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1 Felipe Antônio Dal'Agnol NEOPLASIAS MALIGNAS BILIARES CARCINOMA DA VESÍCULA BILIAR É a neoplasia mais comum do trato biliar; Responsável por 5% de todas as doenças malignas do sistema digestivo; Mais frequente em idosos (6ª e 7ª décadas de vida) e nas mulheres (3:1). 1 - Incidência e Fatores de Risco Destaque para mulheres indianas e paquistanesas; Indígenas nativos da America do Norte e populações latino-americanas também possuem uma maior incidência; Cerca de 1-2% das colecistectomias eletivas por colelitíase revela carcinoma de vesícula biliar; A colelitíase é o principal fator de risco (processo inflamatório crônico que resulta em proliferação celular e evolução para displasia/neoplasia); Em cerca de 80% dos casos de CVB coexistem cálculos na vesícula ao diagnóstico; Quanto maior o cálculo, maior o risco (especialmente quando > 3 cm); O tipo de cálculo não parece influenciar; Outras afecções que aumentam o risco (mesmo processo citado acima na parede): fístula colecistoentérica, vesícula calcificada/em porcelana, adenoma é considerado lesão pré-neoplásica, colecistite xantogranulomatosa, RCU, junção pancreaticobiliar anômala; Obesidade, infecção por Salmonella typhi e cistos de colédoco também. 2 - Patologia O tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma, que pode ser subclassificado como cirroso, mucinoso ou papilar; Outras variedades: carcinoma indiferenciado, carcinoma de células escamosas, carcinoma oat-cell e tumores carcinoides; Vias de disseminação podem ser: linfática, hematogênica, transperitoneal e intraductal; Disseminação linfática: a drenagem da vesícula inclui canais que passam pelo ligamento hepatoduodenal e posteriormente deságuam em linfonodos periaórticos, como aqueles nas proximidades do eixo celíaco e da AMS; Disseminação hematogênica: existem pequenas veias tributárias que se comunicam diretamente com o segmento IV do fígado; Disseminação transperitoneal: culmina em carcinomatose peritoneal; Disseminação intraductal: pode levar à obstrução do DHC, gerando colestase e icterícia. 2 Felipe Antônio Dal'Agnol 3 - Manifestações Clínicas e Diagnóstico Cerca de 90% dos CVB se originam no fundo ou no corpo, e, por isso, costumam ser assintomáticos nas fases iniciais; Quando sintomáticos, em geral, refletem a existência de doença biliar calculosa prévia; A piora das queixas habituais da colelitíase crônica prévias (p. ex., aumento na intensidade e frequência da dor) pode ser um sinal de alerta; Perda ponderal involuntária e significativa, massa em hipocôndrio direito e anorexia são encontradas em combinações variáveis, e quase sempre indicam doença avançada e incurável. O início da investigação deve ser por uma ultrassonografia das vias biliares (exame de escolha para dor em QSDA); Se evidência de CVB, o próximo passo é TC de abdome com contraste; Ambos os métodos podem revelar a presença de uma massa de contornos irregulares no lúmen da vesícula, alem de adenomegalias locorregionais, infiltração hepática ou de outras estruturas circunvizinhas e metástases à distância; A RNM é um importante exame para diagnóstico de CVB, pois permite, num mesmo exame, avaliar diversos aspectos da doença, como extensão locorregional, invasão nodal e invasão vascular; Segundo alguns autores: colangio-RNM é o exame de escola para estadiamento clínico da lesão; A colangiografia pode identificar indiretamente o tumor, devido à presença de um longo trecho que apresenta "falha de enchimento" no DHC. 4 - Estadiamento 3 Felipe Antônio Dal'Agnol 5 - Prognóstico Costuma ser sombrio, uma vez que a doença só costuma ser conhecida em fases avançadas; A sobrevida a longo prazo é inferior a 5%; Entretanto, quando o diagnóstico é realizado precocemente, como na detecção de tumores T1a ou T1b durante uma colecistectomia por outros motivos, a sobrevida em 5 anos é excelente (85-100%); A sobrevida em 5 aanos para pacientes com tumores T2 passou de 20% para 60% devido aos avanços na cirurgia de ressecção radical; Nos tumores T3 a sobrevida em 5 anos é < 20%; Nos T4 a sobrevida é contada em meses. 6 - Tratamento Única abordagem com possibilidade de cura é a ressecção cirúrgica; Radioterapia e/ou quimioterapia não alteram a sobrevida em câncer de vesícula; A conduta no CVB pode ser dividido em quatro subcategorias, na dependência da forma de apresentação do paciente: 1. Pacientes com achado incidental de um pólipo na vesícula biliar (quando da realização de métodos de imagem por qualquer motivo); 2. Pacientes com CVB diagnosticado após uma colecistectomia (realizada por qualquer outro motivo); 3. Pacientes com suspeita pré-operatória de CVB potencialmente ressecável; 4. Pacientes que já se apresentam com doença avançada. 6.1 - Conduta nos Pólipos de Vesícula A cirurgia de escolha é a colecistectomia aberta convencional; A VCC deve ser evitada pois há o risco de perfuração acidental da vesícula no interior da cavidade abdominal; Numa paciente sem câncer não traria maiores consequências, mas se tiver CVB potencialmente curável, mesmo que em fase precoce, existe o risco de semeadura de células malignas na superfície do peritônio (tumor spillage) e transformação de uma doença potencialmente curável numa situação incurável. 4 Felipe Antônio Dal'Agnol 6.2 - Conduta no CVB Diagnosticado após Colecistectomia por outro motivo A conduta dependerá da profundidade com que o tumor penetrou na parede do órgão ("T"), com como da margem cirúrgica ; Lesões T1a (invasão da lâmina própria, sem comprometer a muscular) são consideradas adequadamente tratadas após uma colecistectomia simples; Lesões T1b (invasão da muscular) também, desde que as margens cirúrgicas estejam livres; Lesões T1b que se acompanham de invasão perineural, linfática ou vascular devem ser submetidas à colecistectomia radical ou estendida; Lesões T2 encontradas no mesmo contexto devem ser, também, tratadas com por meio da colecistectomia radical; Nessa cirurgia, além da colecistectomia, realiza-se uma linfadenectomia regional e ressecção do parênquima hepático adjacente com pelo menos 2 cm de margem de segurança; Casos de invasão mais extensa do parênquima hepático podem ser manejados com ressecções mais amplas; 5 Felipe Antônio Dal'Agnol Casos com invasão de estruturas adjacentes (desde que margens livres possam ser obtidas pela ressecção dessas estruturas) também podem ser operados de forma mais extensa; Se a conduta inicial tiver sido VCC, recomenda-se a ressecção profilática da região da parede abdominal por onde os trocartes foram inseridos. Mesmo os carcinomas in situ podem se associar a uma recidiva nas portas de entrada dos trocartes, por implantação de células malignas. 6.3 - Conduta na Suspeita de CVB Potencialmente Ressecável no Pré-operatório Exceto nas lesões passíveis de cura por meio da colecistectomia aberta simples (mesmos padrões do item anterior), a colecistectomia radical será o procedimento de escolha; Na doença locorregional mais extensa (ex.: T3 ou T4) o procedimento de ressecção do parênquima hepático adjacente pode ser ampliado, incluindo a remoção dos segmentos IVb e V, e não raro a realização de uma "hepatectomia central" (com retirada dos segmentos IV, V e VIII) ou mesmo uma "trissegmentectomia direita"; A invasão de estruturas adjacentes (como a flexura hepática do cólon) não contraindica a realização da cirurgia radical, desde que se possam obter margens cirúrgicas livres de doença; Cirurgias citorredutoras não têm papel nenhum no tratamento do CVB; Antes de inicial uma colecistectomia, o paciente deve ser submetido a uma laparoscopia diagnóstico, para ver se não há doença no peritônio. Se houver carcinomatoseperitoneal, deve-se encaminhar para o tratamento paliativo. 6.4 - Conduta na Doença Avançada O Objetivo é puramente paliativo; Parcela importante dos doentes se apresenta nesse momento; Indivíduos com icterícia por obstrução do ducto biliar principal (invasão por contiguidade) devem ser, preferencialmente, tratados de forma não operatória, através de da colocação de uma prótese biliar metálica autoexpansível; A dor deve ser tratada com analgesia opioide, podendo-se associar a neurólise do gânglio celíaco realizada por punção percutânea; Quando o CVB atinge e obstrui o lúmen do tubo digestivo (geralmente ao nível da junção duodeno-pilórica) o paciente pode evoluir com obstrução intestinal. A conduta é a implantação endoscópica de uma stent intraluminal. COLANGIOCARCINOMA As neoplasias malignas das vias biliares intra ou extra-hepáticas são tumores raros que na sua maioria acometem o terço superior da via biliar extra-hepática. 6 Felipe Antônio Dal'Agnol Principais fatores de risco para colangiocarcinoma: 1. Colangite esclerosante primária; 2. Cistos de colédoco; 3. Litíase intra-hepática; 4. Hepatites B e C. Os dois primeiros se relacionam a um surgimento mais precoce do câncer, que normalmente se dá após os 50 anos; A Síndrome de Lynch II também envolve risco aumentado; Uma classificação divide a via biliar em três porções: intra-hepática (localização mais rara), peri-hilar (local mais frequente) e distal; Quando acometem especificamente a confluência dos ductos hepáticos esquerdo e direito, os colangiocarcinomas são chamados de tumor de Klatskin. Apresentação Clínica Sinal mais comum é a icterícia; Acompanhada de perda ponderal, astenia, dor abdominal e prurido; No tumor de Klatskin encontramos uma vesícula não distendida e até contraída. Métodos de Imagem A TC é um bom método para detecção de colangiocarcinoma intra-hepático, mas não o é para os outros. A colangio-RNM é o método para esses casos (para os intra- hepáticos também); Nos pacientes com evidências de obstrução biliar, a CPRE ou a CTP podem determinar extensão/localização do tumor (importante especialmente nos tumores de Klatskin) e fornecer material para biópsia, através do escovado endoscópico ou aspiração percutânea. 7 Felipe Antônio Dal'Agnol Marcadores tumorais O uso de marcadores tumorais é uma medida auxiliar no diagnóstico, especialmente nos casos associados à colangite esclerosante; Até o momento, não um marcador específico, mas, sabe-se que tanto o CEA quanto o CA 19.9 podem estar aumentados no soro e na bile desses pacientes; Um estudo mostrou que valores de CEA > 5,2 ng/dl e CA 19.9 > 180 U/ml em portadores de colangite esclerosante possuem, juntos, sensibilidade e especificidade de 100% e 78%, respectivamente, para diagnóstico de colangiocarcinoma. Tratamento Depende da localização do tumor; Tumores intra-hepáticos têm indicação de ressecção hepática; Tumores extra-hepáticos distais são abordados à semelhança de outros tumores periampulares, com pancreatoduodenectomia; Os tumores peri-hilares são doenças de tratamento cirúrgico de alta complexidade: em alguns casos pode-se optar por cirurgia radical com hepatectomia central (ressecção dos segmentos Iv e V) e anastomose biliodigestiva bilateral; Infelizmente, uma boa parcela dos pacientes apresenta invasão bilateral de estruturas vasculares do hilo hepático, envolvimento muito grave dos ductos biliares, ou metástase à distância, contraindicando a cirurgia; A terapia adjuvante ainda é controverso, embora haja casos isolados de melhor sobrevida; Em pacientes que a cirurgia não pode ser feita, a drenagem da via biliar, por via endoscópica ou percutânea, está indicada; Prognóstico Depende se o tratamento for cirúrgico ou paliativo. Se cirúrgico, sobrevida em cinco anos pode chegar a 40%, se paliativo, a sobrevida é de poucos meses. CARCINOMA DA PAPILA DE VATER Perda de peso, icterícia e vesícula palpável (vesícula de Courvoisier-Terrier) são fortes indícios de uma neoplasia periampular; O caráter flutuante da icterícia representa uma propensão do tumor a sofre necrose, "liberando" a passagem da bile. Esses episódios são comumente acompanhados de melena, pois a necrose envolve sangramento; Corresponde a 5-10% de todos dos tumores periampulares; Dos tumores da papila de Vater, 1/3 é benigno (mas com grande chance de malignização) e 2/3 são adenocarcinomas; O diagnóstico é realizado por um endoscópio de visão lateral; 8 Felipe Antônio Dal'Agnol Estadiamento: US endoscópica (T) e TC (N, M); Cerca de 90% dos casos são ressecáveis. A conduta é a cirurgia de Whipple (pancreatoduodenectomia), com sobrevida em cinco anos de 40-50% (o melhor prognóstico entre os tumores pariampulares); Emprego de RQxT ou apenas QxT adjuvante é controverso.
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