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A INVISIBILIDADE DA MULHER COM DEFICIÊNCIA

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A INVISIBILIDADE DA MULHER COM DEFICIÊNCIA NO 
CONTEXTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E INTRAFAMILIAR 
 
 
 
Oliveira, Nilzete de 1 
Faculdade Governador Ozanam Coelho - FAGOC 
(Pós-) Graduação em Políticas Públicas para mulheres 
Setembro de 2019 
ROQUE, Ludmila2 - Orientadora 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este artigo apresenta uma discussão sobre a questão da violência doméstica e intrafamiliar 
contra a mulher com deficiência e a dificuldade de acesso da mesma aos serviços de 
denúncia e de proteção. Teve como objetivo apresentar a dificuldade de acesso a dados e 
informações sobre a situação dessas mulheres. Através de pesquisa bibliográfica e mídia 
eletrônica, baseou-se na “existência de estatísticas mencionando a mulher com deficiência 
que sofre violência doméstica”, A autora acredita ser necessário fomentar a invisibilidade 
existente nas estatísticas das políticas de enfrentamento à violência intrafamiliar e 
doméstica, e alertar a sociedade e o Estado. Para tanto combater a violência contra a 
mulher com deficiência, é imprescindível que a busca e identificação sejam incessantes de 
forma a articular políticas públicas de atendimento às vítimas, promovendo mais 
acessibilidade e incentivando-as a denunciar, tendo em vista que segundo os dados 
pesquisados estas mulheres sofrem três vezes mais casos de violência, por não conseguirem 
se defender e ou denunciar. 
Palavras-chave: Violência doméstica e intrafamiliar, Invisibilidade Feminina, Mulher com 
deficiência. 
 
 
 
 
 
 
1 Bacharel em Serviço Social. Universidade Veiga de Almeida – UVA – E-mailtianilzete@yahoo.com.br 
2Assistente Social formada pela PUC/RJ - Mestre em Serviço Social PUC/RJ - Especialista no atendimento a crianças e adolescentes 
vítimas da violência doméstica PUC/RJ e Especialista em Gerontologia pelo NEZO/FAGOC 2019 
E-mail: ludproque@gmail.com 
 
1- Introdução 
A violência contra a mulher acompanha o ser humano ao longo do decorrer da história e 
ao redor do mundo, independente da categoria social, raça, etnia, gênero, com ou sem 
deficiência, sendo considerada como todo ato ou omissão praticado por pais, parentes e ou 
cuidadores, capaz de causar danos psicológicos, físicos ou sexuais à vítima (Guerra, 1998). A 
violência é comumente utilizada como uma afirmação de poder do “mais forte” perante o 
“mais fraco” (Sinclair, 1985). Quanto menos provida de recursos para se defender de 
agressões ou abusos uma pessoa for, maior é o perigo de ela se tornar uma vítima (Cardoso, 
2001). 
O Relatório Mundial sobre a Deficiência (Cap. 01-2012), esclarece que a história de 
violência intrafamiliar e doméstica a mulher é uma realidade no mundo da deficiência ao 
redor do planeta, e quase que diariamente sofrem violência, e estas são físicas, verbais e 
ou psicológicas trazendo diversas consequências, são geradoras de magoas, tristezas, 
vergonha entre outros e podem levar a deficiência e ou a morte. Os danos podem ser ainda 
mais desastrosos quando o “mais fraco” é uma mulher com deficiência, e estudos apontam 
para a maior probabilidade destas vítimas se tornarem pessoas ansiosas (Christopoulos, 
1987); desenvolverem menos habilidades intelectuais e competências sociais (Barahal, 
Waterman e Bartin, 1981); baixa autoestima (Kadzin, 1985) e até possibilidade de 
desenvolverem deficiência mental (Barahal, Waterman e Bartin, 1981). Vítimas com 
deficiência costumam apresentar déficits na percepção e compreensão das situações de 
abuso, o que pode contribuir para que agressões graves sejam constantes ou “justificadas, 
levando-as a aceitarem esta condição como se fosse normal” (Dodge, 1980). Segundo 
Williams (2003): 
“O indivíduo portador de deficiências de qualquer modalidade - seja visual, 
auditiva, física ou mental - encontra-se em uma posição de grande 
vulnerabilidade em relação ao não portador, sendo frequentemente marcante 
a assimetria das relações de poder na interação entre ambos. Tal assimetria 
de relação hierárquica é multiplicada, conforme a severidade de cada caso, 
sendo ampliada se o portador de necessidades especiais pertencer a um outro 
grupo de risco, como por exemplo, se for mulher ou criança" (p.142). 
Strickler (2001) aponta que Nosek, Howland & Young (1997) enumeraram 9 (nove) 
fatores que explicariam tal aumento de risco no grupo das pessoas com deficiências: 
1) dependência significativamente maior de outras pessoas para cuidados 
em longo prazo do que para seus correspondentes não-deficientes; 
2) percepção de ausência de poder tanto pela vítima quanto pelo agressor; 
3) percepção, pelo agressor, de menor risco de ser descoberto e punido; 
4) os relatos das vítimas deficientes obtêm menor credibilidade; 
5) menor conhecimento pela vítima do que é adequado ou inadequado em 
termos de sexualidade; 
 
6) isolamento social, o que pode aumentar do risco de ser manipulado por 
outros; 
7) potencial para desamparo e vulnerabilidade em locais públicos, 
8) valores e atitudes mantidos por profissionais na área de educação 
especial em relação à integração, sem considerar a capacidade do indivíduo 
de autoproteção; 
9) dependência econômica da maioria dos indivíduos portadores de 
deficiência mental. Strickler (pp. 461-471, (2001). 
Em resumo, o trunfo do agressor, nestes casos, está na vulnerabilidade das pessoas 
com deficiência, que costumam apresentar déficits na capacidade de discernir seus direitos e 
as situações que são abusivas, desafiadoras de sua integridade física, moral e psicológica 
(Barahal, Waterman e Bartin, 1981). 
A necessidade de debater a temática da violência domestica e intrafamiliar contra a 
mulher e em especial contra a mulher com deficiência, inquietou a autora deste artigo por 
também ter vivenciado essa violação de direitos. Atualmente a autora é graduada em Serviço 
Social, militante das causas femininas, caminhando em direção a especialização em 
“Políticas Públicas para Mulheres” no contexto da violência doméstica e intrafamiliar contra 
a mulher. Por tanto falar sobre o tema “A Invisibilidade da Mulher com Deficiência no 
Contexto da Violência Doméstica e Intrafamiliar” é uma tarefa profissional e pessoal para a 
autora, que pretende contribuir para o debate sobre a violência contra a mulher com ou sem 
deficiência. 
2 - A mulher com deficiência vitima de violência, as dificuldades de acesso aos serviços 
e a falta de dados 
A pesquisa realizada pelo Data Senado (2015) apresenta que 21% das mulheres 
agredidas não procuraram ajuda e uma em cada cinco mulheres não fez nada quando 
agredida. Este percentual aumentou em relação a 2013, quando 15% das vítimas adotaram a 
mesma postura. Já em 2017 foi revelado o aumento no número de mulheres que declaram ter 
sofrido algum tipo de violência doméstica: o percentual passou para 29%. Houve 
crescimento também no percentual de mulheres que disseram conhecer alguma mulher que 
já sofreu violência doméstica ou familiar praticada por um homem: o índice saltou de 56%, 
em 2015, para 71%, em 2017 As vítimas que optaram por não denunciar alegaram, como 
principais motivos: a preocupação com a criação dos filhos (24%), o medo de vingança do 
agressor (21%) e por acreditar que seria a última vez (16%). A crença na impunidade do 
agressor e a vergonha da agressão foram citadas por 10% e 7%, respectivamente. Os dados 
desta pesquisa estão relacionados a mulheres em contexto geral, e não destaca a mulher com 
deficiência, sem o recorte merecido e sem a atenção especial para as suas especificidades, 
sendo tratadas como “igual”, ainda que sem o alcance de sua plenitude cidadã. É visível o 
descaso com esta parcela da população feminina. 
 
Ao pesquisar sobre violência intrafamiliar e doméstica pode ser constatado que autores 
de livros, trabalhos e artigos falam em um contexto geral da violência contra a mulher, 
poucos falam especificamente da mulher com deficiência, já no INWWD - The International 
Network of Womenwith Disabilities, 2008, abrange o estudo sobre a esta condição 
específica e apresenta, o fato de não haver maior publicização da questão aqui discutida, o 
que se torna incipiente tanto nas pesquisas, quanto nos dados estatísticos disponíveis. 
A falta de dados aliado a falta de informação e publicização através das mídias em seu 
contexto geral, em muitos casos vem a impedir a ida aos equipamentos de atendimento 
como o caso da DEAM – Delegacia da Mulher, do CEAM- Centro Especializado no 
Atendimento à Mulher, CRÁS - Centro de Referência de Assistência Social e CREAS - 
Centro de Referências Especializado de Assistência Social, seguido da impossibilidade de 
usar o disk denúncia – (180). 
Ao lado desse fator está a falta de acessibilidade adequada no Brasil para essa parcela 
da população, percebe-se a ausência de rampas, a existência de barreiras arquitetônicas e 
atitudinais, bem como a falta de intérpretes de Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS), 
Material em Braile e funcionários qualificados, o que dificulta em muito a interpretação no 
momento de realizar um Boletim de Ocorrência (BO). 
A Coordenadora de Políticas de Pessoas com Deficiência da Secretaria Nacional de 
Promoção da Pessoa com Deficiência Solange Ferreira em 2010, apontou que a 
discriminação sobre a mulher com deficiência é duplamente evidenciada e nos diz que, por 
ser pessoa com deficiência, ela tem menos oportunidade de denunciar, pois nunca se tem a 
garantia de quem irá protegê-la depois disso. “Sozinha, ela não terá como se defender 
ficando assim seus agressores impunes” (FERREIRA S, 15/03/2013). 
 Werneck (2007), Em sua analise sobre a questão da violência sobre a mulher diz: “É 
um ato violento tanto aquele que gera um dano físico como o que impede o direito de ir e vir 
de uma pessoa com deficiência, “mesmo que não haja sangue””. Esta fala nos converge as 
violências: psicológica, sexual, moral e patrimonial e que em muitas vezes as violências são 
feitas sob ameaças e não geram sangue, porém em muitos casos afetam a saúde mental, 
mesmo assim a mulher com deficiência não pode ficar fragilizada e escondida, se a violência 
não for denunciada, sua invisibilidade poderá ser eterna, ou seja, deve denunciar. 
No geral os receptores da denúncia entendem que as queixosas estão se constituindo 
como vítimas por terem uma deficiência, sendo assim muitos não compreenderem a 
importância de constar na estatística sobre violência doméstica e intrafamiliar o quantitativo 
de mulheres com algum tipo de deficiência que sofrem violências, e por conta disto não são 
vistas como violências baseadas no gênero com deficiência, ficando na invisibilidade sem a 
 
devida divulgação do percentual destas mulheres que sofrem violência doméstica e 
intrafamiliar. 
De fato, esta parcela da população são vítimas de todos os tipos de abuso e violências 
pelos quais as mulheres sem deficiência passam, porem acrescidos de atos e atitudes que 
podem constituir um agravante e particularmente contra mulher que tenha deficiência 
psicossocial e ou intelectual, que são provavelmente ignoradas em estudos sobre violência 
contra mulheres conforme nos apresenta o relatório: The International Network of Women 
with Disabilities (2001): (1) 
a) isolamento forçado, confinamento e ocultação dento da casa da própria 
família; 
b) aplicação forçada e coercitiva de drogas psicotrópicas ou colocação de 
drogas na comida; 
c) institucionalização forçada e coercitiva; 
d) contenção e isolamento em instituições; 
e) criação de situações pretextadas para fazer a mulher parecer violenta ou 
incompetente a fim de justificar sua institucionalização e privação da 
capacidade legal; 
f) forjamento de rótulos de raiva e auto declaração das mulheres como um 
comportamento de “pessoas com transtorno mental e perigosas” 
(especialmente se a mulher já foi internada em hospitais psiquiátricos); 
g) negação das necessidades e negligência intencional; 
h) retenção de aparelhos de mobilidade, equipamentos de comunicação ou 
medicação que a mulher toma voluntariamente; 
i) ameaças para negligenciar ou cancelar apoios ou animais assistentes; 
j) colocação de mulheres em desconforto físico ou em situações 
constrangedoras por longo período de tempo; 
k) ameaças de abandono cometidas por cuidadores; 
l) violações de privacidade; 
m) estupro e abuso sexual cometidos por membro da equipe ou por outro 
paciente internado em instituições; 
n) restrição, desnudamento e confinamento solitário que replica o trauma 
do estupro; 
o) aborto forçado; e 
p) esterilização forçada. (Relatório “Violência contra Mulheres com 
Deficiência”, 2011) 
 
Alguns tipos de violência domésticas não são imediatamente percebidos como 
violência porque são legais e aceitos pela sociedade, como os cometidos em atendimentos 
médicos, neste caso a autora se refere aos tratamentos que se apresentam especificamente 
nas intervenções psiquiátricas e institucionalizações forçadas. Estes atos de violência são 
cometidos sob autoridade legal do Estado em consequência de uma política governamental 
discriminatória e preconceituosa. 
 
 
 
3 - A cegueira voluntária da sociedade x falta da denúncia anônima 
Embora os tipos de violência praticados possam diferenciar dependendo da cultura e 
situação socioeconômica, há aspectos que são universais como o caso da omissão da 
sociedade em denunciar anonimamente ou não a violência que ocorre no interior dos lares, 
trazendo a realidade a cegueira voluntária da sociedade. 
Com relação a questão da violência doméstica e intrafamiliar que ocorre no ambiente 
privado deve-se questionar o ditado popular que diz: “Em briga de marido e mulher 
ninguém mete a colher”. Será? A sociedade realmente deve fechar os olhos para esta 
realidade enquanto vidas se perdem? A pratica da violência pode acontecer com qualquer 
mulher e pode estar acontecendo com uma pessoa muito próxima. A sociedade e o Estado 
necessitam colocar em pratica a ação da denúncia e acolhimento das vítimas e desta forma 
colaborarem para a diminuição da violência praticada no contexto do lar, bem como a 
praticada dentro dos órgãos públicos. 
Para elaborar este artigo a autora realizou diversas buscas em gráficos e ou pesquisas 
de forma qualitativa e quantitativa em periódicos, artigos publicados, noticia em jornais, 
revistas, internet entre outros, na tentativa de encontrar dados estatísticos e registrados sobre 
a violência intrafamiliar e doméstica, cometidos contra a população feminina com 
deficiência. Foram analisadas as pesquisas e estudos empregados em: La mujer en el mundo, 
2010: Tendências y estadísticas (2), Panorama da violência contra as mulheres no Brasil 
indicadores nacionais e estaduais 2018 (3), Relatório Mundial sobre a Deficiência (Cap. 01-
2012) (4) e Conselho Estadual dos Diretos da Mulher-RJ (1992) (5). Cabe ressaltar que não 
foi possível encontrar dados estatísticos no Brasil, que comprovem a condição de dupla 
vulnerabilidade da mulher com deficiência, como apontado em algumas pesquisas com 
relação a mulher sem deficiência. 
Dentre os autores pesquisados constam: DE ALMEIDA, Haynara Jocely Lima (2009) 
e (2012); SAFFIOTI, H. I. B. (1997). 
3.1 –A conspiração do Silêncio e invisibilidade 
As mulheres em sua trajetória no decorrer da história da humanidade evidenciam sua 
condição de vulnerabilidade na medida em que vivenciam de forma sistemática violências 
das mais variadas e processos de descriminação que reduzem suas potencialidades no 
mundo do trabalho, na escola e na vida cotidiana e quando aliado ao gênero feminino 
encontra-se a condição “deficiência” tal vulnerabilidade é silenciosa e invisível, o que leva a 
ganhar outras dimensões como a conspiração do silêncio, que é o encobrimento dos fatos 
 
por parte dos envolvidos nos episódios de violência. Tal fenômeno ocorre por causa da 
vergonha que as vítimas sentem, da incredibilidade ou da comodidadedos agressores, que 
permanecem impunes enquanto a agressão não é descoberta (Saffioti, 1997). 
Aparenta que o silêncio que há em torno da violência intrafamiliar e doméstica, soma-
se a invisibilidade que as afeta, de modo a tornar extremamente dificultosa a investigação 
que tenha como objeto a violência praticada contra esta população. O espaço doméstico 
pertence à trajetória privada, a violência praticada nele se esconde sob o apagar das luzes e o 
fechar das cortinas. Estas mulheres em sua grande maioria são mantidas fechadas em seus 
lares ou não são vistas publicamente por vários motivos, bem como a falta de acessibilidade 
em todos os sentidos, tornam-se anônimas, sujeitos sem voz ou rosto, e sem direitos. 
3.2 - Mulheres com deficiência e os fatores de risco 
Os fatores de risco são condições resultantes da deficiência em si, combinadas com 
atitudes em relação às mulheres em sociedades patriarcais e machistas. Em algumas 
situações, a sociedade se recusa a reconhecer que certos atos constituem violência e as 
mulheres atacadas podem não se perceber como vítimas porque consideram estas situações 
como habituais, associadas à sua deficiência e dependência. Isto se torna particularmente 
verdadeiro em relação aos atos autorizados no direito da família, tais como intervenções 
psiquiátricas forçadas com drogas que alteram a mente, eletrochoque ou psicocirurgia, 
institucionalização, contenção e isolamento, que são praticados principalmente em mulheres 
com deficiência psicossocial (6) Burstow, B. (2006). 
Mulheres com deficiência podem também ter menos acesso às informações sobre 
como se proteger contra a violência e o estupro devido à violência patrimonial. Os 
perpetradores da violência têm a tendência de acreditar que seus atos não serão descobertos; 
e estas mulheres, muitas vezes, não são levadas a sério quando conseguem, tomam coragem 
ou se cansam de sofrer e buscam denunciar tais atos (7). Esta população, com frequência, são 
mais dependentes de outras pessoas para obter ajuda física e/ou financeira (8). Sob tais 
circunstâncias as mulheres se calam. 
Em conformidade ao acima elucidado, o relatório apresentado por Juan E. Méndez - 
Secretário-Geral da ONU (2015) exemplifica que as mulheres com deficiência correm 
maiores riscos de exposição à violência ao morarem em instituições, lares e hospitais e têm 
menos credibilidade ao denunciarem a violência que ocorra dentro de instituições. Há pouca 
possibilidade de auto defesa eficaz quando alguns tipos de violência (tais como: 
institucionalização compulsória, restrição e confinamento, aplicação forçada de drogas e 
eletro choque, aborto forçado e esterilização) que são permitidos por lei em muitos países (9). 
 
Historicamente conforme o INWWD - 2008, os abusos contra esse grupo de mulheres 
superam os crimes cometidos contra as mulheres sem deficiência, sendo assim, se todas as 
delegacias usassem da prática de assinalar e informar a questão da existência da deficiência, 
poderiam ser comprovados o quantitativo real em estudos e pesquisas voltadas para esta 
área. Nas pesquisas executadas por organizações nacionais e internacionais, como a ONU 
Mulheres, que direcionam seus trabalhos para temas relacionados às mulheres, é relatado 
que a estimativa de que no mundo, cerca de uma em cada cinco mulheres vivem com algum 
tipo de deficiência. 
Segundo as pesquisas acima mencionadas aproximadamente 40% das mulheres com 
deficiência já sofreram algum tipo de violência doméstica e ou intrafamiliar no mundo. Em 
sua expressiva maioria, elas encontram a invisibilidade e o silenciamento de suas vozes 
como barreiras iniciais, inviabilizando o exercício de seus direitos humanos e de cidadania. 
3.3 – A violência sexual x deficiência 
As mulheres são por vezes obrigadas a fazer sexo com os companheiros, devido a 
impossibilidade de se desvencilhar e ou reagir na tentativa de evitar o estupro conjugal em 
decorrência das limitações ocasionadas por sua deficiência. A resistência a este ato pode vir 
a acontecer: Tortura, encarceramento, falta de nutrição e até a inutilização de algum 
aparelho, como muletas, andadores e cadeiras de rodas, etc. Atos de imensuráveis violências 
físicas e emocionais! (Grifos da autora) 
A covardia nos casos de estupro conjugal se repete muito principalmente contra a 
mulher com deficiência, por não conseguir se desvencilhar conforme relata Save the 
Children da Suécia (2002, p. 10) à falta de capacidade física para defender-se eleva o 
quantitativo de mulheres que sofrem violência sexual: “A criança, jovem ou adulto com 
deficiência, em geral, estará em posição de desvantagem física com relação ao adulto”. 
Neste processo entende-se que à falta do desenvolvimento de habilidades linguísticas, 
constituem um problema no compartilhamento da experiência e principalmente na tentativa 
de denunciar a violência acontecida”. Ainda segundo Save the Children da Suécia, existe a 
falta de recursos físicos e emocionais para enfrentar o abuso e a “sociedade civil e as 
instituições ainda estão pouco preparadas para lidar com este assunto sensível e não dispõe 
de meios efetivos para identificá-lo, denunciá-lo e combatê-los através de dispositivos 
legais eficientes”. 
Os perpetuadores da violência sexual ficam seguros de que não serão denunciados, 
devido as condições da mulher abaixo relatadas: 
 
- Surda e ou muda que não terá como se expressar verbalmente, 
apresentam problemas perceptíveis na fala e se mostram indefesas a 
ataques sexuais, uma vez que não conseguem comunicação satisfatória, 
tanto para sua defesa frente ao ataque, como para denunciar os fatos às 
autoridades, vale aqui ressaltar que em muitos casos não são olorizadas e 
não dominam a escrita, além disso os órgãos competentes ao atendimento a 
estas vítimas não contam com um interprete de LIBRAS. 
- Deficiência visual e nem sempre são compreendidas, esta mulher 
necessita de um funcionário capacitado e com paciência para que possa 
compreender os fatos por ela relatados, além disso, o fato de não poderem 
reconhecer visualmente o agressor dificultam a denúncia e facilitam a 
impunidade. 
- A mulher com déficit mental não tem como descrever o ocorrido e ainda 
será desacreditada, e em muitos casos ignorada por não se fazer entender. 
- A mulher cadeirante, a muletante e a que usa órtese ou prótese não terá 
como correr ficando à mercê do seu agressor. 
- A mulher com paraplegia ou tetraplegia ou, ainda, amputação de membro, 
têm inabilidade para a defesa pessoal devido à falta de locomoção, 
complicações com a coordenação motora e em alguns casos com a fala. 
- A mulher com deficiência intelectual, também, devido ao 
comprometimento da área linguístico-cognitiva, são facilmente seduzidas 
tendo em vista que quanto maior o vazio no domínio de linguagem, menor 
é a consciência acerca da realidade do mundo, da noção do certo e errado. 
O fato de apresentar uma deficiência agrava a vulnerabilidade feminina, 
visto que essas encontram-se mais suscetíveis à violência sexual como os 
dados apontados na International Network of Women with Disabilities 
(INWWD), formada em 2008 e composta por organizações, grupos e 
redes de mulheres com deficiência em âmbito internacional, apontou 
que 40% das mulheres com deficiência em todo o mundo são vítimas de 
violência doméstica e 12% são vítimas de estupro.( Save the Children da 
Suécia, (2002, p. 10). 
A crença da vítima sobre não ter escolhas ou sobre não ser capaz de controlar o que 
acontece a ela também pode contribuir para que a violência seja encoberta. Isto significa que 
o senso de responsabilidade sobre a própria experiência está deslocado para o outro, 
geralmente para o cuidador, o que pode gerar um meio perigosamente hierarquizado, onde é 
“permitido abusar” e “proibido reclamar” (Furey, 1994; Murphy e Razza, 1998). 
Segundo dados da ONU, mulheres e meninas com deficiência são três vezes maisvulneráveis a abusos sexuais, estupros e violência doméstica. Em entrevista à TV 
Educativa do Rio Grande do Sul, a psicóloga Vitória Bernardes, que é cadeirante conjectura: 
“Se a gente suspeita sobre a veracidade de uma menina que foi estuprada por mais de 30 
homens, e questiona se foi culpada, ou não, imagina uma pessoa que não tem toda a sua 
capacidade cognitiva. Ela é ainda mais desvalidada”. Pertinente e bem colocada a fala da 
psicóloga e totalmente dentro do mundo real destas mulheres o que mostra quão se faz 
importante o esclarecimento e apontamentos gráficos sobre a violência em geral. 
 
Segundo Cardoso (2001), as intervenções com vítimas de violência doméstica não-
deficientes costumam demonstrar eficácia significativa ao promover: 
a) o contato da vítima com um grupo que partilhe experiências comuns, 
fornecendo condições para diminuir seu sentimento de solidão; 
b) o desencadear de discussões sobre as concepções de violência, direitos e 
eventos traumáticos no grupo; 
c) o fortalecimento da autoconfiança e o empoderamento dos indivíduos, 
por meio do ensino de técnicas de proteção e enfrentamento não-violento e, 
d) a eliminação ou atenuação de sentimentos negativos. Nas intervenções 
típicas com deficientes, para que o atendimento seja efetivo, é preciso 
conhecer suas necessidades especiais, considerando limitações e 
potencialidades (Cardoso, L.C. (2001) 
 
No entanto, as intervenções com deficientes de que se tem conhecimento no Brasil não 
são relacionadas ao tema da violência, sendo que a possibilidade de uma ação eficiente se 
torna pura especulação. Sendo assim, devem ser criadas soluções para minimizar limitações 
visuais, físicas ou mentais, assegurando a inclusão. 
3.5 - Violência psicológica e deficiência 
A violência de gênero, que vai muito além da agressão física, também é tipificada pelo 
abuso psicológico. Na tentativa de desenvolver um mecanismo legal específico para as 
vítimas desse mal, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) apresentou o projeto de 
lei nº 6.622, de 2013, que classifica como crime de violência psicológica os danos 
emocionais que podem ser causados pela diminuição da autoestima, constrangimento, 
humilhação, manipulação, isolamento ou qualquer outra ação de prejuízo à mulher. 
A Deputada Federal Sheridan (PSDB-RR) lembrou que não há, no atual ordenamento 
jurídico, uma legislação específica que trate de violência psicológica. “O que ocorre hoje é 
que os autores de violência psicológica contra a mulher são punidos pelos crimes de ameaça, 
de constrangimento ilegal, de injúria, etc. Ou seja, são crimes com penas muito baixas e 
desproporcionais ao sofrimento que é causado às mulheres vítimas desses delitos”. Ainda há 
muito que caminhar. Sheridan (2016). 
4 - Cronologia das leis voltadas a Mulher 
Em 1988 surgiu a Constituição Federal, acompanhando os tratados internacionais de 
direitos humanos, estabeleceu, pela primeira vez, dispositivos que contemplam a violência 
contra a mulher. 
Em 20 de dezembro de 1993 a ONU, através da Declaração sobre a Eliminação da 
Violência contra Mulheres (10), ficou assim definida a violência: 
 
Artigo 1º - O termo “violência contra mulheres” significa qualquer ato de 
violência baseada no gênero que resulte, ou provavelmente resulte, em 
dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para as mulheres, 
incluindo ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade, 
que ocorram em público ou na vida particular. 
Artigo 2º - A violência contra mulheres será entendida como aquela que 
abrange os seguintes tipos, sem se limitar a estes: 
-Violência física, sexual e psicológica que ocorra na família, incluindo 
agressão, abuso sexual de meninas no lar, violência relacionada com o 
dote, estupro cometido pelo marido, mutilação de genitais femininos e 
outras práticas tradicionais danosas para mulheres, violência cometida por 
pessoa não-cônjuge e violência relacionada com a exploração; 
-Violência física, sexual e psicológica que ocorra na comunidade geral, 
incluindo estupro, abuso sexual, assédio sexual e intimidação no trabalho, 
em instituições educacionais e outros lugares, tráfico de mulheres e 
prostituição forçada; 
 -Violência física, sexual e psicológica perpetrada ou deixada ocorrer pelo 
Estado, onde quer que ela ocorra. ONU – Declaração (p. 2, 1993) 
 
A Convenção para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, aprovada 
pela Organização dos Estados Americanos, conhecida como Convenção de Belém do Pará, 
ocorrida em 1994, reconheceu a violência contra a mulher como uma violação dos Direitos 
Humanos em seu artigo 9º que diz: 
Para a adoção das medidas a que se refere este capítulo, os Estados Partes 
levarão especialmente em conta a situação da mulher vulnerável a 
violência por sua raça, origem étnica ou condição de migrante, de 
refugiada ou de deslocada, entre outros motivos. Também será considerada 
sujeitada a violência a gestante, deficiente, menor, idosa ou em situação 
socioeconômica desfavorável, afetada por situações de conflito armado ou 
de privação da liberdade. (Brasil. 1995) 
 
O Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher — NUDEM foi criado no dia 24 de 
novembro de 1997, através da Resolução DPGE n. 084, e é um órgão de defesa 
especializado no atendimento às mulheres vítimas de violência, responsável pela elaboração 
de políticas institucionais e propagação de iniciativas voltadas para o assunto em questão. A 
Defensoria Pública presta assistência jurídica integral. 
No ano de 2003, surge a Secretaria de Políticas para as Mulheres, e desde sua criação a 
secretaria foi fortalecida por meio da elaboração de conceitos, diretrizes, normas e da 
definição de ações e estratégias de gestão e monitoramento relativas à temática, a partir de 
2003, as políticas de enfrentamento são ampliadas com a criação de normas e padrões de 
atendimento, aperfeiçoamento da legislação, incentivo à constituição de redes de serviços, o 
apoio a projetos educativos e culturais de prevenção à violência e ampliação do acesso das 
mulheres à justiça e aos serviços de segurança pública (PNE, 2011) (11). 
 
Em 2015, o órgão deixou de ter status de ministério. Em 2 de outubro de 2015 a 
Secretaria foi incorporada ao então recém-criado Ministério das Mulheres, da Igualdade 
Racial e dos Direitos Humanos (MMIRDH), unindo a Secretaria de Políticas de Promoção 
da Igualdade Racial, a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria de Políticas para as 
Mulheres e em 20 de junho de 2018 o Decreto nº 9.417, transferiu a Secretaria Nacional de 
Políticas para Mulheres para a estrutura organizacional do Ministério dos Direitos Humanos. 
Ainda em 2003 acontece a criação da lei federal n. 10.778/2003 que estabelece a 
notificação compulsória dos casos, seja a mulher atendida em serviços públicos ou privados. 
Criação em 2005, da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180, em vigor até os 
dias de hoje), com foco no acolhimento, orientação e encaminhamento para serviços 
especializados. 
 A criação destes mecanismos não foram suficientes para diminuição e ou 
erradicação da violência, vindo a surgir a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei “Maria 
da Penha”, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, no que diz respeito à 
instituição de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Foram estabelecidas medidas para a prevenção, assistência e proteção às mulheres em 
situação de violência. 
Em 2009 tivemos no Brasil a criação do Decreto n° 6.949/2009 que ratifica o 
Segundo o artigo 6° da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência, e define no ARTIGO 6 – Mulheres com Deficiência. 
1. Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e meninas com 
deficiência estão sujeitas à discriminação múltipla e, portanto, deverão 
tomar medidas para assegurar a elas o pleno e igual desfrute de todos os 
direitos humanos e liberdadesfundamentais. 
2. Os Estados Partes deverão tomar todas as medidas apropriadas 
para assegurar o pleno desenvolvimento, o avanço e o empoderamento 
das mulheres, a fim de garantir-lhes o exercício e o desfrute dos direitos 
humanos e liberdades fundamentais estabelecidos na presente 
Convenção. 
A convenção apresenta que não existe diferenciação quando a vítima de violência é 
mulher com deficiência, pois ela também é vista de forma naturalizada; porém a 
sociedade tende a considerar mais aceitáveis, o que as torna mais vulneráveis. Portanto 
as mulheres e meninas com deficiência estão sujeitas a maiores riscos, tanto no âmbito 
privativo como no âmbito público, de sofrer violência. A Convenção sobre os Direitos da 
Pessoa com Deficiência (2009) tem status e força de emenda constitucional e assegura o 
total acesso aos direitos humanos e medidas protetivas a esta parcela da população. 
 
Em 2015 foi sancionada a Lei nº13,104 - Homicídio Qualificado (Feminicídio) no 
parágrafo § 7º - A pena do feminicídio é aumentada de um terço até a metade se o crime 
for praticado: 
I – Durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto: 
II- Contra pessoa menor de 14 anos, maior de sessenta anos ou com 
deficiência; e 
III – Na presença de descendente ou ascendente da vítima. 
 
A mais nova Lei nº 13.836, de 4 de junho de 2019, altera a Lei nº 11.340, de 7 de 
agosto de 2006, que obriga o registro da deficiência. 
Ainda assim os casos de violência doméstica e intrafamiliar continuam 
acontecendo em todo nosso território, pois mesmo com a moderna legislação 
constitucional (Constituição Cidadã de 1988) e a Convenção de Belém do Pará,1994), 
legislação infraconstitucional (Lei Maria da Penha de 2006 e Lei Brasileira de Inclusão da 
Pessoa com Deficiência de 2015) e (Lei nº13,104/2015 Homicídio Qualificado 
(Feminicídio), ainda não foram suficientes para coibir a violência doméstica e intrafamiliar. 
Por outro lado, e talvez por falta de representatividade das mulheres, é que os homens se 
veem legitimados a praticar a violência e abusar das mulheres com ou sem deficiência sem o 
menor sentimento de culpa, pois acreditam que não serão denunciados pela dificuldade que 
estas mulheres têm em denunciar. 
A deputada federal Mara Gabrilli (PSDB-SP) reconheceu os avanços da Lei Maria da 
Penha ao longo dos anos, mas o caminho a ser percorrido ainda é extenso, especialmente nos 
casos de violência doméstica e intrafamiliar: “A mulher com deficiência já passa privações 
por falta de políticas públicas na saúde, na educação, no trabalho, e isso acaba 
aumentando a suscetibilidade à violência”. 
Segundo a Deputada o International Network of Womenwith Disabilities (INWWD) - 
2008, composto por várias organizações e redes internacionais, detectou que 70% das jovens 
com deficiência intelectual, por exemplo, já sofreram algum tipo de abuso sexual. Desses 
casos, a maioria nunca chega ao conhecimento das autoridades. São números que te deixam 
chocada, porque no mundo inteiro são 40% das mulheres com deficiência que já foram 
vítimas de violência doméstica, sendo assim: 
“É essa visão de que muitas vezes a mulher com deficiência não tem condição, 
capacidade de assumir postos de trabalho, de ter uma boa colocação dentro de 
uma empresa, ou de assumir grandes cargos. Essa visão limitada e desinformada 
é uma violação, que vai se manifestando de várias formas: como agressão física, 
como intimidação, como fraude, negligência, manipulação psicológica, coerção 
econômica, e tudo isso é fruto de uma cultura que muitas vezes não enxerga essa 
mulher. Precisamos não só conscientizar as próprias mulheres sobre os seus 
direitos, mas também equipar os órgãos de saúde, os órgãos da Justiça, para um 
acolhimento mais adequado a essa população. Pensar que, quanto mais 
 
vulnerável a pessoa fica, mais se sujeita à violência”, avaliou Gabrilli – Em 
defesa na Bancada da Lei Maria da Penha: “Mulher com deficiência é mais 
suscetível à violência” – 2016. 
 
5 - Enfrentamento 
Para o enfrentamento da violência contra a mulher com deficiência e não deficiente, 
além de dar visibilidade aos crimes, é fundamental a manutenção, a ampliação e o 
aprimoramento das redes de apoio à mulher, previstos na Lei Maria da Penha (Lei 
11.340/2006), que viabilizam o atendimento e as alternativas de vida para as mulheres com 
deficiência ou não. 
A rede de atendimento deve garantir o acompanhamento às vítimas e empenhar um 
papel importante na prevenção da violência contra a mulher. Além de ser assistida pelo 
sistema de justiça criminal, a mulher deve conseguir ter acesso à rede também por meio do 
sistema de saúde, já que em muitos casos as mulheres passam várias vezes por essas 
unidades, algumas medidas preventivas podem ser tomadas, como a adaptação dos sistemas 
de denúncias. 
O disque 180, por exemplo, não atende as pessoas com deficiência auditiva. Além 
disso, se faz necessário maior capacitação dos profissionais de segurança pública e do 
sistema antes destas mulheres chegarem a um hospital, a uma delegacia ou a um juizado 
com a contratação de interpretes de libras para que possam assim efetuar o registro da 
violência. 
Os funcionários devem estar preparados para atender a mulher com problemas de 
coordenação motora (dificuldade na fala), a mulher cega, a mulher com problemas 
cognitivos, portanto deve ser empregada a capacitação dos funcionários em toda a rede de 
atendimento. 
6 – Considerações finais 
O presente artigo visa fomentar debates acerca da importância em trazer à tona o 
apontamento nas fichas, gráficos e estatísticas a questão da mulher ter algum tipo de 
deficiência, demonstrando que o governo “necessita” ampliar o empenho nesta “Questão 
Social” para que haja o reconhecimento da existência em larga escala da violência e assim 
publicitar esta questão, para que saia da invisibilidade a prática do não apontamento do 
sofrimento destas mulheres no Brasil. 
Os estudos que abordam a relação entre deficiência e violência são escassos e 
incipientes, notadamente no Brasil, embora haja tendência a se considerar que estas 
 
mulheres tenham maior probabilidade de sofrer episódios de violência, porém não há clareza 
quanto à incidência quantitativa deste fenômeno. 
 Importante que sejam criadas formas de empoderamento, em nossa cidade de Cabo 
Frio, não somente fiquem atreladas aos atendimentos e desfechos de suas denúncias, elas 
precisam de espaços criados com a finalidade de se reunirem em rodas de conversas, 
acompanhadas por psicólogas, assistentes sociais e pedagogas, de forma a acontecer à troca 
de experiências e ajuda mutua, sendo então impulsionadas para capacitação profissional de 
modo a retornar ao mundo profissional, trabalhar, saindo do anonimato e da invisibilidade. 
Destarte a inclusão ativa para diversas mulheres com deficiência que visem o 
desenvolvimento e implementação de programas, políticas e protocolos dirigidos para 
provedores de serviços, responsáveis pela aplicação da lei e outros funcionários que 
trabalhem junto a este público. 
Que sejam criadas formas de veiculações acessíveis para disseminar informações, 
consultorias e denúncias de todos os tipos de violência contra mulheres, adolescentes e 
meninas com deficiência através de levantamento de dados sobre o número de mulheres que 
buscam serviços e programas de prevenção da violência e de atendimento às vítimas e 
utilizem esses dados para desenvolvimento e iniciativas inclusivas. 
Para que estes acontecimentos venham a ser erradicados é de suma importância a 
construção e implantação de ações, sejam incluídas conforme a Lei nº 13.836, de 4 de junho 
de 2019, que altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, o item deficiência nos Boletins 
de Ocorrência – BO, estatísticas e gráficos, de modo a garantir a produção de dados reais 
sobre a violência intrafamiliar e doméstica contra essa população feminina com deficiência.Que estas mulheres possam a vir a participar da Rede Internacional de Mulheres com 
Deficiência (INWWD) (12), sendo este um grupo de organizações internacionais, regionais, 
nacionais ou locais, redes de mulheres com deficiência, e que tem como missão, capacitar as 
mulheres com deficiência através do conhecimento e experiência, e apreender a capacidade 
de defender os seus direitos, em busca do empoderamento para promover mudanças 
positivas e inclusão em nas comunidades e na sociedade, promovendo o envolvimento em 
políticas relevantes em todos os aspectos. De forma a criar um mundo mais justo que 
reconheça a deficiência e o gênero, a justiça e os direitos humanos. 
 
 
 
 
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- https://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/noticias/programa-de-enfrentamento- 
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Faye Waxman Fiduccia’ sobre mulheres e meninas com deficiência - centro para estudos de políticas 
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 (2) La mujerenel mundo, 2010 Tendencias y estadísticas Disponível em 
=>https://unstats.un.org/unsd/publication/Seriesk/SeriesK_19s. 
 
 (3) Panorama da violência contra as mulheres no Brasil indicadores nacionais e estaduais 
Disponível em =>http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR-
2018.pdf 
 
http://www.escoladegente.org.br/
http://www.justificando.com/2016/11/21/precisamos-falar-sobre-violencia-contra-mulheres-com-deficiencia/
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http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/06/FBSP_Atlas_da_Violencia_%202018_Relatorio
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https://tucano.org.br/lei-maria-da-penha-mulher-com-deficiencia-e-mais-suscetivel-a-violencia/
https://tucano.org.br/lei-maria-da-penha-mulher-com-deficiencia-e-mais-suscetivel-a-violencia/
https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/pdf/Relatrio_Violncia_Mulher_v9formatado.pdfhttps://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/pdf/Relatrio_Violncia_Mulher_v9formatado.pdf
https://unstats.un.org/unsd/publication/Seriesk/SeriesK_19s
http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR-2018.pdf
http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR-2018.pdf
 
(4) Relatório Mundial sobre a Deficiência (Cap. 01) - (2012). Disponível em 
=>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44575/9788564047020_por.pdf;jsessionid=02C7
FA26522B807A357D93CEF89F720B?sequence=4 
 
 (5) Conselho Estadual dos Diretos da Mulher-RJ (1992) 
 
(6) Burstow, B. (2006). Electroshock as a formofviolenceagainstwomen. ViolenceAgainstWomen, 
12(4), 372-392. 
Burstow, B. (2006). Understandingandending ECT: A feminist perspective. 
CanadianWomanStudies, 25(1, 2), 115-123. 
 
(7) WomenwithDisabilitiesAustralia (2004), op. cit. 
 
 (8)Ibid. 
 
 (9) Interim reportoftheSpecialRapporteuronthequestionof torture andother cruel, 
inhumanordegradingtreatmentorpunishment, op. cit 
 
(10) Declaração sobre a Eliminação da Violência contra Mulheres. 20 /12/1993 ONU. Retirado do 
Gabinete de Documentação e Direito Comparativo, 
http://direitoshumanos.gddc.pt/3_4/IIIPAG3_4_7.htm 
(11) Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres Secretaria Nacional de 
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres Secretaria de Políticas para as Mulheres – Presidência 
da República Brasília, Iriny Lopes Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres 2011 
(12) Rede Internacional de Mulheres com Deficiência (INWWD) - https://inwwd.wordpress.com/ 
 
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44575/9788564047020_por.pdf;jsessionid=02C7FA26522B807A357D93CEF89F720B?sequence=4
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/44575/9788564047020_por.pdf;jsessionid=02C7FA26522B807A357D93CEF89F720B?sequence=4

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