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Resenha do artigo: O futuro do direito penal negocial e o Estado Democrático de Direito

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Universidade de Ribeirão Preto
Faculdade de Direito Laudo de Camargo
Curso de Direito
Resenha do artigo: O futuro do direito penal negocial e o Estado Democrático de Direito
MARIA EDUARDA CASTRO CORRÊA
RIBEIRÃO PRETO
Dezembro/2020
RESENHA DO ARTIGO: O FUTURO DO DIREITO PENAL NEGOCIAL E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
 
O artigo em análise trata do instituto da colaboração premiada no cenário jurídico brasileiro, com ênfase na dificuldade da sua aplicação no País. 
Introdutoriamente é feita uma análise da constante transformação da sociedade e o substancial aumento da criminalidade, fatos estes que justificam a demanda por novos meios de obtenção de provas, como o direito penal negocial. 
Em seguida é feito um breve esclarecimento a respeito da justiça consensual nos sistemas da commom law e civil law. Este tipo de justiça é comum nos países que adotam o sistema da commom law, como o norte-americano, isto é, que resolvem os casos através do método indutivo, de forma pragmática, com ampla liberdade de negociação. Contudo os países que seguem o sistema civil law, dentre eles o Brasil, no qual as restrições de acordo são rigorosas e dogmáticas, em regra não adotam esse método, mas recentemente tem aberto exceções devido os espaços de consenso estarem ganhando grande notoriedade.
No entanto, essa inserção de um método do sistema commom law em um sistema civil law causa inúmeras controvérsias no que diz respeito a sua constitucionalidade e aplicabilidade, e está é problemática abordada pelo artigo, analisar se a legislação que regulamenta a colaboração premiada se mostra suficiente para enfrentar esses conflitos. 
Apesar da influência do sistema norte-americano no sistema brasileiro, como por exemplo, os mecanismos previstos na Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/95) e o próprio instituto da colaboração premiada (Lei 12.850/2013), a regra continua sendo a obrigatoriedade da ação penal, sendo vedada a possibilidade de qualquer negociação dos direitos fundamentais do acusado. 
A colaboração premiada também conhecida como delação premiada, é uma forma de investigação e meio de obtenção de prova amparado na cooperação de sujeito suspeito de envolvimento nos fatos investigados, em oferecimento de benefício penal concedido pelo Ministério Público. Atualmente regulamentada na Lei 12.850/2013 (Lei das Organizações Criminosas). 
A aludida Lei estabelece requisitos para a aplicação deste instituto, quais sejam: que o acordo pactuado seja de forma voluntária e efetiva e; que todos os acordos firmados sejam escritos. Cumpridos tais requisitos o colaborador é informado de que ao aceitar a colaboração renuncia-se o direito ao silêncio e tem o dever de proferir informações verdadeiras, completas e úteis para a investigação, para que posteriormente lhe seja concedido os benefícios firmados no acordo. Quanto aos benefícios, estes dependeram de análise do Ministério Público sobre a figura do colaborador e o momento processual que se encontra o procedimento.
Considerando as recorrentes dúvidas e discussões referentes a aplicação do instituto, o Ministério Público firmou orientação acerca da matéria, chamada de “Manual de Colaboração Premiada”. Entretanto, este manual que procura em tese trazer soluções, tem se mostrado duvidoso, ao prever segurança inferir ao colaborador perante o Ministério Público, ao passo que é dado ao juiz legitimidade para desfazer o acordo firmado com o MP e descumprir com o benefício, seja ele de quantum de pena ou até mesmo a não aplicação da mesma. Da mesma forma ocorre nos casos em que as provas narradas pelo colaborador forem usadas contra ele mesmo em outras esferas, nota-se a total insegurança do colaborador e a ruína da eficácia do instituto da colaboração.
Outro aspecto comentado foi o recente entendimento do STF que legitima autoridades policiais a firmar acordos de delação premiada (artigo 4º, §§ 2º e 6º, da Lei 12.850/13). Sendo assim, tanto o Ministério Público, quanto o Delegado policial são legitimados para tanto. Esse assunto rendeu muita discussão, por um lado a Procuradoria Geral da República propôs ação direita de inconstitucionalidade em face do dispositivo alegando que a titularidade da ação penal compete apenas ao órgão acusatório e violava os princípios da segurança jurídica; por outro lado as autoridades policiais defendiam a participação do Delegado de Polícia com base na própria lei e na ideia de igualdade entre as instituições. Esse conflito foi apaziguado com a decisão do STF julgando improcedente a ação da Procuradoria e constitucional o texto da Lei, ao entender que o instituto de colaboração premiada vincula a autoridade competente de acordo com o momento em que realizado. Sendo o Delegado agente público responsável pela fase investigatória, neste momento será competente e, após instaurada ação penal a competência pertence exclusivamente a acusação. Essa decisão foi positiva pois reconheceu a previsão expressa da Lei, porém também pode ser fonte de insegurança no instituto, já que o titular da ação penal não tem capacidade de intervir no acordo. Para solucionar esse problema, sugerem, bastaria exigir a aprovação do Ministério Público, assim a autoridade judicial respeitaria de forma plena. 
Pode-se concluir, com base nas informações dispostas no artigo, que a colaboração premiada, originada da commom law, embora traga celeridade aos procedimentos investigativos, sofre de insuficiência legislativa no Brasil, ao ponto de tornar sua aplicação frágil e insegura às partes envolvidas no acordo. Os referidos embates sobre o tema deixam clara a ausência de mudança do posicionamento do Ministério Público e Poder Judiciário, que apesar de demonstrarem interesse em estabelecer o modelo negocial, ao mesmo tempo criam barreiras a sua legítima aplicação. Obviamente, o fato do Brasil ser signatário de outro sistema, civil law, faz com que muitas das divergências do instituto não possam ser tratadas da mesma forma que seriam no sistema commom law. Por essa razão, a fim de solucionar e evitar desacordos, é necessário que se trabalhe uma sistematização detalhada do instituto, no qual se defina e amplie os benefícios estipulados aos colaborados, assim como estabelecer a possibilidade de abrangência em outras esferas e, principalmente, garantir o respeito aos acordos estabelecidos.

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