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▶ Introdução Arritmias cardíacas não são, obrigatoriamente, doenças. Vários ritmos cardíacos irregulares são fisiológicos, como arritmias sinusais em crianças e adultos jovens, arritmia respiratória, correspondente à variação da frequência cardíaca durante a ventilação, bradicardias não associadas a sintomas ou mau prognóstico e até extrassístoles atriais e ventriculares, por vezes muito frequentes, em indivíduos sem cardiopatia estrutural. Como tal, essas arritmias não requerem tratamento. Este capítulo aborda exclusivamente aquelas arritmias associadas a sintomas ou que consistem risco para eventos mórbidos e fatais. Em sua maioria, decorrem principalmente de cardiopatias estruturais (isquêmica, hipertensiva, valvar) e miocardiopatias, mas, em pequena proporção, são anormalidades arritmogênicas primárias. Classificam-se em taquiarritmias e bradiarritmias, apresentadas no Quadro 43.1. Não há estudos populacionais sobre a frequência dessas alterações de ritmo, mas se depreende sua importância a partir das consequências. Por exemplo, fibrilação atrial é fator de risco maior para acidentes vasculares cerebrais. Em estudo de casos e controles realizado em Passo Fundo, RS, fibrilação atrial emergiu como o maior fator de risco para AVC (odds ratio [OR] = 27,3; intervalo de confiança [IC] 95%: 7,5 a 99,9), explicando aproximadamente 14% do risco para sua ocorrência.1 Arritmias ventriculares são causa subjacente de morte súbita, forma de apresentação fatal de cardiopatias em 25% dos casos.2 Quadro 43.1 ■ Classificação das principais arritmias cardíacas. Arritmias supraventriculares Extrassístoles supraventriculares Taquicardia supraventricular paroxística Taquicardia atrial multifocal Flutter atrial Fibrilação atrial Bradicardia/pausas sinusais Distúrbios de condução: bloqueios atrioventriculares Arritmias ventriculares Extrassístoles ventriculares Taquicardia ventricular Flutter ventricular Fibrilação ventricular Eletrofisiologia e mecanismos de geração de arritmias https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23qua43-1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff1 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff2 O entendimento da eletrofisiologia cardíaca e de suas anormalidades é provocante objetivo de pesquisa, mas tem atualmente menor importância para sustentar a escolha de abordagens terapêuticas. Em edições anteriores deste livro, pode-se encontrar detalhamento de eletrofisiologia e mecanismos arritmogênicos. Tal abordagem se justificava para entender mecanismo de ação, fundamentar classificação e indicar fármacos antiarrítmicos. A ineficácia desses medicamentos, particularmente nas arritmias de maior risco (fibrilação atrial e arritmias ventriculares), tornou desnecessário aprofundar aquele conhecimento. Taquicardias podem decorrer de anormalidade em formação do impulso, condução do impulso ou sua combinação. No primeiro caso, há despolarização espontânea de células cardíacas, geralmente associada à estimulação prévia. A anormalidade celular impede que a célula despolarizada estabilize seu potencial de repouso, podendo ocorrer pós-potencial gerador de estímulo ectópico. Esse mecanismo está presente em algumas condições de sofrimento celular, podendo desencadear arritmias ventriculares graves, como torsade de pointes, inclusive induzidas pelos próprios antiarrítmicos. A anormalidade de condução que leva a taquiarritmias é a reentrada. Em condições fisiológicas, a velocidade de condução do estímulo é a mesma nos diferentes sítios do coração. Isso determina a ativação em um só sentido, pois as células, lateral e retrogradamente, estão no período refratário. Sob determinadas condições, como isquemia, necrose ou cicatrizes miocárdicas, o estímulo pode ser conduzido mais rapidamente por zonas sadias ou menos “doentes” e ativar novamente o sítio de origem (reentrar), por meio de células que não foram despolarizadas no território em que o estímulo se atrasou. Para que se forme uma reentrada, é necessário haver bloqueio unidirecional, condução lenta em via acessória e retorno do impulso pela via normal, após ter sido retomada sua excitabilidade. Reentrada isolada pode gerar extrassístoles. A exacerbação desse fenômeno pode explicar a ocorrência de taquicardias supraventriculares, flutter e fibrilação. A maioria das crises de taquicardia supraventricular paroxística ocorre por reentrada no nó atrioventricular (AV), por meio de vias de condução lenta e rápida nesta região. Em síndromes de pré-excitação ventricular (Wolff-Parkinson-White) ou em presença de feixe anômalo de condução retrógrada única, há um ou mais feixes de condução do estímulo dos átrios aos ventrículos ou vice-versa, propiciando a ativação antes da chegada do potencial por vias normais. A anormalidade anatômica predispõe ao estabelecimento de movimento circular, regular e de alta frequência, através de nó AV e fibras anômalas, o qual assume o comando do coração. O início é geralmente paroxístico. Portadores de síndromes de pré-excitação são mais suscetíveis a apresentar taquicardia supraventricular paroxística, flutter e fibrilação atrial. Bradiarritmias, como parada sinusal e bloqueios atrioventriculares, em geral decorrem de alterações anatômicas de sistemas de ativação e condução. Na “doença do nó sinusal”, bradicardia é preponderante, mas pode haver taquiarritmia. Degenerações idiopáticas de nó AV, descritas por Lev e Lenègre, betabloqueadores e intoxicação digitálica também causam bradiarritmias. Mecanismo de ação e classificação de antiarrítmicos Antiarrítmicos tinham difundido emprego clínico no passado, imaginando-se que seu efeito em arritmias resultaria na prevenção de suas consequências. Tal não ocorreu quando se investigou a eficácia de antiarrítmicos em prevenir eventos primordiais nas duas arritmias associadas com maior morbidade: fibrilação atrial e arritmias ventriculares. A razão subjacente para a ineficácia e, até, para o aumento da incidência de eventos com a maioria deles, é o efeito pró-arrítmico, ou seja, a causação de arritmias por medicamentos que pretendiam aboli-las. Antiarrítmicos controlam a maior parte das arritmias, mas as induzem em pequena proporção. O problema é que as arritmias induzidas são mais graves, resultando em maior incidência de desfechos primordiais. Houve intensa reversão de expectativas, tornando desnecessário aprofundar o estudo de seus mecanismos de ação para fins clínicos. Apesar de muitos ainda estarem no mercado, há poucas justificativas para emprego da maioria deles. Sua classificação, proposta por Vaughan- Williams com base em mecanismo de ação e imaginada como preditiva de eficácia clínica, perdeu importância, sendo proposto seu abandono. No entanto, longa tradição de emprego da mesma, associando fármacos a classes terapêuticas, ainda justifica seu uso (Quadro 43.2). Outro exemplo de sua utilidade é o fato de os representantes da classe I serem os mais comumente associados a efeito pró-arrítmico. Quadro 43.2 ■ Classificação dos fármacos antiarrítmicos. I. Bloqueadores dos canais de sódio A.Quinidina, procainamida, disopiramida B. Lidocaína, mexiletina, fenitoína C. Flecainida, encainida, propafenona II. Betabloqueadores Propranolol e demais betabloqueadores III. Inibidores da repolarização Amiodarona, dronedarona, sotalol IV. Bloqueadores dos canais de cálcio Verapamil, diltiazem Outros antiarrítmicos Adenosina, glicosídeos cardíacos Opções terapêuticas para arritmias O manejo das arritmias deve iniciar com tratamento das causas e eliminação dos fatores precipitantes. Por exemplo, pode-se suspender administração ou corrigir doses de fármacos arritmogênicos (digitálicos, teofilina, eritromicina, pentamidina, tioridazina e antidepressivos tricíclicos), corrigir hipo e hiperpotassemia, tratar hipertireoidismo, compensar insuficiência cardíacae cor pulmonale e melhorar perfusão miocárdica em cardiopatia isquêmica. Quando esses procedimentos não forem exequíveis ou eficazes, controlam-se as arritmias com métodos farmacológicos, físicos e cirúrgicos. Os últimos objetivam corrigir algumas causas de arritmias, como isquemia e aneurismas ventriculares. As cirurgias “primariamente” antiarrítmicas (cirurgia do labirinto para fibrilação atrial e interrupção dos feixes anômalos de condução atrioventricular em pacientes com taquiarritmias recorrentes e não controladas por outros métodos) são raramente utilizadas. Em algumas situações, a eficácia é exclusiva dos métodos físicos, como marca-passos nos bloqueios AV com insuficiente frequência ventricular e cardioversão elétrica na fibrilação ventricular. Cardioversão é também utilizada em outras situações, sendo a primeira opção quando há instabilidade hemodinâmica. Cardioversor-desfibrilador implantável (CDI) é indicado para pacientes com risco à vida relacionado a taquiarritmias ventriculares. Ablação percutânea por cateter, habitualmente utilizando radiofrequência como forma de energia, é método curativo. Por sua alta taxa de sucesso e baixo risco, tornou-se a primeira escolha para várias taquiarritmias de repetição, particularmente aquelas com reentrada nodal. O método está em franco desenvolvimento e aplicação em fibrilação atrial e arritmias ventriculares, mas ainda persistem questionamentos quanto à sua eficácia em prevenir eventos primordiais. Fármacos antiarrítmicos permanecem indicados em algumas condições específicas. Amiodarona destaca-se como agente desprovido de efeito pró-arrítmico relevante, tendo papel coadjuvante em controle agudo de fibrilação atrial e arritmias ventriculares. Betabloqueadores adrenérgicos só induzem bradiarritmias como efeito pró-arrítmico, condição previsível e geralmente sem maiores repercussões. Têm uso clínico para controlar arritmias atriais sintomáticas e bloquear a resposta ventricular em fibrilação atrial. Antagonistas do cálcio e adenosina são usados em tratamento de crises e prevenção de arritmias por reentrada nodal. ▶ Seleção Em algumas arritmias, ensaios clínicos randomizados estabelecem com razoável precisão a eficácia de intervenções medicamentosas ou físicas para a prevenção de desfechos primordiais. Dada a existência de efeito pró-arrítmico, a erradicação de arritmias só é aceitável como desfecho para alívio de sintomas em arritmias benignas. A caracterização de mecanismos de arritmias por estudos eletrofisiológicos abre amplo leque de arritmias, por vezes clinicamente https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23qua43-2 similares. A seguir aborda-se o tratamento das arritmias mais frequentes, visto que o manejo orientado por dados eletrofisiológicos fica restrito a especialistas da área. Taquiarritmias Taquicardia sinusal. O manejo de taquicardia sinusal consiste no controle de suas causas básicas. Entre elas se incluem hipertireoidismo, anemia, insuficiência cardíaca, feocromocitoma e ansiedade. Na ausência dessas e de cardiopatias estruturais, taquicardia sinusal sustentada é reconhecida como taquicardia sinusal inapropriada. Tratamento é indicado quando há sintomas, sendo primariamente feito com betabloqueadores. Verapamil, diltiazem e ivabradina são alternativas. Não há ensaios clínicos que avaliem a eficácia dessas intervenções, mas a resposta tende a ser pobre. Ablação por radiofrequência perinodal demonstrou-se pouco eficaz em diversas séries de casos, acompanhando-se de muitos efeitos adversos.3 Taquicardia postural é outra condição clínica, decorrente de alterações autonômicas, sendo de difícil manejo. Manutenção de volemia adequada é o tratamento indicado. Fludrocortisona (mineralocorticoide) tem sido também indicada, assim como betabloqueadores e outros antiarrítmicos. Não há, novamente, estudos comparativos entre as opções. Por fim, há taquicardias sinusais paroxísticas, decorrentes de reentrada pelo nó sinusal. Betabloqueadores, antagonistas do cálcio e ablação por radiofrequência nos casos resistentes são os tratamentos indicados. ▶ Extrassístoles supraventriculares. Em geral são arritmias benignas, que ocorrem na ausência de cardiopatia estrutural e só requerem tratamento quando sintomáticas. Betabloqueadores são os fármacos de escolha. Quando intermitentes, podem ser manejadas com uso de betabloqueador no momento da ocorrência (pocket pill). As decorrentes de cardiopatia estrutural beneficiam-se com tratamento da cardiopatia, indicando-se antiarrítmico (betabloqueador) quando sintomáticas. ▶ Taquicardia atrial. Pode ser unifocal ou multifocal. A primeira é infrequente e não requer tratamento se pouco sintomática e não devida a cardiopatia estrutural. A reversão de manifestações paroxísticas sintomáticas, especialmente em pacientes com cardiopatia anatômica, pode ser feita com adenosina, verapamil, amiodarona e, eventualmente, cardioversão em casos refratários. Para prevenção em casos recorrentes e sintomáticos, atualmente se prefere ablação. Betabloqueadores, antagonistas do cálcio, amiodarona e sotalol são considerados. Frequentemente, taquicardia atrial multifocal acomete pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) grave e cor pulmonale, sendo secundária à dilatação atrial direita. O manejo deve ser dirigido à melhora da condição respiratória, pois a resposta a antiarrítmicos é pobre. Metoprolol e verapamil injetáveis são considerados em casos agudos e também para a manutenção. Ablação é ineficaz. ▶ Taquicardia supraventricular paroxística. Trata-se de arritmia relativamente comum, que predominantemente acomete indivíduos sem cardiopatia estrutural. Instala-se abruptamente, sendo percebida pelo paciente. Em casos sem cardiopatia, poucas vezes se associa a pré-síncope ou instabilidade hemodinâmica. Decorre, como visto, de reentrada nodal e por feixes anômalos atrioventriculares. ■Tratamento de crises A abordagem inicial visa promover liberação de acetilcolina endógena no nó atrioventricular, por meio de manobras vagais. Quando há crises recorrentes, o próprio paciente pode fazer a manobra de Valsalva, correspondente a esforço expiratório com glote fechada (similar ao esforço de evacuação). Massagem de seio carotídeo é a primeira medida médica, sendo necessário domínio de técnica e exame prévio da carótida, especialmente em pacientes idosos, para excluir sopros. Imersão do rosto em água fria é outra medida. Massagem do globo ocular caiu em desuso. Não havendo resposta às manobras vagais, requer-se tratamento medicamentoso. Nos anos 1970, a introdução de verapamil, antagonista de cálcio não di-hidropiridínico, modificou radicalmente o manejo das crises, dada sua alta taxa de sucesso, sem apresentar praticamente efeitos adversos. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff3 Mais recentemente demonstrou-se eficácia provavelmente similar de adenosina, que assumiu a preferência por sua curta ação e por efeitos hemodinâmicos e pró-arrítmicos indesejáveis de verapamil. Não há, entretanto, estudos comparativos entre eles. Pacientes tratados com adenosina podem apresentar recorrência da arritmia durante o atendimento, situação em que também se indica verapamil. Ressalte-se a contraindicação para emprego de adenosina em pacientes com asma. Diltiazem, com atividade farmacológica similar a verapamil, é indicado como alternativa. Amiodarona e sotalol são outras opções indicadas por diretrizes, sem haver estudos comparativos de qualidade. Cardioversão elétrica está indicada em pacientes que apresentam instabilidade hemodinâmica. Em geral há QRS alargado por concomitante bloqueio de ramo ventricular, podendo criar dificuldade de diagnóstico diferencial com taquicardia ventricular. Mais comumente, essa condição acomete pacientes com cardiopatia estrutural. Cardioversão elétrica também está indicada em pacientes estáveis que não responderam aosmedicamentos. ■Prevenção de crises A prevenção de crises está indicada em pacientes com episódios frequentes e mal tolerados. Betabloqueadores, verapamil e diltiazem mostram baixa eficácia para essa indicação. Propafenona e digoxina são apontadas como alternativas. Nesse contexto, estudos comparativos são infrequentes, antigos e de baixa qualidade. Os melhores foram feitos com flecainida, antiarrítmico que caiu em desuso pelo seu efeito pró-arrítmico. Ablação de feixes anômalos por radiofrequência assumiu primazia absoluta para a prevenção de crises, particularmente na presença de síndrome de Wolff-Parkinson-White.3 Suas taxas de sucesso aproximam-se de 100% nos casos menos complexos, com vias anômalas claramente identificadas e acessíveis.4 A recorrência se dá em 5 a 10% dos casos e pode ser contornada por novo procedimento. Efeitos adversos graves são raros, incluindo necessidade de marca-passo definitivo (0,3 a 0,7%), derrame pericárdico, eventualmente com tamponamento (menos de 0,5%) e mortalidade (não superior a 0,1%). Taquicardia juncional É arritmia incomum em adultos, confundindo-se por vezes com taquicardias supraventriculares paroxísticas. O diagnóstico é firmado pelo reconhecimento de dissociação atrioventricular. Betabloqueadores, verapamil, diltiazem e propafenona são indicados para o tratamento. Fibrilação atrial Trata-se de arritmia com grande potencial de morbidade. Decorre de cardiopatias estruturais, especialmente aquelas que levam à dilatação atrial, ou de anormalidades eletrofisiológicas primárias, incluindo síndromes de pré-excitação ventricular por feixes anômalos. O tratamento da fibrilação atrial visa reduzir sintomas e prevenir embolia sistêmica (particularmente em território cerebral, por frequência e gravidade) e deterioração da doença cardíaca subjacente, como insuficiência cardíaca. Trombose no átrio esquerdo – mais especificamente no apêndice atrial, de onde se originam os êmbolos sistêmicos – é a consequência de maior morbidade dessa arritmia. Abordagem consensual de fibrilação atrial recomenda tratamento da doença de base e uso de antitrombóticos. A terapia com antitrombóticos está detalhadamente discutida no Capítulo 44, Doença Tromboembólica. A grande questão é se o tratamento da arritmia propriamente dita deve contemplar o objetivo de revertê-la (controle de ritmo) ou somente controlar a resposta ventricular em geral elevada que a acompanha (controle de frequência). A hipótese de que o controle de ritmo seja superior, por reverter a anormalidade associada com a formação de trombos, ainda não foi demonstrada, como se discute a seguir. Fibrilação atrial é classificada em paroxística (em crises de até 7 dias, que cessam espontaneamente ou com tratamento), persistente (sustentada por mais de 7 dias), de longa duração (mais de 1 ano) e permanente. https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff4 Em cerca de 60% dos pacientes, fibrilação paroxística reverte espontaneamente em até 24 h. Em presença de sintomas, recomenda-se diminuir resposta ventricular com betabloqueador ou verapamil (digitálicos são alternativas). Pode-se antecipar a reversão com alguns antiarrítmicos eficazes nesse contexto. Entre os disponíveis no Brasil, destacam-se amiodarona e propafenona, testados em ensaios clínicos antigos e referendados por diretriz atual.5 Deve-se ter segurança de que o episódio tenha menos de 48 h de duração, pelo risco de já haver trombose atrial e desencadear-se embolia sistêmica. Com mais de 48 h, é necessário fazer anticoagulação por 2 semanas ou realizar ecocardiograma transesofágico, para excluir trombos no apêndice atrial. Na ausência de resposta aos fármacos, pode-se proceder à cardioversão elétrica. Essa tem primazia na presença de instabilidade hemodinâmica. Episódios paroxísticos tendem a repetir-se, evoluindo para quadros sustentados. Até a publicação do estudo AFFIRM,6 tentava-se manter ritmo sinusal em grande parte dos pacientes, para evitar uso de anticoagulantes. Nesse estudo, compararam-se estratégias de controle de ritmo (com cardioversão elétrica quando necessário e uso de amiodarona, disopiramida, flecainida, moricizina, procainamida, propafenona, quinidina, sotalol, dofetilida ou combinação entre eles) às de controle de frequência (com betabloqueadores, verapamil ou diltiazem, digoxina ou a combinação entre eles). Houve tendência a maior mortalidade total (risco relativo estimado: 1,15; IC95%: 0,99 a 1,34; P = 0,08) e maior frequência de hospitalizações e efeitos adversos no grupo alocado ao controle de ritmo. Outros estudos publicados à época mostraram tendências similares. Ensaio clínico mais recente comparou estratégias de controle de ritmo e frequência em pacientes com fibrilação atrial após cirurgia cardíaca, frequente ocorrência.7 A despeito das estratégias, mais de 90% dos pacientes em ambos os grupos estavam em ritmo sinusal após 60 dias. Não houve diferença no tempo de internação e taxas de complicações entre os dois grupos. No estudo AFFIRM, o fato de 80% dos pacientes no grupo de controle de frequência usarem anticoagulantes, comparativamente a 70% no grupo de controle de ritmo, poderia explicar a vantagem da estratégia de frequência. Essa hipótese foi afastada com os ensaios clínicos de dronedarona, congênere de amiodarona. Fortemente promovida pelo fabricante, parecia eficaz em estudos menores. Dois ensaios clínicos de porte demonstraram que ela aumentava a incidência de desfechos primordiais, incluindo mortalidade de causa cardiovascular e total. A taxa de emprego de anticoagulantes era similar nos grupos tratamento e controle. O primeiro foi realizado em pacientes com insuficiência cardíaca,8 e o segundo em pacientes com mais de 65 anos e alto risco cardiovascular.9 Em pacientes com fibrilação atrial, o conjunto de estudos comentados evidencia que a estratégia de controlar frequência com medicamentos é superior à de controlar ritmo na prevenção de eventos cardiovasculares maiores, desde que os pacientes sejam adequadamente anticoagulados. Especialistas5 recomendam manter a estratégia de controlar ritmo com medicamentos em alguns pacientes, antes de a fibrilação tornar-se permanente, frente ao risco de promover cardiopatia. Isso também se aplicaria a pacientes com controle de sintomas que tolerarem o tratamento. Em décadas recentes, desenvolveram-se estratégias eletrofisiológicas para o manejo de fibrilação atrial. Ablação do nó sinoatrial para promover bloqueio atrioventricular (acompanhada de colocação de marca-passo) tem sido indicada em pacientes altamente selecionados, nos quais não se consegue controlar frequência adequadamente. Outra estratégia é promover ablação de fibrilação atrial. São candidatos ao procedimento pacientes jovens, em geral sem cardiopatia estrutural, com fibrilação atrial paroxística recorrente e não responsivos a antiarrítmicos. Revisão sistemática de pequenos estudos demonstrou superioridade da ablação de fibrilação atrial sobre antiarrítmicos na prevenção de recorrência.10 Dois estudos mais recentes não demonstraram vantagem acentuada com ablação. Em um deles,11 a taxa de recorrência em 2 anos foi alta com as duas estratégias e não acentuadamente diferente entre os dois grupos quanto a episódios sintomáticos (59% com fármacos e 47% com ablação; P = 0,03). No outro ensaio clínico. com maior amostra, no decorrer de 2 anos não se demonstrou superioridade da ablação na prevenção da carga de fibrilação atrial (13% na ablação e 19% com fármacos).12 Ao fim de 2 anos, mais pacientes estavam livres de fibrilação com ablação (93%) https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff6 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff7https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff5 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff10 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff11 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff12 do que com medicamentos (84%). Houve três casos de tamponamento cardíaco e um óbito em decorrência da ablação (em 294 pacientes tratados). Aproximadamente 20% dos pacientes que receberam medicamentos terminaram por fazer ablação durante o ensaio clínico. Essas evidências demonstram que anticoagulação persiste como abordagem mais eficaz em pacientes com fibrilação atrial. Para controle sintomático, há primazia do controle de frequência. O controle do ritmo deve ser tentado em casos iniciais, considerando-se emprego de abordagem eletrofisiológica. O objetivo de controlar ritmo de forma a prescindir de anticoagulação ainda não foi atingido. Flutter atrial Flutter atrial decorre de reentrada por diferentes trajetos atriais, manifestando-se por taquiarritmia atrial regular (ondas F), de alta frequência, com resposta ventricular variada, mas geralmente alta. Nos quadros agudos é bastante sintomático. Também se acompanha de maior risco de tromboembolismo sistêmico, mas a qualidade da evidência é pobre. Presume-se que o risco deva ser menor do que o de fibrilação atrial, mas flutter requer anticoagulação se for crônico. A maior parte dos casos, no entanto, é revertida agudamente e prevenida por ablação. No manejo agudo, pode tentar-se abordagem medicamentosa em pacientes estáveis hemodinamicamente, seja para diminuir resposta ventricular (betabloqueador, diltiazem ou verapamil), seja para reverter arritmia. Para esse objetivo, diretrizes recomendam ibutilida ou dofetilida. Estudos que embasam essas indicações são antigos e de qualidade insuficiente, mas mostram que não mais do que 60% dos pacientes revertem. Além disso, esses medicamentos associam-se a efeito pró-arrítmico grave e não estão disponíveis no Brasil. Assim, a indicação preferencial consiste em cardioversão elétrica. Em pacientes instáveis, cardioversão elétrica é obrigatória. No manejo crônico, alguns pacientes podem permanecer com estratégia de controle de frequência (betabloqueadores, diltiazem ou verapamil), mas a maioria deles termina por ser submetida à tentativa de controle de ritmo. Amiodarona e sotalol são as opções medicamentosas. Ablação é a terapia dominante nos dias atuais, a despeito de haver poucos e pequenos estudos comparativos com aquelas opções. A superioridade da ablação foi evidente nesses estudos. Em seguimento de 1 ano, flutter recorreu em 3,8% dos pacientes tratados com ablação versus 29,5% entre os tratados com amiodarona.13 Efeitos adversos foram mais frequentes com amiodarona. Taquiarritmias ventriculares Em ausência de cardiopatia estrutural, extrassístoles ventriculares são comuns e, no máximo, levam a sintomas, sem constituir risco para eventos cardiovasculares maiores. Mesmo em pacientes com cardiopatia, geralmente não requerem tratamento específico, mas se deve afastar a ocorrência de arritmias mais graves, por vezes despercebidas pelo paciente, como períodos de taquicardia ventricular sustentada. Fibrilação ventricular induz parada cardíaca. As manifestações clínicas mais graves são síncope/pré-síncope e morte súbita. Quando ocorrem, indicam-se monitoramento eletrocardiográfico contínuo (Holter e outros métodos) e caracterização da cardiopatia de base. Cardiopatia isquêmica é a mais frequente, especialmente se acompanhada por insuficiência cardíaca. Miocardiopatia hipertrófica também pode ocasionar morte súbita devida a fibrilação ventricular. Todas as demais cardiopatias, especialmente em estágios avançados, com disfunção ventricular, podem causar arritmias ventriculares graves e morte súbita. Morte súbita também pode acometer indivíduos sem cardiopatia estrutural, incluindo atletas. É evento raro e devido a anormalidades arritmogênicas primárias, geralmente associadas a traços genéticos. Tratamento de arritmia ventricular grave é feito com cardioversão elétrica. Antiarrítmicos são usados para estabilização de ritmo após cardioversão, mas não há estudos comparativos entre opções. Lidocaína era o antiarrítmico indicado para esse objetivo, mas preocupação com seu efeito pró-arrítmico e presumível maior eficácia de amiodarona tornaram-na preferível. Em diversos ensaios clínicos e coortes comparativas, investigou-se terapia antiarrítmica coadjuvante https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff13 em pacientes com parada cardíaca. Revisão sistemática de dez ensaios clínicos e sete estudos observacionais demonstrou que administração de antiarrítmicos foi superior a placebo, e amiodarona foi superior a lidocaína em estabilizar ritmo cardíaco após cardioversão. Isso aumentou a probabilidade de internação após atendimento de parada cardíaca fora do hospital, mas não houve diferença de sobrevida.14 Magnésio foi inefetivo. Ensaio clínico de qualidade superior, com adequado poder e duplo-cegamento, comparou amiodarona, lidocaína e placebo em pacientes com parada cardíaca fora do hospital. Deviam estar em taquicardia ventricular sem pulso ou fibrilação ventricular, sem apresentar estabilização após cardioversão elétrica isoladamente.15 A sobrevida foi de 24,4%, 23,7%, e 21,0%, respectivamente, em pacientes randomizados para amiodarona, lidocaína e placebo (não significativo). Déficit cognitivo também não foi diferente entre os grupos. Mais pacientes do grupo placebo foram submetidos a repetidas cardioversões e necessitaram suplementação de antiarrítmicos. Prevenção de arritmias ventriculares graves e de morte súbita deve ser buscada inicialmente com controle de cardiopatia de base e fatores precipitantes, como anormalidades eletrolíticas. Correção de isquemia miocárdica em pacientes com cardiopatia isquêmica é a abordagem com maior potencial de eficácia. Quando essa abordagem não for factível ou eficaz, cabe empregar preferencialmente intervenções eletrofisiológicas dirigidas à prevenção de arritmias ou a seu imediato tratamento. Nesse contexto, ensaios clínicos randomizados contribuíram acentuadamente para a valorização de desfechos primordiais em lugar de desfechos intermediários ou substitutos. Antiarrítmicos eficazes em reverter arritmias ventriculares (desfecho substituto) aumentaram a mortalidade de pacientes tratados, comparativamente aos que receberam placebo. Estudos CAST I e CAST II16,17 randomizaram pacientes com arritmia ventricular pós-infarto do miocárdio, assintomáticos ou minimamente sintomáticos, para receber placebo ou antiarrítmicos (flecainida, encainida ou moricizina). Apesar de os antiarrítmicos diminuírem a ocorrência daquela arritmia, documentada pelo Holter, mortalidade aumentou em mais de 3 vezes entre os tratados, especialmente com flecainida e encainida. Este estudo foi um marco na terapêutica cardiovascular, por ter demonstrado que efeito sobre desfecho substituto (arritmia) não se traduzia por prevenção de desfecho primordial (mortalidade). Evidenciou a importância do efeito pró-arrítmico de antiarrítmicos. Essas evidências conduziram ao desenvolvimento de dispositivo implantável capaz de reconhecer e tratar prontamente arritmias ventriculares graves: o cardioversor-desfibrilador implantável (CDI). À época, lidocaína era usada para prevenir arritmias ventriculares na fase aguda do infarto. A despeito de mostrar-se eficaz, também se associou com maior risco para mortalidade.18 Com a demonstração de efeitos pró-arrítmicos de todos os representantes da classe I, restavam os efeitos de betabloqueadores (eficazes na prevençãosecundária de infarto pelos efeitos anti- hipertensivo, anti-isquêmico e antiarrítmico) e amiodarona. Metanálise de 15 ensaios clínicos randomizados, com 8.522 pacientes, identificou que amiodarona foi eficaz em prevenir mortes súbitas (número necessário para tratar [NNT] de aproximadamente 40 pacientes).19 Não há evidência de que sotalol, betabloqueador com propriedades similares às de amiodarona, tenha a mesma eficácia. Dronedarona, congênere de amiodarona, aumentou a mortalidade cardiovascular em pacientes com fibrilação atrial.8,9 O tratamento com CDI tornou-se dominante como método de prolongar a vida de pacientes com risco de arritmias ventriculares graves, como demonstraram diversos ensaios clínicos randomizados publicados nas décadas passadas. Mostrou-se eficaz em prevenção primária (pacientes de alto risco) e secundária (pacientes ressuscitados de morte súbita ou com documentação de arritmia ventricular grave).20–24 O principal estudo de prevenção primária de morte súbita em pacientes com fração de ejeção < 35% e classe funcional II ou III da NYHA foi o SCD-HeFT, no qual os pacientes foram randomizados para tratamento com placebo, amiodarona ou CDI.24 Em seguimento com mediana de 45,5 meses, houve mortalidade total de 29%, 28% e 22%, respectivamente nos grupos de placebo, amiodarona e CDI. Em termos absolutos, o NNT para desfecho morte foi de 14 pacientes. Não houve diferença estatisticamente significativa entre amiodarona e placebo. Em seguimento de 8 anos do estudo MADIT II, o NNT caiu de 17 (em 2 anos) para seis pacientes.25 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff14 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff15 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff16 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff17 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff18 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff19 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff8 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff9 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff20 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff24 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff24 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff25 CDI apresenta limitações para uso difundido, iniciando pelo custo, que mostra lenta diminuição. Também persistem efeitos adversos associados a seu emprego. Em seguimento de 3.000 pacientes por 12 anos, identificou-se incidência cumulativa de 20% de choques inapropriados, 6% de infecções relacionadas com o dispositivo e 17% de falha de eletrodos.26 Pacientes devem ser claramente informados sobre esses riscos, particularmente a respeito de choques inapropriados, muito desagradáveis. Pacientes solicitam o desligamento do dispositivo, incluindo alguns com repetidos choques apropriados. Diretriz contemporânea recomenda especial atenção aos aspectos psicológicos que cercam o implante de CDI.27 Desenvolveram-se novas alternativas para desfibrilação automática. Dispositivos implantáveis no subcutâneo contornam dificuldades de acesso vascular e problemas recorrentes com eletrodos. Sua eficácia a curto prazo foi demonstrada. Sua limitação consiste em não poderem tratar algumas arritmias por overdrive (estímulos acelerados liberados pelos cateteres implantados).27 Desfibriladores externos adaptados à veste têm-se mostrado úteis por breves períodos – sendo exemplo a instabilidade elétrica transitória pós-infarto – ou como ponte para procedimentos definitivos.28 Programas de disponibilização de desfibriladores públicos, para serem utilizados em lugares de alta concentração de público, como estádios, estações, escolas e similares, têm sido propostos. Ensaio clínico demonstrou que houve mais sobreviventes à reanimação conduzida por voluntários treinados em manobras de reanimação e no uso de desfibrilador (30 entre 128 casos) do que na conduzida por voluntários treinados somente em manobras de reanimação (15 em 107 casos).29 Pacientes com CDI que recebem repetidos choques constituem-se em nova indicação para fármacos antiarrítmicos. Objetivam, pelo menos parcialmente, prevenir choques, apropriados ou não. Mesmo aqueles com efeito pró-arrítmico têm sido investigados, pois os pacientes estão protegidos de arritmias graves pelo próprio CDI. Estudo OPTIC demonstrou que associação de amiodarona a betabloqueador reduziu significativamente o número de choques em comparação a sotalol ou betabloqueador isolado. No grupo amiodarona + betabloqueador, a incidência de choques foi de 10,3%, comparada a 24,3% no grupo sotalol e 38,5% no grupo betabloqueador.30 Revisão sistemática de oito ensaios clínicos demonstrou superioridade de amiodarona sobre sotalol, azimilida e dofetilida nesse contexto.31 Ablação por cateter de focos arritmogênicos ventriculares é medida eficaz para abolir arritmias ventriculares em muitos pacientes, diminuindo o disparo de CDIs. Três ensaios clínicos demonstraram sua eficácia em pacientes com cicatrizes de infarto do miocárdio.32– 34 Estima-se, com base nesses ensaios clínicos e coortes, que aproximadamente 50% dos pacientes submetidos à ablação tenham boa resposta clínica a médio prazo.27 Bradiarritmias Bradicardia sinusal inapropriada pode decorrer do efeito de fármacos, como betabloqueadores, ou dever-se ao componente bradicárdico da doença do nó sinusal (que alterna períodos de taqui e bradiarritmias). No primeiro caso, deve-se suspender ou diminuir a dose do fármaco. Doença de nó sinusal é de difícil tratamento, muitas vezes evoluindo para outras arritmias, como fibrilação atrial. Preponderância de bradicardia pode ser manejada com atropina, sem haver qualquer estudo de eficácia, requerendo-se em alguns casos a colocação de marca-passo. Bloqueio atrioventricular de III grau (dissociação atrioventricular) é a bradicardia de maior repercussão clínica, podendo ocasionar síncope e limitação funcional. Se secundária a fármacos (betabloqueadores, digitálicos), é tratada com sua remoção. Bloqueios transitórios durante infarto do miocárdio podem ser manejados com atropina ou simpaticomiméticos, mas a resposta é pobre. O tratamento, transitório ou definitivo, é feito com implante de marca-passo. Sumário de seleção de medidas de tratamento de arritmias cardíacas. Intervenção Grau de recomendação Nível de evidência Comentários ■ Taquicardia sinusal inapropriada Betabloqueadores IIa C – https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff26 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff27 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff27 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff28 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff29 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff30 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff31 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff32 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff34 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23reff27 Diltiazem, verapamil, ivabradina IIb C – Ablação perinodal III C Pode ser considerada nos casos de taquicardia paroxística por reentrada sinusal ■ Extrassístoles supraventriculares Betabloqueadores I C – ■ Taquicardia atrial Adenosina,verapamil, amiodarona, cardioversão IIa/IIb C Indicados em taquicardia unifocal e paroxística; taquicardia multifocal, geralmente devida a cor pulmonale, responde mal a medidas terapêuticas; ablação é inefetiva ■ Taquicardia supraventricular paroxística – tratamento de crises Manobra de Valsalva e massagem do seio carotídeo I C – Cardioversão elétrica I C Em instabilidade hemodinâmica, dúvida diagnóstica (QRS alargado) e resgate de falha medicamentosa Adenosina I C Contraindicada em pacientes com asma Verapamil IIa C Resgate de falha de adenosina ou contraindicação para uso de adenosina (asma) Amiodarona e sotalol IIb C – ■ Taquicardia supraventricular paroxística – prevenção Betabloqueadores, verapamil, diltiazem, propafenona IIb C Resultados pobres Ablação I C Múltiplas séries de casos e coortes controladas ■ Taquicardia juncional Betabloqueadores, verapamil, diltiazem, propafenona IIb C – ■ Fibrilação atrial paroxística Amiodarona, propafenona IIa B Para reversão; 60% dos pacientes revertem espontaneamente Betabloqueadores IIa B Para controlar resposta ventricular Digitálicos IIb B Para controlar a resposta ventricular ■ Fibrilação atrial sustentada Anticoagulação oral I A Para prevenir tromboembolismo (ver Capítulo 44) Controle de frequência – betabloqueadores, digitálicos I A Especialmente para pacientes com fibrilação crônica e átrio aumentado Controle de frequência com ablação de nó AV IIb C Para pacientes sem controle com medicamentos, com colocação de marca-passo Controle de ritmo IIa B Exclusivamente em pacientes com como estratégia fibrilação de início recente Ablação para controle de ritmo IIb B Discreta superioridade sobre medicamentos ■ Flutter atrial: manejo da crise Cardioversão elétrica I C Medicamentos têm baixa eficácia; podem ser usados para controlar resposta ventricular ■ Flutter atrial: prevenção de crises Amiodarona/sotalol IIb B – Ablação I B Definidamente superior a medicamentos ■ Taquiarritmias ventriculares – tratamento Cardioversão I C – Medicamentos antiarrítmicos IIa C Adjuvantes para estabilizar o ritmo após cardioversão efetiva; amiodarona e lidocaína são os mais usados Amiodarona ou lidocaína em PCR IIb B Aumentam probabilidade de internação e diminuem cardioversão repetida (amiodarona superior), sem efeito em sobrevida e déficit cognitivo comparativamente a placebo ■ Taquiarritmias ventriculares – prevenção Antiarrítmicos do grupo I, sotalol e dronedarona III A Associados com maior risco para desfechos primordiais pelo efeito pró-arrítmico Betabloqueadores I A Na prevenção secundária de infarto, com eficácia talvez em parte devida ao efeito antiarrítmico, além de anti-hipertensivo e anti- isquímico Amiodarona IIb B Desprovida de efeito pró-arrítmico relevante Cardioversor- desfibrilador implantável (CDI) I A Prevenção primária em pacientes de alto risco e prevenção secundária; alta taxa de eventos adversos a longo prazo, principalmente choques inapropriados e problemas psicológicos Amiodarona + betabloqueador IIa B Como adjuvantes para diminuir a frequência de choques pelo CDI Desfibriladores externos aplicados em veste IIa B Ponte para procedimentos positivos e curtos períodos de maior instabilidade elétrica, como no pós-infarto Desfibriladores públicos IIb B Programas de logística difícil para treinar voluntários, diminuindo a efetividade Ablação de focos arritmogênicos IIa B Superiores a antiarrítmicos para prevenir choques em pacientes com CDI ■ Bradiarritmias Marca-passo I C Para bloqueio atrioventricular irreversível Atropina e simpaticomiméticos IIb C Para manejo transitório de bloqueio atrioventricular durante infarto do miocárdio PCR: parada cardiorrespiratória. ▶ Prescrição À época do emprego corriqueiro de muitos antiarrítmicos, buscava-se a precisão farmacocinética, com estabelecimento de níveis plasmáticos efetivos e detalhes de biodisponibilidade, meia-vida, depuração, entre outros. Atualmente, devem-se reconhecer esquemas de administração dos poucos antiarrítmicos em uso clínico, como se descreve a seguir. Amiodarona Tem absorção variável, incompleta e lenta (latência de 30 min a 3 h). Dose de ataque está indicada tanto por via oral, em indicações eletivas, quanto por via intravenosa, em urgências. No primeiro caso, recomendam-se 800 a 1.600 mg em tomada única diária por 1 a 3 semanas, com doses de manutenção de 200 a 600 mg/dia em tomada única. Em situações de emergência, administram-se 150 mg em pelo menos 3 min, repetidos a cada 20 min, até obter-se efeito ou atingir-se o máximo de 2,2 gramas em 24 h. Infusão intravenosa contínua de até 1.200 mg durante as primeiras 24 h também é cabível (1 mg/min por 6 h, seguido de 0,5 mg/min até completar 24 h). Apesar de recomendada por diretrizes e bula, não haveria necessidade teórica de infusão contínua, pois sua meia-vida é muito longa. Em parada cardíaca, a dose usada é de 300 mg ou de 5 mg/kg. Não é necessário modificar o esquema de manutenção em presença de insuficiência renal, devendo-se reduzir as doses em insuficiência hepática. A longa meia-vida determina persistência de efeito após a suspensão do uso e lenta destoxificação. Lidocaína Não pode ser usada por via oral devido a intenso metabolismo de primeira passagem, devendo ser administrada por via intravenosa. Em dificuldade de acesso venoso, via intramuscular pode ser empregada. É predominantemente biotransformada, podendo gerar metabólitos ativos e mais tóxicos. A dose de ataque é de 1 a 1,5 mg/kg. A dose de manutenção é de 1 a 4 mg/min. Doses devem ser diminuídas em idosos e pacientes com insuficiência cardíaca, choque cardiogênico e doença hepática avançada. Propafenona Tem absorção oral rápida e completa, mas biodisponibilidade variável (5 a 50%), por extenso metabolismo de primeira passagem dependente de dose. As doses orais são de 150 a 300 mg em três tomadas diárias. Por via intravenosa, a dose de ataque corresponde a 75 a 150 mg, com manutenção contínua de 10 a 20 mg/h. Betabloqueadores Tartarato de metoprolol pode ser usado por vias intravenosa ou oral. No primeiro caso, aplicam- se um a três bolus de 2,5 a 5 mg, separados por 10 min. As doses orais são de 25 a 100 mg, em duas tomadas. Succinato de metoprolol é de uso oral exclusivo, em dose de 25 a 400 mg em tomada única diária. Doses de propranolol são de 10 a 80 mg, administradas em duas tomadas diárias. Esmolol é betabloqueador de curta meia-vida, empregado exclusivamente por via intravenosa. É particularmente usado quando há risco de ocorrência de efeitos adversos de betabloqueadores, pois seu efeito se dissipa rapidamente. As doses são bolus de 0,5 mg/kg em 1 min, podendo ser repetidos três vezes, a intervalos de 10 min. A manutenção é feita com 50 a 300 µg/kg/min por via intravenosa. Sotalol, betabloqueador com propriedades de classe III, é usado na dose de 40 a 160 mg, em duas tomadas diárias. Necessita diminuição de dose em presença de insuficiência renal. Verapamil A dose intravenosa para reversão de taquicardia supraventricular paroxística é de 5 a 10 mg, administrados em 2 a 5 min, podendo ser repetidos em 30 min. Doses de manutenção são de 180 a 480 mg, divididas em duas tomadas ou em dose única na apresentação de liberação retardada. Diltiazem Por via intravenosa, a dose em bolus é de 0,25 mg/kg, em 2 min, seguidos por 5 a 15 mg/h. A dose oral é de 120 a 360 mg, em duas tomadas. ou em dose única na apresentação de liberação retardada. Digitálicos A dose injetável de digoxina seria de 0,25 a 1,5 mg, mas há muitos anos não é comercializada no Brasil. A dose de manutenção oral é de 0,125 a 0,25 mg/dia, necessitando ajuste em presença de insuficiência renal. A alternativa injetável é lanatosídeo C (deslanosídeo), usado em bolus de 0,4 a 0,8 mg, que pode ser repetido em 1/2 h, se necessário. Adenosina Precisa de altase rápidas concentrações para agir, sendo empregada na dose de 6 a 12 mg em bolus administrado em 2 min, podendo ser repetido. ▶ Seguimento Efeitos desejados A avaliação individual de eficácia dos antiarrítmicos depende do contexto de sua indicação. Se os fármacos visam aliviar sintomas em paciente sem cardiopatia estrutural, o controle daqueles indica sucesso terapêutico, mesmo que a arritmia seja ainda detectada no exame clínico ou no eletrocardiograma (ECG). A eficácia em reverter arritmia que esteja provocando repercussões hemodinâmicas (p. ex., durante infarto do miocárdio) é avaliada por monitoramento eletrocardiográfico contínuo à beira do leito. A reversão de taquicardia paroxística ventricular é um dos efeitos terapêuticos mais espetaculares, por se dar agudamente com clara percepção por parte do paciente. O controle de ritmo ou de frequência em fibrilação atrial é avaliado pelo retorno e manutenção de ritmo sinusal no primeiro caso e pela diminuição de frequência cardíaca no segundo. Preconiza-se obter frequência inferior a 80 bpm em repouso, mas metas menos ambiciosas podem ser aceitas, se houver dificuldade de resposta aos medicamentos e o paciente tolerar. A eficácia de antiarrítmicos na supressão crônica de arritmias ventriculares, especialmente em pacientes assintomáticos com cardiopatia estrutural, é mais difícil de ser determinada. A avaliação por exame físico e eletrocardiograma convencional é sem dúvida insatisfatória para quantificar efeitos positivos e pró-arrítmicos. A avaliação pode ser feita com monitoramento eletrocardiográfico prolongado (loop monitor) ou Holter. Os mesmos objetivos terapêuticos são buscados com as técnicas eletrofisiológicas. Efeitos adversos O efeito adverso mais importante é o pró-arrítmico, comum a todos os antiarrítmicos. Pode desencadear qualquer tipo de arritmia, mas taquiarritmias ventriculares são as mais preocupantes. O critério diagnóstico básico reside no surgimento de arritmia ou no agravamento de uma preexistente durante uso de antiarrítmico, especialmente se há desaparecimento com sua suspensão. Taquicardia ventricular tipo torsade de pointes(alternância de orientação espacial do ÂQRS), sobretudo se acompanhada de aumento do intervalo QT, é praticamente patognomônica de arritmia induzida por fármaco. Betabloqueadores têm o menor potencial arritmogênico. Representantes da classe I são frequentes indutores de arritmias. Vários medicamentos de uso corrente têm possível ação pró-arrítmica, como imipramina, tioridazina, sulfametoxazol/trimetoprima, eritromicina. Entre os antiarrítmicos, estima-se que a incidência de pró-arritmia esteja entre 6 e 15% para taquicardia e 1,5 e 8% para fibrilação ventricular. Diferentemente das arritmias induzidas por digitálicos, consequentes a concentrações tóxicas, as aqui consideradas aparecem, geralmente, na vigência de níveis terapêuticos e como decorrência da ação primária do fármaco (efeitos secundários). Pacientes com doença cardíaca estrutural, principalmente os com disfunção ventricular ou em uso de digitálicos e diuréticos, têm maior propensão a apresentá-las. Ocorrência de pró-arritmia é rara em pacientes com coração normal em uso de antiarrítmicos para taquicardia supraventricular. É mais comum em mulheres do que em homens. Efeito pró-arrítmico ocorre predominantemente nos primeiros dias de tratamento, mas pode ser tardio. Preventivamente, corrigem-se possíveis fatores desencadeantes (distúrbio eletrolítico, isquemia, uso de outros arritmogênicos) e evitam- se combinações de fármacos que prolonguem QTc. No manejo da pró-arritmia, deve-se suspender o fármaco causador, iniciar monitoramento para diagnosticar o tipo de arritmia, corrigir fatores contribuintes e tratar o episódio. Além do efeito pró-arrítmico, antiarrítmicos frequentemente causam outros efeitos adversos, descritos no Quadro 43.3. Interações As interações mais importantes dos antiarrítmicos estão apresentadas no Quadro 43.4. Quadro 43.3 ■ Efeitos adversos dos antiarrítmicos de uso corrente. Lidocaína: parestesias, tontura, visão borrada e sonolência (raros); convulsões, coma e depressão respiratória (doses tóxicas) Propafenona: depressão moderada da contratilidade miocárdica; gosto metálico, visão borrada, náuseas, constipação intestinal, tontura; agranulocitose (rara) Propranolol e outros betabloqueadores: bradicardia, broncospasmo (em asmáticos), erupção cutânea, fadiga, depressão mental, pesadelos Amiodarona: pneumonite (1 a 23%); neuropatia periférica, tremor, insônia e ataxia; fotossensibilização (90%); hipo- e hipertireoidismo (1 a 14%); depósitos na córnea, com repercussões visuais (3 a 13%); insuficiência cardíaca, bradicardia; intolerância digestiva, hepatite medicamentosa; coloração azulada da pele; exacerbação de asma brônquica; alterações no metabolismo dos glicídios e triglicerídeos; epididimite; disfunção renal; taxa de descontinuação de uso até 50% em 5 anos. Sotalol: torsade de pointes (2,4%); bradicardia, fadiga, astenia, dispneia, tontura (2 a 4%) Verapamil: assistolia, dissociação atrioventricular, depressão da contratilidade miocárdica; constipação intestinal, cefaleia, tontura, náuseas, edema, rash cutâneo Diltiazem: hipotensão em uso intravenoso (7%); tontura, cefaleia, náuseas, edema, rash cutâneo Adenosina: calor no rosto, palpitação, cefaleia, tontura, náuseas, dor torácica, dispneia, tosse, bradicardia (efeitos raros e transitórios) Quadro 43.4 ■ Principais interações medicamentosas dos fármacos antiarrítmicos. Antiarrítmico Fármaco Mecanismos Consequências Lidocaína Betabloqueadores e cimetidina Diminuem a depuração Aumenta concentração sérica de lidocaína https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23qua43-3 https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788527731324/epub/OEBPS/Text/chapter43.html%23qua43-4 Propafenona Inotrópicos negativos Soma de efeitos Insuficiência cardíaca Digoxina Desconhecido Aumenta concentração sérica de digoxina Propranolol Insulina e hipoglicemiantes orais Bloqueio dos receptores beta Mascaram sinais de hipoglicemia Cimetidina Diminui a depuração Aumenta nível plasmático de propranolol Lidocaína Diminui a depuração Aumenta nível plasmático de lidocaína Digoxina Complexas interações farmacocinéticas Aumenta nível plasmático de digoxina Amiodarona Cumarínicos Inibição dos fatores de coagulação Aumenta efeito dos cumarínicos Propranolol, diltiazem Soma de efeitos Bradiarritmias Sotalol Amiodarona Soma de efeitos Aumenta risco de torsade de pointes Verapamil Digoxina Diminui volume de distribuição e depuração de digoxina Aumenta níveis plasmáticos de digoxina ▶ Referências bibliográficas 1.Mallmann AB, Fuchs SC, Gus M, Fuchs FD, Moreira LB. 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