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Bases Psicossociais da Aprendizagem 1 Bases Psicossociais da Aprendizagem Professor Altiere Araujo Carvalho Bases Psicossociais da Aprendizagem 2 1. Desenvolvimento Moral/Social 3 1.1: Aspectos Psicossociais da Infância e da Adolescência 5 2. Aprendizagem: 5 2.1: Aprendizagem e Desempenho 6 2.2: Transferência de Aprendizagem. 8 2.3: Aprendizagem e Motivação 8 3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM 10 3.1: Aprendizagem e o Condicionamento Clássico e Operante 10 3.1.1: Ivan Petrovitc Pavlov 10 3.1.2: Skinner 11 3.1.3: Thorndike 11 3.2: Aprendizagem e o Insight 12 3.3: Aprendizagem e o Ensaio e Erro 12 3.4: Aprendizagem e o Modelo Social 12 4. Modelos teóricos na Psicologia da Aprendizagem 13 4.1 – A Teoria Cognitiva de Piaget – A Epistemologia Genética 13 4.2: A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky 15 5: OUTRAS TEORIAS E COMPONENTES DA APRENDIZAGEM 16 5.1: Bandura e a Aprendizagem Social 16 5.2: Noam Chomsky e o confl ito com a teoria behaviorista de Skinner 16 5.3: Psicomotricidade e a Aprendizagem: 17 5.4: Memória e Aprendizagem 18 5.5: Pensamento, Linguagem e Aprendizagem: 18 5.6: Grafi smo e Aprendizagem 20 Anexo 1 - O problema do controle: 24 Anexo 2 - O homem que foi colocado numa gaiola 25 Referências Bibliográfi cas: 27 SUMÁRIO Bases Psicossociais da Aprendizagem 3 1. DESENVOLVIMENTO MORAL/ SOCIAL Mesmo antes de nascer, a pessoa já recebe, indiretamente, uma enorme carga de expectativas. O homem sofre cerceamentos internos e externos no meio cultural em que vive. Os padrões de sentimentos, pensamentos e ações adotados por determinada cultura têm como objetivo formar o homem da melhor maneira possível dentro da mentalidade desta. O homem internaliza, num processo individualizado, os elementos de sua cultura. Em outras palavras, o homem como personalidade individual integra-se aos objetivos globais da cultura em que nasceu. Vale lembrar, entretanto, que cultura e personalidade interagem reciprocamente. O que o homem vive na mais tenra idade, coloca os fundamentos da personalidade adulta na visão própria da geração que o educa. Porém, fundamento não signifi ca obra terminada ou, no caso, personalidade acabada. Integrar-se ou não à cultura há de depender signifi cativamente de experiências posteriores, no decorrer da existência. A educação apenas contribui para a formação da personalidade desejada, no esquema de valores cultivados, deixando livre o homem para seguí-los ou não. Para Freud a aquisição tanto da moralidade como de valores e atitudes está substanciada no desenvolvimento do superego, dentro da personalidade da criança, através de um processo de identifi cação que se dá inicialmente com os pais. Freud entende por identifi cação a internalização de valores dos modelos, os pais. O indivíduo se forma pelas identifi cações que deixam um sedimento na forma de valores e metas. Erich Fromm, psicólogo culturalista, também compartilha da importância da família na formação da criança. Segundo Fromm, o caráter da criança é modelado por sua família, mas esta constitui a “agência psíquica” da sociedade. Ao ajustar-se a situação da família, a criança adquire a espécie de caráter que leva a querer fazer o que tem que fazer, no intuito de funcionar com alguma efi cácia social. Erich Fromm e Sigmund Freud. A socialização pode ser considerada um processo pelo qual os indivíduos atingem as expectativas de papel, valores e atitudes da sociedade por meio das relações interpessoais, o que compõe um processo Bases Psicossociais da Aprendizagem 4 que não se restringe à infância, mas perdura pela vida adulta. O cotidiano se apresenta como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente. Por esse motivo, a personalidade é uma entidade refl exa, que retrata as atitudes tomadas pela primeira vez pelos outros signifi cativos com relação ao indivíduo. É preciso que se entendam outros signifi cativos. O indivíduo se torna o que é pela ação dos outros que para ele são signifi cativos. Este processo implica numa dialética entre a identifi cação pelos outros e a auto-identifi cação. Segundo Berger e Luckmann (1991: 173) “... o indivíduo não nasce membro da sociedade, nasce com a predisposição para a sociabilidade e torna-se membro da sociedade...”. Portanto, é preciso que o indivíduo passe pelo processo de socialização, onde ocorre a internalização (apropriação) do mundo social, com suas normas, valores, modos de representar objetos e situações que compõe a realidade objetiva. Este processo de constituição da realidade subjetiva se forma a partir das primeiras relações do indivíduo com o meio social. Cada indivíduo possui uma sequência temporal no curso da qual é induzido a tomar parte na dialética da sociedade. O ponto de partida deste processo é a interiorização, que consiste na apreensão ou interpretação imediata de um acontecimento objetivo como dotado de sentido. A socialização primária é a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, em virtude da qual se torna membro da sociedade, normalmente são responsáveis pela socialização primária a família, ou pessoas muito signifi cativas e próximas, como ocorre em orfanatos, por exemplo. A socialização secundária é qualquer processo subsequente que introduz o indivíduo, já socializado, em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade. Em geral, a socialização primária tem para o indivíduo um valor maior que a socialização secundária e a estrutura básica da socialização secundária deve assemelhar-se à socialização primária. Parece correto atribuir à socialização primária, na qual se percebe a presença marcante da família, um papel fundamental na formação do indivíduo. A socialização primária interioriza uma realidade apreendida como inevitável. Esta interiorização pode ser julgada bem sucedida se o sentimento de inevitabilidade estiver presente na maior parte do tempo, pelo menos enquanto o indivíduo é ativo no mundo da vida cotidiana. Os fatores de legitimidade e inevitabilidade são fundamentais para o sucesso e a sedimentação da socialização primária, uma vez que a socialização não é completa e defi nitiva e os seus conteúdos são constantemente ameaçados. Outro ponto a ser considerado é que as relações com os outros não se limitam aos conhecidos e contemporâneos, mas também com predecessores e sucessores. As relações com os sucessores são ainda mais anônimas, os “fi lhos de meus fi lhos” ou “as gerações futuras”. Como foi visto os conteúdos inevitáveis interiorizados pelos indivíduos são transmitidos por aqueles que assumem o papel na sua socialização primária e, na maioria dos casos, é dos pais esta responsabilidade tendo a linguagem como o mais importante conteúdo e o mais importante instrumento de socialização. Entretanto, é importante destacar que na adolescência a socialização secundária assume um importante papel na vida do indivíduo, uma vez que os valores incontestáveis recebidos ao longo da socialização primária serão agora testados frente aos valores fornecidos pelo grupo de amigos e demais grupos em que o indivíduo passa a integrar. Bases Psicossociais da Aprendizagem 5 1.1: Aspectos Psicossociais da Infância e da Adolescência A cultura ocidental contemporânea tem grande interesse na infância e na adolescência, por esse motivo o processo do desenvolvimento e do crescimento humano tem sido amplamente estudado, discutido e teorizado em seus aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Estes aspectos estão interligados de forma complexa e pode-se dizer que muitos fenômenos psicológicos e sociais decorrem das mudanças anatômicas e fi siológicas ao longo da infância e, em especial, durante a adolescência. Além disso, grande parte dos teóricos parece concordar que os acontecimentos e vivências do início da infância afetam o ajustamento psicológico e social futuro.Tanto na infância quanto na adolescência, existem diferentes faixas etárias que apontam comportamentos psicossociais comuns que evoluem e se transformam. Durante a infância há o predomínio da socialização primária marcada pela forte presença e interferência dos pais. As experiências sociais e psicológicas evidenciam gradativos avanços em direção à autonomia e à superação da dependência dos adultos. Durante a adolescência, o grupo de amigos tende a ganhar importante papel, o que faz com que a socialização secundária aumente seu poder de infl uência sobre os adolescentes. Na adolescência o processo pela busca da identidade e da conquista da autonomia se consolida, partindo das experiências trazidas do núcleo familiar e da contraposição das experiências vividas fora da família, onde começa a demarcação do seu papel no mundo em direção à transição para a vida adulta. Certamente, todo esse dinamismo psicossocial da infância e da adolescência é marcado por angústia e difi culdades entre pais e fi lhos. De uma maneira geral, as difi culdades estão presentes em ambas as etapas, sendo marcadas por intensidade e foco específi co; mas uma coisa é certa, se as coisas não forem bem durante a infância, possivelmente não serão melhores durante a adolescência. Muitos pais têm difi culdades em estabelecer limites, direcionar afeto e conduzir uma relação baseada no respeito e na confi ança. A relação com os fi lhos é construída diariamente desde a mais tenra idade. A forma de relacionamento que se estabelece desde os primeiros anos de vida, provavelmente, terá refl exos no futuro. As crianças testam seus pais a todo o momento e são capazes de perceber suas fraquezas e vulnerabilidades, tirando proveito dessa condição. Na adolescência há uma tendência à repetição do processo imitativo, nesta fase porém, a inspiração é procurada fora da família. Um auto-conceito, ou auto-estima, favorável é essencial para a felicidade pessoal e para o funcionamento efetivo tanto da criança, como do adolescente e do adulto. Em todas as fases o comportamento é resultado da interação entre indivíduo e meio, das suas exigências internas e seu encontro com a sociedade. Porém na infância e na adolescência o signifi cado desse processo psicológico e social reside no fato de ser o momento em que o indivíduo sedimentará conceitos e experiências que serão decisivos para seu ajustamento e conduta na vida adulta. 2. APRENDIZAGEM: Quando se pretende caracterizar o fenômeno aprendizagem se percebe que inúmeras condições o infl uenciam. Estas condições podem ser biológicas (maturação), a motivação, psicossociais e as pedagógicas. Pode-se se dizer que a maturidade ocorre quando o organismo está pronto para a execução de determinada atividade. É comum se associar a maturidade à chegada da vida adulta, o que constitui Bases Psicossociais da Aprendizagem 6 um erro. A maturidade se dá em qualquer fase da vida e pode se identifi cada como maturidade física, mental, social e emocional. A maturidade está relacionada à evolução dos atributos do intelecto, psíquico e social, assim como no desenvolvimento motor – defi nido como as mudanças progressivas resultante do crescimento e do desenvolvimento biológico e comportamental. A maturidade varia de forma considerável entre indivíduos dentro de um sistema biológico específi co. O nível de maturidade não acontece necessariamente em paralelo à idade cronológica e é amplamente determinado pela herança biológica. Em geral, existe uma correlação positiva entre nível de maturidade e rendimento físico e intelectual, especialmente no menino durante a adolescência. A relação entre maturidade e rendimento físico é composta por uma união entre a idade cronológica e as alterações no tamanho, proporções e composição corporal. Existem também efeitos que combinam pressões sociais e psicológicas que acompanham durante período da adolescência. Algumas pessoas podem utilizar os termos aprendizagem e conhecimento como sinônimos, o que constitui um erro, porque por meio do processo de aprendizagem se adquire conhecimento. Ou seja, aprendizagem é o processo, o conhecimento é o produto. É comum as pessoas atribuírem à aprendizagem uma conotação moral, apenas aos comportamentos socialmente ajustados ou moralmente sancionados pela sociedade. Entretanto, deve-se considerar que no processo de aprendizagem podem ser adquiridos tanto bons quanto maus comportamentos, adequados e inadequados. Aprendizagem é a mudança de comportamento resultante de prática ou experiência anterior. Quando uma pessoa inicia o aprendizado da natação, por exemplo, pode não conseguir fl utuar, seus movimentos de pés e mãos podem ser descoordenados e a respiração pode estar irregular. Todavia, após algumas semanas de prática ou treinamento, esse quadro se modifi ca, a pessoa aprende a fl utuar, seus movimentos fi cam coordenados e a respiração acontece de forma a facilitar o ato. A analogia acima compara a situação inicial e a fi nal, e mostra claramente uma notável mudança de comportamento, ocorrida durante o tempo, resultante de prática ou experiência anterior. Pode-se dizer então que o indivíduo aprendeu a nadar. Inúmeros outros exemplos poderiam ser citados, para elucidar esse processo, como aprender a andar de bicicleta, aprender a ler e escrever. 2.1: Aprendizagem e Desempenho A defi nição de aprendizagem e o exemplo mencionado anteriormente costumam ser confundidos com desempenho. A aprendizagem é um evento interno, não-observável. Já o desempenho diz respeito a um comportamento observável. Por isso, embora a aprendizagem possa ser deduzida pela observação do desempenho, não é sinônimo de garantia de aprendizagem. Suponha que dois grupos de sujeitos – grupo A e grupo B – serão submetidos repetidamente, em igualdade de condições, ao aprendizado de uma tarefa motora. Durante alguns dias os grupos tendem a continuar apresentando o mesmo resultado. Porém, num determinado dia, o grupo A não poderá descansar durante à noite, ou seja, os componentes deste grupo estarão sujeitos a um estado de fadiga, enquanto os componentes do grupo B poderão descansar à noite, ou seja, não estarão sujeitos a uma condição de fadiga. No dia seguinte, ao se solicitar que os grupos realizem a tarefa motora a que estão acostumados, pode-se perceber que, provavelmente, os componentes do grupo A, cujo desempenho nos dias anteriores era igual aos componentes do grupo B, Bases Psicossociais da Aprendizagem 7 apresentarão um resultado alterado. Se isto acontecer pode-se referir a um desempenho inferior devido às condições (variáveis) a que foram submetidos, ou seja: o estado de fadiga. O exemplo descrito neste experimento leva à compreensão de que aprendizagem e desempenho são fenômenos diferentes, pois os componentes do grupo A executaram satisfatoriamente a tarefa motora durante vários dias. Isto leva a inferir que houve aprendizagem. Entretanto, o desempenho fi cou comprometido devido à variável imposta ao grupo. Após essas considerações iniciais sobre aprendizagem, podem-se estabelecer, ainda, algumas características e compreender que a aprendizagem é um processo dinâmico, contínuo, global, pessoal, gradativo e cumulativo. Como segue: • Processo dinâmico: a aprendizagem não é um processo de absorção passiva, pois a característica mais importante é a atividade daquele que aprende. É evidente que não se trata apenas da atividade externa física, mas, também, de atividade interna, mental e emocional, porque a aprendizagem é um processo que envolve a participação total do indivíduo. Esta participação pode envolver os aspectos físicos, intelectuais, emocionais e sociais individualmente ou em conjunto. • Processo contínuo: A aprendizagem acontece desde a infância, na juventude, na idade adulta e da senescência. • Processo global ou compósito: A maioria dos comportamentos humanos é global.Podem incluir aspectos motores, emocionais e ideativos ou mentais. Portanto, a aprendizagem envolve mudança de comportamento e exige a participação global do indivíduo, para que os aspectos constitutivos da personalidade entrem em atividade no ato de aprender, a fi m de que seja restabelecido o equilíbrio vital, provavelmente rompido pelo aparecimento de uma situação problemática. • Processo pessoal: Ninguém pode aprender por outra pessoa. A aprendizagem é intransferível, de um indivíduo para outro. A maneira de aprender e o próprio ritmo de aprendizagem variam de indivíduo para indivíduo, face ao caráter pessoal da aprendizagem. Ao ouvir esta afi rmativa, se pode questionar o fato de se poder ensinar algo a alguém. O processo de ensino consiste no empenho de se transmitir algum conceito, conhecimento ou idéia. O processo de aprendizagem pode ocorrer ou não, depende do aprendiz. • Processo gradativo: A aprendizagem é um processo que acontece por meio de operações crescentemente complexas, porque, a cada nova situação, maiores números de elementos podem estar envolvidos. Cada nova aprendizagem acresce novos elementos à experiência anterior, sem idas e vindas, mas numa série gradativa e ascendente. • Processo cumulativo: Com um sentido de progressiva adaptação e ajustamento social, ao se analisar o ato de aprender, verifi ca-se que, além da maturação, a aprendizagem resulta de atividade anterior, ou seja, da experiência individual. Ninguém aprende senão por si e em si mesmo, por auto-modifi cação. Desta maneira, a aprendizagem constitui um processo cumulativo, em que a experiência atual se aproveita das experiências anteriores. Estas modifi cações de comportamento, resultantes da experiência, podem levar a frustrações e a perturbações emocionais, quando não se dá a integração do comportamento, isto é, a aprendizagem. Bases Psicossociais da Aprendizagem 8 Quando a aprendizagem se realiza, surge um novo comportamento, capaz de solucionar a situação problemática encontrada, o que leva o aprendiz à adaptação, ou à integração de sua personalidade, ou ao ajustamento social, ou a todos estes fatores em conjunto. A acumulação das experiências leva à organização de novos padrões de comportamento, que são adquiridos e incorporados pelo sujeito. É possível afi rmar que quem aprende modifi ca o seu comportamento. 2.2: Transferência de Aprendizagem. Ao se defrontar com uma nova situação que apresenta certa difi culdade, as pessoas, depois de alguma refl exão, percebe que uma solução utilizada anteriormente, num outro contexto, pode ser também a alternativa para a resolução do problema do momento ou ser adequada a ela. Isto é transferência de aprendizagem. Muitas transferências ocorrem naturalmente, ao se transpor e aplicar numa dada situação, conhecimentos, habilidades, métodos, ideais, valores, hábitos e atitudes adquiridos em outros setores, ou situações de vida. No universo escolar, o professor deve apontar ao estudante as inúmeras oportunidades em que se pode utilizar esse procedimento, de modo a benefi ciar a aprendizagem. Muitas vezes os alunos iniciam um novo conteúdo partindo do zero, como se nada que foi visto anteriormente tivesse relação com o novo conteúdo. Na verdade, isso contraria o que deveria de fato ocorrer na atividade pedagógica, na qual as experiências anteriores deveriam favorecer a aprendizagem do momento, assim como a aprendizagem do momento deveria favorecer às aprendizagens futuras. 2.3: Aprendizagem e Motivação Outro aspecto relevante e indissociável do processo de aprendizagem é a motivação, que se refere ao reconhecimento pelo indivíduo de que aprender algo representa satisfação de necessidades atuais ou futuras. A motivação também pode ser vista como um processo psicológico em construção. A motivação humana deve ser compreendida na relação entre os aspectos cognitivos e afetivos da personalidade, ambos largamente dependentes do meio social. A motivação está ligada à autoconsciência do indivíduo – seus ideais, projetos, visão de mundo – e também aos aspectos inconscientes de sua personalidade. Pode-se dizer que uma pessoa motivada para aprender constrói o conhecimento mais prontamente do que uma sem motivação. Na base da motivação encontram-se tantas razões de ordem geral como aquelas de natureza específi ca: vontade de aprender, necessidade de realizar-se, desejo de receber determinada recompensa ou de evitar certa punição. Naturalmente, a aprendizagem controlada por recompensas – obter satisfação pessoal ou elogios da professora, por exemplo – é preferível àquela realizada apenas para não receber castigos dos pais, para não repetir o ano, ou para evitar críticas da professora. De igual modo, se aprende melhor quando se espera alcançar sucesso do que quando se tem expectativa de fracasso. Neste caso, a criança tende a não investir energia sufi ciente para poder realizar adequadamente a tarefa. O prazer deve vir da própria aprendizagem, do sentimento de competência pessoal, da segurança em ser hábil para resolver problemas. Convém ressaltar que o trabalho intelectual feito sobre materiais ou conteúdos signifi cativos é sempre mais produtivo do Bases Psicossociais da Aprendizagem 9 que aquele que envolve conteúdos ou materiais sem nenhuma signifi cação para quem aprende. Motivação denota a predisposição por parte do indivíduo para certo comportamento desejável naquele momento. Motivação pressupõe o encontro com os motivos pessoais. Os motivos levam o indivíduo a uma atividade na tentativa de satisfazer suas necessidades. Qualquer necessidade gera tensão, desequilíbrio. A tensão impulsiona o comportamento na direção de um objetivo que permita o restabelecimento do equilíbrio. Os motivos mantêm o organismo ativo até que a necessidade seja satisfeita e a tensão desapareça. Motivo, necessidade, impulso e instinto são constructos, processos internos hipotéticos que parecem explicar o comportamento, mas não podem ser diretamente observados ou medidos. Referem-se a um estado de tensão, uma impulsão interna, que inicia, dirige e mantém o comportamento voltado para um objetivo. Este objetivo é, muitas vezes, chamado incentivo. Os motivos dirigem o comportamento do indivíduo para o objetivo mais adequado para satisfazer a necessidade. Não basta que o organismo esteja ativo, é preciso que sua função se dirija para um objetivo adequado. Os motivos selecionam e acentuam a resposta correta. As necessidades humanas são numerosas, especialmente as psicológicas, e muitas delas continuam insatisfeitas. A questão da motivação tem sido bastante estudada pelas diversas linhas teóricas existentes em Psicologia: • Teoria do Condicionamento: a motivação através do reforço ou recompensa. • Teoria Cognitiva: Considera que, como ser racional, o homem decide conscientemente o que quer ou não quer fazer. • Teoria Humanística: Abraham Maslow, um dos teóricos humanistas, aceitou a ideia de que o comportamento humano pode ser motivado pela satisfação de necessidades biológicas e então esquematizou uma hierarquia conjuntos de motivos/necessidades, conhecida como a Pirâmide das Necessidades, conforme a seguir: • Necessidades Estéticas: estão presentes em alguns indivíduos e se manifestam através da busca constante da beleza. • Necessidade de Conhecimento e Compreensão: abrange a curiosidade, a exploração e o desejo de conhecer novas coisas, de adquirir mais conhecimentos. • Necessidade de Realização: expressa a tendência de transformar em realidade o que se é em potencial, a realizar planos e sonhos, a alcançar objetivos. • Necessidade de Estima: leva à procura de valorização e o reconhecimento por parte dos outros. • Necessidade de Amor e Participação: expressa o desejo de todas as pessoas de se relacionarem efetivamente com os outros, de pertencerem a um grupo. • Necessidade de Segurança: manifesta-sepelo comportamento de evitar o perigo. • Necessidades Fisiológicas: oxigênio, líquido, alimento e descanso; Na teoria de Maslow, a hierarquia das necessidades é fundamental. As necessidades que estão no topo da pirâmide só surgem e podem ser satisfeitas na medida em que se satisfazem as que estão na base da pirâmide. Bases Psicossociais da Aprendizagem 10 3. TEORIAS DA APRENDIZAGEM Aprendizagem é a mudança de comportamento que ocorre pela prática, experiência ou treino. Tanto os comportamentos aprendidos como os não aprendidos têm como objetivo a adaptação. Os refl exos e os instintos são comportamentos não aprendidos, são inatos. Existem por outro lado, diversas formas de aprendizagem, desde as mais simples até as mais complexas. O “imprinting”, ou estampagem, é a forma mais primitiva de aprendizagem que possui muito de comportamento instintivo. Lorenz observou este comportamento em fi lhotes de patos: Os fi lhotes formam um vínculo com uma “fi gura de mãe”. Normalmente, esta fi gura é a sua mãe real, mas eles podem formar vínculo com objetos mais variados, desde que se movam, e tratá-los daí em diante como mãe. Ao contrário de outras formas de aprendizagem, a estampagem é irreversível e restrita a um breve “período sensível”, que ocorre logo depois da saída do ovo e que a escolha de uma mãe também afeta a escolha da companheira sexual quando a ave fi ca adulta. O estudo da aprendizagem perpassa pela compreensão de teorias que ajudam a compreender seu mecanismo. As principais teorias psicológicas do século XX, como a teoria behaviorista, por exemplo, fornecem grandes subsídios para se compreender a o comportamento humano. Para os behavioristas as experiências passadas representam um fator fundamental na forma com a qual os indivíduos se comportam no presente. As teorias do condicionamento clássico e operante são fundamentais para a compreensão do processo ensino/aprendizagem, assim como a aprendizagem por insight, por ensaio e erro, e social. 3.1: Aprendizagem e o Condicionamento Clássico e Operante A Teoria Behaviorista, também conhecida como Teoria Comportamental usa o modelo do condicionamento, que é um tipo de aprendizagem que acontece ao longo da vida nas mais diversas circunstâncias e pode ser dividido em condicionamento clássico ou respondente e condicionamento operante. 3.1.1: Ivan Petrovitc Pavlov O Condicionamento clássico é de autoria de Ivan Petrovitc Pavlov, chamado condicionamento clássico para distinguir-se do condicionamento operante. É o condicionamento de natureza fi siológica e estabelece uma relação entre estímulo e resposta, como segue. Primeiro Pavlov observou as reações inatas ou refl exos, que podem ser defi nidas como reações imediatas, fi xas e não-aprendidas de um músculo ou glândula, em face de um estímulo sensorial. O organismo que é dotado de uma série de respostas, tendências ou reações, na presença de estímulos apropriados, naturais incondicionados, entra em ação e produz uma resposta. Baseado nesta premissa, Pavlov realizou o seguinte experimento: Ele colocou um cachorro em uma caixa dotada de uma lâmpada e um alarme sonoro. O experimento consistia em apresentar ao cachorro um pedaço de carne ao mesmo tempo em que soava a campainha e se acendia a luz. Ao ver o bife o cachorro salivava. Vale frisar que sempre que havia a apresentação do bife para o cachorro se fazia soar o alarme e o acender da luz. Após várias apresentações, Pavlov fez soar a campainha e acender a luz, mas não apresentou o bife para o cachorro, que mesmo assim, salivou. Bases Psicossociais da Aprendizagem 11 3.1.2: Skinner O Condicionamento Operante se refere ao condicionamento proposto por B. F. Skinner. Ele chegou a esta teoria baseado no seguinte experimento: colocou um rato numa gaiola dotada de uma alavanca que ligava o seu interior a um reservatório de alimento ou água, localizado na parte externa. Após o rato ter sido adaptado à gaiola, Skinner o privou de alimento. O rato percorreu toda a gaiola insistentemente à procura de alimento. Durante esta busca, em um dado momento, o rato esbarrou na alavanca incidentalmente, que, ao ser pressionada liberou alimento na gaiola. O rato passou a repetir a ação de pressionar a barra. Este procedimento se tornou a resposta condicionada para o seu problema inicial (ausência de alimento) e desta forma o estímulo (alimento) foi o reforçador para a emissão da resposta condicionada (pressionar a barra). O alimento funcionou como um reforçador positivo para o fortalecimento da resposta esperada: pisar na alavanca. Portanto, o reforço positivo é o estímulo cuja apresentação fortalece o comportamento. Posteriormente, nesta mesma gaiola, foi adicionado ao piso um choque elétrico. O rato executou movimentos na tentativa de escapar do choque, o que o levou, novamente, a esbarrar na alavanca e pressionar a barra incidentalmente. O problema inicial (retirada do choque elétrico no piso) fez com que o rato repetisse a resposta (pressionar a barra), uma vez que esse procedimento afastava o estímulo do choque. Neste caso, o choque funcionou como um reforço negativo para fortalecimento da resposta esperada, pisar na alavanca. Portanto, reforço negativo o estímulo, cujo afastamento fortalece o comportamento. Este processo pode ser resumido da seguinte forma: é operante porque implica na realização de uma ação, que levaria à resposta esperada para obtenção de um reforço. Em outras palavras, enquanto no condicionamento clássico, o estímulo incondicionado (alimento) e o estímulo condicionado (campainha) antecedem a resposta (salivação), no condicionamento operante, a resposta (pressionar a barra) antecede ao aparecimento do estímulo (alimento) ou ao desaparecimento do estímulo (choque elétrico) que vai assumir o papel de reforço para a emissão da resposta condicionada de pressionar a barra. Quanto ao conceito de reforço, em linguagem comum, corresponde a recompensa. Para Skinner, qualquer estímulo, cuja apresentação ou afastamento aumenta a probabilidade de uma resposta, é um reforço. É preciso não confundir reforço negativo com punição. No caso do reforço negativo, um comportamento se instala para evitar um estímulo desagradável. No caso da punição, um determinado comportamento é eliminado por meio de um estímulo aversivo. 3.1.3: Thorndike Thorndike também era um behaviorista que apoiava o conceito de condicionamento como processo de aprendizagem. Seu experimento consistia em um gato em uma caixa com ferrolho e o alimento do lado de fora, que o gato podia perceber por um visor. Por ensaio e erro, acidentalmente, o animal abriu o trinco e alcançou o alimento. Na medida em que a exposição se repete, cada vez mais o gato abandona os movimentos desordenados, exploratórios e impulsivos. Sua atividade se tornava cada vez mais restrita até que, fi nalmente, ao ser colocado de novo na caixa, o gato dirigia-se imediatamente para a porta, abria o trinco e saía. O gato aprendeu por ensaio e erro. Thorndike estabeleceu a Lei do efeito: quando um ato causa satisfação ou é seguido de recompensa, tende a ser repetido. Ele sugere que a punição tem Bases Psicossociais da Aprendizagem 12 efeito inverso, ou seja, quando um ato é seguido de um estímulo aversivo (punição), este ato tende a ser evitado. Ainda, relata que a prontidão é importante, e que só é possível reforçar comportamentos possíveis de serem realizados. Foi o primeiro teórico a ressaltar o papel da moderação. É muito conveniente ressaltar o conselho de Thorndike de nunca orientar um exercício pessoas ou animais que não estejam aptas a fazê-lo. A Teoria do Condicionamento recebe frequentes críticas, entretanto, não se pode negar que o condicionamento é um componente marcante no cotidiano, pois constitui um dos tipos de aprendizagem. 3.2: Aprendizagem e o Insight O fenômeno do insight integra os estudos da Teoria da Gestalt.Traduzida do alemão de modo aproximado, a palavra Gestalt signifi ca padrão ou confi guração. A teoria gestáltica do comportamento baseia-se em percepção, experiência e uma orientação defi nida para meta. Os psicólogos da Gestalt acreditam que uma pessoa percebe uma situação inteira, ao invés de seus elementos individuais. Assim, o todo é mais do que meramente a soma dos elementos, porque as pessoas tendem a organizar os elementos de uma situação e depois acrescentam os elementos da experiência passada, dessa forma torna a experiência maior do que a soma das percepções individuais. O insight é um tipo de aprendizagem que ocorre quando o sujeito, diante de uma situação problemática, apresenta um discernimento súbito. É uma aprendizagem inteligente, interpretativa e integrativa. Ocorre quando o indivíduo consegue perceber as relações existentes em uma situação problemática, formar uma estrutura, integrar os elementos e, subitamente, compreende a situação. O termo insight pode ser resumido como uma compreensão imediata. Para que se dê o insight, há uma necessidade de uma série de experiências prévias, a solução aparece repentinamente quando tudo passa a ter sentido. 3.3: Aprendizagem e o Ensaio e Erro Outro tipo de aprendizagem ocorre por ensaio e erro. Este processo é conhecido como a seleção de respostas bem sucedidas e surge quando a situação problemática é difícil para o indivíduo, que é obrigado a produzir diferentes respostas até resolver o problema. Não deve ser identifi cada com mera atividade ao acaso, na qual as respostas corretas são feitas ao acaso. Deve ser reconhecida como uma aprendizagem dirigida para algum objetivo, na qual cada passo do processo é planejado. 3.4: Aprendizagem e o Modelo Social Nem toda a aprendizagem é proveniente do condicionamento, ensaio e erro ou insight: a aprendizagem também pode acontecer por imitação, pela observação direta da conduta de outras pessoas, ou seja, aprender segundo um modelo. Os pais, normalmente, são modelos signifi cativos para a criança. Mas a escolha do modelo pode estar ligada a muitos fatores como: ao poder reforçador que este exerça, ao status por ele ocupado, sua atratividade, sua importância no imaginário de quem está imitando, dentre outros fatores. Muitos estudos têm indicado que condutas agressivas também podem ser aprendidas por modelos, assim como as preferências estéticas, os juízos morais e outros comportamentos. A imitação é percebida por quem imita como uma maneira de se obter atenção, segurança, aceitação e prestígio, mesmo quando o conteúdo do que é imitado não é adequado. De modo geral, nas situações do cotidiano as tendências imitativas são recompensadas e a não imitação castigadas. Os tipos de aprendizagens vistos até aqui fazem parte de um tipo de aprendizagem mais complexo, conhecido por raciocínio. O raciocínio é um processo análogo ao ensaio e erro, mas de Bases Psicossociais da Aprendizagem 13 natureza mental, isto é, as pessoas ensaiam e erram mentalmente, para só depois tentar resolver efetivamente os problemas. O processo de raciocinar inicia-se a partir de uma motivação, da necessidade de resolução de um problema. Segue-se uma análise para determinar em que consiste exatamente a difi culdade e formulam-se hipóteses para a solução. Por fi m, as hipóteses são estudadas, verifi cam-se quais as implicações de cada uma delas, seleciona-se a mais adequada, e então há a verifi cação da hipótese, ou seja, a aplicação do procedimento escolhido. 4. MODELOS TEÓRICOS NA PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM O desenvolvimento intelectual ou cognitivo acontece como um processo individual interativo de vários fatores internos – como biológicos e hereditários – e externos. Esta ideia de interação deu origem à concepção interacionista do desenvolvimento que se apóia na idéia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo construído pelo indivíduo durante toda a vida, que não está pronto ao nascer, nem é adquirido passivamente graças às pressões do meio. Ainda, experiências anteriores servem de base para novas construções que dependem, nesse sentido, da relação que o indivíduo estabelece com o meio. Piaget e Vygotsky representam duas correntes do interacionismo. 4.1 – A Teoria Cognitiva de Piaget – A Epistemologia Genética Jean Piaget (1896 –1980) nasceu na Suíça e, embora tenha se formado em ciências naturais, tornou-se uma autoridade em Psicologia, pelo reconhecimento da importância de sua teoria para a compreensão do desenvolvimento cognitivo. Ao deixar a Suíça, Piaget foi trabalhar no laboratório de Binet que, por volta de 1905, dedicava- se a elaborar um teste para medir a inteligência das crianças que freqüentavam as escolas francesas, o teste de inteligência Binet-Simon (Teste de Quoefi ciente de Inteligência – QI). Ao analisar as respostas das crianças no teste, Piaget começou a se interessar pelas respostas erradas, salientando que as crianças erravam porque as respostas eram analisadas a partir do ponto de vista do adulto. A criança possui uma lógica de funcionamento mental que a difere qualitativamente dos adultos. Seu desenvolvimento é um processo de equilibrações sucessivas num processo contínuo, caracterizado por diferentes fases. Cada etapa é um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói suas estruturas cognitivas. As respostas infantis seguiam uma lógica própria. Esse foi o ponto de partida para que Piaget desenvolvesse sua teoria, que sugere que o indivíduo, ao longo do seu desenvolvimento, realiza um processo contínuo de trocas entre o seu organismo vivo e o meio. A aprendizagem e o desenvolvimento interagem constantemente. Enquanto aprende, a criança desenvolve novas habilidades e aumenta suas possibilidades cognitivas, do mesmo modo se desenvolvem estruturas que dão oportunidades a novas aprendizagens. Para Piaget, a aprendizagem tem por fi nalidade adaptação. Ao realizar trocas com o meio, o indivíduo está em constante adaptação com a fi nalidade de alcançar equilíbrio. A adaptação é o equilíbrio entre a acomodação e a assimilação, que por sua vez levam ao ajustamento ao meio. Como essa é uma dinâmica contínua, o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de constantes desequilíbrios e equilíbrios. A assimilação é a incorporação dos objetos ou dos acontecimentos aos esquemas existentes e a acomodação é a modifi cação para atender às novas exigências do ambiente psicobiossocial. Acomoda- se ou aprende-se quando ocorre mudança nos esquemas mentais a partir de objetos ou informações desconhecidos. Bases Psicossociais da Aprendizagem 14 Em suas observações com crianças, Piaget verifi cou que a natureza e a caracterização da inteligência mudam signifi cativamente com o passar do tempo e enunciou a sua teoria “Epistemologia Genética” com os seguintes estágios, considerando que as idades mencionadas não são rígidas, e que pode haver grande variação individual: • 1º estágio – sensório-motor – 0 a 2 anos: A criança percebe o ambiente (natureza sensorial) e age sobre ele (natureza motora). Daí ser muito importante a estimulação ambiental – é essencial que o bebê manipule uma grande variedade de objetos, que tenha liberdade para se movimentar, que receba estimulação visual, auditiva, táctil etc. Em princípio o bebê utiliza seus refl exos (comportamentos inatos), depois coordena refl exos com respostas já aprendidas, aperfeiçoando os primeiros, e inicia o processo de adaptação (assimilação e acomodação). Movimenta mãos e pernas. Alcança objetos, os pega e os chupa. Deixa cair objetos para observar a queda. A criança não dispõe ainda da capacidade de representar eventos, de evocar o passado e de se referir ao futuro. Está presa ao aqui e agora, ou seja, não construiu ainda a noção de tempo e espaço. Para aprender utiliza os recursos dos esquemas sensorial e motor. • 2º estágio – pré-operacional– 2 a 6 anos: Período marcado pelo aparecimento da linguagem oral. A criança começa a desenvolver a capacidade simbólica, a usar símbolos mentais, imagens ou palavras que representam os objetos que não estão presentes – o pensamento é independente da percepção. Há exuberante explosão linguística. Aos 2 anos, o vocabulário da criança possui cerca de 270 palavras, aos 3 já fala aproximadamente 1.000 e compreende outras 2.000 ou 3.000 palavras. Nesta época o pensamento infantil tem várias características como: • Egocentrismo: incapacidade de se colocar no ponto de vista do outro. Centralização: consegue perceber apenas um dos aspectos de um objeto ou acontecimento • Animismo: Empresta alma às coisas e lhes atribuindo sentimentos e intenções próprios dos seres humanos. • Realismo nominal: Pensa que o nome faz parte do objeto. • Classifi cação: Após o quinto ano a criança consegue agrupar os objetos com base no tamanho, cor ou forma. • Inclusão de classe: tem difi culdade de entender que uma coisa possa pertencer a duas classes ao mesmo tempo. Ex.: ser carioca e brasileiro. • 3º estágio – operacional concreto – 7-11 anos: ressalta o caráter coordenado das operações, coordenação que permite que as crianças nesta etapa realizem inferências e deduções muito mais complexas do que crianças menores. Enfocam um problema de forma muito mais completa, com articulação de diferentes dimensões, considera aspectos anteriores e virtuais que a ajuda a resolver problemas mais complexos. Reconhece a estabilidade lógica do mundo físico. Tem a percepção de que os elementos podem mudar ou serem transformados, e que esses elementos podem conservar muitas de suas características originais, além de compreenderem que tais mudanças podem ser revertidas. • 4º estágio – operacional formal –12 anos em diante: Não depende mais da realidade efetiva, as operações lógicas são realizadas entre idéias, expressas numa linguagem qualquer (palavras ou símbolos). O pensamento formal é hipotético e dedutivo, isto é, capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses Bases Psicossociais da Aprendizagem 15 e não somente através da observação real. O adolescente raciocina cientifi camente, formula hipóteses e as comprova em pensamento. Imagina possibilidades, analisa logicamente, formula hipóteses a respeito de resultados possíveis. 4.2: A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky A concepção interacionista também foi adotada pelo russo Lev Seminovitch Vygotsky (1896 –1934). Assim como Piaget, Vygotsky concebia a criança como um ser ativo, atento, que constantemente interage com o seu ambiente. Para Vygotsky, o processo de formação de pensamento é despertado e acentuado pela vida social por meio da constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual permite a experiência de muitas gerações. Nos trabalhos de Vygotsky, encontram-se justifi cativas para a aquisição da linguagem a partir de uma forte ligação entre o ser e o ambiente social. A partir do ambiente em que vive, o indivíduo tem acesso a instrumentos físicos como: vassoura, mesa, faca e simbólicos como: a cultura, valores, crenças, costumes, tradições e conhecimentos desenvolvidos pelas gerações precedentes. Segundo Vygotsky, o pensamento se forma a partir da história social do indivíduo e através da linguagem. A forma como fala é utilizada na interação social com adultos e colegas mais velhos. O pensamento infantil é amplamente guiado pela fala e pelo comportamento dos mais experientes. Gradativamente adquire capacidade de se auto- regular. Por meio da linguagem, a criança internaliza o modo de vida de sua cultura. Em seu entender a criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, forma uma visão desse mundo por meio da interação com adultos ou crianças mais experientes. Ao se variar o ambiente, também se varia o desenvolvimento. O processo desenvolvido é a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em que nasceu. É preciso que a criança aprenda e integre o conhecimento de sua cultura em sua maneira de pensar Para Vygotsky, o desenvolvimento mental é o processo ou apropriação da experiência acumulada pela humanidade no decurso da história social. As conquistas do desenvolvimento social foram gradualmente acumuladas e transmitidas de geração em geração. Desde o nascimento a criança é cercada por um mundo criado pelo homem, ou seja, alimentos, vestuários, instrumentos e linguagem que refl ete conceitos, idéias e, consequentemente, o desenvolvimento mental. A criança se adapta ao mundo dos objetos humanos e aos fenômenos que a circundam e se apropria deles. O processo de apropriação é muito diferente do processo de adaptação. Por adaptação entende-se uma mudança dos comportamentos e capacidades em função das exigências do ambiente. Por apropriação compreende-se e um processo que tem como consequência a reprodução, pelo indivíduo, de qualidades, capacidades e características humanas de comportamento. A ênfase no ambiente se refl ete em toda a sua teoria, as interações com os mais experientes facilita a aprendizagem, uma vez que surge uma Zona de Desenvolvimento Proximal ou Potencial. Vygotsky usou esse termo para se referir à distância entre o nível de desenvolvimento atual ou real, que é determinado pela capacidade de solução de problemas sem ajuda, e o nível de desenvolvimento proximal, medido pela capacidade de solução de problemas sob a orientação ou em colaboração com crianças mais experientes. Em outras palavras, zona de desenvolvimento proximal é o espaço dinâmico de sensibilidades, na qual as pessoas presentes ou em memória estão afetadas umas pelas outras, na qual o desenvolvimento cognitivo pode avançar. Assim, confi gura-se uma Bases Psicossociais da Aprendizagem 16 importante redefi nição epistemológica quando Vygotsky defende que a aprendizagem estimula o desenvolvimento na medida em que o conteúdo aprendido é incorporado como um instrumento da atividade mental, reorganizado e permite que essa reestruturação represente um impulso para o desenvolvimento. O convívio com crianças mais experientes funciona como um mediador de aprendizagem e quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento. Assim, Vygotsky via a inteligência como habilidade para aprender e desprezava as teorias que concebem a inteligência como resultante de aprendizagens prévias, já realizadas. Para ele, as medidas tradicionais de desenvolvimento, que utilizam testes psicológicos padronizados, focalizam apenas aquilo que as crianças são capazes de realizar sozinhas. 5: OUTRAS TEORIAS E COMPONENTES DA APRENDIZAGEM 5.1: Bandura e a Aprendizagem Social Bandura era behaviorista. Segundo ele a aprendizagem acontece por meio da imitação e pelos contatos com as pessoas. Durante as alterações sociais, o indivíduo pode modifi car o seu comportamento como resultado da observação direta de como as outras pessoas reagem. Nem todas as aprendizagens ocorrem como resultado do reforço direto. O reforço Vicariante consiste na mudança do comportamento dos observadores como uma função do testemunho das conseqüências quando acompanham o desempenho do outro. A punição vicariante se dá quando a observação das conseqüências negativas reduz a tendência dos indivíduos a se comportarem de forma igual ou semelhante. As novas respostas podem ser aprendidas por meio da observação dos outros. O comportamento é aprendido grosseiramente antes de ser desempenhado. O estímulo moderador transmite a informação que é reproduzida e aperfeiçoada. Esta observação de modelos ocorre, principalmente durante o processo de aquisição de linguagem. Crianças que vivem em lares com alto nível cultural são mais adiantadas e precoces no seu desenvolvimento verbal do que crianças de lares com nível sócio- econômico-cultural baixo ou de instituições. A relação de comportamentos aprendidos por imitação é infi nita, inclusive asrespostas indesejáveis. Uma criança pode aprender a tornar-se agressiva, mentirosa ou desonesta também por imitação de modelos. 5.2: Noam Chomsky e o confl ito com a teoria behaviorista de Skinner Skinner, como mencionado anteriormente, tentava explicar a aprendizagem linguística baseado na teoria de estímulos-respostas e leis de reforço com animas. Chomsky, com base nos trabalhos de Descartes, Platão e Immanuel Kant, argumentou que a interpretação do mundo baseia-se em sistemas representacionais que derivam da estrutura da própria mente e, segundo ele, não refl etem de nenhuma maneira direta a forma do mundo exterior. Chomsky apregoava a linguagem como uma herança biológica do ser humano, que é capaz de adquiri-la e desenvolvê-la por meio suas competências e habilidades inatas, ou seja, o homem nasce com herança genética para desenvolvimento da linguagem, e é dotado de estruturas gramaticais universais, por isso é capaz de formular sentenças na língua mãe na dependência da intuição e criatividade: o inatismo. Segundo o inatismo um dos fatos notáveis é a possibilidade de, aos cinco ou seis anos, as crianças serem capazes de produzir e entender um número indefi nidamente grande de elocuções das quais não tinham tido prévio conhecimento. Bases Psicossociais da Aprendizagem 17 Também criticou a teoria da imitação, pois as crianças, que não conseguem imitar devido a prejuízo neurológico ou físico, ainda conseguem entender a linguagem e a comunicar-se. Vários pesquisadores sugerem que, nos dois ou três primeiros meses de vida, os nenês emitem todos os sons que a voz humana pode produzir. Porém, depois de alguns meses de contato com os falantes de seu país, as crianças abandonam os sons inúteis para a sua língua. Do mesmo modo em que os bebês nascem biologicamente dotados de todos os fonemas que o ser humano pode produzir de forma universal, Chomsky elucida a possibilidade da posse de uma gramática universal. 5.3: Psicomotricidade e a Aprendizagem: A aprendizagem ocorre em conseqüência de uma contínua organização e reorganização da experiência que permite a compreensão global da situação e a percepção dos seus elementos mais signifi cativos. Não há comportamento possível sem o conhecimento do meio ambiente. A percepção se impõe ao organismo. Segundo a psicomotricidade, isto acontece de acordo com as leis do desenvolvimento psicomotor que é uma conquista que amplia a capacidade da criança de adaptar-se às necessidades comuns. Para que haja uma boa integração com o meio numa comunicação mais ampla, três aspectos precisam ser cuidados: 1. Percepção: tem papel fundamental para o desenvolvimento harmonioso da criança. Existem diferenças marcantes. Cada criança tem o seu próprio ritmo. 2. Esquema corporal. É o conhecimento do próprio corpo, questão pessoal de elaboração da relação indivíduo-meio. 3. Linguagem: A base de toda comunicação social que requer evolução normal do sistema nervoso, funcionamento dos órgãos sensoriais, motores e de articulação, e mais maturação. A partir da vigésima semana de gestação a mãe já pode sentir os movimentos do fi lho, ou seja, o desenvolvimento motor começa na vida intra- uterina. Neste período todos os movimentos natos são refl exos. O bebê já é capaz de ouvir. O primeiro ano de vida é uma época de maturação intensiva dos movimentos. As mãos, os pés e depois todo o corpo, passam a ser um brinquedo fascinante para a criança que aprende e apreende seus próprios movimentos e se diverte em experimentá-los. Além disso, a criança descobre uma série de ruídos produzidos pelo seu próprio corpo. Aos quatro meses de idade a criança é aprende a segurar brinquedos e percebê-los como um prolongamento do seu corpo, o que permite diversifi car os ruídos do seu corpo. No decorrer do primeiro ano, o auto-conhecimento continua. A criança brinca de esconder as coisas e de fazer com que os mais variados objetos apareçam, desapareçam, reapareçam, o que de acordo com Freud, seria uma forma de ensaiar o controle emocional diante das inúmeras situações de ausência e presença da mãe e do pai. A criança começa a aprender a lidar com seus sentimentos. Durante o segundo e terceiro anos, a fantasia ganha maiores proporções. O “faz de conta” que comanda as situações, dando-lhes vida. Desta forma, pela ação, a criança assimila as coisas do mundo. Durante a escolarização o escrever combina motricidade com percepção. Na adolescência há o crescimento longitudinal e a diferença sexual. Uma vez adulto, a pessoa sai em direção ao mundo e aprende a viver em sociedade. Na velhice, diminui a força muscular em função dos elementos conjuntivos Bases Psicossociais da Aprendizagem 18 armazenados nos músculos. É o momento de aprender a contemplar. 5.4: Memória e Aprendizagem Aprendizagem é a mudança de comportamento que ocorre pela prática, experiência ou treino. Tanto os comportamentos aprendidos como os não aprendidos têm como objetivo a adaptação. Os refl exos e os instintos são comportamentos não aprendidos, inatos. Existem diversas formas de aprendizagem, desde as mais simples até as mais complexas. O “imprinting”, ou estampagem é a forma mais primitiva de aprendizagem e que possui muito de comportamento instintivo. Filhotes patos são os melhores modelos para exemplifi car este tipo de aprendizagem: estes fi lhotes formam um vínculo com uma “fi gura de mãe”. Normalmente, esta fi gura é a sua mãe real, mas eles podem formar vínculo com objetos mais variados, desde que se movam, e tratá-los daí em diante como mãe. Ao contrário de outras formas de aprendizagem, a estampagem é irreversível e restrita a um breve período sensível, que ocorre logo depois da saída do ovo e que a escolha de uma mãe também afeta a escolha da companheira sexual quando a ave fi ca adulta. Pavlov enunciou o condicionamento clássico quanto estudava o refl exo salivar dos cães e o chamou de estímulo condicionado, como já demonstrado anteriormente, que possui uma estreita ligação com a memória. Outra forma de condicionamento se dá sem esta associação de um estímulo incondicionado a outro condicionado. Neste o animal é mais ativo e apresenta exploração do ou comportamento apetitivo, durante o qual desempenha atividades tais como farejar, andar, olhar etc. Se uma destas atividades for seguida por reforço e a associação for repetida diversas vezes, o animal aprende a desempenhar a atividade regularmente na situação. Esse tipo de aprendizagem é chamado de “ensaio e erro”. Memória consiste nos mecanismos pelos quais uma aprendizagem permanece disponível durante certo período de tempo. O sujeito não é passivo. Suas motivações e reações afetivas modulam o funcionamento da memória. Outros fatores que interferem na memória são a familiaridade que o material tem para o sujeito, a organização que o sujeito dá ao material ou nele consegue discernir e certas propriedades do material. A memória pode ser classifi cada de acordo com o sentido envolvido, a memória depende do grau de desenvolvimento do cérebro e é comum ao homem e aos animais. O homem tem a memória visual mais acurada que os cães, em contrapartida, o cão tem centros auditivo e olfativo mais desenvolvidos que o homem, e, consequentemente, a memória auditiva e olfativa. Há três tipos de memórias: 1. Memória de Trabalho: Dura de segundos a minutos. 2. Memória de Curto Prazo: Pode durar vários dias. 3. Memória de Longo Prazo: Dura, geralmente, a vida inteira. 5.5: Pensamento, Linguagem e Aprendizagem: O pensamento da criança é construído paulatinamente num ambiente que é histórico e em essência social. Por intermédio da fala, a criança progressivamente se introduz no seio da vida social e adquire uma variedade de outras ferramentas culturais. Linguagem -> pensamento -> vida social -> cultura. Bases Psicossociais da Aprendizagem 19 A fala funciona como ferramenta na construção dopensamento da criança, por meio da qual a criança organiza, modifi ca e integra vários aspectos de seu comportamento, tais como percepção e memória. Também por meio da fala a criança aprende o signifi cado das atividades de sua cultura, seja pela experiência vivida com os outros, seja com os objetos que sintetizam as atividades de gerações anteriores. Assim a aprendizagem pressupõe uma natureza social específi ca e um processo interativo. A criança não aprende por si própria, mas, essencialmente com os outros, através de sua relação com eles. De acordo com Vygotsky o coletivo é recuperado como espaço de constituição e apropriação do conhecimento. A pessoa é ativa desde que nasce e suas ações são progressivamente internalizadas, a partir de um processo interpessoal que, posteriormente se torna interpessoal. Todas as funções do desenvolvimento da criança aparecem duas vezes. Primeiro, no nível social e, depois, no nível individual. O papel daqueles que interagem com a criança é o de fornecer informações, apresentar desafi os, estimular a construir hipóteses e a avançar, isso difere totalmente de analisar e realizar sínteses para a criança. As pessoas possuem capacidades cognitivas extraordinárias, mais obviamente a capacidade para pensamento e linguagem. Conquanto os seres humanos não sejam somente criaturas que pensam e se comunicam, inquestionavelmente são os mais sofi sticados e habilidosos pensadores e comunicadores deste planeta. Neste sentido, a linguagem é, sem dúvida, um fenômeno que diferencia os homens dos animais. O homem adquire informações por meio do contato direto com o ambiente. No entanto, são capazes de fazer uso da linguagem para se apropriarem das experiências signifi cativas das gerações precedentes. A linguagem é um fator de interação social e aprendizagem, pois permite a comunicação entre indivíduos, a troca de informações e de experiências. Os seres humanos aprendem a ser humanos pela linguagem. Quando, por volta dos dois anos de idade, uma criança começa a falar as pessoas à sua volta, normalmente, não percebem que algo fantástico está acontecendo. Em geral, os adultos fi cam fascinados com os esforços que as crianças fazem para nomear algo presente em seu ambiente, divertem-se com as confusões e trocas que inevitavelmente ocorrem. Normalmente se passa despercebido um fato fundamental que se refere, justamente, ao impacto que a aquisição da linguagem tem sobre a vida da criança e daqueles que interagem com ela. Foi mostrado, anteriormente, como ocorre o desenvolvimento do pensamento em Piaget e Vygotsky e como são signifi cativas as sucessivas conquistas das crianças, assim como habilidades inatas descritas por Chomsky. Conhecer as fases do desenvolvimento da linguagem representa uma excelente ferramenta utilizável para se estabelecer recursos que auxiliem o processo de aprendizagem das crianças, para tanto, segue um descritivo da Linguagem expressiva: 1. Palavra frase - entre o décimo primeiro e o décimo segundo mês: as primeiras palavras pronunciadas têm o sentido de uma frase, representam uma idéia, uma ação. Podem ter diferentes signifi cados de acordo com a modulação do som e os gestos que as acompanham. 2. Linguagem Telegráfi ca- dezoito meses: Apresentam frases curtas com expressões egocêntricas. Fala na terceira pessoa. As orações geralmente são afi rmativas. 3. Linguagem designativa ou Denominativa - dois anos: a criança descobre que cada coisa tem Bases Psicossociais da Aprendizagem 20 o seu nome: surge a conjunção [e], começa a usar o possessivo [meu]. Faz esforço para conjugar os verbos. Começam as perguntas. Conversa com objetos e brinquedos. 4. Linguagem oracional - três anos: orações completas, curtas e simples - surge o pronome [eu]. Surgem os plurais. Participa do mundo exterior. 5. Linguagem Melomática - quatro anos: a criança descobre o futuro do indicativo [amanhã]. 6. Linguagem ergástica - sete anos: fase da aprendizagem sistemática. 7. Linguagem somática - quatorze anos: começa a se referir ao passado remoto. Faz planos, é a linguagem do adulto. A linguagem e o pensamento estão intimamente ligados. Por pensamento se entendem as atividades mentais variadas, tais como raciocinar, resolver problemas e formar conceitos. As pessoas caracterizam seus pensamentos como uma fala interior abrupta. Pensar provavelmente depende de diversos tipos de imagens, linguagem, memória, dentre outros. Entretanto, surge uma importante questão: O que surge primeiro, o pensamento ou a linguagem? Segundo Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem, que é apenas uma das suas formas de expressão. Por um lado, a formação do pensamento depende, basicamente, da coordenação dos esquemas sensoriomotores e não da linguagem. A linguagem só ocorre depois que a criança alcança um determinado nível de habilidades mentais que se subordinam aos processos de pensamento. A linguagem possibilita à criança evocar um objeto ou acontecimento ausente na comunicação de conceitos. Piaget, todavia, estabeleceu uma clara separação entre as informações que podem ser transmitidas por meio da linguagem e os processos que não parecem sofrer qualquer infl uência dela. Este é o caso das operações cognitivas que não podem ser trabalhadas por meio de treinamento específi co feito com o auxílio da linguagem. Por exemplo, não se pode ensinar apenas usando palavras, a classifi car, a seriar, a pensar com reversibilidade. Já para Vygotsky, pensamento e linguagem são processos interdependentes desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança modifi ca suas funções mentais superiores: dá uma forma defi nida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem, diferente daquilo que Piaget postula, sistematiza a experiência direta das crianças e, por isso, adquire uma função central no desenvolvimento cognitivo, e reorganiza os processos que estão em andamento. 5.6: Grafi smo e Aprendizagem A aquisição da linguagem defi ne um salto qualitativo no desenvolvimento do ser humano. A aprendizagem e a linguagem constituem formas complexas de comportamento que exigem a integridade de certas áreas do cérebro consideradas fundamentais para a hierarquia da linguagem, principalmente na passagem da aprendizagem da língua falada à aprendizagem da língua escrita. A escrita é a simbolização da linguagem verbal. A leitura e a escrita, dois processos distintos, costumam fazer-se simultaneamente, entretanto, a leitura precede a escrita. A leitura e a escrita exigem que a interiorização da linguagem tenha concluído a sua evolução – que já ocorra o pensamento lógico, com generalizações de abstrações. Os métodos de alfabetização globais, embora possam facilitar criança que não apresentam qualquer tipo difi culdade, podem ser complexa para crianças com distúrbios perceptuais. Bases Psicossociais da Aprendizagem 21 O registro sobre uma superfície provocado por um objeto que trace caracteriza o grafi smo, que para a criança, é o resultado de uma tendência natural, expressiva, representativa, que revela seu mundo particular. Crianças do mundo inteiro desenham com muito pequenas variações, as mesmas coisas, da mesma forma e na mesma idade. As casas, por exemplo, mostram as mesmas paredes, as mesmas portas e janelas, os mesmos tetos – e são os mesmos o complementos que as circundam: fl ores, árvores, animais, sol. Isto ocorre porque na evolução do desenho infantil – embora obedecendo a um ritmo pessoal – existem características comuns que possibilitam a sua divisão em estágios. Como segue: • Estágio da Rabiscação: fase da garatuja – 2/4 anos: no qual o desenho é um prolongamento do gesto, sem signifi cação intencional. • Estágio de início de fi guração: fase pré- esquemática - 4/7 anos: no qual surgem as primeiras formas reconhecíveis. • Estágiode fi guração esquemática: fase esquemática – 7/9 anos: corresponde a um realismo no qual a criança desenha o que sabe. • Estágio de fi guração realista: fase do realismo lógico – 9/12 anos; Fase do realismo visual 12 em diante: a criança se esforça em representar o que vê. Esta sequência corresponde, apenas de maneira sumária, ao que se manifesta com todo exemplo concreto, porque cada criança se detém numa fase particular por períodos diferentes de tempo. Pode ser também que seu desenvolvimento não atravesse etapa alguma ou que várias fases se combinem de acordo com um modo particular, segundo a personalidade do indivíduo e a infl uência exercida pelo meio. Também não existe uma relação fi xa entre a idade da criança e a etapa a ser alcançada pela sua forma de representação, pois assim como a idade mental não é a mesma para crianças com a mesma idade cronológica, a etapa individual de desenvolvimento gráfi co só pode ser revelada pelos desenhos. De qualquer forma, é importante que o profi ssional conheça essa evolução a fi m de realizar sua tarefa educativa tendo em mente que a expressão da criança geralmente varia com a idade, o meio, o estímulo e as oportunidades oferecidas; o grafi smo lhe será útil como instrumento de avaliação e o método a adotar relativamente às atividades artísticas terá como base o conhecimento do desenvolvimento gráfi co da criança. O momento em que a criança é capaz de empunhar um instrumento qualquer (até o próprio dedo) que deixe um traço no espaço marca o início da Rabiscação. É uma atividade aparentemente lúdica, que alguns autores comparam ao desenvolvimento da linguagem (o rabisco corresponde ao grito). O rabisco para olhos adultos não avisados parece sem sentido. Poucos pais e professores guardam rabiscos, no entanto, é o alicerce de toda a evolução gráfi ca futura. Atualmente, reconhecem-se várias espécies de rabiscos, alguns mais complexos, mas nenhum sem sentido. Existem 20 rabiscos básicos, alguns em linhas verticais, outros horizontais, e mais diagonais, circulares, curvos, enovelados, pontuados. Para a criança pequena, rabiscar é tão natural como brincar. Normalmente ela adora fazê-lo. Embora seu relacionamento fi gura/fundo seja ainda bastante primitivo, já demonstra uma constância de direção e posição nos rabiscos. As crianças parecem eleger, desde o início, como que uma localização pessoal – no alto, no centro, no meio da folha. O importante a observar é que esta localização primitiva, a eleição do seu canto favorito, Bases Psicossociais da Aprendizagem 22 permanece depois, como uma espécie de ponto de atração – ali sempre se estabelece o elemento central do desenho feito. Os progressos que aos poucos se incorporam à rabiscação surgem sem que a criança abandone por completo as formas iniciais da atividade. O que a criança representa não é ainda reconhecível, mas a fabulação intensa que acompanha a atividade comunica o valor signifi cativo dos desenhos. As formas quase não se diferenciam: o mesmo registro pode servir a diferentes interpretações. Enquanto rabisca, a criança descobre formas internas: círculos, retângulos, cruzes, “x”, do rabisco, portanto, surge a forma. Estas formas, quando descobertas, trazem grande satisfação à criança, principalmente porque, ao descobri-las, sente que o adulto vê alguma coisa em seus desenhos – e ganha sua aprovação. Aos 3/4 anos, a criança não é movida por uma intenção de desenhar tão ou qual o objeto, não planejando antes o que vai fazer. É o que poderia chamar-se de estágio não intencional. Tão logo a criança descobre a forma, da um grande passo no caminho do desenvolvimento gráfi co. Ela passa a dar nome ao que faz – um nome, contudo, extremamente versátil e maleável, pois o que antes era uma casa pode ser um carro ou bola. Nesta fase, a criança aprende que as linhas se combinam para dar, em resultado, superfícies. O que desenha representa a tradução concreta e direta da forma percebida. Aquela forma circular que desenhou não representa exclusivamente algo redondo, mas sim a sua linha envolvente, a densidade do objeto – e daí a pluralidade de interpretações posteriores. Por essa razão é sem sentido perguntar a uma criança nesta fase, o que vai fazer ou mesmo o que fez: o desenho tem valor para ela enquanto o está fazendo, e não como produto fi nal. Também nesta fase, e como conseqüência natural do desenvolvimento pelo qual está passando, a criança passa a trabalhar mais o seu desenho, e demorar mais, perdendo aquela característica de produção intensa. Já aí, no início da fi guração, parece que a criança desenvolve o que poderíamos chamar de um estilo – e por isso pais e professores podem, entre vários, descobrir os desenhos de tal ou qual criança, embora isso pareça até magia a olhos desavisados. A repetição e a prática enriquecem e diversifi cam os símbolos que a criança usa. Dois símbolos constantes nos desenhos de todas as crianças são as mandalas e as fi guras humanas. Mandala é uma palavra sânscrita que signifi ca “círculo mágico”. É um dos mais velhos símbolos mágicos usados em rituais religiosos. Por sua simetria central, não particularizando nenhuma direção, o círculo constitui a estrutura visual mais simples. Mandalas foram desenhadas pelo homem desde milhares de anos atrás e aparecem nos desenhos de todas as crianças, no mundo inteiro. A mandala em sua forma mais simples – um círculo e uma cruz – lembra o sol, mas este só aparece, realmente quando os raios emergem. Este sol não se contenta em aparecer no céu: ele surge na fi gura humana, logo depois, por um quase processo evolutivo. Observam-se como os primeiros bonecos infantis são um sol que teve seus raios alongados. E o sol reaparece ainda nas mãos, e mais raramente nos pés. A descoberta do sol, com seus múltiplos raios, é outro passo importante dado pela criança. A fi gura humana, em geral, aparece logo depois da mandala e do sol. Segue abaixo um resumo que associa a fase de grafi smo com o tipo de forma impressa: Bases Psicossociais da Aprendizagem 23 1) Na Rabiscação: 1.1) – Garatuja desordenada: • Os primeiros traços não têm sentido, variam em direção e pode haver repetição. • É comum fazer os traços sem olhar • Não há intenção de representar o ambiente em que vivem. 1.2) – Garatuja controlada: • Descoberta da ligação entre seus movimentos e o traço (controle visual) • Não tira o lápis do lugar, porém os traços têm direção imprevisível. • Já relaciona o ambiente em que vive. 1.3) – Garatuja com nome: • Dá nome aos desenhos, embora não se possa reconhecer. • Aparecimento do pensamento imaginativo • Desenha com intenção • Descrição verbal do desenho que se torna um importante meio de comunicação. 2) Pré-esquemática: • Aparecem as primeiras fi guras humanas que reduzem a um círculo para a cabeça e dois fi lamentos para as pernas. • Busca de um conceito de forma • Os símbolos gráfi cos mudam constantemente (fi guras, casas, árvores). • Os mesmos símbolos na vertical signifi cam pessoas, na horizontal, animais. • Relacionamento espacial dependendo de razões emocionais. Por exemplo: eu e o meu carrinho. • A cor não tem relação com a realidade – é emocional. 3) Esquemática: início da escolaridade. • Repetição do símbolo gráfi co, desde a origem, dá origem ao esquema. • Os desvios do esquema representam novas experiências. • A percepção signifi ca muito mais que o simples conhecimento visual do objeto, inclui a intervenção de todos os sentidos. • Estabelecimento do primeiro conceito de espaço – a linha de base – início da socialização. • Esquema de cor – repetição da mesma cor para o mesmo objeto. 4. Realismo lógico: • Processos gráfi cos. Transparência, rebatimento, mudanças de ponto de vista, projeção dos objetos sobre o solo. • O desenho expressa uma experiência de sensação corporal. • A cor muito relacionada com o conceitoemocional e visual (cor subjetiva). Bases Psicossociais da Aprendizagem 24 5. Realismo visual: • Despertar da independência social – consciência progressiva do mundo real, cheio de emoções, planos e recordações – tendência a se agrupar (patota). A criança se sente mais forte em grupo. • Preocupação com detalhes de indumentária, diferenciando os sexos. Figuras rígidas, estáticas – criticam os desenhos da fase anterior. • Começam a se preocupar com o produto, o resultado (lado estético). • Relação rígida entre cor e objeto. • A linha de base desaparece e é substituída pela representação de planos – aparecimento da linha do horizonte (indicação de perspectiva). ANEXO 1 - O PROBLEMA DO CONTROLE: Há certas regras empíricas de acordo com as quais o comportamento humano vem sendo controlado há muito tempo e que constituem uma espécie de arte pré-científi ca. O estudo científi co do comportamento alcançou o ponto em que pode proporcionar técnicas adicionais. Na medida em que os métodos da ciência continuarem a ser aplicados ao comportamento, poderemos esperar que as contribuições técnicas se multipliquem rapidamente. Se pudermos julgar a partir da aplicação da ciência em outros problemas práticos, o efeito sobre os assuntos humanos será tremendo. Não temos nenhuma garantia de que o poder assim gerado será usado para aquilo que agora parece ser o melhor dos interesses da humanidade. Como o demonstra limpidamente a tecnologia da guerra moderna, os cientistas não têm sido capazes de evitar que o uso de suas descobertas se faça em modos que estão longe dos propósitos originais da ciência. Uma ciência do comportamento não contém em si mesma quaisquer meios de controlar o uso para o qual suas contribuições serão dirigidas. (...) Na Alemanha nazista, os resultados de uma ciência mais exata foram aplicados para interesses similarmente restritos. Poderá isso ser evitado? Devemos continuar a desenvolver uma ciência do comportamento sem ligar para o uso que dela se fará? Se não, a quem deve ser delegado o uso do controle que ela gera? Não é apenas uma questão intrigante, é assustadora; pois há uma boa razão para temer aqueles que, com maior probabilidade, usurparão o controle. Winston Churchill uma vez respondeu a uma sugestão de que a ciência eventualmente seria capaz de “controlar com precisão os pensamentos dos homens” dizendo: “Ficarei muito contente se minha tarefa neste mundo terminar antes que isso aconteça”. Entretanto, esta não é uma disposição inteiramente satisfatória do problema. Outros tipos de soluções podem ser classifi cados sob quatro títulos gerais. Negação de controle. Uma solução proposta é insistir em que o homem é um agente livre e eternamente além do alcance das técnicas controladoras. Aparentemente já não é possível buscar refúgio nessa crença. (...) Todos nós controlamos e somos todos controlados. À medida que o comportamento for mais profundamente analisado, o controle virá a ser mais efi caz. Mais cedo ou mais tarde o problema deverá ser encarado. Recusa do controle. Uma solução alternativa é a rejeição deliberada da oportunidade para controlar. O melhor exemplo disso vem da Psicoterapia. Muitas vezes o terapeuta tem consciência de seu poder sobre o indivíduo que vem a ele em busca de auxílio. Bases Psicossociais da Aprendizagem 25 (...) A solução de Rogers é diminuir ao máximo o contato entre paciente e terapeuta a ponto de que o controle parece ter desaparecido. (...) Entretanto, recusar-se a aceitar o controle é meramente deixar o controle em outras mãos. (...) Recusar-se a exercer controle e deixá-lo assim para outras fontes, muitas vezes tem o efeito de diversifi cá-lo. (...) Diversifi cação do controle. Uma solução particularmente óbvia é distribuir o controle do comportamento humano entre muitas agências* que tenham tão pouco em comum que não seja provável que se juntem em uma unidade despótica. Em geral, este é o argumento em favor da democracia e contra o totalitarismo. Em um estado totalitário, todas as agências são colocadas sob o controle de uma única superagência. (...) Freqüentemente se diz que uma agência unifi cada é mais capaz, mas isso difi culta ainda mais a busca de uma solução para o problema do controle. É a inefi cácia das agências diversifi cadas que oferece algumas garantias contra o uso despótico do poder. (...) Até onde as forças que se opõem mantêm certo equilíbrio, evita-se a exploração excessiva por qualquer das agências. Isso não signifi ca que o controle nunca seja abusado. (...) Para aqueles que temem o abuso de uma ciência do comportamento humano, esta solução sugere um progresso óbvio. Distribuindo o saber científi co o mais amplamente possível, obteremos alguma certeza de que não será monopolizado por nenhuma agência para seu próprio fortalecimento. Controle do controle. Em outra tentativa para resolver o problema do controle dá-se a uma agência governamental o poder de limitar à medida em que o controle é exercido por indivíduos ou por outras agências. (...) Restringe-se o controle pessoal dando ao indivíduo socorro contra “infl uências indevidas”. (...) * Por agência, o autor entende religião, educação, propaganda... SKINNER Burrhus Frederic. Ciência e Comportamento Humano. Trad. João Claudio Todorov e Rodolpho Azzi. 2. ed. Brasília: Universidade de Brasília/São Paulo: FUNBEC, 1970. ANEXO 2 - O HOMEM QUE FOI COLOCADO NUMA GAIOLA Certa noite, o soberano de um país distante estava de pé à janela, ouvindo vagamente a música que vinha da sala de recepção, do outro lado do palácio. Estava cansado da recepção diplomática a que acabara de comparecer e olhava pela janela, cogitando sobre o mundo em geral e nada em particular. Seu olhar pousou num homem que se encontrava na praça, lá embaixo - aparentemente um elemento da classe média, encaminhando-se para a esquina, a fi m de tomar um bonde para casa, percurso que fazia cinco noites por semana, há muitos anos. O rei acompanhou o homem em imaginação - fantasiou-o chegando em casa, beijando distraidamente a mulher, fazendo sua refeição, indagando se tudo estava bem com as crianças, lendo o jornal, indo para a cama, talvez se entregando ao ato do amor com a mulher, ou talvez não, dormindo, e levantando-se para sair novamente para o trabalho no dia seguinte. E uma súbita curiosidade assaltou o rei, que por um momento esqueceu o cansaço. “Que aconteceria se conservassem uma pessoa numa gaiola, como os animais do zoológico?” No dia seguinte, o rei chamou um psicólogo, falou-lhe de sua idéia e convidou-o a observar a experiência. Em seguida, mandou trazer uma gaiola do zoológico e o homem de classe média foi nela colocado. A princípio, fi cou apenas confuso, repetindo para o psicólogo que o observava do lado de fora: “Preciso pegar o trem, preciso ir para o trabalho, veja que horas são, chegarei atrasado!” À tarde, começou a perceber o que estava acontecendo e protestou, veemente: “O rei não pode fazer isso comigo! É Bases Psicossociais da Aprendizagem 26 injusto, é contra a lei!” Falava com voz forte e olhos faiscantes de raiva. Durante a semana continuou a reclamar com veemência. Quando o rei passava pela gaiola, o que acontecia diariamente, protestava direto ao monarca. Mas este respondia: “Você está bem alimentado, tem uma boa cama, não precisa trabalhar. Estamos cuidando de você. Por que reclama?” Após alguns dias, as objeções do homem começaram a diminuir e acabaram por cessar totalmente. Ficava sorumbático na gaiola, recusando-se em geral a falar, mas o psicólogo via que seus olhos brilhavam de ódio. Após várias semanas, o psicólogo notou que havia uma pausa cada vez mais prolongada depois que o rei lhe lembrava diariamente que estavam cuidando bem dele. Durante um segundo o ódio era afastado, para depois voltar - como se o homem perguntasse a si mesmo se seria verdade o que o rei havia dito. Mais algumas
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