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PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO Professora: Me. Nathalia Barbosa Limeira Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Grá� co Thayla Guimarães Design Educacional Rossana Costa Giani Design Grá� co Thayla Guimarães Ilustração Thayla Guimarães DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LIMEIRA, Nathalia Barbosa; Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento. Nathalia Barbosa Limeira; Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 37 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Psicologia. 2. Aprendizagem. 3. Desenvolvimento. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 158 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 05 sumário 09| PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: HISTÓRICO E OBJETO DE ESTUDO 15| DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: BIOLÓGICA, COGNITIVA, EMOCIONAL E SOCIAL 21| CONCEITUANDO A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 25| RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM 29| APRENDIZAGEM E MATURIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender o campo de estudo da Psicologia do Desenvolvimento e sua especifi cidade. • Compreender as dimensões biológica, cognitiva, emocional e social do de- senvolvimento humano. • Conceituar a psicologia da aprendizagem • Compreender as relações existente entre os termos desenvolvimento humano e aprendizagem • Compreender as relações existentes entre a aprendizagem e a maturidade. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Psicologia do desenvolvimento: histórico e objeto de estudo • Dimensões do desenvolvimento humano: biológica, cognitiva, emocional e social • Conceituando a aprendizagemRelações entre desenvolvimento humano e aprendizagem • Aprendizagem e maturidade PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO INTRODUÇÃO O processo de aprendizagem e o desenvolvimento humano são temas recorren- tes quando pensamos no processo de humanização do ser humano. Partimos do pressuposto de que o homem não nasce humano, mas humaniza-se à medida que incorpora elementos externos, advindos, por exemplo, da cultura e da civilização e à medida que se próprio corpo modifica-se. Pense em uma criança, recém-nascida. Ao nascer depende unicamente de alguém para lhe alimentar, cuidar e dar afeto. Com o passar do tempo, a dependência passa a ser cada vez menor, dando lugar à autonomia na criança. O processo de andar, falar, sair das fraldas, aprender a ler, escrever, cuidar de si próprio e do outro, além de outras muitas habilidades que o sujeito vai adquirindo com o passar dos anos, mostram que tanto a aprendizagem e o desenvolvimento, aliados à ideia de maturação, são fundamentais para compreendermos o desenvol- vimento humano. Pós-Universo 7 Mas como nós nos desenvolvemos? E como aprendemos? Estas questões são fundamentais à Psicologia quando esta ciência pretende explicar o homem. E são fundamentais ao campo da educação por que auxiliam professores e educadores na compreensão de seus alunos, tanto na perspectiva de seu desenvolvimento quanto na perspectiva de como ele aprende. Saber como o sujeito aprende e como seu de- senvolvimento ocorre, importa para que o processo de ensino seja satisfatório. Sabemos que cada ser é único e que em uma sala de aula, por exemplo, cada criança aprende em seu próprio ritmo. identificar estes ritmos, saber o que se espera em determinada idade ou mesmo olhar para o desenvolvimento humano a partir de dimensões não somente biológicas, mas social, afetiva e cognitiva, possibilitam ao profissional da educação, ter uma visão ampla do processo educacional. Partindo do pressuposto de que a educação é intencional, conhecer o aluno e suas particu- laridades, permite ao professor, dirigir de modo satisfatório o processo de ensino e aprendizagem. Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO: HISTÓRICO E OBJETO DE ESTUDO Caro (a) aluno (a) inicialmente, para compreendermos a origem da psicologia da apren- dizagem e do desenvolvimento necessário é retomarmos o conceito de psicologia, compreendendo como este campo de conhecimento se desdobra especificamen- te sobre o desenvolvimento e a aprendizagem. A origem do termo psicologia deriva dos termos gregos psico, alma e lógos, que significa estudo. Assim, psicologia refere-se ao estudo da alma e podemos perceber esta ciência presente nas primeiras discussões e reflexões filosóficas. Sócrates, por exemplo, considerado importante pensador na Grécia Clássica, afirmava “conhece-te a ti mesmo”. A frase retoma a ideia de que a reflexão, a busca de autoconhecimento é fundamental na compreensão de quem somos. Coelho (2014) afirma que a psicologia possui em sua origem, dois campos de conhecimentos: a filosofia e as ciências naturais. A filosofia pelo próprio questiona- mento do homem sobre si mesmo e tudo o que o rodeia. O surgimento da filosofia marca assim, o surgimento da própria ciência psicológica, como processo subjetivo, de busca introspectiva. Conhecer a nós mesmos implica nessa busca, nesse conhe- cimento sobre nós mesmos. De outro lado, as ciências naturais que derivam em grande parte da observação da realidade, contribuem para o surgimento da psicologia pois ao observar a rea- lidade, a cultura, as normas sociais e o modo como a própria natureza se organiza, permite ao homem organizar-se a si mesmo. Porém, ainda que nas raízes da psicologia encontrem-se a filosofia e as ciências na- turais, seu surgimento enquanto ciência específica ocorre somente no século XIX. Até aí, não havia uma separação clara entre a ciência filosófica e a ciência psicológica. Todas as discussões que tinham como objeto de estudo o homem, centravam-se nas reflexões filosóficas e ou teológicas, como bases explicativas da realidade vivida pelo homem. Pós-Universo 10 De acordo com Piletti (2014, p. 17): “ [...] é no contexto histórico social do século XIX – quando o homem é com- preendido como um eu provido de um domínio interior que se constitui a partir do intercâmbio de suas experiências definidas por leis gerais do desen- volvimento humano – que a Psicologia emerge no canário da modernidade, comprometida com os valores prescritos que, sob o alento do Iluminismo, enfatizam o papel da razão e postulam a ideia de emancipação do homem. [...]Em suma, a Psicologia surge em busca de resposta a muitas ques- tões, é fruto das dúvidas do homem moderno: quem realmente é, o que poderia ser, como resolver seus conflitos, qual é o seu destino, o que é de fato a verdade, o que se deve estudar – sua subjetividade – o que está dentro, ou o que se definia como realidade, o objetivo, o que está fora? Ao longo de sua constituição, a Psicologia contou ainda com influências de teorias como a do evolucionismo do naturalista britânico Charles Darwin; das descobertas e dos estudos da Fisiologia, da Neurologia, da Neurofisiologia, das novas teorias da comunicação; além da realização de estudos de cunho quantitativo e qualitativo na Psicologia e da propagação dos métodos clínico e experimental. E, na contemporaneidade, busca romper com a dicotomia sujeito/objeto. O iluminismo foi um movimento ocorrido na Inglaterra no século XVIII, fundamental para o desenvolvimento de novasideias, sejam elas políticas, filosóficas ou sobre a natureza. Iluminar a mente para compreender os fenô- menos é a essência deste movimento. Imanuel Kant, filósofo alemão foi um dos grandes pensadores do Iluminismo ao escrever sobre o que este movi- mento representava à época. Conhecido como “esclarecimento”, Kant afirma sobre este movimento: “Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem da sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a inca- pacidade de se servir do entendimento sem a direção de outro indivíduo”. Fonte: Kant (2005, p. 64). saiba mais Pós-Universo 11 Coelho (2014) afirma que a psicologia, enquanto ciência que estuda o homem e suas manifestações psíquicas teve seu surgimento tardio, já que o marco inicial é con- siderado o ano de 1879 com os estudos de Wilhelm Wundt, que funda o primeiro laboratório de psicologia experimental na Alemanha. De acordo com Carmo (2012, p. 28), Wundt: “ [...] delineou um procedimento de investigação que chamou de introspec- cionismo, o qual consistia, basicamente, em treinar a si próprio e a alguns assistentes na identificação das sensações primordiais diante de estímulos controlados (em geral estímulos visuais e sonoros). O estudo do homem e de suas manifestações ganhou diferentes concepções e ex- plicações. A inicial, proposta por Wundt logo foi contraposta por teorias como a behaviorista, da Gestalt-terapia ou ainda da psicanálise. O que importa, nesse con- texto, é compreender o movimento do homem na compreensão e na explicação de como ele se organiza a si próprio e frente à realidade que lhe rodeia. Quando pensamos no homem e no modo como ele se organiza precisamos con- siderar seu desenvolvimento como característica fundamental a essa compreensão. O homem constantemente se desenvolve, seja biológica, cognitiva ou psicologica- mente. Esses desenvolvimentos ou o modo como ele se desenvolve depende de elementos externos ou de elementos próprios da constituição do homem. Já pensou em como você se desenvolve? Pense em você quando criança. Provavelmente desenvolveu inúmeras capacidades que antigamente não possuía. Aprendeu a falar, a escrever, a se comunicar entre tantas outras aprendizagens. Seu corpo sofreu inúmeras modificações que marcam o seu próprio desenvolvimento corporal. A que você atribui estas modifica- ções? Somente ao seu próprio corpo ou as relações com os outros? Como você explicaria seu desenvolvimento? Estaria ele ligado a fatores externos ou somente internos? reflita Pós-Universo 12 Nesse contexto é que podemos pensar na psicologia do desenvolvimento. Como tal, ela se desdobra sobre os estudos do desenvolvimento humano, considerando diversos elementos que influenciam – direta ou indiretamente – no desenvolvimen- to do homem. De acordo com Barros (2008) o precursor dos estudos sobre o desenvolvimen- to humano é Jean-Jacques Rousseau, filósofo francês. Em sua obra intitulada Emílio ou da Educação o filósofo se debruça sobre o desenvolvimento da criança. O filó- sofo afirma: “ Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos carentes de tudo, precisa- mos de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer e do que precisamos quando grandes nos é dado pela edu- cação. Essa educação vem-nos da natureza ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a edu- cação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer deste desenvolvimento é a educação dos homens; e a aquisição de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas (SOËTARD, 2010, p. 34). Na citação acima, Rousseau apresenta o desenvolvimento como elemento funda- mental que junto à educação, permitem a formação humana. Há ao que parece, um desenvolvimento de ordem natural e uma educação que nos permitem bem utili- zar esse desenvolvimento. Outros estudos sobre o desenvolvimento infantil permitiram a ampliação desta área da psicologia. Johann Heinrich Pestalozzi publicou uma série de estudos sobre a evolução de seu filho, desde seu nascimento até os três anos de idade. Há ainda outros escritos, como o de Guilherme Preyer, intitulado A alma da criança ou de Georges Henri, O desenho da criança, entre muitas outras obras, as quais busca- vam compreender o desenvolvimento infantil. As pesquisas e estudos que consideraram o desenvolvimento infantil tinham como objeto de estudo não apenas o desenvolvimento infantil, mas o desenvolvi- mento humano. E como podemos compreender o desenvolvimento humano? Pós-Universo 13 “ O desenvolvimento humano se refere ao desenvolvimento mental e ao cres- cimento orgânico. O desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se caracteriza pelo aparecimento gradativo de estruturas mentais. Elas são formas de organização da atividade mental que se vão se aperfeiçoando e solidificando até o momento em que toas, estando plenamente desenvol- vidas, caracterizarão um estado de equilíbrio superior quanto aos aspectos da inteligência, da vida afetiva e das relações sociais (PILETTI, 2014, p. 26). Deste modo, ao tratar do termo desenvolvimento humano, percebemos que há duas perspectivas fundamentais a este termo: o desenvolvimento mental e o crescimento orgânico. Ainda que estas duas perspectivas se relacionam estritamente ao homem, quando pensamos em desenvolvimento humano devemos ainda considerar as in- terações que ele realiza tanto com os demais homens, como com o ambiente em que vive. Mas como podemos compreender este campo da psicologia? A seguir apre- sentamos algumas definições. De acordo com Motta (2005, p. 107) a psicologia do desenvolvimento é compreendida como: “ [...] o estudo, através de metodologia específica e levando em consideração o contexto sócio-histórico, das múltiplas variáveis, sejam elas cognitivas, afe- tivas, biológicas ou sociais, internas ou externas ao indivíduo que afetam o desenvolvimento humano ao longo da vida. Piletti (2014, p. 23) apresenta a psicologia do desenvolvimento como a reunião de estudos que: “ [...] abarcam desde aspectos genéticos até os culturais e sociais, de modo a tecer mudanças do indivíduo em decorrência das suas interações internas e externas. Os estudos são focados em fatores ambientais, hereditários/ge- néticos (teorias maturacionais), interacionistas (interação hereditariedade e ambiente), socioculturais, entre outros. Pós-Universo 14 Barros (2008, p. 8) afirma que a psicologia do desenvolvimento: “ [...] procura descrever, tão completa e exatamente quanto possível, as funções psicológicas das crianças (por exemplo: suas reações intelectuais, sociais e emocionais), em diferentes idades e descobrir como tais funções mudam com a idade. Assim, a Psicologia do Desenvolvimento procura saber como cada função aparece nas várias idades. Um de seus objetivos é descobrir quando e como cada tipo de comportamento vai aparecendo. Diante das definições acima, percebemos que a psico- logia do desenvolvimento tem como objeto de estudo o homem e seu desenvolvimento. Por buscar a compreensão de como o homem se desenvolve é que os diversos pesqui- sadores e psicólogos voltam seu olhar à infância, procurando identificar ali, fatores que sejam igualmente recor- rentes em todas as demais crianças, identificando assim, características comuns às diversas idades. Ao considerar o desenvolvimento humano, à luz da psicologia do desen- volvimento, devemos considerar tanto o processo de desenvolvimento mental, o cres- cimento orgânico, a própria cultura na qual ele se insere, além das características hereditárias e am- bientais. Assim, busca-se perceber o homem sob diferentes faces, as quais possibilitam compreender o homem em sua integralidade. Pós-Universo 15 DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: BIOLÓGICA, COGNITIVA, EMOCIONAL E SOCIAL Durante muito tempo a discussão acerca do desenvolvimento humano baseava-se na discussão que afirmava oraser derivado apenas de fatores hereditários, ora de fatores ambientais, externos ao homem. As teorias que explicavam o desenvolvimen- to humano pretendiam por vezes afirmar a primazia do homem sobre sua cultura e sobre o ambiente em que vivia e por vezes, afirmar a primazia da cultura e do am- biente sobre os aspectos inatos ao homem. Esta dicotomia, ainda que seja percebida em autores consagrados por suas teorias, como, por exemplo, Jean Piaget ou Lev Vygotsky, buscavam explicar o desenvolvi- mento humano por meio de características comuns a todos os homens, enfatizando assim, etapas ou fases pelas quais os homens passavam ao longo de sua vida. Neste sentido, quando propomos a estudar o desenvolvimento humano é preciso inicialmente compreender o processo de formação do homem como resultado de di- versas dimensões que direta ou indiretamente incidem no desenvolvimento humano. Estas dimensões, objeto de nosso estudo, são fundamentais para percebermos como nosso desenvolvimento ocorre. Pós-Universo 16 Dimensão Biológica Antes de estudarmos a dimensão biológica, é necessário fazermos uma distinção entre o crescimento físico e o desenvolvimento humano. Estas distinções serão ne- cessárias para compreendermos a dimensão proposta aqui. O crescimento físico corresponde às modificações que ocorrem em nós, ao longo de nossas vidas, como o ganho de peso, aumento da estatura ou as modificações corporais que derivam de nosso sexo, como crescimento das mamas, barba, pêlos, entre outros. O desenvolvimento, por sua vez, para além das modificações corporais, têm haver com as alterações que ocorrem ao longo de nossa vida, como, por exemplo, a aqui- sição da fala ou da capacidade de pensar. Podemos pensar ainda no afeto, como um importante componente do desenvolvimento humano. Inicialmente, as crianças dirigem seu afeto somente aos pais e paulatinamente, estende seu afeto às demais pessoas à sua volta. Quando pensamos, portanto, na dimensão biológica, consideramos tanto o cres- cimento físico e o desenvolvimento para compreendermos esta dimensão. Além desses aspectos, a dimensão biológica considera ainda a hereditariedade como fator determinante. Se há na família, por exemplo, casos de doenças hereditárias, este fator será preponderante no desenvolvimento da criança. Como a hereditariedade tem haver com os genes que passam de pais para filhos, ao considerar o desenvolvimen- to humano, sob a perspectiva biológica estes aspectos precisam ser considerados. Da mesma forma, há características genéticas “positivas”, como por exemplo, casos de famílias de músicos, cientistas, artistas, entre outros. O que chamamos atenção é que a herança genética, neste sentido, tem funda- mental importância no desenvolvimento do ser humano. Pós-Universo 17 A Dimensão Cognitiva Antes de apresentarmos esta dimensão, necessário é definirmos o termo cognição para que possamos compreender esta dimensão. De acordo com Nitrini, Caramelli e Mansur (2003, p. 315): “ Cognição é um termo referente a processos relacionados ao conhecimento, ao entendimento, ao aprendizado, à percepção, às lembranças, ao juízo e ao pensamento. Pode ser diferenciado de processos físicos, comportamentais e emocionais, embora não seja sempre fácil de distingui-los, principalmen- te quando, em algumas situações, há interação entre eles. Nem sempre é simples decidir se uma pessoa tem limitações cognitivas ou de outra natureza apenas observando seu comportamento. Por exemplo, pessoas que persis- tem repetindo a mesma pergunta podem comportar-se assim por ansiedade (um distúrbio emocional), ou por terem esquecido que haviam formulado a pergunta (um distúrbio cognitivo), ou porque percebem que sua atitude aborrecem outras pessoas e procuram nisso uma forma de gratificação (um distúrbio comportamental). A citação acima apresenta o termo cognição e sua definição. Em termos gerais, a cognição versa sobre o pensamento e a aquisição de conhecimento, ou seja, capa- cidades especificamente humanas. Para Barros (2008, p. 100) o “desenvolvimento cognitivo é o progresso gradativo da habilidade dos seres humanos no sentido de obterem conhecimento e se aper- feiçoarem intelectualmente”. Neste sentido, ao propor como uma das dimensões do desenvolvimento humano o aspecto cognitivo, queremos enfatizar importância de como a criança adquire co- nhecimento. Esta dimensão é essencial para compreendermos o desenvolvimento humano, pois desde o nascimento, a criança, paulatinamente, vai adquirindo conhe- cimentos. Compreender como isso ocorre e quais as características próprias a cada idade, permite-nos uma melhor compreensão tanto da criança como do homem, em geral. Pós-Universo 18 Dimensão Emocional Muito tem se afirmado sobre a importância de nossas emoções em nosso desen- volvimento. Quando estamos tristes ou raivosos, geralmente nosso rendimento no trabalho e nos afazeres diários, diminui. Quando estamos felizes e agitados, muitas vezes permanecemos em estado de ansiedade que também recai sobre nossos afa- zeres cotidianos. Neste sentido, diversos são os pensadores que corroboram com a ideia de que o desenvolvimento emocional anda lado a lado com o desenvolvimento de nossa in- teligência. Piaget (1999) afirma que o desenvolvimento emocional mantém estreita relação com nosso desenvolvimento cognitivo. Nossas emoções e o modo como ela se desenvolve em nós desempenha impor- tante função em nosso desenvolvimento humano. É claro que nossas emoções se desenvolvem na vivência com outras pessoas ou situações diversas e é necessário que possamos aprender sobre as mesmas. As crianças, por exemplo, passam de uma emoção à outra com muita rapidez e esta vivência de diferentes emoções é essencial para o seu desenvolvimento. Quando brincam de casinha, de heróis ou jogos de faz de conta, nos quais utilizam sua ima- ginação para brincarem, vivenciam emoções diversas e podem aprender a regular estas emoções com o auxílio de um adulto. Há casos em que o desenvolvimento das emoções aparece de forma deturpa- da e é preciso o acompanhamento de um profissional especializado para auxiliar na regulação destas emoções. Crises de ansiedade, raiva ou de euforia, por exemplo, pre- cisam ser percebidas em suas frequências, pois podem ser indicadoras de distúrbios. Assim o desenvolvimento das emoções aparece de forma regular nas diferentes fases pelas quais os seres humanos desenvolvem-se. Conhecer estas características permite-nos perceber se o desenvolvimento da criança, do adolescente ou mesmo do adulto está de acordo com o que se espera para sua idade. Pós-Universo 19 Dimensão Social O modo como nos relacionamos com o outro, em sociedade, referem-se à dimen- são social do desenvolvimento humano. Esta interação ocorre ainda bebê, quando o pequeno interage inicialmente com seus pais, depois com os demais membros da família e paulatinamente vai expandindo seus círculos de relacionamentos. A dimensão social liga-se à dimensão emocional, pois muitas vezes o modo como nos relacionamos com determinadas pessoas, reflete nosso afeto pela mesma. Por isso, para compreender a dimensão social é importante que percebamos como a di- mensão emocional aparece na criança ou no adulto. “ Aprender a interagir com outras pessoas é um dos aspectos importantes do desenvolvimento na infância. Desde cedo, as relações importantes para as crianças são as que elas estabelecem com os pais e outras pessoas que cuidam delas. Mas já aos três anos de idade, seu âmbito de relacionamen- tos importantes se expande para incluir irmãos, colegas com quem brincam, outras crianças e adultos que não fazem parte da família. Seu mundo social se expande ainda mais quando vão para a escola (MORRIS; MAISTO, 2004, p. 310 apud COELHO, 2014, p. 43). Nesse sentido, a dimensão social considera tanto a família, como o ambiente escolar e social no qual a criança se insere. Esta dimensão aponta para a convivênciasadia e a aprendizagem de regras de convivência para que as relações possam ser saudáveis. Crianças que não conseguem socializar-se ou incorporar regras sociais, pode ser indicativas de alguns distúrbio ou transtorno. As regras de convivência, determinadas pelo tempo histórico e social nos quais as relações se fundam são necessárias para o bom desenvolvimento social. A escola, nesse sentido, aparece como propulsora dessas relações, já que auxiliam a criança na percepção que de que não está sozinha no mundo e que a interação com os outros faz parte de seu desenvolvimento. Até aqui abordamos quatro dimensões que nos parece essenciais na compreen- são do desenvolvimento humano (tabela 1). Perceba que quando pensamos em desenvolvimento humano, buscamos balizar este desenvolvimento. Claro que cada ser humano é único e possui suas particularidades, mas regra geral, podemos per- ceber características comuns a todos os homens, em seu desenvolvimento. Pós-Universo 20 Desenvolvimento humano e suas dimensões Biológica Cognitiva Emocional Social São consideradas as características hereditá- rias, o crescimento físico e o desenvolvimento neurofi siológico São conside- radas o modo como o sujeito aprende e pensa. São considerados os afetos e modo como o sujeito se relaciona, emocionalmente com as demais pessoas. São considerados o modo como o sujeito interage em sociedade, com seus pares. Tabela 1 - Quatro dimensões do Desenvolvimento humano Fonte: elaborado pela autora. Nesse sentido, as dimensões apresentadas aqui aparecem como fundamentais na compreensão do ser humano, no entendimento de como ele se desenvolve em sua existência. Compreender estas dimensões conectadas umas às outras, permitem- -nos uma elaboração mais ampla do que seja o homem. Dessa forma, importa, ao pensar em desenvolvimento humano, incluir todas estas dimensões, apresentadas aqui, buscando sempre uma apreensão mais ampla do que seja o homem. Pós-Universo 21 CONCEITUANDO A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM A psicologia da aprendizagem, uma das inúmeras áreas de atuação da Psicologia estuda o modo como os homens aprendem. Desde nosso nascimento, a aprendi- zagem permeia nossa existência. Aprendemos a segurar a mamadeira, a pegar a chupeta, a andar, a falar, a escrever, em ter tantas outras aprendizagens. Nesse sentido, a aprendizagem não faz parte somente do universo escolar, mas aparece em inú- meras situações cotidianas. Há quem diga que nunca deixamos de aprender e fato é que se estamos dispostos, sempre aprendemos algo novo. Sobre esta perspectiva a psicologia da aprendizagem se desdobra em compreen- der como é que o ser humano aprende. Por aprendizagem podemos compreender “[...] a modificação do comportamento e aquisição de hábitos” (BARROS, 2007, p. 44). Assunção (2009, p. 10) define a aprendizagem como o “[..] resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência”. No campo da psicologia, o precursor na área da aprendizagem foi Edward Lee Thorndike (1874-1949). Seus estudos, realizados com cães, gatos e macacos, versaram sobre uma “cai- xa-problema” na qual estes animais precisavam sair da caixa para alimentar-se. Trancados dentro da caixa, Thorndike colocava do lado de fora pequenos petiscos para os animais. A caixa, fechada com um trinco, impossibilitava a saída do animal, a menos que ele abrisse o trinco. Inicialmente, Thorndike percebeu que os animais saiam da caixa acidentalmen- te. Nas repetições, os animais já conseguiam puxar o trinco e sair da caixa, o que levou o pesquisador a concluir que tais animais aprenderam a sair da caixa. A partir destes experimentos, Thorndike formulou duas leis fundamentais à apren- dizagem: a lei do efeito e a lei do exercício. De acordo com Barros (2007, p. 46) a lei do efeito pode ser descrita da seguinte forma: “Quando um ato causa satisfação ou é seguido de recompensa, ele tende a ser repetido; quando um ato não for seguido de recompensa ou quando for seguido de punição, ele tende a não ser repetido”. Pós-Universo 22 Esta lei identifica as atividades exercidas com base na recompensa ou castigo/ punição. Se a atividade realizada é prazerosa, entende-se que iremos repetir esta ati- vidade. A punição ou o castigo é uma forma de repelir o homem a não realização desta atividade. Pense na função do castigo em nossa sociedade: ele tem como ob- jetivo coibir a repetição de uma ação. Quando a criança, por exemplo, faz manha ou realiza uma ação desagradável, os pais a corrigem por meio do castigo. Assim, ela entenderá que sempre que repetir esta ação, ficará de castigo. Portanto, tenderá a não mais repetir tal ação. Contrariamente, quando a ação é boa e os pais elogiam, a criança tende a repetir a ação, porque busca ser reconhecida e elogiada. Na escola esta lei se faz presente quando, por exemplo, premiam-se os melho- res alunos e punem-se os piores. Atualmente qualquer punição que tome o corpo como receptáculo do castigo é proibida. Porém, se voltarmos os olhos para a his- tória de nossa educação, percebemos, por exemplo, a palmatória, como elemento identificador das más ações e, portanto, com objetivo de coibir o aluno na repeti- ção destas mesmas ações. Esta lei ocorre tanto com animais, como com humanos. Em seus experimentos Thorndike verificou que ao puxar o gatilho e ter acesso ao petisco era agradável e assim, depois de “descoberta” a maneira de obtê-lo, o gato sempre recorria ao gatilho a fim de obtê-lo. Igualmente, quando ao puxar o gatilho, algo desagradável lhe ocorria, ele se retraia e não repetia ação. Pense, por exemplo, em uma atividade ou ação que goste. Pense no motivo pelo qual gosta dessa atividade? Ela é prazerosa? Você parece sempre estar disposto a realizá-la? Pense agora em uma atividade que definitivamente não goste. Por que não gosta? O que ela lhe causa? Do mesmo modo que temos a repetir as ações que são prazerosas, repeli- mos às ações desagradáveis de nosso cotidiano, sempre que possível. reflita Pós-Universo 23 Quanto à lei do exercício, Barros (2007, p. 47) afirma: “A repetição de certa reação faz com que esta lei se torne mais fácil, segura e pronta”. Esta lei afirma que quanto mais repetimos uma ação, mais automática ela se torna em nossas vidas, causando menos reações possíveis e consequentemente, a realizamos de forma mais segura. É o caso, por exemplo, de quando aprendemos a dirigir. No início controlar volante, pedal, marcha e a atenção aos retrovisores e a pista parece missão impossível. Causa, em muitos, reações desagradáveis, como medo, ansiedade ou recusa. Com a repetição desta ação, aprende-se a dirigir e as reações já não fazem mais parte da experiência de dirigir um automóvel. Fazemo-lo de forma automática e muitas vezes, podemos can- tarolar uma música e conversar com outra pessoa, sem que isso atrapalhe a direção. É exatamente sob esta perspectiva que Thorndike afirma a lei do exercício. Quando mais o fizermos, mais automático ele aparecerá. Nas escolas, esta lei aparece nos modelos tradicionais de ensino: a repetição de inúmeros exercícios, seja de tabuada ou de escrita, por exemplo, são formas de tornar automática, informações que inicialmente são difíceis de serem compreendidas. Após as pesquisas de Thorndike muitos outros pesquisadores propuseram-se a compreender o modo pelo qual aprendemos. John Broadus Watson (1878-1952), por exemplo, pesquisador fundador do behaviorismo, acreditava que a aprendizagem supõe, sempre, modificação do comportamento. Outros pesquisadores, ora refu- tando ora concordando com as ideias propostas por Thorndike analisaram o modo como aprendemos. O modo como o homem aprende e como isso ocorre é o objeto de estudo da psicologia da aprendizagem. Neste sentido, há diversas teorias que explicam a apren- dizagem humana e em nosso estudo,importa conceituar esta área da psicologia e identificar seu objeto de estudo. Pós-Universo 24 Pós-Universo 25 RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM Caro(a) aluno(a) o desenvolvimento humano, caracterizado por diversos fatores, têm como base tanto o crescimento físico, como as alterações que ocorrem em nosso corpo e mente ao longo de nossas vidas. Se pensarmos em nosso desenvolvimen- to como seres humanos, verificamos que de simples bebês, cujo cuidado dependia sempre de alguém para alimentar, trocar e dar afeto, ao crescermos, modificamos tanto nossa aparência física, como nossas estruturas mentais. Aprendemos a falar, a pensar, a exercer diferentes atividades, a controlar as emoções, entre tantas outras ações. Nesse sentido, a aprendizagem liga-se ao desenvolvimento humano de forma íntima. Quando aprendemos algo, possibilitamos nosso desenvolvimento. Ainda que diversos autores construam manuais sobre o desenvolvimento humano, pretendendo identificar o que se espera da criança ou do adulto em diferentes fases da vida, o processo de aprendizagem pode promover um melhor desenvolvimento. Os conceitos de aprendizagem e desenvolvimento mantém estreita relação entre si, porém são conceitos diferentes. Por aprendizagem podemos com- preender “[...] a modificação do comportamento e aquisição de hábitos” (BARROS, 2007, p. 44). O desenvolvimento, por sua vez, para além das mo- dificações corporais, têm haver com as alterações que ocorrem ao longo de nossa vida, como, por exemplo, a aquisição da fala ou da capacidade de pensar. atenção Pós-Universo 26 Diversos estudiosos como Lev Vygotsky ou Jean Piaget, por exemplo, debruça- ram-se sobre as ideias de aprendizagem e desenvolvimento, buscando explicar a relação existente entre as mesmas. Ainda que tenham teorias diversas, esses autores são fundamentais na compreensão destes termos. Piaget ao elaborar sua teoria, conhecida como Epistemologia Genética, apresen- ta uma série de fases a partir das quais, os seres humanos, desde seu nascimento passam ao longo de suas vidas. Independente das dimensões sociais ou culturais, as fases apresentadas por Piaget parecem coincidir com o desenvolvimento das crian- ças e adolescentes. Por exemplo, no período denominado por ele de pré-operatório, que varia entre os dois e sete anos de vida, se apresentar à criança dois receptáculos de tamanhos distintos e colocarmos a mesma quantidade de líquido nos dois, a criança não com- preende que mesmo tendo a mesma quantidade de líquido, esses aparecem de formas diferentes. É somente quando se inicia o processo de alfabetização, de com- preensão dos números e das letras, que a criança consegue conservar a ideia de quantidade e resolver a situação proposta. Pós-Universo 27 Esta atividade, proposta por Piaget, além de muitas outras, confere à sua teoria credibilidade para formular como se dá o desenvolvimento do pensamento formal na criança. Assim, o desenvolvimento é o propulsor para a aprendizagem. Já Vygotsky, baseado nas ideias marxistas de sua época, elabora uma teoria, co- nhecida como Histórico-Cultural, na qual admite a importância tanto da história, como da cultura no desenvolvimento do ser humano. Em sua análise este autor remonta à pré-história, focando no processo de aquisição da linguagem e da criação de ins- trumentos, para explicar o processo de desenvolvimento humano. Não há fases pré definidas propostas por este autor, mas em sua teoria ele considera a zona de de- senvolvimento proximal como base de toda a aprendizagem. A zona de desenvolvimento proximal é formada pelo nível de desenvolvimen- to real e pelo nível potencial de desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real constitui-se como aquilo que a criança sabe realizar de forma autônoma, ao passo que o nível potencial de desenvolvimento, constitui-se como aquilo que a criança consegue realizar com a ajuda de alguém. A zona de desenvolvimento proximal é justamente o espaço ocupado entre aquilo que a criança já realiza de forma autô- noma, com aquilo que realiza com o auxilio de alguém. Conhecer o que a criança já sabe fazer e aquilo que somente realiza com o apoio de alguém, permite organizar o processo de aprendizado, criando sempre novos níveis de desenvolvimento atual. Nesse sentido, a aprendizagem aparece aqui como propulsora do desenvolvi- mento, diferentemente da teoria proposta por Piaget, pois cada criança ou mesmo adulto terá níveis de desenvolvimento atual ou nível potencial de desenvolvimen- to distinto. Nesta perspectiva, percebemos que mesmo em teorias distintas em alguns aspec- tos – perceba que para os dois autores, aprendizagem e desenvolvimento mantêm relação estreita – a aprendizagem mantém estreita relação com o desenvolvimen- to e vice-versa. Pós-Universo 28 Pós-Universo 29 APRENDIZAGEM E MATURIDADE Inicialmente é preciso definir o termo maturação a fim que possamos compreender as relações existentes entre os termos aprendizagem e maturação. “Por maturação entende-se o desenvolvimento e transformações neurofisiológicas e bioquímicas que têm lugar desde a concepção até a morte” (MUSSEN, 1978, p. 27). Nesse sentido, a maturação refere-se às modificações internas do sujeito, mas que refletem-se em suas ações externas. Diversos estudos foram realizados a fim de compreender se o desenvolvimen-to estaria ligado à maturação ou à aprendizagem. Barros (2008) apresenta inúmeros exemplos de pesquisadores que realizando seus experimentos com animais, verifi-caram que a maturação tem primazia no desenvolvimento dos animais. Podemos citar como exemplo, retomando as análises de Barros (2008) a pesquisa de Spalding, cientista inglês. “ Ele prendeu andorinhas recém-nascidas em gaiolas pequenas, num lugar de onde elas não poderiam ver outros pássaros. Chegando a idade em que nor- malmente deveriam voar, ele as soltou. Algumas voaram de uma vez, outras aprenderam muito rapidamente. Spalding concluiu que a aprendizagem tem pequena influência, comparada com a maturação inata (BARROS, 2008, p. 38). Outras pesquisas realizadas com irmãos gêmeos tentaram identificar se a aquisição da fala, da capacidade de andar ou do desenvolvimento motor eram derivados da aprendizagem ou da maturação. É o caso das pesquisas realizadas por Arnold Gesell, Helen Thompson e Strayer ou das pesquisas realizadas por Myrtle McGraw. Em tais experimentos, um dos irmãos era treinado, ora para falar, andar ou nadar. O outro irmão era treinado após determinado tempo, quando já se esperava que seu proces- so de maturação estivesse pronto. Verificou-se ao fim das pesquisas que os irmãos que não receberam treino anterior conseguiam igualar-se aos irmãos que haviam recebido treino prévio, embora a coordenação motora de quem recebesse treino prévio fosse melhor. Pós-Universo 30 “ Pode-se concluir então que tanto o treino quanto a maturação são processos essenciais no desenvolvimento individual. A maturação controla o cresci- mento físico e o tempo do aparecimento de atividades motoras como os reflexos de agarrar, engatinhar, etc. embora os psicólogos discordem quanto à importância do treino para os atos de sentar e andar concordam que, nas atividades mais complexas, como falar e subir escadas, a prática específica é necessária. Porém, só quando um organismo atinge um determinado estágio de desenvolvimento físico o treino será completamente eficiente. O treino realizado antes do período de prontidão não só é inútil, como pode ser pre- judicial (BARROS, 2008, p. 42). O período de prontidão refere-se ao tempo em que a criança parece estar pronta para desenvolver determinada habilidade. Pense, por exemplo, no controle dos esfíncte- res. Há um tempo, mais ou menos adequado, sobre os quais psicólogos e educadores concordam, em que deva ser realizado este controle e com isso o desfralde. Algumas características devem ser observadas nas crianças para que este controlepossa ser realizado de forma satisfatória. O período de prontidão se refere justamente a isso. Não há como se pensar em desfralde em criança ainda recém-nascida e podemos perceber que muitas tentativas de desfralde antes de um ano e meio de vida parece ser insatisfatória. Isso porque a criança precisa, em tese, já falar, andar, anunciar quando fez ou quando irá fazer suas excreções, para que possamos pensar no desfralde. É justamente isso que a citação acima pretende anunciar. Ainda que o treino seja importante, ressalta-se sobre ele, a maturação da criança ou do sujeito. Nesse sentido, importa perceber que a aprendizagem ocupa lugar importante no desen-volvimento do sujeito, mas é a maturação que irá definir se ela aprenderá de forma satisfatória ou não. Por isso é importante conhecermos as fases de desenvolvimento humano, buscando compreender ali, as ações esperadas para cada criança e adequando a aprendizagem de forma organizada e intencional, favorecendo o desenvolvimen-to da criança. atividades de estudo 1. Uma das áreas da psicologia é a chamada Psicologia do desenvolvimento. Nela, o homem objeto de estudo é estudado a partir de quais perspectivas? Leia as alternativas abaixo e assinale a alternativa correta: 1. Como se dá as modifi cações no sujeito, de seu nascimento até a morte, sob di- versas perspectivas: biológica, emocional, cognitiva, entre outras. 2. Busca especifi camente na medicina subsídios para compreender o homem e suas modifi cações. 3. Busca em parceria com outras áreas do conhecimento subsídios para estudar o homem, a partir das contribuições dessas áreas sobre o desenvolvimento humano. Assinale a alternativa correta: a) 1, apenas. b) 3, apenas. c) 1 e 3. d) 1 e 2. e) Todas as alternativas. 2. A psicologia do desenvolvimento estuda o desenvolvimento humano a partir de pelo menos 4 dimensões. Leia as dimensões abaixo e faça a correspondência correta: ( ) São consideradas as características hereditárias, o crescimento físico e o desen- volvimento neurofi siológico. ( ) São considerados o modo como o sujeito interage em sociedade, com seus pares. ( ) São consideradas o modo como o sujeito aprende e pensa. ( ) São considerados os afetos e modo como o sujeito se relaciona, emocionalmen- te com as demais pessoas. a) Dimensão biológica, social, cognitiva e emocional. b) Dimensão cognitiva, social, emocional e biológica. c) Dimensão cognitiva, social, biológica e emocional. d) Dimensão social, biológica, cognitiva e emocional. e) Dimensão emocional, cognitiva, social e biológica. atividades de estudo 3. A psicologia da aprendizagem é considerada uma das áreas de estudo da psicolo- gia. Leia as alternativas a seguir e assinale a alternativa que melhor defi ne o conceito de aprendizagem: 1. A modifi cação do comportamento e aquisição de hábitos. 2. O resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. 3. O resultado do desenvolvimento humano em suas diferentes dimensões: bioló- gica, social, emocional e cognitiva. Assinale a alternativa correta. a) 1, apenas. b) 2, apenas. c) 3, apenas. d) 1 e 2. e) 2 e 3. 4. Aprendizagem e desenvolvimento são conceitos distintos, mas que mantém relação intrínseca entre si. Sobre esses conceitos, leia as alternativas abaixo e assinale a al- ternativa correta: 1. Por aprendizagem podemos compreender o resultado da estimulação do am- biente sobre o indivíduo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. 2. Por desenvolvimento podemos compreender a modifi cação do comportamen- to e aquisição de hábitos. 3. Por desenvolvimento podemos compreender para além das modifi cações cor- porais, as alterações que ocorrem ao longo de nossa vida. atividades de estudo Assinale a alternativa correta: a) 1, apenas. b) 2, apenas. c) 1 e 2. d) 1 e 3. e) 2 e 3. 5. A maturação é um processo importante quando pensamento em desenvolvimen- to humano. Sobre este conceito, maturação, leia as alternativas abaixo e assinale a alternativa correta: 1. Por maturação entende-se o desenvolvimento e transformações neurofi siológi- cas e bioquímicas que têm lugar desde a concepção até a morte. 2. Por maturação entende-se o processo de aprendizagem vivido pelo homem, de seu nascimento até a morte. 3. Por maturação entende-se o processo de desenvolvimento vivido pelo homem, de seu nascimento até a morte. Assinale a alternativa correta: a) 1, apenas. b) 2, apenas. c) 1 e 2. d) 2 e 3. e) Todas as alternativas. resumo Neste estudo buscamos compreender a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Para isso, voltamos nosso olhar aos principais pesquisadores, considerados pioneiros nestas investigações. Vimos que a psicologia do desenvolvimento, como área de estudo dentro da ciência psicológica ocupa lugar fundamental na compreensão do homem, pois busca explicar seu desenvolvimento, de seu nascimento até a morte, relacionando entre si, diferentes dimensões, como a biológica, cognitiva, emocional e social. Assim, ao pensar em desenvolvimento humano é preciso considerar essas dimensões, já que o homem não pode ser pensado a partir de uma única explicação. É o conjunto dessas explicações que possibilitam a compreensão do homem, enquanto ser histórico e social. Em sala de aula, estas aprendizagens são fundamentais por que possibilitam a nós, enquanto professores, olharmos nossos alunos e buscarmos compreender o desenvolvimento de cada um, a partir das dimensões propostas aqui. O fato por exemplo, de um aluno não ser sociável, não aprender ou ser introvertido, pode ter explicações baseadas em sua constituição biológica, social, emocional ou cognitiva. Por isso, compreendê-lo a partir de diferentes enfoques, propor- ciona-nos subsídios para realizarmos nossa docência de modo diferenciado. Em nosso estudo apresentamos ainda as fases de desenvolvimento humano, buscando em di- ferentes autores, pontos de convergência em cada uma destas fases, a partir das dimensões biológicas, emocionais, sociais e cognitivas. Além disso, apresentamos o contexto de surgimento da psicologia da aprendizagem, campo de estudo da psicologia. Em seu surgimento, esta área da psicologia manteve relação direta com o estudo e análises de animais. O que se evidenciou era que os animais pareciam passíveis de aprendizagem. Do mesmo modo, o homem pode aprender em diferentes momentos de sua vida e de diferentes formas. Nesse sentido, os termos desenvolvimento, aprendizagem e maturação mantém relação intrín- secas entre si e é preciso compreender estes termos clareza se de fato quisermos compreender como o homem se desenvolve e aprende. material complementar LIVRO Título: Pontos de Psicologia do Desenvolvimento Autor: Célia Silva Guimarães Barros Editora: Ática Sinopse: O livro apresenta diversos estudos sobre a psicologia do de- senvolvimento, a partir da análise de diferentes pontos de vista: como o social, o biológico, o emocional e o cognitivo. FILME Título: O começo da vida Ano: 2016 Sinopse: O fi lme, feito em forma de documentário, mostra a importância dos primeiros anos de vida da criança, nos convidando a refl etir sobre a forma como temos vivenciado a primeira infância. De modo geral, acre- dita-se que esta fase é primordial ao desenvolvimento humano. E como será que temos percebido essa fase? NA WEB Entrevista com Yves de la Taille, psicólogo e educador francês, naturalizado brasileiro e professor da Universidade de São Paulo (USP). Na entrevista o professor explica e discute as bases do de- senvolvimento humano, sob o olhar da psicologia. Web: https://www.youtube.com/watch?v=JhqQ3hvfyr0 No vídeo abaixo, a professora Raquel Castilho fala acerca do desenvolvimento e maturidade. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=C86ToPqFRgYAcesso em 23/07/2017. referências ASSUNÇÃO, J. E. da. Problemas de Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2009. BARROS, C. S. Pontos de Psicologia Escolar. 5.ed. São Paulo: Ática, 2007. BARROS, C. S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2008. CARMO, J. dos S. Fundamentos psicológicos da educação. Curitiba: Intersaberes, 2012. COELHO, W. F. (org). Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. KANT, Immanuel. Resposta a pergunta: Que é esclarecimento? Textos Seletos. Tradução Floriano de Sousa Fernandes. 3 ed. Editora Vozes: Petrópolis, RJ. 2005. MOTTA, M. E. da. Psicologia do Desenvolvimento: uma perspectiva histórica. Temas em Psicologia, v. 13, n. 2, 2005, p. 105-111. MUSSEN P. O desenvolvimento psicológico na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978). NITRINI, R.; CARAMELLI, P.; MANSUR, L. (ORG). Neuropsicologia: das bases anatômicas à reabili- tação. São Paulo: HCFMUSP, 2003. NOGUEIRA, M. O. G. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos fi losófi co, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2015. PILETTI, N. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014. SOËTARD, M. Jean-Jacques Rousseau. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2010. resolução de exercícios 1. c) 1 e 3. 2. a) Dimensão biológica, social, cognitiva e emocional. 3. d) 1 e 2. 4. d) 1 e 3. 5. a) 1, apenas.
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