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UNIDADE III Instrumentos Técnicos da Avaliação Mª. Janaina Mourão de Ciganda Tipos de Aprendizagem Introdução Prezado(a) estudante, bem-vindo à terceira Unidade! Nesta aula iremos estudar os diferentes tipos de aprendizagem. Até agora, nesta disciplina, pudemos compreender que para se realizar um processo avaliativo que de fato sirva para a promoção da aprendizagem é preciso que o professor esteja atento a uma multiplicidade de fatores. Entre eles está o entendimento de que nem todos os sujeitos aprendem da mesma forma ou com a mesma estratégia de ensino- aprendizagem. Bons estudos! Compreensão do processo ensino- aprendizagem Aula 01 VÍDEO Para abrir a aula, segue o video com uma tirinha da Chico Bento que exemplifica de forma bastante lúdica as diferenças pessoais no processo de aprendizagem. 1 Cada pessoa tem uma maneira diferente de aprender aquilo que lhe é proposto de forma intencional. Essas formas são únicas e pessoais, caracterizando facilidades e dificuldades nos diferentes processos de ensino-aprendizagem, essas diferenças são chamadas de estilos de aprendizagem. Figura 1 - Maneiras diferentes de aprender. A existência de diferentes estilos de aprendizagem faz com que o professor tenha que identificar o estilo de cada estudante dentro da sala de aula, para assim, facilitar o desenvolvimento e a compreensão do que está sendo ensinado. Para isso, é necessário que se proponha determinadas atividades, que ajudarão a definir as habilidades de cada estudante e por consequência o estilo de aprendizagem de cada um. Conhecer o estudante é um começo, mas é preciso ir além, é necessário saber como funciona o processo de aprendizagem, quais os fatores que facilitam ou prejudicam tal processo, compreender que o estudante pode aprender de forma mais eficiente, ou seja, estar atento a todos os aspectos que envolvem, estudantes, professores e a sala de aula. É evidente que trabalhar com crianças de quatro anos é bem diferente de trabalhar com adolescentes. O estudante em formação tem características diferentes, necessidades diferentes, maneiras diferentes de compreender as coisas. Por isso, é fundamental que o professor tenha conhecimento integral do estudante em seus aspectos físico, emocional, intelectual e social. 2 Normalmente a escola tem o foco no desenvolvimento intelectual mais do que em outros aspectos. Porém, principalmente em regiões menos favorecias, é papel da escola atender às necessidades da comunidade e promover o desenvolvimento físico, emocional e social dos estudantes. A evolução da intelectualidade pode estar comprometida se não acontecer simultaneamente ao desenvolvimento dos outros aspectos. Para além dos conhecimentos sobre o desenvolvimento afetivo e intelectual dos estudantes, a Psicologia da Educação contribui para que o professor compreenda as relações dos estudantes com a família, com os amigos, com a escola, com a comunidade, etc. No seu cotidiano o estudante é influenciado por vários fatores que repercutem de forma negativa ou positiva no seu trabalho escolar. A área do conhecimento que estuda a aprendizagem é composta por uma variedade enorme de correntes teóricas que procuram explicar e conceituar os modelos e tipos de aprendizagem e como isso influencia o desenvolvimento de práticas pedagógicas escolares e extraescolares. Por exemplo, a teoria cognitivista foca seus esforços em compreender as estruturas do saber, os processos mentais, as estratégias didáticas de ensino, buscando a solução de problemas e o processamento da informação, transpondo as aprendizagens do sujeito para novas situações. Independentemente da teoria, o objetivo é sempre construir e aplicar metodologias de ensino- aprendizagem eficientes, alguns focam na aprendizagem escolar sob a ótica da construção de saberes, o que resulta numa categorização de modelos de aprendizagem. Esses modelos podem ser definidos como maneiras ou processos que permitem que as pessoas aprendam ou construam conhecimentos. Vamos ver agora como três grandes teorias definem o processo de aprendizagem. Teorias Ambientalistas: a aprendizagem é decorrente do ensino em ambientes formais de transmissão do conhecimento acumulado historicamente e sistematizado. Nessas teorias, a aprendizagem é consequência da ação de pessoas que têm algum conhecimento ou sabem realizar algo e ensinam a outros aquilo que sabem. Essas teorias se vinculam à educação escolar. Teorias Inatistas: a aprendizagem é inata ao indivíduo, decorrente de atividades da própria pessoa que aprende, atividades essas que englobam a observação e a imitação, a pesquisa, o estudo e a reflexão. São teorias que se vinculam ao conceito de autodidatismo e a ideia de que a aprendizagem decorre de capacidades intrínsecas à pessoa. Teorias Sócio-Interacionistas: a aprendizagem é consequência direta da interação entre as pessoas, interação que se manifesta por meio da troca de ideias, de diálogo, da discussão e da crítica. A aprendizagem é vista como consequência das relações estabelecidas entre o sujeito e seu meio sociocultural. 3 Estilos de Aprendizagem Os estilos de aprendizagem são as diferentes formas de adquirir conhecimento. Os indivíduos apresentam maneiras próprias de aprender, é uma forma individual de construir conhecimentos e é definida como Estilo de Aprendizagem. Como exemplo, podemos pensar que algumas crianças aprendem com maior facilidade através de jogos ou cantando músicas, outras crianças aprendem melhor por meio de brincadeiras, brinquedos pedagógicos etc. O modo operacional exclusivo e pessoal de cada sujeito que define a preferência para o aprender é, em verdade, o seu estilo de aprender. Crianças que gostam de ouvir histórias podem ter um estilo de aprendizagem diferente daquelas que preferem cantar músicas ou simplesmente brincar sem motivo aparente. Figura 2 - Dr. Howard Gardner. Fonte: http://tinyurl.com/zlynxcz Dessa forma, conhecer o tipo de abordagem mais adequado para cada estudante pode simplificar a promoção de experiências educativas que geram aproveitamento cognitivo muito mais eficiente e eficaz. Mais que isso, essa compreensão faz o processo educativo ser divertido e proveitoso para todos, estudantes e professores terão, assim, um rendimento maximizado. 4 As áreas do conhecimento da Educação e da Psicologia têm desenvolvido inúmeras teorias para explicar como as pessoas aprendem e pensam. O teórico mais significativo é o psicólogo Dr. Howard Gardner, da Universidade de Harvard. Ele publicou um livro em 1983 chamado “Frames of Mind: the Theory of Multiple Intelligences”. Nesse livro ele apresenta a ideia de que os indivíduos não são dotados de uma inteligência fixa, ou seja, apenas uma maneira de captar, absorver ou assimilar informações. Ele define pelo menos sete tipos diferentes de aprendizagem. Os sete estilos de aprendizagem de Gardner são: Físico – indivíduo que usa muito a expressão corporal. Interpessoal – indivíduo extrovertido. Intrapessoal – indivíduo introspectivo. Linguístico – aqueles que se expressam melhor com palavras, faladas ou escritas. Matemático – os que usam mais o pensamento/raciocínio lógico, racional. Musical – se interessam mais por sons, música e artes. Visual – exploram mais o aspecto visual, estético das coisas. VÍDEO Veja a seguir um vídeo com o professor doutor Gardner falando sobre sua teoria. Confira! 5 Estilo Físico Figura 3 - Estilo físico. Ao conhecer o estilo de aprendizagem do estudante, o professor estará melhor preparado para criar oportunidades educacionais de forma personalizada e, por isso, mais motivadoras, significativas e adequadas ao temperamento e personalidade cognitiva dos estudantes, potencializando a capacidade de aprendizagem do indivíduo. Todas as pessoas aprendem melhor quando o assunto ou atividade proposta desperta o interesse e a atenção, quando há empatia entre professor e estudante. Desse modo, conhecer o estilo de aprendizagem do estudante é a mesma coisa que saber como ensinarcom eficiência e assim alcançar resultados de fato significativos. Diante do exposto até agora, podemos concluir que quando são utilizadas abordagens cognitivas diferentes podemos chegar a resultados surpreendentes. Talvez seja por isso que existam tantas atividades, livros, canções, jogos etc. O fato é que independentemente do estilo de aprendizagem, são inúmeros os recursos disponíveis para adequar a ação pedagógica ao perfil do estudante. Vejamos a seguir, de forma mais detalhada, cada um dos estilos definidos por Gardner. Indivíduos inquietos, que gostam de fuçar, de desmontar equipamentos e brinquedos, além de querer saber como funciona, precisam ver por dentro. São os hiperativos, aqueles que não conseguem ficar sossegados em seu lugar. São pessoas que não conseguem ficar sentadas por muito tempo. Simplesmente raciocinam melhor quando seus corpos estão em movimento. Interagem melhor com o mundo através do contato manual e corporal. Quem tem predominância do estilo físico adoram esportes, inventar, construir e dançar. 6 Estilo Intrapessoal Indivíduos solitários, que caminham de acordo com sua própria conveniência e podem ser vistos pelos outros como tímidos ou antissociais. Mas, sem rotular, não são pessoas acanhadas, apenas pensam melhor quando são deixadas à vontade para definirem seu próprio ritmo. Se relacionam melhor com o mundo numa ótica independente e através da autorreflexão. Atividades preferidas são escrever, pesquisar e explorar qualquer coisa. Quando estão aprendendo alcançarão melhores resultados com atividades em que possam trabalhar sozinhos, com projetos independentes, e trabalhos de pesquisa. Estilo Interpessoal Indivíduos que estão sempre disponíveis para o outro, os assistentes comunitários, os originais carregadores da equipe. Conseguem o melhor de si quando podem defender suas ideias e ajudar os outros a resolverem problemas. Se relacionam melhor com o mundo por meio de suas interações com os outros. As atividades mais propícias são equipes esportivas, grupos de discussões e organização de eventos. Quando estão assimilando novas informações e conhecimentos, obterão melhor desempenho com jogos coletivos, trabalhos de pesquisa em grupo ou trabalhando em pequenas equipes. Estilo Linguístico ou Verbal Indivíduos que gostam de ler livros, escrever textos e que sempre sabem o que falar. Sempre causam impacto, são possuidores de força presencial quando se expressam através de palavras, faladas ou escritas. Se relacionam com o meio através da linguagem. Podem obter melhores resultados com atividades que utilizem a palavra falada, a escrita e a leitura de livros e textos. Quando estão aprendendo as atividades mais adequadas são a contação de histórias, a explanação em público, a condução de entrevistas etc. Estilo Matemático Indivíduos com grande facilidade para os conceitos matemáticos, gostam muito de jogos, e teorias científicas. A relação com o mundo se dá por meio do raciocínio, dos números, dos padrões e das sequências. As atividades motivadoras sãos as que incluem contagem e classificação de objetos, criação de tábuas cronológicas e tabelas, além da solução de problemas complexos. No processo de ensino-aprendizagem, obterão melhor desempenho com as experiências científicas, acompanhamento do passo a passo de processos, e por meio do uso de cálculos matemáticos. 7 Figura 4 - Estilo musical. Indivíduos que gostam de cantar ou entoar algum som até mesmo com a boca fechada, possuem um “ouvido musical”, encontram sons em tudo. Podem não ser os melhores cantores ou músicos, mas têm uma habilidade natural para interagir e entender os sons, musicais ou não. A relação com o mundo é através dos sons e ritmos sonoros. As atividades que podem ser mais proveitosas para eles são: ouvir músicas, tocar instrumentos, interpretar sons e cantar. Quando estão aprendendo, se beneficiarão escrevendo letras e canções para músicas, tocando instrumentos ou desenvolvendo projetos de multimídia. Estilo Musical 8 Indivíduos que gostam de desenhar, pintar, grafitar, possuem um talento natural para as cores e para harmonizar ambientes. Parecem ter um senso artístico, padrão estético incomum, o que torna suas criações muitas vezes agradáveis aos olhos. Sua relação com o mundo é através de pinturas e imagens. As atividades que podem ser mais proveitosas para eles são a pintura, a escultura, e a criação de artes gráficas de todos os tipos. Quando estão aprendendo, essas pessoas se beneficiarão mais com desenho e criação de diagramas inclusive gráficos, leitura cartográfica, criação de mapas, ou realizando demonstrações. Fechamento Nesta aula conhecemos os diferentes estilos de aprendizagem, com isso podemos seguir adiante em nosso conteúdo e aprofundar nosso entendimento de que a aprendizagem se dá de forma diferente em cada individuo, não sendo possível se conceber uma avaliação única para todos. Figura 5 - Estilo visual. Estilo Visual 9 Avaliar o Ensino ou a Aprendizagem? Nesta aula iremos refletir sobre o que deve ser avaliado no processo educativo: o ensino ou a aprendizagem. Na aula anterior, conhecemos os tipos de aprendizagem e com isso pudemos perceber que devemos realizar a avaliação de acordo com as potencialidades de cada estudante. Sendo assim, agora vamos entender o porquê e o quê deve ser avaliado. Bom estudo! Já vimos, nesta disciplina, que a avaliação durante muito tempo foi usada como instrumento para classificar e rotular os estudantes entre bons e ruins. A prova era tida como um instrumento que causava medo e ameaçava os estudantes. Também já vimos, que essa perspectiva está sendo superada e em seu lugar está sendo colocada uma visão mais humanitária do processo avaliativo. Aula 02 Introdução Avaliação e Ensino 10 Atualmente, a avaliação é entendida como uma estratégia importante para alcançar o principal objetivo da educação: promover os estudantes na caminhada do conhecimento. O fundamental de hoje em diante é realizar ações que possam medir a qualidade da aprendizagem e sua utilidade na vida cotidiana dos estudantes. Assim, em primeiro lugar, o professor deve ter em mente que não existe certo ou errado, mas sim estratégias mais adequadas para cada uma das diversas situações possíveis dentro da sala de aula. Observar, realizar provas, produzir redações e registrar o desempenho individual de cada estudantes são algumas das estratégias que podem ser utilizadas como meio de avaliação. Cada uma das estratégias deve ser utilizada de acordo com a intenção do trabalho que está sendo realizado. O ideal é mesclar a utilização de todas as estratégias disponíveis, adaptando- as não só aos objetivos do professor, mas também às necessidades de cada turma, de cada estudante. A avaliação serve como uma lente para reorientação da atividade pedagógica em busca de uma melhor aprendizagem e, por consequência, um melhor sistema de ensino. Por isso é tão importante que o professor pense e planeje antes de propor uma atividade para a sua turma. Em qualquer processo de avaliação educacional há um foco no individual e no coletivo. Dessa forma, deve-se considerar que existem dois protagonistas nesse processo: o professor e o estudante. O professor precisa identificar o que o estudante quer e se posicionar como um parceiro. Ou seja, discutir os critérios de avaliação de forma coletiva com o objetivo que Figura 6 - Avaliação e ensino. 11 alcançar melhores resultados. Ao professor cabe, desse modo, selecionar os conteúdos realmente importantes, informar os estudantes e evitar mudanças sem necessidade. A boa avaliação envolve três passos: diagnóstico (saber o nível atual de desempenho do estudante; qualificação (identificar o que é necessário ensinar); e planejar atividades, com os respectivos instrumentos avaliativos para cada etapa do processo educativo (LUCKESI, 2008). A avaliação só faz sentido se for para contribuir no desenvolvimento do estudante. Só deve ser avaliado aquilo que foi ensinado. Não adianta exigir que os estudantesapresentam um seminário, se o professor não der orientações sobre como realizar esse seminário. Ou seja, o professor deve escolher formas eficazes de abordar os temas propostos, de preferência que eles estejam ligados à vivência e ao cotidiano dos estudantes. É de fundamental importância compreender a relação de poder que permeia o processo avaliativo, pois através dele o professor tem a possibilidade de controlar a turma. Muitos professores têm dificuldade de lidar com esse poder de forma positiva, pois em suas vivências, enquanto estudantes, a avaliação sempre foi ameaçadora, classificatória, privilegiando a mera atribuição de notas. Daí a dificuldade de agir de outra forma. Esse aspecto negativo do processo avaliativo vem sendo transformado na medida em que essa discussão é feita dentro dos cursos de formação docente. Assim, o professor passa a compreender e a utilizar novos modelos e ferramentas avaliativas, para que o fracasso escolar deixe de ser entendido como uma deficiência do estudante e passe a ser um desafio que não permite ninguém ser deixado para trás. A avaliação só faz sentido se for para contribuir no desenvolvimento do estudante. Só deve ser avaliado aquilo que foi ensinado. Não adianta exigir que os estudantes apresentam um seminário, se o professor não der orientações sobre como realizar esse seminário. Ou seja, o professor deve escolher formas eficazes de abordar os temas propostos, de preferência que eles estejam ligados à vivência e ao cotidiano dos estudantes. É de fundamental importância compreender a relação de poder que permeia o processo avaliativo, pois através dele o professor tem a possibilidade de controlar a turma. Muitos professores têm dificuldade de lidar com esse poder de forma positiva, pois em suas vivências, enquanto estudantes, a avaliação sempre foi ameaçadora, classificatória, privilegiando a mera atribuição de notas. Daí a dificuldade de agir de outra forma. 12 Esse aspecto negativo do processo avaliativo vem sendo transformado na medida em que essa discussão é feita dentro dos cursos de formação docente. Assim, o professor passa a compreender e a utilizar novos modelos e ferramentas avaliativas, para que o fracasso escolar deixe de ser entendido como uma deficiência do estudante e passe a ser um desafio que não permite ninguém ser deixado para trás. Ser professor é educar, e educação é sinônimo de: acreditar, amar, agir, participar, construir, transformar, problematizar, criar e realizar, tudo isso com sabedoria. A avaliação deve ser entendida como um meio e não como um fim em si mesma, dessa forma ela está delimitada pela teoria e pela prática que a orienta. O processo avaliativo não se dá em um vazio conceitual, mas sim amparada por um modelo teórico do universo da educação traduzido em prática pedagógica. Para um verdadeiro processo avaliativo, não importa a aprovação ou reprovação de um estudante, mas sim sua aprendizagem e seu consequente crescimento. Avaliação Educacional para Humanização Figura 7 - Avaliação educacional para humanização. 13 Na prática pedagógica, o ideal da avaliação é a sua função diagnóstica, fazendo disso um momento dialético do processo no sentido de avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia e na formação de competências e habilidades. Sob essa perspectiva, a avaliação convida para a melhoria, almejando a transformação do sujeito e da sociedade. Isso não significa menor rigor na prática avaliativa, e sim um rigor técnico e científico que garante ao professor um instrumental mais eficaz de tomada de decisão. Dessa maneira, a ação do professor se torna mais adequada e eficiente no alcance da transformação, avaliar é ação – reflexão – ação. Atualmente, o conjunto de referências teóricas que orientam a avaliação educacional no Brasil, entende que ela deve ser um procedimento necessário para definir prioridades e garantir a qualidade do ensino. A proposta é que o sistema de avaliação seja capaz de diagnosticar e indicar necessidades de controle e correções de rumos na política educacional coordenada pelo MEC, em colaboração com os Estados e Municípios. Orientações Oficiais sobre Avaliação no Brasil Figura 8 - Orientações sobre avaliação. 14 As orientações oficiais são de desenvolver metodologias de avaliação que possam contribuir para a política educacional, na medida em que os processos avaliativos das escolas apresentem informações sobre o desempenho do estudante. A avaliação de desempenho dos estudantes é uma das estratégias para a avaliação dos sistemas de ensino, com o objetivo de definir prioridades por parte da União e dos Estados, que possam ser necessárias para a definição ou redirecionamento dos rumos da política educacional. É dever da União dar apoio técnico e financeiro aos entes da federação e as avaliações realizadas nas escolas sobre as mesmas indicam suas necessidades, permitindo a correção de rumos. A orientação é que a avaliação aconteça ao longo de processo formativo e não somente ao final. Pois assim, tanto os sistemas de ensino quanto os estudantes poderão perceber o desenvolvimento da aprendizagem e se necessário tomar providências para a recuperação. Como parte de uma avaliação sistêmica, os resultados das avaliações devem permitir projetar a qualidade do ensino, projeções essas que devem ser verificadas a partir da análise de fatores determinantes para um melhor processo educativo. Por exemplo: Condições de infraestrutura e de equipamentos de apoio didático (laboratórios, bibliotecas, etc.); Condições do ambiente escolar em termos físicos (localização, sonoridade, iluminação, ventilação) e sócio-políticos (gestão democrática, valorização dos trabalhadores, autoestima dos alunos, envolvimento da comunidade, etc.); Adoção de livros didáticos e possibilidade de acesso a eles e a outras fontes impressas de conhecimento, pelos alunos; Características da organização curricular e do trabalho pedagógico; Valorização dos professores, considerando a qualidade da formação inicial, as oportunidades de formação continuada, o estímulo à participação no projeto pedagógico da escola, os princípios norteadores da carreira e as condições de trabalho; Características socioeconômicas e culturais dos(as) estudantes. 15 A avaliação educacional deve ser compreendida a partir de uma perspectiva científica que lhe imprime validade e precisão nos resultados, além de uma perspectiva que permita maior e melhor conscientização e participação do pessoal envolvido. Participar e conscientizar os sujeitos envolvidos no sentido de envolvê-los numa discussão conjunta e crítica acerca dos resultados e da elaboração e recomendação de alternativas de solução. O maior envolvimento das pessoas nos processos avaliativos (coleta de dados) leva a Avaliação: Prática Técnico-Político- Pedagógicas Figura 9 - Prática técnico-político-pedagógica. VÍDEO Maura Barbosa, consultora pedagógica de Gestão Escolar, visita a EE Jardim Santa Maria III, em Osasco, São Paulo, para falar sobre como é possível utilizar a avaliação dos(as) estudantes a fim de melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Confira no vídeo disponível a seguir. 16 uma maior apropriação dos dados, o que resulta em uma avaliação como maior credibilidade e relevância como fator de mudança. Dessa forma, entende-se a educação como uma prática social, uma atividade humana concreta e histórica, que se determina a partir das relações sociais. A escola, nesse contexto, é o local para a formação de um ser social consciente e participativo, por isso ela deve promover uma aprendizagem dinâmica, que envolva um processo de cognição. Aprender não é apenas responder a um estímulo, mas sim realizar mudanças qualitativas nas capacidades humanas. Com certeza essas mudanças se darão mais facilmente se houver boa interação em professores e estudantes, resultando em maior participação de ambos no processo avaliativo. Existe uma estreita relação entre os níveis de autonomia e a participação, quanto maior o nível de raciocínio,maior a autonomia no desempenho das ações. O professor deve receber constante capacitação para desenvolver de modo eficiente as atividades didático-pedagógicas, portanto ele deve ter um espírito crítico desenvolvido para que forme estudantes críticos, também deve ter condições dignas de trabalho, como salário, plano de carreira, valorização da sua função etc.. O(a) estudante é o sujeito e não o objeto do processo de ensino-aprendizagem, devendo ser tratado(a) como um ser em formação e, portanto, alguém que precisa de acompanhamento na estrada do conhecimento. As concepções de educação, docente, estudante, currículos, planejamento de ensino e avaliação devem ser as mais amplas possíveis, objetivando sempre a formação do indivíduo como ser social, assim as avaliações devem fazer a comunidade escolar se perguntar constantemente se estão contribuindo para despertar consciência, estimular a busca de alternativas, desenvolvimento de ações individuais e coletivas de transformação. Não existem receitas nem modelos que sirvam para todas as escolas, mas temos um alerta comum: educação é processo, avaliar esse processo é dever da escola; e ganhar espaços, gerar mudanças, promover melhorias é parte integrante da consciência do educador. VÍDEO Para encerrar esta aula, assista a seguir, ao vídeo da mesa redonda sobre avaliação, “Instrumentos e práticas de avaliação e a prática do professor”, do canal Portal Dia a Dia Educação. Confira! 17 Vimos nesta aula que o processo avaliativo avalia tanto o ensino, como a aprendizagem. O importante é perceber que esses dois processos são profundamente relacionados e que o fracasso de um resulta no fracasso do outro. Portanto, a avaliação educacional tem como foco o olhar sobre o processo ensino-aprendizagem em sua perspectiva mais ampla. Até a próxima aula! Fechamento 18 Diferentes Instrumentos de Avaliação e seus Usos Olá, turma! Nesta aula, vamos conhecer na prática a utilização de alguns instrumentos avaliativos que, quando bem empregados, são ferramentas importantes para a concretização da perspectiva da avaliação mediadora. A forma mais eficiente de o professor se aproximar da aprendizagem da criança é utilizar a observação como instrumento de avaliação. Ao observar, o professor consegue coletar informações sem alterar a rotina da sala de aula. É importante ressaltar que o registro das observações deve sempre ser feito, seja no diário ou na própria atividade que a criança realizou. Ao realizar a observação como instrumento avaliativo, o professor acaba por reconstruir a prática avaliativa e passa a questionar sua própria postura como educador. Avaliar é refletir Aula 03 Introdução Observação como Instrumento de Avaliação na Escola 19 sobre a própria ação e, a partir dos resultados, refletir e agir novamente. Manter o processo de práxis (ação-reflexão-ação) de acordo com a realidade e o acompanhamento do educando são as bases para a construção do conhecimento. Nesse sentido, avaliar é um processo de autoconhecimento e de conhecimento da realidade, tanto para educandos como para educadores. Joel Martins (1980) diz que “o que deveria estar presente no paradigma de avaliação do aluno e do professor, como indivíduos humanos, é que a essência do relacionamento fosse sempre um encontro em que ambos os participantes se modificassem”. (MARTINS, 1980, apud HOFFMANN, 2000, p. 18-19) A história que você vai ler a seguir foi contada pela educadora Amy Laura Dombro e a experiência faz parte do livro O poder da observação – do nascimento aos 8 anos, de autoria de Amy Dombro, Margo L. Dichtelmiller, Judy R. Jablon, Ronaldo Cataldo Costa. Com o seu relato, Dombro chama atenção para a importância da observação no processo pedagógico da educação infantil. A autora conta a história de Jones, de 2 anos, que era um menino agitado e ativo que adorava esvaziar prateleiras, espalhar brinquedos pela creche e ver a educadora correr atrás dele para Observação e Registro Figura 10 - Observando o comportamento dos alunos. 20 retomar a ordem do lugar. Instigada por informações sobre observação infantil, a educadora se forçou a olhar para Jones todos os dias com outros olhos. Ela notou, então, que a música prendia a atenção e a concentração da criança e, com isso, passou a estimulá-lo com diferentes instrumentos. Como resultado, o menino começou a passar mais tempo com a educadora lendo livros, conversando e preparando o lanche. Com isso, a imagem de garoto caótico, hiperativo e problemático deu espaço a uma criança curiosa, esperta e com um ótimo senso de humor. A partir do caso de Jones, podemos perceber que as informações coletadas com a observação permitem ao professor escolher os materiais mais adequados, planejar atividades que tragam mais resultados e estabelecer questões que sirvam como guias orientadores da aprendizagem e compreensão do ambiente circundante. Por conta disso, é fundamental que o professor tenha em mente que cada criança se relaciona de forma única com a aprendizagem. Dessa forma, o olhar do professor deve estar focado nos interesses, nas relações, na personalidade e nas interpretações que cada criança faz sobre as suas experiências. Isso tudo constitui a base de informação para que o educador avalie a eficácia da sua prática e reveja aquilo que se fizer necessário. Qualquer projeto pedagógico está condenado ao fracasso se não houver a observação. Olhar para a criança em processo de aprendizagem significa querer saber o que acontece com o outro quando instigado por uma ação objetiva. Sendo assim, a observação, quando bem-feita, é um termômetro do desempenho do projeto pedagógico. Já compreendemos que a observação é fundamental para o processo de aprendizagem das crianças. Porém, existem questões que sempre estarão presentes no momento de planejamento da observação. Entre elas, podemos citar: de onde partir? Como ser um observador? O que observar? Alguns aspectos podem ser considerados para moldar o olhar, de O que observar? VÍDEO Assista, a seguir, a experiência da escola Espaço da Vila, em São Paulo. As perguntas que orientam a análise das turmas até três anos são elaboradas coletivamente pela coordenação e a equipe docente. 21 forma que os dados obtidos contribuam para uma avaliação mediadora e significativa, tanto para o estudante como para o professor. Na educação infantil, é fundamental o professor estar atento à saúde, ao desenvolvimento físico, ao temperamento, às habilidades e capacidades, aos interesses, à cultura e à vida familiar, ao uso das linguagens (verbal, corporal, escrita) e às interações sociais. A finalidade dessa modalidade educacional é o desenvolvimento integral da criança. Sendo assim, é preciso observar a criança como um todo. Nesse sentido, a observação deve ser guiada pelo planejamento. Assim, outras questões se colocam como fio condutor do planejamento da observação: qual é o projeto pedagógico? Qual é o planejamento para colocá-lo em prática? Quais resultados quero alcançar? De posse dessas respostas, o professor pode, então, definir as perguntas que irão nortear a observação, percebendo o desenvolvimento de cada indivíduo a partir das atividades propostas. Um olhar direcionado é a base de uma boa observação. Isto é, é preciso observar a sala de aula tendo em mente boas perguntas a serem respondidas. O livro citado anteriormente apresenta uma sugestão de organização das informações coletadas pela observação. Os autores orientam que o professor estruture uma tabela com três colunas. A primeira deve conter o nome e a idade do estudante. Na segunda, o que foi observado e, na terceira, as possíveis soluções para a situação observada. Por exemplo, para verificar como uma criança lida com a separação, é significativo observar essa criança no momento de despedida de quem a leva para a escola. No caso da criança não responder bem a Figura 11 - O que observar? Como organizar a observação? 22 essa situação, uma possível solução seria fazer um mural com fotos da família na sala de aula. O professorainda pode acrescentar mais uma coluna à tabela de registro de observação para anotar suas próprias percepções sobre o fato observado. Não existe um momento único de observação. Toda hora é hora de observar! O professor deve estar atento em todos os aspectos da rotina escolar, sendo que a observação pode variar, podendo ser espontânea ou planejada. O professor não deve se focar em observar apenas aquilo que foi planejado ou previsto. Ele deve, sim, aproveitar os momentos espontâneos para retirar deles informações que talvez não haviam sido sequer ponderadas. É preciso que o educador esteja aberto a surpresas e, por isso, precisa exercitar seu poder de observador. O registro das observações deve ser feito de forma cuidadosa e no tempo correto. As anotações devem ser realizadas de acordo com a natureza da atividade. Pode-se usar caneta e papel, gravador de áudio e/ou vídeo, câmera fotográfica. Cada tipo de situação vai exigir um tipo de registro diferente, sempre lembrando que o professor não pode negligenciar sua relação com os estudantes em função de realizar as anotações necessárias para a avaliação. Tudo precisa ser bem pensado, organizado e executado. O momento do registro é muito importante, pois é a partir dele que podemos agrupar informações que serão primordiais para realizar a reflexão sobre a prática do educador e compreender para que, para quem e em nome de que se organiza a prática educativa. A observação é um instrumento de avaliação e planejamento. Quando observar? O registro e a avaliação VÍDEO A seguir você vai assistir ao Programa Conexão Futura, que discute como registros, anotações, fotos e vídeos em sala de aula podem ajudar os professores na hora de avaliar os alunos e o próprio trabalho como educadores. 23 Já sabemos que, na atualidade, o trabalho com competências e habilidades é imperativo e é também um grande desafio para o educador. A aprendizagem, no século 21, está diretamente relacionada à capacidade de utilizar os conhecimentos em situações cotidianas da vida real. Os conteúdos trabalhados devem ter uma aplicação quase imediata na vida dos estudantes. Ou seja, a aprendizagem precisa ser significativa. Uma das estratégias para promover aprendizagem significativa na perspectiva da avaliação mediadora é o trabalho em grupo. Talvez, a maior dificuldade dos professores ao trabalhar com esse instrumento avaliativo seja fazer com que todos os estudantes participem. Muitas vezes, o trabalho fica centrado em um ou dois elementos do grupo. Desenvolver trabalhos em grupo é desenvolver um conteúdo atitudinal. Isto é, precisa ser aprendido na prática, na experiência sob orientação do professor. É preciso que o professor esteja disposto a desenvolver essas habilidades em seus estudantes, independentemente da disciplina que está sendo ministrada, até porque o desenvolvimento de habilidades e competências é uma questão transversal, uma vez que perpassa todas as áreas. No trabalho em grupo, o debate acontece e os estudante podem perceber como a discussão e as experiências de todos são mais ricas do que as de uma só pessoa. Para isso, o professor deve dominar bem o assunto sobre o qual serão desenvolvidos o trabalho e o debate. O tema deve ser preparado pelos participantes, com leituras, pesquisas etc. O professor deve fazer a Trabalho em grupo e debate Figura 12 - Trabalho em grupo. 24 mediação para que todos participem, evitando, assim, o monopólio de falas. Inclusive, o próprio professor deve se policiar para não fazer muitas intervenções, comprometendo, com isso, o objetivo da realização da atividade. Agora, vamos ver algumas estratégias para superar os desafios e aproveitar todo o potencial do trabalho em grupo: Quando organizamos os estudantes em grupos, precisamos ter a certeza que a proposta de atividade a ser desenvolvida exige que realmente o trabalho seja feito em equipe. Um dos maiores erros cometidos por professores, ao trabalhar com atividades em grupo, é oferecer material igual para cada estudante e pedir que trabalhem juntos. Se a ideia é que o grupo atue de forma coletiva, a melhor estratégia é oferecer um único informativo por grupo. Assim, os estudantes serão motivados a ler e entender juntos a situação a ser resolvida, para depois decidirem coletivamente sobre o problema a ser solucionado. Com isso, poderão discutir, argumentar e decidir como irão agir e registrar os resultados. Quando os estudantes exercitam a reflexão de forma coletiva, eles aprendem a ouvir, argumentar, defender seus pontos de vista e a chegar em um consenso sobre a solução que irão adotar. Para que tudo isso aconteça, é preciso que a proposta de atividade permita que Estratégias para potencializar o trabalho em grupo na sala de aula 1 – A atividade deve ser desafiadora, proporcionando reflexão e participação de todos VÍDEO Veja a seguir uma pequena animação que demonstra bem a funcionalidade do trabalho em grupo. Nela, os animais demonstram que trabalhar em grupo faz a diferença. 25 eles pensem sobre o tema e tenham diferentes possibilidades de solução. Assim, os estudantes estarão diante de diferentes oportunidades de criar e poderão, ao final do trabalho, conhecer outras formas de solução apresentadas pelos outros grupos. Uma importante questão a ser pensada no desenvolvimento de trabalhos em grupo é que algumas pessoas sentem muita dificuldade em colocar suas opiniões e se fazerem ouvidas. Segundo Cohen e Lotan (2017), os integrantes de um grupo possuem diferentes status em um grupo e isso pode, ou não, afetar a participação e a interação entre todos. Em alguns casos, o posicionamento de um estudante com menor status social pode acabar por ser desprezado pelos participantes do grupo, enquanto que a opinião de um estudante com mais facilidade social tende a ser aceita sem resistência, e este estudante acaba se tornando uma referência para o grupo. Nesse processo, o ideal é garantir a participação de todos. Para isso, o professor pode definir papéis específicos dentro dos grupos de trabalho. Dessa forma, todos os membros poderão, em algum momento, assumir a função de líder. Cohen e Lotan (2017) apresentam, ainda, que funções poderiam ser essas: Mediador: media a conversa dentro do grupo, estimulando a participação e monitorando se todos estão compreendendo a orientação da atividade. 2 - Papéis com funções definidas para cada membro do grupo Figura 13 - Potencializar o trabalho em grupo. 26 Relator: faz os registros e é o orador do grupo. Monitor de recursos: garante que não falte nada para que o grupo realize a atividade proposta. Cuco: controla o tempo. Harmonizador: garante o conforto, engajamento e felicidade dos integrantes do grupo. É importante estar atento para que a organização do trabalho em grupo funcione. Para tanto, dois aspectos precisam ser cuidadosamente observados. Primeiramente, os papéis assumidos pelos integrantes do grupo precisam ser trocados de tempos em tempos. Não se pode deixar que sempre as mesmas pessoas assumam os mesmos papéis. Todos precisam circular pelos diferentes papéis, para que possam desenvolver e aproveitar todo o potencial da atividade. Em segundo lugar, definir papéis não significa que apenas um integrante é responsável por resolver o problema colocado pela atividade, mas todos devem participar colocando suas opiniões e, assim, todos se sentem compromissados em solucionar e finalizar o trabalho proposto. Assim como toda atividade planejada para sala de aula, o trabalho em grupo também dever ser estruturado em função dos objetivos da aula. O docente deve avaliar se a estratégia do trabalho em grupo é a mais eficiente para alcançar os objetivos daquele dia. Também precisa averiguar qual a quantidade de componentes cada grupo deve ter para que os objetivos sejam atendidos. Pode-se trabalhar com duplas no início da atividade, para que haja discussão sobre determinado tema e para que os conhecimentos prévios venham à tona para a troca de informações. O trabalho também pode ser organizado a partir de gruposde quatro membros, de maneira que todos possam falar e interagir. Grupos muito grandes podem atrapalhar a troca e participação de todos de forma mais profunda. Dessa forma, é fundamental que o professor tenha os olhos atentos no momento da organização para evitar que isso ocorra. O professor também pode definir os componentes do grupo no sentido de direcionar o trabalho de acordo com os objetivos pré-estabelecidos. Masetto (2010) chama esse procedimento de “agrupamento produtivo”. Segundo ele, o importante é identificar os saberes dos estudantes e agrupá-los por proximidade de saberes ou pela complementação entre eles. Tudo dependerá dos objetivos da aula. 3 – O tamanho e as pessoas do grupo em função dos objetivos da aula 27 A socialização das discussões de dentro do grupo com o restante da turma é um momento fecundo, e que contribui para o desenvolvimento de competências de comunicação. O planejamento do professor deve levar em consideração tempo e espaço para que cada equipe possa compartilhar suas reflexões e descobertas, os caminhos que optaram por seguir e o porquê de terem escolhido tal caminho. É na situação de compartilhamento que os estudantes aprendem a ouvir uns aos outros, a demonstrar seus argumentos, a descrever caminhos percorridos pelo grupo e a conhecer outras estratégias diferentes das que haviam pensado. Sabemos que existem variados instrumentos de coleta de dados que podem ser usados na ação avaliativa. A qualidade e o embasamento na construção desse instrumento irão influenciar no resultado da avaliação. A escolha pelo tipo de instrumento a ser utilizado passa pela reflexão sobre a finalidade e o porquê da escolha de determinado instrumento. Nessa perspectiva, a seleção de instrumentos para avaliação deve ser realizada durante o processo de planejamento de ensino, adequando-se aos objetivos propostos, aos conteúdos do currículo e as atividades realizadas no processo de ensino-aprendizagem. 4 – O trabalho em grupo deve permitir o compartilhamento de estratégias e soluções Adequação dos Instrumentos de Aprendizagem VÍDEO A seguir você poderá ver uma das autoras que estudamos nessa aula falando sobre a utilização dos trabalhos em grupo em sala de aula. A pesquisadora da Universidade de Stanford, Rachel Lotan responde sete perguntas sobre como fazer isso, apontando indicações e vantagens. 28 A avaliação tem a função de promover aos estudantes a autonomia e autoavaliação, levando o(a) estudante a ter um papel ativo no desenvolvimento de seu conhecimento, ou seja, fazendo com que o(a) estudante seja sujeito(a) histórico de sua formação. O aprender é parte do direito à educação, quando avaliamos estamos identificando se esse direito está de fato sendo garantido a todos os cidadãos. É o professor quem define as técnicas e instrumentos de avaliação que serão utilizados, para que de forma objetiva e confiável comprove publicamente as capacidades e competências desenvolvidas pelos estudantes. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a avaliação deve ser continuada e diversificada com o objetivo de registrar um diagnóstico do desempenho escolar do estudante. Esse registro deve ser feito em formato de relatório, que serve para o replanejamento das ações pedagógicas e para complementar ou ampliar as discussões no conselho de classe. Esse relatório dever apresentar uma análise do desempenho do estudante sobre os conhecimentos curriculares que foram trabalhados no período, e as estratégias de recuperação de estudos que foram utilizadas, se for o caso. Nos anos iniciais não é adotada uma avaliação com critérios quantitativos, o relatório de avaliação é um instrumento oficial onde são feitos os registros do desenvolvimento dos estudantes. O objetivo é evitar a fragmentação do currículo e possibilitar maior integração dos conhecimentos. Dessa forma a retenção do estudante só acontece após a aplicação de estratégias de recuperação paralela e quando não houver a superação das dificuldades de aprendizagem. Nessa perspectiva, o foco passa da aprovação/reprovação para o processo de construção de conhecimentos pelos estudantes, pois todas as situações de aprendizagem passam a ser consideradas como relevantes e devem estar registradas no relatório. Em caso de transferência no transcorrer do período letivo, um relatório parcial deverá ser anexado ao documento de transferência do estudante. Avaliação no Ensino Fundamental (Anos Iniciais) 29 O relatório de avaliação adquire um viés reflexivo que demonstra a evolução do estudante, não apenas um documento burocrático, mas um guia para a ação pedagógica. A utilização do relatório permite que a equipe técnico-pedagógica da escola e o professor estabeleçam, juntos, um planejamento específico que atenda o estudante em suas necessidade. É direito do estudante ter um processo de recuperação de estudos no caso dele não apresentar rendimento mínimo estabelecido pelo sistema de ensino. Para isso cada escola Figura 14 - Avaliação nos anos iniciais. Recuperação de Estudos VÍDEO A seguir está um trecho do programa “Um salto para o futuro: Avaliação no Ciclo de Alfabetização”. Nele, professores e especialistas da área falam sobre a avaliação no primeiro ciclo do Ensino Fundamental. Confira! 30 deve construir, no âmbito do PPP, um planejamento de ações para recuperar o aprendizado de estudantes que não alcançaram as metas estabelecidas. Esse plano de ação tem como foco: Habilidades e competências que o estudante ainda não desenvolveu; Conteúdos necessários e atividades diversificadas que possibilitarão o desenvolvimento dessas habilidades e competências; Instrumentos que serão utilizados para avaliar o estudante. O planejamento de ações de recuperação de estudos é um instrumento que dá norte para a execução das ações de recuperação, portanto deve conter atividades significativas, metodologias diversificadas adequadas à necessidade do estudante e em consonância com as regras de avaliação estabelecidas pela escola. O desenvolvimento das ações de recuperação deve acontecer concomitantemente ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, paralelo ao período letivo. Deve ser entendido e praticado como uma ação de natureza contínua, passível de mudanças e aberto para lançar mão de novos instrumentos de avaliação objetivando alcançar os objetivos propostos. A recuperação de estudos é um processo de ensino-aprendizagem, contudo é um processo que oferece a possibilidade de dinamizar novas oportunidades de aprendizagem para o estudante. Essa é uma ação que é de responsabilidade do professor, mas que deve ser planejada com o conjunto da equipe escolar e de acordo com o PPP e com a legislação educacional em vigor. Figura 15 - Recuperação de estudos. 31 O conselho de classe é um órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa que tem a responsabilidade de analisar as ações educacionais e indicar alternativas que garantam o processo de ensino-aprendizagem. Baseia suas decisões no PPP da escola e na legislação vigente. É composto por todos os professores de uma mesma turma, representantes da equipe técnico-pedagógica, representantes dos estudantes e representantes dos pais/responsáveis. O conselho de classe é presidido pelo coordenador pedagógico ou pelo diretor da unidade escolar. O conselho de classe é o espaço para apresentar e debater o desenvolvimento geral de uma turma, é o momento em que se dá a análise dos fatores que influenciaram o rendimento do estudante. A partir dessa análise é possível decidir pela aplicação, repetição ou anulação de algum instrumento de avaliação da aprendizagem realizado. Os mecanismos de recuperação de estudos, que devem acontecer paralelamente ao processo de ensino-aprendizagem, são estabelecidos no âmbito do conselho de classe, que também decide sobre a aprovação ou reprovação do estudante. Ou seja, o conselho de classe é o momento de planejamento coletivo, consultivo e deliberativo, fundamentado no Projeto Político-Pedagógico e marcos regulatórios, propositor de alternativas que garantama efetivação do processo de Ensino-aprendizagem e responsável pelas decisões de aprovação/reprovação de estudantes em casos especiais. As decisões resultantes da reunião de conselho de classe devem ser registradas em ata e assinada por todos os presentes. É função do conselho sistematizar os processos de acompanhamento e avaliação desenvolvidos ao longo do período letivo. As reuniões devem acontecer pelo menos uma vez a cada período letivo ou quando convocados pela direção da escola. Conselho de Classe 32 A adequação dos instrumentos de avaliação passa por questões metodológicas, estabelecimento de normas, períodos de aplicação dos instrumentos e passa também pela profunda reflexão sobre a finalidade da avaliação, resultando em um uso mais eficiente dos instrumentos disponíveis. O importante não é elaborar atividades diferentes, mas sim interpretar de outras maneiras os registros e as tarefas realizadas. A reflexão no plano teórico e prático das respostas dos estudantes permite compreender se os instrumentos utilizados poderiam ter sido elaborados de outras maneiras, ou aplicados em outro momento. A interpretação séria do professor sobre a reação dos estudantes a uma atividade proposta pode favorecer, mais do que qualquer orientação técnica, o aperfeiçoamento dos registros e dos instrumentos de avaliação. Os registros do professor devem incluir referências significativas sobre a individualidade de cada estudante, suas estratégias de raciocínio na resolução de problemas, modos de ser e agir em sala de aula, comentários e perguntas em diferentes momentos de aprendizagem e a sua evolução na compreensão dos conteúdos. De nada servem conceitos genéricos e números, porque não recuperam a memória significativa das observações feitas, ou seja, não contribuem para a tomada de decisão por parte de estudantes e professores. A comunicação entre estudantes e professores acontece pelas diferentes linguagens, entre elas as formas de registro. Comunicar que o estudante alcançou determinado conceito numa atividade, não é a mesma coisa do que mostrar a ele, utilizando registros individuais, os pontos a melhorar em suas respostas. VÍDEO Assista a um trecho do filme “Entre os Muros da Escola” em que mostra um momento do conselho de classe, ficando bastante claro a complexidade e a importância desse espaço para construção de uma educação que esteja mais próxima da realidade dos sujeitos que dela usufruem: professores, estudantes e toda equipe técnico-pedagógica. Confira! 33 O uso e a elaboração dos instrumentos de avaliação são resultado de escolhas de concepções metodológicas. Os métodos evoluem e não aceitam mais que se acompanhe e se analise os processos de aprendizagem usando registros classificatórios; ou que se interprete as ideias construídas pelo(a) estudante apenas através de provas objetivas corrigidas por gabaritos. Esses instrumentos classificatórios não condizem com a complexidade do conhecimento. Os melhores instrumentos de avaliação são todas as atividades e registros feitos pelo professor que o auxiliam a resgatar uma memória significativa do processo, permitindo uma análise abrangente do desenvolvimento do estudante. Na visão mediadora de avaliação os instrumentos avaliativos são vistos como ponto de partida, um questionamento que se faz á espreita de muitas respostas inéditas, diferentes, imprevistas. Perguntar, questionar o estudante para saber o que sabe e até onde ele sabe ou de que jeito está aprendendo...não para saber se ele sabe determinada resposta. (HOFFMANN, 2005). Atividades avaliativas de qualidade, possibilitam a expressão individual de ideias e de diferentes maneiras de solucionar um problema por parte dos estudantes e contribui para que o professor aprofunde sua investigação sobre as hipóteses construídas pelos estudantes até aquele momento. É uma ação que traz à tona diferentes respostas de diferentes estudantes para uma mesma questão. As atividades avaliativas, na visão mediadora, são planejadas tendo como principal referência a sua finalidade, a clareza de intenções do professor sobre o uso que fará dos seus resultados, muito mais do que embasadas em normas de elaboração. Dar-se conta das incertezas e das múltiplas interpretações possíveis sobre a atividade de um estudante é um ponto de partida importante para se analisar a finalidade dos testes e tarefas elaborados. Nesta aula estudamos sobre a adequação dos instrumentos de avaliação. Agora, ao final da aula, é possível compreender que não se trata apenas de utilizar diferentes tipos de instrumentos, o principal é interpretar essas informações de maneira comprometida e consciente da finalidade do processo avaliativo. Até a próxima aula! Fechamento 34 BNCC e Avaliação Olá, pessoal! Nesta aula, vamos aprofundar nosso estudo sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Vamos compreender como esse documento direciona a realização das avaliações de aprendizagem e como isso pode influenciar as ações pedagógicas dentro da sala de aula. No texto de introdução da BNCC está apresentado o conceito de Educação que deve orientar as escolas brasileiras. Dessa maneira, o documento reforça a necessidade de construção de consenso sobre os sujeitos que a sociedade deseja que sejam formados. De forma resumida, a Base orienta que a educação brasileira deve atuar no sentido de formação e desenvolvimento humano global dos estudantes no sentido de que eles sejam instrumentalizados para construir uma sociedade mais justa, ética, democrática, responsável, inclusiva, sustentável e solidária. Dessa orientação podemos inferir que o documento aborda Aula 04 Introdução Base Nacional Comum Curricular - BNCC 35 uma concepção de Educação Integral, não no sentido de tempo na escola, mas, sim, de formação global do indivíduo. A integralidade da educação apontada no texto diz respeito ao desenvolvimento de jovens e crianças em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Isso quer dizer que, além das questões acadêmicas, é preciso ampliar a capacidade dos estudantes em lidar com seu corpo e bem-estar, suas emoções e relações, sua atuação profissional e cidadã, sua identidade e repertório cultural. Diante disso, a atuação das escolas deve ter como foco o desenvolvimento de competências que, na Base, são entendidas como soma de conhecimentos (saberes), habilidades, descritas como capacidade de aplicar saberes na vida cotidiana. Atitude, que é a força interna para utilização de conhecimentos e valores, que é a aptidão de usar os conhecimentos baseados em valores universais como direitos humanos, ética, justiça social e consciência ambiental. Dentro dessa perspectiva, o documento define dez competências gerais que são os pilares de todo trabalho a ser desenvolvido ao longo dos anos de escolarização, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. As escolas devem continuar assegurando a aprendizagem dos componentes curriculares, mas devem ir além, garantindo também a formação da capacidade de lidar com o pensamento crítico, criatividade, sensibilidade cultural, diversidade, comunicação, tecnologias e cultura digital, projeto de vida, argumentação, autoconhecimento, autocuidado, emoções, empatia, colaboração, autonomia, ética, responsabilidade, consciência socioambiental e cidadania. VÍDEO Veja um vídeo sobre as disposições gerais da BNCC. O foco do vídeo está na apresentação das competências essenciais a serem desenvolvidas na Educação Básica brasileira. 36 BNCC e Avaliação na Educação Infantil VÍDEO Para começarmos a pensar na relação entre avaliação e BNCC na Educação Infantil, assista ao vídeo. Nele, você poderá ver um exemplo de atividade que abrange o Campo de Experiências: escuta, fala, pensamento e imaginação. A BNCC apresenta referências curriculares claras que devem servir de matrizes para apoiar o trabalho do professor. Nesse sentido, o docente precisa diferenciar objetivos metodologias e os resultados das avaliações, para que esses dados possam, de fato, contribuir para umaeducação brasileira de qualidade. As avaliações devem sempre estar a serviço do currículo, seja ele implícito ou explicito. Dessa forma, as referências curriculares apontadas pela Base, servem de baliza para a construção das avaliações nacionais, estaduais, municipais e em sala de aula. Tendo em vista as competências e habilidades previstas pelo documento, as avaliações tendem a mudar o seu perfil. O período de implementação da Base vai até 2020. Até lá, é importante que as escolas estudem o documento a fim de adequar suas práticas, currículos e diretrizes avaliativas. É importante destacar que a avaliação em larga escala é um recorte do currículo, e com o texto da Base, é preciso que essas avaliações também passem por adequações para estar em concordância com as novas referências curriculares. A relação entre as competências gerais e a avaliação é importante para que não ocorra a utilização do processo avaliativo apenas ao final do período letivo, alterando, inclusive, a organização curricular e o trabalho pedagógico de toda escola e de toda a sala de aula. A implementação da Base é uma oportunidade de compreensão e formulação da prática da avaliação formativa. O documento estabelece que essas decisões se referem a várias ações, dentre elas: “construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levam em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos”. Articulação entre BNCC e avaliações 37 As diretrizes da Base definem para Educação Infantil seis direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Esta organização curricular renovada estabelece a criança como protagonista do processo educativo. Com isso, professores e coordenadores poderão ter maior entendimento do papel da Educação Infantil a partir dos campos de experiências que definem objetivos de aprendizagem e habilidades que as crianças precisam desenvolver de zero a cinco anos de idade. Ancorada nas diretrizes, a avaliação contempla, agora, a evolução individual das crianças ao longo do tempo, identificando se estão sendo garantidos os seus direitos. Assim, é fundamental que tanto professores como coordenadores assumam o papel de observadores do cotidiano, para planejar intervenções de acordo com as orientações nacionais e com as necessidades de cada escola e turma. A avaliação na Educação Infantil é feita, em grande proporção, através da observação do professor, tanto individual como coletiva. Assim, é importante que os docentes tenham o hábito de registrar os acontecimentos. Esses registros serão a referência para que a coordenação planeje as intervenções necessárias no que diz respeito à formação dos professores. O registro docente a as produções das crianças são documentos importantes de serem debatidos nos encontros formativos. Figura 16 - BNCC na educação infantil. 38 O Ensino Fundamental está organizado em nove anos, sendo a etapa mais longa da Educação Básica, atendendo alunos de seis aos 14 anos de idade, o que implica em lidar com uma série de questões ligadas a aspectos físicos, cognitivos, afetivos, sociais e emocionais. Um dos desafios dessa etapa é lidar com momentos de transições, não só da etapa anterior para a posterior, mas também como dos anos iniciais e finais, superando as rupturas presentes nesses processos. A estrutura da BNCC para o Ensino Fundamental está organizada em cinco áreas: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Ensino Religioso. Essa estrutura segue as determinações da LDB. Cada área tem competências de ensino específicas para a etapa do Ensino Fundamental, quando a área é composta por mais um componente. São definidas também as competências especificas de cada componente. Para cada componente são definidas as habilidades, ou seja, as aprendizagens essenciais que todos os estudantes têm direito. Essas habilidades são distribuídas ano a ano e, nessa definição, busca-se determinada progressão de habilidades. A progressão, ao longo dos nove anos, facilita o trabalho das escolas na elaboração de seus currículos no que se refere a atividades de reforço e recuperação. Se, por exemplo, um aluno não desenvolveu determinada habilidade e isso pode ser diagnosticado, é possível investir no desenvolvimento de tal habilidade. Outro aspecto importante é que a Base aponta a progressão nos aspectos cognitivos, ou seja, o aluno inicia com aprendizagens que envolvem identificação e avança paulatinamente para aprendizagens que envolvam, por exemplo, análise. O intuito é que, ao final, os alunos se tornem cidadãos críticos, participativos e que façam opções com base nos conhecimentos construídos na escola. Figura 17 - BNCC no ensino fundamental. BNCC e Avaliação no Ensino Fundamental 39 Nos anos iniciais, as aulas são dadas por professores unidocentes. Na abordagem das aprendizagens, deve-se atentar àquilo que foi trabalhado na Educação Infantil. É importante observar como a criança chega nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e as aprendizagens que foram consolidadas a fim de garantir a progressão das aprendizagens ao longo dos anos. Nesse momento, é fundamental dar atenção ao lúdico e à experiência das crianças. A BNCC faz algumas considerações acerca da passagem do quinto para o sexto ano. Uma delas é que o aluno passe a ter professores por componente curricular a partir do sexto ano, o que demanda da equipe escolar um planejamento que garanta um bom acolhimento desses alunos, para que não estranhem em demasia essa nova organização. Deve-se atentar-se ainda que os jovens dessa etapa estão inseridos em mundo digital, em que são cada vez mais protagonistas, envolvendo-se diretamente nele. Assim, a escola deve aproveitar o potencial de comunicação do universo digital, instituindo novos modos de promover aprendizagens, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e estudantes, conforme previsto na BNCC. Vimos, nesta aula, as mudanças que a Base Nacional Curricular estabelece para a educação brasileira. Podemos perceber que essas transformações podem contribuir muito para o fortalecimento de uma avaliação mediadora e promotora de aprendizagens significativas. Fechamento VÍDEO Você pode assistir a professora Priscilla Boy, que explica de forma bastante clara a organização do Ensino Fundamental segundo a BNCC. 40 Autoavaliação da Aprendizagem Olá, turma! Nesta aula, vamos refletir um pouco sobre as possibilidades de utilização da autoavaliação como uma importante ferramenta de coleta de dados acerca da escola e também de autoconhecimento, tanto para estudante como para o professor e coordenação da escola. A função formativa da avaliação é aquela que fornece informações que contribuem para a regulação dos processos de ensino e aprendizagem durante o período em que ele acontece. Por isso, entendemos que tal processo não deve acontecer nem no início, nem ao final, mas, sim, ao longo do período letivo. Dessa maneira, podemos inferir que toda avaliação que se realiza dentro da escola tem, em alguma instância, algo da avaliação formativa, já que, teoricamente, é sempre tempo de aprender aquilo que não foi aprendido. E a avaliação se Aula 05 Introdução Autoavaliação na perspectiva a Avaliação Formativa 41 apresenta como uma coleção de informações importantes a respeito do processo de aprendizagem. Sabemos que há predominância de avaliação nas instituições escolares. Não estamos nos referindo a que passa pela função formativa, e isso faz com que o processo avaliativo não esteja, de fato, a serviço da aprendizagem. Com muita frequência, podemos encontrar um desequilíbrio entre as funções avaliativas, sempre com um grande predomínio da função somativa. Isto é, uma avaliação que coleta dados apenas ao final do período letivo. Algumas vezes, essa função é tão predominante que gera uma inversão: não se avalia para que se aprenda. Se aprende para a avaliação. Dar lugarde valor à função formativa da avaliação significa colocar em prática técnicas e ferramentas que, de fato, melhorem a aprendizagem dos estudantes. Uma dessas técnicas diz respeito a ampliar o conjunto de sujeitos da avaliação. Ou seja, o professor não deve ser o único avaliador da aprendizagem, mas, sim, os estudantes devem ser incluídos a partir da utilização do processo de autoavaliação. Um dos grandes empecilhos da concretização dessa prática nas escolas é a necessidade de mudança de mentalidade. Quando estamos acostumados em atuar mediante uma lógica predominantemente somativa, a autoavaliação é vista com desconfiança, pois poderia haver conflitos de interesse em jogo. Será que os estudantes vão avaliar a própria aprendizagem com imparcialidade? Figura 18 - Autoavaliação. 42 A noção de avaliação formativa foi introduzida por Scriven (1967) em oposição à ideia da avaliação somativa. A grande diferença entre essas duas perspectivas avaliativas é exatamente o papel do erro. Enquanto a somativa compreende o erro como uma falta definitiva de algo, na perspectiva formativa, essa falta é apenas momentânea. A falta que o erro evidencia passa a ser vista como parte integrante do processo de aprendizagem. Piaget (1993) diz que para o estudante considerar novas possibilidades é preciso que haja a “liberação de limitações resistentes”. Dessa forma, o erro serve para trazer à tona as limitações, promovendo, assim, a apropriação de novos aspectos de um novo referencial a ser compartilhado em sala de aula. Para Perrenoud (1999), a regulação é um conjunto das operações metacognitivas do estudante e das interações com o meio e que modificam o processo de aprendizagem. Na interação com o meio, o estudante recebe informações a respeito do seu desempenho em uma ação. Refletir sobre o próprio desempenho é uma ação eficiente para o estudante aprender a identificar e corrigir seus erros. Nesse processo, a atuação do professor é de primordial importância. A autoavaliação pode ser feita ao final de cada bimestre, quando o professor separa um tempo para que cada estudante reflita sobre o que estudou e como fez isso. Para isso, ele pode disponibilizar ao aluno, por exemplo, uma ficha com itens a serem respondidos sobre o seu comportamento, procedimentos de estudo e conteúdos. E, ao final, cada estudante terá condições de mensurar uma nota para si que será considerada na média da disciplina. O diálogo, na avaliação, é fundamental para que o estudante tome consciência do seu percurso de aprendizagem e se responsabilize pelo esforço de avançar. Depois que o estudante reflete sobre o que e como aprendeu, o professor deve promover ações no sentido de transformar os erros em acertos. Assim, o intuito é fazer com que o estudante confronte seu desempenho com o que se esperava. E, então, passe a agir para reduzir ou eliminar essa diferença. Nesse sentido, o professor deve ter alguns cuidados para que a autoavaliação não seja considerada uma mera formalidade e as respostas recebidas sejam apenas aquilo que o professor, na verdade, gostaria de ouvir. Abaixo vamos conhecer os principais equívocos cometidos e que levam à superficialidade da autoavaliação. O estudante dar a sua própria nota: isso em nada contribui para aprendizagem. Deixar claro os conceitos que constituem a nota é muito importante, mas definir o valor a ser mensurado é tarefa apenas do professor. Autoavaliação: como ajudar os estudantes nesse processo 43 Utilizar perguntas genéricas: perguntas do tipo “O que você aprendeu neste semestre?” abrem a possibilidade de respostas vagas. A especificidade das perguntas leva o estudante a focar no que precisa avançar naquele momento. Apresentar resultados sem comentários: o olhar do professor sobre as observações feitas pelos estudantes é fundamental para promover a autorregulação do trabalho pedagógico. Portanto, cabe ao professor promover conversas e debates no sentido de evidenciar dificuldades que passaram despercebidas pelos estudantes. Tudo no fim do período letivo: para que o estudante reflita profundamente sobre o seu processo de aprendizagem é preciso que haja mais de um momento para isso ao longo do período letivo, pois assim será possível identificar os pontos que precisam ser melhorados de forma objetiva. No início do processo com a autoavaliação como ferramenta avaliativa, pode ser que os estudantes se comportem em extremos, da rigidez à condescendência. Ter conhecimento sobre o que o professor pensa contribui para que o estudante se avalie. A ação do professor deve ser a de orientar para a construção de um relato o mais próximo possível da realidade. O posicionamento do professor leva o estudante a estabelecer parâmetros para pensar sobre a sua aprendizagem. Um outro cuidado que se deve ter ao trabalhar com autoavaliação é o de não misturar procedimentos, atitudes e conteúdos. É possível e desejável que a análise seja feita de forma separada. No tocante aos conteúdos, é importante que a abordagem seja feita logo após o encerramento de cada tema, garantindo-se, assim, que haja tempo para as necessárias correções. Ter constância na reflexão é fundamental, principalmente pela dificuldade de voltar ao erro muito tempo depois dele ter ocorrido. Por exemplo, um estudante que errou em uma atividade de contas no dia anterior a autoavaliação estará mais propenso a considerar o erro com mais atenção do que ao final do bloco de conteúdos. 44 Existem vários tipos de autoavaliação, e é essa variedade que vai fazer com que os estudantes assumam a responsabilidades pelo seu próprio aprendizado. A autoavaliação escrita é a mais utilizada e pode servir para uma diversidade de finalidades. Conferir a aquisição de conteúdos é uma delas, mas também é uma boa estratégia para avaliar a aquisição de procedimentos. Para isso, a utilização de questões que exijam respostas discursivas é uma feliz alternativa. Já para avaliar atitudes, um bom procedimento é trabalhar com fichas que possam demonstrar para os estudantes a evolução ao longo do tempo. Sabemos que refletir sobre a sua própria atuação exige certa maturidade, mas isso não impede que crianças pequenas realizem a prática da autoavaliação. Os pequenos são conseguem identificar pontos fortes e o que precisam melhorar. Na Educação Infantil, os espaços para reflexão acontecem principalmente nas rodas de conversa. Aspectos procedimentais e atitudinais são os que costumam aparecer com maior facilidade e demandam mais atenção do professor. A postura da criança, a organização do material e a relação com os colegas são os principais pontos de discussão nesta faixa etária. Para além das autoavaliações orais e escritas, uma outra maneira de promover a reflexão dos estudantes é a utilização do portfólio, que, por sua vez, deve trazer com clareza os critérios de escolha dos trabalhos que irão compô-lo. Seja qual for o tipo de autoavaliação a ser utilizado, existe algo que não pode ser deixado de lado em hipótese alguma: a definição de ações concretas para corrigir as fraquezas apontadas pela autoavaliação. Com o tempo, os estudantes se acostumam e passam a interiorizar a ação e Figura 19 - Ajudar os estudantes nesse processo. 45 começam a assumir a responsabilidade pelo seu próprio processo e aprendizagem. Assim, a autoavaliação cumpre o seu papel! Assista, a seguir, duas experiências reais de utilização da autoavaliação em sala de aula. Com a ajuda da comunidade, professores e gestores devem avaliar a própria postura e, assim, crescer e melhorar a prática educativa. Os gestores, em especial, além de fazer análises dos projetos desenvolvidos, da formação docente realizada, da relação com a comunidade e dos índices de aprendizagem, devem incluir a avaliação do seu papel como diretores. Isso porque a sua atuação é primordial para o bom desempenho das ações da escola. A autoavaliação dos processos da escola contribui para que ela atinja seus objetivos de aprendizagem e pode motivar a equipe para que percebam que todos têm muito a ganhar com a reflexãosobre as práticas executadas na instituição. Quando a cultura da reflexão permeia todos os atores da escola, é mais simples trazer a comunidade para participar dos momentos de autoavaliação, dando lugar de valor às opiniões a respeito das decisões da gestão. Autoavaliação: momento de reflexão do professor e da gestão VÍDEO Auto Avaliação na Avaliação de Aprendizagem em Processo AAP - Parte 1 VÍDEO Auto Avaliação na Avaliação de Aprendizagem em Processo AAP - Parte 2 46 A autoavaliação da gestão costuma ser feita mediante a aplicação de questionários que são desenvolvidos de acordo com o grupo que irá responder: estudantes, professores e família. Cada segmento tem posicionamento e opiniões que podem contribuir muito para a melhoria das práticas dentro da escola. Abaixo, veremos alguns pontos que precisam ser cuidados no momento da elaboração e aplicação dos questionários: Público-alvo: todos os segmentos da comunidade escolar devem participar. Questionário: deve ser de fácil compreensão e com, no máximo, dez questões, sendo que as questões podem ser objetivas ou descritivas. Linguagem: simples, evitando palavras técnicas, buscando ao máximo se aproximar do respondente. Anonimato: o ideal é não pedir que os respondentes se identifiquem, pois assim incentiva-se a sinceridade e resguarda-se a privacidade. Uma sugestão é distribuir os questionários em envelopes padrão e espalhar pela escola algumas caixas de devolução. Devolução: é razoável estabelecer um prazo de, pelo menos, dez dias. Utilização dos resultados: organizar as informações coletadas, compartilhar os resultados com a comunidade e estabelecer novas frentes de ação. Algumas demandas poderão exigir mudanças no PPP. VÍDEO A seguir você irá assistir a um vídeo que explica como a avaliação participativa da escola envolvendo toda comunidade escolar pode ser uma maneira de garantir que as experiências, as opiniões e as propostas de todos e todas sejam levadas em conta. A autoavaliação é um jeito de fortalecer a gestão democrática, e de construir uma avaliação educacional viva e com sentido que, de fato, gere transformações na educação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos de nosso país. 47 Vimos, nesta aula, a importante função que a autoavaliação desempenha no levantamento de informações que são fundamentais para a melhoria dos processos que acontecem dentro da escola. Vimos como o professor pode utilizar essa ferramenta para garantir aprendizagens significativas. E como a gestão da escola pode aprimorar suas práticas a partir do olhar da comunidade. Fechamento 48 capa_unidade3 Aula 3-1 Aula 3-2 Aula 3-3 Aula 3-4 Aula 3-5
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