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Direito Empresarial IIDireito Empresarial II Prof. Luis Felipe Spinelli AULA 1 – Origem, evolução histórica e características básicas Sociedades Anônimas Pode ser chamado também de Companhia, porém a prevalência é por Sociedade Anônima. Quando se fala em sociedade anônima, tem-se algumas características básicas que aparecem do próprio conceito das SA’s, no art. 1º da Lei 6404/86 que é o capital social dividido em ações, títulos negociáveis que corporificam os direitos dos acionistas. A S.A. confere a limitação da responsabilidade dos acionistas, ou seja, os acionistas só assumem o risco de perder o valor investido, não pondo em risco o restante de seu patrimônio. A sociedade anônima não tem firma social, apenas tem denominação social. A Sociedade Anônima foi criada pelo Estado para viabilizar os grandes empreendimentos marítimos, tem origem na Cia das Índias ocidentais, na Holanda. A rigor, essas criações de S.A. funcionavam como extensão do Estado, no sentido em que o Estado outorgava uma série de poderes, e, não raro, essas companhias ao empreender alguma expedição iam acompanhadas de um grande poderio militar e assim por diante. O próprio Estado não tinha condições de arcar com todo o custo das S.A.s e então se constitui uma companhia, em que se captava poupança popular para que o Estado pudesse custear esses empreendimentos. Neste momento, somente o Estado poderia ter uma Sociedade Anônima (regime do privilégio – 1ª fase). Com a Revolução Industrial, supera-se a fase do privilégio e as Sociedades Anônimas passam a poder ser constituídas por particulares (regime de concessão ou autorização – 2ª fase), instaurado pelo código napoleônico de 1807, sendo o primeiro código a regrar as sociedades. Essa concessão, entretanto, necessitava de autorização do Estado. No Brasil, essa concessão foi instituída em 1849, e o código comercial de 1850 passou a regrar pela primeira vez as S.A.s, ainda necessitando da autorização. Do regime da concessão se passa para o regime das disposições normativas, tendo sido inaugurado pela França em 1867, conferindo aos particulares a ampla liberdade de constituição das S.A.s. Esse regime foi incorporado no Brasil em 1882 pela lei 3.150/82, desde então, o Estado busca regular as sociedades por ações, mas a constituição é livre. O Estado precisará autorizar a realização de algumas atividades somente em casos específicos. Ascareli (?) diz que há três grandes contribuições do direito comercial pro desenvolvimento econômico: a) sociedade anônima que permite a realização de grandes empreendimentos de captação de poupança popular; b) contrato de seguro, que permite a mitigação do risco; e c) os institutos de crédito, que viabilizam sua circulação. Ainda que exista plena liberdade para a constituição de uma SA, existem traços de regimes anteriores na própria lei em vigor, por exemplo, o art. 236 traz a sociedade de economia mista que remonta o regime do privilégio; o art. 82, quando remete a constituição de S.A. por subscrição pública exige a autorização e o registro prévio na CVM, que remonta o regime da autorização. A função econômica da sociedade anônima decorre do fato de constituir ela um instrumento jurídico para economias em vastas camadas da população, hungariando assim capitais que superam as forças de indivíduos isolados ou de pequenos grupos e que entretanto são necessários para a industrialização do país e para a constituição das instalações industriais, democratizando assim a colheita do capital industrial, facultando a participação a uma empresa industrial também a quem não poderia, pessoal e diretamente, constituí-la e administrá-la, seja vista da monta de suas economias, seja vista de seus afazeres. Companhias Não existe país desenvolvido sem um mercado de capitais desenvolvido, o mercado de capitais serve para viabilizar o financiamento de empresas, é captar poupança popular para investir no setor produtivo, por isso a S.A. é tão importante para o desenvolvimento economicamente no país. As companhias são divididas em companhias abertas e fechadas, no art. 4º (da onde?) que diz que companhia aberta é aquela que tem autorização para emissão e negociação de seus valores imobiliários no mercado imobiliário, a companhia fechada não tem essa autorização. Valor mobiliário, de acordo com a Lei 6385/76 art 2º, IX diz que: quando ofertado publicamente quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração inclusive resultante de prestação de serviços cujos rendimentos advém do esforço do empreendedor ou de terceiros (conceito amplo). Em outras palavras, é qualquer título ou contrato que, ofertado publicamente confere ao investidor participação, parceria ou remuneração, sem seus esforços, sendo que isso é fruto do empreendedor ou de terceiro. Mercado de capitais, por sua vez, é um mercado onde são realizadas operações de subscrição ou compra e venda de valores imobiliários. Pode-se ter uma companhia fechada, como se fosse uma grande sociedade limitada, onde não se tem valores imobiliários emitidos publicamente, por exemplo: a Cia Zaffari, que é uma S.A. mas não negocia seus valores no mercado. Existem os mercados primários, que são quando uma companhia está lançando suas ações pela primeira vez, o dinheiro irá para o caixa da companhia, já o mercado secundário é o mercado de compra e venda de valores imobiliários, nesse caso o dinheiro não vai para o caixa da companhia, a transferência de recursos se dá entre os negociadores do mercado imobiliário. O mercado de capitais é um mercado organizado de compradores e vendedores. No caso de companhias fechadas, encontrar um comprador para as ações se torna mais difícil pois suas ações não são publicadas ao público. O conselho monetário nacional (CMN) é o órgão normativo, é aquele que regulamenta todo o mercado financeira. Abaixo do conselho monetário nacional temos o banco central e a comissão de valores imobiliários (CVM). A CVM é uma entidade supervisora, ela fiscaliza o mercado de capitais, é uma entidade sancionadora (pode impor sanções administrativas) e também pode regulamentar o mercado de capitais. No mercado de capitais, tem-se como operadores as bolsas de valores e outros intermediários financeiros, como por exemplo as corretoras de valores. Hoje só tem, no Brasil, a bolsa de valores B3, que também é uma companhia aberta, uma S.A., tendo um poder de autorregulação. Aula 2 (28/08/2020) CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA Os requisitos para a constituição da sociedade anônima estão previstas nos artigos 80 e 81 da Lei das S.A.s, são eles: • A subscrição do capital deve ocorrer por, pelo menos, duas pessoas (dois sujeitos, um sujeito não personificado pode ser acionista) exceto pela subsidiária integral que é constituído por uma única sociedade brasileira; • Necessidade de integralização, de no mínimo de 10% das ações que forem subscritas em dinheiro, à vista – há casos em que o limite sobe a depender da necessidade; • Necessidade de depósito do valor – a lei das S.A.s fala em depósito no Banco do Brasil ou em outro banco autorizado, desde 1978 admite-se o depósito em qualquer banco. Esse depósito deve ser prévio a constituição da empresa, o depósito é feito pelo fundador em nome do subscritor, a favor da sociedade em organização (mais comum em sociedades de escritura pública). Se depois de 6 meses do depósito a companhia não for constituída o banco devolverá os valores aos subscritores (art. 81, p. único). Formas de subscrição das Sociedades Anonimas • Subscrição por constituição particular (art. 88 Lei das S.A.s) – é a forma mais comum, são fundadores todos os subscritores. A subscrição por constituição particular pode ser feita de duas maneiras: ◦ Subscrição por ATA – os fundadores se reúnem em assembleia, os acionistas sereúnem e deliberam; ◦ Subscrição por escritura pública – não é comum pois é mais caro, mas pode ser constituída por uma S.A. em um tabelionato. Obs.: a subsidiaria integral obrigatoriamente se constituirá por escritura pública (art. 253 Lei das S.A.s); • Constituição por subscrição pública – não é comum, na maioria das vezes as Companhias Abertas nascem como S.A.s e depois tornam-se uma companhia aberta, mas a lei prevê a possibilidade dessa subscrição (a partir do art. 82 Lei das S.A.s). Requisitos para essa constituição: ◦ Registro prévio na CVM; ◦ Contratação de uma instituição financeira para intermediar a contratação (conditio sine qua non); ◦ Apresentação do estudo de viabilidade economia; ◦ Apresentação do projeto de Estatuto Social, nos termos do artigo 63 da Lei das S.A.s; ◦ Apresentação do prospecto organizado pelos fundadores e pelas instituições financeiras (art. 84 Lei das S.A.s) – deve-se detalhar de modo claro as informações básicas da companhia e as razões pela qual se espera que a companhia tenha um bom êxito, são informações básicas para que as pessoas analisem e verifiquem se vale a pena, ou não, investir na sociedade. A CVM pode negar, ou condicionar, o registro da Sociedade Anonima mesmo após preenchido todos os requisitos (art. 82, § 2º), ela analisa a subscrição com intuito de proteção dos mercados e dos investidores. Existem algumas regras que se aplicam tanto a subscrição pública quanto a particular, são elas: • O ato constitutivo deve ser arquivado na junta comercial dentro do prazo de 30 dias (art. 36 da Lei 8934/94 e art. 1151 § 1º CC); • Entrega de documentos – devem ser entregues aos primeiros administradores, a partir de então são eles que conduzirão todo o processo de formalização da inscrição da companhia; • Publicar os atos constitutivos, devidamente arquivados, no diário oficial e jornal de grande circulação, após publicado existe a necessidade de averbar a publicação na junta comercial (art. 98 caput). Deve haver a responsabilidade dos envolvidos na companhia (art. 92, p. único e art. 99) Anulação da constituição A anulação da constituição está prevista no artigo 285 da Lei das S.A.s, terceiros podem ter interesse para anular a constituição da companhia e mesmo que após proposta a ação é possível que a assembleia geral pode sanar o vício ou defeito. A anulação da constituição da companhia é causa de dissolução da companhia (art. 206, II a). (aula 3) CAPITAL SOCIAL É o valor fixo expresso em moeda corrente nacional que corresponde ao aporte realizado pelos subscritores ou acionistas que é destinado a promoção da atividade social, deve aparecer de modo expresso, deve constar no estatuto social, conforme os artigos 5º e 6º da Lei das S.A.s. (Capital social Patrimônio)≠ O patrimônio, é uma universalidade de direitos (art. 91 CC) é o conjunto de ativos (bens e direitos) menos os passivos (obrigações), é mutável. O capital social é fixo e só pode variar de acordo com o previsto em lei, tem diferentes funções (produção, medida e mecanismo de proteção). O capital social funciona como garantia indireta dos credores pois, o capital, uma vez subscrito, deve ser aportado, sob pena de exclusão do acionista omisso. O valor aportado deve efetivamente corresponder a avaliação dos bens aportados, a lei das S.A.s exige a avaliação dos bens aportados por 3 peritos ou empresa especializada (art. 8), que deve corresponder ao seu valor real. O capital social é intangível (art. 189, 193 e 201 da Lei das S.A.s e art. 177 CP). Na falta de declaração sobre a natureza da transferência do bem, se presume que a transferência se da por propriedade. A participação dos acionistas no capital social deve constar de um boletim de subscrição (art. 85 da Lei das S.A.s) em que se diz quanto o acionista vai colocar e as condições do aporte. No estatuto social não consta quem são os acionistas, consta somente o valor e em quantas partes ele é dividido, a titularidade das ações é aferida no livro de registro de ações nominativas (art. 100, I Lei das S.A.s). Divisão do capital social A divisão do capital social se dá por meio de ações, e o número de ações deve ser fixado no Estatuto da Companhia (art. 11 Lei das S.A.s) e só pode ser modificado em casos previstos em lei (art. 12 Lei das S.A.s). Como regra as ações devem ter valor igual, conforme o inciso II do artigo 11 da lei das S.A.s, com exceção art. 11 § 1º. De regra as ações não tem valor nominal no mercado. O valor nominal funciona como um piso, não se pode emitir ações com valor abaixo do valor nominal e nem sempre corresponde ao valor atualizado. AGIO – valor acima, que vai para uma conta diferente que é reserva de capital, não entra no capital social. Classificação das ações Quanto a forma, as ações são sempre nominativas (no Brasil), ou seja, tem que ser registradas (art. 20 da Lei das S.A.s) e podem ser: a) registrais (art. 31 Lei das S.A.s), onde tem que se ter um livro com descrição dos acionistas; ou b) escriturais (arts. 34 e 35 Lei das S.A.s), onde as ações são mantidas em contas de depósito em uma instituição, normalmente é uma instituição financeira. Quanto a classe, diz respeito a especificação de direitos atribuídos aos acionistas (art. 15 §1º, 16 e 18), podem existir classes de ações diferentes. Quanto as espécies, as ações podem ser ordinárias (ON), preferenciais (PN) ou de fruição. O estatuto social deve indicar a existência de ações ordinárias e preferenciais ou só ordinárias. As ações ordinárias faz referência de direitos de um sócio comum, não se faz referência a nenhuma vantagem nem restrição a qualquer direito atribuído a algum acionista. Ações preferenciais usualmente são ditas que não tem direito de voto, porém é um erro, pois o Estatuto Social pode restringir determinados direitos, um exemplo o direito de voto, e isso deve estar explicitado no Estatuto Social, elas podem também receber uma determinada vantagem em relação a ação ordinária (art. 17 da Lei das S.A.s). Ações de fruição são as ações integralmente amortizadas (art. 44 § 2º à 5º), consiste na distribuição aos acionistas de quantias que eles poderiam tocar em caso de liquidação da companhia, é uma antecipação de recursos sem reduzir o capital, não é muito comum. Pode ser integral ou parcial. Quando se tem a aromatização integral podem ser substituídas por ações de fruição e aqui o Estatuto Social podem estabelecer restrições a ações de fruição. Circulação das ações Como regra, as ações circulam livremente (art. 36 da Lei das S.A.s), as companhias fechadas podem estabelecer determinadas restrições desde que não impeça a circulação das ações. Pode se tornar difícil vender as ações de companhias fechadas, por isso a jurisprudência entende que as ações de companhias fechadas, usualmente de uso familiar, em que há dessintonia entre os acionistas, permite a dissolução parcial da companhia. A transferência de ações se dá por meio do livro de transferência de ações nominativas (se ações nominativas) ou lançamento efetuado pela instituição em seus livros a débito a conta de ações do alienante a crédito da conta de ações do adquirente (se ações escriturais) sempre a vista de ordem do alienante ou judicial. Importante: a transferência de propriedade não se dá por contrato, mas sim por tradição, não basta assinar um contrato, precisa da inclusão no livro. Existem restrições legais a livre circulação, são elas: • As ações que não tenham, ao menos, 30% do preço de emissões realizadas de uma companhia aberta não podem ser negociadas (art. 29 da Lei das S.A.s) em companhia fechada aplica-se a regra (art. 80, II da Lei das S.A.s); • O alienante responde solidariamente pelo prazo de 2 anos pelas obrigações relacionadas as ações (art. 108 da Lei das S.A.s); • A ação é a fração mínima do capital social, é indivisível, por isso, não se pode vender metadeda ação, se isso ocorrer tem-se uma copropriedade. A companhia pode desdobrar ou agrupar as ações, transformar 1 em 2 ou 2 em 1. Isso ocorre para aumentar a liquidez e circulação do mercado, devido a preço muito alto ou muito baixo. • Como regra, a companhia não pode negociar com suas próprias ações nem recebê-las como garantia (art. 30 da Lei das S.A.s) isso também configura crime, conforme artigo 177 § 1º, IV e V do Código Penal. Há algumas exceções previstas no artigo art. 30 § 1º). As ações são bens móveis e materiais, e por isso é possível gravar essas ações com direitos reais, ou quaisquer outros ônus. Ou seja, pode-se alienar as ações, penhorá-las, etc. VALORES MOBILIÁRIOS Os valores mobiliários que constam na Lei das S.A.s são, além das ações, as debentures e partes beneficiarias. Depois das ações as debentures são os valores mobiliários mais importantes. Debenture Quando se fala em debenture trata-se de uma forma de capitação de recursos, quando uma sociedade anônima capta recursos pode fazer em forma de capitalização ou por meio de endividamento, os debentures é a forma de endividamento (art. 52 da Lei das S.A.s) é como se fosse um título de dívida, são valores mobiliários negociáveis e geralmente são títulos de longo prazo. A rigor, elas representam frações de um muto, de um empréstimo, em certa medida, pode-se dizer que é um título de renda fixa, entretanto o artigo 56 da Lei das S.A.s permite que as debentures da direito da participação dos lucros da companhia. ↳ VANTAGENS • Pode ter cláusula de correção monetária com base na SELIC, admite a variação cambial e pode sofrer correção por qualquer outro referencial, desde que não vedado por lei (art. 54 § 1º Lei das S.A.s); • Possibilidade de participação nos lucros (art. 56 Lei das S.A.s); • Possibilidade de conversão da debenture em ações (art. 57 CC); • Possibilidade de correção monetária em periodicidade igual aquela estipulada para o pagamento periódico de juros, mesmo que inferior a um ano (art. 8º da Lei 12431/11). Do ponto de vista da companhia, ela pode amortizar parcialmente, ou realizar o resgate das debentures antes do vencimento (art. 55 Lei das S.A.s), podendo ser o resgate total ou Debênture é um título de crédito representativo de um empréstimo que uma companhia realiza junto a terceiros e que assegura a seus detentores direito contra a emissora, estabelecidos na escritura de emissão parcial. As companhias também podem adquirir as debentures de sua emissão por valor igual ou inferior a sua emissão (art. 55 § 3º) ↳ ESPÉCIES • Debentures simples – conferem ao debenturista um direito de crédito com a remuneração prevista na emissão, sem maiores direitos; • Debentures conversíveis em ações – pode ser convertida em capital, o valor aportado a título de muto é convertido em capital e o debenturista se torna acionista; • Debentures permanentes ou perpétuas – a rigor não vencem nunca, é comum e bastante utilizado no mercado (art. 55 § 4º). ↳ Garantias das debentures As garantias das debentures, a rigor podem ser de 4 tipos (art. 58 da Lei das S.A.s): • Garantia real – vinculação de determinado bem aquela garantia, ex.: hipoteca; • Garantia flutuante – as garantias têm privilégio geral com os ativos da companhia (art. 58 § 1º); • Garantia quirografária – credor comum; • Garantia subordinada. Emissão de debentures ↳ EMISSÃO A competência para emitir debentures, como regra, é da assembleia geral (art. 59 Lei das S.A.s), porém existe a possibilidade de o conselho de administração deliberar a emissão de debentures (art. 59 § 1º e 2º). Nas companhias abertas, o conselho de administração pode deliberar a emissão de debentures não conversíveis em ações, e podem deliberar a emissão de debentures conversíveis em ações no limite do capital autorizado. Formas de emissão: A emissão demanda o cumprimento dos requisitos do artigo 62 da Lei das S.A.s. Para uma emissão pública, existe a necessidade de autorização da CVM e cumprir todos os requisitos previstos na Lei 6.385, bem como instruções da CVM. • Pública – obrigatório a existencial do agente fiduciário (art. 61 § 1º Lei das S.A.s). O agente fiduciário representa a comunhão de debenturistas junto a companhia, é ele que deve tomar todas as medidas necessárias para a defesa dos interesses dos debenturistas, é nomeado na escritura de emissão das debentures e sua remuneração é paga pela companhia emissora. Isso tende a gerar conflito de interesses, por isso tem algumas restrições para este cargo (art. 66 § 1º e 3º Lei das S.A.s). • Privada – o agente fiduciário é opcional, em regra não tem este agente. Quando se fala em debentures, está se falando numa comunhão de interesses. Nesse sentido, existe a assembleia de debenturista, os debenturistas de uma mesma omissão ou de uma mesma série podem se reunir em assembleia geral de debenturistas para decidir matérias que sejam de interesse da comunhão de debenturistas (art. 71 Lei das S.A.s). A assembleia geral é convocada pelo agente fiduciário, pelos debentures (desde que perfaçam ao menos 10 por cento dos títulos daquela emissão ou série) ou pela CVM. As matérias são deliberadas de acordo com o quórum estabelecido na escritura de emissão, desde que nunca seja inferior à metade dos debentures em circulação para aprovar modificações na estrutura das debentures. Cada debenture tem um voto. Partes beneficiárias São títulos negociáveis sem valor nominal, não vinculado ao capital social, que conferem ao seu titular direito de crédito contra a companhia sendo que este direito de crédito consiste na participação dos lucros de no máximo 10% (art. 46 Lei das S.A.s). O titular de partes beneficiárias não é acionista. Não pode ser conferido ao titular de partes beneficiárias qualquer direito de influir na administração. Somente podem emitir partes beneficiárias as companhias fechadas. É possível alienar uma parte beneficiária, a companhia recebe por isso e quem compra tem direito a participação nos lucros. A utilização mais comum é conferir à titulo gratuito ao fundador que já saiu da empresa ou conferir até a uma associação beneficente dos empregados, como viabilizar o financiamento. O estatuto deve fixar o prazo de duração das partes beneficiárias, sendo que aquelas que foram atribuídas gratuitamente, salvo as destinadas as sociedades e associações beneficentes, não podem ter prazo superior a 10 anos. É possível que o estatuto social preveja a conversão das partes beneficiárias em ações (art. 48 § 2º). Partes beneficiárias que detêm a forma do artigo 50 serão sempre nominativas e tem um livro próprio. A assembleia preverá, como regra, como pode se dar a modificação dos direitos das partes beneficiárias. Na hipótese de alteração dos direitos, somente produzirá efeitos caso seja aprovada em assembleia geral de partes beneficiárias. Pode ter agente fiduciário mas não é comum. Aula 5 Direitos e deveres dos acionistas DIREITOS DOS ACIONISTAS Titularidade Os direitos dos acionistas podem ser individuais ou essenciais. Os direitos essenciais, também conhecidos como individuais ou de minoria são aqueles direitos essenciais a qualquer acionista, independentemente do número de ações que venha a ter, da classe, ou da espécie. Esses direitos são inderrogáveis, seja pela assembleia, pelo estatuto social ou pela administração (art. 109 Lei das S.A.s). Os direitos da minoria, que são aqueles que a lei exigem como regra, uma mínima participação no capital social para que possam ser exercidos, também inderrogáveis pela assembleia, estatuto social ou administração mas não são detidos por quaisquer acionistas. ↳ DIREITOS INDIVIDUAIS ESSENCIAIS Previstos no artigo 109 da Lei das S.A.s: • Participação dos lucros sociais – sempre se tem risco. Inerente ao conceito de sociedade, é vedado por lei o que se chama de sociedade leonina, ou seja, é proibida a distribuição desproporcionalde lucros, ressalvadas as regras de dividendo mínimo, prioritário, etc. • Participação do acerto da companhia, em caso de liquidação – direito de receber o que sobrar da participação, ressalvadas as questões de amortização das ações; • Fiscalizar a gestão dos negócios sociais – na forma prevista em lei. É importante pois nas sociedades regradas pelo CC a fiscalização e a prestação de conta se dá de modo direto ao sócio, ou seja, o administrador deve prestar contas ao sócio, qualquer sócio de uma LTDA pode ingressar com uma ação de exigir contas. Isso não ocorre nas sociedades por ações, pois a companhia é moldada para ter um grande número de sócios e a fiscalização é feita por meio de seus órgãos. Toda a sociedade anonima deve ter a previsão de conselho fiscal, é um órgão de fiscalização obrigatório, apesar de seu funcionamento não ser necessariamente permanente. Nos termos do art. 177 § 3º da Lei das S.A.s, a contratação de auditoria independente é obrigatória nas companhias abertas e facultada nas companhias fechadas. Em resumo, os direitos de fiscalização individuais/essenciais são: quanto à prestação de contas na assembleia e quanto à auditoria independente. • Participação do aumento de capital social para que se tenham percentual de participação, evitando a diluição – é um direito essencial que ocorre também nas regradas pelo CC; • Direito de recesso – quando descontente com determinada atuação da companhia, as hipóteses estão previstas no art. 137 da Lei das S.A.s. ↳ DIREITOS NÃO ESSENCIAIS O direito de voto não é essencial, mesmo porque, como já visto, as ações preferenciais podem ter o direito de voto limitado, ou excluído, como consta no art. 110 e 111 da Lei das S.A.s. É um direito ligado ao exercício do poder de controle, sendo que cada ação ordinária tem direito a um voto. O direito de voto, quando lançado, deve ser realizado de oto licito, ou seja, deve ser o voto proferido no interesse da companhia, não podendo ser exercido de modo abusivo (art. 187 CC e art. 115 da lei das S.A.s). O artigo 115 da Lei das S.A.s tipifica duas hipóteses de abuso no direito de voto: 1. Voto emulativo – ato ilícito cometido por titular de direito que, ao exercê-lo, excede os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes; 2. Votação em conflito de interesses – quando existe um interesse extra social do acionista que contrapõe ao interesse da companhia 1. O acionista não pode votar nas avaliações sobre o laudo de bens que está aportando; 2. Há proibição de o acionista, que também é administrador, vote em suas próproas contas e administrações financeiras; 3. Proibição de voto de acionistas quando há um benefício particular; 4. Proibição de voto quando há interesse conflitante com o da companhia, proibição de voto quando o acionista auferir alguma vantagem ilícita. A CVM interpreta que o acionista sempre está proibido de votar quando houver um interesse extra social envolvido, nesse sentido a CVM aplica a penalidade de multas, sempre que houver interesses sociais, mesmo que a companhia tenha se beneficiado. As ações são bens móveis imateriais, pode-se portanto fazer o que quiser com as ações, desde que o exercício desse direito seja compatível com a natureza desse bem e não exista eventualmente alguma restrição contratual. ↳ INADIMPLEMENTO COM DEVERES O inadimplemento pode ensejar a suspensão de direitos (art. 120 Lei das S.A.s). A suspensão de direitos é um instrumento útil mas que gera discussões, que usualmente descamam para um lítigio. Direitos de Minoria Os direitos de minoria são aqueles que a lei exige, para seu exercício, um percentual mínimo de ações. Servem para proteger a minoria ou os acionistas minoritários. É um conceito qualitativo e não quantitativo. É um conceito em oposição ao acionista controlador, que não é necessariamente quem tem a maior quantidade de ações. A Lei das S.A.s trás uma série de direitos que tem por objetivo proteger a minoria em relação ao controlador. É um rol taxativo. A lei das S.A.s permite que qualquer acionista tome medidas de proteção em relação ao controlador. Usualmente, os administradores são eleitos pelo controlador e acabam se sujeitando as ordens deste, sendo que todo ano deve ser realizada ao menos uma assembleia geral, a fim de que sejam deliberadas as contas das demonstrações financeiras. Se o atraso for maior de 60 dias, qualquer acionista pode convocar (art. 246 da Lei das S.A.s). O artigo 239 da Lei das S.A.s fala de minoria sem especificar qualquer quórum. A Lei das S.A.s também garante alguns direitos para as ações preferenciais sem voto, tem o direito pois é minoria e não tem voto. Trazem regras que permitem que os minoritários elejam membros do direito fiscal e que possam exercer de modo efetivo a fiscalização. Ações preferenciais têm o direito de estabelecer um membro no órgão de fiscalização, garantindo que quem aporta recursos, mas não tem poder de influenciar na administração de modo decisivo, possa fiscalizar a gestão. Rol taxativo. Etc… Natureza dos direitos Os direitos dos acionistas podem ser patrimoniais, com repercussão no patrimônio do acionista, ou direitos políticos ou de participação, que autorizam o acionista a participar de fiscalização. DEVERES DOS ACIONISTAS Em regra, em uma sociedade anônima, o acionista tem um único e exclusivo dever, que é poder realizar o capital subscrito (art. 106 e 107 da Lei das S.A.s). Caso o capital subscrito não seja realizado, pode ser excluído, responsabilizado civilmente, prever multa, bem como ter seus direitos suspensos. Existe também o dever de lealdade (art. 115 da Lei das S.A.s) que é uma cláusula geral qual somente se consegue aferir caso a caso, mas que impõe uma série de deveres aos acionistas. É decorrência lógica da boa fé objetiva (art. 184 e 422 CC), que incide com força máxima diante do dever do acionista servir a companhia e não se servir dela. Órgãos De acordo com Carnelutti, os órgãos sociais são “centros de poder” que manifestam, no limite de suas competências, a vontade social. Órgão é indivíduo ou grupo de indivíduos que agem para o desenvolvimento de um interesse coletivo. ASSEMBLEIA GERAL CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DIRETORIA ASSEMBLEIA GERAL A assembleia geral tem competência para deliberar sobre as matérias de interesse da companhia, é o órgão que investe os demais órgãos, que elege os membros da administração e do conselho fiscal, é um órgão deliberante. Entretanto, se a companhia tem conselho de administração é ele que elege os diretores (art. 121 Lei das S.A.s). É necessário viabilizar que em assembleias as matérias sejam colocadas em discussão. Debatidas, e que sejam prestados todos os esclarecimentos para que então se delibere. Vinculam todos os acionistas, inclusive os que não participam dela. O artigo 122 da Lei das S.A.s trás matéria que somente a assembleia geral deve deliberar, as matérias privativas, são basicamente aquelas que mexem na estrutura da sociedade anônima. Essa matéria privativa não restringe a assembleia de deliberar outras matérias, desde que as mesmas não sejam privativas de um outro órgão. Assembleia geral ordinária (AGO) É definida por conta das matérias a serem deliberadas, ela tem competência ratione materiais. As matérias deliberadas em AGO são (art. 132 Lei das S.A.s): • Aprovação de contas e demonstrações financeiras; • Distribuição de resultado; • Eleição dos administradores e membros do conselho fiscal; • Aprovação a correção da expressão monetária do capital social. Deve ser realizada todo ano até 4 meses após o término do exercício social. No brasil o exercício social corresponde com o ano civil, ou seja, as AGO devem ser realizadas até dia 30 de abril. Assembleia geral extraordinária (AGE) A distinção entre AGO e AGE se dá em razão das matérias que podem ser deliberadas. Todas as assembleias dependemde convocação, salvo se todos os acionistas (inclusive os preferenciais sem direito a voto) estejam presentes. Vincula todos os acionistas (art. 124 Lei das S.A.s). Como regra, é a administração que convoca a assembleia, se a companhia tem conselho de administração, ele quem convocará, caso contrário caberá a diretoria a convocação (art. 123 Lei das S.A.s). Existe também a possibilidade de convocação por outros órgãos iu por acionistas (art. 123 § 1º Lei das S.A.s). ↳ MODO DE CONVOCAÇÃO Deve ser feita por meio de publicações realizadas em Diário Oficial e jornal de grande circulação. Em 2019 foi dispensada a publicação no Diário Oficial, que era um processo burocrático e custoso. As pequenas S.A.s fechadas dispensa a necessidade de publicação. Nas companhias fechadas, acionistas que detenham ao menos 5% do capital social podem pedir que uma companhia mande uma correspondência para pedir sua convocação, é uma faculdade do acionista, não sendo a companhia obrigada a fornecer se o acionista não solicitar. ↳ CONTEÚDO DA CONVOCAÇÃO A convocação deverá mencionar data, hora e local da assembleia. De regra deve ser na sede da companhia, mas se necessário poderá ocorrer fora da cede desde que na sua localidade, com o objetivo de não se inviabilizar a participação de sócios minoritários. Deve conter também a ordem do dia, e somente se poderá deliberar o que nela conste. ↳ FORMALIDADES Previstas no artigo 124 inciso I e II da lei das S.A.s. É necessário fazer a primeira convocação e, caso a assembleia não se instale, fazer a segunda convocação. A primeira convocação, se tratando de companhia fechada, deve publicar três vezes o anúncio em Diário Oficial ou jornal de grande circulação, sendo que o primeiro anúncio deve ser publicado com 8 dias de antecedência. Em companhias abertas o procedimento é o mesmo, mas tem de ser publicado com antecedência de 15 dias. A segunda convocação deve-se fazer o mesmo procedimento, nas companhias fechadas deve- se anunciar com 5 dias de antecedência e nas abertas com 8 dias de antecedência. Até a realização da assembleia é obrigatório que todos os documentos relevantes para a deliberação sejam disponibilizadas, como consta no art. 133 da Lei das S.A.s. Todos os documentos pertinentes as matérias que serão deliberadas devem ser devidamente disponibilizadas para os acionistas. Quóruns ↳ QUÓRUNS DE INSTALAÇÃO Depende da matéria de que se trate a assembleia. A regra é de que a assembleia se instale com a presença de acionistas que representem, no mínimo, ¼ do capital social (art. 125 Lei das S.A.s). Entretanto, as assembleias que deliberarão alterações estatutárias o quórum de instalação é de 2/3 do capital social (art. 135 Lei das S.A.s). Em segunda convocação, é possível instalação da assembleia com qualquer quórum, mesmo sem o quórum mínimo. ↳ QUÓRUNS DE DELIBERAÇÃO A regrá é o quórum legal, que consiste na maioria do capital presente (art. 129 Lei das S.A.s). Para as matérias dispostas no artigo 136 da Lei das S.A.s, o quórum é de maioria de acionista votante, sendo que a CVM pode reduzir esse quórum nas companhias abertas. ↳ QUÓRUNS ESTATUTÁRIOS O estatuto pode prever os quóruns, e nas companhias fechadas pode até prever um quórum maior. Caso ocorra empate, será convocada uma nova assembleia para 3 meses após a primeira, se ocorrer empate novamente a decisão vai para a arbitragem ou para o judiciário. Nos quóruns não se computam os votos em branco, bem como aqueles que se abstiverem de votar ou que votaram nulo. Da mesma forma que os impedidos de votar não terão seus votos computados. Legitimação e representação A assembleia é uma reunião privada de acionistas, embora tenha um rito público. O acionista, entretanto pode se fazer representado pelo seu advogado (art. 126 Lei das S.A.s). De forma objetiva, estão legitimados a participar da assembleia geral os acionistas, o procurador constituído pelo acionista e o advogado de um acionista. É possível que um acionista outorgue procuração para a administração, desde que não haja conflito de interesses. O advogado pode comparecer à assembleia geral, mesmo sem procuração, desde que esteja acompanhando seu cliente, acionista da companhia. ↳ PROCEDIMENTO Havendo convocação da assembleia, os acionistas devem comparecer no local, na data e no horário indicados. O administrador verificará a legitimidade dos presentes, nos termos vistos acima. Os presentes deverão, obrigatoriamente, o livro de presenças. Por fim, alcançado o horário determinado no instrumento de convocação, compete ao administrador encerrar a verificação das presenças e verificar o quórum de instalação. Aquele acionista que chegar atrasado não vota, mas pode participar, entretanto sua presença não será registrada no livro, mas pode ser feito o registro na ata. Instalada a assembleia o administrador declarará a abertura dos trabalhos, e passará a composição da mesa, cuja função é presidir e organizar os trabalhos. A mesa é obrigatoriamente formada por um presidente e um secretário, os quais são escolhidos entre os acionistas presentes. Um representante do acionista pode ocupar esses postos, desde que não haja oposição. Os administradores também podem presidir a mesa, desde que não se esteja falando de algum assunto que seja de interesse direto dele. Após formada a mesa, passa-se a leitura da ordem do dia. Esclarecidos os motivos que levaram a inclusão daquele assunto na pauta, os acionistas têm a palavra para discutir aquela pauta. Encerrada a discussão, a mesa submete a matéria à aprovação. A mesa tem a tarefa de analisar os votos. O voto não é secreto, mas não precisa ser fundamentado. Após a votação, a mesa passa a análise dos votos e proferirá o resultado. Não havendo mais nenhum assunto a ser discutido ocorre o encerramento do trabalho e a elaboração da ata, é feita a leitura e aprovação da ata e se recolhe a assinatura dos presentes. ADMINISTRAÇÃO Conselho de administração O conselho de administração não é um órgão obrigatório, sendo impositivo em três hipóteses: 1. Companhias com capital autorizado – quando uma companhia tem capital autorizado, obrigatoriamente ela deve ter conselho porque este pode deliberar o aumento do capital social; 2. Companhias abertas; 3. Sociedades de economia mista (art. 239 Lei das S.A.s). O conselho de administração é um órgão colegiado. Ele não é um órgão de representação (art. 138 Lei das S.A.s). Ele funciona como um órgão intermediário entre a diretoria e a assembleia geral com função primariamente de agilizar a tomada de decisões em questões que são relevantes, mas que, em certa medida, são rotineiras. Funciona também como um mecanismo para compor interesses de diferentes acionistas, bem como de terceiros que venham a ser afetados pela exploração da atividade. Há regras que permitem que minoritários elejam membros do conselho de administração e a lei autoriza que o estatuto preveja que empregados elejam membros para o conselho de administração com o objetivo de internalizar os interesses dos empregados. Ademais, existe uma tendencia a se exigir que o conselho de administração seja composto por um número mínimo de membros independentes, isto é, pessoas desvinculadas que não tenham qualquer relação econômica ou pessoal. Da mesma forma, existe um movimento que busca conferir maior pluralidade possível à administração porque tem estudos que indicam que órgãos compostos por membros com experiências diversas tornariam a companhia mais eficiente. ↳ COMPETÊNCIAS As competências do conselho de administração estão previstos no artigo 142 da Lei das S.A.s, o estatuto social pode prever outras competências desde que não avance sobre competências indelegáveis de outros órgãos. São competências do conselho de administração: 1. Fixar a orientação geral dos negócios da companhia; 2. Eleger e destituiros diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições, observando o que a respeito dispuser o estatuto; 3. Fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração e quaisquer outros atos; 4. Convocar assembleia geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132; 5. Manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria; 6. Manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o exigir; 7. Deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição; 8. Autorizar, se o estatuto não dispuser contrário, a alienação de bens do ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros; 9. Escolher e destituir os auditores independentes. O conselho de administração não funciona de modo permanente, ele funciona quando necessário. É um conselho que vai se reunir periodicamente para tomar as decisões que se façam necessárias, e quando necessário ele é convocado de modo extraordinário. ↳ COMPOSIÇÃO Tem um mínimo de 3 membros, sem número máximo. A recomendação é que seja sempre um número impar para evitar ao máximo a existência de empate (art. 140 Lei das S.A.s). O estatuto deve prever o modo de substituição dos conselheiros, o prazo de gestão que nas companhias nunca pode ser maior que 3 anos, permitindo a reeleição, bem como normas sobre como vai se operar o conselho de administração. Como regra, o conselho de administração delibera por maioria. Não é necessário arquivamento e publicação das atas dessas reuniões, exceto quando a decisão dos conselheiros precisar produzir efeitos perante terceiros. Qualquer pessoa pode ser conselheiro, desde que pessoa natural. Se permite inclusive que sejam conselheiros os residentes fora do país, uma vez que a atuação do conselho de administração é epsódica. ↳ ELEIÇÃO São eleitos pela assembleia geral, a Lei das S.A.s criou dois mecanismos para evitar que o acionista controlador eleja os membros, e permitir que minoritários possam ter voz. São os métodos: • Voto múltiplo – se aplica a companhias abertas e fechadas. É um mecanismo existente com o objetivo de viabilizar que minoritários elejam conselheiros de administração, mas não confere o direito dos minoritario eleger membros do conselho de administração. Ou seja, não é uma garantia, mas um mecanismo que facilita a eleição de representante de minoritário. Para que seja feito, deve ser requerido de modo prévio. • Eleição em separado – funciona apenas para companhias abertas, onde os minoritários têm direito de eleger um membro do conselho de administração do conselho de administração. Nada impede que a eleição em separado possa ser cumulada com o voto múltiplo, todavia, a lei garante que o acionista que tenha mais de 50% das ações com direito ao voto sempre eleja a maioria dos conselheiros de administração. ↳ DESTITUIÇÃO São eleitos e destituídos por assembleia geral. A destituição não precisa ser desmotivada. No caso de destituição de qualquer conselheiro eleito pelo processo de múltiplo cai todo o conselho e deverá ser feita uma nova eleição. No caso de eleição em separado, o membro somente pode ser destituído pelos acionistas que o elegeram. ↳ SUBSTITUIÇÃO É possível por qualquer motivo e pode se dar por impedimento temporário ou permanente. Como regra, o estatuto social é quem deve estabelecer o funcionamento da substituição. DIRETORIA A diretoria é um órgão obrigatório que deve estar presente em toda a companhia, porque é o órgão que representa a companhia perante terceiro. A regra é que a diretoria possui representação privativa, ou seja, somente a companhia representa a companhia (art. 130 Lei das S.A.s). Há duas exceções: 1. Se todos os acionistas faltarem, o acionista com maior número de votos poderá fazer os atos urgentes (art. 150 § 2º Lei das S.A.s); 2. Conselho fiscal pode contratar auditores independentes (art. 163 Lei das S.A.s). A diretoria também tem a função de dirigir a empresa, é a diretoria que faz a gestão do negócio. Em princípio, se não há divisão de competência entre os diretores, todos tem amplos poderes (art. 144 Lei das S.A.s). ↳ COMPOSIÇÃO Exite o mínimo de 2 diretores, não havendo limite máximo. Os diretores não precisam ser acionistas mas devem ser pessoas naturais. Até 1/3 do conselho de administração pode ser eleito para os cargos da diretoria, a ideia é garantir a independência da diretoria. O estatuto social deve estabelecer o número de diretores e como se dará a substituição deles, bem como o prazo de mandato (no máximo 3 anos) e as atribuições e poderes de cada um dos diretores. Se houver conselho de administradores, os diretores são eleitos e destituídos pelo conselho, e se não houver são eleitos e destituídos pela assembleia geral. Não há regra para eleição de membros por minoritários. A atuação é individual, o diretor que sozinho representa e decide. Nada impede, no entanto, que determinadas decisões, se definido pelo estatuto, sejam tomadas de modo colegiado, em reunião da diretoria. ADMINISTRADORES Existem diversas normas que são comuns à administração, mesmo porque o administrador é gênero que inclui tanto diretores quanto membros do conselho de administração. Somente pessoas naturais podem ser administradoras, residente no país (art. 146 Lei das S.A.s). Não é necessário ser acionista para ser administrador. O artigo 147 da Lei das S.A.s estabelece uma série de pessoas que estão impedidas de serem administradores. O artigo 149 da Lei das S.A.s determina que os administradores devem tomar posse no prazo de 30 dias, caso isso não ocorra considera-se que o administrador não aceitou o encargo. O termo de posse deve ser levado a registro na Junta Comercial e devem ser seguidas todas as formalidades. A remuneração é fixada pela assembleia geral. O mais comum é a fixação global da remuneração para o exercício e o conselho de administração faz a individualização dessa remuneração entre os administradores. O artigo 152 da Lei das S.A.s estabelece parâmetros para a fixação da remuneração dos administradores. A renúncia, para produzir efeitos perante a sociedade, deve ser entregue à companhia. Além disso, deve ser arquivada na Junta Comercial e devidamente publicada. Os administradores aqui referidos são os diretores estatutários que são aqueles eleitos assembleia, não são empregados e não gozarão de nenhum direito trabalhista. Ele não é empregado porque ele tem autonomia para exercer sua função, não é subordinado. ↳ DEVERES Não há como a lei prever de modo detalhado todas as condutas que os administradores devem adotar até porque os administradores gozam de discricionariedade na administração do patrimônio da sociedade. A lei das S.A.s estabelece deveres genéricos, conhecidos como dever fiduciários. Ao assumirem os cargos, os administradores devem realizar os atos necessários com independência para atingir o fim social. Sempre se deve avaliar caso a caso se esses deveres estão sendo atendidos e qual era a conduta esperada daquele administrador (art. 153 e 154 Lei das S.A.s). As decisões devem ser pautadas de modo informado, é necessário buscar as informações necessárias para decidir de modo informado. O administrador deve se qualificar e buscar atingir os fins sociais e para tanto isso deve ser feito dentro da lei. Os administradores devem vigiar todos os atores da companhia para verificar se ninguém está praticando atos errados e investigar a existência de problemas. Dever de lealdade É positivado no artigo 155 da Lei das S.A.s, o administrador deve servir à companhia e não se servir dela. Os interesses da companhia deve se sobrepor aos interesses próprios do administrador. Não deve praticar concorrência, há aspectos relacionados a isso na Lei de PropriedadeIndustrial que tipifica o crime de concorrência desleal. O administrador tem dever de sigilo, ou seja, não pode divulgar informações confidenciais. Também não pode se valer em seu benefício próprio de uma oportunidade de negócio da sociedade. Não deve atuar em conflito de interesses. Conflito de interesses A CVM entende de modo uníssono que o conflito de interesses é formal, ou seja, estabelecido a priori. Se o administrador tem um interesse pessoal econômico envolvido ele não pode participar da decisão e precisa informar, se não o fizer será punido pela CVM, ainda que tenha feito o ato em benefício da companhia e esta não tenha sofrido nenhum dano. A doutrina majoritariamente interpreta que este é um conflito material, ou seja, não é porque o administrador tem um interesse pessoal envolvido que ele não possa agir em interesse da companhia. Dissolução, extinção e liquidação Quando se fala em dissolução de sociedade se fala em dissolução latusens, que é todo o processo de dissolução que é dividido em três etapas: • Dissolução stritu sensu – quando ocorre a verificação se a sociedade deve, ou não, no processo dissolutório; • Liquidação – deve-se liquidar o patrimonio da sociedade, pagar o que deve, vender o que tem para vender e o saldo se divide entre os sócios, se houver; • Extinção – dar a baixa na junta comercial, quando ocorre efetivamente a extinção da pessoa jurídica. DISSOLUÇÃO STRITU SENSU As hipóteses de dissolução estão previstas no artigo 206 da LSA, e nos artigos 1033, 1034 e 1035 do Código Civil, são elas: Dissolução de pleno direito – ocorre nas seguintes hipóteses: ↳ Término do prazo de duração (quando houver), entretanto se a sociedade continuar explorando a atividade após o decurso do prazo, torna-se prazo indeterminado; ↳ Em casos previstos no Estatuto Social (art. 1035 CC); ↳ Por deliberação da Assembleia Geral (art. 136 LSA); ↳ Se a sociedade se tornar unipessoal, pois por regra a companhia deve ter dois ou mais acionistas, entretanto, se o único sócio quiser pode converter a companhia para outra modalidade como o MEI, por exemplo; ↳ Quando extinta sua autorização do funcionamento Dissolução judicial – existe necessidade de decisão judicial, ocorre nas hipóteses: ↳ Quando anulada a constituição da companhia em ação judicial movida por qualquer acionista, entretanto, mesmo após a ação, a companhia pode convocar a assembleia geral para sanar o vício; ↳ Quando algum acionista com, pelo menos, 5% do capital social pode ajuizar ação para provar que a sociedade não preenche mais o seu fim – existem diversas discussões sobre o que seria esse fim social; ↳ Em casos de falência; ↳ Decisão administrativa. LIQUIDAÇÃO Constatada uma hipótese de dissolução, tem-se algumas consequências, a companhia passa para o estado de liquidação. Ao entrar no estado de liquidação, a sociedade conserva sua personalidade jurídica, apenas a perde com o cancelamento do registro (art. 207 e 210 LSA). Ocorre também a alteração do fim da sociedade, o liquidante passa a representar a companhia e não pode prosseguir com a atividade social, exceto se autorizado expressamente pela assembleia geral (art. 211 LSA). O liquidante, além de representar a companhia, passa também a administrá-la (art. 217 LSA). O liquidante tem poderes mais amplos, pode vender imóveis, transigir, receber e dar quitação, desde que com a finalidade de extinção da companhia (art. 211 p. único). A denominação da companhia é alterada e se acrescenta a expressão “em liquidação” em seu nome, pois terceiros e o mercado devem conseguir identificar facilmente essa condição (art. 212 LSA), e nesse estado todas as ações adquirem direito de voto (art. 213 LSA). Liquidação convencional – quando a liquidação é de pleno direito, como regra são os órgãos da companhia que devem implementar a liquidação, nos termos do art. 208 da LSA. Os administradores devem convocar assembleia para nomear o liquidante (se não tiver sido feito no estatuto social), a liquidação operará de modo extra-judicial. Obs.: o liquidante pode ser destituído por assembleia (art. 238 LSA). Liquidação judicial – se opera nas hipóteses de dissolução da sociedade determinada por decisão judicial, sendo assim a liquidação se opera judicialmente (art. 209 LSA). Pode ocorrer também nos casos de liquidação de pleno direito, caso os administrador não convoquem assembleia. No caso de perde de autorização para funcionamento, o MP irá requerer a liquidação judicial nos termos do art. 1037 do CC, e caso o MP não o fizer, a autoridade competente pode nomear um interventor e requerer a medida para administrar a sociedade até que seja promovida a liquidação. Neste caso, a liquidação será promovida judicialmente e o juiz nomeará o liquidante (art. 1038 CC). Procedimentos de liquidação ↳ Nomear o liquidante; ↳ Após nomeado o liquidante ele tem uma série de deveres. Sobre o liquidante, recai os mesmos deveres que recaem sobre os administradores, o artigo 213 da LSA determina que deve-se convocar assembleia geral de 6 em 6 meses para prestar contas aos acionistas relacionadas à liquidação. O art. 214 diz que respeitados os direitos dos credores preferenciais, o liquidante parará as dívidas sociais proporcionalmente e sem distinção entre vencidas e vincendas, mas em relação a estas, com desconto às taxas bancárias. ↳ Após a venda dos bens que precisam ser vendidos e quitado os credores, o que sobrar é partilhado entre os acionistas, partilha do acervo social (art. 215 LSA e art. 1107 CC). ↳ Convocar-se-á assembleia geral para que o liquidante preste contas – o acionista que não concordar com a prestação final de contas tem o prazo de 30 dias a contar da publicação da ata para promover a ação judicial que lhe competir; ↳ Encerra-se a liquidação e extingue-se a sociedade – se não aprovada as contas não se encerra a liquidação e se toma as medidas pertinentes (art. 216 LSA). EXTINÇÃO A extinção é o momento em que efetivamente ocorre a perda da personalidade jurídica com encerramento da liquidação. Encerrada a liquidação, com a aprovação das contas finais, vai se operar o cancelamento do registro e ocorrerá, com o cancelamento do registro, a extinção da pessoa jurídica. Quando ocorre a falência, presume-se que não há bens e direitos suficientes para fazer frente as obrigações. Por conta disso, nesse caso, o procedimento de liquidação não é respeitado e vai haver um procedimento próprio que é a falência com o objetivo de dar um tratamento igualitário aos credores. A decretação de falência é uma hipótese de dissolução da sociedade por decisão judicial e a sentença falimentar é decisão que determina a dissolução da sociedade e a fase falimentar do processo é a fase de liquidação (art. 1044 CC e art 206 LSA). O encerramento da falência não causa a extinção da pessoa jurídica, pois ao término da falência existe a possibilidade de realizar o pedido de reabilitação do devedor. É possível que a sociedade volte a operar com o mesmo CNPJ, então a PJ, mesmo após passar por todo o processo de falência, não necessariamente se extingue, da mesma forma que uma sociedade que entra em liquidação não necessariamente irá se extinguir. O artigo 219, inciso II da LSA traz hipóteses em que a sociedade pode deixar de existir sem que ocorra o processo de dissolução. (próxima aula: aula 11) Sociedades Anônimas Companhias Direitos e deveres dos acionistas Órgãos Dissolução, extinção e liquidação
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