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TCC NOTA 10_Wedell Messias_Não Persecução

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MUST UNIVERSITY
MASTER OF SCIENCE IN ………….
NOME COMPLETO DO ALUNO
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP) NOS TERMOS DA LEI Nº 13.964/2019
FLORIDA – USA
2023
NOME COMPLETO DO ALUNO 
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP) NOS TERMOS DA LEI Nº 13.964/2019
Trabalho de Conclusão Final apresentado como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE no Curso de MASTER OF SCIENCE IN .......... da MUST UNIVERSITY – Florida USA.
Orientador (a): Prof. (a) Dr. (a) NOME COMPLETO
FLORIDA – USA
2023
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Acompanhamento ANPP ..................................................................... 18
Gráfico 2 – Acordos no Judicário............................................................................ 43
RESUMO
A presente dissertação tem a finalidade de abordar de maneira geral como é fundamentado o acordo de não persecução penal e como este instituto tem sido utilizando buscando lastro em outros países para sua execução. Principalmente ao permitir a solução consensual de conflitos penais entre o Ministério Público e o acusado. Contudo, apesar de seus objetivos louváveis, esse mecanismo apresenta algumas falhas legislativas que podem surgir como um prejuízo no tema de eficácia e legitimidade. Uma das principais críticas ao acordo de não persecução penal diz respeito à sua falta de regulamentação adequada. A legislação brasileira não estabelece de forma clara e precisa os critérios e limites para a sua aplicação, o que gera insegurança jurídica e abre margem para interpretações arbitrárias por parte dos operadores do direito. Outra questão problemática é que nem todos os tipos penais são aceitos na persecução penal, e para tanto se faz mister analisar os motivos que possivelmente pode levar o legislador a se posicionar de maneira segregada. O órgão ministerial possui ampla discricionariedade na definição das condições e o acusado geralmente não lhe é assegurado plena defesa por meio de um defensor. Diante dessas falhas legislativas, é necessário um aprimoramento da normatização do acordo de não persecução penal, estabelecendo critérios claros, garantindo a equidade entre as partes e prevendo mecanismos de revisão e controle judicial. Por fim, traçou-se um panorama de liberdade e gerenciamento dos direitos humanos voltados para a persecução na área criminal. Neste sentido será respondido quais são os requisitos e vedações ao Acordo de Não persecução Penal e que limitam o estudo sobre o tema. Assim sendo, Foi analisado também diferentes perspectivas e evidenciado os principais resultados obtidos. Através da revisão bibliográfica, coleta e análise de dados, foi possível aprofundar o conhecimento sobre o assunto e contribuir para o avanço do campo de estudo. Este trabalho, teve a utilização da metodologia de revisão de literatura, combinada com uma abordagem que recorreu a diversas bases de dados. A pesquisa foi conduzida como um processo de revisão bibliográfica e qualitativa.
Palavras-chave: Persecução Penal; Direitos Fundamentais; Leis; Ministério Público. Acordo plea bargaining.
ABSTRACT
The present article aims to provide a general overview of the legal foundation of the non-prosecution agreement and how this institute has been employed, drawing on other countries for its execution. Primarily, it allows for the consensual resolution of criminal conflicts between the Public Prosecutor's Office and the accused. However, despite its commendable objectives, this mechanism exhibits some legislative shortcomings that may pose a detriment to its effectiveness and legitimacy. One of the main criticisms of the non-prosecution agreement pertains to its lack of adequate regulation. Brazilian legislation does not establish clearly and precisely the criteria and limits for its application, leading to legal uncertainty and leaving room for arbitrary interpretations by legal practitioners. Another problematic issue is that not all types of offenses are accepted for non-prosecution, thus necessitating an analysis of the possible reasons that may lead the legislator to take a segregated stance. The prosecutorial body has broad discretion in defining the conditions, and the accused is generally not guaranteed full defense through legal representation. In light of these legislative flaws, it is imperative to refine the regulation of the non-prosecution agreement, establishing clear criteria, ensuring equity between the parties, and providing mechanisms for review and judicial oversight. Finally, a panorama of freedom and management of human rights focused on prosecution in the criminal justice field is outlined. In this context, the requirements and limitations of the Non-Prosecution Agreement will be addressed. This work utilized the methodology of literature review, combined with an approach that involved consulting various databases. The research was conducted as a process of bibliographic and qualitative review.
Keywords: Criminal Prosecution; Fundamental Rights; Laws; Public Prosecutor's Office; Plea Bargaining.
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP) NOS TERMOS DA LEI Nº 13.964/2019
Nome do Acadêmico
SUMÁRIO
Sumário
1.	INTRODUÇÃO	7
2.	APLICABILIDADE DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL DIANTE DA LEI Nº 13.964/2019	11
2.1.	Aspecto Histórico Internacional	12
2.1.1.	Acordo plea bargaining	14
2.2	Tipos Penais com previsão de acordo e suas vedações ao ANPP	21
3.	INTERPRETAÇÕES ATUAIS DA JURISPRUDÊNCIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES	27
3.1.	As Implicações Econômicas, sociais na Justiça Alternativa e Restaurativa	35
3.2.	Outras formas de Resolução de Conflitos no âmbito da Justiça Penal	41
CONSIDERAÇÕES FINAIS	46
1. INTRODUÇÃO
A recentemente aprovada Lei nº 13.964/19, popularmente reconhecida como Lei Anticrime, estabeleceu significativas modificações que abrangem o sistema de justiça criminal, visto que introduziu reestruturações no Código Penal, Código de Processo Penal, Lei de Execução Penal, Lei de Crimes Gravíssimos, Lei de Monitoramento Telefônico entre outros regulamentos legais. A nova legislação é resultado do diálogo ocorrido no Congresso Nacional que analisou propostas parlamentares, o Projeto de Lei 10.372/2018, elaborado por uma comissão de especialistas presidida pelo então Ministro da Justiça Alexandre de Moraes, do Projeto de Lei 10.373/2018 e do Projeto de Lei 882/2019, encaminhado pelo atual Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. Importante mencionar, também, que o tema está relacionado ao Projeto de Lei 8.045/2010 do Senado, que busca modificar o Código de Processo Penal, o qual inclui disposições semelhantes.
Devido à necessidade de estabelecer um instrumento exclusivamente extrajudicial e que desafogasse o sistema judiciário, surgiu o Acordo de Não Persecução Penal – ANPP, onde sem a instauração de qualquer processo (nem mesmo a apresentação de denúncia), a eventual admissão dos fatos pelo investigado não implica em uma confissão de culpa, como se conduzisse o pactuante a receber uma sentença do juiz. 
O acordo de não persecução penal não deve ser confundido com o procedimento do plea bargaining norte-americano, que possui um caráter coercitivo ao envolver uma decisão penal. Isto é evidente, pois, se o investigado violar os termos estabelecidos no acordo de não persecução penal, a única consequência será o oferecimento de denúncia pelo membro do Ministério Público, não a execução das obrigações acordadas - de maneira análoga ao que ocorre após o descumprimento das transações penais, conforme previsto na Súmula Vinculante nº 35 (BRASIL, 2014c). Portanto, apesar de o plea bargaining norte-americano, assim como o acordo de não persecução penal, se constituírem como mecanismos de resolução consensual de casos criminais, o primeiro ocorre no âmbito de um processo penal sob a ameaça de sanção pelo Juiz do Estado, ao contrário do último, que visa justamente evitá-lo, conferindo prioridade à não coerção. Com efeito, o investigado não está obrigado a se apresentar aoMinistério Público para discutir os fatos e, eventualmente, admiti-los, em virtude do princípio da não autoincriminação forçada ou inexigibilidade da autoincriminação. É importante ressaltar que o acordo de não persecução penal só ocorre na hipótese de confissão ou autoincriminação voluntária. Portanto, nenhuma garantia constitucional é desrespeitada em relação ao investigado, pelo contrário: nossa experiência demonstra uma taxa de aceitação superior a 93% em acordos de não persecução penal, sempre com a orientação e consentimento da defesa técnica. 
Entre as alterações realizadas no sistema jurídico, merece destaque o acordo de não persecução penal, que amplia a discussão sobre a justiça negociada, suavizando o princípio da obrigatoriedade da ação penal, desde que sejam cumpridos determinados requisitos e condições para sua aplicação. 
Com o surgimento do acordo de não persecução penal, previsto no artigo 28-A do Código de Processo Penal, ocorreram mudanças significativas na lógica dos profissionais do direito, devido à possibilidade de encerrar o processo criminal por meio de negociação. Além disso, foram acrescentados o artigo 116, inciso IV, no Código Penal, o artigo 16, parágrafo 3º, na Lei 8.038/90 e o artigo 581, inciso XXV, no Código de Processo Penal, que complementam o acordo de não persecução penal, tratando, respectivamente, de causa que impede a prescrição, possibilidade de aplicação do instituto em ações penais originárias e recurso contra a decisão de não homologação.
No Brasil, de forma geral, o Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) constitui um acordo jurídico pré-processual entre o Ministério Público (MP) e o investigado, juntamente com seu advogado, nos casos de infração penal sem violência ou ameaça grave, em que a lei prevê uma pena mínima inferior a 4 anos, mediante o cumprimento de determinadas condições. Ao final, é decretada a extinção da punibilidade, evitando assim o início do processo penal e a reincidência (enunciado nº 25 do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais, CNPG).
Assim como na transação penal prevista no artigo 76 da Lei nº 9.099/1995, percebe-se uma mitigação do princípio da obrigatoriedade estabelecido no artigo 28 do Código de Processo Penal (STF, RE 795.567/PR), e não uma exceção. De fato, esse princípio deve ser interpretado como um verdadeiro dever do Ministério Público de agir, seja por meio da apresentação de denúncia (visão clássica e tradicional do processo penal), seja por meio de um acordo, não sendo possível argumentar, nesse último caso, que o MP esteja sendo omisso ou negligente.
Nos cenários em que não se verifica a supressão do procedimento persecutório por meio da formalização do Plea Bargain, prossegue-se com o rito delineado a seguir. Após a elaboração da acusação, seja por meio da aceitação desta pelo Grande Júri (indictment), pela apresentação de uma nova acusação pelo referido órgão (presentment), ou mesmo pela apresentação direta perante o juiz (information), este último designa a data de início do julgamento. Este se inicia com a formação do petty jury, usualmente composto por doze leigos (laymen), os quais, enquanto jurados (jurors), e seu líder (foreman), têm a atribuição de deliberar sobre questões de fato e proferir um veredicto favorável à inocência (not guilty) ou à culpabilidade (guilty) do acusado.
Nessa fase, predomina a oralidade e a informalidade dos procedimentos, abordando a produção das provas (The Law of Evidence), que, por sua vez, são inicialmente demandadas pelo autor da queixa (complaint), exigindo-se apenas o relato dos fatos, a identificação da autoria e a solicitação do remédio.
Com o júri constituído, o processo tem início com as alegações iniciais (arraignment the trial judge) das partes, envolvendo a leitura formal da acusação, seguida de uma exposição sucinta dos fatos e uma enumeração concisa das provas a serem apresentadas tanto pelo Estado quanto pela defesa, sem que haja espaço para argumentações ou inferências a partir das evidências.
As diligências do inquérito policial, bem como os elementos de prova colhidos na fase anterior, não são admitidos, e o acusado (defendant) não se encontra obrigado a prestar depoimento, respeitando o seu direito à não autoincriminação (privilege against self-incrimination), se que tal postura possa ser interpretada em prejuízo de sua defesa.
No que tange à decisão proferida pelo júri popular, o denominado grand jury trial, é imperativo sublinhar que, embora sua competência, composição e a necessidade de unanimidade nos veredictos possam variar conforme a unidade federativa, tal modalidade ainda representa o método mais comum de condução do processo penal nos Estados Unidos. Isso ocorre, sobretudo, por ser um modelo procedimental e também por constituir um direito subjetivo das partes, especificamente fundamentado na célebre ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (ANPP) NOS TERMOS DA LEI 13.964/19.
A discussão em relação a esse acordo está ocorrendo de maneira enfática, seja em seu apoio, seja em sua total rejeição. No contexto do Ministério Público nacional, algumas Procuradorias-Gerais de Justiça expressaram uma visão negativa em relação à adoção imediata desse instituto, o que levou a um posicionamento firme por parte do Conselho Nacional do Ministério Público. Por outro lado, recentemente, foram propostas duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, questionando não apenas aquele acordo, mas também a própria resolução como um todo.
Desta forma, buscar-se-á apresentar considerações gerais sobre os requisitos e restrições do acordo de não persecução penal, a fim de abordar as questões da confissão na celebração do acordo, qual a influência do tempo na sua aplicabilidade, a possibilidade de acordo envolvendo crimes graves e repercussões da reclassificação e absolvição na proposta de acordo.
2. APLICABILIDADE DO ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL DIANTE DA LEI Nº 13.964/2019 
Em meados de 2017, o Conselho Nacional do Ministério Público promulgou a Resolução 181, introduzindo o "acordo de não persecução penal", um mecanismo de justiça penal negociada que implica na não apresentação de denúncia em casos específicos, condicionada à confissão do investigado e ao cumprimento de medidas restritivas de direitos. Contudo, a implementação desta inovação na legislação processual penal gerou controvérsia, pois careceu de um debate prévio apropriado, deixando a análise pós-implementação como principal enfoque deste artigo.
Essa novidade surgiu como uma resolução do Conselho Nacional do Ministério Público, através das Resoluções nº 181/2017 e 183/2018. Na época, enfrentou resistência, com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) movendo ações diretas buscando a declaração de inconstitucionalidade das resoluções, especialmente devido à suposta invasão de competência exclusiva da União em matéria processual penal, o que proibiria a regulamentação por meio de normas administrativas. A ausência de uma lei específica também gerou incertezas jurídicas e debates sobre a não obrigatoriedade do acordo, tornando a sua introdução um ponto crítico na discussão sobre a utilização desse instituto, uma vez que ele foi posteriormente incorporado no Código de Processo Penal e tornou-se de aplicação obrigatória.
A Lei 13.964, conhecida como Pacote Anticrime, introduziu uma série de alterações significativas em 17 leis, incluindo o Código Penal, o Código de Processo Penal e a Lei de Execuções Penais, impactando profundamente o sistema de justiça criminal brasileiro. Uma das principais mudanças foi a ampliação das técnicas de investigação, como a infiltração de agentes e a utilização controlada de meios de obtenção de prova, visando desarticular organizações criminosas e prevenir delitos. Além disso, houve alterações no tratamento de crimes mais graves, como homicídios cometidos por organizações criminosas e crimes de violência doméstica, resultando em penas mais severas e restrição de benefícios processuais.
O Pacote também abordou a execução penal, estabelecendo medidaspara promover maior efetividade das penas, como a antecipação de regime de cumprimento de pena e a criação de um banco nacional de perfil genético. No entanto, a implementação e o impacto dessas mudanças ainda estão em curso, exigindo uma análise cuidadosa para garantir conformidade com os princípios constitucionais e direitos fundamentais.
Para ser um paradigma comparativo, o sistema processual penal deve não apenas estar estabelecido legalmente ou constitucionalmente, mas também passar pelo crivo do conceito filosófico de justiça, como proposto por Albert Camus, para evitar inovações contrárias aos seus princípios.
2.1. Aspecto Histórico Internacional
Diversos são os fenômenos que propiciam a aplicação de direito estrangeiro, não pertencente à jurisdição nacional, em um país, tais como tratados, convenções e protocolos de intenções. Esses procedimentos se inserem no âmbito do direito internacional, refletindo as intenções das nações e requerem uma análise específica, que extrapola o escopo do presente artigo. O que se evidencia nessa denominada internalização do direito estrangeiro é sua influência sobre o ordenamento jurídico nacional, em uma interação recíproca, pois cada nação contribui de maneira singular para o aperfeiçoamento das instituições legais em escala global. onsiderando que o sistema jurídico dos Estados Unidos se fundamenta no Common Law (Direito Consuetudinário), além de incorporar a prática da justiça negocial, as investigações de natureza criminal essencialmente se concentram na formulação de acusações pelo Ministério Público, que tem a prerrogativa de oferecer aos suspeitos a opção do plea bargain ou plea deal. Trata-se de um mecanismo pelo qual o acusado, nos estágios iniciais das diligências pré-processuais, pode admitir a responsabilidade pelo evento delituoso, renunciando ao direito a um julgamento judicial de mérito e, consequentemente, ao subsequente veredito, em troca de receber, de imediato, uma sanção penal (DOTTI E SCANDELARI, 2019).
Como instrumento de resolução de questões por meio de normas de direito internacional privado para suplementação do ordenamento pátrio, o direito estrangeiro se manifesta como uma prática de jurisdição internacional usual. 
Considerando que o sistema jurídico dos Estados Unidos se fundamenta no Common Law (Direito Consuetudinário), além de incorporar a prática da justiça negocial, as investigações de natureza criminal essencialmente se concentram na formulação de acusações pelo Ministério Público, que tem a prerrogativa de oferecer aos suspeitos a opção do plea bargain ou plea deal. Trata-se de um mecanismo pelo qual o acusado, nos estágios iniciais das diligências pré-processuais, pode admitir a responsabilidade pelo evento delituoso, renunciando ao direito a um julgamento judicial de mérito e, consequentemente, ao subsequente veredito, em troca de receber, de imediato, uma sanção penal (DOTTI E SCANDELARI, 2019).
Com uma organização intricada que engloba diversas entidades federais, estaduais e municipais, as forças policiais nos Estados Unidos operam no intuito de resguardar os cidadãos, investigar infrações e assegurar a segurança nacional. Segundo Samuel Walker, perito em aplicação da lei e justiça criminal, "o sistema de aplicação da lei nos Estados Unidos é altamente descentralizado, com uma variedade de agências e jurisdições que possuem diferentes obrigações e autoridades" (WALKER, 2020, p. 15). Suas origens remontam à Grécia e Roma antigas, com Marc Ancel, um renomado estudioso do direito comparado, afirmando que foi Charles Louis de Secondat, o Barão de Montesquieu, o primeiro dos comparativistas, por utilizar legislações de outros países para escrever seu famoso "O Espírito das Leis", em 1748 (WALKER, 2020, p. 15).
Esse entrecruzamento normativo se manifesta como uma interação entre os direitos estrangeiro e nacional, implicando uma colaboração recíproca entre os Estados, com abordagens jurídicas compartilhadas, de maneira voluntária ou consensual, sem provocar transformações substanciais no contexto normativo interno, resultando apenas em modificações periféricas nos sistemas jurídicos. (DOTTI E SCANDELARI, 2019). Assim, os processos de internalização de direitos, como fenômenos concomitantes, progressivos, assimétricos e variáveis conforme a matéria, o tempo e o espaço, se revelam fundamentais para o aprimoramento do direito interno, para a modificação da concepção global e para a aproximação dos povos na busca por soluções jurídicas para questões comuns.
2.1.1. Acordo plea bargaining
O plea bargaining é um mecanismo pactuado entre a acusação e a defesa, em que o acusado admite sua culpa em troca de uma pena menos severa, evitando, ademais, um processo prolongado (GIVATI, 2011, p. 2). Este procedimento envolve uma negociação entre as partes no contexto do processo criminal, em que o acusado confessa sua culpabilidade (guilty plea ou plea of guilty) ou declara a desistência de contestar o processo (declaração de nolo contendere), em contrapartida a uma pena mais clemente, além de resultar na conclusão mais expedita do processo e na economia de recursos tanto para o Estado quanto para o acusado. Originado do common law, o sistema jurídico norte-americano não se pauta na estipulação de preceitos ou princípios como ocorre no civil law, sendo sua aplicação embasada em casos precedentes. Isto é, é o caso específico que estabelece a norma geral, e não o contrário, sendo ancorado no respeito a decisões anteriores, o chamado "precedent".
Diferentemente do civil law, Enquanto no civil law as normas derivam de preceitos gerais que regulamentam as interações do dia a dia, promovendo uma análise detalhada das leis e uma construção teórica cuidadosa dos institutos jurídicos, o common law observa a norma emergir da resolução judicial de um conflito de interesses específicos. O sistema de precedentes se configura como um exame minucioso de casos anteriores para, após essa verdadeira "investigação", aplicar a decisão passada que melhor se adequa à situação presente (DOTTI E SCANDELARI, 2019). Nesse contexto, o instituto do plea bargaining se insere: arraigado no convencionalismo e refletindo a cultura jurídica norte-americana, que nunca se preocupou em teorizar o exercício do direito de ação, o direito penal atende a motivações políticas. Isso resulta, por um lado, na gradual despenalização prática de condutas socialmente insignificantes e, por outro, na concentração de esforços em crimes de maior impacto, onde o acordo entre as partes possibilita uma aplicação de pena mais justa ao acusado.
O procedimento do plea bargaining no Sistema Federal dos Estados Unidos da América está estabelecido no "Federal Rules of Criminal Procedure, Rule 11 – Pleas", sendo importante ressaltar que cerca de dois terços dos Estados seguem essas regras, embora detenham autonomia para legislar sobre matéria penal. Quando o acusado apresenta uma "plea of nolo contendere" – Rules 11(a) (3) – não admite a culpa conforme apresentada pela acusação: simplesmente opta por não contestar o que lhe foi imputado. A consequência mais marcante dessa opção é a não formação, de imediato, de título executivo judicial desfavorável ao acusado, tratando-se de uma sentença penal condenatória sem repercussões na esfera civil (SANTOS, 2019, p. 36-38). 
Observa-se que, caso o acusado opte por se declarar culpado ou escolha não contestar a acusação, o processo tenderá a uma conclusão mais rápida, o que resulta, também, em economia processual. Se, por outro lado, decidir se declarar inocente, o processo prossegue para um julgamento, que deve ser ágil e público, em princípio conduzido pelo grande júri. Se as partes desejarem negociar um acordo, dão início ao denominado "Procedimento de Acordo Plea Agreement Procedure", regulado na Rules 11 (c) (1). Todo o procedimento deve ser devidamente registrado ("gravado os procedimentos" - Rules 11(g)), a fim de documentar os dois requisitos subjetivos necessários para a admissão do acordo: a voluntariedade e o entendimento da declaração do acusado.A voluntariedade é estipulada na Rules 11(b) (2), na qual a Corte de Justiça somente pode aceitar uma "plea of guilty" ou uma declaração de "nolo contendere" após se dirigir pessoalmente ao acusado e constatar que o pedido não foi resultado de coação física, ameaças ou promessas legalmente inviáveis. A compreensão, por sua vez, é extraída do item 11, no qual há uma extensa lista de medidas a serem tomadas pelo juízo para averiguar se o acusado possui consciência e entendimento pleno sobre a declaração que está fazendo perante o tribunal.
Com o propósito de assegurar ao Tribunal que o Acusado possui pleno entendimento das implicações de sua declaração, todas estas medidas são adotadas. A Suprema Corte dos Estados Unidos já estabeleceu que o grau de discernimento requerido para aceitar um "plea of guilty" ou uma declaração de "nolo contendere" equivale ao necessário para que o acusado seja submetido a um julgamento formal, passível de aplicação de uma sanção penal, visto que essas declarações configuram, efetivamente, como verdadeiras sentenças penais condenatórias.
É crucial explorar alternativas que considerem as nuances dos transtornos mentais e que assegurem a proteção da sociedade, sem perpetuar estigmas ou prejudicar a saúde mental desses indivíduos. Conforme enfatiza Oliveira: "o tema é extremamente sensível e demanda a concepção de abordagens mais humanizadas e eficazes para lidar com essa realidade" (OLIVEIRA, 2022). O Juiz, ao realizar essa análise, visa verificar a voluntariedade, consciência e liberdade da declaração, bem como se o acusado possui plena orientação no tempo e espaço. 
O gráfico a seguir oferece uma representação visual do acompanhamento realizado pela equipe multiprofissional no âmbito do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP). Este instrumento é essencial para monitorar o progresso e o envolvimento das diferentes disciplinas que compõem a equipe.
Gráfico 1 – Acompanhamento ANPP
Fonte: CNJ (Alternativas Penais, CNJ, 2023)
Em seguida, uma vez o Juiz convencido da validade legal da declaração, passa a verificar se existe, nos autos, um mínimo probatório adequado (Rules 11(b) (3))18. Isto se deve ao fato de que a declaração, seja uma plea of guilty ou um nolo contendere, detém a natureza jurídica de sentença penal condenatória, não necessitando de um respaldo fático mínimo para sua aceitação. Caso o Juiz considere que não há elementos mínimos suficientes para validar a declaração, ele recusará o acordo celebrado pelas partes, exercendo, assim, um verdadeiro escrutínio judicial das evidências.
Ao proceder à análise comparativa dos mecanismos de consenso no âmbito criminal dos países mencionados, chega-se à conclusão de que, embora os institutos de acordo no processo criminal estipulados na Lei 9.099/95 revelem clara influência do modelo norte-americano, não se pode afirmar que o Brasil tenha adotado em sua totalidade o modelo do plea bargaining.
Em primeiro lugar, isso ocorre porque, apesar das semelhanças, no sistema jurídico brasileiro, a acusação é compelida a apresentar uma proposta ao acusado, desde que este preencha os requisitos legais, o que se configura como um direito subjetivo dele. Isso evidencia de maneira inequívoca a ligação com o modelo da Civil Law, que recorre à legislação para estabelecer critérios a serem rigorosamente seguidos pelos órgãos componentes do sistema judiciário.
Ademais, as partes ainda dependem da participação do Poder Judiciário para firmarem acordos, mesmo que sejam preliminares. Não existe, no ordenamento legal, previsão para a realização de audiências entre as partes sem a intervenção de um membro do sistema judiciário, seja ele um conciliador, um juiz leigo ou um magistrado togado. Isso difere do modelo estabelecido pelas Federal Rules of Criminal Procedure 11, que inclusive proíbem a participação do Tribunal nesses debates – (c) (1), o que demonstra a disposição das partes para dialogarem sobre o processo.
Ainda que existam outros modelos em vigor no Brasil atualmente, como o estabelecido na Lei de Organização Criminosa (Lei 12.850/2013), e projetos de lei em tramitação, como o PL 8045/2010 – proposta legislativa destinada a criar o Novo Código de Processo Penal –, não contamos em nosso sistema jurídico com uma equivalência ao plea bargaining norte-americano. Isso suscita uma reflexão aprofundada acerca das possíveis ramificações, caso esse modelo seja adotado de maneira integral.
Tanto o mecanismo apresentado no texto, referente ao acordo de não persecução penal brasileiro, quanto o Plea Bargain americano, compartilham a intenção de evitar a instauração de um processo penal tradicional. Ambos consistem em um acordo entre as partes, envolvendo a elaboração de um plano alternativo para o acusado. Esse plano pode incluir medidas como restrição de direitos ou a realização de uma prestação pecuniária, que devem ser cumpridas durante um período de prova estipulado.
No entanto, existem diferenças fundamentais entre esses sistemas. O Plea Bargain, originado nos Estados Unidos, é parte integrante do sistema de Common Law, que se baseia em decisões judiciais anteriores e na aplicação da lei de maneira mais restrita, apenas nos casos especificamente previstos. Além disso, o sistema americano permite a autonomia legislativa dos estados-membros, possibilitando que determinem quais condutas serão criminalizadas e como serão tratadas no âmbito processual penal dentro de sua jurisdição.
Por outro lado, o acordo de não persecução penal no Brasil é um desenvolvimento recente, e não está enraizado na tradição do Common Law. Ele surge como uma alternativa ao processo penal convencional, com o objetivo de agilizar a resolução de casos. No entanto, ainda está sujeito a discussões e análises sobre sua aplicação e eficácia no sistema legal brasileiro.
Portanto, enquanto ambos os mecanismos compartilham o propósito de evitar a ação penal direta, as diferenças em suas origens, bases legais e aplicação prática destacam as distintas abordagens adotadas pelo sistema jurídico americano e brasileiro.
Nos cenários em que não se verifica a supressão do procedimento persecutório por meio da formalização do Plea Bargain, prossegue-se com o rito delineado a seguir. Após a elaboração da acusação, seja por meio da aceitação desta pelo Grande Júri (indictment), pela apresentação de uma nova acusação pelo referido órgão (presentment), ou mesmo pela apresentação direta perante o juiz (information), este último designa a data de início do julgamento. Este se inicia com a formação do petty jury, usualmente composto por doze leigos (laymen), os quais, enquanto jurados (jurors), e seu líder (foreman), têm a atribuição de deliberar sobre questões de fato e proferir um veredicto favorável à inocência (not guilty) ou à culpabilidade (guilty) do acusado.
Nessa fase, predomina a oralidade e a informalidade dos procedimentos, abordando a produção das provas (The Law of Evidence), que, por sua vez, são inicialmente demandadas pelo autor da queixa (complaint), exigindo-se apenas o relato dos fatos, a identificação da autoria e a solicitação do remédio.
Com o júri constituído, o processo tem início com as alegações iniciais (arraignment the trial judge) das partes, envolvendo a leitura formal da acusação, seguida de uma exposição sucinta dos fatos e uma enumeração concisa das provas a serem apresentadas tanto pelo Estado quanto pela defesa, sem que haja espaço para argumentações ou inferências a partir das evidências.
As diligências do inquérito policial, bem como os elementos de prova colhidos na fase anterior, não são admitidos, e o acusado (defendant) não se encontra obrigado a prestar depoimento, respeitando o seu direito à não autoincriminação (privilege against self-incrimination), sem que tal postura possa ser interpretada em prejuízo de sua defesa.
No que tange à decisão proferida pelo júri popular, o denominado grand jury trial, é imperativo sublinhar que, embora sua competência, composição e a necessidade de unanimidade nos veredictos possam variar conforme a unidade federativa,tal modalidade ainda representa o método mais comum de condução do processo penal nos Estados Unidos. Isso ocorre, sobretudo, por ser um modelo procedimental e também por constituir um direito subjetivo das partes, especificamente fundamentado na célebre
2.2 Tipos Penais com previsão de acordo e suas vedações ao ANPP
No Brasil, surge alguns pontos de grande controvérsia, levando à necessidade de formalizar a "declaração formal e detalhada" como requisito essencial para alcançar o acordo de não persecução penal. 
Como visto, as Resoluções 181/2017 e 183/2018 do Conselho Nacional do Ministério Público também exigiam uma confissão minuciosa dos fatos, destacando que o ato e todas as negociações deveriam ser registrados por meio de gravação audiovisual. Além disso, a última Resolução adicionou a exigência de que o investigado estivesse acompanhado de um advogado. No entanto, ao examinar cuidadosamente os dispositivos legais envolvidos, percebe-se que não há tratamento mais detalhado sobre a forma da confissão, permitindo assim o uso indevido do depoimento do investigado.
Aliás, vale ressaltar a leitura de John H. Langbein, que enxerga uma conexão relevante entre as regras de tortura e o plea bargaining. O autor identifica, no século XIII, a transição do modelo de julgamento baseado em ordálias, surgindo um modelo que buscava eliminar a discricionariedade humana no julgamento, exigindo, para uma condenação, duas testemunhas oculares do fato, exceto em uma única situação em que o acusado confessasse voluntariamente. 
O sistema adotado na época tornava difícil a condenação de criminosos que atuavam de forma clandestina, levando à flexibilização das garantias para permitir regras sobre tortura para regular o processo de obtenção de confissões. No entanto, pelo menos sob as regras europeias, o uso de tortura como método de extração de confissões ainda exigia requisitos objetivos, uma vez que dependia da presença de meia-prova contra o suspeito (uma testemunha ocular ou provas circunstanciais de gravidade suficiente). A legislação aplicada em bem esparsa quanto aos crimes digitais, porém muito tem se feito para caracterizar o infrator, e consequentemente aplicar a medida adequada. 
Apesar dessa observação sobre como a suficiência da confissão para fins de condenação resultou no uso de métodos de tortura na Europa medieval, constata-se que o art. 28-A, §3º, do Código de Processo Penal se limita a afirmar que o acordo será redigido e assinado entre Ministério Público, investigado e defensor. Da mesma forma, a possibilidade dada ao juiz de homologar o acordo em audiência restringe-se ao contato com o investigado para verificar a voluntariedade e a legalidade.
Dessa maneira, a legislação foi inadequada ao remover a exigência, anteriormente estabelecida pelas Resoluções, de que a confissão dos fatos e as negociações fossem gravadas, permitindo, consequentemente, um controle completo pelo juiz. De qualquer forma, o problema reside na necessidade da confissão como requisito para a aplicação do instituto, pois aqui há dois pontos importantes a serem examinados. O primeiro diz respeito à utilidade da confissão em caso de descumprimento do acordo de persecução penal, ou seja, se ela poderia ser utilizada durante a fase de instrução processual. E o segundo ponto diz respeito à hipótese de cumprimento das condições do acordo, verificando-se a pertinência do uso da confissão em outras áreas do direito, como, por exemplo, cível ou administrativa.
Em relação à situação de descumprimento do acordo, verifica-se que a questão precisa ser analisada em conjunto com a aprovação completa da lei, uma vez que, de acordo com o juiz de garantias e suas regulamentações (art. 3º-B a 3º-F, CPP), o inquérito policial não acompanharia mais o processo criminal, de modo que a confissão naturalmente seria excluída da fase de instrução, não podendo ser utilizada como base para proferir sentença (art. 3º-C, § 3º, CPP).
O dispositivo acima era importante porque evitava a possibilidade de utilizar a confissão para eventual julgamento de mérito, permitindo que o acusado apresentasse sua manifestação apenas em juízo. No entanto, com a suspensão dos dispositivos relacionados ao juiz de garantias pelo Ministro Luiz Fux na ação direta de inconstitucionalidade 6299/DF, a regra de exclusão da investigação preliminar não se aplica.
A ampliação da justiça consensual de solução de conflitos no sistema jurídico é impulsionada pela clara crise do sistema judicial brasileiro. A demora excessiva no andamento dos processos, especialmente na área criminal, é inegável. Essa demora resulta em punições tardias e acaba possibilitando a prescrição da pretensão punitiva estatal, revelando, assim, a ineficácia do Estado na aplicação do direito penal como instrumento de controle social.
A problemática da mercantilização do acordo, adota algumas medidas positivas no sentido de desenvolver a prestação jurisdicional, contudo buscar tornar a justiça mais ágil e eficiente em contrapartida de ter-se informações de difícil meio de prova distinta leva a uma descaracterização da persecução penal. 
No entanto, essas medidas mostraram-se ineficazes, uma vez que o sistema judicial brasileiro continua sobrecarregado e a conclusão a que se chega é que não há recursos suficientes para uma prestação jurisdicional verdadeiramente efetiva. Diante desse cenário, ocorre a expansão da justiça consensual no âmbito criminal brasileiro, o que resultou na criação de diversos institutos, incluindo o acordo de não persecução penal (ANPP), mais recentemente.
A justiça consensual, como meio de solução de conflitos no âmbito criminal, surge como uma forma de superar essas limitações, oferecendo um caminho mais ágil e eficiente para a solução de conflitos criminais. Nesse modelo, as partes, incluindo o Ministério Público, o acusado e suas respectivas defesas, têm a oportunidade de negociar um acordo que atenda aos interesses de todos os envolvidos. 
Esse tipo de acordo traz benefícios tanto para o sistema de justiça quanto para as partes envolvidas. Para o sistema, a justiça consensual alivia a carga de trabalho dos tribunais, permitindo que recursos sejam direcionados para casos mais complexos e de maior gravidade. Além disso, a agilidade proporcionada pela negociação colaborativa contribui para a redução da impunidade e para uma maior efetividade da justiça.
Para as partes envolvidas, a justiça consensual oferece uma série de vantagens. O acusado tem a oportunidade de evitar um processo prolongado e incerto, além de poder assumir responsabilidade por seus atos e buscar sua reintegração à sociedade de maneira mais rápida. O Ministério Público, por sua vez, pode concentrar seus esforços em casos de maior relevância, priorizando a busca por soluções que atendam aos interesses da vítima e da sociedade como um todo. Em seguida, foram apresentados os principais institutos pelos quais essa justiça é concretizada, visando obter uma resposta mais ágil e eficiente para a sociedade e a vítima.
Efetivamente, o artigo 155 do Código de Processo Penal estabelece uma restrição ao livre convencimento motivado do juiz, já que não permite que a decisão seja fundamentada somente nos elementos informativos da investigação. No entanto, a confissão poderia ser combinada com as provas produzidas durante a instrução, o que justificaria o uso do interrogatório do investigado. Em vista disso, a análise sistemática das normas relacionadas ao juiz de garantias leva à conclusão de que a confissão não poderá ser utilizada contra o investigado, uma vez que, numa comparação, aquele que confessasse o delito na fase investigatória e depois fosse processado não teria suas palavras usadas contra si na etapa judicial.
Contudo, o órgão do Ministério Público de São Paulo e o Grupo Nacional de Coordenadores de Centro de Apoio Criminal do Ministério Público já orientaram que a confissão pode servir como base informativa para a elaboração da peça acusatória. Isto é, a confissão só poderia ser empregada para essa finalidade se estivesseem vigor o juiz de garantias. Mas, uma vez que o juiz de garantias está suspenso sem previsão de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, não há a menor possibilidade de se aceitar a confissão como prova para fins de julgamento do mérito.
Conforme Rômulo de Andrade Moreira, mesmo se houver a admissão da culpa pelo investigado "quando interrogado durante a audiência de instrução e julgamento, se ele não confirmar a confissão, o juiz não poderá usar essa confissão anterior como base para uma sentença condenatória".
De maneira semelhante, Ali Mazloum e Amir Mazloum afirmam que a confissão não pode ser utilizada porque não há acusação formal, enfatizando ainda, em comparação, que, no regime da delação premiada, se houver retratação da proposta, as provas incriminatórias não poderão ser utilizadas contra o colaborador. 
Neste sentido, Rogério Sanches Cunha define que:
Apesar de pressupor sua confissão, não há reconhecimento expresso de culpa pelo investigado. Há, se tanto, uma admissão implícita de culpa, de índole puramente moral, sem repercussão jurídica. A culpa, para ser efetivamente reconhecida, demanda o devido processo legal.
A doutrina argumenta também que o propósito da confissão seria meramente processual, com o intuito de esclarecer que o investigado é realmente o autor do crime, além de ter um efeito pedagógico, ou seja, o arrependimento pela prática da infração penal. No entanto, a confissão não seria uma admissão de culpa, principalmente porque não é baseada em um julgamento de irreversibilidade . 
Em um segundo momento, a doutrina discute-se o uso da confissão no âmbito civil ou administrativo. Por exemplo, considere um servidor público que tenha confessado para um acordo de não persecução penal. A dúvida que surge é se a confissão pode ser utilizada como prova emprestada para uma possível ação civil pública ou processo administrativo disciplinar. Nesse caso, constata-se que a confissão é apenas uma formalidade para a concretização do acordo, não podendo ser empregada em outras esferas. Além disso, mesmo que tenha ocorrido a confissão perante o Ministério Público, observa-se que a declaração do investigado foi feita durante a investigação preliminar, não sendo expressada na fase judicial, ou seja, perante o juiz competente.
Ainda que haja a previsão da audiência, a declaração fornecida pelo investigado ocorreu em um momento anterior, cabendo ao juiz fazer uma avaliação da voluntariedade e legalidade, sem avançar para o mérito do crime. É importante ressaltar, mais uma vez, que a homologação é realizada pelo juiz de garantias, não estando relacionada ao juiz de instrução. De acordo com o enunciado 24 do Conselho Nacional de Procuradores, o juiz não examinará o mérito/contenção do acordo. Portanto, a confissão feita pelo investigado atende apenas aos requisitos formais para a concretização do acordo de não persecução penal, especialmente por ocorrer durante a investigação preliminar, sendo proibida sua utilização em um eventual processo criminal em caso de descumprimento das condições, bem como na hipótese de abertura de processos civis ou administrativos. 
3. INTERPRETAÇÕES ATUAIS DA JURISPRUDÊNCIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES 
Observa-se que o Art. 28–A do Código de Processo Penal, inserido pela lei 13.964/19 (Acordo de Não Persecução Penal – ANPP) se definirá quando não recair a situação em arquivamento da investigação, assim, em vez de apresentar a denúncia, o representante do Ministério Público poderá propor um acordo de não persecução penal aos indivíduos investigados que preencham os requisitos, os quais são: Delito cuja pena mínima seja inferior a 4 (quatro) anos; Delito cometido sem violência ou ameaça grave; e admissão formal e detalhada da prática da infração penal.
Entretanto, é importante destacar que o Acordo pode ser proposto antes ou depois da apresentação da denúncia. Será formalizado por escrito e assinado pelo representante do Ministério Público, pelo investigado ou réu, e seu advogado.
As condições estabelecidas para o cumprimento do ANPP podem ser estipuladas de forma cumulativa OU alternativa, e é relevante lembrar que a supervisão do cumprimento do ANPP ficará a cargo do juiz responsável pela Vara de Execução Penal.
Ao cumprir integralmente o acordo, haverá a extinção da punibilidade, ou seja, o investigado ou réu não se tornará reincidente nem terá maus antecedentes, mantendo-se as condições de primariedade e bons antecedentes.
O Acordo não é aplicável nos casos de delitos cometidos no contexto de violência doméstica contra a mulher. 
Diferente sentido toma o instituto da suspensão condicional do processo, na qual é uma medida despenalizadora, sob certas condições, em delitos de menor gravidade, encontra-se prevista no artigo 89 da lei 9.099/95.
O Ministério Público, como uma vantagem ao acusado, oferece ao acusado, quando apresenta a acusação. No entanto, para que o Acusado tenha direito à remissão condicional do procedimento, é necessário que os requisitos estejam presentes, os quais são: não estar respondendo a outro processo ou não ter sido condenado, e preencher os requisitos da suspensão condicional da pena (artigo 77 do Código Penal - não ser reincidente em crime intencional, ter bons antecedentes e conduta social, e não caber substituição por pena alternativa).
Em termos gerais, o acordo de não persecução penal segue uma lógica semelhante à Resolução nº. 183/2018 do Conselho Nacional do Ministério Público, pois requer os seguintes requisitos para sua oferta: i) pena mínima inferior a 4 (quatro) anos; ii) confissão formal e detalhada; iii) crime não cometido com violência ou ameaça grave; iv) suficiente para reprovar o crime. 
Embora apenas essas quatro citadas exigências sejam listadas, também existem restrições impostas pelo legislador, sendo proibido o acordo: i) quando a transação penal for cabível; ii) se o indivíduo tiver sido beneficiado com um acordo de não persecução, transação penal ou suspensão condicional do processo nos últimos cinco anos; iii) em caso de reincidência ou conduta habitual, repetida e profissional; iv) para crimes praticados no contexto de violência doméstica ou familiar, ou contra mulheres em razão do gênero feminino. 
Se o acordo for aceito, determinadas condições devem ser cumpridas de forma cumulativa ou alternativa: i) reparação do dano ou restituição da coisa à vítima, exceto quando for impossível; ii) prestação de serviços à comunidade com pena reduzida; iii) pagamento de multa pecuniária; iv) outra condição estabelecida de acordo com o Ministério Público. É importante destacar que algumas soluções já adotadas pelo Poder Judiciário no contexto da Lei 9.099/95, em relação aos institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo, podem ser aplicadas ao acordo de não persecução penal, como a compreensão de sua aplicabilidade em ações penais privadas, sua natureza de direito subjetivo público, e a possibilidade de impetrar habeas corpus para discutir a atipicidade da conduta, extinção da punibilidade ou a falta de fundamentação adequada para oferecer o acordo.
Se o acusado aceitar a proposta, e a acusação for aceita, o juiz poderá suspender o procedimento até que as condições, descritas na legislação, sejam efetivamente cumpridas. Ao término do prazo de suspensão condicional do procedimento, que pode variar de 2 a 4 anos, e ao cumprimento das condições, a extinção da punibilidade é declarada. Desta forma, uma vez concedida a vantagem, o mesmo indivíduo não poderá fazer novo uso dela dentro de 5 anos. 
Não sendo o procedimento de investigação caso de arquivamento e havendo a admissão formal e detalhada do investigado em relação à prática do crime, pode ser oferecido o ANPP, mediante as condições listadas no artigo 28-A, estabelecidas, cumulativa ou alternativamente, desde que, ao mesmo tempo, o crime não tenha sido cometido com violência ou ameaça grave e a pena mínima prevista, de forma geral, seja inferior a 4 (quatro) anos.
Semelhantemente a outros mecanismos, como a transação penal e a suspensão condicionaldo processo, a aceitação e o cumprimento do acordo não afetam a culpabilidade do investigado. No entanto, em contraste com outros institutos de justiça negociada, o acordo de não persecução penal requer a confissão do crime por parte do investigado.
SOUZA E DOWER (2019, p.165) explica: 
Busca-se por meio da confissão assegurar unicamente uma depuração nos elementos de convicção colhidos na fase inquisitiva, de modo a evitar a precoce celebração de acordos desprovidos de provas que indiquem a participação do confitente na infração penal, além de reforçar a confiança de que será efetivamente cumprido.
Nessa etapa, a admissão do investigado deve ser minuciosa e em consonância com as outras evidências obtidas. E, caso o acordo não seja cumprido, a admissão não tem validade como evidência, uma vez que, no momento do acordo, não existia um processo, de acordo com a norma do artigo 155 do Código de Processo Penal.
Art. 155, CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
O Plenário do Supremo Tribunal de Justiça - STJ, determinou que é admissível, de maneira retroativa, o acordo de não persecução penal, desde que a denúncia não tenha sido acolhida. Entende-se que o acordo de não persecução penal se conclui na fase anterior ao processo. É possível aplicá-lo a eventos ocorridos antes da entrada em vigor da lei, desde que não tenha havido renúncia. Uma vez iniciada a perseguição penal, não é viável retornar ao estágio anterior do processo.
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. RETROATIVIDADE. DENÚNCIA JÁ RECEBIDA. INAPLICABILIDADE. SUBSTITUIÇÃO DAS PENAS POR DUAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Conforme atual jurisprudência uníssona desta Corte Superior, a possibilidade de oferecimento do acordo de não persecução penal, previsto no artigo 28-A do Código de Processo Penal, inserido pela Lei n. 13.964/2019, é restrita aos processos em curso até o recebimento da denúncia. 2. Se, ao decidir pela substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, o magistrado destacou que essa operação atingiria a melhor finalidade punitiva e educativa da pena, está justificado o implemento, inexistindo ilegalidade. 3. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no HC: 649091 SC 2021/0062422-2, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 18/05/2021, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2021)
Nesse contexto, o acordo de não persecução penal, por meio da justiça consensual, visa resolver extrajudicialmente os conflitos penais entre o infrator e o Ministério Público, proporcionando maior agilidade e eficácia aos processos jurídico-penais de menor gravidade, economizando, assim, os recursos financeiros e humanos do sistema judiciário e direcionando-os para o processamento de crimes mais graves, o que, por sua vez, reduz a superlotação do sistema prisional brasileiro.
Nesta mesma toada, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve o entendimento em decisão monocrática na qual o ministro Edson Fachin, determinou que o Ministério Público analise a possibilidade de oferecer o acordo em processo de persecução penal. 
Para o ministro relator, o acordo de não persecução penal tem caráter híbrido, ou seja, trata de matérias penal e processual penal, e mantem a ideia inicial de punição do Estado. Neste sentido, são diversos os casos em que há decisões parecidas, situação em que a 2ª Turma já declarou retroativamente outro dispositivo da Lei anticrime. 
De acordo com o voto unânime do ministro Fachin, com exceção de uma observação feita pelo ministro André Mendonça, a inovação introduzida pela legislação que implementou o ANPP deve ser retroativamente aplicada, abrangendo tanto as investigações criminais em andamento quanto os processos penais em curso até a sua finalização definitiva.
EMENTA : SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL. APLICAÇÃO DO ART. 28-A DO CPP. NORMA DE CONTEÚDO MISTO. RETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA. ART. 5º, XL, CF. ILEGALIDADE FLAGRANTE. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. É descabida a alegação de supressão de instância quando o Superior Tribunal de Justiça se pronunciou de maneira expressa sobre a questão controvertida do habeas corpus impetrado nesta Corte. 2. A expressão “lei penal” contida no art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal é de ser interpretada como gênero, de maneira a abranger tanto leis penais em sentido estrito quanto leis penais processuais que disciplinam o exercício da pretensão punitiva do Estado ou que interferem diretamente no status libertatis do indivíduo. 3. O art. 28-A do Código de Processo Penal, acrescido pela Lei 13.964/2019, é norma de conteúdo processual-penal ou híbrido, porque consiste em medida despenalizadora, que atinge a própria pretensão punitiva estatal. Conforme explicita a lei, o cumprimento integral do acordo importa extinção da punibilidade, sem caracterizar maus antecedentes ou reincidência. 4. Essa inovação legislativa, por ser norma penal de caráter mais favorável ao réu, nos termos do art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal deve ser aplicada de forma retroativa a atingir tanto investigações criminais quanto ações penais em curso até o trânsito em julgado. Precedentes do STF. 5. A incidência do art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal, como norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata, não está condicionada à atuação do legislador ordinário. 6. A indevida negativa de aplicação retroativa do art. 28-A do CPP configura hipótese de concessão da ordem de habeas corpus de ofício. 7. Agravo regimental desprovido. (HABEAS CORPUS 217.275. São Paulo: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Min. Edson Fachin. Agte(s): Ministério Público do Estado de São Paulo. Proc(a/s): Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo. Agdo(a/s): Rosemeire Mendonça de Souza. Adv(a/s): Plinio Antonio Britto Gentil Filho e outro(a/s).)
Segundo Fachin, o ANPP, embora inserido no Código de Processo Penal, possui um caráter híbrido, combinando aspectos materiais e processuais. Trata-se de uma medida despenalizadora que afeta a própria pretensão punitiva do Estado. Conforme estabelecido pela lei, o cumprimento integral do acordo resulta na extinção da punibilidade, sem implicar em maus antecedentes ou reincidência.
O ministro ressalta que o recebimento da denúncia ou a prolação da sentença não inviabilizam a finalidade do ANPP, uma vez que a celebração do acordo evita a prisão cautelar, a condenação criminal e seus efeitos, bem como o prosseguimento do processo com suas fases recursais. De acordo com Fachin, esses marcos processuais não devem excluir a garantia constitucional da retroatividade da lei mais benéfica, mesmo quando levado em consideração o argumento da utilidade do instituto para o órgão de acusação. É essencial avaliar a utilidade sob a perspectiva de todo o sistema de justiça criminal e dos atores envolvidos, incluindo a vítima e o acusado.
Nesse contexto, mesmo diante de uma sentença e um acórdão condenatórios, e mesmo com um título judicial transitado em julgado, o caso ainda estava em andamento quando a lei 13.964/19 entrou em vigor. Portanto, é imperativo reconhecer o efeito retroativo do artigo 28-A do CPP.
Quanto à admissibilidade do acordo de não persecução nos processos penais em andamento, embora haja divergência doutrinária, o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou de forma unânime nesse sentido. O entendimento da Corte Superior, nos casos concretos, é que, desde que os requisitos do ANPP sejam atendidos, o momento processual apropriado para sua aplicação deve serconsiderado, ou seja, até o recebimento da denúncia. Uma vez que a consequência jurídica do não cumprimento total do acordo é a retomada do curso do processo por meio do oferecimento da denúncia.
O autor Jorge Reis[footnoteRef:1], entende que a redução que é buscado pelo autor, somado a diminuição intencional de uma condição legal individual resguardada por uma regulamentação de direito fundamental, resulta na manifestação de vontade do detentor que o vinculou juridicamente a aceitar a ampliação correspondente da margem de ação da entidade, diante das demandas provenientes daquela condição. [1: NOVAIS, Jorge Reis. Renúncia a direitos fundamentais. In: MIRANDA, Jorge (org.). Perspectivas constitucionais – nos 20 anos da Constituição. Coimbra: Coimbra Editora, 1996. p. 285.] 
A desistência de um direito fundamental nem sempre implica em sua extinção, mas sim na limitação de sua abrangência. Miranda[footnoteRef:2] identifica como características dos direitos fundamentais sua inalienabilidade, imprescritibilidade e irrenunciabilidade, pelo que ninguém poderia ceder ou abdicar da sua titularidade, e adverte que isso não significa que os titulares não possam ou não devam aceitar a sua restrição, ou que não possam, por sua própria vontade, suspender o exercício de alguns desses direitos. [2: MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. Tomo IV, 4. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2008. p. 384-385.] 
Segundo o professor Canotilho[footnoteRef:3], a irrenunciabilidade do núcleo substancial do direito (que seria constitucionalmente proibido) e contempla a possibilidade de limitação voluntária ao exercício (o que entende ser aceitável em certas condições). Sua definição nos leva à distinção entre a renúncia ao direito fundamental e a mera limitação voluntária ao exercício de alguns direitos. [3: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 2007. p. 464] 
O investigado que renuncia à "dilação processual", dentro de uma prática negocial penal, o faz porque espera obter um benefício com o ato de renúncia, benefício esse que considera ser mais valioso do que a preservação do direito fundamental em si mesmo (devido processo legal alargado). Para usufruir do benefício, o investigado se submete a uma clara redução de suas posições individuais de direitos. Resta saber se essa afetação, em enfraquecimento, é constitucional na ordem brasileira.
A doutrina, por sua vez, diferencia a renúncia, perda e não exercício de direitos fundamentais. Em síntese, na renúncia, haveria um compromisso jurídico de não recorrer ao seu direito fundamental, ou seja, há uma vinculação deste em não exercitar algumas faculdades que integram seu direito. A perda não se trata de uma decisão voluntária, mas sim de uma imposição externa e uma consequência imposta pela ordem jurídica. Crorie afirma que, enquanto o enfraquecimento do direito é desejado na renúncia, nos casos de perda já não o será, ou, pelo menos, já não depende da vontade dos sujeitos.
3.1. As Implicações Econômicas, sociais na Justiça Alternativa e Restaurativa 
Apesar de terem transcorrido mais de duas décadas desde o processo de democratização no Brasil, fundamentado na consagração dos direitos fundamentais pela Constituição Federal de 1988, o sistema de justiça criminal ainda enxerga, de forma predominante, o encarceramento como a principal modalidade de sanção.
O paradigma retributivo se materializa através da intervenção do Estado, que se apropria do conflito. O restabelecimento da ordem se dá mediante uma abordagem punitiva rigorosa ao infrator, muitas vezes em detrimento do réu, da própria vítima e de suas necessidades.
Diante da séria crise de legitimidade que afeta o paradigma punitivo e o sistema de justiça penal global, com maior impacto no Brasil, surge a expansão da população carcerária, o que vai de encontro aos princípios constitucionais.
Conforme dados do Levantamento de Informações Penitenciárias do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) até junho de 2021, a população carcerária totaliza 820.689 indivíduos. Dentre esses, 673.614 estão alojados em celas físicas e 141.002 em prisão domiciliar (BRASIL, 2021). É notável, com isso, que o modelo brasileiro de abordagem repressiva e punitiva representa um dos dilemas mais graves, desafiando os valores humanitários, financeiros e democráticos, além de revelar sua intrínseca ineficácia em oferecer respostas adequadas às vítimas de delitos. 
Dessa forma, ao se considerar a imposição da pena privativa de liberdade como o cerne da sanção, de maneira que se torna intransponível uma abordagem na qual o indivíduo se estabelece a partir de uma perspectiva unicamente punitiva, é imprescindível adotar estratégias mais abrangentes e restaurativas. O sistema penal deve evoluir em direção a práticas que promovam a reinserção social, visando à ressocialização do indivíduo e à construção de uma sociedade mais justa e segura.
De acordo com informações disponibilizadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a duração média de um procedimento judicial é influenciada por uma variedade de fatores, tais como os atos processuais, a complexidade de cada caso, a coleta de provas, depoimentos, entre outros elementos. No ano de 2018, nos processos criminais, a soma dos processos pendentes e já finalizados totalizou 9,1 milhões de ações (15.ª edição do Relatório Justiça em Números, 2019).
Estimativas indicam que o tempo médio de tramitação dos processos criminais no âmbito do Poder Judiciário brasileiro é de 3 (três) anos e 1 (um) mês, especificamente na fase de conhecimento. Contudo, na fase de execução, nos processos que envolvem penas privativas de liberdade, essa média aumenta para aproximadamente 3 (três) anos e 9 (nove) meses (BARROS e ROMANIUC, 2019).
A pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em conjunto com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e veiculada pelo Jornal do Comércio sob o título "Lentidão é razão para não buscar Justiça" demonstrou que, de acordo com os dados apresentados, 64% da população considera a lentidão e a burocracia como fatores que desencorajam a busca pela Justiça. Além disso, 28% acreditam que as decisões judiciais favorecem aqueles com recursos financeiros e influência. Por outro lado, 59% defendem que vale a pena recorrer ao sistema judiciário.
No entendimento apresentado por Wolkmer (2015, p. 77), a noção de crise adquire maior abrangência quando é contextualizada nos pressupostos de fundamentação da verdade. Todo o paradigma científico está sujeito a anomalias que podem potencialmente resultar em "crises" estruturais, no entanto, só será descartado quando não conseguir solucionar completamente os problemas.
Diante desse pressuposto de que as atuais demandas requerem a busca por novos padrões normativos capazes de melhor resolver as crises sociais e institucionais decorrentes da aplicação tradicional da justiça, surge a necessidade de contemplar as novas formas de organização da vida cotidiana político-social.
Na transição para um novo paradigma, antevê-se uma reconfiguração das posições tradicionais: o Estado e seu ordenamento jurídico devem trilhar um percurso oposto ao estabelecido até a contemporaneidade. O Estado será delineado e legitimado pelos novos centros normativos da vida comunitária do dia a dia. Os interesses emergentes e as necessidades da sociedade como um todo são os elementos preponderantes na atuação estatal e na formulação do conjunto de normas jurídicas, suprimindo a exigência de uma distinção ou fronteira entre o Estado e a sociedade, entre o âmbito público e o privado.
A Justiça Restaurativa, um paradigma em desenvolvimento, fundamenta-se na proposta de pluralismo jurídico comunitário participativo, sendo uma iniciativa inicial para sistematizar os primeiros indícios de uma realidade que já existe de forma informal e subterrânea. Ela não busca oferecer uma resposta estanque, pronta e definitiva, mas é um referencial aberto e contextualizado que se desenvolve por meio dos consensos nas diferenças.Este desafio reside em transcender o convencional e buscar valores emergentes, dando prioridade não apenas à segurança e certeza, mas também às diversidades, transgressões e resistências (WOLKMER, 2020, p. 422).
A Justiça Restaurativa propõe uma mudança de paradigma, baseando-se em valores de diálogo e respeito entre as partes envolvidas, buscando a pacificação social em contraposição à punição do sistema penal predominante. No entanto, é um campo desafiador, com potencialidades tanto para desvios e instrumentalização do modelo punitivo, quanto para a reinvenção humanista e democrática da justiça (ANDRADE; COMIRAN, 2021a, p. 7).
A Justiça Restaurativa é um campo complexo e plural que se desenvolve por meio de fundamentos, práticas, teorias, conceitos, objetivos, princípios e valores, voltados para a transformação do modelo punitivo dominante no sistema de justiça atual. Não é uma justiça que pode ser monopolizada pelo Estado, suas instituições ou pela comunidade. A discussão sobre se ela pertence ao Estado ou à comunidade é, na verdade, uma questão mal formulada (ANDRADE; COMIRAN, 2021a, p. 3).
A introdução da Justiça Restaurativa no Brasil pelo Poder Judiciário representa um marco significativo no contexto jurídico do país. Essa abordagem, conforme destacam os estudos predominantes, encontra suas origens em tradições espirituais e práticas compensatórias, fundamentadas em valores, e está inserida em contextos históricos particulares. Essa transição para um modelo mais restaurativo demonstra um avanço no entendimento e na aplicação das práticas de justiça, promovendo uma perspectiva mais holística e participativa no sistema judiciário brasileiro.
Andrade (ANDRADE; COMIRAN, 2021a, p. 7) explica que as práticas restaurativas implementadas no Brasil se baseiam na cultura de paz, utilizando principalmente os círculos de paz, a teoria das lentes e a comunicação não-violenta. No entanto, é importante destacar que a Justiça Restaurativa no Brasil não adotou o referencial abolicionista, enfrentando a forte influência da ideologia punitiva na sociedade.
A justiça restaurativa no Brasil, devido ao seu limite legal de aplicação, concede aos juízes e promotores a discricionariedade para determinar quais casos são passíveis de encaminhamento para esse processo. Mesmo quando há consenso e acordos entre as partes envolvidas, o juiz pode optar por não homologar as decisões. Isso resulta na ausência de um verdadeiro empoderamento dos participantes das práticas e não proporciona uma ruptura na perpetuação da lógica punitiva (ANDRADE, 2018, p. 119-122).
Portanto, a ausência da participação das vítimas apresenta um risco significativo para a justiça restaurativa, podendo potencialmente transformar-se em uma forma de "justiça terapêutica", alinhada com uma abordagem excessivamente correccionalista (PALLAMOLLA, 2019, p. 257).
Diante desse contexto, torna-se imperativo esclarecer os principais conceitos relacionados à justiça restaurativa. É importante destacar que não existe um único conceito universalmente aceito para a justiça restaurativa. Alguns a enxergam como um novo paradigma de justiça, enquanto outros a veem como uma variedade de abordagens. Há também aqueles que a consideram uma alternativa ao sistema de justiça criminal, e outros que a definem como um conjunto de processos, resultados e valores (PALLAMOLLA, 2019, p. 257).
De acordo com Pallamolla (2019, p. 55), "a justiça restaurativa possui um conceito não apenas aberto, mas também fluido, uma vez que tem passado por modificações, assim como suas práticas, desde os primeiros estudos e experiências restaurativas".
A justiça restaurativa pode ser aplicada tanto dentro quanto fora do âmbito do Poder Judiciário, em diversas áreas. No entanto, para os propósitos específicos deste estudo, limitar-nos-emos à sua aplicação dentro do contexto da justiça criminal.
Essa abordagem de conflitos representa um paradigma inovador na administração da justiça, distanciando-se da lógica tradicional do processo. Ela detém a capacidade de suplantar o modelo punitivo, promovendo um enfoque mais eficiente por meio do diálogo na resolução de questões criminais.
O diálogo é o elemento central que define os procedimentos restaurativos. Ele representa um meio mais respeitoso e digno para assumir responsabilidades, compreender as diferenças e dificuldades de todos os envolvidos no evento, e, por fim, alcançar um acordo restaurador que não exclua o infrator da sociedade e reconheça o sofrimento e as necessidades tanto da vítima quanto da comunidade (PALLAMOLLA, 2019, p. 257).
Assim, torna-se evidente a falta de consenso entre os estudiosos quanto a uma definição única e precisa de justiça restaurativa. O próprio conceito está intrinsecamente ligado a seus valores e objetivos. Isso ocorre porque a justiça restaurativa representa "uma prática ou, mais precisamente, um conjunto de práticas em busca de uma teoria" (SICA, 2007, p. 10). Além disso, a pluralidade das fontes e dos objetivos atribuídos à Justiça restaurativa contribui para sua pluralidade teórica.
Neste cenário, percebe-se a ausência de uma "teoria restaurativa" plenamente desenvolvida. A Justiça Restaurativa é comumente mencionada como um conjunto de práticas em busca de um embasamento teórico, ou ainda como um mosaico de ideias e práticas interconectadas de forma mais flexível do que por meio de um conjunto de princípios e instituições rígidos. 
Há uma discussão em andamento sobre a validade de uma definição universal para a justiça restaurativa, onde considera a diversidade de contextos e situações que ela abrange. Ao mesmo tempo, também se alerta sobre os riscos de uma relativização total das práticas restaurativas, sem um referencial conceitual norteador (ANDRADE; COMIRAN, 2021).
Portanto, o desafio não está apenas na definição, mas também nos objetivos da justiça restaurativa. Isso pode gerar dificuldades para os programas concretos em desenvolvimento no Brasil e no mundo, que precisam não apenas definir sua identidade com base em uma concepção teórica e prática, mas também estabelecer os objetivos a serem alcançados em um determinado contexto e serem avaliados por suas escolhas (ANDRADE; COMIRAN, 2021).
3.2. Outras formas de Resolução de Conflitos no âmbito da Justiça Penal 
Em 2022, ingressaram, no Poder Judiciário, 3,1 milhões de casos novos criminais (Figura 1), sendo 2,4 milhões (63,8%) na fase de conhecimento de primeiro grau, 19,4 mil (0,5%) nas turmas recursais, 597,4 mil (16,1%) no segundo grau e 142,3 mil (3,8%) nos Tribunais Superiores. Além dos 3,1 milhões, foram iniciadas 585,8 mil (15,8%) execuções penais, totalizando 3,7 milhões de novos processos criminais, quando computadas as execuções penais.( CNJ,2023,p.224).
Embora não tenha ocorrido a desejada transferência de casos, observou-se a inclusão de situações no âmbito do Judiciário que anteriormente não chegavam a este estágio. Entretanto, é crucial destacar que esse acréscimo de casos no sistema judiciário não é considerado uma expansão do controle formal, uma vez que esses casos eram previamente "resolvidos" nas delegacias. Os juizados especiais, ainda que de maneira limitada e com suas próprias deficiências, conseguiram reduzir a margem de discricionariedade dos delegados - que muitas vezes assumiam o papel de mediadores informais e, na prática, despenalizavam os delitos - e ampliar o acesso à justiça para uma parcela da população cujos conflitos anteriormente não eram analisados pelo Judiciário.
Nesse contexto, é possível estabelecer uma relação entre a justiça restaurativa e os juizados criminais, pelo menos na intenção declarada pela Lei 9.099/95 de introduzir mecanismos informais de resolução de conflitos no sistema de justiça criminal. No entanto, é importante ressaltar que existem diversas diferenças entre essas duas propostas (as quais não cabe analisar aqui). O aspecto fundamental é que a justiça restaurativa busca não ampliar o exercício do poder punitivo, mas sim promover um acesso à justiça de alta qualidade, o que é viabilizado pela distinçãono sistema penal.
A reflexão sobre as discrepâncias nos entendimentos atribuídos ao conflito pela cultura jurídica brasileira e pela justiça restaurativa pode implicar alterações na maneira como esta última está sendo implementada no Brasil. Nos três projetos-piloto (localizados em Porto Alegre, Distrito Federal e São Caetano), observamos a justiça restaurativa operando em paralelo com a justiça criminal tradicional, em maior ou menor grau. Pallamolla (2019, p. 14) destaca que muitos estudiosos inclusive afirmam que a justiça restaurativa e a justiça criminal tradicional não constituem modelos completamente antagônicos, pois coexistem em todos os países onde a justiça restaurativa foi introduzida. A relação apropriada entre os dois modelos seria aquela que permitisse a coexistência da justiça restaurativa e da justiça criminal tradicional, respeitando-se os domínios e lógicas distintas de cada uma, um modelo de "bitola dupla" (dual track model), que envolve a atuação paralela da justiça restaurativa e da justiça criminal tradicional, com eventual cooperação entre os dois sistemas. O desafio que se apresenta é que, se as considerações acerca das diferentes concepções de conflito estiverem corretas, a coexistência da justiça restaurativa e da justiça criminal tradicional pode ter interpretações diversas dependendo do contexto cultural em que operam.
Em diversos estudos, observa-se que o principal desafio para os programas analisados seria efetivamente se alinhar a um propósito político-criminal de redução do controle penal formal. Caso contrário, se tornariam apenas uma alternativa adicional que o Estado poderia utilizar, representando assim um aumento da intervenção punitiva. Nas recomendações apresentadas ao final da pesquisa, as autoras apontam a necessidade de conferir maior autonomia aos círculos/encontros restaurativos como forma de reduzir a centralidade da justiça tradicional na resolução do conflito, especialmente em casos de descumprimento do acordo restaurativo. 
Recentemente, foi realizado um levantamento dos projetos, programas e iniciativas voltados para a administração de conflitos interpessoais em operação no país, os quais foram categorizados em dois grupos distintos: o primeiro engloba mecanismos que a autora categoriza como tradicionais, abarcando "as práticas de conciliação previstas na Lei 9.099/95 e realizadas no âmbito de juizados especiais, assim como os projetos de oferta de assistência jurídica gratuita". O segundo grupo abrange as práticas denominadas de alternativas, que incluem iniciativas não contempladas nos procedimentos legais, tanto dos juizados especiais quanto da justiça comum. Este último conjunto incorpora, principalmente, "iniciativas de mediação, justiça restaurativa e arbitragem, realizadas tanto por instituições públicas como pela sociedade civil". Cabe salientar que foram analisadas apenas as iniciativas de natureza institucional pertencentes ao segundo grupo, excluindo-se as práticas informais de gestão de conflitos, ou seja, aquelas desprovidas de uma instituição responsável pela organização das atividades.
Percebe-se que maioria das iniciativas foi classificada como "alternativa" (75%), enquanto a minoria (25%) foi categorizada como "tradicional". A mediação (26,9%), a conciliação (15,6%) e a orientação jurídica (9,3%) são as modalidades mais comuns quando se emprega apenas uma delas; por outro lado, na combinação de modalidades, destaca-se o fornecimento conjunto de mediação e orientação jurídica (observado em 21,8% das iniciativas). 
A grande maioria (79,3%) lida com conflitos interpessoais em geral, ao passo que uma parcela menor (10,9%) se concentra em conflitos relacionados a bens disponíveis (geralmente na forma de instituições ou empresas que oferecem serviços de justiça privada, como arbitragem, conciliação e mediação, quando contratadas pelas partes). Adicionalmente, 5,2% das iniciativas tratam de conflitos familiares. No que tange ao perfil dos indivíduos que gerenciam diretamente os conflitos, 74% são profissionais com formação técnica e acadêmica específica, enquanto apenas 2% adotam uma abordagem comunitária na gestão dos conflitos, envolvendo pessoas leigas ou membros da comunidade sem formação específica. Em 24% dos casos, a atuação é híbrida, envolvendo tanto profissionais técnicos quanto leigos e membros da comunidade. Quanto às entidades responsáveis, 48% das práticas são promovidas pelo Poder Público, 45% têm origem em organizações da sociedade civil e 7% são iniciativas mistas. Dentro das iniciativas sob responsabilidade do poder público, o Poder Judiciário (com 23,89%) e o Poder Executivo (com 17.67%) são os mais prevalentes, enquanto nas iniciativas promovidas pela sociedade civil, destacam-se as ONGs (com 13,51%) e as universidades (com 11,95%).
Dessa forma, percebe-se que a implementação dos programas de justiça restaurativa está sujeita não apenas ao confronto entre diferentes características culturais, que conduzirão à sua adaptação, mas também à possibilidade de fortalecer aspectos culturais previamente existentes. 
As práticas restaurativas têm relevância e são condicionadas por um contexto no qual o conflito é concebido como uma oportunidade para a reconstrução e estabelecimento de novas relações e entendimentos. A resolução do conflito é vista como um meio de construir a ordem social. Em contrapartida, a implementação em contextos culturais onde o conflito é percebido como uma ameaça à ordem social poderia levá-la a ser utilizada como uma ferramenta na preservação dessa ordem e na "conciliação" dos conflitos. Em ambos os cenários, as práticas restaurativas serviriam como um meio de gerenciar conflitos e promover a pacificação das relações - os propósitos pelos quais estão sendo introduzidas e os significados atribuídos aos resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Em síntese, o presente trabalho científico buscou abordar a regra de persecução penal em forma de comparativo com as demais de substituição do procedimento criminal no contexto nacional. Foi analisado também diferentes perspectivas e evidenciado os principais resultados obtidos. Através da revisão bibliográfica, coleta e análise de dados, foi possível aprofundar o conhecimento sobre o assunto e contribuir para o avanço do campo de estudo.
Ao longo do trabalho, foram identificados desafios e oportunidades para desenvolver os elementos de concorrência para a não persecução criminal, destacando a importância da participação do Ministério Público no cumprimento das leis e as perspectivas de impedimento a aplicação penal deste instrumento jurídico. Além disso, ressalta-se a relevância do tema para a sociedade, destacando suas implicações práticas e potencial impacto em diferentes áreas.
É possível concluir que este texto contribui para a compreensão mais aprofundada do tema voltado a imposição de pena, apresentando uma análise crítica e embasada sobre as possíveis vantagens da substituição da pena privativa de liberdade por outras medidas. Espera-se que as informações e conclusões apresentadas sejam úteis para a comunidade científica e para aqueles interessados na temática abordada, estimulando a continuidade de estudos e pesquisas na área.	
Uma das estratégias utilizadas no âmbito do direito comparado para lidar com o aumento da demanda no campo criminal foi a ampliação das formas de autocomposição de conflitos entre o acusador público e o sujeito passivo da persecução criminal. Diante desse contexto, não demorou para que essa discussão também chegasse ao Brasil, com o intuito de ampliar as possibilidades de acordos já previstos em nossa legislação.
Nesse sentido, o Conselho Nacional do Ministério Público tentou introduzir no país o acordo de não-persecução penal, com base em uma realidade observada no direito alemão, bem como em argumentos sistêmicos (como a adoção constitucional do sistema acusatório) e ligados à teoria geral do processo. Contudo, nenhum dos argumentos apresentados pelo Conselho se sustenta integralmente diante de uma análise mais aprofundada, confrontando

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