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18 Unidade IV Unidade IV Direito, cultura e sujeito de direito Os fundamentos teóricos do Direito: a noção de Ronald Dworkin. Para Dworkin o Direito é em grande parte um fenômeno especulativo, isto é, filosofia. Nessa direção, o estudo do Direito se desenvolveria em torno das questões hermenêuticas, isto é, de interpretação da norma jurídica em face da dinâmica social. Ele se oporá ao positivismo e ao pragmatismo por entender que no centro da reflexão jurídica devem estar as preocupações com a política neoliberal, com a justiça distributiva e com o solidarismo social. Para o autor o juízo jurídico não se faz sem o juízo moral e o juiz de direito deve estar desatrelado da ordem positiva e da necessidade de garantir direitos individuais. Para Dworkin a justiça não pode ser construída fora da linguagem, posto que a investigação jurídica se constitui como uma forma de interpretação do passado num contexto decisório presente. Nessa direção, o Direito se configura como uma atitude interpretativa exercida pela comunidade jurídica que visa realizar a justiça. É preciso notar que o Direito, para Dworkin, não é mero fruto da legalidade, mas é uma narrativa de valores e de expectativas de justiça. Da sociedade para a cultura: construção das regras para a convivência social. • A construção das regras sociais tem como parâmetro a seguinte linha de raciocínio: Indivíduo sociedade regras coerção organização social (ciclo) • As regras para a convivência social podem ser sociais, morais, religiosas, jurídicas. • A construção das regras sociais, morais, religiosas e jurídicas seguem a configuração cultural e histórica de uma determinada sociedade, segundo uma razão instrumental. A razão instrumental leva a um olhar de indiferença humana pelo outro, o que faz com que os processos de interação sejam massificados e, consequentemente, o ser humano seja elevado a um grau tão elevado de objetivação que o seu sentido e a correspondente afeição que se possa ter por ele se percam em meio ao processo. É preciso buscar uma moral mínima para que não se perca a humanidade que, por sua vez, deveria ser premente em todas as relações sociais. • Consequência das determinações sociais, culturais e históricas: as sociedades elaboram distintas concepções de Direito. • A vontade de verdade advinda da ciência moderna se enfraqueceu por conta da relativização das verdades científicas e o ser humano foi levado a olhar novamente para si mesmo como referência 19 TÓPICOS ESPECIAIS EM FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E TEÓRICOS DO DIREITO (OPTATIVA) de finalidade, ensejando novas formas de humanismo. A busca pelo justo ao invés do devido torna-se cada vez mais acentuada. E, num momento mais recente, a ordem social passa a ser mais bem estabelecida por um pluralismo de referenciais normativos, constituídos de normas de convivência social não mais exclusivamente jurídica, mas também social, moral e religiosa. • Leitura obrigatória dos capítulos: 27. Ronald Dworkin: a razoabilidade da justiça; 48. Direito, sensibilidade e afeto, do livro Curso de Filosofia do Direito de Bittar e Almeida. BIBLIOGRAFIA BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2001. Da cultura para o Direito e seus significados Da cultura para o Direito: construção das normas jurídicas. • O Direito, por ser uma construção histórica, apresenta diversos significados conforme o momento histórico e a configuração cultural. • O momento histórico: de um modo geral, a concepção do Direito é produto de determinadas percepções tanto do sentimento de justiça (universal), quanto do significado de direito (particular). • A configuração cultural: pelas diferenças culturais, podem-se citar as configurações culturais do Commom Law e do Civil Law. • A despeito do fato, do valor e da norma como componentes estruturais do Direito, Miguel Reale dá ênfase a relação entre direito e experiência, a partir da qual se destaca a própria importância da história dos acontecimentos humanos como uma referencial de reflexão jurídica. Nessa direção, os valores pertencerão à esfera do dever-ser e não do ser. A cada valor há um correspondente desvalor. E o que os marcam é o que a história informa como referencial axiológico de medida. • É característica da liberdade a possibilidade de escolha e, enquanto tal é ela que dá ao homem a sua dignidade: ser digno é ser livre. • A Declaração Universal de Direitos Humanos trata das ideias de dignidade e de liberdade como fundamentais da pessoa humana, o que implica numa tentativa de superação histórica e de valoração de caráter universal acerca do ser humano. Significados da palavra direito. De um modo geral, o Direito é entendido como o conjunto das regras jurídicas, no sentido de compor um determinado ordenamento jurídico. 20 Unidade IV Fundamentos teóricos do Direito • É de significativa importância acrescentar que o ordenamento jurídico deve estar o mais próximo da organização social. • Dificuldade em conceber o direito: múltiplas significações - reconhecimento de ideais - mundo de contradições e coerências - mundo de obediências e revoltas - proteção contra um poder arbitrário - instrumento manipulável que exerce técnicas de controle e dominação. • Etimologia do Direito: derectum x jus - gregos: Diké – justo como igualdade - romanos: Iustitia – direito como o perfeitamente reto - direito: sentido de jus (consagrado como justo) e de derectum (retidão). • Direito e linguagem: essencialistas x convencionalistas - essencialistas: há uma única definição válida para cada palavra que, por sua vez, designa apenas um único objeto da realidade - convencionalistas: a língua é um sistema de signos, cuja relação com a realidade é estabelecida arbitrariamente e relativizada segundo o uso - uma definição de direito dependerá sempre da concepção de língua. • Assim como Direito não se confunde com Moral, esta não se confunde com a Ética. • Ética é a capacidade de ação livre e autônoma do ser humano, enquanto que Moral é uma manifestação do poder axiológico que, por sua vez, implica num sistema de normatização que se impõe contra a vontade individual dos indivíduos. Agir eticamente implica numa decisão individual. Enquanto a Ética cuida das questões morais, o Direito cuida das normas jurídicas. 21 TÓPICOS ESPECIAIS EM FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E TEÓRICOS DO DIREITO (OPTATIVA) • Leitura obrigatória dos capítulos: 35. Direito e ética: o comportamento humano em questão; 36. Direito, história e valor, do livro Curso de Filosofia do Direito de Bittar e Almeida. Também ler a Declaração Universal de Direito Humanos. BIBLIOGRAFIA BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2001. Direito, moral e legitimidade Direito e Moral: Kant • Em Kant a concepção de justiça está vinculada ao significado de liberdade, portanto há implicações tais que a justiça tem funções sociais e jurídicas. Kant distingue Direito de Moral: • Moral é cumprir o dever pelo dever (lei interna). • Direito é cumprir o dever pela coercitividade. • O conceito de liberdade em Kant está relacionado ao Iluminismo: o homem dotado de razão deverá conduzir suas ações. • Para compreender a liberdade, é fundamental a exposição do significado do imperativo categórico. • O imperativo categórico de Kant é expresso da seguinte forma: age só, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal. • Imperativo categórico: o indivíduo deve agir de modo que sua ação seja aceita universalmente. • Desse modo, o imperativo categórico não permite a alternativa: é o dever como modo de vida, isto é, como ordem! • Imperativo categórico é o “dever ser”, portanto a liberdade está na esfera do cumprimento deste “deve ser” assim! • Ação objetivamente necessária. • De um modo geral é possível fazer as seguintes relações entre o Direito e Moral: • Similaridades entre o Direito e a Moral: ambos têm caráterprescritivo: vinculam e estabelecem objetivamente obrigações; ambos são inextirpáveis da convivência. • Distinções entre o Direito e a Moral: 22 Unidade IV Direito - normas jurídicas dizem respeito à conduta externa do indivíduo - exige instâncias objetivas da ação - as normas jurídicas decorrem de processo legislativo - sanções jurídicas sempre são previstas nos preceitos normativos - privado de moralidade, perde sentido, mas não a força, a validade e a eficácia - decorre de um Poder juridicamente instituído - a força nunca é arbitrária. Moral - normas morais dizem respeito à conduta interna do indivíduo (motivos e intenções) - a moralidade dos atos repousa na subjetividade de quem age - as normas morais decorrem dos costumes sociais e dos hábitos individuais - sanções morais nunca é o conteúdo de preceitos - decorre de grupos comuns - a força sempre é arbitrária. Os conceitos de legitimidade e de legalidade • O fundamento do direito em exercer o controle social está vinculado à necessidade que a própria sociedade expressa – necessidade de organização, sempre no sentido de que esta organização deve expor as condições de existência concreta e não meramente idealizada. • O fundamento do direito em exercer o controle social está vinculado à necessidade que a própria sociedade expressa – necessidade de organização, sempre no sentido de que esta organização deve expor as condições de existência concreta e não meramente idealizada. • O significado do valor para a identificação do que é legítimo e legal • O valor perpassa todos os conhecimentos humanos. 23 TÓPICOS ESPECIAIS EM FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E TEÓRICOS DO DIREITO (OPTATIVA) • O significado do valor para a identificação do que é legítimo e legal. Valorar é atribuir qualidades. Atribuir qualidades implica estabelecer uma hierarquia de valores. Para tanto, é necessário localizar o lugar do valor no mundo das coisas. • O significado do valor para a identificação do que é legítimo e legal: Valorar: atribuir qualidades. • Nada mais, nada menos que diante das ideias ou dos eventos: simplesmente qualifica-se. • Qualifica-se como belo ou não, justo ou injusto, correto ou incorreto... • Julga-se o justo pelo valor negativo do injusto. Cabe então distinguir nos valores a polaridade: bom, mau; belo, feio etc. Não há o meio termo: é ou não valor. BIBLIOGRAFIA BITTAR, Eduardo C.B.; ALMEIDA, Guilherme de Assis. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2001. Teoria do Ordenamento Jurídico e hermenêutica jurídica Ordenamento jurídico. • O ordenamento indica o sentido de unidade presente em um conjunto qualquer, o que implica considerar uma referência que estabeleça as ligações entre as partes que formam um conjunto • Ordenamento jurídico: – ordem; – organização; – lógica. • O ordenamento mantém sua estrutura a partir de uma referência. • O sistema mantém sua estrutura a partir daquilo que pode ser ordenado. • Sistema implica entrada e saída de elementos que irão participar ou não do ordenamento. • O ordenamento jurídico refere-se ao conjunto de normas, leis, institutos e instituições jurídicas. • Regras jurídicas ligadas entre si e, ao mesmo tempo, dispostas de forma coerente, de tal modo que formam uma unidade sustentada por um ponto referencial. 24 Unidade IV • Seguindo a inspiração kelseniana o Ordenamento Jurídico possui uma estrutura lógico-formal composta da norma fundamental, de norma superior e norma inferior. • Definição de direito: Conjunto de normas jurídicas. Da hermenêutica e interpretação jurídica: Pierre Bourdieu. • A hermenêutica é uma disciplina filosófica que tem por objeto de investigação o processo de compreensão das diversas formas discursivas. • A hermenêutica, portanto, é um conjunto teórico que estabelece parâmetros filosóficos para a investigação do processo que se realiza entre o pensado e o enunciado. • Para aplicação da hermenêutica é que se utiliza a interpretação. • Hermenêutica: campo teórico. • Interpretação: campo técnico. • A hermenêutica jurídica existe porque o direito e o jurídico necessitam de interpretação. • Hermenêutica e interpretação jurídica: Gramatical: interpretação pelo léxico. Histórica: interpretação pelo momento em que foram enunciados. Sistêmica: interpretação pelo texto e contexto legal. Teleológico: interpretação pelo que pode ocorrer. Valorativa: interpretação pelos valores sociais. Lógica: interpretação pelos princípios da lógica. • Da racionalidade jurídica decorre um distanciamento considerável no uso da linguagem, portanto as palavras e o modo de expor os fatos são colocados de modo opaco. • O discurso jurídico apresenta-se de modo opaco, isto é, permite interpretações. • A hermenêutica jurídica não permite a amplitude das interpretações, pois o limite para interpretar é estabelecido pelo ordenamento jurídico. Do contrário, a interpretação poderia ser confundida com criação ou imaginação, e as condutas poderiam ser praticas conforme a criatividade do intérprete. 25 TÓPICOS ESPECIAIS EM FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E TEÓRICOS DO DIREITO (OPTATIVA) • Direito é construção de sentido. Alguns autores o definem de modo mais específico. Por exemplo: - Savigny (Séc. XIX): lei (instrumento formal) e sentido de lei (fonte de direito, espírito do povo) - Geny (1925): fontes substanciais (elementos dados, próprias da natureza) e fontes formais (sentidos construídos, racionalização a partir dos dados naturais) - Duguit (Séc. XIX, publicista): ato jurídico (conduta executada por centros de poder, p. ex.: os atos estatais produtores de normas positivas, atos jurisdicionais, atos estatutários e os atos negociais) - Kelsen (Séc. XX, Teoria Pura do Direito): pirâmide das normas • Fontes do direito - lei (em sentido amplo): a regra que institucionaliza a entrada da norma num sistema jurídico a partir de um corpo formal legislativo - lei (texto normativo) é diferente de norma (sentido da lei) - podem ser: norma constitucional, legislação, decretos, regulamentos e portarias - lei no sentido formal (designa um modo de produção de normas) - lei no sentido material (designa o conteúdo normativo) - jurisprudência (costume jurisprudencial) - costumes: fonte típica do direito em geral / possui um elemento substancial (uso reiterado no tempo) e um elemento relacional (processo de institucionalização como convicção de obrigatoriedade) - podem ser: contra legem (costume negativo), praeter legem (regulam materiais que a lei não conhece) e secundum legem (coincidência entre lei e costume) - tratados internacionais - doutrina é fonte do direito ou de teoria do direito? - negócios jurídicos - princípios gerais do direito - equidade. 2 6 U n id a d e IV Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
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