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Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 1 A insuficiência cardíaca (IC), também chamada falência cardíaca, é definida como uma incapacidade do coração de conseguir cumprir sua função de bomba e atender à demanda tecidual, ou a necessidade de aumentar a pressão de enchimento ventricular (pressão diastólica final) para atender a essa demanda. Isso normalmente ocorre devido à alterações das funções sistólica (mais comumente) e/ou diastólica dos ventrículos, no entanto em situações menos comuns também pode ser causada por um aumento da demanda tecidual de perfusão. A IC pode ocorrer em pacientes com função sistólica preservada, o que é avaliado pela fração de ejeção (FE) do paciente. Pacientes com FE≥50%, apresentam insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp), enquanto pacientes com FE≤40% apresentam insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr). O grupo de pessoas com FE entre 40 e 50% não é definido como tendo FE reduzida ou aumentada, no entanto alguns estudos apontam que eles apresentam prognóstico e quadro clínico semelhante ao dos pacientes com ICFEp. O termo insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é muito usado na prática clínica por descrever uma consequência muito comum da IC, o aumento da pressão hidrostática nos capilares que causa extravasamento de líquido para o interstício e, portanto, o fenômeno de congestão. A IC apresenta uma enorme carga de morbimortalidade em todo o mundo, e sua importância na saúde pública tem aumentado nos últimos anos com o envelhecimento da população. A American Heart Association (AHA) estimou que em 2006 nos EUA existiam 5 milhões de pessoas com IC. O Framingham Study, uma das maiores coortes já realizadas na cardiologia, estima a epidemiologia da IC como 8 casos por 1000 homens entre 50 e 59 anos, chegando a 66 por 1000 entre homens e 79 por mil entre mulheres dos 80 aos 89 anos. Os estudos norte-americanos também indicam maior prevalência entre a população negra do que na branca. Um estudo americano de 2003 avaliou 16 milhões de internações para estimar as causas mais comuns de admissão hospitalar e indicou que a IC foi a segunda principal causa de admissão, atrás apenas da pneumonia. Esses estudos evidenciam o imenso custo social e econômico causado pela IC, muito agravado pelo envelhecimento da população. Apesar de existirem divergências na literatura, a ICFEp parece apresentar mortalidade menor que a iCFEr, em virtude da função sistólica preservada (mortalidade anual 8% contra 19% na ICFEr). Com o envelhecimento da população e hábitos de vida sedentários, o aumento da prevalência de doenças como HAS, diabetes e obesidade se correlaciona com o aumento da prevalência da IC, principalmente entre idosos. A IC pode ser resultado de uma doença intrínseca do coração (cardiomiopatia), ou mais comumente em virtude de outras doenças crônicas que causam um processo de alteração da função cardíaca, seja ela sistólica ou diastólica. As principais causas de IC no Brasil são cardiopatia isquêmica, cardiopatia hipertensiva, cardiopatia secundária a valvopatias, cardiomiopatia dilatada (CMD), cardiomiopatia alcóolica e doença de Chagas. Nem sempre é fácil, no entanto, identificar uma etiologia para a IC, uma vez que muitos pacientes com doença arterial coronaria (DAC), por exemplo, também hipertensos e etilistas, havendo dessa forma uma sobreposição entre fatores de risco. Sempre que um paciente com IC não for hipertenso, não apresentar DAC, valvopatia ou outros fatores de risco, é importante pensar na possibilidade de CMD. No Brasil, especificamente, é importante levar em conta a Doença de Chagas que é endêmica principalmente em estados do Nordeste e em Minas Gerais, além da doença valvar de etiologia reumática. Ambas podem causar IC em pacientes mais jovens e não acometidos por outras comorbidades que são as principais causadoras de IC no resto do mundo, como DAC e HAS. Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 2 A CMD, uma das principais cardiomiopatias, é considerada idiopática na maioria dos casos. Entretanto, têm sido demonstradas importantes alterações bioquímicas, celulares, moleculares e imunológicas em portadores de CMD, além de infecções virais e drogas cardiotóxicas que participam de sua gênese. Estudos em adultos demonstraram que a principal causa de CMD é idiopática (47%), seguida de miocardite (12%), doença coronariana (11%) e outras causas (30%). Entre os fatores de risco para IC, DAC se apresenta com um aumento de risco relativo (RR) de 8,1; diabetes com RR 1,9; tabagismo com RR 1,6; valvopatias com RR 1,5; hipertensão arterial sistêmica (HAS) com RR 1,4; obesidade com RR 1,3. Dessa forma, a DAC se apresenta como o fator individual que acarreta no maior aumento de risco para desenvolvimento de IC, e também como a principal etiologia de IC. Para entender o quadro clínico da IC, primeiro relembraremos alguns conceitos da fisiologia do sistema cardiovascular. A função sistólica é a capacidade que os ventrículos possuem de bombear o sangue para a circulação, seja ela sistêmica ou pulmonar. Já a função diastólica é a capacidade que os ventrículos possuem de relaxar (através de um processo ativo, ou seja, que requer o gasto de energia por parte das células), para se encherem de sangue sem um aumento exagerado da pressão ventricular. Frequentemente, a função sistólica é avaliada através da fração de ejeção, a qual é calculada através da relação entre o volume no final da diástole e o volume ejetado pelo ventrículo durante a sístole, sendo a FE considerada adequada entre 50-70% e reduzida quando abaixo de 40%. Os casos em que há IC sem redução do débito cardíaco ou aumento da pressão de enchimento do ventrículo por disfunção diastólica, são chamados de IC de alto débito, sendo o tipo menos comum de IC. A IC de alto débito é causada por doenças como anemia grave, tireotoxicose e fístulas arteriovenosas, principalmente. Nesses casos, apesar do débito cardíaco ser adequado, configura-se IC pois o coração não consegue atender a demanda tecidual, seja pela falta de hemoglobina no caso da anemia, aumento da demanda tecidual de nutrientes em virtude da tireotoxicose, ou desvio do sangue ejetado, impedindo a chegada deste aos tecidos, caso das fístulas arteriovenosas. As diferentes doenças contribuem de forma diferente para o prejuízo da função cardíaca. Na DAC, a perda da perfusão coronariana causa a morte de cardiomiócitos e, com isso, alterações da função diastólica do ventrículo em estágios mais iniciais (lembre-se que a função diastólica também demanda ATP dos cardiomiócitos, portanto, a isquemia miocárdica pode causar disfunção diastólica). Por outro lado, a DAC também pode causar hipocinesia ou acinesia de paredes mal perfundidas do coração – particularmente após episódios de infarto agudo do miocárdio (IAM) – resultando em disfunção sistólica. Um dos principais motivos pelo qual a diabetes e HAS se correlacionam com o desenvolvimento de IC, é porque essas doenças são fatores de risco para o desenvolvimento de DAC. Por sua vez, a HAS causa aumento da pós-carga através do aumento da resistência vascular periférica. Isso passa a sobrecarregar o coração, que precisa elevar a pressão produzida através da sístole para vencer a resistência dos vasos. Esse aumento da resistência muitas vezes também resulta em um aumento do volume do volume sistólico final (volume de sangue que permanece nos ventrículos no fim da contração ventricular), o que distende os sarcômeros dos cardiomiócitos. Pela lei de Frank-Starling, o coração responde a essa distensão com um aumento da sua força de contração de forma que quanto maior for o retorno venoso, maior seria o volume sistólico, no entanto, a capacidade cardíaca de se adaptar a essa distensão é limitada, e quando as fibras são exageradamente distendidas, ocorre um efeito paradoxal em que a forçae eficácia da sístole se tornam reduzidas.marc Além disso, com o início da redução do débito cardíaco, barorreceptores (receptores de pressão) detectam a redução da função sistólica e buscam aumentar o inotropismo e cronotropismo cardíacos, principalmente por meio da ativação do sistema simpático, aumentando a liberação de noradrenalina e adrenalina. Ao mesmo tempo, nos rins a diminuição da função cardíaca diminui a quantidade de sódio filtrado, o que faz a mácula densa ativar o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Através do SRAA, o rim passa a reter sódio e água, aumentando assim a volemia, e consequentemente a pré-carga, determinada pelo retorno venoso ao coração. Nec Inicialmente, esses mecanismos adaptativos auxiliam o sistema cardiovascular a manter o débito cardíaco e a perfusão tecidual. No entanto, com a persistência das alterações que reduziram a função cardíaca, e ativação Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 3 persistente do sistema simpático e do SRAA, ocorre um processo de remodelamento cardíaco, que pode causar a sua hipertrofia. Essa hipertrofia pode ser concêntrica, quando a parede ventricular tem sua espessura aumentada sem aumentar a cavidade ventricular, evento principalmente relacionado à HAS. Em casos de sobrecarga de pré-carga, o que ocorre em muitos casos de insuficiência valvar, ocorre hipertrofia excêntrica (aumento da parede e da cavidade ventricular). Esse coração aumentado apresenta função diastólica prejudicada, é mais suscetível a isquemias e arritmias. RELEMBRANDO: Cronotropismo e inotropismo são propriedades do coração e representam, respectivamente, frequência cardíaca e força de contração. Alguns dos medicamentos que veremos adiante, utilizados no tratamento da IC, agem como agentes inotrópicos e cronotrópicos positivos, como é o caso da dobutamina, uma droga vasoativa, utilizada em pacientes mais graves. Só pra relembrar, os barorreceptores são receptores mecânicos, presentes principalmente no arco aórtico e no seio carotídeo, relacionados a regulação da PA. São constituídos por canais iônicos mecanossensíveis, que detectam alterações mecânicas e transmitem informações aos centros vasomotores cardiovasculares no tronco encefálico, que por sua vez desencadeiam uma resposta autônoma sobre o cronotropismo e o inotropismo cardíacos.rose miocárdica. Quanto a apresentação clínica, a IC pode ser dividida didáticamente em IC direita e IC esquerda. Na IC esquerda, a falência do ventrículo esquerdo (VE) causa um aumento da pressão do enchimento deste ventrículo, o que diminui a eficácia da passagem do sangue do átrio esquerdo (AE) para o VE causa aumento da pressão no AE, dificultando o retorno do sangue da circulação pulmonar para o AE. Isso resulta em sintomas como dispneia aos esforços (que tende a piorar progressivamente sem o tratamento da IC), tosse seca ou com secreção rosácea, dispneia paroxística noturna (DPN), sintoma em que o paciente relata acordar durante a noite com falta de ar, que tende a melhorar após alguns minutos sentado ou em pé. Em estágios mais avançados, pode ser relatada ortopneia, onde o paciente relata dispneia ao deitar, o que é causado pelo aumento da pré-carga com a redistribuição do volume sanguíneo que se acumulava nos membros inferiores por gravidade. Em casos mais graves, o paciente pode apresentar edema agudo de pulmão (EAP) em virtude do aumento da pressão hidrostática nos capilares da circulação pulmonar, causando extravasamento de fluidos para os alvéolos e prejudicando a respiração. Já na IC direita, o processo de falência ocorre no ventrículo direito (IC), e através dos mesmos mecanismos explicados no caso da IC direita, ocorre congestão, no entanto, nesse caso é dificultado o retorno da circulação sistêmica, e não a circulação pulmonar. Dessa forma, o paciente costuma apresentar edema em membros inferiores, estase de jugulares, pode apresentar esplenomegalia por congestão ( que pode evoluir até mesmo para insuficiência hepática) e ascite. A principal causa de IC direita, é uma IC esquerda que passou a causar aumento da resistência pulmonar, no entanto há outras causas como estenose da valva mitral, Cor pulmonale, hipertensão pulmonar primária e tromboembolismo pulmonar. Casos extremos de IC, principalmente aqueles relacionados à IC de apresentação aguda, como pode ocorrer no caso de IAM extenso, podem cursar com choque cardiogênico, caracterizado pela hipoperfusão tecidual e PAM≤65mmHg, Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 4 que não responde à ressuscitação volêmica, exigindo muitas vezes o uso de drogas vasoativas. Esse quadro apresenta altíssima mortalidade! De acordo com a apresentação da IC, ela pode ser classificada em diferentes perfis. Perfil A é caracterizado pelo paciente “quente e seco”, ou seja, bem perfundido e sem congestão. Esse perfil é o alvo terapêutico do paciente com IC. Perfil B a apresentação mais comum dos pacientes hospitalizados com IC, o paciente se apresenta “quente e úmido”, ou seja, apresenta-se bem perfundido, porém congesto. Perfil L apresenta-se “frio e seco”, ou seja, com hipoperfusão tecidual, no entanto sem congestão. Esse é o perfil mais incomum de apresentação da IC. Perfil C descreve o paciente “frio e úmido”, tratando-se do paciente com maior mortalidade na IC, pois apresenta ao mesmo tempo hipoperfusão e congestão, apresentando dessa forma. A avaliação do perfil do paciente é útil para a definição do tratamento, mas fique atento, o perfil do paciente pode mudar rapidamente. Há também a classificação funcional da New York Heart Association (NYHA), que o classifica de acordo com a limitação do paciente para desempenhar suas atividades, além da escala de estágio da ICC desenvolvida pela American Heart Association (AHA). NYHA: Classe funcional I: ausência de sintomas durante atividades cotidianas Classe funcional II: sintomas desencadeados por atividades cotidianas Classe funcional III: sintomas desencadeados aos pequenos ou mínimos esforços Classe funcional IV: sintomas em repouso. AHA: Estágio A: presença de fatores de risco para desenvolvimento de disfunção ventricular (hipertensão, diabetes) na ausência de sintomas ou doença estrutural perceptível Estágio B: presença de lesão estrutural cardíaca e ausência de sintomas Estágio C: presença de lesão estrutural associada a sintomas atuais ou pregressos de grau leve a moderado Estágio D: presença de lesão estrutural e sintomas graves mesmo ao repouso ou IC refratária. Exame físico: procuram-se sinais de congestão pulmonar e sistêmica e sinais de baixo débito cardíaco, como palidez, extremidades frias, perfusão periférica lenta, pulso filiforme, pulso alternante, pressão arterial baixa e convergente, bulhas hipofonéticas, ou hiperfonese de B2, presença de terceira bulha (forte marcador de disfunção sistólica) e sopros de regurgitação valvar mitral e/ou tricúspide por dilatação dos anéis atrioventriculares. Na ausculta pulmonar, frequentemente são encontrados sinais de congestão venocapilar pulmonar com estertores crepitantes, subcrepitantes, sibilos e derrame pleural. Pode ter também a respiração de Cheyne-Stokes que é quando o paciente varia em bradipneia e taquipneia. A ocorrência de estase jugular, hepatomegalia, pulso hepático, refluxo hepatojugular, ascite e edema de membros inferiores é indicativa de congestão venosa sistêmica por IC direita. O diagnóstico pode ser estabelecido com a valorização dos sinais e sintomas descritos, podendo ser utilizados os critérios adotados no estudo de Framingham ou os critérios de Boston, com a combinação necessária de pontos para o diagnóstico de IC. Critérios de Boston: O diagnóstico é classificado como “definitivo” com uma pontuação entre 8 e 12 pontos; “possível”, entre 5 e 7 pontos; e “improvável”, 4 ou menos pontos. Critérios deFramingham: O diagnóstico requer a presença simultânea de, pelo menos, dois critérios maiores ou um critério maior em conjunto com dois critérios menores. Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 5 Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 6 Exames complementares Em geral, diagnostica-se a IC a partir de dados da anamnese e do exame clínico. Entretanto, existem exames necessários para caracterizar o quadro, realizar o diagnóstico diferencial com outras causas de dispneia e, principalmente, quantificar o grau de disfunção ventricular e/ou de lesão valvular, a fim de chegar a um diagnóstico etiológico e auxiliar na tomada de decisão terapêutica. Exames laboratoriais: Diferentes exames podem revelar condições capazes de agravar os sintomas da IC. Hemograma: é exame indispensável para avaliar se há anemia, que pode causar ou agravar os sintomas da IC e está relacionada com um pior prognóstico. Dosagem de creatinina: é indispensável para avaliação da função renal, visto que a insuficiência renal é uma comorbidade importante, estando presente em, pelo menos, um terço dos pacientes com IC grave e associada a piora dos sintomas, descompensação, menor resposta ao tratamento e, sobretudo, a um pior prognóstico. Exame de urina: pode demonstrar a presença de infecção urinária ou proteinúria, que indica lesão renal ou, ainda, glicosúria pela ocorrência de diabetes. Dosagem de sódio: tem fundamental importância, visto que a hiponatremia é indicativa de pior prognóstico. Dosagem do potássio: pode evidenciar hipopotassemia, geralmente associada a uso de doses elevadas de diuréticos, e, também, hiperpotassemia, que pode estar associada à insuficiência renal ou ao uso de medicamentos bloqueadores do SRAA. Dosagem dos hormônios tiroidianos: tanto o hipertireoidismo quanto o hipotireoidismo podem ser a causa primária ou agravar a disfunção ventricular. Sorologias para HIV, vírus da hepatite B, hepatite C e doença de Chagas podem ser necessárias dentro de um contexto clínico epidemiológico. Peptídeo natriurético atrial (BNP) e NT pró-BNP: A dosagem sanguínea do peptídeo natriurético atrial (BNP) e do seu precursor, o NT pró-BNP, hormônios produzidos pelos miócitos atriais e ventriculares, se eleva em situações de estresse hemodinâmico, como ocorre na IC. Por ter forte correlação com pressões de enchimento elevadas, indica-se esse exame para o diagnóstico diferencial de dispneia na sala de emergência. Também pode ser um bom parâmetro de resposta terapêutica em pacientes com IC crônica, bem como um forte indicador independente de mortalidade em pacientes com IC aguda. Não são indicadas medidas seriadas de BNP/NT pró-BNP como rotina. Para o diagnóstico de IC, BNP > 100 pg/dℓ ou NT pró- BNP > 300 pg/dℓ. Na atenção primária, em pacientes com fatores predisponentes, o BNP > 35 pg/dℓ pode identificar aqueles com risco de desenvolver sintomas de IC. Eletrocardiograma Em geral, está alterada nos pacientes com IC por disfunção sistólica. Apesar de inespecífica em relação à etiologia da disfunção ventricular, pode sugerir etiologias como doença de Chagas e cardiopatia isquêmica. Devem ser avaliados o ritmo, os distúrbios da condução atrioventricular, os bloqueios de ramo, a sobrecarga de câmaras, a presença de arritmias e os sinais de hipertensão pulmonar. Sinais de sobrecarga do VE como aumento da amplitude do QRS. Contar os quadradinhos: se der mais de 35 o paciente tem sinais de sobrecarga do ventrículo esquerdo Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 7 Radiografia de tórax: Importante para avaliar a área cardíaca e a circulação pulmonar, podendo evidenciar sinais de congestão pulmonar (linhas B de Kerley), derrames nas cisuras e derrames pleurais. Também pode sugerir doenças pulmonares decorrentes da dispneia (p. ex., enfisema, doenças intersticiais, focos pneumônicos e infarto pulmonar). Ecocardiograma bidimensional: Exame obrigatório na avaliação de qualquer paciente com IC, o ecocardiograma possibilita a avaliação precisa da anatomia cardíaca, afere o tamanho das cavidades, quantifica a disfunção sistólica (contratilidade) com aferição da FE, avalia a anatomia e a dinâmica das válvulas, estima o grau de estenoses, mede a área valvar e o grau de refluxo e avalia o pericárdio. Também torna possível a caracterização dos quadros de IC com função sistólica preservada demonstrando as alterações de complacência e do relaxamento ventricular. A partir desse exame, é possível aferir o grau de pressão na artéria pulmonar. Por todas essas informações, o ecocardiograma possibilita diagnosticar com precisão a presença e o grau da disfunção cardíaca e sua provável etiologia. Atualmente, o uso do denominado ecocardiograma hemodinâmico vem ampliando as indicações desse exame. O ecocardiografista treinado pode oferecer informações valiosas sobre débito cardíaco e estado de volemia com a avaliação sequencial do diâmetro e da variação de fluxo da veia cava inferior, auxiliando não somente no diagnóstico e na estratificação, aspectos comuns ligados ao exame, mas também na melhor terapia e na evolução do tratamento. Medicina nuclear: Técnicas como single photon emission tomography (SPECT) podem ser utilizadas para avaliar a perfusão miocárdica e a função ventricular. A cintilografia miocárdica de perfusão é empregada com maior frequência para o diagnóstico de doença arterial coronariana, fornecendo informações sobre isquemia e viabilidade miocárdica. Indica-se a tomografia por emissão de prótons (PET) para avaliação da viabilidade miocárdica. Ressonância magnética: Exame que vem ganhando grande aceitação na avaliação dos pacientes com IC, possibilita calcular a FE, volumes regurgitantes e a função valvar, bem como detectar isquemia, viabilidade miocárdica e fibrose. Trata-se de um exame de grande importância na suspeita de doenças infiltrativas ou de depósitos e na vigência de síndromes restritivas, como endomiocardiofibrose e pericardite constritiva. Cateterismo cardíaco: A coronariografia é mandatória para diagnóstico etiológico na suspeita de etiologia isquêmica. O cateterismo cardíaco direito possibilita a avaliação completa da hemodinâmica cardiovascular com aferição das pressões de enchimento, pressão pulmonar, débito cardíaco e cálculos de resistências sistêmicas e pulmonares (cateter de Swan-Ganz). O monitoramento hemodinâmico invasivo pode ser importante nas situações de instabilidade hemodinâmica para orientar o manuseio de fármacos vasoativos e avaliar a dinâmica das pressões de artéria pulmonar no paciente candidato a transplante cardíaco. É indispensável na avaliação da resistência vascular pulmonar em pacientes candidatos a transplante cardíaco quando o ecocardiograma identifica pressão sistólica pulmonar acima de 55 mmHg. Biopsia endomiocárdica: Procedimento invasivo que pode ser útil no diagnóstico etiológico da disfunção miocárdica. Está indicada na suspeita de miocardites, doenças infiltrativas do miocárdio (hemocromatose e amiloidose) e doenças de depósito (miocardiopatias restritivas). Teste cardiopulmonar: Exame que assume grande importância nas fases mais avançadas da doença, possibilita a medida direta do consumo de oxigênio (VO2) e de equivalente ventilatório de CO2 (VE/VCO2), e, consequentemente, a avaliação mais objetiva do grau de limitação física e da diferenciação de limitação por outras condições clínicas, como doença pulmonar e obesidade. Pacientes que atingem um VO2 maior que 14 mℓ/kg/min apresentam melhor prognóstico a longo prazo. O teste cardiopulmonar tem grande indicação atual na estratificação dos pacientes potenciais candidatos a transplante cardíaco, visto que aqueles com VO2 < 12 mℓ/kg/min e VE/VCO2 > 35 apresentam maior risco de morte e devem ser considerados para transplante cardíaco. O tratamento da IC tem como objetivos principais o alívio dos sintomas,a melhora da qualidade de vida e a redução de mortalidade. No planejamento terapêutico, deve-se, sempre que possível, determinar a etiologia da IC e afastar os fatores agravantes ou precipitantes da descompensação cardíaca, como negligência à restrição de sal e hídrica, não adesão ao tratamento farmacológico, isquemia miocárdica silenciosa, arritmias supraventricular (fibrilação atrial e flutter atrial) e taquicardia ventricular (TV), infecção pulmonar, tromboembolismo pulmonar, anemia, insuficiência renal, uso de anti-inflamatórios e disfunção tireoidiana. Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 8 Tratamento não farmacológico: dieta hipossódica (2 g sal/dia), restrição hídrica, interrupção do tabagismo, etilismo e prescrição de atividade física e vacinas contra influenza e pneumococo. Treinamento físico (reabilitação cardiovascular): O treinamento físico exerce efeitos benéficos na IC modulando a atividade neuro-hormonal, reduzindo a atividade simpática e a atividade inflamatória, além de promover melhora da função endotelial e consequentes efeitos importantes na reversão das alterações musculares esqueléticas decorrentes do baixo débito cardíaco. Atualmente, está bem estabelecido que a atividade física programada melhora a qualidade de vida e a capacidade para exercícios e reduz hospitalizações, sobretudo em pacientes com classes funcionais NYHA II e III. Ainda não está completamente definido se a reabilitação física reduz a mortalidade. Para pacientes estáveis, o treinamento físico domiciliar é seguro e tem benefícios comprovados quanto a melhora funcional e aumento do consumo de oxigênio. A atividade física deve ser estimulada considerando a capacidade individual de cada paciente para realizar determinado esforço físico sem desencadear piora dos sintomas. Nos pacientes internados, é importante a fisioterapia respiratória e motora supervisionada. Tratamento farmacológico: fundamentado em evidência baseia-se na combinação de medicamentos que bloqueiam tanto a atividade neuro-hormonal quanto a remodelação ventricular, com drogas que inibem ou antagonizam a angiotensina II, a aldosterona, e a atividade adrenérgica. Quando há adesão ao tratamento, muda-se radicalmente a história natural da doença com reduções expressivas de morbidade e mortalidade. Diuréticos: a ativação neuro-hormonal que acompanha a IC determina estímulos permanentes para a retenção de sódio e água e consequente hipervolemia, que promoverá dilatação cardíaca progressiva, aumento dos refluxos valvares atrioventriculares, hipertensão venocapilar pulmonar, congestão visceral e hipertensão venosa renal, além de contribuir para o agravamento da insuficiência renal. A congestão é responsável pelos principais sintomas da IC e pela maioria das hospitalizações. Os diuréticos são fármacos imprescindíveis para a prevenção, o alívio e o controle dos fenômenos congestivos sistêmicos e pulmonares, promovendo maior excreção de sódio e água. Os diuréticos que atuam na alça de Henle (furosemida) são os mais potentes, aumentando a excreção renal de sódio em 20 a 35% e mantendo a eficácia até em pacientes com disfunção renal moderada (clearance de creatinina < 30 mℓ/min). Início de ação rápido e meia-vida curta. A dosagem depende da gravidade da doença e da presença, persistência ou recorrência de fenômenos congestivos, variando de 40 a 320 mg/dia. Os diuréticos tiazídicos atuam no túbulo distal e aumentam a excreção de sódio em 10 a 15% dos casos. Em pacientes mais graves ou com “resistência a diurético”, pode ser necessário associar mais uma classe de diuréticos (bloqueio sequencial do néfron) para controle adequado dos sintomas congestivos (diurético de alça + tiazídico) com doses de tiazídicos de 12,5 a 50 mg/dia. Na IC descompensada, com congestão grave, a furosemida deve ser utilizada por via intravenosa (IV), em doses que variam de 60 a 160 mg/dia, divididas em até quatro doses. Nos pacientes mais graves com deterioração de função renal e congestão grave, é preciso utilizar a furosemida em infusão IV contínua, na dose de 20 a 40 mg/h. A infusão venosa contínua está associada a maior eficiência diurética, compensação mais rápida e redução no tempo de hospitalização. É extremamente importante identificar alguns fatores associados à refratariedade ou à “resistência aos diuréticos”, destacando-se a ingestão hídrica excessiva, a hipovolemia, o uso de medicamentos nefrotóxicos, a hipoalbuminemia, a acidose metabólica e a piora da função renal. Estudos recentes com o antagonista da arginina vasopressina (tolvaptana), um aquarético, têm mostrado que esse medicamento promove diurese efetiva e balanço hídrico negativo, normalizando o sódio sérico, sem promover hipopotassemia e hipomagnesemia, contudo ainda não está disponível no Brasil. Medidas especiais, como ultrafiltração ou diálise peritoneal, devem ser indicadas na ausência de resposta eficaz com utilização de furosemida em doses elevadas IV. Digitálicos: Agentes inotrópicos positivos mais utilizados na descompensação cardíaca, atuam inibindo a sódio-potássio adenosina trifosfatase para promover melhora da qualidade de vida, amenizando os sintomas pelo aumento da contratilidade miocárdica e do débito cardíaco. Atuam, também, sobre o sistema neuro- hormonal, diminuindo o tônus simpático, com consequente diminuição dos níveis plasmáticos de catecolaminas e menor estimulação do SRAA. Melhoram, ainda, a função barorreceptora. Em pacientes ambulatoriais, o digital não apresenta efeito sobre a mortalidade, mas se mostrou efetivo em reduzir a morbidade da IC, com redução de sintomas e da necessidade de internação hospitalar. Além de seu efeito sobre o desempenho cardíaco, o digital é bastante útil nos pacientes que apresentam IC e fibrilação atrial, Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 9 pois exerce ação rápida e eficaz no controle da resposta ventricular, fornecendo maior estabilidade hemodinâmica. Efeitos colaterais mais comumente observados são alterações gastrintestinais, como náuseas, vômitos e anorexia, alterações visuais e arritmias cardíacas. Estas podem ser facilitadas pela hipopotassemia, sendo mais frequentes as extrassístoles ventriculares, a taquicardia atrial ou juncional e os graus variados de bloqueios atrioventriculares. Recomenda-se o emprego dos digitálicos em todos os pacientes sintomáticos com IC por disfunção sistólica. Também devem ser utilizados nos pacientes com ritmo de fibrilação atrial e resposta ventricular elevada, após a otimização com os betabloqueadores. A dose média preconizada da digoxina em adultos é 0,25 mg/dia, porém esta deve ser adequada a idade, massa corporal e função renal do paciente, sendo possível variá-la entre 0,125 e 0,50 mg/dia. A determinação do nível sérico é útil para avaliar a aderência do paciente ao tratamento, ajustar a dose e diminuir o risco de intoxicação digitálica, devendo ser mantido entre 0,5 a 1 ng/dℓ. Nos pacientes do sexo feminino, idosos e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica, deve-se reduzir a dose pelo maior risco de intoxicação. Na IC descompensada, principalmente se associada a taquiarritmias supraventriculares, a terapêutica com o lanatosídeo C, IV, na dose de 0,2 a 0,4 mg a cada 12 h, representa uma boa opção. Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor da angiotensina II (BRA) Os IECA reduzem os níveis de angiotensina II e elevam os níveis de bradicinina. Têm efeitos hemodinâmicos altamente favoráveis com redução dos sintomas, aumento da tolerância ao esforço e melhora da qualidade de vida, além de diminuírem a progressão da disfunção ventricular e a mortalidade por IC. Vários estudos clínicos randomizados demonstraram redução significativa de mortalidade na IC sistólica, devendo ser prescritos para todos os pacientes portadores de disfunção ventricular. Existem aproximadamente duasdezenas de moléculas de IECA, porém as mais amplamente testadas são o captopril, na dose de 100 a 150 mg/dia, via oral (VO), e o enalapril, na dose de 20 a 40 mg/dia. Os BRA têm efeitos superponíveis e podem ser usados nos pacientes que não toleram IECA, com evidências fortes e recentes de não se tratar de fármacos inferiores aos IECA. O ideal é o uso de losartana em doses otimizadas de 100 a 150 mg/dia. Betabloqueadores adrenérgicos: Pilares da terapia moderna da IC, os bloqueadores dos receptores adrenérgicos (b1 e b2) antagonizam os efeitos adversos da estimulação adrenérgica crônica na IC, com efeitos antiarrítmico, anti-isquêmico e de proteção celular. Vários estudos têm demonstrado efeitos hemodinâmicos favoráveis com redução dos sintomas, melhora da qualidade de vida, aumento sustentado da FE e importante redução de mortalidade, principalmente pela redução de morte súbita. Vários estudos estabeleceram, respectivamente, o bisiprolol, o carvedilol e o succinato de metropolol como fármacos com evidência modificadora de sobrevida. Devem ser iniciados em doses baixas, com aumento progressivo, até atingirem doses de manutenção (carvedilol 50 a 100 mg/dia, bisoprolol 10 a 15 mg/dia e metoprolol 200 a 300 mg/dia). Os efeitos colaterias são piora da IC, hipotensão e bradicardia. Recomendam-se os betabloqueadores para todos os pacientes com disfunção ventricular, inclusive em classe funcional IV. Importante ressaltar que, a despeito dos efeitos, os betabloqueadores são bem tolerados por mais de 90% dos pacientes com IC. Espironolactona: Usada há muitos anos como diurético, refere-se a um bloqueador dos receptores de aldosterona. A aldosterona aumentada nos pacientes com IC determina aumento na reabsorção de sódio e água. O aumento na excreção de magnésio e potássio contribui para o aparecimento de arritmias e morte súbita. Outro efeito deletério da aldosterona é a indução de fibrose no miocárdio e na parede vascular. Terapia otimizada com betabloqueadores e IECA/BRA não diminui totalmente os níveis de aldosterona circulante (efeito conhecido como “escape da aldosterona”), fato alcançado com a associação de um antagonista direto da aldosterona. O antagonismo da aldosterona com espironolactona nas doses de 25 a 50 mg/dia reduz a morbidade e a mortalidade total em até 30% nos pacientes com IC sintomática. Os efeitos colaterais mais frequentes dessa classe de medicação são a ginecomastia (10%) e a hiperpotassemia (5%), esta última mais frequente em pacientes idosos, diabéticos e portadores de insuficiência renal. Anticoagulante oral: Disfunção ventricular grave, congestão sistêmica, imobilidade e presença de fibrilação atrial aumentam o risco de tromboembolismo pulmonar e sistêmico em portadores de IC. A anticoagulação oral está recomendada para os pacientes com algum episódio tromboembólico pregresso, com trombo intracavitário, aneurisma ventricular extenso e fibrilação atrial. Ivabradina: Nova medicação utilizada para o tratamento da IC, trata-se de um inibidor seletivo do nó sinusal, determinando redução da frequência cardíaca. Atualmente, indica-se essa medicação em pacientes com ritmo sinusal, disfunção sistólica e classes funcionais NYHA II a IV, que mantêm frequência cardíaca maior Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 10 que 70 bpm apesar do uso de IECA ou BRA e betabloqueadores nas doses máximas toleradas. A dose preconizada é de 5 mg, 2 vezes/dia, inicialmente, e otimização com 7,5 mg, 2 vezes/dia, dependendo da resposta da frequência cardíaca. Cardiodesfibrilador implantável: A morte súbita é responsável por 40 a 50% dos óbitos em pacientes com IC, acometendo principalmente aqueles mais estáveis Na prevenção secundária de morte súbita, há indicação formal de cardiodesfibrilador implantável (CDI) para todo paciente com miocardiopatia de qualquer etiologia, sobrevivente de parada cardíaca decorrente de fibrilação ventricular (FV), TV ou taquicardia ventricular sustentada (TVS) com instabilidade hemodinâmica, excluindo-se causa reversível ou, ainda, paciente com doença cardíaca estrutural com documentação de TVS espontânea estável ou instável. A indicação de CDI deve ser considerada em pacientes com síncope recorrente com indução de TVS instável ou FV no estudo eletrofisiológico. Considera-se recomendação de indicação IA o uso de CDI para prevenção primária em pacientes portadores de miocardiopatia isquêmica após infarto do miocárdio com pelo menos 6 meses de evolução, com FE ≤ 35%, em classes funcionais II ou III com terapia clínica otimizada, sem indicação de revascularização e expectativa de vida de pelo menos 1 ano. Considera-se indicação IIaB o uso em pacientes com as mesmas características, porém portadores de miocardiopatia não isquêmica. É importante ressaltar que o CDI pode piorar a qualidade de vida pela elevada incidência de choques inapropriados, levando a ansiedade e depressão, bem como acarretar maior risco de internação por IC, possivelmente transformando o mecanismo de morte do paciente, reduzindo o risco da morte súbita e aumentando o risco de morte por progressão da IC, fato que compromete, de certo modo, os benefícios irrefutáveis do implante do dispositivo. Ressincronização ventricular: Um terço dos pacientes com diagnóstico de IC apresenta QRS alargado acima de 120 ms com frequência decorrente do bloqueio do ramo esquerdo (BRE). Associa-se a essa condição a dissincronia ventricular eletromecânica, ocasionada pelo retardo na despolarização ventricular, que determina dissincronia de contração ventricular, ocasionando redução do débito cardíaco, aumento do consumo de oxigênio, encurtamento do tempo de enchimento ventricular e favorecimento da insuficiência mitral. Com desfechos relacionados com o aumento da FE, diminuição do diâmetro ventricular esquerdo e redução de mortalidade, vários estudos mostraram a eficácia do uso do marca-passo multissítio para terapia de ressincronização ventricular (TRV). A indicação IA para o implante do ressincronizador cardíaco envolve pacientes com IC em classe funcional III, ritmo sinusal, tratamento farmacológico otimizado, FE < 35 e QRS > 120 ms. Essa modalidade de dispositivo, apesar da indiscutível evidência de indicação, tem diversas limitações, como experiência da equipe implantadora para posicionamento adequado do eletrodo na veia cardíaca posterior esquerda, ecocardiografista experiente para ajustar melhor o intervalo atrioventricular e o tempo diastólico e reavaliação frequente da sincronia. Estudos mais recentes têm demonstrado benefícios da terapia de ressincronização em pacientes com classes funcionais II e III e QRS com duração ≥ 150 ms. Tratamentos cirúrgicos: A cirurgia de revascularização do miocárdio está indicada em pacientes com disfunção ventricular esquerda e lesão do tronco da artéria coronária esquerda ≥ 50% ou com lesões ≥ 70% proximais em artérias descendente anterior e circunflexa (equivalente de tronco) ou, ainda, naqueles com sintomas anginosos limitantes e isquemia documentada. Entretanto, o estudo STICH14 não demonstrou benefício significativo no tratamento cirúrgico quando comparado ao tratamento clínico em pacientes com doença coronariana e FE ≤ 35% (excluindo pacientes com lesões de tronco e angina grave). Nas lesões orgânicas valvares, mitral e aórtica, a cirurgia deve ser considerada mesmo na presença de grave disfunção ventricular. Dispositivos de assistência ventricular: Os dispositivos de assistência ventricular podem ser utilizados no tratamento do choque cardiogênico ou na manutenção das condições circulatórias em pacientes com IC refratária ao tratamento medicamentoso como ponte para o transplante cardíaco. Mais recentemente, novos dispositivos têm sido preconizados com terapêutica de destino ou definitiva para os pacientes com IC refratária, principalmente para os não elegíveis para transplante. Transplantecardíaco: Está indicado para pacientes com IC refratária, classes funcionais NYHA III ou IV permanentes, com sintomas graves e hospitalização frequente, sem alternativas de tratamento e terapêutica otimizada. Para os pacientes ambulatoriais, um critério de indicação é VO2 < 12 mℓ/kg/min (em vigência de betabloqueadores) ou VE/VCO2 acima de 35. Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 11 As taxas de morbidade e mortalidade após o início da IC sintomática são altas, embora taxas de mortalidade variáveis tenham sido relatadas, as quais provavelmente refletem diferenças demográficas, gravidade da doença e o uso de terapia médica apropriada. Efeito da hospitalização: A necessidade de hospitalização é um importante marcador de mau prognóstico. Efeito de fatores demográficos - A sobrevida de pacientes com IC é influenciada pela idade, sexo, raça e a causa da cardiomiopatia. - Idade: A taxa de mortalidade em pacientes tratados com IC aumenta com a idade. - Sexo: prognóstico geralmente tem sido melhor em mulheres do que em homens com IC. Nos dados do Framingham Heart Study, o tempo médio de sobrevivência após o diagnóstico foi de 3,2 anos nas mulheres e 1,7 anos nos homens; após cinco anos, 38 por cento das mulheres e 25 por cento dos homens estavam vivos. - Raça: efeito da raça no prognóstico da IC é incerto, pois diferentes estudos revelaram achados contrastantes. Causas da doença: A sobrevida foi melhor em pacientes com cardiomiopatia periparto. A sobrevida foi pior em pacientes com doença miocárdica infiltrativa, particularmente amiloidose ou hemocromatose, infecção por HIV, terapia com doxorrubicina, doença isquêmica do coração ou doença do tecido conjuntivo. A sobrevivência foi a mesma em pacientes com hipertensão, miocardite, sarcoidose, abuso de substâncias ou outras causas. Em uma revisão de pacientes dos estudos de tratamento do SOLVD, a presença de diabetes teve um impacto diferencial na mortalidade em pacientes com IC. Em análises ajustadas, o diabetes aumentou significativamente a https://www.uptodate.com/contents/doxorubicin-conventional-drug-information?search=prognosis+cardiac+insufficiency&topicRef=3501&source=see_link Larissa Gusmão Guimarães| Cardiologia (P7) 12 mortalidade por todas as causas em pacientes com cardiomiopatia isquêmica, mas não naqueles com cardiomiopatia não isquêmica. História natural de IDC de início recente - A história natural de cardiomiopatia dilatada idiopática (CDI) de início recente e IC é variável e difícil de prever. Embora a mortalidade em um ano possa chegar a 25 por cento, uma proporção substancial desses pacientes melhora espontaneamente com o tempo. Variação sazonal - Vários estudos encontraram um padrão sazonal de mortes por infarto do miocárdio e morte súbita, com mais eventos fatais ocorrendo no inverno do que no verão. Referências Bibliográficas UPTODATE SANARFLIX Manual de cardiologia / coordenação Antonio Carlos Carvalho, Suzi Emiko Kawakami, João Batista Saúd Pereira; 3. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.
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