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Avaliação Nutricional Aula 02: Avaliação clínica Apresentação A avaliação clínica faz parte da avaliação do estado nutricional e ajuda a identi�car sinais e sintomas clínicos de má nutrição, principalmente a desnutrição. Para que seja realizado, são necessárias inspeção, palpação e ausculta. Faz-se imprescindível que essas técnicas sejam realizadas por pessoal treinado e com experiência clínica. Por meio desses sinais, é possível perceber depleção das reservas corporais de tecido adiposo e muscular, presença de edema e ascite e alterações na pele, mucosas, olhos, cabelos e unhas. Objetivo Reconhecer a importância de métodos e procedimentos no cuidado nutricional ao paciente em hospitais e ambulatórios; Identi�car as técnicas de abordagem ao paciente no leito, no consultório ou ambulatório; Reconhecer as bases da semiologia nutricional através do exame clínico nutricional. Palavras iniciais A técnica do exame clínico tem como objetivo identi�car o estado nutricional e os fatores associados a ele. O paciente deve relatar o que interfere direta ou indiretamente no seu estado nutricional, citando algumas questões como perda e/ou ganho de peso, sintomas gastrointestinais, ingestão de medicamentos, presença de anorexia, alterações na boca, di�culdades na mastigação, presença de doenças crônicas e fatores psíquicos que interferem no consumo alimentar. O exame clínico em avaliação nutricional não pode ser utilizado isoladamente devido às variáveis de que depende, pois o sucesso da anamnese pode estar comprometido. Para que o exame clínico seja completo, é importante que a avaliação seja desde a cabeça até a região plantar, e com associação do relato de sintomas e de observações a �m de ser possível a de�nição e sugestão de um diagnóstico. Fonte: shutterstock O exame clínico em avaliação nutricional não pode ser utilizado isoladamente devido às variáveis de que depende, pois o sucesso da anamnese pode estar comprometido. Para que o exame clínico seja completo, é importante que a avaliação seja desde a cabeça até a região plantar, e com associação do relato de sintomas e de observações a �m de ser possível a de�nição e sugestão de um diagnóstico. A avaliação pode da seguinte forma: Cabelo, olhos, narinas, face; Boca (lábios, dentes, língua); Pescoço (tireoide); Tórax (abdome); Membros superiores (unhas, região palmar); Membros inferiores (quadríceps, joelho, tornozelo, região plantar); Pele e sistemas (cardiovascular, neurológico, respiratório e gastrointestinal). Fonte: shutterstock A forma como o indivíduo relata os sintomas, principalmente como ele se sente e como percebe o processo de saúde e da doença que o acomete tem relação com fatores sociais, econômicos, culturais e emocionais. No exame clínico, algumas técnicas são possíveis para a realização do mesmo como descrito a seguir: 1 Inspeção Você pode fazer uso da visão, olfato, audição e por meio desses sentidos identi�car se existe excesso de peso, caquexia, ingestão hídrica, pele íntegra, cicatrização de feridas, icterícia, ascite e estado mental. 2 Palpação Tem como técnica sentir a pulsação e a vibração e, dessa forma, o pro�ssional consegue avaliar estruturas como textura, tamanho, temperatura, consistência e mobilidade. 3 Percussão Permite uma avaliação dos sons para veri�car se o órgão está sólido ou se há a presença de líquido ou gases.. 4 Ausculta Avaliação dos sons corpóreos que podem ser ouvidos por meio de um estetoscópio. Atenção É importante lembrar que a técnica do exame clínico necessita de treinamento e de um olhar clínico do avaliador, principalmente por conta da gravidade dos problemas nutricionais, sendo importante identi�car os desequilíbrios nutricionais para que, dessa forma, o tratamento seja iniciado o mais rápido possível. Técnicas de exame físico relacionado à nutrição Técnica Descrição Inspeção - Usa a visão, o olfato e a audição. - Observação crítica da cor, formato, textura e tamanho. - É a técnica mais frequentemente utilizada. Palpação - Exame táctil para sentir pulsações e vibrações. - Avalia as estruturas corporais (incluindo textura, tamanho, temperatura, consistência e mobilidade). Percussão - Avaliação de “sons”, para determinar o contorno, formato e posição dos órgãos. - Nem sempre pode ser usada no exame físico relacionado à nutrição. Ausculta - Ouvir os sons corporais com ou sem o uso de estetoscópio (ex.: sons do coração e pulmões, intestinais e dos vasos sanguíneos). Fonte: Hammond, 1996. A seguir são descritos os sinais e sintomas de de�ciências nutricionais: a) Os tecidos de proliferação rápida, como cabelos, pele, lábios, olhos e língua devem ser examinados, pois podem desencadear de�ciências nutricionais mais precocemente que outros; b) Sintomas como atro�a da língua, palidez cutânea, dermatite, cicatrização inadequada de feridas, turgor de�ciente da pele devem ser avaliados; c) Algumas alterações que estão relacionadas ou associadas à doença podem atrapalhar a avaliação correta; d) O exame clínico deve ser realizado de forma sequencial e organizada, ou seja, por exemplo: cabeça e pescoço, sistema cardiopulmonar, gastrintestinal, urinário, músculo-esquelético e neurológico; e) Deve ser considerado que os achados clínicos devem estar associados com a história completa do paciente, bem como a exames antropométricos e laboratoriais. Em alguns pacientes é importante observar a perda de gordura subcutânea. Muitas vezes, pacientes com estado nutricional adequado podem apresentar acúmulo embaixo dos olhos podendo parecer um edema leve. Por outro lado, pacientes com desnutrição podem apresentar depressão e uma área escura abaixo dos olhos. Torna-se então importante observar as reservas de gordura e, de acordo com o grau da perda, classi�car subjetivamente. Os grupos musculares das partes superiores do corpo são mais susceptíveis à perda, e em relação à região das têmporas, é necessário que vire a cabeça do paciente para o lado, mas em muitos casos observado de frente. Já para o músculo da clavícula, homens e mulheres exibem diferença na musculatura nesta região, mas é importante observar a extensão da linha da clavícula e que quanto menor a massa muscular, mais proeminente é o osso. Fonte: shutterstock Para uma melhor de�nição dos grupos musculares, peça ao paciente para empurrar a mão dele para frente, contra um objeto sólido: a perda pode variar na localização e profundidade. Clique nos botões para ver as informações. Nos músculos dos ombros devem ser posicionados os braços do paciente para baixo, ao lado do corpo, sendo possível pinçar tecido muscular da junção do ombro, e na escápula deve ser observado se existem depressões ao seu redor. Músculos dos ombros Nos músculos das costelas inferiores devem ser observadas as depressões, com o paciente pressionando a mão contra um objeto sólido. Já com relação ao músculo do quadríceps, embora não seja tão sensível quanto os grupos musculares da parte superior do corpo, pode ser examinado para avaliar a deterioração muscular. E a técnica pode ser realizada com o paciente em posição sentada, pinçando o quadríceps para diferenciar o tecido muscular do gorduroso. Músculos das costelas Na observação clínica, o músculo da região interna da perna deve ser caracterizado pelo grau de de�nhamento e se houve perda ao redor do joelho, já no músculo da panturrilha a técnica consiste em pinçar o músculo para determinar a quantidade de tecido. Músculo da região interna da perna No exame clínico, quando há a presença de edema, é necessário que sejam observados alguns pontos como: A desnutrição pode aumentar o edema, considerando somente aquele que resulta da desnutrição; De maneira prática, descartar todas as outras causas de edema, antes de associá-lo à desnutrição; Devem ser observadas as regiões do tornozelo e do sacro e, principalmente, é importante examinar a presença de edema na região sacral em pacientes com atividade física restrita; O tornozelo é o melhor local para identi�caredema em um paciente que se movimenta. Fonte: REBELLO, Gonçalo. Grupo de Estudos em Semiologia e Propedêutica. 2012. Classi�cação do edema: Edema Característica + Mínimo ++ Discreto cacifo ou fóvea +++ Moderado, apaga relevo ósseo ++++ Pronunciado, deforma seguimento comprometido A ascite A ascite é de�nida como o acúmulo de líquido extracelular na cavidade abdominal. Para observar a presença de ascite, pode solicitar ao paciente (ou outra pessoa) que coloque a mão na linha mediana do abdômen (apoiar com certa �rmeza - não apoiando a palma, mas, sim, a lateral da mão esticada na linha mediana) e então a técnica de percussão em um dos lados do abdômen pode ser realizada. Fonte: shutterstock Nessa condição é observado se há transmissão de onda de líquido para o lado oposto do abdômen, e caso haja prosseguimento da onda para o lado oposto do abdômen, o sinal é considerado positivo. Classi�cação da ascite: Intensidade Classificação Leve Visível apenas no ultrassom Moderada Detectável pelo “abaulamento dos flancos” ao exame físico Grave Claramente visível, confirmada pelo “sinal do piparote*/sinal de onda líquida” ao exame físico Fonte: James (1989) Fonte: Shutterstock Exame do trato gastrointestinal superior e inferior Cavidade oral – veri�car di�culdades de mastigação, dentes (ausentes ou quebrados, presença e adaptação de prótese), lábios e gengivas (sangramento, cor anormal, lesões, �ssuras ou úlceras); língua (cor, presença de tremores, papilas, edema ou superfície anormal), hipo e hipersalivação; Esôfago – veri�car disfagia, odinofagia, pirose, dor, regurgitação, eructação, soluço, sialorreia, engasgos, hemese e/ou hematêmese, paresias; Estômago – veri�car presença de dor aguda ou crônica, dor intermitente ou constante, di�culdade de digestão, gastroparesia, sensação de plenitude pós-prandial, náuseas, hemese e/ou hematêmese e/ou vômito biliar; Intestinos delgado e grosso – veri�car presença de dor aguda ou crônica, dor intermitente ou constante, paresia, diarreia, consistência e formato das fezes (classi�car de acordo com escala de Bristol), esteatorreia, melena, obstipação e mudanças de ritmo intestinal, presença de fecaloma, distensão abdominal, entre outros. A diarreia pode ser dividida em dois tipos: Clique no botão acima. Aguda - que é de�nida como o início súbito da emissão de fezes líquidas, com presença de sintomas como fraqueza, �atulência, dores abdominais, podendo coincidir com a presença de vômitos e febre; Crônica - de�nida como persistente e com emissão de fezes não moldadas. A diarreia pode ser classi�cada segundo conteúdo das fezes como descrito a seguir: Osmótica: o conteúdo luminal é concentrado devido à presença de substâncias que não são absorvidas e pode ocorrer da má absorção, havendo retardo também na absorção de água; Secretora: pode ser causada por enteroxinas e,cnesse tipo, ocorre a secreção ativa de água e eletrólitos; Motora: a mucosa tem secreção normal de água e eletrólitos, podendo ser causada pela ingestão de medicamentos procinéticos. Pode nesse tipo ocorrer aceleração na motilidade e no trânsito intestinal; Exsudativa: não existem alterações secretórias nem de osmolaridade luminal ocorrendo passagem anormal de líquidos do meio interno para a luz intestinal. Pode ser causada por isquemias, neoplasias e doença in�amatória intestinal como a doença de Chron. O exame clínico na região anal deve veri�car as di�culdades de evacuação, dores ao evacuar, sangramentos, melena, fístulas, lesões, hemorroidas, prurido anal, formação de massas, fístulas, pólipos e entre outros. No ano de 1997, foi proposta a escala de fezes de Bristol (�gura a seguir), que descreve as formas mais habituais das fezes, divididas em 7 tipos, de acordo com a velocidade do trânsito intestinal. Por exemplo, os tipos 1 e 2 são comuns em pessoas com trânsito intestinal lento, que ingerem pouca �bra na alimentação e têm tendência à constipação intestinal. Já os tipos 3, 4 e 5 são considerados as formas normais, sendo o tipo 4 a forma mais saudável e desejável das fezes. E por último, os tipos 6 e 7 indicam um trânsito intestinal acelerado, com menos tempo para absorção de água e nutrientes – a diarreia. Fonte: Escala de Bristol. Atividades 1.Relacione a 1ª coluna com a 2ª, referente aos conceitos utilizados na avaliação clínica de um paciente que são essenciais para que o diagnóstico direcione o pro�ssional a uma correta prescrição nutricional e dietética: (1) Edema (2) Enterorragia (3) Odinofagia (4) Úlcera de pressão (5) Hematêmese ( ) Hemorragia digestiva baixa ( ) Dor ao engolir ( ) Acúmulo de líquido na região extra ( ) Vômito com sangue ( ) Feridas relacionadas ao impacto com superfícies O relato do exame físico no prontuário de um paciente deve conter informações como estado geral, hidratação, coloração da pele, astenia, temperatura e dados da pressão arterial. Além disso, deve ser veri�cada a presença de edema, descrevendo também o tipo de abdome que o paciente apresenta como: escavado, globoso, ascético, timpânico e ruídos hidroaéreos. Fonte: shutterstock O pro�ssional ainda deve fazer uma avaliação de sintomas gastrintestinais como náuseas e vômitos, deglutição, mastigação, anorexia, dor abdominal, diarreia, constipação, duração, intensidade e frequência dos sintomas, além de que sejam observados sinais de perda de peso e desnutrição. 2. Para identi�car os distúrbios nutricionais, o exame clínico serve para avaliaras carências nutricionais e deve ser associado para que o diagnóstico nutricional seja de�nido. Os sinais de petéquias podem estar associados à de�ciência de: a) Ferro b) Zinco c) Vitamina A d) Vitamina C e) Vitamina K 3. Relacione a coluna 1 com a coluna 2 referente aos aspectos da avaliação clínica com relação à de�ciência de nutrientes que são essenciais na recuperação do estado nutricional do paciente. (1) Ferro () Pêlos encravados e crespos (1) Vitamina A () Xerose (1) Vitamina B12 () Cicatrização deficiente de feridas (1) Vitamina C () Coiloníqua (1) Zinco () Demência, neuropatia periférica Exemplo Alimentos ricos em zinco: ostras, camarão, carne de vaca, frango e de peixe, fígado, gérmen de trigo, grãos integrais, castanhas, cereais, legumes e tubérculos. As frutas e hortaliças, em geral, são pobres em zinco e menos aproveitadas pelo organismo. Notas Referências DANTAS, R. O. Diarreia e Constipação Intestinal. In: Medicina. v. 37, n. 3/4, p. 262-266, 30 dez. 2004. Ribeirão Preto, 2004. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/506 <http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/506> . Acesso em: 22 jul. 2019. http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/506 DUARTE, A. C. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. 1. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007. 639 p. DUARTE, A. C.; CASTELLANI, F. R. Semiologia nutricional. 1. ed. Rio de Janeiro: Axcel Books, 2002. 115 p. DUARTE ACG; BORGES VLS. “Semiologia nutricional”. In: Duarte ACG. Avaliação Nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu, cap. 4, p.21-28, 2007. Próxima aula Avaliação bioquímica no diagnóstico nutricional; De�ciências e excessos nutricionais por meio dos exames bioquímicos; Interpretação dos exames bioquímicos na prática nutricional. Explore mais Indicação de leitura: CEMBRANEL, F. et al. Relação entre consumo alimentar de vitaminas e minerais, índice de massa corporal e circunferência da cintura: um estudo de base populacional com adultos no Sul do Brasil. In: Cad. Saúde Pública 2017; 33(12):e00136616.