Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A TEORIA ESTÁTICA DO ÔNUS DA PROVA DE FATO NOS APROXIMA DA EFETIVA APLICAÇÃO DA JUSTIÇA? SANTOS, Shirley Daiane da Silva (shirley_daiane95@hotmail.com) Disciplina: Orientação de Monografia I – Geraldo Denison Costa Viana Junior Resumo Tem o presente artigo como desafio, resgatar a crença no judiciário tornando-o mais próximo das necessidades sociais, através do estudo de uma das questões mais importantes para se obter a eficácia judiciária, o ônus probatório. Esta investigação bibliográfica foi feita empregando o método deducional para analisar a insegurança jurídica gerada pelo desconhecimento da verdade real, utilizando para isto informações contidas em artigos científicos, doutrinadores e jurisprudências. A fim de revelar a necessidade de trazer um complemento a regra trazida pela Consolidação das Leis Trabalhista, sob a ótica de discrepantes correntes. Analisando o uso da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova no Direito Processual do Trabalho em contraste com a teoria estática, atualmente aplicada. Por fim, levando em conta a necessidade de superação das regras estáticas do ônus da prova, sugere-se a adoção das regras dinâmicas, partindo da necessidade de efetividade e concretização do principio da igualdade substancial. Palavras-chave: Insegurança jurídica. Ônus da prova. Teoria dinâmica. reforma trabalhista. Abstract The present article has as a challenge, to rescue the belief in the judiciary, making it closer to social needs, through the study of one of the most important issues to obtain judicial effectiveness, the burden of proof. This bibliographic investigation was done using the deduction method to analyze the legal insecurity generated by the ignorance of the real truth, using for this information contained in scientific articles, doctrines and jurisprudence. In order to reveal the need to bring a complement to the rule brought by the Consolidation of Labor Laws, from the perspective of different currents. Analyzing the application of the theory of dynamic distribution of the burden of proof in Labor Procedural Law in contrast to the static theory, currently applied. Finally, in view of the need to overcome the static rules of the burden of proof, we suggest the adoption of dynamic rules, based on the need for effectiveness and concretization of the principle of substantial equality. Keywords: Juridical insecurity. Burden of proof. Dynamic theory. Labor Reform. 1 Introdução O presente trabalho tem como objetivo o estudo e verificação da eficácia, da teoria atualmente utilizada para distribuição do ônus probatório no Direito Processual Trabalhista, visto que muitas vezes os elementos que constam nos autos processuais não são suficientes para a formação da certeza acerca dos reais acontecimentos. Para isso ultrapassaremos até mesmo o próprio posicionamento do que pauta a consolidação das leis trabalhistas. Até pouco tempo atrás prevalecia o entendimento de que, unicamente, cabia o ônus da probatório aquele defendesse a veracidade de suas afirmações sobre a violação de algum direito. Entretanto o Direito do Trabalho vem sofrendo inúmeras transformações que resultam em regras de distribuição do ônus da prova lacunosas e ineficazes do ponto de vista processual. A teoria estática do ônus probatório, deveria servir as mudanças que cada vez mais estão ocorrendo no mundo contemporâneo, colaborando para a efetividade da prestação jurisdicional. E sem dúvida, esse é o ponto central do nosso estudo, a possibilidade dessa lacuna legislativa gerar insegurança jurídica nas decisões. Nesse trabalho é proposta a analise crítica a respeito da importância e finalidade da prova para o processo, seguida da necessidade de trazer um sentido completo para a lei que ultrapasse a igualdade formal, levando em conta a condição de hipossuficiência muitas vezes encontrada na seara processual trabalhista e neste sentido a fim de promover o acesso a justiça baseado na verdade real, apresenta-se ao final a teoria dinâmica do ônus probatório. O passo inicial deste projeto, consistiu em uma pesquisa bibliográfica preliminar relativa ao tema proposto, cujas referencias se evidenciarão ao longo do desenvolvimento do assunto. Utilizando tanto métodos dedutivos afim de viabilizar a ordenação das idéias apresentadas. Em virtude da evolução e mutação constante, é necessário realizar a adequação do direito as reais necessidades dos seus jurisdicionados. O processo trabalhista contribuiu em muito à humanização do processo, evoluindo para um processo igualitário, como exemplo disso temos as reformas que veem sendo realizadas. Mas a despeito de toda implementação de um processo trabalhista fundado nos direitos fundamentais, no que se refere estritamente ao ônus da prova essa humanização tem passado despercebida, não sendo devidamente valorizado o momento de exposição dos fatos de conflito humano das partes. E é exatamente em torno desse pensamento que surgiu a pesquisa para elaboração do presente trabalho, será que mesmo com toda a urgência de adaptação do direito as lides sociais, a teoria estática do ônus da prova no aproxima da efetiva aplicação da justiça? 2 Fundamentação Teórica No Brasil, a distribuição do encargo da prova no Direito Processual Civil e Processual do Trabalho é baseado na premissa da igualdade formal das partes, prevista no artigo 818 da Consolidação das Leis do Trabalho com aplicação secundária do que antevê o artigo 333 do Código de Processo Civil. Entretanto tais regras, consideradas doutrinariamente como a teoria da distribuição estática do ônus da prova, são tidas como ineficazes em algumas demandas, visto que partem do pressuposto de que as partes possuem das mesmas condições financeiras, materiais, sociais e técnicas para produção da prova. A doutrina costuma bipartir o ônus da prova em subjetivo e objetivo, sendo que em seu aspecto subjetivo a norma comunica à parte qual a sua atribuição em relação aos fatos que trarão a solução do mérito, estimulando e orientando o interessado no procedimento da produção probatória de maneira a se chegar na verdade real do fato alegado. Ou seja, segundo o viés subjetivo o ônus probatório pode se caracterizar como uma regra de conduta para as partes a fim de preservar a liberdade de apresentar as provas. Já o ônus da prova objetivo, é a regra legal de julgamento, sendo direcionado ao juiz, que deduz mesmo na falta de provas, quem tem razão e quem não tem. De maneira simplificada podemos dizer que vai autorizar ao juiz compor o conflito, mesmo que a parte imcubida pela prova não a tenha produzido. Existem no universo jurídico inúmeras teorias acerca do ônus da prova e a melhor maneira técnica para a solução do conflito quanto ao fato litigioso, destacando-se entre elas a teoria estática e a dinâmica. O Novo Código de Processo Civil, trouxe modificações quanto ao sistema de distribuição do ônus da prova, surgindo a partir da sua promulgação a ser aplicado ao processo trabalhista um sistema mesclado, que aceita a distribuição dinâmica do ônus da probatório face a já utilizada distribuição estática. Isso porque a CLT, faz referência somente à distribuição estática em seu artigo 818, ao afirmar que cabe à parte provar as declarações que fizer. Sendo esse sistema ineficaz em determinadas demandas sob o ponto de vista processual pois nem sempre o empregado é a parte que detém condições probatórias para demonstração das alegações, pelo contrário, na maioria dos casos essa prova pode muito bem ser produzida pelo empregador, que opostamente não têm tal atribuição. Tal sistema de distribuição se mostra, de certa maneira, um tanto quanto rígido; visto que a parte correria o risco de perder a causa, se não alcançasse êxito em provar suas alegações, sendo bastante frequente as vezes em que a parte responsável pela prova de determinadofato não se encontra em condições propícias para provar o que lhe cabe. Em virtude disso tem-se a necessidade em reconhecer que em tais situações é necessário afastar a rigidez da distribuição estática do ônus, adotando critério mais flexível, a denominada teoria dinâmica do ônus da prova como uma técnica mais efetiva de tutela processual dos direitos materiais trabalhistas. Em linhas gerais a distribuição dinâmica, ao contrário da distribuição estática, não considera a posição das partes, o interesse processual dos sujeitos, nem a natureza do fato que foi alegado, mas as condições técnicas, materiais, sociais e informacionais de cada parte quanto à produção de prova necessária para desenvolvimento do feito. Cabendo ao juiz no caso concreto atribuir a quem incube o ônus de provar determinado fato alegado a partir da observância do binômio “impossibilidade da parte na produção da prova e possibilidade na produção da prova pela parte contrária”. A regra geral de distribuição do ônus da prova no Direito Processual do Trabalho, é inspirada na doutrina italiana de Chiovenda, Carnelutti e Betti (PACÍFICO, 2001, p. 167), distribuindo de acordo com a natureza dos fatos inferidos em juízo. De acordo com ela incumbe a cada uma das partes comprovar as argumentações deduzidas na inicial. Caso o réu venha a negar a interesse, o ônus permanece com o autor. Entretanto se alegado fato contraposto à pretensão do autor, ainda que seja um fato negativo, ao réu incube a comprovação. Como se pode inferir, a supracitada regra outorga a responsabilidade segundo dois critérios: a posição processual das partes e a natureza dos fatos alegados. A despeito de sua relevância, esse sistema de distribuição estática do ônus da prova, por si só, mostra-se deficiente em muitas situações, visto que em razão de sua rigidez, culmina em verdadeiros atentados aos direitos fundamentais e manifestas injustiças resultantes da aplicação da própria lei, esbarrando frontalmente com a Constituição. Ferindo gravemente em certos casos, os princípios processuais fundamentais de efetividade da tutela jurisdicional, acesso à justiça, igualdade e contraditório, enfim, do devido processo legal. Caracterizando-se uma flagrante inconstitucionalidade. A fim de tentar sanar a insuficiência desse sistema existem algumas correntes doutrinárias, a primeira corrente sustenta que a regra do artigo 818 Consolidação das Leis do Trabalho é muito aberta, e não esclarece muito sobre o ônus legal da prova, em virtude disso, o artigo 769 defende a aplicação secundária no Direito Processual do Trabalho do artigo 333, Código de Processo Civil por se configurar mais técnica e didática aos demandantes, além de estabelecer critérios objetivos de julgamento, para os casos de carência ou insuficiência de provas. Porém existem também correntes contrárias, que em concordância com o caráter aberto do artigo 818 da Consolidação das Leis do Trabalho, sustenta também a aplicação de outros critérios para distribuição do ônus da prova entre as partes, sendo esta interpretação preparada justamente em razão da lacuna normativa do dispositivo legal trabalhista. Defendendo-se a viabilidade de adoção normativa da inversão judicial do ônus da prova, prevista no Código de Defesa do Consumidor, bem como o princípio da aptidão para a prova. Não se configurando assim o artigo 818 como uma barreira à adoção de outros parâmetros para a distribuição do ônus entre os demandantes. Ao contrário, pois seu caráter genérico da norma permitiria que a lacuna fosse preenchida através de outros critérios. Contudo adotar a regra do artigo 333 do Código de Processo Civil como única solução não se mostrou muito eficiente, diante das especificidades das relações materiais. Pois em algumas condições ele se revela como incompatível com o próprio Direito Processual do Trabalho e seus princípios norteadores. A partir do exposto acima é que sustentamos a adoção de outros critérios e parâmetros para distribuição do ônus da prova no Direito Processual do Trabalho, mais propriamente a distribuição dinâmica da carga probatória, objeto deste estudo. Em virtude do problemas técnicos que o advieram da aplicação do artigo 818 da Consolidação das Leis do Trabalho cumulado com o artigo 333 do Código de Processo Civil, os quais já foram destacados acima, defende-se também a adoção do mecanismo de inversão judicial do ônus da prova no Processo do Trabalho, o qual está previsto no Código de Defesa do Consumidor. Como já ressaltado anteriormente o caráter vago da regra processual trabalhista possibilita a adoção de outros critérios para distribuição dos ônus, inclusive o previsto para defesa dos direitos consumeristas. Os que salvaguardam posicionamento contrário, no sentido de não ser possivel a adoção da regra prevista no Código de Defesa do Consumidor, pelo processo trabalhista afirmam que o artigo 796 da Consolidação das Leis do Trabalho estabelece o direito processual comum como fonte subsidiária do processo do trabalho e não o processo consumerista e que o referido artigo não viabiliza a inversão no processo do trabalho, apenas no civil. 3 O coração do processo: A importância e finalidade da prova O direito à prova excede o aspecto individual, visto que não interessa somente às partes que compõem a lide, mas também a toda sociedade a fim de que os fatos discutidos em juízo sejam aclarado. Sendo ela tanto uma garantia fundamental processual quanto uma garantia de acesso a uma ordem jurídica justa. A prova constitui-se de todo meio idôneo e moralmente legítimo de comprovar e demonstrar a existência de um fato. Não existindo assim um rol taxativo dos meios que possam ser utilizados como prova, a fim de formar o convencimento do Juiz. Por esse motivo é sabido que essa amplitude probatória que nos foi prestigiada pelo Código de Processo Civil veio a contribuir para o acesso do cidadão à justiça e a oportunidade de demonstrar a veracidade de suas alegações em juíz. Segundo nos ensina Humberto Theodoro Júnior (2006) há uma definição de prova em dois aspectos, sendo eles o sentido objetivo e o subjetivo: (…) Há, por isso, dois sentidos em que se pode conceituar a prova no processo: (a) objetivo, isto é, como instrumento ou meio hábil para demonstrar a existência de um fato (os documentos, as testemunhas, a perícia, etc.); (b) e outro subjetivo, que é a certeza (estado psíquico) originada quanto ao fato em virtude da produção do instrumento probatório. Aparece a prova, assim, como convicção formada no espírito do julgador em torno do fato demonstrado.” Ou seja subjetivamente é uma regra dirigida às partes e que lhes dá acesso à orientação em relação às suas respectivas responsabilidades probatórias no processo de formação da convicção judicial, enquanto que objetivamente o ônus probatório é uma regra dirigida ao julgador, vindo a ser aplicada somente quando não houverem provas suficientes aptas à sua orientação, sendo considerada nesse prisma como uma técnica de julgamento. Existe um vasto leque de definições acerca da prova, entretanto a que mais nos vem a calhar no presente estudo é a de ônus como “subordinação de um interesse próprio a outro interesse próprio”. (LOPES, João Batista, 2002.) Por conseguinte a parte que detém o ônus em uma relação jurídica processual, tem interesse direto em dele se desincubir, de modo que, caso não o faça, não haverá nenhuma sanção, tendo ampla liberdade para cumpri-lo ou não. Tem se que o objeto da prova é a confirmação da veracidade das alegações formuladas sobre certos fatos. Visto que segundo o princípio da verdade dos fatos previsto no Código de Processo Civil, a verdade dos acontecimentos alegados é simples proposição, não significando que necessariamente corresponda a realidade. Por isso que a prova que é produzida se volta à comprovação das alegações sobre determinadosfatos e não a comprovação da existência ou não dos fatos afirmados. Não recaindo sobre toda e qualquer alegação, apenas sobre as referentes a fatos controvertidos. Que sejam controversos, relevantes e pertinentes ao processo. (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel, 2016). A consecução da verdade tem sido colocada como motivo e proposito da prova no processo. Pensamos que a melhor definição processual para verdade seria de acontecimento que veio a ocorrer na realidade, que não foi objeto de transformação por vontade humana ou alterado em razão de erro na sua compreensão. A doutrina costuma dividir a verdade em real ou substancial e formal também chamada de verossimilhança. Sendo a real a que de fato aconteceu na realidade e a formal é aquela que se extrai dos autos processuais. Visto que tanto o processo trabalhista quanto o processo civil, lidam com direitos fundamentais como também com direitos de personalidade se faz indispensavel a busca de ambas verdades. Fazendo se mister sobretudo que para o atingimento da verdade o Julgador se atenha, dentre outras questões aos elementos de prova, que tem por alvo criara sua própria convicção no ato de julgar. 4 A imprescindibilidade de um sentido completo da lei em oposição as peculiaridades do processo trabalhista. A regra geral de distribuição do ônus da prova no Direito Processual Trabalhista está disposta no artigo 818 da CLT, de acordo com este dispositivo cabe a cada uma das partes comprovar as alegações formuladas. Ao longo dos anos, foi surgindo algumas correntes que tratam dessa regra geral, uma primeira corrente sustenta que a regra do artigo 818 da CLT é muito aberta e pouco esclarecedora sobre a disciplina legal do ônus. Isto posto, com base no artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho, “ Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”, defende-se a aplicação subsidiária do artigo 333 do Código de Processo Civil, visto que sob a denominação do princípio do tratamento desigual que temos na seara trabalhista, admite-se que há especificidades no processo laboral as quais as regras celetistas seriam insuficientes para dirimi-las. Por esta corrente afirma-se que a norma processual civil, ao distribuir o ônus probatório de acordo com a posição das partes na relação jurídica processual, configura- se mais técnica e didática aos reuqerentes, além de determinar critérios objetivos de julgamento, para a possibilidade de insuficiência ou inexistência de provas. Sobre isso temos na palavras de SCHIAVI, Mauro(2011): “(…) No nosso sentir, o referido art. 818, da CLT, não é completo, e por si só é de difícil interpretação e também aplicabilidade prática, pois como cada parte tem que comprovar o que alegou, ambas as partes têm o encargo probatório de todos os fatos que declinaram, tanto na inicial, como na contestação. Além disso, o art. 818 não decide situações de inexistência de prova no processo, ou de confronto entre as provas produzidas pelas partes. O juiz da atualidade, diante do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), não pode se fugir de julgar, argumentando falta de prova nos autos, ou impossibilidade de saber qual foi a melhor prova. Por isso, a aplicação da regra de ônus da prova como fundamento de decisão é uma necessidade do processo contemporâneo.” Entretanto, existem posições contrárias como por exemplo o manifestado pelo autor Manoel Antônio Teixeira (2009), pois segundo ele há uma colisão frontal entre o art. 818 da CLT e o art. 333 do CPC, não havendo o que se dizer em omissão da CLT visto que dispõe de previsão específica e bastante de modo que se em alguma oportunidade vier a se revelar insuficiente a dicção celetista caberá ao julgador verificar no caso concreto quem está apto à produção da prova confirme os meios e condições de que disponhas, sem se conferir importância à quem detenha o interesse na produção de tal prova. Ou seja, para ele não há o que se falar em aplicação subsidiária por não existir omissão legal no processo trabalhista. O detalhamento técnico presente no artigo 333 do Código de Processo Civil, quanto à posição das partes na relação jurídica processual, a natureza dos fatos alegados, não configura a omissão. Pelo contrário, o que acontece na realidade é uma colisão frontal entre os dispositivos, pois em determinadas demandas a decisão proferida será totalmente oposta. Como por exemplo no pedido de horas extras, onde uma vez rejeitado pela reclamada e não sendo produzida nenhuma prova a respeito, pela regra do processo civil será julgado improcedente, enquanto incidindo a norma processual trabalhista, haverá procedência do pleito. Por fim, há que se ressaltar a existência de uma terceira corrente que reconhecendo o caráter aberto e genérico da norma do artigo 818 da CLT, sustenta a aplicação de outros critérios para distribuição do ônus da prova entre as partes, que não somente o artigo 333 do CPC. Nessa esteira defendendo a adoção de outros parâmetros, a exemplo da inversão judicial do ônus da prova prevista no Código de Defesa do Consumidor, presunções legais e o princípio da aptidão para a prova. Parece nos ser a posição mais correta. Pois a disposição celetista, no sentido de que a carga probatória de determinado fato cabe à parte que formulou a alegação, é genérica, não disciplinando outros aspectos referentes ao ônus da prova. No mais a sua literal observância pode levar a casos em que seja atribuído à parte ônus de comprovar negações de fato, uma verdadeira prova diabólica. Entretanto apoiar a regra do artigo 333 do Código de Processo Civil como excepcional opção não se demonstra a solução mais viável, frente as especificidades das relações laborais e jurídica processual trabalhista, pois de fato em algumas circunstâncias, a norma processual civil revela-se incompatível tanto com o próprio Direito Processual do Trabalho, quanto com seus princípios norteadores. Isto ocorre por exemplo com a distribuição convencional do ônus da prova, prevista no parágrafo único do artigo 333 do CPC, incompatível com o princípio protetor do Direito Processual do Trabalho. E é justamente nesse sentido que sustenta-se que a adoção de outros critérios e parâmetros para distribuição do ônus da prova no Direito Processual do Trabalho, principalmente a distribuição dinâmica da carga probatória, objeto do nosso estudo. 5 Distribuição dinâmica do ônus da prova como técnica processual de efetividade do Direito do Trabalho Ante tudo que foi exposto precedentemente impõe-se a necessidade de investigar a possibilidade de maleabilidade do ônus da prova no processo do trabalho. Visto que a questão, nesta perspectiva, encontra-se ultrapassada na medida em que de há muito tempo doutrina e a jurisprudência trabalhistas vem aplicando frequentemente a própria inversão do ônus probatório em situações de visível desequilíbrio processual entre as partes baseados em critérios de hipossuficiência, verossimilhança, entre outros. A insuficiência e inadequação das regras positivadas na espécie já se fazem sentir há muito tempo. Questão essa que não passou despercebida por Jorge Souto Maior(2009), pois para ele o art. 818 da CLT embora simples, que não faça qualquer distinção, não se prende a sua origem, ou seja, o intérprete pode dar-lhe a interpretação mais adequada com os escopos do processo e direito do trabalho. Pela importância da presente observação segue sua transcrição: De qualquer modo – não se pode negar -, o texto da CLT é vago, e a sua interpretação não está, obrigatoriamente, presa à sua gênese histórica. Possibilitando uma interpretação criativa de seu conteúdo, para se realizar uma distribuição do ônus da prova no processo do trabalho mais adequada comas características da relação do direito material, utilizando-se do ponto de vista de que a realização da prova compete à parte que tiver maior predisposição para a sua produção e do reconhecimento de que tal distribuição do ônus probatório pode, e deve, alicerçar-se em critérios determinados pela presunção das máximas de experiência, que autorizam adotar como verdadeira, até prova em contrário, a alegação verossímil‖. Igualmente Marinoni (2016) manifestando uma posição alinhada com os propositos atuais do processo civil, compreende a distribuição do ônus da prova a partir da classificação dos fatos como um mecanismo artificial, distribuindo os riscos do processo e o encargo da prova sem considerar a realidade da vida que se expressa no direito material. Para esse autor a atribuição do ônus da prova não deve levar em conta as particularidades das situações de direito material e a par da existência de presunções legais relativas e normas outras que antevejam uma distribuição do ônus da prova diferente daquela exposta na regra geral do art. 333 do CPC, inclusive com a sua inversão, nada obsta, que o próprio juiz, nas palavras do autor ―considerando a situação de direito material controvertida, trate de forma particularizada a questão do ônus da prova, logicamente, justificando o seu procedimento. Mas a total superação da atribuição do ônus probatório com vistas viabilizar o tratamento igualitário das partes será possível no processo do trabalho? Acredito que não só seja possível como imensamente desejável por atender totalmente aos escopos do processo trabalhista, sendo a teoria da distribuição dinâmica dos ônus probatórios a que melhor se alinha na atual fase acerca dos fins do processo. Permite-se ainda através da utilização do ônus dinâmico da prova o alcance do mais alto grau o ideal de igualdade entre os homens na sua ótica processual. A proteção da aplicabilidade da teoria dinâmica do ônus da prova representaria um paradoxo a pretensão do estabelecimento de critérios na medida em que o que se busca com essa teoria é justamente o afastamento de regras estáticas que determinam a conduta do juiz e das partes. Isto representaria um contra senso por exatamente a atribuição do ônus dinâmico da prova partir do caso concreto e não do caso em abstrato. A despeito do contrassenso preferimos lidar com a questão através da denominação de fundamentos de alguns pontos que não só motivam a própria existência de teoria dinâmica do ônus da prova, como também podem ser considerados como hipóteses de orientação do intérprete ao analisar as situações concretas que não abram mão da dinamização do ônus da prova para serem solucionadas com o maior grau de justiça possível. Na verdade estamos falando aqui apenas e tão-somente em circunstâncias às quais estaria o juiz do trabalho adstrito a atuar prol da efetividade do processo a partir do nivelamento das partes através do ônus dinâmico da prova. Seriam pressupostos não exaustivos, a depender do caso concreto. A igualdade substancial no processo significa em síntese tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente de modo que as partes atuem sob as mesmas possibilidades e com mesmos instrumentos processuais aptos a sustentar seu direito material controvertido, o que muitas vezes só será possível se outorgado o ônus da prova àquela parte que tenha efetivamente meios para satisfazê-lo ou em outras palavras materializando através do processo iguais possibilidades às partes que demonstrem suas alegações fáticas de modo a favorecer a influência na formação da convicção do juiz sobre o caso concreto com melhor meio de implementação de acesso à justiça. A consagração da igualdade formal se impõe a amenização das desigualdades materiais das partes na relação jurídica processual, o que se consegue não só através da valoração da prova, mas especialmente na oportunização igualitária dos meios de prova. A possibilidade de alteração das regras do ônus da prova por si só já tem o mérito de garantir um tratamento igualitário às partes, de modo que se justifica a interpretação judicial de maior alcance na questão. A questão da desigualdade das partes no processo do trabalho é muito sensível, vez que nesta esfera processual a disparidade de forças na maioria dos casos é latente, apresentando-se como situação mais comum de conflito aquela entre a pessoa física do trabalhador e uma ou mais empresas ou organização empresarial. Não bastava a Constituição Federal demandar energicamente pela igualdade de todos, a legislação infraconstitucional também o faz atribuindo expressamente a tarefa ao juiz de assegurar às partes igualdade de tratamento. Exige a lei portanto um comportamento ativo do magistrado de modo a que, através de suas condutas processuais, garanta às partes a igualdade substancial de tratamento no decorrer da demanda. Importa pois ao juiz do trabalho colocar as partes em igualdade de condições na busca das provas aptas e necessárias ao descobrimento da verdade no processo constatando a desigualdade das partes para a produção da prova de modo que o encargo da sua produção seja transferido para a parte adversa quando esta dispuser de melhores condições. Na esfera probatória a promoção da igualdade substancial necessita de uma atitude mais proativa do juiz o que acarreta o abandono da postura da neutralidade não da imparcialidade. Haveria parcialidade se o juiz frente a uma situação de desigualdade material entre as partes permanecesse inerte aguardando apenas a derrota de uma frente à mais poderosa. De fato, a real igualdade da partes no processo estabelece valor a ser observado sempre, ainda que possa desarmonizar com outro princípio processual. Não só a formal (igualdade na lei), mas a substancial, que considera a particularidade dos sujeitos, o que importa sobremaneira na esfera processual trabalhista dada a situação recorrente de hipossuficiência de um dos litigantes, que normalmente será de ordem econômica, mas também poderá ser de ordem técnica em virtude até mesmo da carência de acesso às informações pelo trabalhador. A questão da hipossuficiência por déficit de informações é agravada ainda mais no contexto das relações laborais no Brasil onde não se encontra positivado um dever geral de informações dos empregadores aos empregados. Manoel Antonio Teixeira Filho (2009) ao delinear os princípios do processo do trabalho reconheceu, como específicos deste ramo apenas dois deles, a saber, o princípio da correção das desigualdades e o do poder normativo. Para ele, impõe-se que sejam conferidos meios ao trabalhador que lhe possibilitem litigar em igualdade de condições, dada a sua desigualdade econômica e técnica. A vulnerabilidade econômica, se irradia nas relações processuais, sendo que a própria demora no andamento do processo já se caracteriza um fator de agravamento da situação. Além do tempo do processo, outra conseqüência derivada da inferioridade econômica, diz respeito aos custos do processo. Mas o que nos interessa especificamente é uma segunda ordem de manifestação de inferioridade do trabalhador, consistente na natureza técnica e que se reflete justamente na produção de provas, vez que para aquele as dificuldades na produção de provas são bem maiores do que as possibilidades do empregador. O trabalhador normalmente não tem recursos para conduzir testemunhas até o fórum e até mesmo essas pessoas se ressentem de dificuldades e receios de perda do próprio emprego em razão da ausência para depor em Juízo. Não tem ainda o trabalhador acesso à maioria dos documentos do contrato de trabalho. De fato, por maior que seja o afã do empregado para obter sucesso na demanda, existem inúmeras situações em que apenas será possível a produção da prova pela obtenção dos meios que estão na posse da reclamada, que em regra, estádesinteressada na sua produção. O empregador tem a sua disposição todos os documentos relativos à relação jurídica contratual, bem assim suas testemunhas normalmente ainda lhe prestam serviços. A ideia da aplicação do ônus dinâmico da prova parte, portanto, da perspectiva de igualar uma situação, a princípio, assimétrica. Uma das formas para correção dessa desigualdade como forma de diminuir a vulnerabilidade do trabalhador se daria, atribuindo-se o encargo de forma dinâmica, avaliando o juiz cada caso, cada dificuldade ou situação de desigualdade. O princípio da igualdade substancial trata-se, portanto, de verdadeiro imperativo que na esfera probatória e necessita de interpretação judicial que propicie o maior alcance para aplicação das normas relativas ao ônus da prova. As regras tradicionais já demonstraram sua insuficiência justamente por não atender às peculiaridades e circunstâncias que levam às partes às situações de desigualdade no caso concreto. Portanto o ônus da prova dinâmico parte de uma fundamentação inicial de busca da igualdade de fato na relação jurídica processual num dos setores mais críticos e importantes do processo que é a atividade instrutória, sendo o princípio da aptidão da prova um dos componentes a ser utilizado de forma ponderada e proporcional pelo intérprete a vista de cada situação concreta, onde há a verdadeira exposição da verdade. 6 Considerações finais O objetivo deste artigo foi de suceder um estudo abrangente sobre aplicação da teoria do ônus dinâmico da prova no processo do trabalho através do reconhecimento da necessidade de superação das técnicas tradicionais de distribuição dos encargos probatórios mencionadas nos artigos 818 da Consolidação das Leis do Trabalho e 333 do Código de Processo Civil. Primeiramente realizou-se a explanação de conceitos que podem ser considerados relevantes a produção do trabalho. Levando a constatação de que a prova tem como seu principal objetivo a obtenção da veracidade das alegações, sendo assim de extrema importância para a resolução da lide, considerada como o coração do processo. E como todo processo, em uma sucessão ordenada de ações, a prova tem suas diretrizes que necessitam ser seguidas, a exemplo disso temos a distribuição probatória que ocorre de acordo com a posição das partes na relação jurídica procesual. Surgindo a partir desse momento as divergências entre ou doutrinadores e aplicadores da justiça, a cerca da melhor maneira de distribuir o ônus processual. Isto porque para alguns, não resta dúvidas de que o artigo celetário não traz nenhuma omissão a cerca da melhor maneira de distribuição do ônus probatório, não nessecitando nem sequer de uma aplicação subsidiária do Código de Processo Civil. Por outro lado, reunimos também aqueles que defendem o caráter aberto e genérico da norma expressa no dispositivo celetista, necessitanto da adoção de outros critérios para uma ditribuição probatória mais adaptada a realidade das partes, como a distribuição dinâmica da carga probatória, visto que em muitos momentos, em virtude das especificidades das relações laborais muitas vezes não é possivel a parte que detêm o ônus, conseguir dele se desincubir. Concedendo aos litigantes uma terrivel sensação de impunidade. Logo insistir em uma abordagem da sistemática probatória no processo trabalhista sob uma moldagem clássica, conduzirá a julgamentos distantes de uma realidade substancial, impossibilitando a devida concretização do direito daquele que detém a razão. Em virtude dessa dicotomia de idéias, a segurança juridica acaba se tornando algo inconstante, tornando a parte uma verdadeira marionete. Por este motivo a teoria dinâmica do ônus da prova ao suplantar a divisão estática do ônus da prova, se apresenta como uma possivel alternativa de técnica processual, mais adequada à situação do caso concreto e aos escopos do direito do trabalho. 9 Referências BARBOSA MOREIRA, Carlos Roberto. Notas sobre a inversão da ônus da prova em benefício do consumidor. In: Revista de Processo. São Paulo:Revista dos Tribunais, no. 86, p.295-309, abr./jun.1997 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: Procedimento comum: procedimento ordinário e sumário. Vol. 2. Tomo I. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005. MOREIRA, Carlos Alberto Barbosa. A função social do processo civil moderno e o papel do juiz e das partes na direção e instrução do processo. In Revista de Processo São Paulo, no. 7, jan/março de 1985 p.141. NASCIMENTO, Amauri Mascaro do. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Ed. Saraiva, 1994, p.55 PACÍFICO, Luiz Eduardo Boaventura. Ônus da prova e o Projeto de Código de Processo Civil. Revista dos Tribunais. São Paulo: RT, ano 100, vol. 913, nov. 2011, p. 301-322 PAULA, Carlos Alberto Reis de. A especificidade do ônus da prova no processo do trabalho. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2010 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. A efetividade do processo. In: CORREIA, Marcus Orione Gonçalves (org.) Curso de direito do trabalho: vol. 4 - Direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2009, p. 7 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Curso de Direito Processual do trabalho. São Paulo: Ltr, 2009, p.93MACHADO JÚNIOR, César Pereira da Silva. O ônus da prova no processo do trabalho. 3ª ed. São Paulo: LTr, 2001.
Compartilhar