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Fisiopatologia do Estresse

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Fisiopatologia do Estresse
Atualmente, alguns dos maiores problemas que afetam a permanência dos animais selvagens na natureza são a destruição de hábitats e a extinção de várias espécies tanto da fauna quanto da flora, geradas principalmente pela ação humana, além de caça predatória e de tráfico sofridas pelos mesmos. 
Por isso, trabalhos que visem a preservação animal e vegetal vêm ganhando importância e, neste sentido, a manutenção de espécies selvagens em cativeiro é parte do esforço conservacionista. 
A manutenção de animais selvagens em cativeiro contribui para a formação de uma importante reserva genética para animais principalmente em extinção oferecendo oportunidades para o desenvolvimento de pesquisas, além de funcionar como base para a reconstrução de populações em seus hábitats naturais. 
No entanto, o longo período de cativeiro, quando em condições restritivas e inadequadas de manejo e nutrição, faz com que esses animais sejam submetidos a situações de estresse, podendo provocar alterações funcionais aos mesmos, tornando-os enfraquecidos e sem habilidades físicas e psicológicas necessárias à sobrevivência, no momento da sua introdução ou reintrodução na natureza. 
Portanto, uma vez que o cativeiro se torne, algumas vezes, necessário para a conservação da vida selvagem, deve-se ter uma preocupação com o bem-estar animal, utilizando-se para isso técnicas para estimular o interesse do animal pelo ambiente em que se encontra e, assim, reduzir o seu padecimento. 
DEFINIÇÃO DE ESTRESSE
Processo fisiológico, de caráter neuro-hormonal, pelo qual passam os seres vivos para enfrentar uma mudança ambiental, na tentativa de se adaptar às novas condições e, assim, manter a sua homeostasia. 
Trata-se de um estado manifestado por um conjunto de respostas desencadeadas frente a um agente estressante chamado de Síndrome Geral da Adaptação (SGA), podendo ser dividido em três estágios que se diferenciam em decorrência do tempo:
· Reação de Alarme (1° contato com o estresse): ocorre uma mobilização geral do organismo na tentativa de adaptação às novas condições, havendo a participação do sistema nervoso autônomo simpático na estimulação da medula adrenal para a liberação de catecolaminas (epinefrina e noroepinefrina); 
· Adaptação ou Resistencia (estímulo estressor mantido): o sistema nervoso autônomo simpático entra em hiperatividade e há uma estimulação intensa do sistema neuroendócrino para a liberação de glicocorticoides pelo córtex adrenal;
· Exaustão (estímulo mantido até que o animal não consiga mais se adaptar): as reservas energéticas vão se esgotando e o processo evolui até a morte do animal por falência orgânica múltipla. 
- Esta fase não é necessariamente irreversível, assim, dependendo da importância dos órgãos afetados.
→ o animal pode vir a óbito já na fase de alarme, pela descompensação orgânica causada pelo processo. 
Outra classificação importante do estresse é relacionada a sua natureza, forma de manifestação e consequências desencadeadas, podendo ser chamado de eustresse ou distresse. 
· Eustresse: evento positivo, ou seja, do estresse necessário à sobrevivência do indivíduo frente a uma adversidade, sendo relacionado a fase de “reação de alarme” e posterior retorno a homeostasia; 
· Distresse: quando o estresse desencadeado acabar sendo prejudicial ao organismo do animal, sendo relacionado as duas ultimas fases (“adaptação ou resistência” e “exaustão”). 
Segundo Selye, quando o organismo se defronta com um agente tão nocivo a ponto de a contínua exposição ser incompatível com a vida, a morte ocorre dentro das primeiras horas ou dias, ou seja, ainda durante a fase de alarme. Além disso, os animais em estado de alerta também se tornam mais suscetíveis a comprometimentos orgânicos, como traumas, lacerações, fraturas, contusões e concussões, causados pela própria situação.
CAUSAS DO ESTRESSE
Várias são as causas que desencadeiam situações de estresse aos animais selvagens mantidos em cativeiro. Entre elas podemos citar o ambiente reduzido, com variedades de substratos, plantas, alimentos e temperatura que não substituem aquelas oferecidas em seu habitat natural e que poderiam enriquecer o ambiente e motivacionar atividades exploratórias; horário de alimentação e formação de grupos (ou casais) determinados pelo homem, além do contato homem-animal muito próximo; o isolamento de animais que conviveriam normalmente em sociedade; o dispensável esforço para busca de alimentos ou procura de parceiros para a formação de casais; além do desinteresse em explorar o ambiente e o desconforto gerado pelo meio, associado à impossibilidade de fuga do animal. Assim, as principais causas de estresse para os animais selvagens em cativeiro podem ser agrupadas em algumas categorias, como: 
· Estressores Somáticos: incluem todos os fatores que estimulam reações físicas, como sons, imagens e odores estranhos, manipulação, mudança de espaço físico (de ambiente), calor e frio excessivos, além de efeitos de fármacos e agentes químicos.
· Estressores Psicológicos: incluem sentimentos de frustração, como sentimentos de apreensão, ansiedade, medo ou terror. 
· Estressores Comportamentais: estreitamente ligados aos psicológicos, sendo relacionada a disputas territoriais ou hierárquicas, superpopulação, condições não familiares de ambiente, mudanças no ritmo biológico, falta de contato social, de privacidade, de alimentos e de estímulos naturais e problemas induzidos pelo próprio homem, como o alojamento próximo de espécies antagônicas (por exemplo, um predador próximo a uma presa). 
· Estressores Mistos: má-nutrição, intoxicações, ação de agentes infecciosos e parasitários, queimaduras, cirurgias, administração de fármacos, imobilização química e física e confinamento. 
Uma das causas mais importantes e relevantes de estresse em animais em cativeiro é a deficiência nutricional. Segundo Mader, cada espécie tem preferências alimentares e adaptações digestivas e metabólicas, que influenciam o seu requerimento de água, calorias e nutrientes. Neste caso, se o manejo dos animais em cativeiro não for realizado de modo adequado, pode ocorrer um grave impacto no seu metabolismo, influenciando a necessidade nutricional. Além disso, no cativeiro, a variedade de alimentos é diferente da encontrada no ambiente selvagem tanto na aparência, quanto no conteúdo e no sabor, tornando a composição nutricional não balanceada ou desconhecida para tal espécie. 
FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE
Quando um organismo é estimulado por agentes estressores, ocorrem modificações no seu equilíbrio fisiológico que são imediatamente detectadas por neurorreceptores. As informações recebidas são transmitidas, por meio de impulsos nervosos, até o SNC, que as analisa, processa e desencadeia respostas para órgãos efetores, induzindo reações que são primariamente dirigidas a enfrentar as alterações ambientais ocorridas. 
Assim essa resposta pode ser dividida em três níveis distintos, o cognitivo, que relaciona o modo como o indivíduo processa a informação proveniente dos estímulos e avalia a sua possibilidade de resposta, o comportamental, que abrange as possibilidades comportamentais de um indivíduo frente à condição estressora sendo considerado um padrão característico de cada espécie, e o fisiológico, que se relaciona às funções orgânicas que ocorrem nos indivíduos em decorrência do estresse. 
· Fase de Alarme 
Nesta condição, o organismo é mobilizado como um todo no esforço à adaptação, sem o envolvimento específico ou exclusivo de algum órgão em particular, possibilita ao animal uma resposta imediata ao perigo, em forma de luta ou de fuga.
Desse modo, os agentes estressores atuam sobre os neurotransmissores, gerando impulsos que, após serem processados pelo SNC, causam uma estimulação do sistema nervoso autônomo simpático (SNAs), o qual atua sobre a medula adrenal e determina a liberação de grande quantidade de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) no sangue.
Estas catecolaminas acabam por induzir a uma série de eventos no organismo,determinados pela sua interação com seus receptores específicos nos órgãos-alvo, como aumento da frequência e da força de contração cardíaca, contração esplênica (aumentando o aporte de sangue para o interior dos vasos), diminuição da circulação sanguínea para órgãos periféricos (não necessários para a rápida atividade motora) e aumento para músculos ativos, aumento da pressão arterial, aumento da frequência respiratória, broncodilatação, liberação de glicose pelo fígado via glicogenólise na tentativa de aumentar a disponibilidade de energia para os músculos, lipólise (disponibilizando lipídios para a síntese de glicose), dilatação pupilar para aumentar a eficiência visual (midríase), aumento de linfócitos B e T circulantes já preparando o organismo para possíveis danos, aumento do metabolismo celular como um todo, aumento da atividade mental, diminuição da produção de urina e consequente aumento da pressão arterial por retenção de líquidos, vasodilatação local na musculatura esquelética, e etc. 
Os objetivos gerais de tais processos relacionam se ao aumento da distribuição de sangue, oxigênio e energia para músculos e órgãos vitais, à preparação geral do organismo para possíveis danos, e a possibilidade no desenvolvimento de atitudes mais rápidas por parte dos animais. 
→ alterações de coloração cutânea frente à ação das catecolaminas também podem ocorrer.
Ao final da fase de alarme, o organismo deve retornar gradualmente ao seu estado de equilíbrio. Assim, inicia-se a estimulação da atividade parassimpática, que diminui as frequências cardíaca e respiratória e aumenta o tônus e o peristaltismo dos tratos gastrintestinal e urinário, fazendo com que as catecolaminas, que se encontravam aumentadas na circulação, sejam rapidamente removidas via reabsorção pelas próprias terminações nervosas, difusão para o sangue ou degradação por enzimas.
FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO AUTONOMO 
O sistema nervoso autônomo pode ser dividido em sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático, agindo de maneira antagônica sobre a determinação das funções orgânicas, são responsáveis pela inervação e pelo controle das funções dos tecidos e dos órgãos que não apresentam controle voluntário, como é o caso da musculatura lisa visceral, da musculatura estriada cardíaca e das glândulas. 
São igualmente constituídos por duas fibras nervosas que realizam sinapse no interior de gânglios – uma partindo do SNC (fibra pré-ganglionar) e outra que tem contato direto com os órgãos alvos (fibra pós-ganglionar). 
· Sistema Nervoso Parassimpático: 
- produzem respostas viscerais localizadas importantes para a homeostase;
- fibras pré-ganglionares têm origem no tronco encefálico (III, VII, IX e X pares de nervos cranianos) e em segmentos sacrais da medula espinal;
- neurotransmissor principal é a acetilcolina 
- fibras pré-ganglionares longas e pós-ganglionares curtas;
- receptor metabotrópico (muscolinico): M1 (neural – excitação do SNC e secreção gástrica), M2 (cronotropismo, dromotropismo, inotropismo negativo e vasodilatação – inibição cardíaca) M3 (efeitos no musculo liso |TGI: maior motilidade/ trato urinário: contração da bexiga e ureter/ brônquios: broncoconstrição e maior secreção traqueobrônquica/ olhos: miose|, efeitos glandulares e efeitos SNC).
· Sistema Nervoso Simpático: 
- fibras pré-ganglionares têm origem em segmentos torácicos e lombares da medula espinal;
- neurotransmissor principal é a norepinefrina (entre fibras pós-ganglionares e órgãos alvos);
- fibras pré-ganglionares curtas e pós-ganglionares longas; 
Define-se, portanto, que frente à ação simpática, os órgãos são estimulados de duas maneiras distintas: diretamente, pelos nervos simpáticos, e indiretamente, por hormônios medulares. Tal mecanismo é importante para garantir a funcionalidade do sistema caso ocorram falhas e porque os hormônios, uma vez liberados no sangue, conseguem atingir estruturas não inervadas diretamente por fibras nervosas. 
EPINEFRINA x NOREPINEFRINA
A secreção de epinefrina ocorre concomitantemente à de norepinefrina, tendo ações em receptores alfa-adrenérgicos, presentes na maioria dos tecidos alvo e estimulatórios (com exceção dos da musculatura lisa intestinal), e beta adrenérgicos (beta 1, encontrados no músculo cardíaco e nos rins, e beta 2, encontrados no musculo liso), inibitórios em sua maioria, com exceção dos receptores do músculo cardíaco.
· Receptor alfa-adrenergico: maior estimulação por meio da norepinefrina. 
- ALFA 1 (músculo liso – TGI / genito urinário / vascular ): vasoconstrição, secreção salivar, relaxamento musculo liso do trato gastrointestinal.
- ALFA 2 : inibição da transmissão de neurotransmissores, contração do musculo liso vascular, e da liberação de insulina. 
· Receptor beta-adrenergico: maior estimulação por meio da epinefrina.
- BETA 1 (musculo cardíaco – fibras ventriculares): aumento da frequência e força de contração muscular.
- BETA 2 (musculo liso – brônquios, vasos do m. esquelético, útero): broncodilatação, vasodilatação, relaxamento do musculo liso visceral, gligogenolise hepática.
- BETA 3: lipólise. 
· Fase de Adaptação ou Resistencia
Caso o agente estressor seja mantido (de forma crônica), os animais entram na fase de adaptação do estresse, caracterizada pela ativação continuada do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal, visando, principalmente, à liberação de glicocorticoides e, consequentemente, à produção de energia em quantidade suficiente para aumentar a resistência do organismo perante o agente estressor. 
Nesta resposta, há uma estimulação hipotalâmica, que controla as atividades gerais do SNA e do sistema endócrino, pelo agente estressor induzindo a síntese e liberação do hormônio liberador de corticotropina (CRH), que deve atuar sobre a adeno-hipófise, liberando o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) pela glândula. 
O ACTH é um hormônio polipeptídico, que faz parte de uma grande molécula proteica precursora, a pró-opiomelanocortina (POMC). Dela fazem parte também a melanocortina (MSH), que tem ação sobre os melanócitos, e os opióides endógenos (endorfinas), que reduzem a percepção da dor. 
Uma vez liberado na corrente sanguínea, o ACTH atinge células do córtex das glândulas adrenais, gerando uma sinalização para que haja a produção de hormônios adrenocorticais, a partir do colesterol. 
Diferentes hormônios são produzidos por regiões específicas do córtex da adrenal, tais como os mineralocorticoides (em especial, a aldosterona), alguns andrógenos sexuais e os glicocorticoides (cortisol e corticosterona), responsáveis por prolongar a ação das catecolaminas. 
Assim, os glicocorticóides promovem a rápida mobilização de aminoácidos e de ácidos graxos das reservas celulares, tornando-os imediatamente disponíveis para a síntese da glicose, necessária para fornecer energia aos diferentes tecidos do corpo nesta situação. 
Os corticóides exercem também funções anti-inflamatórias, bloqueando os estágios iniciais do processo inflamatório pela promoção da estabilidade das membranas lisossômicas, assim como diminuindo a permeabilidade capilar e a migração de leucócitos para dentro da área inflamada pelo bloqueio da formação de prostaglandinas e leucotrienos (bloqueio primário da fosfolipase A2), que deveriam aumentar a vasodilatação. Promovem também a redução da fagocitose de células lesadas e da febre pela redução da liberação leucocitária de interleucina 1 (IL-1). Além disso, o cortisol suprime o sistema imunitário, fazendo com que a proliferação linfocitária diminua acentuadamente, principalmente dos linfócitos T. A ação dos corticóides também aumenta a diurese, provavelmente por inibição da secreção de vasopressina (ADH), e estimula a absorção de gordura pelo trato gastrointestinal, bem como a secreção ácida e de pepsina do estômago, sugerindo, assim, que o estresse contínuo possa contribuir para a formação de úlceras gástricas. 
Em geral, todos os efeitos desencadeados pelos glicocorticoides podem ser observados durante a fase de adaptação do estresse. Em condiçõesnormais, ao final deste processo, a homeostasia deve se restabelecer. Deste modo, o excesso de glicocorticoides liberados na circulação deve agir sobre o hipotálamo, diminuindo a formação do CRH, e sobre a glândula hipófise, diminuindo a formação do ACTH, por mecanismos de feedback negativo.
Os glicocorticoides liberados no sangue, por sua vez, devem ser catabolizados e inativados após exercerem suas funções específicas. O fígado é o local mais importante na formação de compostos biologicamente inativos a partir dos esteroides e na solubilização destes compostos em água, para que sejam mais facilmente eliminados na bile ou na urina na forma de metabólitos do cortisol.
Quando o retorno à homeostasia não ocorre, o animal pode vir a sofrer prejuízos em sua saúde. No cativeiro, o animal pode estar sujeito a uma situação de estresse contínuo (crônico) e pode, portanto, vir a desenvolver transtornos de diferentes naturezas, tais como distúrbios digestivos, cardíacos, reprodutivos e principalmente imunológicos, ficando, assim, predisposto a infecções virais, bacterianas e parasitárias pela supressão de sua imunidade. 
PROCESSO INFLAMATÓRIO
Em geral, os processos inflamatórios, independentemente da causa que os provocou, cursam com eventos vasculares (vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular) e celulares (mediados principalmente por leucócitos), que visam ao aumento do fluxo sanguíneo e do aporte de líquidos, proteínas e células sanguíneas para as áreas acometidas na intenção de delimitar, diluir e/ou destruir os agentes promotores do processo inflamatório. Contam também com a participação de substâncias químicas, como citocinas (interleucina 1), fator de necrose tumoral (TNF), quimiocinas e metabólitos derivados do ácido araquidônico, liberadas nos locais de lesão, além de células endoteliais e leucócitos, que promovem uma comunicação intercelular e modulam a atividade inflamatória.
- interleucina 1 e fator de necrose tumoral: vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, aumento da temperatura corporal e outras alterações; 
- quimiocinas: promovem o recrutamento de diferentes tipos de leucócitos para o sítio inflamatório; 
- metabólitos derivados do ácido araquidônico: o ácido araquidônico é um ácido graxo essencial presente na membrana plasmática das células, liberado pela ação de uma enzima chamada de fosfolipase A2 frente a perturbações celulares, podendo gerar lipoxinas e leucotrienos (via lipo-oxigenase) e prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos (via ciclo-oxigenase). Em conjunto, exercem diferentes ações pró-inflamatórias no organismo, indo desde alterações vasculares até o recrutamento de leucócitos e a promoção de febre.
· Fase de Exaustão 
Ocorre após a fase de adaptação, quando o estímulo estressor continua sendo mantido até que o animal não tenha mais capacidade em se adaptar. Deste modo, o relaxamento e o retorno à homeostasia não ocorrem, levando o animal a um estado de exaustão tanto emocional como física, no qual os mecanismos adaptativos falham levando a deficiência em reservas energéticas. 
As modificações biológicas apresentadas são semelhantes às da reação de alarme, mas o organismo não consegue mais se restabelecer sozinho, entrando em um período pré-agônico, com falência orgânica múltipla. 
MIOPATIA DE ESFORÇO: esgotamento da função do SNAs frente a uma situação grave de estresse, causando, entre outras coisas, interrupção súbita da atividade da musculatura esquelética, com consequente estase do fluxo sanguíneo e hipoxia tecidual.
Nos músculos, a ausência de oxigênio causada pelo processo faz com que ocorra glicólise anaeróbica para fornecimento de energia, levando à formação de ácido láctico como produto final. A associação da acidose tecidual com o calor acumulado na musculatura contribui para a necrose do tecido muscular, promovendo a liberação de mioglobina (considerada tóxica para os rins – falência renal aguda) e de potássio (fibrilação e falência aguda do coração).
- pode gerar quadros de dor, rigidez locomotora, incoordenação, paresia, paralisia, oligúria (< urina), acidose metabólica, depressão, e posteriormente, morte. 
SISTEMA DIGESTÓRIO: glicocorticoides estimulam a secreção ácida e de pepsina no estômago e inibem a renovação de células epiteliais e a secreção de muco, a sua ação continuada pode levar à formação de úlceras gástricas e até peritonites, se as úlceras forem perfurantes. A motilidade gastrintestinal também pode ser prejudicada. 
SISTEMA CARDIOVASCULAR: a ação simpática continuada pode ocasionar o impedimento da função diastólica, além de taquicardia e taquiarritmia, quadros de hipertensão por hipertrofia vascular com consequente aumento da resistência periférica dos vasos sanguíneos, e posterior isquemia com degeneração e necrose do miocárdio.
SISTEMA RESPIRATÓRIO: a atividade simpática prolongada pode promover aumento da pressão arterial local e edema.
SISTEMA REPRODUTOR: corticosteroides em excesso, assim como o ACTH, provocam a diminuição da produção de andrógenos pelos testículos e até a atrofia testicular. Nas fêmeas, provocam diminuição na secreção de hormônio luteinizante (LH), estrógeno e progesterona, podendo causar infertilidade e diminuição na produção de ovos. 
SISTEMA URINÁRIO: a liberação exacerbada dos glicocorticoides pode aumentar a reabsorção de sódio nos túbulos renais e promover, como consequência, o aumento da pressão osmótica plasmática e, automaticamente, o aumento patológico da pressão arterial.
ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS 
O comportamento animal pode ser definido como um fenótipo, ou seja, como o resultado da associação entre características comportamentais herdadas geneticamente e eventos ambientais que modulam ou modificam tais características. 
Fisiologicamente, o comportamento é ditado por um esquema de sinapses neuronais inatas, que podem ser modificadas ou melhoradas de acordo com as experiências passadas e aprendidas pelos animais. O aprendizado e a memória de informações criam padrões únicos, individuais, de interconexões neuronais. 
Quando um comportamento difere em forma, frequência ou contexto daquele apresentado pela maioria dos membros de uma espécie passa a ser considerado como uma anormalidade, um desvio comportamental.
· Estereotipias: são caracterizadas pela repetição de movimentos, aparentemente sem objetivo, como, por exemplo, balançar o corpo para os lados ou para frente e para trás, e andar de um lado para o outro, entre outras manifestações. 
· Comportamentos Autodestrutivos: são caracterizados por uma agressividade contra o próprio corpo, como auto-mutilação, arrancamento de penas ou pêlos, mordedura, lambedura, ingestão de fezes, de madeira, de terra, de excesso de alimentos e de água, dentre outros.
· Agressividade - dirigida a outros animais do grupo - ou Hiperagressividade: inclui o canibalismo, o infanticídio (matança de recém-nascidos) e o feticídio (indução de abortamento, provocando morte do feto), que ocorrem em algumas situações e, principalmente, nas condições de estresse social.
· Falhas em Funções Comportamentais: inadequação do comportamento sexual (cio silencioso, impotência nos machos), maternal (rejeição ou canibalismo dos neonatos) e nos movimentos básicos, como dificuldade para deitar-se, levantar-se ou locomover-se.
· Reatividade Anormal: apatia, inatividade prolongada, hiperatividade e histeria.
· Comportamentos (no vácuo ou atípicos): construção de ninhos com materiais impróprios, atividade sexual dirigida a estímulos inadequados, dentre outros.
Define-se que o comportamento animal é iniciado a partir da percepção sensorial de alterações ambientais ou do próprio organismo, em conjunto com a cognição e a memória de situações vividas. Tais informações são direcionadas até áreas integrativas do SNC, que irão processá-las e enviar uma resposta motora, caracterizada por ações musculares e endócrinas, voluntárias ou inconscientes, que correspondem ao comportamento que o animal irá executar em uma dada situação. 
CONCLUSÃO
Frente ao quadro atual de constanteperda e possibilidade de extinção de diversas espécies de animais selvagens na natureza, o cativeiro tem atuado como uma importante ferramenta no esforço conservacionista. Sabe-se, entretanto, que o longo período de cativeiro pode provocar alterações físicas e psicológicas, necessárias à sobrevivência dos animais em vida livre. Por essas razões, a adoção de medidas para amenização do estresse, satisfazendo da melhor forma possível as necessidades básicas dos animais, adotando-se alternativas para a melhoria do seu bem-estar, tais como o condicionamento animal e o enriquecimento ambiental, é de extrema importância. Preocupações com a nutrição e o manejo também são essenciais nesse sentido. Para o veterinário que lida com animais selvagens, a atenção às questões psicológicas associadas às doenças, e não apenas às suas causas físicas, é fundamental.
· Condicionamento Animal: realizado por meio da administração de recompensas ao animal que apresente uma resposta comportamental desejável, como, por exemplo, a apresentação dos membros anteriores para a realização de colheita de sangue, mediante o oferecimento de algo que o animal goste, diminuindo sensações como o medo e a ansiedade. 
- o condicionamento animal pode também reduzir a necessidade do uso de contenção física ou química para a realização de pequenas intervenções e permitir a dessensibilização dos animais a uma ampla variedade de fatores estressantes, tais como os procedimentos veterinários, as trocas de recintos, a introdução de novos objetos, os barulhos estranhos e o contato com pessoas, dentre outros. 
· Enriquecimento Ambiental: refere-se às melhorias que podem ser realizadas no ambiente de cativeiro, para uma consequente melhora nas funções biológicas dos animais.
- procura-se aumentar a estimulação do ambiente cativo, geralmente pela introdução de materiais, com os quais os animais possam interagir, e de alimentos, com os quais os animais passem grande parte do seu tempo entretido, procurando-os.
- a importância do enriquecimento ambiental está relacionada a melhora do bem-estar físico dos animais e o aumento do seu interesse pelo ambiente, à conservação das espécies pelo aumento da taxa de reprodução, e, consequentemente, ao aumento da taxa de sobrevivência dos animais mantidos em cativeiro. 
No entanto, a manutenção de animais selvagens em cativeiro só se justifica se houver uma preocupação maior com a preservação da natureza, pensando-se em soluções para os problemas ambientais gerados pela ação humana e realizando-se projetos de educação ambiental e de uso sustentável de recursos naturais, visando a conservação das espécies e, principalmente, dos seus hábitats.

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