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→As doenças respiratórias são as principais responsáveis pela morbimortalidade durante o período neonatal →Representam a causa mais comum de internação nessa faixa etária →Os avanços tecnológicos tem proporcionado um aumento na taxa de sobrevida de bebês prematuros, particularmente os nascidos com muito baixo peso →As trocas gasosas que ocorrem intraútero são mediadas exclusivamente pela difusão placentária, já que os pulmões ainda não são funcionais. →Logo após o nascimento, o recém-nascido (RN) terá de iniciar a respiração em poucos segundos. Seu pulmão deverá transformar-se rapidamente de um órgão preenchido de líquido e com pouco fluxo sanguíneo em um órgão arejado e com muito fluxo de sangue, que seja capaz de executar uma forma inteiramente diferente de respiração. →O processo de expansão pulmonar que ocorre ao nascimento, associado a outros fenômenos fisiológicos adaptativos, leva à redução da resistência vascular pulmonar (RVP), com consequente aumento no fluxo sanguíneo que chega aos pulmões, para que o RN inicie a troca gasosa diretamente com o meio externo. →O sucesso no processo de adaptação imediata à vida extrauterina depende essencialmente da presença de uma função cardiopulmonar adequada. →O RN normalmente apresenta cerca de 50 milhões de alvéolos ao nascimento, tendo potencial para adicionar mais 250 milhões e aumentar sua área de 3 para 70 m2 _ o desenvolvimento dos pulmões continua acontecendo até por volta dos 8 anos, podendo se completar somente aos 25 anos de idade. →Os sinais e os sintomas de dificuldade respiratória são manifestações clínicas importantes e comuns logo após o nascimento. →O desconforto respiratório pode representar uma condição benigna, como retardo na adaptação cardiorrespiratória, mas também pode ser o primeiro sinal de uma infecção grave e potencialmente letal, sendo fundamental o reconhecimento e a avaliação precoces de todo bebê acometido. →A maioria das doenças respiratórias neonatais manifesta-se nas primeiras horas de vida, de forma inespecífica e, muitas vezes, com sobreposição de sinais e sintomas. RECONHECIMENTO →Em razão das peculiaridades estruturais e funcionais ligadas à imaturidade do sistema respiratório, as doenças pulmonares no período neonatal exteriorizam-se clinicamente de forma característica e comum aos RNs. →O conhecimento e a interpretação desses sinais são úteis para decidir o melhor momento de início da intervenção terapêutica. →Os sinais e os sintomas que definem a propedêutica respiratória estão voltados basicamente para a observação e inspeção do RN, e podem ser agrupados naqueles que retratam o padrão respiratório, o aumento do trabalho respiratório e a cor ABORDAGEM DO RN COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA →Causas de insuficiência respiratória no período neonatal. →Embora a grande maioria das causas seja de origem pulmonar, deve-se sempre considerar a possibilidade de etiologias extrapulmonares, como as cardiopatias congênitas, as de origem central, as metabólicas e as hematológicas. ANAMNESE →Prematuridade – síndrome de desconforto respiratório; →Febre materna, corioamnionite, perda de filho anterior com sofrimento respiratório – colonização por streptococcus do grupo B, deficiência de proteína B do complexo surfactante; →Parto cesáreo em bebês prematuros limítrofes – taquipneia transitória do RN; →Uso de anti-inflamatório não esteroide – hipertensão pulmonar; →Sofrimento fetal agudo – síndrome de aspiração meconial (SAM). EXAME FÍSICO TAQUIPNEIA →As variações da frequência respiratória ocorrem em função da alteração do volume corrente e da necessidade de se manter a capacidade residual funcional (CRF). →FR norma no período neonatal: 40 a 60 respirações por minuto. →Considera-se taquipneia quando, em repouso ou durante o sono, a frequência respiratória mantém- se persistentemente acima de 60 movimentos por minuto. →Apesar de inespecífico, é um sinal precoce presente em vários distúrbios respiratórios. →Pode apresentar-se isoladamente ou acompanhada de outras alterações respiratórias. →A taquipneia isolada é mais comum nas alterações extrapulmonares como hipertermia, sepse, distúrbios metabólicos e cardiopatias congênitas. APNEIA E RESPIRAÇÃO PERIÓDICA →Distúrbio do ritmo da respiração. →É caracterizada por pausa respiratória superior a 20 segundos, ou entre 10 e 15 segundos se acompanhada de bradicardia, cianose ou queda de saturação de oxigênio. →A apneia deve ser diferenciada da respiração periódica, que é um padrão respiratório particular do RN pré-termo, caracterizado por períodos de 10 a 15 segundos de movimentos respiratórios, intercalados por pausas com duração de 5 a 10 segundos cada, sem repercussões cardiovasculares. BATIMENTOS DE ASAS NASAIS →Representa a abertura e o fechamento cíclico das narinas durante a respiração espontânea. →O RN apresenta respiração exclusivamente nasal. →Acredita-se que a dilatação das narinas durante a inspiração diminua a resistência da via aérea superior, reduzindo o trabalho respiratório. GEMIDO RESPIRATÓRIO →Resulta do fechamento parcial da glote (manobra de Valsalva incompleta) durante a expiração para manter a CRF e prevenir o colapso alveolar nas situações de perda de volume pulmonar. →O gemido expiratório é um sinal muito comum nos RNs acometidos pela SDR. HEAD BOBBING →É um sinal de aumento do trabalho respiratório e representa o movimento para cima e para baixo da cabeça, a cada respiração, pela contração da musculatura acessória do pescoço. RETRAÇÕES TORÁCICAS →Decorrem do deslocamento da caixa torácica para dentro, a cada respiração, entre as costelas (intercostal), nas últimas costelas inferiores (subcostal), na margem superior (supraesternal) e inferior do esterno (xifoide). →São observadas com frequência no período neonatal, em particular no RN prematuro, devido à alta complacência da caixa torácica (caixa mais maleável). →As retrações aparecem quando os pulmões se apresentam com complacência baixa (“mais duro”) ou quando há obstrução de vias aéreas superiores ou alterações estruturais do tórax. →Nas situações de baixa complacência pulmonar, como na SDR, durante a inspiração um excesso de pressão negativa é gerado no espaço pleural para expandir os pulmões. Como a caixa torácica é muito complacente, a cada inspiração aparecem, inicialmente, as retrações subcostais e intercostais. →Se a doença progride, o RN aumenta a força contrátil do diafragma na tentativa de expandir os pulmões. Observa-se, então, protrusão do abdome e, por causa da alta pressão negativa no espaço pleural, toda a porção anterior do tórax, incluindo o esterno, desloca-se para dentro, produzindo o movimento característico em gangorra ou respiração paradoxal. →O boletim de Silverman-Andersen é um método clínico útil para quantificar o grau de desconforto respiratório e estimar a gravidade do comprometimento pulmonar. →Avaliação clínica do desconforto respiratório: – Boletim de Silverman-Andersen: notas acima de 4 expressam dificuldade respiratória de moderada a grave – Sinais cardíacos: valorizar bradicardia ou taquicardia associada ou não a hipotensão; – Sinais gerais: hipoatividade, palidez, sudorese, fadiga, convulsão, irritabilidade, coma, pele impregnada de mecônio, abdome escavado, estridor, hipoglicemia, anemia, acidose. CIANOSE →Pode-se classificar a cianose em localizada ou periférica, e generalizada ou central. →A primeira, também conhecida como acrocianose, aparece nas regiões plantares e palmares. É um sinal benigno e comum no período neonatal, não representando doença sistêmica grave. →A cianose central, envolvendo a mucosa oral, é observada quando a concentração de hemoglobina reduzida excede 5 g/dL, condição comum durante a hipoxemia grave. →A cianose central, quando presente, deve ser sempreinvestigada, procurando-se afastar cardiopatias congênitas, hipertensão pulmonar e afecções graves do parênquima pulmonar. LABORATÓRIO →Gasometria; →Glicemia; →Hemograma e proteína C reativa (PCR); →Contagem de plaquetas; →Exames específicos de acordo com cada caso. AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA IDENTIFICAÇÃO DOS SINAIS DE ALERTA →Após o reconhecimento da insuficiência respiratória, deve-se avaliar a gravidade do quadro identificando os sinais de alerta que representam uma condição de ameaça à vida e necessidade de instituição imediata de suporte ventilatório. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL →Para o diagnóstico diferencial da dificuldade respiratória do RN são importantes os dados da anamnese e do exame físico, além dos exames laboratoriais. PRINCIPAIS PATOLOGIAS RESPIRATÓRIAS NO PERÍODO NEONATAL →Podem ser agrupadas de acordo com: Imaturidade pulmonar • Síndrome do desconforto respiratório (SDR) ou Doença da Membrana Hialina (DMH) Intercorrências no processo de nascimento • Síndrome de aspiração do mecônio (SAM). • Taquipneia transitória do RN (TTRN). • Síndrome de escape de ar (SEAr). • Síndrome da hipertensão pulmonar persistente neonatal (HPPN). • Pneumonias. Alteração no desenvolvimento e crescimento pulmonar antenatal • Malformações pulmonares: - Malformação adenomatoide cística. - Hipoplasia pulmonar. - Hérnia diafragmática congênita. - Derrame pleural congênito. - Enfisema lobar congênito. →Em geral essas doenças alteram a transição feto-neonatal, dificultando o processo de adaptação cardiorrespiratória ao nascimento e levando ao quadro de insuficiência respiratória nas primeiras 72 horas de vida. SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO (SDR) OU DOENÇA DA MEMBRANA HIALINA (DMH) EPIDEMIOLOGIA →É a afecção respiratória mais frequente no RN pré-termo, sendo mais comum nos RNs prematuros com menos de 28 semanas de gestação, do sexo masculino, em filhos de mãe diabética e nos que sofreram asfixia ao nascimento. →Acomete cerca de 50% dos RN prematuros com peso de nascimento menor que 1.500 g e em torno de 80% dos prematuros com menos de 25 semanas. ETIOLOGIA →Resulta da imaturidade pulmonar pela deficiência e inatividade do surfactante, desenvolvimento pulmonar incompleto e complacência exagerada da caixa torácica. →A deficiência quantitativa e qualitativa do surfactante alveolar é a principal causa da SDR. FISIOPATOLOGIA → O surfactante pulmonar é constituído basicamente por lipídeos (90%) e proteínas (10%), sendo a fosfatidilcolina saturada seu principal componente tenso ativo, responsável pela diminuição da tensão superficial alveolar. →Entre as proteínas, destacam-se as apoproteínas (SP-A, SP-B, SP-C e SP-D), que são fundamentais na determinação da função e do metabolismo do surfactante pulmonar. →O surfactante é sintetizado a partir da 20ª semana gestacional pelas células epiteliais tipo II. Sua produção aumenta progressivamente durante a gestação, atingindo o pico por volta da 35ª semana. →O RN pré-termo com idade gestacional inferior a 35 semanas apresenta, portanto, deficiência da quantidade total de surfactante pulmonar. →Tal deficiência resulta em aumento da tensão superficial e da força de retração elástica, levando à instabilidade alveolar com formação de atelectasias progressivas, com diminuição na complacência pulmonar e na CRF. →As atelectasias diminuem a relação ventilação/perfusão, aumentando o shunt intrapulmonar e levando à hipoxemia, hipercapnia e acidose, que, por sua vez, provocam vasoconstrição e hipoperfusão pulmonar, aumento da pressão nas artérias pulmonares e, consequentemente, shunt extrapulmonar por meio do canal arterial e forame oval, com agravamento da hipoxemia e acidose iniciais, estabelecendo-se assim um círculo vicioso. →Além da deficiência de surfactante, o aumento da quantidade de líquido pulmonar devido à maior permeabilidade da membrana alvéolo-capilar observada no RN pré-termo contribui significativamente para a gravidade da SDR. →Além de piorar a complacência pulmonar, o líquido e as proteínas intra-alveolares inativam o surfactante da superfície alveolar, reduzindo ainda mais a quantidade de surfactante ativo. Assim, a gravidade e a duração da doença são determinadas não só pela deficiência quantitativa do surfactante pulmonar, mas também pelo estado funcional do surfactante presente na superfície alveolar. DIAGNÓSTICO QUADRO CLÍNICO →Os sinais de aumento do trabalho respiratório aparecem logo após o nascimento e intensificam-se progressivamente nas primeiras 24 horas; atingem o pico por volta de 48 horas e melhoram gradativamente após 72 horas de vida. →Ao auscultar o tórax, encontra-se uma baixa entrada de ar, traduzida pela diminuição do murmúrio vesicular. →Nos prematuros de muito baixo peso, a expressão clínica do desconforto respiratório pode ser pouco evidente, sendo frequente o aparecimento precoce de crises de apneia e cianose. →A gasometria arterial revela hipoxemia importante em ar ambiente. →Nos casos com má evolução, os sinais clínicos se acentuam, com surgimento de crises de apneia e deterioração dos estados hemodinâmico e metabólico. →Com a evolução do quadro há retenção de CO2, que pode estar inicialmente normal ou até diminuído em razão da taquipneia compensatória. →A acidose, inicialmente do tipo respiratório, costuma progredir para acidose mista. →O diagnóstico diferencial deve ser feito com as pneumonias congênitas, em especial pelo estreptococo do grupo B, taquipneia transitória, cardiopatias congênitas e malformações pulmonares. →Adequada assistência pré-natal para diminuir a incidência de parto prematuro, incentivo ao parto normal, não indicação de cesarianas eletivas sem comprovação da maturidade fetal e reanimação neonatal apropriada são estratégias para prevenir a ocorrência dessa doença. →Além disso, é de eficácia comprovada, o uso de corticoterapia antenatal, em curso único de betametasona 12 mg intramuscular, 2 doses com intervalo de 24 horas, nas gestações entre 26 e 34 semanas de idade gestacional. →A evolução clássica da SDR pode ser modificada por meio da administração antenatal de corticoide, assistência ventilatória precoce e uso de surfactante exógeno. QUADRO RADIOLÓGICO →O aspecto típico é de infiltrado retículo-granular difuso (vidro moído) distribuído uniformemente nos campos pulmonares, além da presença de broncogramas aéreos e aumento de líquido pulmonar. →Os prematuros de extremo baixo peso podem apresentar, no início, poucas alterações radiológicas, decorrente da imaturidade de seus pulmões, com número reduzido de alvéolos. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS →Apesar de os quadros clínico e radiológico serem bem definidos, os erros diagnósticos ainda são comuns, principalmente nos casos mais leves. →Deve-se considerar o diagnóstico de SDR quando houver: • Evidências de prematuridade e imaturidade pulmonar. • Início do desconforto respiratório nas primeiras 3 horas de vida. • Evidências de complacência pulmonar reduzida, CRF diminuída e trabalho respiratório aumentado. • Necessidade de oxigênio inalatório e/ou suporte ventilatório não invasivo ou invasivo por mais de 24 horas para manter os valores de gases sanguíneos dentro da normalidade. • Radiografia de tórax mostrando parênquima pulmonar com velamento reticulogranular difuso e broncogramas aéreos entre 6 e 24 horas de vida. TRATAMENTO →O tratamento da SDR é multifatorial e inicia-se na prevenção com uso de corticosteroide antenatal, em gestante em trabalho de parto prematuro. →A utilização de métodos de ventilação assistida, reposição de surfactante exógeno, medidas gerais de controle térmico, metabólico, hídrico e ainda a importância de um suporte nutricional agressivo e precoce são fundamentais parao sucesso do tratamento desses bebês. →A meta primordial para essas crianças é manter uma boa oxigenação, e, para isso, é necessário um rápido e efetivo recrutamento de áreas colapsadas comum nessa patologia decorrente da falta de surfactante. →A intenção é diminuir a necessidade de suporte ventilatório, reduzir as necessidades de oxigênio e evitar uma maior agressão pulmonar. Reanimação adequada evitando minimizar a lesão pulmonar → Admissão na UTI neonatal e aquecimento, mantendo o bebê na zona térmica neutra →O intervalo de temperatura entre 36,5 e 37,5°C é considerado como normotermia, e valores diferentes desse padrão incorporam riscos aos RN, pois a temperatura adequada de admissão no berçário é atualmente considerada forte preditor de morbidade e mortalidade em todas as idades gestacionais. →A recomendação atual para essa finalidade compreende algumas importantes ações: • pré-aquecer a sala de parto e mantê-la entre 23 e 26°C; • levar o bebê envolto em pano aquecido à mesa de reanimação também já previamente aquecida; • não secar o bebê e envolvê-lo em saco plástico transparente (exceto a cabeça). O saco plástico só será retirado após a esta- bilização na unidade neonatal; • utilizar touca dupla para reduzir a perda de calor na região da fontanela (cobrir o couro cabeludo com plástico e colocar por cima touca de lã ou algodão). Suporte respiratório → A ventilação não invasiva (VNI) e a CPAP vêm sendo adotadas, em alguns casos, como métodos de primeira escolha para a assistência respiratória. Tem-se recomendado sua utilização precoce, muitas vezes na sala de parto, para prevenir colapso dos alvéolos ainda abertos e reduzir a necessidade de suporte ventilatório no curso da doença. →Nesse contexto, o uso do CPAP nasal vem sendo muito estimulado, principalmente com o intuito de minimizar a lesão pulmonar. Exerce importante ação fisiológica, por meio do aumento da capacidade residual funcional e promoção do crescimento pulmonar do prematuro. Além disso, melhora a complacência pulmonar, reduz a resistência das vias aéreas, aumentando seu diâmetro e mantendo- as abertas, diminui a frequência respiratória, melhora a aposição do diafragma e a sua contratilidade e apresenta um papel na conservação do surfactante exógeno. →Na prática, objetiva-se manter uma PaO2 entre 50 e 70 mmHg e, se necessário, realizam-se aumentos graduais da FiO2 (5 a 10%) até cerca de 80% e do CPAP até, no máximo, 10 cmH2 O. Naqueles casos com insuficiência respiratória grave, caracterizada por hipóxia acentuada e acidose respiratória grave (PCO2 > 60 mmHg), apesar do uso de CPAP nasal, a ventilação mecânica (VM) deve ser indicada. VENTILAÇÃO MECÂNICA →Seu uso tem possibilitado a sobrevivência de RN pré-termos com doenças mais graves. →Em nosso meio, a ventilação mandatória intermitente (VMI), por meio dos ventiladores convencionais ciclados a tempo, limitados a pressão, com fluxo contínuo, ainda é um modo bastante usado; no entanto, as evidências mais atuais têm demonstrado a preferência por modos sincronizados, os quais diminuem o trabalho respiratório do RN. → Parâmetros iniciais para a ventilação mecânica convencional: • Entubação traqueal adequada; • pressão positiva expiratória final (PEEP) – iniciar com 4 a 6 cmH2 O; • pressão inspiratória (PIP) – mínima necessária para que haja boa expansão torácica (15 a 25 cmH2 O), ajustar conforme evo- lução; • tempo inspiratório (TI) – o menor possível (0,4 a 0,5 s), pois TI muito prolongados estão intimamente associadas com maiores lesões do tipo escape (pneumotórax); • FiO2 – a necessária para manter uma oxigenação adequada; • frequência respiratória (IMV) – entre 30 e 60. SURFACTANTE EXÓGENO →Evidências científicas apontam para o benefício do seu uso precoce, principalmente quando administrado nas primeiras 2 horas de vida. →O intervalo mínimo entre as doses deve ser de 6 horas, e os pacientes que permanecem entubados, com padrão radiológico apresentando pouca melhora e com dificuldade de diminuir os parâmetros do respirador, são os candidatos a novas doses da medicação. →A dose inicial varia de 100 a 200 mg/kg e uma dose adicional (100 mg/kg) deve ser feita se, 6 horas após, continuar em VM e com FiO2 acima de 0,3. →A eficácia da terapia com surfactante geralmente tem sido atribuída a sua composição de lípides e proteína, mas estudos têm demonstrado a importância da técnica de administração. →Atualmente, observam-se estudos sobre estratégias de administração que otimizem a distribuição uniforme de surfactante pela via aérea a fim de maximizar seus efeitos benéficos. →Os estudos mostram que a infusão lenta de surfactante, com intuito de amenizar efeitos colaterais, pode resultar em má distribuição nos pulmões. Além disso, o fracionamento em várias alíquotas para pré-termos extremos em VM e com os mesmos parâmetros pré-instilação da droga aumenta a chance de obstrução de vias aéreas. →O método ideal de administração de surfactante ainda é muito discutido na literatura. Sant'Anna et al.10 em 2014 fizeram uma excelente revisão sobre métodos de utilização de surfactante discutindo sobre os diversos aspectos que podem influenciar na resposta a sua utilização e concluíram que a melhor maneira de administrar o surfactante seria em bolo associado a algumas estratégias ventilatórias antes e depois de seu uso conforme demonstrado a seguir: 1. Manter o RN em decúbito dorsal. 2. Aumentar pressão em 1 a 2 cmH2 O no respirador, 5 minutos antes da aplicação, ou utilizar ventilador manual com 1 a 2 cmH2 O acima da pressão utilizada previamente. 3. Desconectar do TOT. 4. Aplicar no terço médio da traqueia, em bolo (em 10 a 20”) em 1 a 2 alíquotas com intervalo de 30 a 60” entre elas. 5. Ventilar com frequência de 60 irpm e pressão suficiente para empurrar para dentro das vias aéreas. 6. Tentar não aspirar o TOT nas 2 horas seguintes, a menos que tenha sinais de obstrução das vias aéreas. SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO MECONIAL (SAM) EPIDEMIOLOGIA →Em aproximadamente 10% a 20% das gestações pode-se observar líquido amniótico meconial, e 1% a 2% desses conceptos apresentará a SAM. →A aspiração meconial é mais comum em RN a termo e pós-termo. →Considera-se grupo de risco para aspiração do mecônio: • RN com idade gestacional maior que 40 semanas. • RN que sofreu asfixia perinatal. →Podendo ocorrer em aproximadamente 30% das gestações com mais de 42 semanas. →Entre 30 e 50% necessitam de VM. →Aproximadamente 30% desenvolvem HPP e 15 a 33% apresentam escape de ar, principalmente pneumotórax. →Apesar dos avanços no suporte ventilatório, a mortalidade na SAM continua elevada, variando de 35% a 60% entre os RNs que necessitam de ventilação pulmonar mecânica. →A mortalidade fica em torno de 5%. FISIOPATOLOGIA →Os mecanismos que levam o mecônio a ser eliminado para o líquido amniótico permanecem controversos. →São citados como fatores predisponentes o sofrimento fetal, a compressão mecânica do abdome durante o trabalho de parto e a maturidade fetal, entre outros. →A aspiração pode ocorrer intraútero quando o bem-estar fetal é interrompido com a instalação da hipoxemia, desencadeiam-se então movimentos respiratórios tipo gasping, com entrada de líquido amniótico meconial no interior da árvore respiratória. →Na maioria dos casos, durante os primeiros movimentos respiratórios. →O mecônio pode provocar alterações obstrutivas e inflamatórias. →Quando o mecônio é muito espesso, pode ocorrer obstrução de grandes vias aéreas, levando a quadro de sufocação. →As vias aéreas distais com obstrução completa evoluem com áreas de atelectasia. →Nos locais com obstrução parcial, observa-se um mecanismo valvular, onde o ar entra, mas tem dificuldade para sair, ocasionando áreas hiperinsufladas, facilitando o escape de ar. →A ação inflamatórialocal do mecônio resulta em pneumonite química e necrose celular. Esse quadro pode ser agravado por infecção bacteriana secundária. →Além disso, o mecônio parece conter substâncias que induzem à agregação plaquetária, com formação de micro trombos na vasculatura pulmonar e liberação de substâncias vasoativas pelas plaquetas ali agregadas, com consequente constrição do leito vascular e hipertensão pulmonar. →A presença de mecônio nas vias aéreas distais altera a função do surfactante, inativando-o na superfície alveolar. →Todos esses processos resultam em múltiplas áreas de atelectasias alternadas com áreas de hiperinsuflação, além do quadro de hipertensão pulmonar, que levam a alterações profundas da relação ventilação/perfusão, com aparecimento de hipoxemia, hipercapnia e acidose. DIAGNÓSTICO QUADRO CLÍNICO →A SAM atinge em geral RN a termo ou pós-termo com história de asfixia perinatal e líquido amniótico meconial. →Pode variar desde formas leves até quadros de insuficiência respiratória grave, com hipertensão pulmonar persistente (HPP). →Algumas crianças com SAM podem ter o quadro clínico agravado e seu prognóstico comprometido por situações como a HPP e o escape de ar. →Os sintomas respiratórios são de início precoce e progressivo, com presença de cianose grave. →Muitas vezes, a sintomatologia predominante é de depressão respiratória e neurológica pelo insulto hipóxico-isquêmico. →Quando não há complicações – baro/volutrauma e/ou hipertensão pulmonar – o mecônio vai sendo gradativamente absorvido, com melhora do processo inflamatório e resolução do quadro em 5 a 7 dias. →Muitas vezes, essas crianças apresentam uma labilidade importante com hipóxia de difícil tratamento em função da HPP. →Os escapes de ar ocorrem em 10 a 20% dos casos e podem ser uma causa de piora abrupta. →A HPP ocorre em aproximadamente 35% das crianças e deve ser suspeitada em todo recém-nascido com dificuldade de atingir boa oxigenação, apesar dos esforços terapêuticos, e naqueles extremamente lábeis ao manuseio. →A gasometria mostra um grau variável de hipoxemia e acidose respiratória ou mista. →O ecocardiograma pode revelar disfunção miocárdica e sinais de hipertensão pulmonar. QUADRO RADIOLÓGICO →O exame radiológico mostra opacidades irregulares, áreas de atelectasia, áreas hiperinsufladas, retificação do diafragma e aumento do diâmetro anteroposterior. →O tórax pode apresentar aumento do seu diâmetro anteroposterior decorrente de hiperinsuflação pulmonar. →Podem aparecer ainda áreas de consolidação lobares ou multilobares, enfisema intersticial, pneumotórax e/ou pneumomediastino, cardiomegalia. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS →Deve-se considerar o diagnóstico de SAM quando houver história de líquido amniótico meconial, presença de mecônio na traqueia do RN e alteração radiológica compatível. TRATAMENTO NA SALA DE PARTO →A intubação e aspiração de crianças vigorosas ao nascimento não resultam em redução na incidência de SAM ou outras alterações respiratórias, além de aumentar o risco de iatrogenia. Nesse sentido, as novas normas do Programa de Reanimação da SBP para sala de parto preconizam: • Papel do obstetra: a aspiração de vias aéreas feita pelo obstetra não é mais indicada, pois a metanálise mais recente mostrou que o procedimento não encontrou nível de evidência significativo que corroborasse seu uso. • Papel do pediatra segundo o Programa de Reanimação Neonatal: 1. Avaliar a vitalidade do RN → Chorando ou iniciou a respiração, tônus muscular em flexão, FC > 100 bpm? 2. casos de respiração irregular/ausente e/ou hipotonia e/ ou FC < 100 bpm → colocar em calor radiante, e sob visualização direta da laringoscopia: aspirar boca e hipofaringe com sonda traqueal número 10 e aspirar traqueia com cânula endotraqueal. TRATAMENTO – UNIDADE NEONATAL →Manter temperatura corporal e pressão arterial adequada, correção de anemia, hidratação venosa e controle glicêmico são fundamentais para o sucesso do suporte ventilatório desses bebês. →O sofrimento respiratório causado pela SAM é apenas um dos marcadores de inúmeros problemas decorrentes da asfixia perinatal. →Os bebês com poucos sintomas e necessitando de FiO2 de até 0,5 (50%) costumam ter boa resposta com o uso de capacete. As crianças com necessidades de O2 de 0,6 (60 %) ou quadro respiratório com esforço moderado podem se beneficiar do uso de CPAP nasal. É preciso cautela, pois, em alguns casos, o CPAP nasal pode agravar a retenção de ar, principalmente quando a hiperinsuflação é bem evidente à radiografia. →Naqueles casos com insuficiência respiratória grave, caracterizados por hipóxia acentuada e acidose respiratória grave (PCO2 > 60 mmHg), apesar de uso de CPAP, a VM deve ser indicada. →Algumas vezes, é necessária pressão inspiratória alta (30 a 35 cmH2 O), mas sempre se deve utilizar o mínimo necessário, suficiente para que se tenha boa expansão pulmonar. →Trabalhar com TI curtos (0,4 a 0,5 s), mantendo assim um tempo expiratório (TE) adequado, capaz de minimizar a retenção de ar em áreas parcialmente obstruídas pelo mecônio. O mesmo cuidado deve ser observado em relação à PEEP, ou seja, utilizar PEEP baixa (3 a 5 cmH2 O), reduzindo risco de escape de ar. →A ventilação de alta frequência pode ser útil naqueles que não respondem bem à ventilação convencional ou com objetivo de proteção pulmonar para aqueles bebês que evoluem com escape de ar (pneumotórax ou pneumomediastino). →Uma questão de extrema importância e de difícil resposta é quanto à necessidade de antibioticoterapia para crianças que nascem banhadas em mecônio e evoluem com desconforto respiratório. →Na prática, é recomendado que se inicie antibioticoterapia para as crianças com SAM que evoluem com distúrbio respiratório e radiografia muito alterada. →Uma metanálise realizada com objetivo de avaliar o efeito da administração de surfactante em crianças a termo mostrou que o seu uso pode reduzir a gravidade da doença e diminuir o número de crianças com falência respiratória progressiva que evoluem para o uso de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). →Outro estudo comparou esquemas diferentes de surfactante para SAM e mostrou que um lavado broncoalveolar com surfactante, utilizado nas primeiras horas de vida, combinado com uma dose única de dexametasona, pode ser um tratamento efetivo para SAM grave. SEGUIMENTO →A evolução clínica e radiológica, em conjunto com os resultados da hemocultura e demais exames laboratoriais, deve ser utilizada para determinar o tempo de duração do tratamento. →O ecocardiograma deve ser realizado para avaliar a presença de shunt direito-esquerdo, além de ajudar no diagnóstico diferencial com cardiopatias congênitas cianóticas. Nessas crianças, a utilização de óxido nítrico (NO) inalado pode ser necessária. TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RN (TTRN) →A TTRN ou síndrome do pulmão úmido é caracterizada por um desconforto respiratório leve a moderado, geralmente de evolução benigna, decorrente de retardo na absorção do líquido pulmonar após o nascimento. EPIDEMIOLOGIA →É uma condição comum, benigna e autolimitada que ocorre em cerca de 1 a 2% de todos os nascimentos, acometendo RN pré-termos tardios e a termo, que apresentam dificuldade respiratória logo após o nascimento, com resolução clínica em 3 a 5 dias. ETIOLOGIA →A causa ainda é discutida, porém três fatores estão associados: deficiência leve de surfactante, pequeno grau de imaturidade pulmonar e retardo na absorção de líquido pulmonar fetal FISIOPATOLOGIA →O pulmão fetal contém em seu interior líquido secretado pelo epitélio respiratório desde o período canalicular (17ª semana gestacional). →O líquido pulmonar exerce pressão de distensão sobre as vias aéreas, que é um estímulo essencial para seu desenvolvimento e crescimento, em particularda porção respiratória ou ácino. Ao final da gestação, a sua produção é de 4 a 5 mL/kg por hora, alcançando o volume de 25 a 30 mL/kg. →Durante o processo de nascimento ocorrem alterações cardiopulmonares importantes. →Cessa a produção e secreção do líquido pulmonar, que é substituído por ar. →A absorção do líquido pulmonar inicia-se antes do nascimento, com o início do trabalho de parto, por mecanismos ainda pouco conhecidos. → Estima-se que cerca de 70% do líquido seja reabsorvido antes do nascimento. →Durante a passagem pelo canal de parto, são eliminados cerca de 5% a 10% do líquido pulmonar e o restante é absorvido nas primeiras horas de vida pelos vasos linfáticos e capilares pulmonares. → Nas seguintes situações a reabsorção do líquido pulmonar está prejudicada: • Cesariana eletiva sem trabalho de parto. • Asfixia perinatal. • Diabetes e asma brônquica materna. • Policitemia. →Essas situações predispõem à ocorrência da TTRN DIAGNÓSTICO QUADRO CLÍNICO →O sinal clínico mais evidente é a taquipneia. →O desconforto respiratório inicia-se nas primeiras horas após o nascimento, melhorando a partir de 24 a 48 horas. →O quadro clínico é muito semelhante ao da SDR leve, sendo muito difícil fazer clinicamente o diagnóstico diferencial. →Os bebês iniciam com taquipneia logo após o nascimento, com uma frequência respiratória que pode chegar a 100 a 120 movimentos por minuto, gemência, batimentos de asas de nariz, tiragem intercostal e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. →As alterações gasométricas são raras, embora possa haver hipoxemia em ar ambiente, que melhora com uma FiO2 menor que 0,50. →Podemos encontrar também hipercapnia e acidose respiratória nas primeiras horas de vida. QUADRO RADIOLÓGICO →A imagem radiológica é típica e permite fazer o diagnóstico na grande maioria dos casos. →O quadro radiológico característico mostra hiperinsuflação pulmonar, infiltrado difuso geralmente do hilo para a periferia (estrias peri-hilares proeminentes), leve a moderado aumento de área cardíaca, presença de líquido nas fissuras interlobares (“cisurite”), marcas proeminentes da vasculatura pulmonar, inversão da cúpula diafragmática, herniação intercostal e derrame pleural. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL →O diagnóstico diferencial mais frequente é com doença de membrana hialina (piora progressiva, quadro muito mais grave, necessidades crescentes de oxigênio), edema pulmonar de origem cardíaca ou linfática (apresenta alterações cardíacas e dos vasos da base concomitantes), pneumonia bacteriana e pneumonia de aspiração (mecônio ou líquido amniótico). →A TTRN deve ser um diagnóstico de exclusão. TRATAMENTO →A evolução é benigna, com resolução do quadro habitualmente em dois a três dias. →O tratamento inclui medidas de suporte geral e oxigenoterapia através de capacete ou CPAP nasal. →Deve-se ter sempre em mente os riscos do uso indevido de oxigênio e de antibióticos. →A necessidade de VM é rara nessa doença e, caso isso ocorra, devem-se descartar outros diagnósticos mais compatíveis, como DMH, pneumonia e cardiopatia. SÍNDROME DE ESCAPE DE AR (SEAr) →A SEAr é uma entidade clínico-radiológica que inclui espectro variado de doenças pulmonares e extrapulmonares, caracterizada pela presença de ar em regiões normalmente não aeradas, resultantes da perda de solução de continuidade do epitélio respiratório. →Sua classificação baseia-se na região onde ocorre o acúmulo de ar. → Possíveis locais de acúmulo de ar extrapulmonar: • Interstício pulmonar = enfisema intersticial pulmonar (EIP). • Espaço pleural = pneumotórax (Ptx). • Mediastino = pneumomediastino. • Pericárdio = pneumopericárdio. • Cavidade peritoneal = pneumoperitônio. • Tecido celular subcutâneo = enfisema subcutâneo. • Corrente sanguínea = embolia gasosa. →As repercussões pulmonares e extrapulmonares da SEAr decorrem basicamente do local, da extensão, do volume e da velocidade do acúmulo de gás. →Entre os diversos quadros que compõem a síndrome, pela frequência e pela gravidade, assumem importância o enfisema intersticial pulmonar e o pneumotórax (Ptx). →A coleção de gás, além de não contribuir para as trocas gasosas, leva a distúrbio da relação ventilação-perfusão por compressão do parênquima pulmonar e das vias aéreas distais, causando hipoxemia e hipercapnia. →Da mesma forma, o aumento da pressão intersticial pode comprimir os vasos sanguíneos e desencadear quadro de hipertensão pulmonar com shunt extrapulmonar. →Além disso, o aprisionamento progressivo do ar intratorácico aumenta a pressão nessa cavidade, diminuindo o retorno venoso e o débito cardíaco, precipitando a hipotensão arterial, o choque e as consequências da redução da perfusão sistêmica, como insuficiência renal e lesões isquêmicas cerebrais. →Ademais, as mudanças bruscas na pressão intratorácica, como as que ocorrem no Ptx hipertensivo, alteram o fluxo sanguíneo cerebral, favorecendo o aparecimento da hemorragia peri-intraventricular em RN pré-termo. →A ocorrência do escape de ar no curso das doenças respiratórias neonatais contribui para a piora do prognóstico, aumentando riscos de aparecimento de doença pulmonar crônica e lesões do sistema nervoso central, além de estar associada a altas taxas de mortalidade, principalmente no RN prematuro. →Logo, seu reconhecimento e tratamento precoces são fundamentais, sendo essencial a vigilância constante, especialmente dos neonatos submetidos a algum suporte ventilatório. DIAGNÓSTICO →É essencialmente radiológico, uma vez que os sinais e sintomas clínicos podem estar ausentes ou serem pouco específicos. QUADRO CLÍNICO →Os sinais e sintomas variam conforme o tipo, a magnitude e a velocidade de instalação da SEAr. →Nas coleções gasosas pequenas, como no enfisema intersticial pulmonar localizado e Ptx espontâneo não hipertensivo, e na maioria dos casos de pneumomediastino, o exame físico pode ser normal ou mostrar poucas alterações, como taquipneia sem desconforto respiratório ou aumento discreto na necessidade de suporte ventilatório. →Na maioria dos casos é um achado radiológico nas avaliações de rotina. →De acordo com o quadro predominante, as características clínicas das várias formas de escape de ar são as seguintes: Enfisema intersticial pulmonar (EIP) – ocorre com maior frequência em RNs prematuros com antecedentes de corioamnionite e que necessitam de ventilação mecânica. →A maioria dos casos surge de forma gradual, nas primeiras 48 horas de vida. →Deve-se suspeitar do quadro em qualquer RN sob ventilação mecânica que apresenta piora dos parâmetros respiratórios, como aumento da necessidade de suporte ventilatório. Pneumotórax (Ptx), em particular o hipertensivo – pode-se observar um quadro dramático de deterioração clínica de início abrupto, caracterizado por desconforto respiratório, cianose e sinais de colapso cardiovascular, como bradicardia, má perfusão periférica, hipotensão arterial e choque. →Quando unilateral, pode haver assimetria torácica com diminuição da expansibilidade do lado afetado, bem como desvio contralateral do ictus e dos sons cardíacos. →O Ptx não hipertensivo pode ser assintomático ou ser acompanhado de manifestações respiratórias leves, como taquipneia, gemido expiratório e retrações da caixa torácica. Há diminuição do murmúrio vesicular no lado acometido. Pneumomediastino – frequentemente é assintomático, podendo, no entanto, ocorrer taquipneia leve, aumento do diâmetro ântero-posterior do tórax e hipofonese das bulhas cardíacas. →Nos casos graves, observa-se sinais de baixo débito cardíaco. Outras formas – as manifestações clínicas do pneumopericárdio dependem da velocidade do acúmulo de gás. Pode ser assintomático ou apresentar-se com sinais de tamponamento cardíaco. →Quando o acúmulo de ar dentro do espaçopericárdico se faz lentamente, ocorre acomodação desse espaço, sem grandes incrementos da pressão intrapericárdica, retardando os sinais de compressão cardíaca. →Se o acúmulo de ar é suficiente para que a pressão intrapericárdica aproxime-se da pressão venosa central, ocorre comprometimento da ejeção ventricular em consequência da diminuição do retorno venoso. →Inicialmente ocorrem taquicardia e aumento da pressão venosa central, seguidas de bradicardia e diminuição abrupta na amplitude do pulso e da pressão arterial. →Quanto ao pneumoperitônio, chama a atenção, além do quadro cardiorrespiratório, a distensão abdominal abrupta. QUADRO RADIOLÓGICO →É o exame de eleição para o diagnóstico das várias formas de SEAr. →É fundamental, também, para a determinação do tamanho e da extensão da coleção de ar e da coexistência de outras entidades que possam facilitar ou perpetuar o escape de ar, além de permitir o acompanhamento evolutivo e avaliar a eficácia da terapêutica adotada. →Na grande maioria dos casos o aspecto radiológico é típico, sendo possível definir o diagnóstico com relativa facilidade. →O enfisema intersticial pulmonar apresenta-se como coleções de ar sob forma linear ou cística de tamanhos variados, localizadas ou difusas, comprometendo um ou ambos os pulmões. →Quando o EIP se manifesta sob a forma linear, é necessário diferenciá-lo do broncograma aéreo. Esse último apresenta-se como imagens hipertransparentes que se ramificam, localizadas, em geral, nos lobos inferiores, próximos ao hilo, não estando presentes na periferia dos pulmões. →A imagem clássica do Ptx caracteriza-se por área de hipertransparência em que não se visualiza o parênquima ou os vasos pulmonares, localizada na face lateral e/ou medial do hemitórax, em um ou ambos os pulmões. → Nos casos em que há grande acúmulo de ar (Ptx hipertensivo), pode-se observar compressão e colabamento do pulmão comprometido, desvio do mediastino para o lado contralateral, herniação da coleção de ar entre os espaços intercostais e retificação ou inversão da cúpula diafragmática. →O aspecto radiológico pode não ser tão evidente nos casos de Ptx pequenos e não hipertensivos. →Como no período neonatal as radiografias são realizadas geralmente com o neonato na posição supina, a coleção de gás intrapleural tende a ficar confinada à região anterior (superior). →Nessa situação, se o Ptx é pequeno, a radiografia de tórax pode mostrar somente um pulmão hipertransparente, de fácil identificação quando a coleção de ar é unilateral. No entanto, quando ambos os pulmões são acometidos, se não houver forte suspeita diagnóstica, o Ptx pode passar despercebido. →Nesses casos, além da hipertransparência, deve-se observar com atenção a imagem da silhueta cardíaca, que pode se apresentar bem delineada e nítida. Tal fato decorre do contraste proporcionado entre a coleção de ar na porção medial do hemitórax e a borda cardíaca. Em caso de dúvida, recomenda-se utilizar incidências complementares, como as radiografias em perfil com raios horizontais ou, se as condições clínicas permitirem, em decúbito lateral com o lado acometido na posição superior, e com raios horizontais. Nessas incidências, a coleção de ar desloca-se para as porções mais altas, facilitando a sua identificação. → Nos casos de pneumomediastino, observa-se área de hipertransparência contornando a silhueta cardíaca, como se a envolvesse, elevando o timo da sua posição normal, com o aparecimento de imagem radiográfica conhecida como sinal da vela ou da asa de morcego (Figura 9). Já no pneumopericárdio, visualiza-se área de hipertransparência envolvendo todo o coração, inclusive na sua borda inferior (Figura 10), o que o diferencia do pneumomediastino, em que essa borda é preservada. TRANSILUMINAÇÃO TORÁCICA →A transiluminação é útil nos RNs sintomáticos com grandes coleções de ar no tórax. →Deve-se realizar a aferição do tamanho e do formato do halo de luz produzido a partir da borda do sensor e comparar as variáveis obtidas em cada ponto com as da região correspondente no hemitórax contralateral. →Considera-se a pesquisa negativa quando o halo for simétrico em ambos os hemitórax e com tamanho inferior a dois centímetros, e positiva quando o halo for simétrico e com diâmetro superior a dois centímetros ou na presença de halo assimétrico entre os dois hemitórax. TRATAMENTO →Pneumotórax é o acúmulo de ar no espaço pleural com colapso parcial ou total do pulmão afetado. Pode ser classificado em: • Assintomático – pneumotórax em RNs assintomáticos e que não estão em assistência ventilatória. Não há necessidade de drenagem, mas sua evolução deve ser acompanhada até a reabsorção total. • Sintomático – se o pneumotórax é sintomático, pode ser tratado inicialmente com aspiração por agulha (punção pleural). Embora a aspiração por agulha pareça simples, a pleura visceral pode ser puncionada, levando à fístula broncopleural. Se ocorrer novo acúmulo de ar após aspiração por agulha, deve-se colocar um dreno torácico sob selo-d’água. Pode ser necessária aspiração contínua. • Hipertensivo – é uma emergência e deve ser imediatamente drenado, inicialmente por punção pleural e posteriormente com drenagem do tórax. →A drenagem torácica deve sempre ser realizada em pneumotórax de RN sob ventilação mecânica. Punção pleural →A aspiração imediata de um pneumotórax em um RN com piora súbita, com cianose, taquipneia, desconforto respiratório e hipotensão é, na maioria dos casos, salvadora, e deve ser realizada mesmo antes da confirmação radiológica. →A punção pleural é muito dolorosa. Não se deve descuidar do controle da dor do RN. Deve-se fazer analgesia tópica com botão de xilocaína. O uso de analgésicos potentes como fentanil e mesmo sedativos devem ser considerados, dependendo do estado clínico da criança. →A técnica adequada da punção pleural é a seguinte: • Limpar a pele com clorexidina degermante, soro fisiológico e clorexidina alcoólica; • Inserir cateter intravenosa periférico flexível 14, 16 ou 18, ou agulhado calibre 23 ou 25 entre o 3º e 5º espaços intercostais, na linha axilar anterior, ou no 2º espaço intercostal, na linha hemiclavicular. O cateter deverá estar previamente conectado a uma torneira de três vias e a uma seringa de 20 mL. • Aspirar cuidadosamente o ar até que a condição clínica do RN melhore ou diminua a pressão na seringa. Drenagem do tórax →O dreno deve ser inserido no mesmo espaço intercostal da punção e posicionado anteriormente no espaço pleural. →O procedimento deve ser realizado sob condições assépticas, usando dreno com calibre de 10 a 14 French, com vários orifícios laterais, devendo ser bem fixado para evitar retirada acidental. →Na inserção do dreno, usar preferencialmente pinça com ponta curva em vez de trocânter, pois diminui o risco de lesão pleural. →No RN, deve-se utilizar apenas técnica em que o tubo torácico é inserido fazendo-se uma pequena incisão na pele na altura do espaço intercostal, e depois dissecando-se com a pinça hemostática até atingir o espaço pleural. →O dreno é então colocado sob visualização direta. Um pneumotórax transitório, adicional a esse procedimento, não causa problemas. Assim que o dreno estiver posicionado corretamente, deve ser conectado ao sistema de selo-d’água ou aspiração contínua, dependendo do caso. →A técnica recomendada para drenagem de tórax compreende os seguintes passos: • Preparar a pele. • Fazer botão anestésico no local da incisão e analgesia sistêmica. • Dissecar o músculo intercostal até atingir a pleura e perfurá-la com pinça hemostática de ponta curva. • Inserir o dreno no espaço pleural. • Conectar o dreno ao sistema de selo-d’água. • Fixar o dreno à parede do tórax com sutura. • Fazer curativo com gaze estéril e esparadrapo para assegurar a fixação.• Checar o posicionamento do dreno e a resolução do pneumotórax por meio de RX. • Avaliar a necessidade de aspiração contínua com pressão negativa. HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE (HPP) ou SÍNDROME DA HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE NEONATAL (SHPPN) →A HPPN é uma síndrome clínica caracterizada por hipoxemia grave e refratária, proveniente da diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar e shunt direito-esquerdo por meio do forame oval e/ou canal arterial. →O curto-circuito extrapulmonar decorre do aumento relativo da pressão na artéria pulmonar em relação à sistêmica. →Esse quadro pode ocorrer de forma primária ou secundária a uma série de doenças cardiorrespiratórias neonatais. →Pode ser secundária a doenças do parênquima pulmonar (SAM, síndrome do desconforto respiratório, pneumonia), desenvolvimento alterado da vascularização pulmonar, hipoplasia pulmonar ou obstrução vascular por policitemia com hiperviscosidade. →O estímulo mais importante para promover a vasodilatação pulmonar parece ser a ventilação e o aumento da concentração alveolar de oxigênio. →A produção de NO no endotélio pulmonar também aumenta de forma acentuada ao nascimento. →O fluxo sanguíneo pulmonar aumenta, o que eleva a pressão no átrio esquerdo e fecha o forame oval. EPIDEMIOLOGIA →Sua incidência é variável, sendo a média estimada em 1 a 2 casos para cada mil nascidos vivos. →É uma das principais causas de óbito entre os neonatos submetidos à ventilação pulmonar mecânica. →Incide em 0,4 a 6 de cada 1.000 nascidos vivos, sendo mais comum em RN a termo, pré-termo tardio e pós-termo. →Muitas vezes, é refratária ao tratamento e associada a uma mortalidade que varia de 4 a 33%. FISIOPATOLOGIA →A patogenia da HPPN ainda é desconhecida; no entanto, pesquisas em modelos experimentais demonstram que estímulos antenatais como hipóxia crônica e aumento de fluxo sanguíneo pulmonar alteram o desenvolvimento dos vasos pulmonares, levando a disfunção das células endoteliais e/ou musculares lisas. →Tais fatos promovem desequilíbrio na produção de mediadores endoteliais vasoconstritores e vasodilatadores, resultando em alterações funcionais e/ou estruturais dos vasos pulmonares. →Assim, acredita-se que qualquer fator que interfira no processo de adaptação cardiorrespiratória perinatal, desde a formação e o desenvolvimento dos vasos pulmonares até a transição cardiopulmonar ao nascimento, possa desencadear o aparecimento da síndrome. CLASSIFICAÇÃO →Do ponto de vista fisiopatológico, existem duas formas de HPPRN: • uma funcional, em que o aumento da RVP é decorrente somente da vasoconstrição arteriolar pulmonar, • e outra orgânica, em que a vasoconstrição é causada por alterações estruturais no leito vascular pulmonar. →A forma funcional idiopática é considerada como expressão de fatores constitucionais e genéticos que aumentam a sensibilidade das arteríolas pulmonares aos estímulos vasoconstritores, ou dificultam a ação vasodilatadora do NO endógeno. →Na forma funcional secundária, a maior parte dos casos está associada à asfixia (80 a 90%) e sepse, quer pela ação vasoconstritora direta da hipóxia e acidose, ou indiretamente, pela liberação de substâncias vasoativas (leucotrienos, endotelina, tromboxano, radicais livres). Quando o processo asfíxico é prolongado, pode desencadear hipertrofia da parede muscular arteriolar. →Entre as doenças parenquimatosas pulmonares associadas à asfixia perinatal, a mais frequentemente observada na HPPRN é a SAM, na qual a endotelina e a urotensina desempenham papel importante como poderosos agentes vasoconstritores pulmonares. →Na forma orgânica, temos a hipertrofia da parede muscular arteriolar pulmonar idiopática ou secundária a eventos patológicos durante a gravidez, como a hipóxia crônica acentuada, o fechamento intraútero do canal arterial por uso de medicamentos na gestante (indometacina, salicilatos, lítio) e o uso de antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina durante a gravidez. →Outro tipo de forma orgânica é o baixo grau de desenvolvimento do leito vascular pulmonar, típico da hipoplasia pulmonar associada à hérnia diafragmática congênita que, além da densidade reduzida de vasos, apresenta reatividade vascular aumentada aos estímulos vasoconstritores associados com a redução da ação da NO sintetase e a produção elevada de endotelina. →De acordo com as alterações estruturais dos vasos pulmonares, as diferentes formas clínicas de HPPN podem ser agrupadas em três grandes grupos: • Má-adaptação: Neste grupo estão as condições que se caracterizam por apresentar anatomia e desenvolvimento estrutural dos vasos pulmonares normais. A alta resistência vascular pulmonar decorre da vasoconstrição reativa e é potencialmente reversível. Essa categoria inclui HPPN associada à asfixia perinatal, síndromes aspirativas (SAM e aspiração de líquido amniótico), SDR, sepse, pneumonias congênitas, distúrbios metabólicos, síndrome da hiperviscosidade (policitemia), além dos casos iatrogênicos como a hipo ou hiperinsuflação pulmonares durante a ventilação mecânica. Em geral, esse grupo de pacientes apresenta boa resposta aos vasodilatadores pulmonares. • Mal desenvolvimento: Esta categoria caracteriza-se por vasos pulmonares com a camada muscular espessada, principalmente nas artérias de médio calibre. Observa-se aumento da camada muscular nos locais habitualmente muscularizados (regiões pré-acinares), além da extensão das células musculares lisas para as regiões intra-acinares, habitualmente não muscularizadas. Tais alterações estão presentes já ao nascimento, sugerindo origem antenatal. Pertencem a esse grupo HPPN associada à hipóxia fetal crônica, pós-maturidade, uso materno de anti-inflamatórios não hormonais e antidepressivos (inibidores seletivos da recaptação da serotonina), filhos de mãe diabética, cardiopatias congênitas que cursam com hiperfluxo ou com hipertensão venosa pulmonar (estenose da veia pulmonar, drenagem anômala das veias pulmonares, estenose mitral congênita, coartação da aorta e transposição dos grandes vasos) e idiopáticas (persistência da circulação fetal). Esses pacientes apresentam resposta variável aos vasodilatadores pulmonares. • Subdesenvolvimento: Os achados anatomopatológicos deste grupo caracterizam-se por hipoplasia do leito vascular pulmonar com redução no número e muscularização excessiva dos vasos. A restrição ao fluxo sanguíneo decorre dessas alterações anatômicas, além da vasoconstrição, já que esses vasos são extremamente reativos. Nesta categoria estão HPPN associada às malformações pulmonares, como a hérnia diafragmática congênita, sequência do oligoâmnio, hidropisia fetal e displasia capilar alveolar congênita, entre outras. Em geral, esse grupo de pacientes não apresenta resposta aos vasodilatadores pulmonares. FATORES DE RISCO →Recém-nascidos de parto cesariano correm um risco cinco vezes maior de desenvolver HPPRN. A corioamnionite aumenta em três vezes o risco. A exposição in útero à aspirina aumenta o risco em cinco vezes, e a exposição a anti-inflamatório não hormonais aumenta em seis vezes. →O aumento do risco de HPPRN pelo uso de antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina ainda é controverso, mas o uso dessas drogas na segunda metade da gravidez deve levar em consideração o risco-benefício em relação ao bem-estar materno e a possibilidade até seis vezes maior de desenvolver HPPRN. →O uso de oxigênio em altas concentrações pode aumentar a resistência pulmonar pelo aumento do estresse oxidativo. DIAGNÓSTICO →A síndrome geralmente manifesta-se em neonatos a termo ou pós-maduros; no entanto, é possível que a sua ocorrência em RN pré-termo seja subestimada. →Os sintomas aparecem dentro das primeiras horas de vida. As crianças costumam ser extremamente lábeis a qualquer tipo de manuseio. Podem-seobservar alterações cardíacas secundárias a isquemia, com disfunção do músculo papilar, regurgitação da mitral e tricúspide, e até mesmo choque cardiogênico, levando a diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar, da perfusão tecidual e da oferta de oxigênio. →O quadro clínico é bastante variável, dependendo da doença de base. Chama a atenção a desproporção entre a gravidade da hipoxemia e o grau do desconforto respiratório. →Sempre que houver uma hipoxemia desproporcional à gravidade da doença primária pulmonar, deve- se considerar o diagnóstico de HPPRN. →Com frequência esses RNs necessitam de altas concentrações de oxigênio para manter a oxigenação arterial, além de apresentarem extrema labilidade, com piora do quadro respiratório e da saturação de O2 a qualquer manipulação. QUADRO RADIOLÓGICO →O exame radiológico é inespecífico. →Pode haver proeminência do tronco da artéria pulmonar junto à silhueta cardíaca e cardiomegalia, mesmo na ausência de disfunção cardíaca clinicamente detectável. Usualmente, a aparência da vasculatura pulmonar é pouco proeminente. →Em casos secundários ao comprometimento do parênquima pulmonar, encontram-se alterações radiográficas típicas da doença de base. Ecocardiografia Doppler → padrão-ouro →É o método de eleição para o diagnóstico e avaliação da eficácia das intervenções terapêuticas na HPPN. A ecocardiografia permite documentar o grau de shunt direito-esquerdo pelo canal arterial e/ou forame oval e a magnitude da hipertensão pulmonar. →Além disso, o exame é fundamental para avaliar o estado da contratilidade miocárdica e afastar doenças estruturais cardíacas, em particular as cardiopatias dependentes de shunt direito-esquerdo, tais como estenose aórtica, interrupção do arco aórtico e síndrome da disfunção do ventrículo esquerdo. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Um neonato pode ser considerado portador de HPPN quando: • Estiver em ventilação mecânica com FiO2 de 1,0 mantendo cianose central PaO2 (pós-ductal) abaixo de 100 mmHg ou SatO2 (pós-ductal) menor que 90%. • Apresentar labilidade nos níveis de oxigenação arterial, ou seja, mais que dois episódios de queda da SatO2 abaixo de 85% no período de 12 horas, que necessitem de aumento no suporte ventilatório ou ventilação manual para revertê-los. • Houver diferença da oxigenação arterial entre os sítios pré-ductais (membro superior direito) e pós-ductais (membros inferiores); considerar diferença significante quando o gradiente de PaO2 pré e pós-ductal for superior a 20 mmHg ou de SatO2 pré e pós-ductal superior a 5%. • Houver evidências ecocardiográficas de hipertensão pulmonar. TRATAMENTO →O foco mudou de hiperoxigenação-hiperventilação-alcalose para estratégias de ventilação gentil a fim de otimizar o recrutamento pulmonar e minimizar barotrauma, volutrauma e efeitos tóxicos do oxigênio, associado a hipercapnia permissiva e o uso terapêutico do surfactante e do NO. →A severidade da doença pode variar de hipoxemia leve com discreto desconforto respiratório até hipoxemia grave com instabilidade cardiorrespiratória. →Suporte nutricional adequado, redução de ruídos e luminosidade, correção de distúrbios metabólicos, manutenção da normotermia, mínimo manuseio de analgesia e sedação, se necessário, são a base inicial para o tratamento. →Hiperventiliação e infusão de bicarbonato de sódio devem ser evitados, em razão dos efeitos adversos na perfusão cerebral e risco aumentado de surdez sensorioneural. →Se uma pressão inspiratória maior que 28 cm H2O ou volume corrente maior que 6 mL/kg são necessários para manter a PaCO2 abaixo de 60 mmHg em ventilação convencional, recomenda-se mudar para a ventilação de alta frequência. →O uso de óxido nítrico inalado (iNO) tem efeito direto e seletivo na vasculatura pulmonar, pois, uma vez na circulação, liga-se à hemoglobina formando meta-hemoglobina e sendo inativado. Sua ação se dá pelo aumento do GMP cíclico na parede arteriolar. →Deve-se considerar o uso de iNO para os RN com mais de 34 semanas de idade gestacional e diagnóstico de HPPRN que persistem com hipoxemia após medidas gerais, suporte hemodinâmico e ventilação adequados. A dose inicial recomendada é de 20 ppm. A expectativa é de uma melhora na oxigenação em torno de 20% com 30 a 60 minutos do início da terapia. →Aproximadamente 70% dos pacientes tratados mostram um aumento de 20 mmHg na PaO2. →O desmame deve ser iniciado quando a PaO2 estiver maior ou igual a 60 mmHg com uma FiO2 menor que 60%. Reduzir 5 ppm a cada 4 horas até atingir 5 ppm. Depois reduzir 1 ppm a cada 2 ou 4 horas, até a retirada completa, de acordo com a resposta clínica e laboratorial. →Se o NO não melhorar a hipoxemia e a pressão arterial estiver estável, considere o uso de inibidores da fosfodiesterase. O sildenafil endovenoso é administrado em uma dose de ataque de 0,42 mg/kg em 3 horas, seguido de uma dose de manutenção de 1,6 mg/kg/dia em infusão contínua (0,07 mg/ kg/h). →A prostaciclina (PGI2, Iloprost) também pode ser utilizada por via inalatória (1 a 2,5 µg/kg a cada 2 ou 4 horas) ou por via endovenosa (0,5 a 3 ng/kg/min). →Se a pressão arterial está normal mas existem evidências de disfunção ventricular, a milrinona pode ser a droga de escolha. Ela atua inibindo a fosfodiesterase 3, aumentando a concentração de AMP cíclico na musculatura lisa pulmonar e sistêmica além da musculatura cardíaca. Utiliza-se uma dose de ataque de 50 µg/kg em 30 a 60 minutos, seguida de uma dose de manutenção de 0,33 µg/kg/min (que pode chegar gradativamente até 1 µg/kg/min, de acordo com a resposta clínica). A dose de ataque não é recomendada na presença de hipotensão arterial. →Uma etapa rápida em bolo de 10 mL/kg de Ringer lactato ou soro fisiológico antes da dose de ataque pode minimizar o risco de hipotensão. →Em presença de hipotensão sistêmica mas com função cardíaca preservada, uma ou duas etapas expansoras em bolo (10 mL/kg de Ringer lactato ou soro fisiológico), seguidas de infusão de dopamina, norepinefrina ou vasopressina estão recomendadas. →Se o uso de altas doses de vasopressores é necessário, considerar o uso de hidrocortisona se não houver infecção concomitante. →O uso de sedativos e analgésicos é de grande importância e deve ser realizado de forma individualizada. →O uso de surfactante, dependendo da doença parenquimatosa de base, pode atuar no recrutamento alveolar e, consequentemente, melhorar a oxigenação. →Existem evidências de uma redução de L-arginina em RN com HPP quando comparada com outras causas de insuficiência respiratória grave. A infusão de L-arginina, um precursor do NO, tem como objetivo aumentar a sua formação. →A adenosina causa vasodilatação pulmonar seletiva quando infundida venosa em baixas doses, pois é rapidamente captada e inativada pelo endotélio vascular pulmonar. PNEOMONIA EPIDEMIOLOGIA →A pneumonia neonatal é um processo inflamatório dos pulmões resultante de infecção bacteriana, viral ou fúngica ou de origem química. →Com frequência é um dos primeiros sinais de infecção sistêmica, estando associada a quadros como sepse e meningite neonatal. →Estima-se que a pneumonia ocorra em cerca de um terço dos neonatos que evoluem para óbito nas primeiras 48 horas de vida. CLASSIFICAÇÃO →As pneumonias neonatais têm sido classicamente divididas em: • Precoces (até 48 horas de vida) – predomínio de bactérias Gram-negativas. • Tardias – predomínio de bactérias Gram-positivas. →As pneumonias precoces podem ser classificadas, de acordo com seu modo de aquisição em: • Adquiridas antes do nascimento ou congênitas. • Adquiridas durante o nascimento. →As pneumonias adquiridas antes do nascimento ou congênitas são processos pneumônicos que ocorrem no ambiente intrauterino por via transplacentária, secundárias à infecção sistêmica materna (citomegalovirose, toxoplasmose, rubéola, sífilis,listeriose, tuberculose e aids) ou por aspiração de líquido amniótico infectado (corioamnionite). →Em geral o quadro associa-se com trabalho de parto prematuro, natimortalidade ou asfixia e insuficiência respiratória grave ao nascimento. →As pneumonias adquiridas durante o nascimento são processos inflamatórios que ocorrem devido à contaminação do feto ou do neonato por micro-organismos que colonizam o canal de parto. →Com frequência, não se encontram antecedentes perinatais de risco, tais como rotura prolongada de membranas amnióticas, trabalho de parto prematuro ou corioamnionite. →Podem ou não se associar com asfixia ao nascimento e o quadro respiratório frequentemente é indistinguível da SDR e da TTRN. ETIOLOGIA Pneumonia bacteriana congênita • Transmissão vertical transplacentária mãe-feto. • Infecção ascendente do trato genital, valorizar rotura de membranas por mais de 18 horas, não esquecendo que pode existir ascensão bacteriana para o feto mesmo com membrana amniótica íntegra e que a colonização bacteriana quase sempre ocorre no momento do trabalho de parto vaginal. • Gasping durante o nascimento, resultante de processo asfíxico, pode predispor a aspiração de líquido amniótico contaminado. Pneumonia adquirida • Após admissão na UTI neonatal, o risco de pneumonia adquirida será largamente influenciado pelas taxas de infecção relacionada à assistência em saúde de cada unidade neonatal. Estreptococo do grupo B • É o patógeno mais importante na pneumonia neonatal. • Adquirido através do trato genital durante o trabalho de parto, e, na ausência de profilaxia intraparto adequada, pode chegar à frequência de 1 a 4 por cada 1.000 nascidos vivos. • Os prematuros representam cerca de 1/3 dos bebês que apresentam bacteremia pelo estreptococo do grupo B. • Outras bactérias envolvidas na gênese da pneumonia bacteriana neonatal são: Escherichia coli, Klebsiella, Listeria, Ureaplasma e pneumococos. • Infecções tardias (mais de 7 dias): considerar pneumonia por Staphylococcus. • Pseudomonas e fungos. • Pneumonias virais não são frequentes no período neonatal, com exceção de surtos epidêmicos de vírus sincicial respiratório ou adenovírus, e em casos do grupo TORCH. DIAGNÓSTICO →As pneumonias neonatais em geral são de difícil identificação. →As manifestações clínicas e radiológicas são inespecíficas, pois os sinais e sintomas respiratórios e os de reação inflamatória sistêmica são comuns a outros quadros pulmonares e extrapulmonares. →A presença de taquipneia, cianose ou outros sinais de desconforto respiratório sugerem o quadro pulmonar. →Em alguns casos, os sintomas respiratórios podem ser discretos, predominando quadro neurológico de intensidade variável, instabilidade térmica, apneia, distensão abdominal ou icterícia. →O exame radiológico pode ser bastante diversificado, mostrando desde áreas de opacificação uni ou bilateral, até um padrão retículo-granular difuso com broncogramas aéreos, indistinguível do quadro de DMH. →Distinguir pneumonia de taquipneia transitória é frequentemente uma tarefa difícil. Em razão da alta mortalidade da pneumonia bacteriana no RN, alto grau de suspeição deve estar sempre presente nos RN com desconforto respiratório. →Os parâmetros laboratoriais também são de pouco valor, pois indicam alterações sistêmicas inespecíficas. →A procura do agente muitas vezes é infrutífera devido às dificuldades na obtenção de amostras da região pulmonar acometida sem contaminação pelos micro-organismos que colonizam as vias aéreas. →Assim, deve-se suspeitar de pneumonia neonatal em qualquer RN com desconforto respiratório acompanhado de hemocultura positiva ou de dois ou mais fatores de risco (gráfico abaixo). TRATAMENTO • Iniciar antibioticoterapia com ampicilina associada a um aminoglicosídio nos casos de início precoce (primeiras 72 horas de vida) e esquema adequado à microbiota prevalente específica de cada unidade neonatal para os casos de início tardio; • Correlacionar os resultados das culturas e demais exames laboratoriais com a evolução clínica para avaliar o sucesso do esquema escolhido; • Suporte hídrico e nutricional; • Suporte ventilatório; • Drenagens de efusões, se necessário. REFERÊNCIAS Caderno de atenção à saúde do recém-nascido, volume 3 Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, 2017.