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MATERIAL DIDÁTICO AS DIMENSÕES PROFISSIONAIS DO SERVIÇO SOCIAL Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO .......................................................................... 03 UNIDADE 2 – OS FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DO SERVIÇO SOCIAL ........................................................................................................... 07 UNIDADE 3 – DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA ............................... 22 UNIDADE 4 – DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA ................................................. 26 UNIDADE 5 – DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA ........................................ 31 UNIDADE 6 – DIMENSÃO PRÁTICO-FORMATIVA ....................................... 40 UNIDADE 7 – ENFIM, O QUE É INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL? ........................................................................................ 54 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 59 Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 3 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Unir conhecimento e ação, aliar teoria à prática, ser crítico, buscar a transformação da realidade social. Assim podemos resumir a instrumentalidade do Serviço Social, mas o caminho é longo para se chegar a essa simples definição. Há toda uma construção que passa pelos métodos, pela ética, pelas competências, pela formação e pela teoria que toma por base o positivismo de Comte, a dialética e a fenomenologia social que precisamos explorar a priori. Ao longo desta apostila, trataremos de temas que podem parecer recorrentes aos profissionais das ciências humanas e sociais, mas que se decompostos, refletidos e ressignificados nos levam a compreender a capacidade de construção e reconstrução do Serviço Social que busca ser reconhecida como profissão importante para inserir os cidadãos marginalizados e excluídos, e em última instância atender as demandas sociais. Os fundamentos sócio-históricos do serviço social serão nosso ponto de partida e, na sequência, evidentemente que para compor o instrumental do Serviço Social, apresentaremos suas dimensões teórico-metodológicas, ético-política, técnico-operativa e prático-formativa. A competência política e teórico-metodológica auxilia o assistente social a delimitar os alcances da sua prática profissional que envolvem desde as particularidades do terreno da atuação do Serviço Social e suas implicações político- ocupacionais até o domínio dos recursos técnico-instrumentais para analisar e intervir sobre algum aspecto da realidade, bem como para sistematizar e refletir sobre sua própria prática. A instrumentalização da prática profissional não deve estar restrita ao sentido operacional, como vem sendo reforçado historicamente, mas deve ser ampliada visando compreender os fenômenos com os quais lida e a orientar sua intervenção. Ao se defrontar com problemas sociais de maneira fragmentada, o assistente social deve reconhecer as determinações sociais desses problemas e traduzi-las em estratégias de ação. Esta deve ser uma preocupação constante na condução do processo de trabalho do Serviço Social, em relação aos meios pelos quais Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 4 ele se realiza, ao invés de uma atuação caracterizada simplesmente pela rotina e pela burocracia dos estabelecimentos prestadores dos serviços sociais (FONSECA, 2005). Concordamos com Carvalho e Iamamoto (2005) quando dizem que as últimas três dimensões de competências nunca podem ser desenvolvidas separadamente – caso contrário, cairemos nas armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social. Contudo, pondera Souza (2008), articular essas três dimensões coloca um desafio fundamental, e que vem sendo um tema de grande debate entre profissionais e estudantes de Serviço Social: a necessidade da articulação entre teoria e prática. Investigação e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como dimensões separadas – pois isso pode gerar uma inserção desqualificada do Assistente Social no mercado de trabalho, bem como ferir os princípios éticos fundamentais que norteiam a ação profissional: O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se afirme como uma dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para se formular respostas capazes de impulsionar a formulação de propostas profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade aos princípios ético-políticos norteadores do projeto profissional. Ora, para isso é necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos sociais que são objeto de trabalho do assistente social (IAMAMOTO, 2005, p. 56). Pensar sob esse ponto de vista significa colocar o Serviço Social em um lugar de destaque, tanto no plano da produção do conhecimento científico (rompendo com o discurso do senso comum) como no âmbito das instituições públicas e privadas que, de algum modo, atuam sobre a “questão social”. Na medida em que o Assistente Social atua diretamente no cotidiano das classes e grupos sociais menos favorecidos, vislumbrando possibilidades de produzir um conhecimento sobre essa mesma realidade, ele passa a ocupar um lugar privilegiado no mercado de trabalho. E esse conhecimento é, sem dúvida, o Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 5 seu principal instrumento de trabalho, pois lhe permite ter a real dimensão das diversas possibilidades de intervenção profissional (SOUSA, 2008). Concordamos também com as proposições de Suguihiro et al (2009) de que o processo de construção e reconstrução do pensar e agir cotidiano profissional deve partir da sua fundamentação teórico-metodológica. Nesta perspectiva, o profissional passa a se apropriar de conceitos que fundamentam a prática profissional de modo a possibilitar a apreensão do ser social em sua totalidade histórica, superando a perspectiva do imediatismo enquanto profissional responsável pela resolução de conflitos morais e sociais. Na sociedade em que vivenciamos hoje, é exigida do assistente social a competência de acompanhar a dinamicidade da realidade em que atua, buscando dar as respostas às contradições desta sociedade, sempre desvelando o que está posto no real aparente, levando em consideração o processo histórico e contextual, de superação do imediatismo. Portanto, o atual cenário exige do profissional uma visão crítica desta realidade, buscando apreender os processos de mudanças sociais e, assim, identificar novas possibilidades de intervenção profissional, perseguindo sempre o objetivo de materializar o projeto ético-político. Após essa breve introdução,devemos explicar que Yolanda Guerra, José Paulo Netto e Marilda Iamamoto são alguns dos nossos balizadores e mediadores ao longo deste curso, permeado por reflexões de muitos outros estudiosos que também se pautaram nestes ícones do Serviço Social no Brasil. Esta apostila centra seus estudos nas dimensões citadas anteriormente que são a base para o fazer do Assistente Social, respondendo ao final o que vem a ser a Instrumentalidade do Serviço Social, assunto em voga na atualidade. Esperamos que apreciem o material e busquem nas referências anotadas ao final da apostila subsídios para sanar possíveis lacunas que venha surgir ao longo dos estudos. Ressaltamos que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 6 regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 7 UNIDADE 2 – OS FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DO SERVIÇO SOCIAL Vários são os autores que analisam, explicam e narram o surgimento do Serviço Social no Brasil, dentre eles Raichelis (1998) lembra que a profissão surgiu em um momento histórico com forte vinculação à ação da Igreja. Um dos relatos fidedignos dessa condição sustenta que tendo suas bases nas formas de assistência social que se desenvolvem com a mobilização do movimento leigo pela Igreja Católica, a partir da segunda metade da década de 1920, o reconhecimento do Serviço Social, enquanto profissão institucionalizada, só ocorrerá quando a Igreja Católica, enquanto instituição social, organizar-se para assumir um papel ativo na chamada questão social. Para a autora em epígrafe, o surgimento do Serviço Social caminha com a mobilização da Igreja na busca do resgate de seus interesses e privilégios corporativos através de uma influência normativa. O reordenamento da Igreja foi concretizado a partir da constituição do chamado “Bloco Católico”, que lança pessoas à época vinculadas à Igreja, na militância tanto intelectual quanto política, adotando como premissas: uma doutrina social totalitária; um projeto de desenvolvimento harmônico para a sociedade; o capitalismo transfigurado e recristianizado que aparece como concorrente do socialismo, na luta pela conquista; e, o enquadramento das classes subalternas. Observamos que a identidade inicial do Serviço Social está caracterizada pelo conteúdo doutrinário e confessional da Igreja, sendo que sua emergência é ampliada a partir da criação das primeiras escolas, que visavam à profissionalização da assistência e o seu tutelamento pelo aparato religioso. O Serviço Social, nascido da Revolução Industrial e legitimado no Brasil na década de 1930, passou por diferentes períodos que marcaram profundamente o Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 8 cenário profissional. Esta constatação decorre do fato de que as bases da inserção do Serviço Social no Brasil estão relacionadas à dinâmica das relações sociais determinadas historicamente na sociedade brasileira, a partir de um processo cumulativo de fatos e eventos ocorridos nos âmbitos social, político, econômico e religioso (BRANDÃO, 2006). Lima (1982) indica que o século XX no Brasil trouxe as condições necessárias para o rompimento do modelo agrário-exportador, vigente até então, e o início da industrialização em consequência da organização da classe trabalhadora. É fato histórico e conhecido, que no início do século XX a economia brasileira e sua exportação centravam-se na produção de café e leite (eixo São Paulo - Minas Gerais e a tão conhecida política do café com leite1). Os impactos do Serviço social em decorrência da modernização brasileira serão vistos em detalhe na apostila que trata do Terceiro Setor e Iniciativa Privada. Por ora, lembremos rapidamente da crise de 1929, da revolução de 1930 e do conjunto de leis sociais implementadas pelo Estado Novo (1937-1945) que pressupõe o reconhecimento político da classe trabalhadora e a necessidade de atendimento de seus interesses. Historicamente, a questão social recebe uma nova configuração e passa a ser vista como o centro das contradições sociais. A legislação social passa a atingir de forma distinta aos patrões e aos operários. Os patrões são favorecidos pela justiça do trabalho, enquanto os operários proibidos de fazer greve, tendo atrelado seus sindicatos ao Estado, passam a competir de forma desigual na luta pelos direitos de classe, tendo como contrapartida o ganho do capital. Este cenário de mudanças políticas, econômicas e sociais também teve seus reflexos no sistema religioso da época devido ao contexto histórico da formação brasileira que foi influenciada pela Igreja Católica. O Serviço Social teve como base fundamental o doutrinarismo e a moral. Portanto, o elemento vocacional aliado ao catolicismo, configura o perfil inicial a ser formado para o exercício do Serviço Social. 1 Em decorrência da hegemonia econômica destes estados, a primeira república esteve centralizada também no âmbito político através da adoção de um sistema de rodízio na escolha de presidentes do país, que conservava um grupo restrito no poder, fazendo com que Minas e São Paulo passassem a monopolizar as escolhas dos dirigentes da nação. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 9 Em 1936, a primeira escola de Serviço Social no Brasil foi fundada em São Paulo, estimulada pelo interesse de um grupo de jovens católicas que, durante um curso de formação social, idealizou a criação de um Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) que resultou posteriormente na fundação dessa escola. As bases para a criação dessa escola foram fundamentadas na orientação da Escola de Serviço Social de Bruxelas e, por isto, a influência europeia (franco-belga), sob orientação tomista, é a primeira repercussão doutrinária na formação dos Assistentes Sociais brasileiros (BRANDÃO, 2006). A influência europeia no processo de formação social brasileiro, através da igreja católica e de seus organismos, era tão marcante que assume a forma de doutrinação, tendo como referência fundamental o evangelho com forte influência positivista. Prevalecem as características fundamentais do Tomismo, coesão doutrinal, plenitude, docilidade ao real, respeito à tradição, possibilidade de progresso, subserviência à autoridade e ao Estado. Tudo isso justifica a posição inicial do Serviço Social brasileiro do não questionamento da ordem vigente e de buscar, sempre, apenas, reformar a sociedade, melhorando consequentemente a ordem vigente. Segundo Lima (1982), Yasbek (1999) e Brandão (2006), o Serviço Social, como profissão, converteu-se numa das frentes mobilizadas pela Igreja Católica para o desenvolvimento da formação doutrináriae social do laicato, qualificando seus intelectuais para a recuperação moral do operário, visando afastá-lo das influências maléficas dos ideais socialistas e do liberalismo econômico. Por meio da Ação Social, a Igreja procura fortalecer sua influência ideológica e reconquistar os privilégios perdidos pela crescente laicização da sociedade no bojo das relações que estabelece com o Estado. Nesses moldes, encarrega-se durante muito tempo da formação dos Assistentes Sociais. O conservadorismo católico que caracterizou os anos iniciais do Serviço Social brasileiro começa, especialmente, a partir dos anos de 1940, a ser tecnificado ao entrar em contato com o Serviço Social norte-americano e ter suas propostas de trabalho permeadas pelo caráter conservador da teoria social positivista. Esta Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 10 reorientação da profissão que exige a qualificação e sistematização de seu espaço sócio-ocupacional tem como objetivo atender às novas configurações do desenvolvimento capitalista e, consequentemente, às requisições de um Estado que começa a implementar políticas sociais. Nesse contexto, a legitimação do profissional, expressa em seu assalariamento e ocupação de um espaço na divisão sócio-técnica do trabalho, vai colocar o Serviço Social brasileiro diante da matriz positivista, na perspectiva de ampliar seus referenciais técnicos para a profissão. Esta orientação funcionalista é absorvida pelo Serviço Social, configurando propostas de trabalho ajustadoras e um perfil manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas para a intervenção, com a busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise, diagnóstico e planejamento, enfim, uma tecnificação da ação profissional que é acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais (YASBEK, 1999). Os serviços sociais, tanto nas agências públicas como privadas, foram permeados pela influência racional e organizacional e por uma visão mais crítica em relação ao espírito profissional e à competência técnica na prestação de serviços. A noção de bem-estar individual ou administração de pessoal contemplava os direitos dos trabalhadores e as responsabilidades do empregador, à medida que influenciou a formação de uma sociedade sob a ética rigorosa do puritanismo (BRANDÃO, 2006). O protestantismo, marca dominante nesse período e como concepção dominante nas ciências e do pragmatismo como método, concorreu para formar uma sociedade exemplar, sob o espírito do evangelho. A influência do protestantismo também se fez sentir pela imagem assistencial da igreja como fonte de apoio psicológico, pelos centros comunitários, pelas visitas domiciliares típicas das missões e até pela liberalidade do dízimo que possibilitava aos homens de negócio fornecerem apoio financeiro às organizações privadas e fundações. O caráter de utilidade social era fortalecido pelo rótulo: “Esmola não, um amigo”. Toda essa influência marcou histórica e culturalmente a trajetória do Serviço Social na América Latina e abriu espaços para a análise dos indícios ou resquícios do protestantismo no exercício profissional do Serviço Social. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 11 Para compreendermos o Serviço Social enquanto profissão, torna-se necessário inserir essa prática nas relações socais que lhe atribuem um determinado significado. Certo é que o Serviço Social desenvolveu-se enquanto profissão sob a égide do sistema capitalista industrial e da expansão urbana, contexto que afirmou a hegemonia do capital industrial e financeiro, de onde surge a denominada “questão social” do profissional especializado. Diante da contradição entre proletariado e burguesia, o Estado passa a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora, criando legislação social e trabalhista específicas, além de gerir a organização e prestação de serviços sociais, enquanto enfrentamento da questão social, posto que havia uma forte preocupação com a manutenção da classe trabalhadora. A expansão da noção de cidadania muito colaborou para a expansão dos serviços sociais no século XX, à medida que o Estado assume os encargos sociais face à sociedade civil, mesmo porque os serviços sociais representam expressão concreta dos direitos sociais do cidadão, embora se dirija àqueles que necessitam vender sua força de trabalho para sobreviver (BRANDÃO, 2006). Não se pode pensar a profissão como se acabasse em si mesma e como seus efeitos sociais fossem responsabilidade exclusiva do profissional. O significado social da profissão somente será revelado se considerar a atividade profissional envolvida na implementação de políticas sociais, embora se torne conflituoso, no sentido de que o Estado é considerado um dos maiores empregadores de Assistentes Sociais no Brasil. A partir da década de 1940, a influência franco-belga vai ceder o lugar à norte-americana. A Segunda Guerra Mundial levou os Estados Unidos a uma situação de supremacia em relação aos países europeus, fomentando seu interesse pelos países da América Latina. Esse fato intensificou a influência norte-americana no Serviço Social brasileiro. A Conferência Nacional do Serviço Social, em 1941, iniciou esse intercâmbio. Muitos diretores de escolas de Serviço Social da América Latina foram convidados oficialmente pelo governo dos Estados Unidos para lá fazerem cursos e bolsas de estudos foram oferecidas aos Assistentes Sociais brasileiros. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 12 A Segunda Guerra Mundial afrouxou um pouco o controle das metrópoles e possibilitou a ocorrência de algumas modificações no processo de industrialização dos países dependentes. Setores antes desenvolvidos passam a subdesenvolvidos e, no Brasil, a produção de bens de consumo para atender a um setor pequeno da população contribui ainda mais para a concentração da renda. Faleiros (2007) refere-se a esse processo concentrador e excedente como círculo vicioso da riqueza, sinônimo de mais-valia. Além disso, durante esse período, governos ditatoriais e populistas coexistem com as reivindicações oriundas das classes urbanas, agrupando em torno da industrialização e ocasionando uma crescente urbanização. O cenário da América Latina, no século XX, é o da exploração capitalista dos excedentes econômicos, ocasionando um declínio contínuo no intercâmbio da América Latina com as metrópoles. De qualquer forma, o poder econômico, o trabalho qualificado e a mudança em todo o sistema institucional atingiram tal prosperidade que se firmou hegemonicamente ao lado do processo técnico da agricultura e do comércio americano. O ideal de democracia e justiça social pregado por Jane Addams e as ideias da filantropia científica de Mary Richmond eram desafios apresentados pelos reformadores particulares e pelos mais esclarecidos moralizadores dos anos progressistas. No entanto, de forma geral, as soluções políticas para os problemas sociais não foram satisfatórias, desde a ótica da camada da elite sofisticada, até a dos imigrantes humildes (BRANDÃO, 2006). Para garantir a dominação, os Estados Unidos instituíram certos mecanismos de ajuda e cooperação por meio de organismos internacionais, que culminaram com a Aliança parao Progresso. A partir de 1945, com o supremo domínio norte- americano sobre o mercado industrial e da produção, surge uma nova divisão industrial do trabalho como imposição de um sistema que sela a aliança com a América Latina que dessa forma passa a oferecer matéria-prima e mercado para seus produtos manufaturados (PINTO, 1986). Por volta de 1940, o Serviço Social começa a receber a influência norte- americana que é um dos frutos da hegemonia econômica daquele país no Bloco Ocidental, resultando na sua ascensão política, ideológica e cultural. A aproximação Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 13 do Brasil com os Estados Unidos da América – EUA – foi resultante da supremacia americana, com relação à europeia, decorrente do Pós-Segunda Guerra Mundial. Também decorreu da política de boa vizinhança que representou uma tentativa americana de alcançar maior penetração comercial na América Latina e se fortaleceu à medida que o governo americano injetou recursos nos programas de industrialização do governo brasileiro (PINTO, 1986). A influência norte-americana se fazia notar através da igreja e do Estado na formação do Assistente Social. Em 1946, é criada a ABESS (Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social) entidade civil, de âmbito nacional, sem fins lucrativos e que, de acordo com Pinto (1986), até a década de 1960, preocupou-se com a formação profissional do Assistente Social na perspectiva cristã. Dessa forma, de 1941 a 1957, o panorama do ensino e da profissão no Brasil modificou-se. A intervenção no campo das reformas institucionais era facilitada pela origem do Assistente Social: quanto mais próxima fosse do poder econômico e político, maiores possibilidades teriam de realizar a tarefa destinada. Não só aos assistentes sociais, mas também a todos os que participavam do apostolado da Igreja e militavam nessa tarefa era dada atenção preferencial. Tal fato já era visível e percebido em trechos da encíclica papal (BRANDÃO, 2006). Castro (1995) coloca que com a exigência de qualificação acadêmica, religiosa e técnica para atender a demanda profissional, as escolas de Serviço Social prepararam e formaram um contingente de Assistentes Sociais imbuídos de todos os bons valores sociais e religiosos, orientados para a melhoria dos costumes. A função do profissional em Serviço Social era atuar junto à família operária, intervindo em seus valores e nas instituições, visando a sua reforma. Rodrigues (1998) sintetiza que os círculos de estudos da Ação Católica representavam um recurso pedagógico, tanto para o profissional como para os monitores. As reuniões aconteciam para reflexão e debates sobre os grandes temas, ou seja, sobre os que permitiam conhecer as bases sobre as quais todo o projeto de formação profissional no Serviço Social se produzia. A prática profissional colocava o professor em contato com a realidade social e cotidiana, permitindo-lhe colocar os conhecimentos teóricos em prática. A preocupação com a transmissão de Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 14 conhecimentos era permeada por uma doutrina cristã e a prática do professor era fundamental para desempenhar a função docente. Em princípio, a única metodologia utilizada na prática didático-pedagógica no ensino de Serviço Social era a mesma da qual se valia a ação católica, chamados círculos de estudos. A estruturação do Serviço Social enquanto profissão contou, inicialmente, com duas bases que acionaram a formação acadêmica e profissional: a filosofia, como suporte de formação moral e a preocupação com a cientificidade, na busca de uma metodologia própria. Propostas eram incorporadas, gradativamente, emergindo da própria prática profissional, o relato de experiências de outros profissionais, análises de relatórios elaborados em instituições, leitura de textos, além dos conhecimentos emanados dos pensadores cristãos. Fontes norte- americanas serviam cada vez mais de base ao desempenho profissional. De fato, a partir de 1945, o Serviço Social assumiu com força total o modelo funcional implantado pelos Estados Unidos. E se afastou do doutrinarismo da Igreja Católica que predominava nos fins da década de 1930 e no início da década de 1940. As teorias de Caso, Grupo e Comunidade compuseram a tríade metodológica que orientou o Serviço Social na busca da integração do homem ao meio social em que vivia. Inicialmente, a influência americana ocorreu com a difusão da base técnica dos métodos de caso, grupo e comunidade. Posteriormente, com a proposta do Desenvolvimento de Comunidade, como técnicas e como campo de intervenção profissional. Esse estreitamento das relações entre Brasil-EUA repercutiu no Serviço Social através da intensificação de intercâmbios de Assistentes Sociais brasileiros que buscavam a ampliação de seus estudos naquele país. Nesse período, a ênfase na formação profissional ainda estava sustentada na visão terapêutica e na concepção de que a questão social era um desajustamento social. Com a influência americana, emergiu a perspectiva funcionalista, que a princípio era aliada ao neotomismo cristão e que teve como consequência reforço da postura terapêutica, tratamento às feridas sociais, nas linhas da Psicologia e da Psiquiatria da época, levando-se em conta os desajustamentos sociais (PINTO, 1986). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 15 De acordo com Castro (1995), o Desenvolvimento de Comunidade ainda está presente no Serviço Social de hoje. Traduzem-se na utilização sistemática do poder de iniciativa e cooperação dos indivíduos e das comunidades locais visando ao desenvolvimento nacional: participação voluntária, baseada na tomada de consciência sobre a necessidade de acelerar o desenvolvimento; participação solidária, no sentido de pertencer à comunidade; participação orgânica, no sentido de organização coletiva e responsável; participação dinâmica, no sentido de que o individual e o social se afastem da marginalidade e do subdesenvolvimento. Segundo Brandão (2006), caracterizada pelo empirismo, a literatura do Serviço Social procura explicar o comportamento do indivíduo pelos modelos organicistas de Dewey. A ação técnica do Assistente Social acabava por imprimir um suposto descomprometimento no agir profissional, uma dicotomia teoria-prática que, na verdade, trazia embutida a ideologia dominante. Aguiar (1985) ressalta que o perfil do aluno que se formava nos cursos de Serviço Social era de caráter religioso e idealista. Os conteúdos teóricos concentravam-se nos princípios filosóficos humanistas e eram articulados à prática na tentativa de superar a aparente dicotomia. A preocupação em articular teoria e prática se construía numa perspectiva cristã de homem. Assim, a intervenção na sociedade tinha em vista torná-la mais justa e fraterna, como expressão do bem comum. Nos currículos predominavam as tarefas de aconselhamento. O objetivo era aliviar as tensões sociais, visando à recondução dos desviados como capital humano necessário à industrialização e ao progresso. Igreja, Estado e empresariado vão se constituindo no campo de trabalho do Assistente Social. Ainda que fique evidenciada a influência ideológica, de natureza positivista, na formação para o Serviço Social, durante a década de 1950 e início dadécada de 1960, o Serviço Social incorpora a política desenvolvimentista no ensino. Esta política enfatizou a aceleração econômica, incentivada pela industrialização e modernização capitaneada pelos Estados Unidos. Ao Serviço Social caberia Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 16 contribuir no aprimoramento do ser humano, mesmo que o país convivesse com a existência de setores subdesenvolvidos. O desenvolvimento de comunidade era uma estratégia lançada para garantir a prosperidade, o progresso social e a hegemonia da ideologia americana (capitalismo). Esta política visava preservar o mundo livre de ideologias não democráticas. Parte do pressuposto de que as populações pobres têm maior receptividade ao comunismo. Então, é preciso melhorar e desenvolver o sistema capitalista. Daí, a busca de estratégias, uma das quais foi a implantação de programas de Desenvolvimento de Comunidade (AGUIAR, 1985). Foi na esteira do desenvolvimentismo que o Serviço Social produziu as condições necessárias para sua legitimação como profissão na sociedade brasileira. Deste modo, a profissão traz uma herança relacionada ao atendimento de interesses dominantes, à manipulação do trabalhador e à reprodução social. Esta situação tem sido geradora de contradições para a prática profissional, pois a configuração historicamente assumida pelos profissionais coloca-os a serviço do capital, embora o ideário de categoria fosse o de articulação com os dominados (BRANDÃO, 2006). Convivendo com as contradições oriundas de seu legado tipicamente assistencial e de sua legitimação por parte das classes dominantes, o Serviço Social teve sua identidade atribuída pelo capitalismo, o que significou a ausência de identidade profissional. Não reunindo condições para realizar o percurso em direção a uma consciência crítica, política, a profissão não consegue igualmente, até mesmo por seus limites corporativistas, participar da prática política da classe operária, sendo absorvida pela tecnoburocracia da sociedade do capital (MARTINELLI, KOUMROUYAN, 1994). A partir da identificação da sua ligação à classe dominante, grupos organizados de Assistentes Sociais começaram a promover encontros sistemáticos, no âmbito latino-americano, para discutir o papel do Serviço Social. Estava desencadeado o chamado movimento de reconceituação. Este movimento surge a partir de fortes questionamentos, por parte de alguns profissionais, sobre a prática profissional, o compromisso e a consciência social de seus agentes. O movimento pretendia rever o projeto profissional e redefini-lo a partir da realidade vivenciada, Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 17 caracterizando-se por um processo de revisão crítica que questionava a orientação positivista-funcionalista, que visava à adaptação do homem ao meio social, no que se refere ao objeto, objetivos, ideologia e método (PINTO, 1986). Podemos dizer que, pelas vias da reconceituação, o Serviço Social deu sinal de sua contemporaneidade e renovação. Esta contemporaneidade, por sua vez, apontou para questionamentos significativos no processo de formação profissional vigente até o período. Assim, de uma formação que visava alcançar os objetivos dominantes, surgiu a necessidade de rever o Serviço Social nesta nova realidade, caracterizada pela abertura democrática e da sua vinculação com a classe considerada dominada. O movimento de reconceituação foi sua resposta na mais ampla revisão já ocorrida na trajetória dessa profissão. Alguns patamares do movimento de reconceituação podem ser identificados: reconhecer e compreender os rumos do desenvolvimento latino-americano em sua relação de dependência aos países desenvolvidos; verificar os esforços empreendidos para sua reconstrução, criação de um projeto profissional abrangente e atento às características latino-americanas; explicitar a politização da ação profissional, solidária com a libertação dos oprimidos e comprometida com a transformação social; atribuir um estatuto científico ao Serviço Social lançando-o no campo dos embates epistemológicos, metodológicos e das ideologias. Todos estes fatores canalizam para a reestruturação da formação profissional, articulando ensino, pesquisa e prática profissional, exigindo da Universidade o exercício da crítica (SILVA, 1995). A descoberta do marxismo pelo Serviço Social latino-americano também contribuiu decisivamente para um processo de ruptura teórica e prática com a tradição profissional, as tentativas de atuar com concepções marxistas foram, também, responsáveis por inúmeros equívocos e impasses de ordem teórica, política e profissional. Foram transferidas da militância política para a prática profissional, uma relação de identidade entre ambas. A aproximação redundou no chamamento dos profissionais ao compromisso político. Mostrava-se, em si, Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 18 insuficiente para desvelar tanto a herança intelectual do Serviço Social como sua prática no jogo das relações de poder econômico e nas relações do Estado com o movimento das classes sociais (BRANDÃO, 2006). Fizeram com que se estabelecesse uma tensão entre os propósitos políticos anunciados e os recursos teórico-metodológicos acionados para iluminá-los; entre pretensões político-profissionais progressistas e os resultados efetivamente obtidos. A herança do movimento de reconceituação foi de continuidade e ruptura. Assim, o Serviço Social orientando-se por princípios humanitários, reaparece, sob roupagens novas e progressistas, no marxismo da reconceituação, acentuando o lado mau das relações sociais capitalistas resultando nesse arranjo teórico- doutrinário, que dá o tom do conservadorismo profissional, elo esse que faz com que a reconceituação não ultrapasse o estágio de uma busca de ruptura com o passado profissional (CELATS, 1986). A expressão do movimento de reconceituação do Serviço Social no Brasil é bem representada pelo esforço de construção da vertente modernizadora da prática profissional. Essa vertente modernizadora do Serviço Social, segundo Brandão (2006), busca seus fundamentos, principalmente, na sociologia, via positivismo e funcionalismo, com superação dos vínculos da profissão com a Doutrina Social da Igreja. As bases de legitimação permanecem ligadas aos setores dominantes da sociedade e ao Estado, via implementação de políticas sociais e participação em programas de desenvolvimento de comunidade, configurando ações em nível micro e macro social. Observa-se que o movimento de reconceituação do Serviço Social, a partir da perspectiva hegemônica no contexto da América Latina, impõe aos Assistentes Sociais a necessidade de ruptura com o caráter conservador que deu origem à profissão, calcado no atrelamento às demandas e interesses institucionais e coloca, como exigência, a necessidade de construção de uma nova proposta de ação profissional, tendo em vista as demandas e os interesses dos setores populares que constituem, majoritariamente os sujeitos do Serviço Social. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 19 O que importaressaltar, em termos da concepção e do desenvolvimento histórico do movimento de reconceituação do Serviço Social no Brasil, é o avanço da reflexão em torno da adequação às exigências conjunturais. A profissão passa a adotar o método dialético, o que lhe permite ampliar a concepção de realidade social e “negar a ação individualizada”. Silva (1995) coloca que concebendo o homem na sua relação com outros homens, inserido numa sociedade em que estão presentes conflitos, desigualdades e problemas sociais que fazem parte do contexto global dessa sociedade e, a partir dessa visão, redimensionar a sua prática a fim de formular alternativas de ação condizentes às proposições do homem enquanto sujeito histórico, isto é, instala-se a luta pela superação das relações sociais dominantes. Estudos acerca do movimento de reconceituação do Serviço Social frisam a importância de compreendê-lo enquanto processo que impulsiona a categoria repensar questões emergentes e favorecer a construção de sua nova identidade profissional. Cabe aos profissionais do Serviço Social, em tempos atuais, superar as limitações e os equívocos, em um permanente esforço de reconstrução histórica da profissão. Segundo Brandão (2006), a atualização que se impõe ao Serviço Social deve considerar a inserção da profissão no momento histórico atual, sem perder de vista as possibilidades de desenvolvimento de uma prática profissional que vem tentando se firmar e se legitimizar, a partir de uma perspectiva de crítica às sociedades marcadas pela exclusão social e econômica da maioria das populações. Desde a década de 1980 tem-se observado uma leitura e uma luta diferente que prima pela cidadania e pelo direito ao espaço, ou seja, observamos um resgate do protagonismo das classes populares situada no contexto das relações sociais e, como tal, espaço privilegiado da prática dos Assistentes Sociais. Isto significa o entendimento das políticas sociais, na perspectiva de um espaço onde se identificam forças contraditórias, podendo contribuir para o fortalecimento dos processos organizativos dos setores populares, enquanto formas de realização de direitos sociais e enquanto formas concretas de acesso a bens e serviços. Trata-se de um espaço político de luta por uma cidadania coletiva (FALEIROS, 2006). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 20 A reconceituação foi um marco decisivo no desencadeamento do processo de revisão crítica do Serviço Social. Foi um fenômeno tipicamente latino-americano de contestação ao tradicionalismo profissional. Assim, de uma formação que visava manter os objetivos dominantes, surgiu a necessidade de rever o Serviço Social nesta nova realidade, agora caracterizada pela abertura democrática, permitindo vinculação da profissão com a classe considerada dominada. Contudo, não foram todos os profissionais que aderiram ao movimento e, por isso, a reconceituação deixou um forte “divisor de águas” no Serviço Social. Abriu-se um grande espaço para as várias formas de entender e intervir na realidade. De fato, o embate com o Serviço Social tradicional reverteu em uma modernização da profissão que atualiza então a sua herança conservadora. Verificou-se uma mudança no discurso, nos métodos de ação e nos rumos da prática profissional. Faleiros (2006) indica ainda que deva existir uma transformação das relações profissionais no bojo das instituições para que uma prática reconceituada seja sedimentada. Segundo ele, o referido movimento se manifesta como processo que se dá nas instituições enquanto local privilegiado da prática do Serviço Social, expressando-se no âmbito acadêmico, no que diz respeito à formação profissional. Expressou-se, também, no âmbito da organização da categoria e na inserção nos movimentos sociais. Nestes movimentos, esse vínculo tem possibilitado o desenvolvimento de alternativas de ação diferenciadas na dinâmica das relações de forças. A partir dessa compreensão, explicita também que a tônica maior do movimento de reconceituação é o compromisso com os setores populares. Paulo Netto (2005) indica que o Serviço Social tradicional possuía a prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética liberal- burguesa claramente funcionalista, visando enfrentar as incidências psicossociais da “questão social” sobre indivíduos e grupos. Os Assistentes Sociais inquietos e dispostos a buscar a renovação indagaram-se sobre o papel da profissão em face de expressões concretamente Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 21 situadas na “questão social”; a adequação dos procedimentos profissionais tradicionais em face das nossas realidades regionais e nacionais; a eficácia das ações profissionais; a pertinência de seus fundamentos pretensamente teóricos e o relacionamento da profissão com os novos protagonistas que surgiam na cena político-social. O autor faz uma avaliação do movimento e aponta conquistas que integraram-se na dinâmica profissional do nosso país: 1. A articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana; 2. A explicitação da dimensão política da ação profissional e reiterou a dimensão política como constitutiva da intervenção profissional; 3. A edificação de novas bases para uma nova interlocução do Serviço Social com as ciências sociais; 4. A discussão de diferentes concepções acerca da natureza, do objeto, das funções, dos objetivos e das práticas do Serviço Social. Evidentemente que todo movimento social ocorre com equívocos e avanços e não aconteceu diferente com a trajetória histórica do Serviço Social, uma vez que algum ativismo político mais profundo pode ter obscurecido os limites entre profissão e partidarismo, mas, embora seja cedo para conclusões, acredita-se que os avanços superaram os equívocos. Só o tempo dirá. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 22 UNIDADE 3 – DIMENSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Em linhas gerais, podemos afirmar que o profissional – aqui subtende-se Assistente Social – deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais (SOUSA, 2008). Segundo Costa (2008), o Serviço Social historicamente se afirmou como necessário na sociedade na condição de um exercício profissional, como um tipo de especialização do trabalho que objetiva uma intervenção no processo social. Apesar de ter um suposto de explicação da vida social como base para essa intervenção, não surge tendo como prevalência o saber na sua função social. Dessa forma, não se afirma como necessário na sociedade, como um ramo do saber entre as ciências. Portanto, o Serviço Social não tem método e teoria próprios, apesar da necessidade premente de sustentar uma matriz teórico-métodológica, que viabilize uma leitura, de preferência crítica da realidade social e, dessa forma, forneça subsídios e parâmetros para a intervenção (IAMAMOTO, 2005). É necessário ter em mente, a distinção entre concepções teórico- metodológicas e as estratégias, técnicas e procedimentos da intervenção profissional.Não se deve atribuir uma estrutura de “metodologia” ao processamento da ação, visto que, a partir de qualquer referência teórico-metodológica existe a necessidade de se lançar mão de estratégias e procedimentos para a implementação do fazer profissional. Dessa maneira, a perspectiva teórico- metodológica não pode ser reduzida a pautas, etapas, procedimentos de fazer profissional (COSTA, 2008). O movimento da teoria, por sua vez, não é de “aplicação” no real. A teoria é a reconstrução, no nível do pensamento, do movimento do real apreendido nas suas contradições, nas suas tendências, nas suas relações e inúmeras determinações. E esse movimento se faz necessário porque a prática social, na sociedade capitalista, Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 23 não se revela de imediato, reafirmando-se, portanto, a exigência metodológica para se apreender as múltiplas determinações e relações com uma totalidade, que é histórica. Dessa maneira, a questão teórico-metodológica vai além de um esquema de procedimentos operativos, uma vez que diz respeito ao modo de ler, de interpretar, de se relacionar com o ser social. Uma relação entre o sujeito cognoscente – que busca compreender e desvendar essa sociedade – e o objeto investigado (IAMAMOTO, 1994, p. 174). Assim, encontra-se estreitamente imbricada à maneira de explicar essa sociedade e aos fenômenos particulares que a constituem. Segundo Costa (2008), as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social no Brasil atualmente em vigência apresentam como pressuposto a adoção da teoria social crítica e do método materialista-histórico-dialético, como orientação teórico-metodológica. Tal orientação sustenta-se na leitura da realidade como uma totalidade formada de vários complexos (múltiplas determinações), dinâmica (em constante transformação) e passível de ser apreendida pela razão, embora sempre de maneira parcial e sucessiva, uma vez que é sempre mais rica do que o que podemos pensar dela. Nesse sentido, o documento da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS) considera que [...] a capacitação teórico-metodológica é que permite uma apreensão do processo social como totalidade, reproduzindo o movimento do real em suas manifestações universais, particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade, em suas dimensões econômicas, políticas, éticas, ideológicas e culturais, fundamentado em categorias que emanam da adoção de uma teoria social crítica (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 152). O entendimento é que o método dialético permite ao assistente social apreender na dinâmica social, o processo de construção da demanda em suas singularidades, compreendida na e a partir das determinações universais da realidade, em que a se encontram os espaços sócio-ocupacionais. Apreensão que se dá pela via da mediação, categoria ontológico-reflexiva essencial nos processos sociais, trabalhada por Lukács (1979) a partir da teoria social marxiana e que Reinaldo Pontes (2002) retomou magistralmente na produção do Serviço Social. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 24 A mediação é instância que garante a possibilidade da síntese de muitas determinações. Sendo a totalidade 'complexo de complexos', cada complexo tem sua existência mediatizada com os demais. Portanto, para insistir no caminho metodológico 'das aproximações sucessivas', é imperativo apreender também as mediações que vinculam e determinam esses processos (PONTES, 2002b, p. 87). A realidade social não se revela a si própria de forma miraculosa e espontânea. As mediações permitem o penetrar nas teias da complexidade que formam a realidade social, revelando as suas contradições e indo além da aparência e do imediato. O plano da singularidade é a expressão dos objetos 'em-si', ou seja, é o nível de sua existência imediata em que se vão apresentar os traços irrepetíveis das situações singulares da vida em sociedade, que se mostram como coisas fortuitas. rotineiras, casuais. [...] esse é o plano da imediaticidade. [...] Neste nível, essas categorias emergem despidas de determinações históricas (PONTES, 2002b, p. 85). O objeto de intervenção profissional visto exclusivamente do ângulo da singularidade, não ultrapassa as demandas institucionais, tampouco logra alcançar ações mais ousadas no campo das transformações socioinstitucionais. No processo de ultrapassagem da facticidade é necessário que se tenham visões mais amplas e complexas do real. É preciso aproximar as singularidades com o plano das determinações universais da realidade, ou seja, a universalidade, que é a legalidade que articula e impulsiona a totalidade social. “É no plano da universalidade que estão colocadas grandes determinações gerais de uma dada formação histórica” (PONTES, 2002b). Assim, na dialética entre o universal e o singular encontra-se a chave para desvendar o conhecimento do modo de ser do ser social. E essa dialética é chamada por Lukács (1979) de particularidade, caracterizando-a como um campo de mediações. É, portanto, nesse campo de mediações que os fatos singulares se viabilizam com as grandes leis tendenciais da universalidade e dialeticamente as leis universais saturam-se da realidade. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 25 Dito de outro modo, [...] faz-se necessário apreender que as grandes leis e/ou categorias históricas do ser social podem estar interferindo nesse ou naquele problema social/fenômeno que se está enfrentando. [...] é necessário capturar, no próprio cotidiano [...] a interferência das forcas, das leis sociais, percebendo realmente sua concretude visibilidade (PONTES, 2002b, p. 46). Para a efetivação desse processo no cotidiano profissional, o desenvolvimento da capacidade investigativa do assistente social é essencial. Se a realidade não se revela em sua imediaticidade a investigação das situações concretas postas no cotidiano, através do método, constitui-se um recurso indispensável para a apreensão das mediações (COSTA, 2008). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 26 UNIDADE 4 – DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA O Assistente Social não é um profissional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica em assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais2 (Resolução CFAS nº 273/93), e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade (SOUSA, 2008). A ética enquanto um campo filosófico pressupõe ou possibilita ao ser humano atitudes reflexivas de espanto, admiração, inconformismo, indagação na sua constante busca pelos fundamentos da vida social (COSTA, 2008). Segundo Barroco (2007, p. 19), associada à reflexãosobre a ética, é praticamente impossível não considerar a moral. Moral e ética por algumas filosofias são considerados como sinônimos: ética como filosofia moral e a moral como realização dos valores éticos. Por outras, a moral refere-se ao indivíduo e a ética à sociedade. Etimologicamente, o termo moral vem do latim mores, que significa costumes e ética deriva do grego ethos, traduzido como modo de ser ou modo de vida. É indissociada da discussão da ética e da moral a eleição dos princípios e valores que vão dar razão aos costumes e ao modo de ser ou modo de viver social. Tem-se, dessa forma, que a liberdade é o valor ético-moral fundamental, sendo esta entendida como capacidade humana de fazer escolhas e valorações. Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir com liberdade, é poder escolher 2 O Código de Ética profissional vigente defende o reconhecimento e a defesa de 11 princípios fundamentais. São eles: liberdade, direitos humanos, cidadania, democracia, equidade e justiça social, combate ao preconceito, pluralismo, construção de uma nova ordem social (sem dominação- exploração), articulação com movimentos de trabalhadores, qualidade dos serviços prestados e combate a toda espécie de discriminação (SOUSA, 2008). Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 27 conscientemente entre alternativas e valores, com base nas necessidades humano- genéricas (COSTA, 2008). Contudo, as determinações que incidem sobre a eleição desses valores, princípios, só podem ser entendidas na totalidade social, isto é, [...] levando em consideração a complexa rede de mediações entre necessidades e interesses sócio- econômicos e políticos-culturais, e as possibilidades de escolha dos indivíduos sociais (BARROCO, 2007, p. 29). Como já visto, são bastante influenciadoras na sociabilidade capitalista vigente a moral conservadora e a moral liberal, forjadas pela racionalidade formal- abstrata. A primeira, segundo Costa (2008), incorpora a tradição, a autoridade, a hierarquia e a ordem como princípios e valores que devem ser conservados e legitimados na convivência social. A segunda reforça o individualismo nas relações sociais e a coisificação das necessidades humanas. Embora regidas por princípios opostos, ambas negam o princípio fundamental da ética e da moral, que é a liberdade. Porém, pela possibilidade da contradição na realidade social, comparece com as demais, uma outra moral que é a socialista, a qual busca a construção de valores de emancipação humana, que garanta a liberdade nas escolhas. E a construção dessa moralidade que vai de encontro ao moralismo conservador e a moralidade burguesa se dá no processo de lutas das classes trabalhadoras que aportam para projetos de emancipação humana, colocados no horizonte de uma nova sociedade, capaz de criar condições para a sobrevivência e universalização da liberdade. Dessa forma, pode-se considerar que a ética das profissões tem uma íntima relação com a ética social e com os projetos societários. Expressa, ou deve expressar, de forma sistemática, o posicionamento e o compromisso político de uma determinada categoria com um projeto societário, ou com determinados [...] valores e princípios – assentados em referências teóricas que expressam uma dada concepção de homem e de sociedade – que se traduzem em normas e diretrizes para a atuação profissional presentes no Código de Ética. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 28 Tendo em vista a histórica inserção da profissão no contexto das relações entre o Estado e a sociedade, ou seja, na luta de classes, é preciso considerar o caráter eminentemente político da prática ou do exercício profissional. lamamoto (2005) já chamava a atenção para um desafio intelectual e teórico- crítico, e também político: o de desvendar a prática social como condição para conduzir e realizar a prática profissional, imprimindo-lhe uma direção consciente, tomando-se imprescindível, para isso, o entendimento do sentido ou da natureza política da prática profissional. A atuação do Serviço Social é visceralmente polarizada por interesses sociais de classes contraditórias, inscritos na própria organização da sociedade e que se recriam na nossa prática profissional, os quais não podemos eliminar. Só nos resta estabelecer estratégias profissionais e políticas que fortaleçam alguns dos atores presentes nesse cenário. Assim sendo, a prática profissional tem um caráter essencialmente político; surge das próprias relações de poder presentes na sociedade (IAMAMOTO, 2005, p. 122). Nos marcos da crítica ao conservadorismo no Serviço Social, na década de 1990, setores da categoria consolidaram um projeto profissional que vem desde a transição dos anos de 1970 para 1980. O Projeto Ético-político do Serviço Social, que assume essa nomenclatura somente na década passada, se constrói com base na defesa da universalidade do acesso a bens e serviços, dos direitos sociais e humanos, das políticas sociais e da democracia, em virtude por um lado da ampliação das funções democráticas do Estado e por outro da pressão de elementos progressistas, emancipatórios (NETTO, 1999). Os seus elementos norteadores têm como respaldo as prerrogativas constantes no atual Código de Ética Profissional, o qual tem como núcleo a liberdade como valor central, [...] concebida historicamente como possibilidade de escolher entre alternativas concretas (NETTO, 1999, p. 104). Esse núcleo, por sua vez, implica compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 29 Vincula-se, ainda, a um projeto societário, o qual propõe a construção de uma nova ordem social sem dominação ou exploração de classe, etnia e gênero, afirmando a defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do preconceito e contemplando positivamente o pluralismo na sociedade e no exercício profissional. Considera a dimensão política articulada à dimensão ética do exercício profissional, uma vez que se posiciona a favor da equidade e da justiça social na perspectiva da universalização do acesso aos bens e serviços; da ampliação e consolidação da cidadania como condição para a garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras e do princípio democrático da socialização da participação política e social da riqueza socialmente produzida (COSTA, 2008). E, do ponto de vista estritamente profissional, assume o compromisso com a competência, com base no aprimoramento intelectual do profissional e com ênfase numa formação acadêmica qualificada, alicerçada em concepções teórico- metodológicas críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social. Cabe ressaltar que o Código de Ética não se trata de um dogma. É preciso que sua legitimidade junto à categoria profissional seja incorporada por ela própria na medida em os seus princípios sejam vivenciados efetivamente em seu exercício profissional de forma consciente, responsável e autônoma. Nesse sentido, considerando a heterogeneidade da categoria que o Código representa, aliada à fundamentação teórica, uma importante referência no diálogo plural entre os projetos profissionais comprometidoscom a democracia e com a busca da ampliação da liberdade como valor ético central. Vale refletir que o projeto ético-político profissional do Serviço Social no Brasil, vinculado a um projeto de transformação de sociedade, reitera a teoria crítica como fundamentação para o agir profissional. Esta teoria vai ao encontro das novas exigências da profissão, na medida em que possibilita novas investigações, não naturaliza o real e tampouco reduzindo-o ao que está posto. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 30 O projeto ético político pressupõe prática que leve a transitar do reino das necessidades para o da liberdade, pressupõe também a capacidade do homem criar valores, escolher alternativas e ser reconhecido como cidadão (BATTINI, 2008). Diante de todo este movimento, pode-se constatar que o Serviço Social é uma profissão dinâmica inserida no próprio contexto sócio-histórico. Portanto, cabe ao assistente social modificar a sua forma de atuação profissional, em decorrência da demanda que lhe é colocada e da necessidade de responder às exigências e às contradições da sociedade capitalista. É preciso acompanhar o movimento da sociedade e visualizar os novos espaços como possibilidades de intervenção sobre uma realidade social concreta. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 31 UNIDADE 5 – DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA A dimensão técnico-operativa quer dizer que o profissional deve conhecer, se apropriar e, sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações não governamentais, fundações, autarquias, etc.), garantindo assim uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social. A dimensão técnico-operativa se refere mais estritamente aos elementos técnicos e instrumentais para o desenvolvimento da intervenção. Os instrumentos devem ser vistos como potencializadores do trabalho, que devem ter a sua utilização constantemente aprimorada de forma a que se tornem úteis ao objeto e aos objetivos do trabalho, como aponta Trindade (1999, p. 65): Considera-se instrumental técnico-operativo a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e o seu desdobramento - qualitativamente diferenciado - ocorrido ao longo do desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas). Portanto, as técnicas se aprimoram a partir da utilização dos instrumentos, diante da necessidade de sua adequação às exigências de transformação dos objetos, visando o atendimento das mais variadas necessidades humanas. A técnica pode ser tomada, então, como uma qualidade atribuída ao instrumento para que ele se tome o mais utilizável possível, em sintonia com a realidade do objeto de trabalho. É a técnica que vai viabilizar esse aprimorar dos instrumentos, contanto que não seja isolada em uma concepção tecnicista, mas imbuída e implicada nos referenciais teóricos e metodológicos. Há um certo consenso de que a palavra “técnica” é empregada para designar procedimentos, processos e tarefas humanas as mais diversas. É identificada como algo próprio do homem e que nasce dele, acompanhando assim, sua trajetória Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 32 histórica. Ao longo da história da humanidade, a técnica foi assumindo significados diferentes. Campagnolli (1993, p. 12) resgata a etimologia da palavra. O vocábulo técnica tem origem no grego téchne, que é originário da raiz sânscrita Tvaksh, que significa fazer, aparelhar. Na Grécia, o termo técnica foi utilizado desde a ideia de habilidade, arte ou maneira de proceder, geralmente à transformação da realidade natural em artificial e mais adiante, deixou de restringir-se à fabricação material, passando referir-se à ideia de um fazer com eficácia e adequação, até chegar a uma compreensão mais ampla, a partir de Heródoto, de Píndaro e dos trágicos, em que a téchne passa a ter um sentido de habilidade geral, ou seja, habilidade apropriada e eficaz. Com o advento do capitalismo industrial do século XVI, a concepção de técnica ligada à arte mecânica se acentuou consideravelmente até a compreensão que temos atualmente, que é a da tecnologia. Daí, então, a técnica se distancia da concepção grega de criação, o que se acentua pelo distanciamento do trabalhador dos seus meios de produção ocorrido no processo de produção capitalista. Ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, entusiastas e contrários ao desenvolvimento tecnológico fizeram a defesa ou a refutação da técnica, pensando nas consequências que seu desenvolvimento vem acarretando para a humanidade. Há segmentos que defendem que a técnica em si não é de todo maléfica ou benéfica para a humanidade, mas a questão preocupante é a subordinação de todas as esferas da vida a ela, o que concorre para a escravidão do homem pela máquina e para a desorganização social (CAMPAGNOLLI, 1993, p. 34) No entendimento de Costa (2008), a compreensão acerca da dimensão técnico-operativa está relacionada a um campo do fazer profissional, especialmente relacionado com a prática, mas que vai além de instrumentos aplicáveis puramente. Entende-se que o Serviço Social não dispõe de um conjunto específico e exclusivo de instrumentos e técnicas, mas faz um uso diferencial do instrumental técnico criado pela ciência (sociologia, psicologia, direito, antropologia, por exemplo), priorizando aqueles instrumentos, recursos e técnicas que conduzem às Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 33 suas finalidades e iluminando, permanentemente, o uso da técnica com sua intencionalidade. Em oposição às práticas ou procedimentos executados mecânica e irrefletidamente, o instrumental técnico apoia-se em conhecimentos científicos correspondentes É fruto de uma escolha consciente e reflexiva. Sua escolha ou seleção leva em conta os determinantes específicos de uma dada realidade e de cada situação em particular, devendo ser posto em prática no sentido de facilitar e fortalecer as ações propostas (COSTA, 2008) Assim sendo, o instrumental não porta única e exclusivamente um aspecto técnico, uma vez que demanda uma competência ao criar, selecionar e aplicar, mas também precisa ser considerado em sua dimensão política, uma vez que pressupõe e se vincula a um projeto político que pode ou não ser de superação, sendo primordial o estabelecimento de mediações adequadas no seu manejo. Portanto, fica evidente a implicação das demais dimensões sobre a dimensão técnico-operativa. No momento em que os instrumentos, técnicas, estratégias ou procedimentos são acionados pelo profissional, é preciso que este tenha consciência da intencionalidade que se investe no processo. Sobre isso, Pires (2005) comenta que o instrumental técnico não indica esquemas ou modelos rígidos e preestabelecidos que se mostram sob uma capa de neutralidadepolítica. Sua utilização demanda obrigatoriamente seleção, adaptação e/ou aprimoramento à luz da perspectiva teórico-metodológica e política do agente profissional, assim como dos determinantes específicos da realidade ou situação particular enfrentada e dos objetivos mediatos e imediatos da ação profissional. O objetivo ao se forjar a instrumentalidade do assistente social é torná-la mais do que um agente técnico, um profissional atento às finalidades e objetivos, assim como às consequências do seu trabalho. Um profissional técnico, mas também intelectual, capaz de realizar leituras críticas da realidade social, num processo investigativo por meio de sucessivas aproximações, identificando os nexos que constituem os fenômenos, ou seja, apreendendo as mediações. Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 34 Assim, o domínio do instrumental técnico-operativo é muito importante, mas não é suficiente. Precisa ser agregado ao desenvolvimento das demais capacidades do profissional. Considerar a instrumentalidade do Serviço Social em sua complexidade implica fugir do modelismo, tecnicismo e metodologismo vislumbrando a possibilidade de uma intervenção profissional mais consequente (COSTA, 2008). Essas considerações nos levam à hipótese de que as ações profissionais se constroem de forma encadeada e em processo, não sendo dadas a priori. Nessa formulação, entende-se ação profissional como um conjunto de procedimentos, atos, atividades pertinentes a uma determinada profissão e realizadas por sujeitos/profissionais de forma responsável, consciente. Portanto, contém tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética e expressa no momento em que se realiza o processo de apropriação que os profissionais fazem dos fundamentos teórico-metodológico e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. São as ações profissionais que colocam em movimento, no âmbito da realidade social, determinados projetos de profissão. Estes, por sua vez, implicam diferentes concepções de homem, de sociedade e de relações sociais (MIOTO; LIMA, 2009). Ter como foco a dimensão técnico-operativa, entendida como o espaço de trânsito entre o projeto profissional e a formulação de respostas inovadoras às demandas que se impõem no cotidiano dos assistentes sociais, implica destacar categorias que possibilitem realizar esse trânsito, como a visita domiciliar/familiar que mostra claramente a dimensão técnico-operativa. A partir da leitura de Jacques Donzelot em seu livro “A polícia das famílias”, é possível identificar similaridade com o que o autor descreve sobre a França no século XlX, em como se caracterizou a atuação do Estado e a sua forma de intervenção junto às famílias. Com o surgimento de profissionais como assistente social e educadores, as avaliações in locu começaram a ser estimuladas, com atuações voltadas a higienização das famílias e imposição de padrões morais. O instrumento utilizado era a visita domiciliar que apresenta uma historicidade pautada Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 35 por períodos onde o foco de sua utilização era o de normalização social, com vistas a que as famílias fossem alvo de vigilância e, portanto, tivessem sua organização regulada pelo Estado, que se utilizava de entidades religiosas e filantrópicas para este fim. Esta concepção, entretanto, com o decorrer dos anos, considerando os diversos determinantes históricos que orientaram a construção da identidade do Serviço Social no Brasil, acabou sendo redimensionada (MIOTO; LIMA, 2009). Atualmente, a utilização da visita domiciliar como instrumento de trabalho do assistente social, embora seu histórico conservador, tem em seu projeto ético- político profissional, uma nova dimensão. O Serviço Social conta em seu processo de trabalho com o eixo técnico/operativo, o qual possui alguns instrumentos que permitem sua intervenção, sendo que os instrumentos utilizados pelos profissionais devem ser considerados como integrantes de um movimento, onde sua utilização dependerá das situações sociais a serem abordadas. A visita domiciliar é um dos instrumentos que potencializa as condições de conhecimento do cotidiano dos sujeitos, no seu ambiente de convivência familiar e comunitária. As visitas domiciliares têm como objetivo conhecer as condições (residência, bairro) em que vivem tais sujeitos e apreender aspectos do cotidiano das suas relações, aspectos esses que geralmente escapam a entrevistas de gabinete (MIOTO, 2001). Contudo, ela só se realizará efetivamente quando o profissional entender necessária e cabível para a situação social em que está intervindo, requerendo disponibilidade e habilidades específicas deste profissional. As habilidades aqui referidas dizem respeito ao profissional quando da operacionalização da visita domiciliar, concebê-la como uma forma de abordagem “[...] mais flexível e descontraída do que as práticas do cenário institucional[...]”(AMARO, 2003, p.17). A opção pela visita domiciliar se depara com limites e possibilidades inerentes a sua utilização. Os limites dão conta do fato do profissional não conseguir previamente identificar rotinas da família que possam impedir a efetividade da visita domiciliar. Pode ocorrer situações do cotidiano daqueles sujeitos que dificultem as Site: www.ucamprominas.com.br e-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas 36 condições ideais para uma entrevista com um outro membro da família, pelo fato de estarem, muitas vezes, em grupos em suas casas e essas, de modo geral, não terem a proteção necessária ao sigilo. Segundo Perin (2008), o profissional, nesse sentido, precisa estar atento aos possíveis imprevistos e realizar a sua intervenção, sempre compreendendo a ética profissional. As possibilidades inerentes à visita domiciliar são mais atraentes que seus limites. Quando buscamos o contato direto com a vida dos sujeitos nos é permitido conhecer de modo mais apurado suas dificuldades, angustias, suas relações intrafamiliares; como se estabelece a convivência comunitária; seu modo de vida em sua casa, e em sua rotina. 5.1 Como abordar a visita domiciliar? A visita domiciliar deve ser utilizada a partir da análise que o profissional efetua, sobre a situação social que está sob sua responsabilidade intervir, e dentre os distintos instrumentos técnicos disponibilizados para sua atuação, qual deles será mais efetivo para obtenção do resultado pretendido. O profissional que fizer a opção por utilizar a visita domiciliar como seu instrumento de trabalho deve se sentir à vontade com ele, buscando inicialmente acordar com o sujeito sua entrada na casa, de modo a explicar-lhe os motivos que o levam a efetuar a visitação. Colocando-se à disposição do anfitrião para que ele concorde com a entrada do profissional na residência. Torna-se importante que o profissional aceite as condições oferecidas pelos que o estão recebendo, não importando em que lugar irá sentar-se, ou até se tiver que ficar em pé, a visita poderá ser realizada (PERIN, 2008). É preciso identificar a realidade exatamente como ela se apresenta, levando em conta as condições sociais e culturais daqueles sujeitos, sem interpretações que venham ao encontro de seus conceitos morais e culturais. Este cuidado é de suma importância, pois o conhecimento da vida social daqueles
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