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Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 Tutoria III Gastro Definição: A Retocolite Ulcerativa (CID 10- K51) e a Doença de Crohn (CID 10- K50) são referidas em conjunto como doenças inflamatórias intestinais (DIIs). Ambas fazem parte do universo das doenças imunomediadas, que incluem a psoríase, artrite psoriásica, artrite reumatóide, espondilite anquilosante, entre outras de carater crônico, progressivo e recidivante. Resultam de uma resposta imunológica inapropriada em indivíduos geneticamente suscetíveis, sendo altamente debilitantes e sem cura definitiva Doença de Crohn uma transmural e recidivante que caracterizada por digestivos acometidos, com formas distintas d trante ou fistulizante). digestiva. Epidemiologia Pico maior entre 20 e 40 anos, e menor de 60 a 80 anos (Gastroenterologia essencial) Prevalência mais alta em áreas urbanas que nas rurais e nas classes sociais mais elevadas Em países desenvolvidos, a prevalência e a incidência situam-se em torno de 50:100.000 e 5:100.000, respectivamente Estudos epidemiológicos sugerem que a DC seja mais encontradas em países industrializados e que seja rara em países em desenvolvimento Uma estimativa da prevalência na cidade de São Paulo encontrou 14,8 casos por 100.000 habitantes Fatores de risco: Hereditariedade, Tabagismo Etiopatogênese Considerada idiopática, pois não se identificou até o momento um agente patológico específico Fatores ambientais Pensa-se que a DII seja resultado de uma interrelação entre um ou mais fatores ambientais em indivíduos geneticamente predispostos. Fatores genéticos História familiar positiva para RCU ou DC é o fator mais importante. casos que se iniciam antes dos 20 anos de idade. a gravidade podem ser genetica em locus do cromossomo 16 ao lipo , corroborando o papel da responsividade bacteriana aberrante em pacientes com DC. -dependentes” A beta (NF-κβ . -κβ Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 2 Tutoria III Gastro genos - -β - - - - - - DC Fatores imunológicos , possivelmente de origem bacteriana, ; ; . geno e o apresenta ao complexo maior de histocompatibilidade (MHC), - fator de necrose tumoral-α -α interleucina-12, induzindo resposta Th1. grande quantidade de citocinas - - -4, IL-5 e IL-10. Com Resumindo: almente aceita sugere que indi geneticamente predispostos apresentam resposta imu - habitualmente sa intestinal. No hospedeiro gene imunorregula tecidual, fibrose e, consequen . Fisiopatologia O aumento da permeabilidade intestinal . Tipicamente, nuamente afet A pri que, por sua vez, ” . intestinais, apresentando-se com sintomas obstru forma abscesso. a por fibrose e estenose. O comprometimento seroso, pela infla min A , assim como a especificidade do nutriente envolvido. Comprometimento do duodeno e jejuno ; comprometimento do absor cidos; e comprometimento do Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 3 Tutoria III Gastro Hipopotas hipomagnesemia, pode ser observada em alguns pacientes , que pode ser observado na maioria dos casos A quente para o seu aparecimento. Habitualmente da medula, pelo processo infla s do intestino inflamado. Even 12. Quadro Clínico Dor abdominal Geralmente é em caráter de cólica, intensa e mais presente do que na RCUI. Em algumas ocasiões é caracterizada como cólica periumbilical, pós-prandial, mas geralmente tende a se localizar em quadrante inferior direito, devido a grande frequência do comprometimento do íleo terminal O desconforto abdominal tende a se iniciar após refeições em pacientes com envolvimento do intestino delgado, particularmente do ílio terminal. , intestinal inflamado e/ou estenosado. A dor abdominal pode acordar o doente durante o sono noturno Em alguns pacientes com comprometimento do trato diges superior, a dor abdominal . A dor abdominal pode ainda apresentar-se de forma aguda e acompanhada de febre, simulando quadro de apendicite aguda. Febre Diarreia Pode acompanhar o sintoma pr - intensidade moderada, geralmente intermitente, ocorrendo com maior fre casos de comprome e, no segundo, as fezes, por serem mucossanguinolentas, confundem- se com as da RCU. - presente traduz comprometimento dos colos. Perda de Peso Déficit de crescimento e retardo de maturação sexual tempo. Doença perianal A doença perianal pode se apresentar nas seguintes formas: a) Lesões de pele: maceração, erosão, ulceração e abcessos, pregas; b) Lesão do canal anal: Fissura, ulcera, estenose com induação; c)Fístula: baixa (canal anal para a pele), alta (reto para a pele), retovaginal Manifestações sistemicas: Fadiga, Febre e emagrecimento. Pode haver comprometimento de órgão-alvo: articulação, pele e mucosas, olhos, fígado e rins Diagnóstico Diagnóstico clínico + exames laboratoriais Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 4 Tutoria III Gastro A endoscopia digestiva baixa (colonoscopia) com duas biópsias de cinco sítios distintos, incluindo o íleo, é o método preferencial para o diagnóstico e revela tipicamente lesões ulceradas, entremeadas de áreas com mucosa normal, acometimento focal, assimétrico e descontínuo O exame histopatológico pode indicar acometimento transmural (quando da análise de ressecções cirúrgicas), padrão segmentar e presença de granulomas não caseosos. A Eu h ’ Colitis Organisation (ECCO) sugere que, apesar de não haver um achado patognomônico, o diagnóstico histopatológico de DC depende da presença de granulomas, anormalidades arquiteturais crípticas focais, infiltrado inflamatório focal de linfócitos e plasmócitos, e da preservação de mucina nos sítios inflamados. Em casos difíceis, endoscopia digestiva alta com biópsias gástricas pode ser útil para firmar o diagnóstico na presença de granulomas ou gastrite focal (8). A avaliação da extensão da doença e comprometimento do intestino delgado proximal é importante, pois influenciará na conduta terapêutica e no seguimento do paciente. Radiografia de trânsito de delgado, ou tomografia computadorizada enteral (TC enteral) ou ressonância magnética enteral (RM enteral) podem ser indicadas, se disponíveis Diagnóstico diferencial Tratamento Os objetivos do tratamento incluem: intestinal; recupera profilaxia principalmente p rgicas; sobre o determinadas por uma avalia ; ; processos fistulosos; . DC leve-moderada: DC moderada-grave: -moderada, ou aqueles com sintomas mais proeminentes, como febre, Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 5 Tutoria III Gastro emagrecimento importante (mais de 10% do peso), DC grave-fulminante: Pacientes com sintomas persistente o de corticosteroides, como pa o: Paciente seque subm residual macros ” Tratamento nutricional Dieta Durante o aumento da atividade, é apropriado diminuir a quantidade de fibras e manter produtos lácteos se forem bem tolerados Dieta de baixo resíduo pode diminuir a frequência das evacuações Dieta com grande quantidade de resíduos pode ser indicado em casos de constipação Suplementação nutricional nos casos com sub ou desnutrição ou durante os períodos de restrição da ingestão oral Agentes bioterapêuticos Competição exclusiva, e os probióticos competem com microorganismos patogênicos Imunomodulação e/ou estimulação da resposta imune Atividade antimicrobiana e supressão do crescimento de patógenos Melhora da atividade de barreira Indução da apoptose das células T Tratamento Farmacológico ****Está no final da tutoria junto com o de RCU Tratamento de Problemas Psicoemocionais s representam um componente im doentes para conviverem bem com seus pares enfim, na sociedade. pois podem favore Outros Tratamentos Oxigenoterapia Hiperbárica Ovos de helmintos Tratamento Cirúrgico Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 6 Tutoria III Gastro Retocolite Ulcerativa Retocolite ulcerativa (RCU), umaesquerdo, . Epidemiologia 100.000 habitantes. gradiente norte-sul sugere que fatores ambientais e, consequentemente, estilo de vida desempenham importante papel na etiologi mulheres. homens, com picos entre 15 e 35 anos e 60 e 70 anos. Por sua vez, em mulheres, a faixa mais dos 15 aos 35 anos. (Grupo de estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil) A RCU pode acometer indivíduos de todas as faixas etárias, porém afeta principalmente pessoas jovens. A maior taxa de incidência RCU ocorre entre a terceira e quarta décadas, podendo continuar elevada até a sétima década, especialmente no sexo masculino Etiopatogênese Fatores Ambientais Dieta de elementos da dieta na ricas em gorduras, com fatores de risco. ** u u u u u u leite materno por poderia acarretar o desenvolvimento de DII possivelmente por mecanismo de hipersensibilidade Infecção Apendicectomia com efeito protetor contra RCU. Fatores - envolvidos. Fumo . Pacientes com RCU, fumantes i Efeitos imunossupressores E u u u u u Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 7 Tutoria III Gastro Fatores Genéticos ” - Crohn. chamado de IBD2 localizado no cromossomo 12 do dentre eles: . . como sistema HLA, autoanticorpos, entre outros. Fatores Imunológicos pesquisas. . Microbioma O microbioma, ou flora intestinal, consiste em uma diversidade de mucosa intestinal constituem uma barreira contra a en que constituem os elementos chaves para este selo. Resposta Inflamatória T aumento do fator de necrose alfa, da interleucina-1-β do interferon gama e de citocinas. como CD4 ios tipos de citocinas e interleucinas. anticorpos monoclonais. Fatores Sociopsicossomáticos- - - Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 8 Tutoria III Gastro Quadro Clínico A sintomatologia da RCU é variável e depende da extensão e intensidade das lesões. O início da doença pode ser insidioso ou abrupto, e a evolução, em geral, crônica, com surtos de exacerbação intercalados com períodos de acalmia. Diarreia: Inúmeras evacuações por dia, geralmente com fezes líquidas misturadas com sangue, muco e pus Dor em cólica no abdome (fase aguda) Febre Perda de peso Mal-estar geral 75% dos pacientes irão apresentar sintomas intermitentes e completa remissão entre ataques Em 5 a 15% os sintomas serão contínuos, sem remissão, e 5 a 10% apresentarão apenas um surto sem sintomas subsequentes por mais de 15 anos. Manifestações extraintestinais Artrite ou Artralgia. Geralmente, o envolvimento articular não produz deformações , é migratório, assimétrico, ocorrendo preferencialmente nas articulações do joelho, quadris e tornozelos Envolvimento da Pele e mucosa oral ocorre em 4 a 20% dos pacientes. Na boca, as lesões são aftas e acompanham a atividade da doença intestinal. Caracteriza-se por lesões nodulares, avermelhadas, dolorosas, não ulceradas, com diâmetro de 1 a 5 cm, mais comum nas regiões anteriores da perna Em alguns casos pode aparecer o pioderma gangrenoso. Surge em qualquer parte do corpo, sendo, entretanto, mais frequente nas áreas de maior trauma e de punção por agulhas Manifestações oculares acometem 1 a 10% dos pacientes, sendo as mais comuns episclerite, uveíte e irite. Os sintomas mais comuns são dor ocular, fotofobia, borramento de visão e cefaleia Envolvimento hepático é relativamente frequente. De 15 a 50% dos pacientes. manifes : Imunocomplexos circulantes. . . intestinais. Diagnóstico c fato nese da RCU, quadr co, dos achados labora Exame físico Deve ser direcionado não só para o trato gastrointestinal, mas, sobretudo, a pesquisa de manifestações extraintestinais (aftas, pioderma, eritema nodoso, artrites, uveítes). Nas formas leves e moderadas da doença, o exame, em geral, é normal Exames Laboratoriais leucocit quetas, hipoalbuminemia, ele hemos - - potassemia, hipocloremia, hiponatremia, alcalose ou acido a Exames Radiológicos Raio X simples do abdome de ar, podemos observar encur mucoso. co extraintestinais, ou seja, sacroiliite e espondilite ancilosante. Enema Opaco e ar). Permite Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 9 Tutoria III Gastro ça **Não deve ser realizado nos casos graves devido ao risco de perfuração intestinal gra ”. Exames endoscópicos Retossigmoidoscopia A retossigmoidos Deve ser realizada na primeira consulta, mesmo sem preparo intestinal. O exa - - - Colonoscopia Sugere-se que se realize colonocopia em todo paciente em que a retossigmoidoscopia evidenciou DII Histopatologia - - ceco. Na maioria dos casos, entretanto, limita-se ao reto e sigmoide. fibrinoso e sangramento perda da arquitetura das crip necrose da muco flam Diagnóstico Diferencial Tabela Complicações Megacolón Tóxico Caracteriza-se por uma dilata as Displasia e carcinoma do cólon - Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 0 Tutoria III Gastro → → → noma Tratamento Cirúrgico Indicações para o tratamento cirúrgico: Irritabilidade clínica. . A con i corticoterapia venosas. - - - Complicações Agudas A sangra Risco de Câncer Essa sit do o surto prolonga por mais de 10 anos Retardo de desenvolvimento somático nas crianças Complicações extraintestinais testinais A indica Dependentes da lesão intestinal: pioderma gangrenoso, eritema nodoso, estomat : colangite esclerosante, es Os Procedimentos cirúrgicos mais utilizados são: Proctocolectomia com ileostomia Consiste na remoção de todo o cólon e reto, com feitura de ileostomia em caráter definitivo Proctocolectomia com ileostomia continente intestino delgado distal com sistema valvulado. e feitura complexa, era esvazia pela ileostomia. Colectomia total com ileorretoanastomose C eres por uma anastomose Proctocolectomia total com anastomose ileoanal e bolsa ileal (PTAIBI) Essa técnica consiste na remoção de todo cólon, dissecção da - Tratamento Ambos DERIVADOS SALICÍLICOS Neste grupo de medicamentos incluímos a sulfassalazina (SSZ) e os derivados salicílicos. A SSZ é desdobrada no cólon, por ação da enzima azoredutase bacteriana, em sulfapiridina e ácido 5- aminossalicílico (5- ASA), sendo este último o princípio ativo do medicamento, que age de forma tópica. Mecanismos de ação do 5-ASA estão: A modulação da secreção de citocinas pró- inflamatórias, A inibição da produção de leucotrienos e prostaglandinas, Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 1 Tutoria III Gastro As capacidades de assimilação de radicais livres e de diminuição do estresse oxidativo, A redução da atividade do fator nuclear-κ (NF-κ A inibição da proliferação celular e a promoção da apoptose. Mais recentemente, constatou-se que boa parte da ação do 5-ASA (mesalazina) se deve a sua capacidade de ativar os receptores nucleares PPAR-γ proliferator-activated receptor-γ” controle da inflamação, na proliferação celular e na apoptose(9). Efeitos colaterais com a SSZ são mais comumente dose dependentes, relacionados com níveis séricos de sulfapiridina, e ocorrem principalmente nos indivíduos com baixa capacidade genética de acetilação hepática da droga (acetiladores lentos), em até 45% dos pacientes. Incluem: dor abdominal, náusea, vômitos, anorexia, cefaleia, hemólise, infertilidade masculina etc. Menos frequentemente, os efeitos colaterais da SSZ podem ocorrer por hipersensibilidade (alergia ou ” Stevens-Johnson, agranulocitose, hepatite, pancreatite, exacerbação da diarreia etc. Existem diversas formas de mesalazina (5-ASA) de liberação controlada, o que permite que a medicação seja liberada em locais específicos do trato gastrintestinal, a saber: a) mesalazina sob forma de microgrânulos recobertos com etilcelulose: liberação da mesalazina, independentemente do pH, ao longo de todo o trato digestivo e, mais recentemente uma nova formulação de liberação prolongada de 2g que pode ser adiminitrado 1 vez ao dia(10); b) conjugação de duas moléculas de 5- ASA (olsalazina) por uma ligação azo: liberação da medicação no cólon de maneira semelhante à da SSZ (diarreia em 10-15% dos casos, por sua ação secretagoga sobre o intestino delgado e o cólon); c) cobertura do 5-ASA com resinas acrílicas (ex.: eudragit S ou L) com liberação do princípio ativo a partir do íleo proximal (eudragit L) ou distal (eudragit S) e, mais recentemente, uma formulação combinada de resina acrílica (eudragit S) com 2 tipos de matrizes (lipofílica e hidrofílica), o que permite a liberação da mesalazina no cólon com apenas uma única tomada ao dia (MMX)(11), aumentando assim a aderência do paciente ao tratamento. CORTICOIDES Os corticoides (ex.: hidrocortisona, prednisona, prednisolona) constituem, até o momento, os medicamentos de escolha para casos moderados e graves de doença inflamatória intestinal (DII). Na RCU e DC ativas, de intensidade moderada a grave, a prednisona oral (0,75-1mg/kg/dia, em geral, sem necessidade de ultrapassar 60mg/dia) está indicada para induzir a remissão clínica da doença, mas deve ser evitada por longos períodos (> 2-3 meses), ainda que em doses baixas. A retirada do corticoide (desmame) deve ser gradual, com redução de 10 mg/semana, até 20 mg/dia e, a seguir, 5 mg/semana, até a retirada completa. Se durante a retirada houver recaída da doença, pode-se aumentar o corticoide para a penúltima dose que precedeu aquela em que ocorreu a recaída. Em casos graves, internados, pode ser administrada hidrocortisona, 100 mg IV, a cada 6 ou 8 horas, e, em seguida, substituída por prednisona oral (em doses equivalentes sem necessidade de ultrapassar 60 mg/dia), tão logo o estado do paciente permita. Os corticoides, em geral, promovem remissão clínica (70-90% dos casos, após 4-6 semanas de tratamento), mas não promovem remissão endoscópica e histológica na mesma proporção da remissão clínica (remissão endoscópica e histológica ao redor de 30%)(15;16). Na DC, a frequência de casos corticoide- resistentes (ou refratários) e corticoide-dependentes é elevada, variando de 8-20% e de 15-36%, respectivamente(17). Na RCU, a frequência de resistência ao corticoide (29%) costuma ser maior que a da dependência (< 10%)(18). Os efeitos colaterais dos corticoides são bem conhecidos, particularmente quando utilizados por tempo prolongado, ainda que em baixas doses: aumento do apetite e do peso, edema, insônia, labilidade emocional, psicose, acne, Cushing, osteoporose, osteonecrose, retarde de crescimento, supressão do eixo hipotálamohipófise-adrenal, infecções, miopatia, catarata, atrofia de pele, estrias, equimose, fígado gorduroso, diabetes, 4 hipertensão, glaucoma e pancreatite aguda(19). Os corticoides não devem ser empregados como drogas de manutenção, sendo aceitável a utilização da Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 2 Tutoria III Gastro budesonida por tempo mais prolongado (até 6 meses), quando necessário. Tão logo o paciente configure dependência do corticoide (necessidade de corticoide para manter remissão) ou refratariedade (não responder ao corticoide na dose de 0,75 -1 mg/kg/dia de prednisona por 4-6 semanas), outras alternativas (ex.: imunossupressores, como azatioprina ou 6- mercaptopurina) devem ser instituídas. IMUNOSSUPRESSORES Neste grupo de medicamentos incluímos azatioprina (AZA), 6-mercaptopurina (6-MP), metotrexato (MTX) e ciclosporina. AZATIOPRINA (AZA) E 6-MERCAPTOPURINA (6-MP) O exato mecanismo de ação da AZA e de seu metabólito, a 6-MP, ainda não está totalmente esclarecido. Sabe-se que os nucleotídeos tioguanina resultantes da metabolização da droga impedem a formação do DNA e do RNA. Mais recentemente, foi demonstrado que a AZA e a 6-MP agem via Rac1, bloqueando a sinalização da molécula CD-28, reduzindo a síntese de Bcl-x e favorecendo a apoptose de linfócitos CD4. Os imunossupressores são eficazes na manutenção da remissão na DC e RCU e auxiliam na retirada do corticoide em pacientes corticoide-dependentes. A AZA e a 6-MP constituem os imunossupressores de primeira escolha,seguidos pelo metotrexato (MTX), e estão indicados, na doença de Crohn, nas seguintes situações: a) resistência (refratariedade) ou dependência do corticoide; b) em pacientes que necessitem de mais de 2 cursos de corticoide por ano; c) em pacientes com recaída precoce após a retirada (desmame) do corticoide (< 3 meses); d) em pacientes submetidos a ressecção intestinal, com doença remanescente; e) em pacientes com doença fistulizante (penetrante); e f) em pacientes com doença extensa de intestino delgado. Na RCU, os imunossupressores estão indicados em pacientes: a) resistentes ou dependentes de corticoide; b) que necessitem de mais de 2 cursos de corticoide por ano; e c) com doença refratária ao tratamento clínico habitual. Os efeitos colaterais da AZA e da 6-MP estão relacionados à supressão da medula óssea, o que pode ocorrer em 3% por paciente tratado/ano. A mielotoxicidade depende da dose utilizada e da capacidade do indivíduo de metabolizar adequadamente a AZA e a 6 MP, e pode ser manejada com a redução ou retirada da droga. Manifesta-se mais comumente como leucopenia. A mielotoxicidade pode ocorrer em qualquer época do tratamento, mas merece maior atenção durante o ajuste inicial da dose da medicação. Nesta fase, hemograma, AST, ALT e amilase deverão ser realizados mais frequentemente (a cada 15-30 dias) e, a seguir, a cada 3 ou 4 meses, durante todo o período de tratamento. Além dos efeitos colaterais mencionados acima, também podem ocorrer náusea, vômito, dor ” cutâneo, mialgia e dor articular. No longo prazo, o aumento do risco de linfoma torna- se a principal preocupação quando se utiliza o imunossupressor. No entanto, apesar do risco de linfoma aumentar com o uso prolongado da AZA ou da 6-MP, uma análise usando o modelo matemático de Markov para avaliar o impacto da terapia sobre a sobrevida e a qualidade de vida ajustada mostrou um ganho na expectativa e na qualidade de vida, semelhante ao preconizado para vacinação contra rubéola e hepatite B e ao uso de antiagregante plaquetário em pacientes com alto risco para AVC. Este benefício é maior em pacientes jovens, nos quais o risco de linfoma é mais baixo e a expectativa de vida maior, e diminui progressivamente com o avançar da idade. AZA e 6-MP devem ser usadas por tempo indeterminado, se o paciente apresentar boa resposta e não houver complicações. Não é necessária a sua suspensão para a realização de cirurgias eletivas. METOTREXATO (MTX) O MTX é um antagonista do folato e interfere na síntese de DNA. Age sobre a atividade de citocinas e mediadores inflamatórios, bloqueando a ligação da IL- 1 ao seu receptor e reduzindo a síntese de IL-2, IL-6, IL-8, interferon-gama e leucotrieno B4. O MTX está indicado em pacientes, portadores de doença de Crohn, com indicação de imunossupressor e que sejam intolerantes à azatioprina ou à 6-MP. A dose semanal de indução é de 25 mg por via intramuscular, com redução da dose para 15 mg/semana após 3 a 4 meses. Na fase inicial, deve ser realizado controle mensal com hemograma, AST, ALT, FA e GGT e, Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 3 Tutoria III Gastro posteriormente, a cada 3 meses, durante todo o período de tratamento, que deve ser mantido por tempo indeterminado, enquanto o paciente apresentar boa resposta e não houver complicações. As reações adversas relacionadas ao uso do MTX ocorrem em 10 a 25% dos pacientes e incluem: náusea, diarreia, estomatite, leucopenia, queda de cabelo, elevação de transaminases, pneumonia por hipersensibilidade e fibrose hepática. A biópsia hepática de rotina não está recomendada, devendo ser realizada na evidência de hepatotoxicidade. O MTX é teratogênico e pode causar aborto, sendo, portanto, totalmente contraindicado em mulheres que desejam engravidar. CICLOSPORINA Ciclosporina age reduzindo a produção de interleucina- 2 (IL- - ” Mostrou-se eficaz no tratamento de resgate na RCU grave, não responsiva após 5-10 dias de corticoterapia intravenosa. A dose atual recomendada é de 2 mg/kg/dia(34), IV, infusão contínua, por 1 a 2 semanas, seguida . Os efeitos colaterais são relativamente frequentes, podendo chegar a 50%. São eles, em ordem de frequência: parestesia, hipertensão arterial, hipertricose, insuficiência renal, cefaleia, infecções oportunistas, hiperplasia gengival, tonturas e anafilaxia. ” ocorrer em pacientes com níveis séricos baixos de colesterol (< 120 mg/dl). TERAPIA BIOLÓGICA Esta nova abordagem é, genericamente, denominada de terapia biológica, uma vez que age em mediadores e fenômenos naturais e fisiológicos. A terapia biológica vem sendo utilizada cada vez mais no tratamento de RCU e DC; no entanto, ainda deve ser reservada para casos moderados ou graves e refratários a outros tratamentos. Manifestações extraintestinais refratárias ao tratamento convencional também podem ser tratadas com anti-TNF, mesmo sem sinais de atividade inflamatória intestinal. Da mesma forma, situações com grande comprometimento da qualidade de vida, como no caso das fístulas anais e/ou perianais, podem ser tratadas com terapia biológica mais precocemente. Os efeitos colaterais do anti-TNF ocorrem numa frequência menor que 10% e em alguns trabalhos não foi superior àquela constatada no grupo placebo(36;37). Os efeitos colaterais mais comuns mencionados para o antiTNF são: reações à infusão, infecções de vias aéreas superiores, bronquite, faringite, febre, cefaleia, náuseas, dor abdominal; menos comuns: tontura, dor torácica, artralgia, reações de hipersensibilidade tardia, abscessos (abdominais ou perianais), pneumonia, furunculose, obstrução intestinal, anemia hemolítica, disfunção cardíaca, lúpus induzido por droga (anti-DNA positivo) e aumento do risco de linfoma. A reativação da tuberculose pode ocorrer após uso de anti-TNF e, portanto, é mandatória a realização de PPD e RX de tórax antes da infusão. Algo fundamental que tem sido descrito para a terapia biológica é a sua capacidade de promover a melhora endoscópica e histológica, o que pode, no futuro, traduzir-se em impacto positivo sobre a história natural da doença. Mecanismo de ação dos anti-TNFs: Os anti-TNFs se ligam ao TNF solúvel circulante, impedindo que este exerça sua função pró-inflamatória. Também neutralizam os receptores de TNF, resultando no bloqueio da sinalização desta citocina, o que reduz o processo inflamatório. Além disso, os anti-TNFs ligam-se aos TNFs ligados à membrana das células produtoras (TNF transmembrana) e geram uma sinalização reversa que inibe a produção do TNF e induz a apoptose das células produtoras de TNF. Quando o anti-TNF se liga aos receptores ou ao TNF transmembrana, ele facilita a ativação do complemento e a fagocitose deste imunocomplexo . Carolina Lucchesi | Medicina UNIT 1 4 Tutoria III Gastro
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