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Malinowski, 1997

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Faculdade de Letras e Ciências Sociais 
Departamento de Arqueologia e Antropologia 
Licenciatura em antropologia II ano 2019 
Cadeira: Epistemologia das ciências sociais 
Discente: Carlitos Romão Tomé 
Docente: Emídio Gune 
Discente: Carlitos Romão Tomé 
Referência bibliográfica 
Malinowski, Bronislaw. 1997. “Etnologia”. In: Argonautas do Pacífico Ocidental. PP. 
17-37. 
Malinowski (1997) faz uma descrição etnológica sobre os argonautas do Pacífico 
Ocidental nas Ilhas Trobriand. O autor baseou-se nos métodos comparativo e 
etnográfico a partir da observação directa. O autor diz que as populações das Ilhas 
Trobriand praticam comércio marítimo a longa distância com outros povos. O sistema 
de troca de objectos diversos cujo significado, importância e interesses comuns 
envolvem vários grupos tribais num círculo muito alargado, cujas ideias, vaidade e 
desejos estão relacionados com o Kula. 
Em termos metodológicos, o autor diz que o método etnógrafo deve salvaguardar toda 
sua distância desde o momento laborioso, ao primeiro contacto com o nativo e ao 
período em que escreve sua versão final. Deste modo, há que ter em conta a maneira 
como descreve os nativos, pois, muitas vezes, os informantes têm noções 
preconceituosas sobre a vida e costumes dos nativos por má tradução dos termos locais, 
em consequência do não domínio do vernáculo. 
O autor afirma que o sucesso de trabalho de campo é obtido através de uma aplicação 
sistemática e paciente de um determinado número de regras de bom senso e de 
princípios científicos bem definidos, e não de qualquer atalho miraculoso (milagroso) 
que leve aos resultados desejados sem esforço ou problemas. Os princípios do método 
podem ser agrupados em três itens. O pesquisador deve guiar-se por objectivos 
verdadeiramente científicos, e conhecer as normas e critérios da etnografia moderna; 
deve providenciar boas condições para o seu trabalho, isto é, manter-se distante dos 
brancos, e manter um relacionamento natural com os nativos de modo a aprender a 
conhecê-los e familiarizar-se com os seus costumes e crenças vivendo com eles 
assiduamente em todas as suas dimensões; e deve recorrer a um certo número de 
métodos especiais de recolha, manipulando e registando as suas provas. 
O autor considera que as ideias pré-concebidas são prejudiciais para o trabalho 
científico, mas a prefiguração de problemas é o dom principal do autor na medida em 
que o permite estar treinado teoricamente, pois, quanto mais problemas levar ao campo, 
e quanto mais habituado estiver a moldar as suas teorias aos factos observados e vice-
versa, estará em melhores condições para trabalhar. 
O autor argumenta que a primeira meta do trabalho de campo etnográfico é fornecer um 
esquema claro e firme na constituição social, bem como destacar as leis e normas de 
todos os fenómenos culturais, libertando-os dos aspectos irrelevantes. O esqueleto firme 
da vida tribal deve ser estabelecido logo no início, de modo a fazer uma descrição 
completa dos fenómenos, sem distinção. Assim o etnógrafo deve estudar toda a 
amplitude da cultura tribal em todos os aspectos simbólico, económico, político, porém, 
isolar o estudo de um campo específico pode prejudicar todo seu trabalho (idem: 8). 
O autor afirma que o etnógrafo deve destacar todas as regras e normas da vida tribal, 
tudo o que é permanente e fixo; e deve dar conta da anatomia da sua cultura e a 
constituição da sua sociedade. Os nativos obedecem a forças ou ordem do código tribal 
sem as compreenderem, da mesma forma que obedecem aos seus instintos e impulsos, 
sendo incapazes de enunciar uma lei psicológica. Portanto, as normas das instituições 
nativas são o resultado automático de interacção das forças mentais da tradição e das 
condições materiais do ambiente. Pois, todas as coisas embora cristalizadas e 
estabelecidas não são registadas a lado nenhum. Assim, o etnógrafo pode elaborar um 
expediente na recolha de testemunhos concretos e na elaboração das suas próprias 
induções e generalizações (idem: 10). 
O autor afirma que o objectivo científico é dotar o pesquisador empírico de um mapa 
mental pelo qual se possa orientar, e definir o seu caminho. Portanto, é o método que 
distingue a ciência do senso comum, na medida em que amplia a perfeição e minúcia do 
inquérito de forma sistemática. 
O autor chama de método da documentação estatística através de provas concretas é a 
análise de cada fenómeno tendo em conta a gama possível das suas manifestações 
concretas, estudando cada uma através de uma investigação exaustiva de exemplos. Os 
resultados devem ser dispostos em tabela numa carta sinóptica, visando sua utilização 
simultânea como instrumento de estudo e como documento etnológico, possibilitando 
assim, a perspectivar claramente o contexto cultural nativo, e a constituição social. 
Concluindo, o autor afirma que viver assiduamente com os nativos permite ao 
pesquisador observar os fenómenos repetidas vezes, o que lhe permite registar mais 
exemplos detalhados. Assim, todos os factos devem ser submetidos ou cientificamente 
formulados e registados, através de um registo superficial de pormenores, com um 
esforço de penetração mental que os amadores expressam, por exemplo. Portanto, o 
objectivo último do etnógrafo é o de compreender o ponto de vista do nativo, a sua 
relação com a vida, e perceber a sua visão com o mundo. Isto é, dar a voz ao nativo e 
perceber o que pensa e sente, sobretudo a sua felicidade.

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