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A EDUCAÇÃO INFANTIL E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA INFÂNCIA Glaucia Silva Bierwagen A Base Comum Curricular e a educação infantil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar a importância da Base Nacional Comum Curricular para a educação infantil. Reconhecer a importância da garantia dos direitos de aprendizagem das crianças nas escolas de educação infantil. Reconhecer os campos de experiências como um conjunto de lin- guagem relacionados às práticas sociais de nossa cultura. Introdução Durante algumas décadas, o Ministério da Educação publicou documentos com o objetivo de normatizar e organizar a educação infantil — creche e pré-escola. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um desses documentos. Ela estabelece um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens que todos os alunos devem desenvolver ao longo de todas as etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), obrigatória dos 4 aos 17 anos. Neste capítulo, você vai conhecer a estrutura da BNCC da educação infantil. Como você vai ver, ela inclui os direitos e objetivos de apren- dizagem e desenvolvimento das crianças, bem como os campos de experiências (BRASIL, 2017). A importância da BNCC para a educação infantil Com o objetivo de regulamentar e organizar a educação infantil, o Ministério da Educação (MEC) publicou alguns documentos. Entre eles, você pode considerar: Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1998a, 1998b, 1998c), em três volumes; dois Planos Nacionais de Educação (BRASIL, 2001, 2014); Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010); e, mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Mas você sabe o que é a Base Nacional Comum Curricular? É um docu- mento de caráter normativo que define um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas da educação básica. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996), a BNCC deve nortear os currículos dos sistemas de ensino (municipal, estadual e federal) e também as propostas pedagógicas das escolas públicas e privadas de educação básica (BRASIL, 2017). A BNCC é um documento plural preparado por especialistas de várias áreas. Ela tem o objetivo de superar a fragmentação das políticas educacionais, buscando fortalecer o regime de colaboração entre as três esferas de governo (municipal, estadual e federal). Além disso, pretende balizar a qualidade da educação. Cabe ao Governo Federal a revisão da formação inicial e continuada de professores para alinhá-los à BNCC. Já as redes de ensino públicas de edu- cação básica e as escolas particulares têm a tarefa de construir currículos com base nas aprendizagens essenciais estabelecidas na BNCC (BRASIL, 2017). Nos fundamentos pedagógicos da BNCC se define competência como: “[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilida- des (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho [...]” (BRASIL, 2017, p. 8). Dessa forma, esse documento pretende assegurar o direito de aprendi- zagem a todos os alunos da educação básica, enfatizando seu compromisso com a educação integral, respeitando o contexto e os desafios da sociedade brasileira. A Base enumera 10 competências gerais para a educação básica, que determinam “[...] o compromisso da educação brasileira com a formação humana integral e com a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva [...]” (BRASIL, 2017, p. 7). Acerca da educação infantil, na BNCC há como proposição os direitos de aprendizagem e desenvolvimento e os campos de experiências, que se subdividem nas seguintes faixas etárias: bebês (0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). Além disso, o documento apresenta os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para a educação infantil (BRASIL, 2017). No Quadro 1, a seguir, você pode ver a estrutura da educação infantil por faixa etária. A Base Comum Curricular e a educação infantil2 Fonte: Adaptado de Brasil (2017, p. 42). Creche Pré-escola Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos e 5 anos e 11 meses) Quadro 1. Estrutura da educação infantil (BNCC) A BNCC tem a concepção de criança focalizada “[...] no ser que é, na completude de suas competências e disposições [...]” (SARMENTO, 2008, p. 22). Ou seja, rompe-se com a visão “adultocêntrica” de educação que anula as potencialidades das crianças e entende-se que a criança é protagonista. Afinal, ela se relaciona com seus pares e parceiros adultos, produzindo sentidos para as suas ações. As crianças recebem uma cultura construída pela sociedade. Contudo, ao serem expostas e encorajadas a realizar atividades em uma ins- tituição de educação infantil, podem transformar essa produção cultural, interpretando-a e integrando-a por meio de suas práticas (SARMENTO, 2013). A seguir, veja a importância da garantia dos direitos de aprendizagem das crian- ças nas escolas de educação infantil segundo a Base Nacional Comum Curricular. Direitos de aprendizagem das crianças nas escolas de educação infantil As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, em seu art. 4º, defi nem a criança como: [...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura [...] (BRASIL, 2010, documento on-line). A criança é um sujeito completo, histórico e de direitos, com possibilidades de construir identidade pessoal e conhecimento e produzir cultura. Nas últimas 3A Base Comum Curricular e a educação infantil décadas, está consolidando-se na educação infantil a visão que vincula educar e cuidar, entendendo essas ações como inseperáveis do processo educativo. Tendo em vista os eixos estruturantes da educação e os princípios estéticos, éticos e políticos destacados na DCNEI que sustentam os direitos da criança, são propostos pela BNCC seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Esses direitos asseguram, na educação infantil, as condições para que as crianças aprendam, desenvolvam-se e socializem em situações que possilitem experimentações. A ideia é que elas possam construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas interações e ações com seus pares e adultos (BRASIL, 2017). De acordo com a BNCC, as crianças têm seis direitos de aprendizagem e desenvolvi- mento. Você pode conhecê-los melhor a seguir (BRASIL, 2017). Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos,decidindo e se posicionando. Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, trans- formações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiên- cias de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. A Base Comum Curricular e a educação infantil4 A criança é vista pela BNCC como alguém que “[...] observa, questiona, levanta hipóteses, faz conclusões, faz julgamentos e assimila valores [...]” (BRASIL, 2017, p. 36), construindo conhecimentos e se apropriando do conhe- cimento sistematizado por meio da ação e de interações com o mundo físico e social. Tais aprendizagens devem vir acompanhadas de uma intencionalidade educativa, responsabilidade da etapa da educação infantil (creche e pré-escola), e não ocorrem por meio de um processo espontâneo (BRASIL, 2017). Quais são essas intencionalidades educativas? O educador deve propor experiências que possibilitem à criança: [...] conhecer a si e ao outro e [...] conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se, vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas [...] (BRASIL, 2017, p. 37). Como o educador pode realizar isso, conforme as orientações da BNCC? O trabalho do educador é: “[...] refletir, selecionar, organizar, planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças [...]” (BRASIL, 2017, p. 37). A BNCC enfatiza que os educadores realizem “[...] a observação da trajetória de cada criança e de todo o grupo — suas conquistas, avanços, possibilidades e aprendizagens [...]” (BRASIL, 2017, p. 37). E como é possível registrar essa trajetória e a progressão de aprendizagens das crianças? A BNCC indica que devem ser usados vários registros — rela- tórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos —, tanto pelos professores quanto pelas crianças (BRASIL, 2017). O objetivo desse registro não é a seleção, a promoção e a classificação das crianças como “aptas” ou “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”, mas a garantia dos seus direitos de aprendizagens (BRASIL, 2017). Como você viu, na educação infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegu- rando-lhes os direitos de aprendizagem — conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. A organização curricular da educação infantil na BNCC estrutura-se em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, como você vai ver a seguir. 5A Base Comum Curricular e a educação infantil Campos de experiências O que são os campos de experiências? Primeiramente, a defi nição e a desig- nação dos campos de experiências resultam do que dispõem as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil com relação aos saberes e co- nhecimentos essenciais a serem garantidos às crianças e associados às suas experiências. Dessa forma, os campos de experiências “[...] constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural [...]” (BRASIL, 2017, p. 38). O campos de experiências em que se organiza a BNCC são: (1) O eu, o outro e o nós; (2) Corpo, gestos e movimentos; (3) Traços, sons, cores e formas; (4) Escuta, fala, pensamento e imaginação e (5) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. A seguir, você pode conhecer melhor cada um deles conforme as disposições da BNCC. O campo de experiências “O eu, o outro e o nós” considera que é na interação com os pares e adultos (na família, instituição escolar, comunidade) que as crianças realizam suas aprendizagens — modo de agir, sentir, pensar, descobertas, ques- tionamentos sobre si e outros, construção de autonomia, senso de autocuidado, reciprocidade e interdependência do meio. Dessa forma, na educação infantil: [...] é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos [...] (BRASIL, 2017, p. 38). No campo de experiências “Corpo, gestos e movimentos”, as crianças desde cedo devem ter experimentações: (1) com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), [que] exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. (2) por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, [que] [...] se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem (BRASIL, 2017, p. 38). A Base Comum Curricular e a educação infantil6 Assim, na educação infantil, “[...] o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão [...]” (BRASIL, 2017, p. 38). As escolas precisam possibilitar às crianças oportuni- dades ricas, permeadas pelo espírito lúdico e pela interação com pares. Assim, elas podem explorar e realizar vivências a partir de um amplo repertório de: [...] movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) (BRASIL, 2017, p. 38). No campo de experiências “Traços, sons, cores e formas”, defende-se que as crianças devem: [...] conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, [o que] possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, cola- gem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras [...] (BRASIL, 2017, p. 39). A BNCC mostra que, com base nessas experiências, as crianças se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais e exercitando a autoria (coletiva e individual). Tais experiências colaboram para que “[...] as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca [...]” (BRASIL, 2017, p. 39). Logo, a educação infantil precisa propiciar a participação das crianças: [...] em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoaldas crianças, permitindo que se apropriem e reconfi- gurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas [...] (BRASIL, 2017, p. 39). O campo de experiência “Escuta, fala, pensamento e imaginação” mostra a importância de os bebês e as crianças participarem de situações comuni- 7A Base Comum Curricular e a educação infantil cativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem, apropriando-se progressivamente da língua materna. Na educação infantil, é necessário propor experiências nas quais as crianças possam: [...] falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social [...] (BRASIL, 2017, p. 40). A BNCC indica que a criança, desde cedo, manifesta curiosidade com relação à cultura escrita, construindo hipóteses e visões da língua escrita — compreensão da escrita como sistema de representação da língua —, “[...] reconhecendo dife- rentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores [...]” (BRASIL, 2017, p. 40). Assim, a educação infantil deve possibilitar imersão na cultura escrita a partir dos conhecimentos e curiosidades das crianças, promovendo: (1) experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, [que] contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. (2) o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. [que] propicia[m] a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros (BRASIL, 2017, p. 40). Com relação ao campo “Espaços, tempos, quantidades, relações e trans- formações”, percebe-se que as crianças vivem em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Assim, elas demonstram curiosidade sobre: (a) os tempos: dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc. (b) os espaços: rua, bairro, cidade etc. (c) o mundo físico: seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc. A Base Comum Curricular e a educação infantil8 (d) o mundo sociocultural: as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhecem; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc. (e) conhecimentos matemáticos: contagem, ordenação, relações entre quantida- des, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reco- nhecimento de numerais cardinais e ordinais etc (BRASIL, 2017, p. 40-41). Portanto, a educação infantil, por meio de suas práticas pedagógicas, deve favorecer experiências nas quais as crianças possam “[...] fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações [...]” (BRASIL, 2017, p. 40). A BNCC também aponta a necessidade de se repensar a formação dos professores, incluindo especificidades relacionadas à aprendizagem e ao desenvolvimento das faixas etárias atendidas pela educação infantil. O docu- mento ainda enfatiza que os professores precisam conhecer os brinquedos e brincadeiras disponíveis para cada faixa etária dessa etapa (BRASIL, 2017). Na educação infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências, que cons- tituem objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em três grupos divididos por faixas etárias, como você já viu. Com relação à transição das crianças da educação infantil para o ensino fundamental, a Base Nacional Comum Curricular incentiva estabelecer estraté- gias de acolhimento e adaptação — equilíbrio entre as mudanças introduzidas de uma etapa para outra — tanto para as crianças quanto para os docentes. Pretende-se que as informações contidas em relatórios, portfólios ou outros registros evidenciem os processos vivenciados pelas crianças ao longo de sua trajetória na educação infantil (BRASIL, 2017). A BNCC ainda apresenta uma síntese das aprendizagens — balizadoras e indicativas — esperadas em cada campo de experiências. Você pode ver essa síntese no Quadro 1, a seguir. 9A Base Comum Curricular e a educação infantil Campos de experiências Aprendizagens O eu, o outro e nós Respeitar e expressar sentimentos e emoções. Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os outros. Conhecer e respeitar regras de convívio social, manifestando respeito pelo outro. Corpo, gestos e movimentos Reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis. Apresentar autonomia nas práticas de higiene e de alimentação, no vestir-se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo. Utilizar o corpo intencionalmente (com criatividade, controle e adequação) como instrumento de interação com o outro e com o meio. Coordenar suas habilidades manuais. Traços, sons, cores e formas Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, percebendo-a como forma de expressão individual e coletiva. Expressar-se por meio das artes visuais, utilizando diferentes materiais. Relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imitações, observações e expressão corporal. Quadro 1. Síntese das aprendizagens na educação infantil (Continua) A Base Comum Curricular e a educação infantil10 Campos de experiências Aprendizagens Escuta, fala, pensamento e imaginação Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios. Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando sua fala ao contexto em que é produzida. Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas. Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreensão da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Identificar, nomear adequadamente e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles. Interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles. Utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual, etc.), espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências. Utilizar unidades de medida (dia e noite; dias, semanas, meses, anos) e noções de tempo (presente, passado e futuro; antes, agora e depois) para responder a necessidades e questões do cotidiano. Identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de representação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos, etc.) Quadro 1. Síntese das aprendizagens na educação infantil (Continuação) 11A Base Comum Curricular e a educação infantil No Quadro 2, você pode ver como se estrutura o campo “Traços, sons, cores e formas”. Fonte: Adaptado de Brasil (2017, p. 47). Bebês (0 a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Explorar sons produzidos com o próprio corpoe com objetos do ambiente. Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música. Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas. Traçar marcas gráficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas. Utilizar materiais variados com possibilidade de manipulação (argila, massa de modelar), explorando cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao criar objetos tridimensionais. Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais. Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons. Quadro 2. Como se estrutura o campo de experiências que envolve traços, sons, cores e formas A Base Comum Curricular e a educação infantil12 BRASIL. Câmara dos deputados. Plano Nacional de Educação 2014-2024: Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados, 2014. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394. htm>. Acesso em: 19 nov. 2018. BRASIL. Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/L10172. pdf>. Acesso em: 20 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: <http://ndi. ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil. Brasília: MEC, 2006. v. 1. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC, 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação do Ensino Fundamental. 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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12858. htm>. Acesso em: 19 nov. 2018. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 19 nov. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Departamento de Edu- cação Infantil e Ensino Fundamental. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: FNDE, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional de Educação Infantil: pelos direitos da criança de zero a seis anos à Educação. 2006. Dis- ponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pol_inf_eduinf.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018. GONÇALVES, G. A criança como sujeito de direitos: limites e possibilidades. In: REUNIÃO CIENTÍFICA REGIONAL DA ANPED, 2016, Curitiba. Trabalhos... 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