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1 BIOMECÂNICA: CENTRO DE GRAVIDADE E TORQUE Prof. MS. André de Souza Rocha Curso de Fisioterapia 3ª e 4ª fases PESO E CENTRO DE GRAVIDADE Linha de ação da força peso do corpo vertical e localizada no centro de gravidade do corpo. CENTRO DE GRAVIDADE ponto único de um corpo em torno do qual cada partícula de sua massa está igualmente distribuída (ƩT=0). Corpo suspenso (ou suportado) nesse ponto – perfeitamente equilibrado. 2 O CG do humano adulto na posição anatômica fica ligeiramente anterior à segunda vértebra sacral ou a aproximadamente 55% da altura de uma pessoa. Localização do CG Método experimental para encontrar o CG Prancha longa suportada em uma extremidade por uma balança de banheiro e suportada na outra extremidade por blocos. Prismas triângulares de madeira são colocados entre a prancha e os suportes. A distância entre os prismas é medida. A seguir o paciente deita-se sobre a prancha com todo corpo posicionado entre os prismas, para formar um sistema de alavanca de 2ª classe. Os valores de 1. leitura da balança; 2. peso do paciente; 3. distância entre os prismas podem ser levados para a fórmula do equilíbrio ƩT=0 para se encontrar a distância desde o eixo (A) a que o peso está centrado. A distância é o CG no plano horizontal. 3 CENTRO DE GRAVIDADE A marca do CG geralmente cai ao nível das espinhas ilíacas ântero-superiores. O CG é geralmente encontrado ligeiramente mais alto em homens do que em mulheres, porque os homens tendem a ter ombros mais largos, enquanto as mulheres tendem a ter quadris mais largos. Pacientes com amputações acima do joelho terão um CG mais alto e podem ficar em equilíbrio instável em uma cadeira de rodas convencional. Base de apoio Área delimitada pelas regiões mais externas do contato entre um corpo e a superfície ou as superfícies de apoio. Para estabilidade estática, o CG de um corpo deve projetar- se dentro da base de apoio. 4 Base de apoio Quando a pessoa inclina-se para frente (ou eleva-se nos dedos dos pés), o CG move-se para frente, mas ele sempre permanece dentro da base de apoio. Quando o sujeito está de frente perpendicularmente ao eixo e suporta mais peso sobre uma perna, o CG desvia-se no sentido desse pé. Se o sujeito fica de pé sobre uma perna, o CG projeta-se dentro do pé que está sustentando o peso. GRAU DE ESTABILIDADE O grau de estabilidade (resistência a ser derrubada) depende de 4 fatores: 1. altura do CG acima da base de sustentação; 2. tamanho da base de sustentação; 3. localização da linha de gravidade dentro da base de sustentação; 4. peso do corpo. Estabilidade aumentada – baixo CG, ampla base de sustentação, linha de gravidade no centro de apoio e um peso grande, pesado. Instabilidade aumentada – alto CG, base estreita de suporte e peso leve. 5 CENTRO DE GRAVIDADE Conforme as posições dos segmentos corporais se alteram, o mesmo acontece com o CG; - se os braços forem flexionados sobre o tórax ou elevados acima da cabeça, o CG sobe. - se o sujeito flexionar a cabeça, tronco e quadris, o CG move-se no sentido dos pés. Centro de Gravidade O CG relativamente alto nos humanos coloca a pessoa ereta em uma posição de equilíbrio instável. A queda do corpo é prevenida por um sistema neuromuscular intacto e automático, que coloca uma base de suporte (a perna estendida) embaixo do CG. Assim, a marcha pode ser descrita como uma sequencia de perturbar e capturar o CG. Prevenção de queda – estratégias de reação postural. 6 Estratégias de reação postural ESTRATÉGIA DO TORNOZELO Estratégia de movimento mais comum em resposta a perturbações no balanço AP, envolve deslocamentos do CG do corpo pela rotação do corpo sobre a articulação do tornozelo com um mínimo movimento das articulações do quadril e joelho. ESTRATÉGIA DO QUADRIL Desloca o CG do corpo pela flexão ou extensão do quadril. Estratégias de reação postural 7 ESTRATÉGIA DO PASSO Realinha a base de suporte no centro de massa do corpo, mas com rápidos passos, ou um tropeço na direção da fonte da perturbação externa. Estratégias de reação postural Pacientes com hemiplegia tem dificuldade de vir para a posição em pé a partir de uma cadeira. O CG do paciente sentado cai embaixo da cadeira. Para ficar de pé, o CG do corpo deve primeiro ser movido para a frente de tal modo que ele se projete entre os pés. Os pacientes com hemiplegia, no entanto, frequentemente empurram o corpo para trás e para cima quando tentam ficar em pé. Sendo assim, eles devem ser ensinados a mover-se para a frente sobre os pés para trazer o CG sobre a nova base de apoio. Aplicações clínicas - CG 8 Aplicações clínicas - CG Alargamento da base de apoio estabilidade aumentada. Força muscular diminuída ou má coordenação – muletas, bengalas e andadores. 9 Aplicações clínicas Base ampla de suporte é vantajosa também para levantar e carregar. Ex: terapeutas ao transferir um paciente com paralisia do leito para a cadeira de rodas. Em preparação para a elevação e transferência, os terapeutas colocarão seus pés em uma larga postura ântero- posterior de modo que o peso possa ser colocado principalmente no início do levantamento e mudado para o outro pé ao término do levantamento. CG e pesos de segmentos O CG do corpo como um todo é a soma dos CGs dos segmentos individuais (ƩT=0). O conhecimento da localização dos CGs segmentares e o peso aproximado dos segmentos é clinicamente útil para se ajustar cargas de exercício, aplicar tração e equilibrar partes do corpo. 10 Localização do CG segmentar SEGMENTO HOMENS MULHERES Cabeça e pescoço 55,0 % 55,0 % Tronco 63,0 % 56,9 % Braço 43,6 % 45,8 % Antebraço 43,0 % 43,4 % Mão 46,8 % 46,8 % Coxa 43,3 % 42,8 % Perna 43,4 % 41,9 % Pé 50,0 % 50,0 % As localizações do CG segmentar são enunciadas em percentuais dos comprimentos dos segmentos, medidas a partir das extremidades proximais dos segmentos. ( FONTE: HALL, 2000) Localização do CG nos principais segmentos do corpo de um homem com massa de 67,5kg. 11 12 Localização do CG segmentar O CG da extremidade superior estendida é imediatamente acima da articulação do cotovelo, e o da extremidade inferior estendida é imediatamente acima da articulação do joelho. O braço, antebraço, coxa e perna são maiores proximalmente e, assim os seus CGs individuais ficam mais perto da extremidade proximal. Este ponto é aproximadamente a 4/9 (45%) do comprimento do segmento, medidos a partir da extremidade proximal. Uma alteração na posição de segmentos individuais causa uma alteração na posição do CG da extremidade e do corpo como um todo. Quando a extremidade é flexionada, o CG move-se proximalmente e para um ponto em uma linha entre os centros dos segmentos individuais. Localização do CG segmentar 13 Aplicações clínicas Movimento dos CGs dos segmentos é frequentemente usado em exercício terapêutico para alterar o torque resistivo (P x d) de uma extremidade. A flexão do ombro contra a gravidade é mais fácil de executar quando o cotovelo está fletido do que estendido. A redução no torque ao aproximar o CG do centro articular não apenas reduz a força de estabilização exigida dos músculos abdominais mas também reduz a força que os músculos flexores do quadril têm que produzir para elevar a perna. 14 Exercício – bases de apoio Postura relaxada normal Pés juntos Um pé na frente do outro Usando uma bengala Qual é mais estável e qual mais instável? Por que? 15 TORQUE Torque ou momento de força – produto da força (F) vezes a distância percorrida (d) (braço de momento) desde sua linha de ação até o eixo do movimento. Expressão da eficácia de uma força para virar um sistema de alavanca. Unidade: Newtons-metros (N-m) T = F x d TORQUES ARTICULARES Quando um músculo que cruza uma articulação desenvolve tensão, produz uma força que exerce tração sobre o osso no qual se insere, criando assim um torque na articulaçãoque o músculo cruza. 16 TORQUE - APLICAÇÕES Os princípios do torque são usados pelos terapeutas ao testar a força dos músculos (testes musculares manuais) e ao aplicar exercício resistido manual. TORQUE - APLICAÇÕES Ex: ao testar a força dos flexores do cotovelo, o terapeuta prefere aplicar resistência no punho em vez de no meio do antebraço. A força que o terapeuta aplica é aproximadamente a metade no punho que no meio do antebraço, em virtude do braço mais longo de resistência. Esta força mais baixa proporciona ao terapeuta melhor controle e discriminação do torque produzido pelo paciente. 17 TORQUE - APLICAÇÕES O conceito de torque pode ser usado também na reabilitação. Ex: se um sujeito lesou seu cotovelo, o fisioterapeuta pode usar uma técnica de resistência máxima para avaliar a articulação. O fisioterapeuta pode resistir à flexão do cotovelo do indivíduo exercendo uma força na posição média de seu antebraço. Isso cria um torque que o paciente precisa vencer. À medida que o indivíduo progride, o fisioterapeuta pode exercer aproximadamente o mesmo nível de força no punho ao invés de aplica-lo no meio do antebraço. Aumentando o braço do momento e mantendo a força constante, o fisioterapeuta aumenta o torque que o paciente precisa vencer. Essa técnica simples pode ser útil para o desenvolvimento de um programa para a reabilitação do indivíduo. TORQUE - aplicações No corpo humano, o braço de momento de um músculo em relação ao centro de uma articulação, é a distância perpendicular entre a linha de ação do músculo e o centro da articulação. 18 À medida que a articulação se movimenta através de uma amplitude de movimento, ocorrem mudanças nos braços de momento dos músculos que cruzam a articulação. Para cada músculo em particular, o braço de momento é maior quando o ângulo de tração no osso fica mais próximo de 90°. No cotovelo, quando o ângulo de tração se afasta de 90° em qualquer direção, o braço de momento para os flexores do cotovelo sofre uma redução progressiva. TORQUE - APLICAÇÕES As modificações no braço de momento afetam diretamente o torque articular gerado por um músculo. Para que um músculo possa gerar um torque articular constante durante um exercício, terá que produzir mais força à medida que o braço de momento diminui. 19 Paciente segurando um peso de exercício na mão com o ombro em 3 posições de flexão. No ombro, o torque produzido pelo peso varia com a distância perpendicular desde a linha de ação da força (peso) até o centro da articulação. A distância perpendicular é então o braço de resistência. O torque produzido pelo peso aumenta à medida que a mão é levada para longe do corpo, e atinge o máximo com 90° de flexão do ombro. O torque a seguir diminui novamente à medida que a flexão continua. TORQUE Clinicamente, a redução do torque é enfatizada, ao levantar e carregar, para prevenir sobrecarga ou lesão à pessoa que está levantando. 20 TORQUE Por exemplo: na elevação e transferência por 2 ou 3 pessoas de um paciente do leito para a maca ou cadeira de rodas, as instruções incluem deslizar o paciente para perto da beira da cama antes de tentar levantar o paciente. A instrução seguinte é levantar e rolar rapidamente o paciente no sentido dos tórax dos levantadores. Os movimentos de primeiro deslizar e a seguir rolar o paciente trazem o centro de gravidade do paciente para mais perto do centro de gravidade dos levantadores, assim reduzindo o torque e a probabilidade de lesão por esforço excessivo. TORQUE Em equilíbrio, o torque da força de resistência é igual ao torque da força de que está mantendo: força vezes o braço da força é igual a resistência vezes o braço da resistência. Nos exemplos de alavancas, a equação é F x a = P x b para cada tipo de alavanca. 21 TORQUE Ex: usando uma alavanca simples como a gangorra, uma criança de 22,5kg é capaz de equilibrar uma criança de 45kg se a distância do braço de alavanca da criança de 22,5kg tiver o dobro do comprimento da distância do braço de alavanca da criança de 45kg. SISTEMA DE FORÇAS PARALELAS Quando todas as forças atuando no segmento são aplicadas em um ângulo de 90° como nas alavancas, o antebraço e a aplicação de órteses. As fórmulas de equilíbrio estático para o torque (ƩT=0) e para a força (ƩF=0) permitem o desenvolvimento de equações para descobrir as forças desconhecidas. 22 SISTEMA DE FORÇAS PARALELAS AS FORÇAS SOBRE O ANTEBRAÇO NO DIAGRAMA DE CORPO LIVRE SÃO POSTAS NO SISTEMA DE COORDENADAS COM A FORÇA ARTICULAR NA ORIGEM DO SISTEMA. AS DISTÂNCIAS MEDIDAS DOS BRAÇOS DE ALAVANCA SÃO ACRESCENTADAS. O TORQUE PRODUZIDO POR CADA FORÇA (T= F X D) É INTRODUZIDO NA FÓRMULA DO EQUILÍBRIO (ƩT=0). A SEGUIR SINAIS POSITIVOS E NEGATIVOS SÃO INTRODUZIDOS. 23 TORQUE Na equação de torque, sinais + e - mostram o efeito de rotação da força sobre o sistema de coordenadas, e não a direção da força. Se um torque produz ou tende a produzir um movimento no sentido horário do sistema de coordenadas, o sinal é positivo. Se um torque tende a produzir um movimento no sentido anti- horário, um sinal negativo é atribuído. + - A equação a seguir é resolvida para a magnitude da força muscular (31kg). Uma vez saibamos o valor de M, a força de compressão articular de 25,2 é calculada usando-se a fórmula para as forças (ƩF=0). A colocação de uma das forças desconhecidas na origem do sistema de coordenadas reduz o braço de alavanca a zero. A força então não tem nenhum efeito de rotação sobre o sistema, não exerce nenhum torque e é convenientemente eliminada da equação deixando apenas um valor desconhecido (M). 24 TORQUE Estas forças calculadas para o antebraço ilustram o uso de um sistema de alavancas de terceira classe no corpo onde forças muito grandes tem que ser geradas pelos músculos e articulações para manter ou mover uma pequena resistência distalmente colocada No diagrama da flexão do ombro, o torque da resistência varia com a distância do braço de resistência e está em um máximo de 300kg.cm quando a extremidade está horizontal. No equilíbrio, os músculos flexores do ombro também têm que produzir um torque igual em cada posição (ƩT=0). O braço de força do músculo tem apenas poucos cm de extensão. Assim, os músculos precisam exercer grandes forças (mais de 10 vezes a do peso) para manter o peso à distância de 60cm. 25 Por outro lado, o uso do sistema de alavancas de primeira classe ilustra a eficiência energética com menores forças musculares usadas para suportar maiores resistências. Um exemplo é ficar em pé sobre um pé. Os cálculos mostram que um peso corporal de 67,5kg pode ser impedido de virar o sistema por uma contraforça de 33,75kg. Apenas metade da força é necessária em virtude do longo braço (5cm) de alavanca do calcâneo. A força de compressão articular da tíbia sobre o tálus é de 101,25kg, a qual exerce o peso superposto do corpo. 26 TORQUE O problema do tornozelo ilustra o princípio de que o alongamento ou encurtamento da distância do braço de alavanca de uma força em um sistema causa alterações na magnitude de outras forças. RESOLUÇÃO DE FORÇAS Muitas forças que ocorrem dentro ou sobre o corpo são aplicadas em ângulo com o segmento, em vez de em um sistema linear ou paralelo, como nos exemplos precedentes. As forças (P, M e A) não são paralelas umas às outras nem perpendiculares ao braço de alavanca. 27 RESOLUÇÃO DE FORÇAS A resolução de uma força em duas forças componentes é usada: 1. para visualizar o efeito dessas forças angulares sobre o corpo; 2. para determinar o torque produzido pelas forças; 3. para calcular a magnitude de forças musculares e articulares desconhecidas. A resolução de um vetor de força é a divisão do vetor em dois ou mais vetores componentes, cujas magnitudes e direções combinadas produzem o mesmo efeito que a força original. Princípio qualquer vetor pode ser representado por 2 ou mais vetores. Em biomecânica,dois componentes retangulares são desenhados a partir do ponto da força original, de tal modo que dois triângulos retângulos são formados, com a força original como a hipotenusa comum. Os componentes retangulares (em ângulo reto) são formados primeiro, desenhando-se uma linha de ação perpendicular ao eixo x (ou y) do sistema de coordenadas, e segundo, desenhando-se uma linha de ação paralela ao eixo x (ou y). As magnitudes das duas forças componentes são encontradas desenhando-se linhas paralelas às forças componentes que se interseccionam na ponta de seta da força original. 28 Eixo x – coincide com o eixo longitudinal da tíbia; A força do músculo quadríceps (M) e a força de resistência (P) foram resolvidas nos seus componentes retangulares; O componente retangular (M ou P) é chamado componente rotatório ou força rotatória Parte da força original (M ou P) que é eficaz para causar movimento rotatório do segmento em torno do eixo (ou manter uma postura ou resistir a um movimento). O músculo quadríceps (M), com uma linha de tração em ângulo agudo com a tíbia, tem que produzir uma força relativamente grande a fim de criar um componente rotatório suficiente (Mr ) para manter o joelho em extensão. Em contraposição, o peso (P) atuando em um ângulo agudo com o eixo longitudinal do segmento resiste à extensão do joelho – não com a força completa de 13,5 kg, mas com o componente rotatório menor Pr . 29 O componente paralelo da força original causa compressão ou tração (afastamento) das superfícies articulares, dependendo da direção do componente. No exemplo anterior, uma grande parte da tensão produzida pelo músculo quadríceps (M) é dirigida no sentido do fêmur e está fazendo com que a tíbia seja comprimida de encontro ao fêmur. Este componente (Me) é chamado componente estabilizador ou de compressão articular da força muscular (M). Por outro lado, o componente paralelo do peso (Pt) causa separação das superfícies articulares e é chamado componente tracionador. REFERÊNCIAS HALL, S. Biomecânica Básica. Editora Guanabara Koogan, 6ª edição, 2013. FRANKEL, V.H. NORDIN, M. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético. Editora Guanabara Koogan, 4ª edição, 2014. HAMILL, J, KNUTZEN K.M. Bases biomecânicas do movimento humano. Editora Manole, 3ª edição, 2012.
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