Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRABALHO PROCESSO CIVIL 1. Artaxerxes ajuizou ação em face de Oncromenézio, afirmando, em resumo, que lhe emprestou a quantia de R$1.000,00; no entanto, tal numerário não lhe foi devolvido pelo requerido na data aprazada. Pediu, então, a condenação no pagamento do valor devido. Regularmente citado, o réu ofereceu contestação, aduzindo, em síntese, que obteve junto ao autor o empréstimo da importância de R$1.000,00, mas efetuou o devido pagamento na data combinada. Em abono à defesa oferecida, o requerido apresentou, por escrito, declarações particulares firmadas por três pessoas capazes, com as firmas reconhecidas pelo cartório, atestando que presenciaram o réu efetuar o pagamento ao autor da quantia mencionada. Nenhuma outra prova foi produzida no processo, pelas partes ou por iniciativa do Juiz. Diante do exposto acima, pergunta-se: Ao julgar a causa, o Juiz deve acolher ou rejeitar o pedido formulado pelo autor? Explique. O aludido caso em análise, embora mencione não haver produção de nenhuma outra prova, não especifica se refere apenas a apresentada pelo réu ou autor da demanda. Este é um fato importante pois, sendo o autor quem não tenha produzido, o juiz, conforme artigo 321 do CPC, antes de proferir uma decisão acolhendo ou rejeitando o pedido, deve solicitar ao autor que emende ou complete a petição, no prazo de 15 dias. Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. E ainda, consoante o artigo 319 do CPC: “A petição inicial indicará: VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;”. com base nessas informações, entende ser necessário que o autor junte aos autos as provas que sustentam suas alegações. Por outro lado, considerando que o autor tenha juntado as devidas provas, o juiz deve acolher o pedido formulado por ele, em razão do artigo 408, parágrafo único do CPC. “Art. 408. As declarações constantes do documento particular escrito e assinado ou somente assinado presumem-se verdadeiras em relação ao signatário. Parágrafo único. Quando, todavia, contiver declaração de ciência de determinado fato, o documento particular prova a ciência, mas não o fato em si, incumbindo o ônus de prová-lo ao interessado em sua veracidade”. O parágrafo único do referido artigo, consoante Renato Montans (2020, p. 835): [...] especifica que, se a parte declarar ciência em determinado documento, o documento prova a ciência, mas não a ocorrência do fato ali atestado. Dessa forma, se alguém toma ciência num documento que ocorreu um acidente de carro, a prova é da declaração, não do acontecimento do fato. Isto posto, as declarações particulares, mesmo com reconhecimento de firma, têm valor probatório de declaração do fato, mas não sobre o fato em si. Portanto, cabe ao réu comprovar a veracidade das suas declarações, como este não foi feito, o pedido do autor continua legítimo, lhe sendo devido o pagamento. 2. Numa ação de investigação de paternidade, além da produção da prova pericial, entende o Juiz do processo que há necessidade da produção de prova testemunhal. Para esse fim, o Juiz diretor do processo designa audiência de instrução e julgamento. Considerando-se o exposto acima, pergunta-se: a) Em que momento processual o Juiz do processo determina a produção de provas? Vejamos a redação do artigo 357 do Código de Processo Civil: “Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: I - resolver as questões processuais pendentes, se houver; II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento”. Entende-se pelo aludido artigo que, não havendo hipótese de julgamento antecipado do mérito, o juiz irá proferir decisão de saneamento e organização do processo, e este é o momento em que o juiz determinará, dentre outras coisas, a produção de provas. Ademais, de acordo com o artigo 370 do Código de Processo Civil: “Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito”. (princípio inquisitivo). Sendo o juiz o destinatário da prova, cabe-lhe também exigir determinadas dilações probatórias que possam ser de interesse para o julgamento do mérito. Nesta hipótese, entende o STJ que a dilação probatória é medida impositiva ao magistrado, em razão das circunstâncias do caso, por exemplo, na ação investigatória de paternidade. (REsp 85.883/SP, 3ª T., Rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 16.04.1998, DJU 03.08.1998). b) Qual o prazo que as partes dispõem para arrolar testemunhas? Conforme disposição do artigo 357, §4º do CPC, o prazo para as partes arrolarem as testemunhas, quando determinada a produção de prova oral, será fixado pelo juiz, e não ultrapassará 15 dias. “Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: § 4o Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. Consoante Renato Montans (2020, p.855), trata-se de um prazo regressivo: O prazo para a apresentação do rol será de escolha do juiz. Caso não indique o prazo, segue-se o prazo legal de até quinze dias antes da audiência. O prazo começa a correr no primeiro dia útil anterior antes da audiência e termina no primeiro dia útil após os dez dias. Por se tratar de prazo processual, computam-se apenas os dias úteis. 3. Após prolatar uma sentença julgando procedente o pedido formulado pelo autor, e já devidamente publicada, o Juiz que a proferiu verifica que cometeu uma grande injustiça, porque avaliou indevidamente as provas produzidas. Assim, a fim de dar a cada um o que é seu e com o propósito de assegurar a razoável duração do processo, garantia constitucional, o Juiz, de ofício, altera a sentença por ele proferida, julgando, agora, improcedente o pedido formulado. Em face do exposto acima, pergunta-se: O Juiz do processo agiu corretamente? Por quê? Não, o juiz não agiu corretamente, pois o art. 494 do CPC/2015 traduz a regra do princípio da inalterabilidade da sentença pelo juiz, e traz também as exceções a ela. Com a publicação da sentença, o juiz, a princípio, não mais deve alterá-la. Exceções a esta regra constam dos incisos I e II do art. 494 do CPC/2015: “Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração”. Por inexatidão material entende-se o erro, perceptível sem maior exame, que traduz desacordo entre a vontade do julgador e a expressa na decisão. Nesse sentido: (...) O erro material, passível de ser corrigido de ofício, e não sujeito à preclusão, é o reconhecido primu ictu oculi , consistente em equívocos materiais sem conteúdo decisório propriamente dito (REsp 1.151.982/ES, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23.10.2012, DJe 31.10.2012). Erro de cálculo passível de correção é o que resulta de equívocos aritméticos, por exemplo, inclusão de parcela devida e não constante do cálculo por equívoco. A alteração também pode ocorrer, de acordo com o inciso II do art. 494, em virtude de interposição de embargos de declaração, quando a sentença ou acórdão contiver obscuridade, contradição ou for omissa com relação a questão suscitada pelas partes (art. 1.022 do Código Civil). Estas são as hipóteses de alteração da sentença e, conforme pode se analisar não sãocompatíveis com o ocorrido no aludido problema, por essa razão o juiz não agiu corretamente. 4. Rodosvaldo propôs determinada ação em face de Édipo. O Juiz da causa, de ofício, extinguiu o processo, sem resolução do mérito, reconhecendo a impossibilidade jurídica do pedido formulado. Tendo em vista a situação hipotética acima apresentada, pergunta-se: Agiu corretamente o Juiz do processo, ou seja, em conformidade com o Código de Processo Civil? Explique. Cabe apontar que o Código de Processo Civil vigente eliminou a previsão da “possibilidade jurídica do pedido” como condição da ação, como era disciplinada no CPC/73 (art. 267, VI, do CPC/73). Como bem acentua Teresa Arruda Alvim: “De fato, dar pela impossibilidade jurídica do pedido significa, necessariamente, ter examinado o mérito, ainda que sob o ponto de vista exclusivamente jurídico”. Isto posto, como o atual Código de Processo Civil desqualificou a possibilidade jurídica como condição da ação, o juiz do processo não agiu corretamente, ele agiu em desconformidade com o Código de Processo Civil. REFERÊNCIAS ALVIM, Eduardo Arruda. Direito processual civil. 6. ed. – São Paulo. Saraiva Educação, 2019. BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm> Acesso em 08 dez 2020; DONIZETTI, Elpídio. Curso de direito processual civil. 23. ed. São Paulo. Atlas, 2020. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 2016. SÁ, Renato Montans de. Manual de direito processual civil. 5. ed. São Paulo. Saraiva Educação, 2020.
Compartilhar