aumento importante de VHS (indicam inflamação sistêmica). § Raramente leucocitose linfocítica... Achados radiológicos: ➔ Cavitação é característica de TB pós-primária. ➔ Pode-se encontrar infiltrado pulmonar. ➔ Não tem linfadenopatia hilar ou mediastinal. ➔ Complicações da TB pós-primária: Essa TB não é autolimitada e a doença tende a progredir lentamente, disseminando-se pelos pulmões. Na tentativa de resolver o processo tuberculoso, o sistema imune ativa fibroblastos, causando fibrose parenquimatosa das áreas acometidas, especialmente o local onde está a lesão cavitaria. A fibrose cavitaria provoca destruição irreversível, causando graves sequelas: retrações, cavidades com paredes fibrosadas, dispneia e até cor pulmonale e insuficiência respiratória. Os bacilos expelidos de uma cavidade infectada podem infectar a parede de um brônquio, levando à tuberculose endobrônquica, ou a própria laringe, causando a tuberculose laríngea. A primeira pode justificar o encontro de lesões infiltrativa na broncoscopia e pode acarretar complicações como estenose brônquica (com atelectasia), broncorreia (> 500 ml/ dia de expectoração) e/ou hemoptise. O comprometimento laríngeo manifesta-se como rouquidão, e a lesão pode ser confundida com neoplasia ao ser visualizada na laringoscopia. Franca hemoptise não é comum, mas é frequente ser notado escarro hemoptoico (raias de sangue). Façamos um resumo das alterações radiológicas típicas da tuberculose pulmonar pós-primária. 1. Fase inicial: infiltrado pulmonar misto com imagens lineares convergindo para o hilo – Figura 5. 2. Fase cavitária: infiltrado pulmonar com cavitação – Figura 6. 3. Fase cavitária com disseminação broncogênica: presença de novos infiltrados – Figura 7 e Figura 8. 4. Fase avançada: fibrose pulmonar (retração do parênquima) – Figura 9. Kamilla Galiza / 6º P 6 Tuberculose na AIDS O paciente HIV positivo tem uma chance aumentada de desenvolver a tuberculose-doença (30x mais que o imunocompetente). O mecanismo pode ser por reativação, reinfecção ou infecção primária. Quando o CD4 está > 200, a tuberculose tende a se apresentar de forma semelhante à tuberculose de imunocompetentes, com forma cavitaria predominando. Porém na imunodepressão grave, < 200 TCD4, a tuberculose pulmonar possui quadro atípico, na clínica e nos achados radiológicos. Podemos encontrar pneumocistose – infiltrado intersticial difuso, derrame pleural, adenopatia hilar/mediastinal... pela TC, é possível reconhecer facilmente os linfonodos. Diagnóstico A confirmação diagnóstica se dá pela presença do BK no corpo do paciente, podendo ser achado pelos métodos que são capazes de confirmar em definitivo o diagnóstico: 1. Teste rápido molecular (TRM-TB): ➔ Método de escolha para pesquisa de TB. ➔ Utiliza-se amostra de escarro e a técnica PCR. O teste detecta se há presença do DNA do M. tuberculosis + se há genes que conferem resistência à rifampicina. ➔ Sensibilidade 90% e especificidade 99%. ➔ Esse teste não serve para acompanhamento de resposta ao tratamento. 2. Baciloscopia: ➔ Procura-se os bacilos de Koch no escarro. ➔ Coleta-se duas amostras em momentos distintos. Obs: se vierem negativas, mas o paciente tem indícios clínicos e radiológicos muito fortes de TB pulmonar, repetir o escarro. ➔ Cultura de material biológico (outros fluidos orgânicos, tecidos, peça cirúrgica) que não o escarro também pode ser usadas, porém tem sensibilidade mais baixa, sendo obrigatória a realização conjunta do escarro. ➔ Uma baciloscopia positiva em qualquer amostra indica tuberculose ativa. ➔ É o exame de escolha para acompanhar resposta terapêutica de TB pulmonar bacilífera. 3. Cultura ➔ Elevada sensibilidade, baixo custo e menor chance de contaminação. Porém tem a grande desvantagem de demora do crescimento bacteriano (14 a 30 dias, podendo até a 60) ➔ Se cultura positiva, deve-se fazer técnicas bioquímicas: TSA (teste de sensibilidade antimicrobiana). Existe o diagnóstico clinicoepidemiológico, o qual inicia-se o tratamento sem confirmação micobacteriológica. Essa situação acontece quando o paciente adulto tem quadro clínico compatível, no contexto epidemiológico apropriado, achados radiológicos, e não puder comprovar com os meios laboratoriais a presença de BK. ➔ O que acontece no diagnóstico clinicoepidemiológico é “tem cara de TB, mas não foi possível confirmar formalmente o diagnóstico, e outro diagnóstico não pode ser estabelecido”. Nessa situação começamos com o tratamento de tuberculostáticos e observamos a resposta clínica. Se houver resposta boa, mais um ponto a favor da TB, se não houver resposta, interrompe- se o tratamento. Estratégia diagnóstica ➔ TRM-TB + cultura com TSA: deve ser solicitada, independente do resultado do TRM, para os indivíduos que pertencem aos grupos de maior vulnerabilidade, ou seja, os que tem maior probabilidade de desenvolver a doença. Obs: esse grupo de maior vulnerabilidade são os índios, presidiários, portadores de HIV/AIDS, população de rua, profissionais de saúde, contatos com TB multirresistente. ➔ Caso novo: paciente que nunca recebeu tratamento anti- TB ou que fez por <30 dias. Nesses precisamos fazer cultura + TSA. Pensar na tabela a seguir: Kamilla Galiza / 6º P 7 ➔ Casos de retratamento: o paciente é uma recidiva (após cura confirmada ou tratamento completo), ou então um reingresso após abandono com tratamento > 30 dias consecutivos. Nesse caso é necessário coleta dos 3 métodos diagnósticos. Obs: isso porque um TRM positivo, não necessariamente indica TB ativa, pode ser um DNA já morto. Por isso o diagnóstico confirmado só pode ser dado após baciloscopoa e/ou cultura positivos. No entanto, ainda é importante fazer TRM para ver se há resistência à rifampicina. Outros exames complementares 1. Radiografia de tórax: solicitar em casos suspeitos. Lembrando que é necessário exames bacteriológicos, pois não há achados patognomônicos no RX de TB. Os achados podem ser: § Normal – Não apresentam imagens patológicas nos campos pulmonares; § Sequela – Apresentam imagens sugestivas de lesões cicatriciais; § Suspeito – Apresentam imagens sugestivas de tuberculose em atividade (opacidades ou infiltradosradiológicos, nódulos, cavidades, fibroses, retrações, linfonodomegalia, calcificações ou aspecto miliar); § Outras doenças – Apresentam imagens sugestivas de pneumopatia não tuberculosa. I 2. TC de tórax: deve ser usado de forma individualizada, quando RX apresenta resultados imprecisos. 3. Broncoscopia: permite avaliar traqueia, brônquios e parte dos pulmões. Pode ser útil quando: § Exame micobacteriológicos iniciais negativos. § Suspeita de outras doenças pulmonares que não TB; § Doença que acometa difusamente parênquima pulmonar (Ex: TB miliar); § Suspeita de TB endobrônquica; § Pacientes imunodeprimidos, particularmente os infectados pelo HIV (maior risco de formas não cavitarias e, portanto, menor positividade do escarro). 4. Histopatologia: indicada para diagnóstico de TB extrapulmonar e TB miliar. O achado de granulomas caseosos é altamente sugestivo de TB, porém é importante ter em mente que eles não são patognomônicos desta condição. Podemos aplicar no material coletado TRM, cultura e baciloscopia. 5. Dosagem de ADA: é uma enzima secretada por linfócitos e macrófagos ativados. Quando em níveis aumentados no líquido pleural, possui elevado valor preditivo positivo para tuberculose, permitindo a confirmação diagnóstica mesmo sem demonstração direta da presença do BK. 6. Exame para HIV: necessário em todos os pacientes com diagnóstico de TB. Abordagem terapêutica É usado o TOD – Tratamento Diretamente Observado. O motivo é que não é possível predizer a adesão ao tratamento, mas o TDO comprovadamente aumenta a adesão. Consiste não apenas em observar a deglutição do medicamento, mas também, e fundamentalmente, na construção de um vínculo com o doente! Sempre que necessário outras ações deverão ser adotadas, como o uso de incentivos (ex.: lanche, auxílio- alimentação) e facilitadores (ex.: vale transporte). O ideal é a observação diária, de segunda a sexta, feita pelo profissional de saúde na própria unidade de saúde. Contudo, esquemas alternativos (ex.: observação três vezes por semana, na unidade de saúde ou no domicílio do paciente) também são aceitáveis, desde que o doente e seus familiares compreendam a importância do uso diário da medicação e haja participação de lideranças comunitárias no processo. Tratamento farmacológico: I. Esquema básico: indicado para casos novos de TB pulmonar e extrapulmonar (exceto meningoencefalite), retratamento: § >10 anos: esquema RIPE (rifampisina, isoniazida, pirazinamida, etambutol). § < 10 anos: não se usa Etambutol. § Por 6 meses. (Casos de meningoencefalite são 9 meses). Obs: pode ser prolongado, caso persistência de bacilos no escarro após 6 meses, resposta clinicoradiológicas insatisfatórias, TB pulmonar cavitaria persistente. § Tratamento é preferencialmente feito de forma ambulatorial, porém indicado em regime hospitalar se meningoencefalite, intolerância aos medicamentos, mau estado geral, vulnerabilidade social ou grupo com alto risco de abandono, HIV, DM, resistência do bacilo. II. Esquema para meningoencefalite: RIPE + corticoideterapia (lembrar se <10 a, tirar etambutol). III. Efeitos colaterais: podem ser efeitos maiores, como hipersensibilidades, hepatotoxicidade, que é necessário suspensão e mudança de esquema. Há também os efeitos menores que não indicam suspensão, sendo náuseas e vômitos os principais. Kamilla Galiza / 6º P 8 IV. Falência terapêutica: pacientes que tem os critérios a seguir de falência terapêutica, necessário esquema padrão de multirresistência ou esquemas especiais individualizados. § Persistência de baciloscopia positiva no fim do tratamento. § Pacientes com baciloscopia inicial fortemente positiva (++ ou +++) que mantêm essa situação até o quarto mês de tratamento. § Positividade inicial da baciloscopia, seguida de negativação e retorno da positividade após o quarto mês, por dois meses consecutivos.
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