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Sumário 
Visão Penal da Saúde do Trabalhador ......................................................................................................... 2 
Normas Gerais ................................................................................................................................................. 3 
Tipicidade ........................................................................................................................................................ 4 
Culpabilidade ................................................................................................................................................... 5 
Ação Penal ....................................................................................................................................................... 6 
Penalização (sanções penais) .......................................................................................................................... 7 
Responsabilização Penal .................................................................................................................................. 7 
Caso para Avaliar ............................................................................................................................................. 7 
Responsabilização Penal Dolosa ...................................................................................................................... 8 
Responsabilização Penal Culposa .................................................................................................................. 10 
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo da Infração Penal .......................................................................................... 14 
Pessoa Jurídica como Sujeito Ativo de Infração Penal .................................................................................. 14 
Discussão sobre foro penal trabalhista: qual justiça? ................................................................................... 15 
Direito Penal Administrativo ......................................................................................................................... 16 
Visão Civil da Saúde do Trabalhador ................................................................................................................. 19 
Teorias do Risco: Evolução Jurídica ............................................................................................................... 21 
Responsabilidade Objetiva – Indenização: Acidentado x Empresa ............................................................... 23 
Responsabilidade Objetiva – Previdenciária: Acidentado x INSS .................................................................. 24 
Responsabilidade Subjetiva - Indenização: Acidentado x Empresa .............................................................. 25 
Responsabilidade Subjetiva – Ressarcimento: INSS x Empresa .................................................................... 25 
Responsabilidade Subjetiva – Ressarcimento: Empresa x Profissional Prevencionista ................................ 26 
Responsabilidade Penal do Profissional Prevencionista: Repercussão Cível ................................................ 27 
Diferenciação entre a Responsabilidade Civil e a Penal ................................................................................ 27 
REFERENCIAS ..................................................................................................................................................... 29 
 
 
 
 
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Visão Penal da Saúde do Trabalhador
1
 
Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira 
 
 Do momento político, social e cultural que vive um determinado Estado depende o conceito 
de juízo de e provação do comportamento e atitudes do seu povo. À época da escravidão, chicotear o 
trabalhador fazia parte das técnicas de administração, com a evolução sociocultural, hoje, tais práticas 
(escravizar e chicotear) são abomináveis, ao tempo que expor ao risco à saúde do trabalhador ou assediá-lo 
moralmente constitui crime. 
 A sociedade, em um dado momento, diante de seus valores, passa a considerar reprovável 
determinada conduta. O avanço de uma sociedade é balizado pelo aperfeiçoamento da teoria da 
culpabilidade, que por sua vez mede o progresso do Direito Penal, e de resto, o estágio evolutivo de um 
povo. A reprovabilidade é de tal monta que o legislador se vê obrigado a criar norma que objetive proteger 
tais valores (o valor social se torna um bem jurídico protegido por todos pelas forças atribuídas ao Estado por 
essa mesma sociedade). 
 
 
Figura 2 - A Estátua da Justiça, 
erigida em Brasília, na Praça dos 
Três Poderes, em frente ao 
Supremo Tribunal Federal, ela 
lembra Pallas Atenae, a deusa da 
Justiça. A estátua é concepção e 
execução do escultor mineiro 
Alfredo Cescchiati. Tal 
representação mostra a “Justiça” 
com olhos vendados, “A justiça é 
cega”, tal frase quer dizer que 
perante a justiça todos são 
extremamente iguais. 
 
 É o que, por exemplo, ocorreu recentemente com os crimes 
ambientais. A sociedade entendeu que a proteção ao meio ambiente estava a 
exigir uma intervenção jurídico-penal com o intuito de prevenir danos ambientais. 
Com isso, o legislador penal passou, por meio de lei, a considerar criminosas 
condutas que até então eram penalmente lícitas. 
 A forma que a sociedade espera que tais valores sejam 
assegurados é autorizando o Estado julgar e aplicar uma pena àquele membro 
incauto, omisso, estabanado, desgarrado. Normas penais são criadas para coibir 
conduta indesejada quando valores sociais relevantes são afrontados. 
 Sentido moral de obediência considera-se, faz correspondência à 
categoria filosófica do medo de forma que as pessoas de uma sociedade 
obedecem à ordem geral colocada por dever ético, mas também por medo. 
Medo da reprovação, medo de receber uma pena. É ai que se estabelecem as 
figuras do crime (ou delito) e da contravenção penal. 
 
 Diz-se que contravenção penal é um “crime” causador de menores danos e com sanções de 
menor gravidade. Assim o traço distintivo mais importante é a cominação de pena, pois para o crime se 
aplicam reclusão ou detenção, isolada, alternativa ou cumulativamente à multa; enquanto que para 
contravenção, aplicam-se prisão simples e multa, combinadas ou não. 
 As condutas reprováveis (crime e contravenção) no tocante à saúde do trabalhador 
(integridade física e mental, completo bem estar) são regradas, de acordo com a norma de regência, por 
quatro grandes linhas e seus respectivos objetos (bem jurídico tutelado): 
 
1
 Oliveira-Albuquerque, PR. Uma Sistematização da Saúde do Trabalhador: Do Exótico ao Esotérico. Editora LTr 2011. 1ª Edição. 
São Paulo-SP. 
 
 
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i) Criminal (penal estrito senso) - voltada para o objeto integridade da pessoa humana conforme norma 
promulgada pela sociedade, por intermédio do Congresso Nacional, cujos julgamentos se dão no campo do 
poder judiciário (justiça comum). 
ii) Administrativa – tem por objeto a ética profissional sob domínio normativo, fiscalizatório, processual e 
punitivo das autarquias públicas federais (conselhos de profissão), tais como OAB, CREA, COFEN e CRM. 
iii) Tributária – voltada à arrecadação de recursos financeiros supridos pela sociedade com vistas a garantir a 
proteção social e solidária como preconiza a CRFB-88. A contribuição social relativa ao Seguro Acidente do 
Trabalho – SAT -, pago pelas empresas, espécie de tributo, destinado ao custeio dos benefícios acidentários 
pagos pelo INSS – cuja administração e fiscalização estão a cargo da Receita Federal do Brasil, ficando ao 
Poder Judiciário Federal a incumbência de dizer o direito quando da ocorrência de crime, como, por exemplo, 
ocorrer um caso da sonegaçãofiscal; 
iv) Ambiental – salvaguarda o objeto amplamente difuso e transcendente (o meio-ambiente equilibrado), pois 
alcança cada um dos membros da sociedade, o tempo todo, durante todo o tempo, nesta e nas próximas 
gerações. Analogamente à linha criminal, possui regramento dado pelo legislativo (nas três esferas), mas 
apenas a União, por intermédio da Justiça Federal, tem competência para julgar. 
 Realça-se a importância do bem jurídico tutelado (objeto) criminal, administrativo, tributário e 
ambiental, destacados nas na Figura 0-1, segundo a qual, permite-se visualizar essas linhas com os 
respectivos códigos jurídicos que as suportam. O criminal e administrativo serão discutidos a seguir; o 
tributário e o ambiental nos respectivos tópicos. 
 Observe a relevância dos bens jurídicos tutelados (objetos) criminal, administrativo, tributário 
e ambiental, com os respectivos códigos jurídicos, destacados na figura abaixo: 
 
 
 
 
Normas Gerais 
 Para fins didáticos, considerando aquele leitor não familiarizado com a ciência jurídica, faz-
se, aqui em diante, uma apresentação das definições que guardam relação, e interfaceiam, com o campo da 
saúde do trabalhador, de forma que ao final do tópico, o leitor consiga entender o básico da disciplina em 
tela. Tais definições se aplicam, como norma geral, às quatro linhas dispostas na Figura anterior. 
 A lei é o único instrumento (fonte) utilizado pelo Estado para dar conhecimento do que é o 
Direito Penal. Nela estão contidas as normas que definem crimes, contravenções e cominam penas. A norma 
é o conteúdo da lei e através dela se manifesta. A norma penal em sentido estrito é aquela que define o 
crime e impõe uma sanção o que define duas partes distintas: 
 
 
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 tipo - preceito primário, onde está definida a conduta típica. 
 sanção - preceito secundário, onde está prevista a pena cominada. 
 
 A norma penal incriminadora é imperativa e geral (dirige-se a todos, inclusive aos 
inimputáveis), regula apenas fatos futuros e não tem lacunas. As normas penais não incriminadoras ou 
permissivas ocorrem quando o ordenamento jurídico permite ou deixa de punir a prática de um fato, ainda 
que definido como crime, sob algumas condições específicas. Essas situações são reguladas pelas normas 
permissivas. Como exemplo, tem-se a lesão corporal, que é crime, porém, deixa de ser punível (situações 
permissivas) como legítima defesa. No geral podemos assim estruturar as definições penais: 
 Crime (formal) é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena. Entende-se por crime 
a conduta típica, ação ou omissão (tipicidade), culpável (culpabilidade) e ilícita (ilicitude). 
 Punibilidade - imposição da pena - não está dentro do conceito de crime, mas, antes, pressupõe a 
existência dele. É a consequência do crime. 
 Assim os elementos essenciais do crime são a tipicidade, a culpabilidade e a ilicitude que 
formam o triunvirato de pressupostos à aplicação da sanção penal. A seguir, veremos esses três pontos. 
 
Tipicidade 
 
 A correspondência entre a conduta criminosa e a descrição do delito contida na lei penal 
incriminadora é chamada de tipicidade. Conforme a importância do bem jurídico a ser protegido pela 
sociedade, tem-se a tutela do direito mediante a tipicidade para assegurar as regras de convivência social e 
as respectivas sanções em caso de violação. Na seara prevencionista do meio-ambiente do trabalho, 
tratando-se da vida humana e da saúde, especificamente a do trabalhador, há alguns tipos penais dispostos 
no Código Penal - CP brasileiro, o que evidencia a importância dessas relações para a sociedade em geral. 
 A tipicidade tem a função de garantir o princípio da legalidade (a definição do tipo tem que 
está descrita em lei) e da presunção de antijuridicidade (tem presunção de contrariar a ordem jurídica – 
conduta típica – o fato de atirar com arma de fogo contra alguém). 
Admite-se, porém, exclusões da presunção de antijuridicidade, quando ocorrerem, no mínimo, uma das 
quatro hipóteses excludentes: 
 Estado de necessidade que se configura quando certo perigo ao interesse jurídico só pode ser 
evitado mediante a lesão de outro, desde que tal seja imprescindível. Ex.: furto do esfomeado; 
antropofagia no caso de pessoas perdidas. O estado de necessidade pode ser: defensivo (contra a 
coisa de que suscita o perigo) ou agressivo (contra coisa diversa). 
 Legítima defesa que se fundamenta na existência de um direito primário do homem de defender-se, 
na retomada pelo homem da faculdade de defesa que cedeu ao Estado. 
 Estrito cumprimento do dever legal como aquele relacionado a alguém que age cumprindo 
regularmente um dever amparado na lei não pode ser punido. O executor deve ser funcionário ou 
agente público. Ex.: policial que executa mandado de prisão, carrasco que mata o condenado, 
soldado que mata o inimigo durante uma batalha. 
 Exercício regular de direito assim entendendo que toda pessoa pode exercitar um direito subjetivo, 
excluindo-se a ilicitude, se o indivíduo está autorizado por lei àquela prática típica. Ex.: direito de 
 
 
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correção dos filhos pelos pais, prisão em flagrante pelo particular. Esta excludente, por exemplo, 
abrange os fatos típicos cometidos durante a prática de esportes, desde que dentro das regras, bem 
como as intervenções médicas e cirúrgicas. 
 
 A Figura abaixo indica os tipos com as respectivas fundamentações legais, de acordo com o 
Código Penal – CP -, no tocante ao tema saúde do trabalhador. 
 
 
 
Culpabilidade 
 
 Culpabilidade é o sentimento de reprovação dado pela ordem jurídica que liga o homem a um 
fato típico e antijurídico. A culpabilidade recai sobre o fato e não sobre o agente. A reprovação incide sobre o 
comportamento do sujeito, e não sobre ele, isoladamente, como se fosse possível isolá-lo do fato. Reprova-
se o agente porque a ele cumpria conformar a sua conduta à norma, pois tinha a possibilidade de fazê-lo e 
não o fez. 
No comportamento se exprime uma contradição entre a vontade do sujeito e a vontade da norma. 
No atual estágio brasileiro só há culpabilidade se o sujeito, de acordo com as sua condições psíquicas, puder 
estruturar sua consciência e vontade de acordo com o direito (imputabilidade); se estiver em condições de 
poder compreender a ilicitude da sua conduta (possibilidade de conhecimento da ilicitude); se for possível 
exigir-se, nas circunstâncias, conduta diferente daquela do agente (exigibilidade da conduta diversa). São 
esses os três elementos da culpabilidade. 
 Entende-se por imputabilidade a capacidade que o agente tem de compreender a ilicitude do 
fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento; A potencial consciência da ilicitude é a 
possibilidade de se conhecer o caráter ilícito do fato, ou seja, o agente, para que seu comportamento possa 
ser reprovável, devia ter, no momento da ação ou omissão, a possibilidade de saber que a sua conduta era 
proibida; e finalmente a exigibilidade de conduta diversa - Só pode ser censurada penalmente a conduta de 
quem poderia ter realizado outro comportamento conforme o Direito. Há situações em que não se pode exigir 
do agente comportamento diverso, porque a situação fática impõe a prática de uma conduta típica e ilícita 
 
 
 
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São esses os três elementos da culpabilidade: 
Imputabilidade é a capacidade que o agente tem de compreender a ilicitude do fato e de determinar-se de acordo com 
esse entendimento; A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de se conhecer o caráter ilícito do fato, ou 
seja, o agente, para que seu comportamento seja reprovável, deve ter, no momento da ação ou omissão, o conhecimento 
de que sua conduta é proibida; e, finalmente, a exigibilidade de conduta diversa. Só se pode penalizar a conduta de 
quem poderia realizar outro comportamento conforme o Direito. Às vezes, não se pode exigir do agente comportamentodiverso, porque a situação fática impõe a prática de uma conduta típica e ilícita. 
 
Ação Penal 
 
 O processo penal brasileiro tem como princípio a forma acusatória, segundo a qual se separa 
as três funções (acusação, defesa e julgamento), ao tempo que as atribui aos órgãos distintos, 
respectivamente: Ministério Público, Advocacia e Juiz. Antes, porém, coloca-se um procedimento extrajudicial 
inquisitório, conhecido como inquérito policial. 
 O inquérito policial é procedimento administrativo prévio, não sujeito ao contraditório - 
iniciado por portaria da autoridade policial competente ou por prisão em flagrante - que se destina a apurar as 
infrações penais e para fundamentar a denúncia ou queixa. A petição inicial da ação penal pode ser denúncia 
quando partir do Ministério Público ou queixa quando oriunda do ofendido, desde que subscrita por 
advogado. 
 A ação penal pode ser pública ou privada. A pública se bifurca em incondicionada (exercida 
pelo Ministério Publico) e condicionada (exercida também pelo Ministério Público, todavia depende de 
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça). A ação penal privada se divide em 
exclusiva (exercida por queixa do ofendido, ou seu representante legal ou por sucessor); subsidiária 
(exercida por queixa do ofendido quando da inércia do Ministério Público); e personalíssima (exercida tão-
somente por queixa do ofendido) 
 Como exemplo, se aponta a ação penal pública condicionada, contra empregador, por crime 
(vide quadro a seguir) de sonegação fiscal da contribuição social devida à Previdência Social relativa ao 
custeio da aposentadoria especial (acréscimo do SAT) por ocasião de exposição do trabalhador a agentes 
ambientas nocivos à saúde de modo permanente. É pública, porque o titular é o Ministério Público e 
condicionada porque depende de representação do ofendido. No caso o ofendido é a União. 
 A União, mediante lavra de auto-de-infração do Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, 
representa ao Ministério Público Federal, dada a competência do poder judiciário federal por conta da esfera 
federal a que se vincula esse o tributo. Caberá ao Ministério Público denunciar ou não; e ao Juiz Federal, 
admitir ou não a ação penal. Admitida esta ação penal, tem-se um exemplo de ação sem inquérito policial. 
Todos os elementos do crime estão dispostos nas peças fiscais integradas à denúncia. Na parte dos crimes 
tributários esse assunto será mais aprofundado. 
 
A Lei nº 9.983/00 incluiu o art. 337-A no CP ao restringir a três condutas o crime de sonegação de contribuição 
previdenciária: i)omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação 
previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que 
lhe prestem serviços; ii)deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias 
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; iii)omitir, total ou parcialmente, 
receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais 
previdenciárias. A pena cominada para o crime em tela é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. 
 
 
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Penalização (sanções penais) 
 
 No direito penal, detenção e reclusão são penas impostas a uma pessoa física. A pena é a 
medida aplicada a quem viola a lei penal. De acordo com o atual código penal, elas são divididas em: 
privativas de liberdade, restritivas de direito e multa; e, os regimes de cumprimento de pena são fechado, 
aberto e semiaberto. Penas de privação de liberdade são as de reclusão e detenção. A diferença entre 
reclusão e detenção é o regime. A pena de reclusão é mais severa e deve ser cumprida em regime fechado, 
aberto ou semiaberto. 
 A pena de detenção pode ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, exceto quando há a 
necessidade de transferi-la para regime fechado. A detenção é também uma forma de prisão preventiva. 
 Em regime semiaberto, a execução da pena se dá em colônia penal agrícola, industrial ou em 
algum outro estabelecimento parecido. Em regime aberto, cumpre-se a pena em casa de albergado ou outro 
lugar adequado para isso. 
 
Em resumo: Na reclusão, o regime de cumprimento de pena poderá, no limite, ser o fechado; já na 
detenção, o mais rigoroso, será o semiaberto. A prisão preventiva é, de regra, possível nos crimes 
apenados com reclusão; já os crimes apenados com detenção são, de regra, afiançáveis. A pena de 
reclusão deverá ser executada em primeiro lugar, ou seja, com prioridade sobre a de detenção. A prisão 
simples, por sua vez, deve ser cumprida sem rigor o penitenciário dado ao recluso ou detento e o 
condenado deve ficar em separado desses outros. 
 
Responsabilização Penal 
 
 Talvez a parte que mais interesse ao leitor seja esta, pois ninguém quer ser responsabilizado 
por um acidente ou enfermidade do trabalho. Essa responsabilização – como será visto a seguir, repercute 
na esfera civil com a imposição de indenização por danos materiais e morais -, na esfera penal, submete o 
agente causador do acidente-doença, em penas privativas de liberdade (reclusão, detenção e prisão), multa 
ou penas restritivas de direitos. A responsabilização diz respeito à pergunta implícita ao objeto jurídico 
tutelado, qual seja: quem é o culpado? 
 Há uma conotação da terminologia culpa (lato sensu) em sentido largo, extenso, geral, que o 
leitor deve discernir, pois abrange inclusive o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de causar algum dano 
a outrem, que é diferente da culpa stricto sensu (no sentido restrito, literal), à qual abrange apenas as três 
modalidades da culpa: imprudência, negligência ou imperícia, como será visto mais à frente. Nesta obra, 
sempre se falará em culpa em sentido restrito. 
 Finalmente, a responsabilidade subjetiva pressupõe a vontade ou, pelo menos, a consciência 
da possibilidade de causar o dano, pelo agente. Mas, que é dolo? Que é culpa? 
 
Caso para Avaliar 
 
 
 
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 A seguir, faz-se explicação direcionada ao profissional prevencionista, recorrendo, para 
melhor compreensão, a um caso hipotético baseado, em um exemplo-âncora, que servirá, deste tópico em 
diante, para exemplificando, conferir caráter prático a esta obra. 
 Exemplo-âncora: Um engenheiro de segurança do trabalho ao atestar (em laudo de 
insalubridade) ou identificar, reconhecer, avaliar ou monitorar (em programa de prevenção do risco 
ambiental) a existência de ruído (grave e contínuo) além da dose unitária
2
 (limite máximo permitido por norma 
brasileira), poderá responder criminalmente por lesão corporal
3
 decorrente de perda auditiva, irreversível, 
bilateral, neurossensorial de trabalhador desenvolvida no ambiente de trabalho? 
 
Responsabilização Penal Dolosa 
 
 O conceito de dolo posto pelo ordenamento jurídico brasileiro se extrai da redação do Inciso I 
do artigo 18 do Código Penal Brasileiro, que diz: crime doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu 
o risco de produzi-lo.(grifo do autor) 
 Na primeira parte do artigo mencionado, antes do “ou”, a lei refere-se ao chamado dolo 
direto, presente nos crimes em que o autor queria o resultado obtido. Na segunda parte do artigo, a lei refere-
se ao chamado dolo eventual, que não pressupõe a existência da vontade do agente em atingir o resultado, 
mas se caracteriza pela consciência do agente de que poderia atingir tal resultado e, mesmo assim, pratica o 
crime. O autor, então, assume o risco de produzir aquele resultado. 
 Na primeira parte o legislador adotou a teoria da vontade (vontade de realizar a conduta e 
produzir o resultado); e na segunda, teoria do assentimento (vontade de realizar a conduta, assumindo o 
risco da produção do resultado). 
 Cabe destacar que desejo e vontade se diferenciam. O primeiro seria o sentimento interior, 
psíquico,já a vontade tem de se exteriorizar através de um comportamento, normalmente quando há vontade 
existe desejo. Exemplo de vontade sem desejo seria quando o coagido, sob coação moral irresistível, realiza 
um ilícito; por outro lado, pode existir desejo sem vontade, na situação do indivíduo que tem um tio rico e 
quer que ele morra logo para herdar sua fortuna, só que nada faz para que o tio morra, ficando apenas no 
desejo. 
 Define-se dolo como o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade de concretizar as 
características objetivas do tipo. Em outras palavras é a consciência de vontade na realização da figura 
típica. 
 Assim, têm-se os elementos do dolo: 
 consciência da conduta e do resultado (cognitivo); 
 consciência do nexo causal (cognitivo) e a, 
 vontade de realizar a conduta e produzir o resultado (volitivo). 
Nota-se que o dolo é natural e, por isso, não contém a consciência da ilicitude, que se situa no âmbito da 
culpabilidade. 
 
2 Equivale a 85 dB (A) para uma jornada de 8h. 
3 Lesão corporal - Art. 129: Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o 
trabalho. Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
 
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 Apenas para fins didáticos – não há essa distinção na lei –, apresentam-se em seguida as 
espécies de dolo mais afetas à matéria prevencionista: 
a) direto - teoria da vontade (o agente quer certo e determinado resultado). 
b) alternativo – tipo de dolo indireto, em que o agente quer um ou outro resultado, 
p.ex.: matar ou ferir. Tanto faz. 
c) eventual - teoria do assentimento no qual o agente não quer o resultado, mas realiza 
o comportamento apesar de saber possível a ocorrência do mesmo. Entre desistir da 
conduta e produzir o resultado, prefere prosseguir assumindo o risco. 
d) de dano - o agente quer ou assume o risco de causar uma lesão efetiva. 
e) de perigo - O agente quer ou assume o risco de expor o bem jurídico a um perigo de 
dano, mas não quer o dano propriamente dito. 
 
 Entre as espécies de dolo, a distinção mais importante é entre dolo direto e dolo eventual, 
pois no primeiro se quer diretamente o resultado; no eventual, ocorreria quando o autor assume o risco de 
produzir o resultado. Segundo Mirabete justifica-se a equiparação do dolo direto ao dolo eventual na 
legislação penal porque arriscar-se conscientemente a produzir um resultado vale tanto quanto querê-lo. 
(grifo do autor) 
 Há uma proximidade muito grande entre dolo eventual e culpa consciente, porque em ambos 
o autor consegue prever o resultado, porém no dolo eventual o autor assume o risco de produzir o resultado, 
todavia, com ele não se importado; enquanto que na culpa consciente, esse mesmo autor acredita e não 
quer que o resultado aconteça. Apesar de próximos, tais tipos se diferenciam em muito quanto às 
consequências processuais e penas cominadas, pois o primeiro poderá ir a júri popular (crime doloso contra 
a vida) com pena de reclusão, daí o inquérito policial e a denúncia do Ministério Público serem determinantes 
ao desenrolar e ao desfecho do caso. 
 A maioria das responsabilizações, afora a culposa, dos profissionais prevencionistas recai no 
dolo eventual, pois em sã consciência, ninguém quer acidentar-adoecer trabalhador algum. Retoma-se o 
exemplo-âncora quanto à responsabilização do Engenheiro de Segurança do Trabalho abrindo as primeiras 
possibilidades de respostas (tocante, por enquanto, apenas ao dolo) à pergunta: responderá criminalmente? 
 Sim. Na condição de acusado por crime doloso (eventual), pois especialista que é no assunto e 
plenamente cônscio do desequilíbrio e agressividade desse meio-ambiente do trabalho, sonoramente 
poluído, não tomou providência alguma no sentido de saneá-lo. Apesar de não querer o resultado, 
esse engenheiro sabia exatamente - tanto é que atestou isso nos laudos – sobre o nexo de 
causalidade entre a energia acústica descontrolada e a perda auditiva, mas, mesmo assim, assumiu 
o risco de produzi-lo ao não fazer nada em termos preventivos. 
 Sim. Na condição de acusado por crime doloso (eventual), em circunstâncias iguais ao item anterior, 
assume risco, e, por isso, pode ser acusado, ainda que tome providências, que ao final e ao cabo, 
sejam inapropriadas e inefetivas (ineficazes e ineficientes). Como por exemplo, prescrever, 
isoladamente, o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) - medida paliativa e de “fachada” 
apenas para ficar bem com patrão e dar um “ar” de proteção ao trabalhador. Tais EPI, é sobejamente 
sabido, só devem ser prescritos como medidas, individuais, complementares àquelas de natureza 
 
 
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administrativa ou coletiva e mesmo assim inseridas e concatenadas em um sistema de gestão e de 
prevenção de riscos. 
Demais possibilidades dependem das definições sobre culpa, dispostas no tópico seguinte, a conferir. 
 
Responsabilização Penal Culposa 
 
 O conceito de culpa, estrito senso, posto pelo ordenamento jurídico brasileiro se extrai da 
redação do Inciso II (artigo 18 do Código Penal Brasileiro) que diz: crime doloso quando o agente deu causa 
ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
 Diz a doutrina que o dolo está na cabeça do agente, assim como a culpa, na do juiz. Apenas 
na cabeça do agente se passa o dolo (natureza psicológica). A culpa depende do cotejamento do julgador 
(natureza normativa). Em outras palavras, a norma de culpa nasce de uma comparação entre a conduta 
realizada pelo agente e aquela conduta do homem de prudência média que estivesse no lugar do agente, 
sob as mesmas condições. O juiz imaginando esse homem-modelo no lugar do agente poderá absolvê-lo se 
perceber que o homem-modelo faria a mesma coisa que o agente. 
 No crime doloso, quando presenciado por algumas pessoas, não existe dúvida sobre o dolo 
do agente. Já no crime culposo, igualmente presenciado, haverá uma divergência de opiniões não estando à 
conduta do agente tão clara quanto no tipo doloso. 
 Entende-se assim o crime culposo como aquele cuja conduta voluntária (ação ou omissão) 
produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a 
devida atenção, ser evitado. Cinco são os elementos do crime culposo: 
a) a conduta – é o elemento do fato típico culposo, não importando o fim do 
agente, mas o modo como ele atua. 
b) a inobservância do dever de cuidado objetivo - inobservância de um dever de 
cuidado (imprudência, negligência e imperícia). Quem vive em sociedade deve 
atuar com cuidado de modo a não causar danos a terceiros; caso não venha a fazê-
lo responderá por ter faltado com o dever de cuidado objetivo exigível do homem 
comum. 
c) o resultado lesivo involuntário - sem resultado não há crime culposo, ainda 
que o agente tenha agido de forma descuidada. Em si mesma, a inobservância do 
dever de cuidado não constitui conduta típica porque é necessário outro elemento 
do tipo culposo: o resultado. Só haverá ilícito penal culposo se da ação contrária ao 
cuidado resultar lesão a um bem jurídico. 
d) a previsibilidade - se o fato for previsível, pode o agente, no caso concreto, 
prevê-lo ou não. Não tendo sido previsto o resultado, existirá a chamada culpa 
inconsciente; se previsto, pode ocorrer a culpa consciente ou dolo eventual. 
Inexistente a previsibilidade, não responde o agente pelo resultado, ou seja, 
inexiste o crime culposo. Em outras palavras, é a possibilidade de antevisão do 
resultado, nas condições em que o indivíduo se encontrava. Não se pode exigir do 
indivíduo a previsão do imprevisível. A previsibilidade (prever o resultado de seu 
ato) só pode ser aferida sob a ótica do sujeito nas circunstâncias em que se 
 
 
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encontrava. A condição mínima de culpa em sentido estrito é a previsibilidade; ela 
não existe se o resultado vai além da previsão. 
e) a tipicidade– é determinada através da comparação entre a conduta do agente 
e o comportamento presumível que, nas circunstâncias, teria uma pessoa de 
discernimento e prudência ordinários. É típica a ação que provocou o resultado 
quando se observa que o agente não atendeu ao cuidado e à atenção adequados 
às circunstâncias. Em suma, a culpa, à semelhança do dolo, é uma atitude contrária 
ao dever; portanto, reprovável da vontade. 
 Dessas definições, destacam-se algumas importantes regras. O crime culposo não admite 
tentativa. No culposo o agente atinge um resultado por ele não desejado, enquanto que na tentativa, ao 
contrário, o agente não consegue atingir o resultado. Outro ponto, diz respeito ao caráter de 
excepcionalidade do culposo, pois em regra geral os tipos são dolosos. Para tipificação, o culposo tem que 
estar expressamente previsto (não se presume). 
 Há três modalidades de culpa (formas de manifestação da falta do cuidado objetivo): 
imprudência (prática de um fato perigoso); negligência (ausência de precaução ou indiferença em relação ao 
ato realizado) e imperícia (falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão). 
 Na imprudência o agente realiza uma conduta que a cautela indica que não deve ser 
realizada, enquanto que na negligência o sujeito deixa de fazer alguma coisa que a prudência impõe. A 
doutrina ensina que a imprudência é positiva (o sujeito realiza uma conduta) e a negligência, negativa (o 
sujeito deixa de fazer algo imposto pela ordem jurídica). 
 Em outras palavras, a imprudência é a falta de cautela, a afoiteza ou a precipitação do 
agente em contradição com as normas do procedimento racional. A negligência significa desprezar, 
desatender, faltar com a diligência na prática ou realização de um ato. Em termos jurídicos pode-se concluir 
pela omissão ou não observância de um dever a cargo do agente, compreendido nas precauções 
necessárias para que fossem evitados danos não desejados e, por conseguinte, evitáveis. 
 A imperícia (do latim imperitia, de imperitus) significa inexperiente, não hábil. Em termos 
jurídicos corresponde à falta de prática ou à ausência de conhecimentos necessários ou precisos ao 
exercício de determinada profissão ou de alguma arte. Espera-se que o químico, o eletricista, o motorista, o 
médico, o engenheiro, o farmacêutico, entre tantos outros, possuam aptidão teórica e prática para o exercício 
de suas atividades
4
. 
 É possível que esses profissionais, em face de ausência de conhecimento técnico ou de 
prática, no desempenho de suas atividades venham a causar dano a interesses jurídicos de terceiros. Tem-
se então a imperícia que não se confunde com erro profissional. 
 O erro profissional é um acidente escusável, justificável e, de regra, imprevisível, que não 
depende do uso correto e oportuno dos conhecimentos e regras da ciência. Esse tipo de acidente não 
decorre da má aplicação de regras e princípios recomendados pela ciência. Deve-se à imperfeição e 
precariedade dos conhecimentos humanos, operando, portanto, no campo do imprevisto e transpondo os 
limites da prudência e da atenção humanas. 
 Embora o profissional não tenha carta branca, não pode, ao mesmo tempo, ficar limitado por 
dogmas inalteráveis. Tendo agido racionalmente, segundo os preceitos fundamentais geralmente aceitos, ou, 
 
4 inabilidade para o desempenho de determinada atividade fora do campo profissional ou técnico tem sido considerada na modalidade 
de culpa imprudente ou negligente. 
 
 
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quando deles se afastar, o fizer por motivos justificáveis, não terá de prestar contas à justiça penal, por 
eventual resultado fatídico. Essa ousadia responsável e consentida é o preço que se paga à evolução das 
práticas e saberes humanos. 
 Em resumo, enquanto a imperícia é um erro grosseiro, que a média dos profissionais de 
determinada área não cometeria, em circunstâncias normais, o erro profissional faz parte da precariedade 
dos conhecimentos humanos, pois nem todos possuem o mesmo talento, a mesma cultura e idêntica 
habilidade. Assim, quando houver erro, resolve-se na esfera civil, ao contrário da culpa por imperícia, que 
recai na esfera penal com repercussões cíveis. 
 Nessa altura, percorridas as definições básicas, resta agora diferenciar, dentre tantas, as 
duas espécies de culpa afetas aos profissionais da área prevencionista, a saber: 
 A culpa inconsciente existe quando o agente não prevê o resultado que é previsível. Não há 
no agente o conhecimento efetivo do perigo que sua conduta provoca para o bem jurídico alheio. 
 A culpa consciente (também chamada culpa com previsão) ocorre quando o agente prevê o 
resultado, mas espera, sinceramente, que não ocorrerá. Há no agente a representação da possibilidade do 
resultado, mas ele a afasta por entender que o evitará, que sua habilidade impedirá o evento lesivo que está 
dentro de sua previsão. 
 A culpa consciente se avizinha do dolo eventual, mas não são sinônimos, como visto no 
tópico anterior sobre a definição de dolo. Na culpa, o agente, embora prevendo o resultado, não o aceita 
como possível (se continuar dirigindo assim, é possível matar alguém, mas se acredita que isso, embora 
possível, não ocorrerá). No dolo, o agente prevê o resultado, não se importando que venha ele a ocorrer (se 
continuar assim, é possível matar alguém, mas não importa; se acontecer, tudo bem!). O traço distintivo entre 
ambos, portanto, é que no dolo eventual o agente diz: não importa, enquanto na culpa consciente supõe: é 
possível, mas não vai acontecer de forma alguma. 
 Pela lei penal estão equiparadas a culpa inconsciente e a culpa com previsão, pois tanto vale 
não ter consciência da anormalidade da própria conduta, quanto estar consciente dela, mas confiando, 
sinceramente, em que o resultado lesivo não sobrevirá. Quanto ao dolo eventual, este se integra por estes 
dois componentes - representação da possibilidade do resultado e anuência a que ele ocorra, assumindo o 
agente o risco de produzi-lo. Igualmente, a lei não o distingue do dolo direto ou eventual, punindo o autor por 
crime doloso. 
 Finalmente, não existe na ordem jurídica brasileira a forma de responsabilidade penal 
objetiva (culpa presumida). Assim, a culpa deve ficar provada, não se aceitando presunções ou deduções 
que não se alicercem em prova concreta e induvidosa. 
Dando prosseguimento (no tocante agora à culpa) ao exemplo-âncora (Engenheiro de Segurança do 
Trabalho), avança-se sobre as possibilidades de respostas à pergunta: responderá criminalmente? 
 Sim. Na condição de acusado por crime culposo (imprudência), na espécie de culpa consciente, pois 
a despeito de consistente história de exames auditivos alterados, o engenheiro age sem a cautela 
devida ao prescrever indiscriminadamente EPI auriculares para todos os setores ruidosos sem tomar 
o cuidado de estudar o meio ambiente do trabalho em profundidade. A seleção dos EPI depende 
desse estudo sobre o mapeamento dinâmico das bandas de frequências em função do ritmo e 
peculiaridades de produção, bem como dos tempo-e-movimentos dos trabalhadores separados em 
grupos homogêneos de exposição – GHE, para fins de apuração de dose. Só depois de elaborar o 
espectro acústico seria possível, em tese, discriminar os EPI, mesmo assim como medida 
 
 
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excepcional e complementar, restrita apenas aos poucos ambientes com ruído agudo, pois a maioria, 
como dito no enunciado, era de natureza grave (grande comprimento de onda) e, portanto não se 
combate com EPI. 
 Sim. Na condição de acusado por crime culposo (negligência) – pois, ao receber os relatórios do 
programa de monitoramento biológico dos trabalhadores com os resultados dos exames 
audiométricos alterados - não adotou medidas administrativas nem coletivas que a situação exigia, 
tais como solicitar paralisação das atividades até que medidas assépticas efetivas fossemimplementadas ou, nesse ínterim, caso persistisse a produção, definir escala de trabalho cuja dose 
acumulada para cada trabalhador (GHE) não ultrapassasse a unitária. 
 Sim. Na condição de acusado por crime culposo (imperícia), pois, cometeu dois erros grosseiros de 
avaliação acústica ambiental: i) referente ao manuseio, parametrização, seleção e interpretação 
equivocados da aparelhagem de audiodosimetria (deficiência prática), juntamente com falhas 
algébricas nas operações de cálculo diferencial das curvas de fons, elaboradas a partir da leitura 
desses instrumentos (deficiência teórica), combinado com o segundo erro ii) a enviesada estratégia 
de coleta de amostras, uma vez que desconsiderou para seleção dos GHE as peculiaridades de 
produção, tais como ritmo e flutuação de carga processada, tempo-e-movimentos dos trabalhadores, 
matéria prima processada, turno de trabalho, sazonalidade, ruídos de fundo e reverberação, entre 
outras, (deficiência teórica) de forma a prejudicar absolutamente a conclusão dessa avaliação, 
embora por sorte tenha acertado quanto à insalubridade, que atribuiu ao ambiente um perfil ruidoso 
do tipo agudo, quando em verdade, como já mencionado, era do tipo grave. 
 Por motivos óbvios, em se tratando de uma situação hipotética, apenas com fins didáticos, 
esse exemplo-âncora desconsidera uma gama de elementos e detalhes que são fundamentais à convicção 
de materialidade do crime, todavia, ao se cotejar as definições com as respostas acima fica clara a presença 
dos cinco elementos de crime culposo (conduta; a inobservância do dever de cuidado; o resultado lesivo; a 
previsibilidade e a tipicidade). 
 Cabe ressaltar que a linha fronteiriça entre as resposta-âncoras 2 e 3 é muito tênue. Trata-se 
de um crime por dolo eventual ou por culpa consciente por imprudência? A verdade está em algum ponto 
entre os extremos de uma grande interseção existente entre esse dois conjuntos de representação penal. 
 Se de um lado extremo o agente simplesmente não se importa com o resultado; de outro, 
não acredita que ele ocorra. É muito sutil. Para se fazer o deslinde, entra-se, portanto na esfera 
personalíssima do engenheiro: ele não se importou ou não acreditou? Daí a importância de um competente 
inquérito policial. 
 Sem dúvida, há um sujeito passivo, há uma lesão corporal (vítima) produzida por ruído 
ambiental decorrente da conduta do engenheiro, que inobservou os cuidados necessários à prevenção de 
lesão corporal, tecnicamente previsível e prevenível, de causalidade cientificamente provada e conexa, 
biologicamente esperada, cuja tipicidade (imprudência, negligência e imperícia) está dada pelo inciso II do 
artigo 18 do Código Penal. 
 Resta dúvida quanto à autoria, pois não se sabe se o engenheiro agiu sozinho, se houve 
culpa concorrente de outros agentes, nas linhas hierárquicas superiores e inferiores, e até mesmo na 
horizontal, haja vista concurso da medicina e de enfermagem do trabalho na gestão dos riscos ambientais. O 
tópico seguinte adentra a questão da autoria (sujeito ativo). 
 
 
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 Porém, se deve lembrar que antes mesmo do (resultado) crime de lesão corporal ser 
consumado (diagnóstico de perda auditiva, irreversível, neurossensorial e bilateral), cujo bem jurídico 
ofendido foi a integridade física do trabalhador, houve violação da norma penal em outros dois tipos penais. 
Explica-se melhor recorrendo e colocando mais tempero no exemplo-âncora para responder à pergunta: 
poderia ser imputado ao engenheiro a autoria de outros tipos penais? 
 Sim. Na condição de acusado por crime de periclitação da saúde de outrem, pois é razoável concluir 
que em momentos anteriores à lesão corporal (dolosa ou culposa a depender das evidências 
colhidas no inquérito policial) houve exposição ao fator de risco ruidoso descontrolado, até porque a 
lesão, nesse caso, não acontece traumaticamente, dado que só se consuma depois de acumulação 
de doses além da tolerada. Pois bem, nessa situação diz o código penal no artigo 132 que expor a 
vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente constitui crime punível com detenção, de 3 
(três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime mais grave. 
 Não. Materialmente houve contravenção penal por deixar a empresa de cumprir as normas de 
segurança e higiene do trabalho, nos termos do parágrafo 2º do art. 19 da lei nº. 8.213/91, quando no 
exemplo-âncora, antes mesmo de ultrapassar a dose unitária, se alcançou 50% da dose
5
, patamar 
sonoro – nível de alerta, chamado pela norma de prevenção de nível de ação
6
 – que determina 
atitudes concretas exatamente para se evitar o pior: ultrapassar o nível máximo permitido. 
Excepcionalmente, o sujeito ativo – o agente – deste tipo penal é a empresa. Neste caso, não se 
cogita, pelo texto legal, a possibilidade de imputação ao engenheiro. Apenas à empresa, como a 
seguir será discutido. 
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo da Infração Penal 
 
 Sujeito passivo é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. O Estado, titular do 
mandamento proibitivo violado, é sempre lesado pela conduta criminosa. Diz-se, neste caso, que ele é sujeito 
passivo constante ou formal. Sujeito passivo de fato é a pessoa física que sofre os efeitos do delito (vítima do 
crime). A pessoa jurídica (entidade) pode ser sujeito passivo de crime, pois tem patrimônio, reputação 
(difamação), imagem e bens intangíveis. Sujeito ativo ou agente é a pessoa física que comete o crime. Em 
regra, só o ser humano, maior de 18 anos, pode ser responsabilizado (sujeito ativo de uma infração). Mas, há 
exceções, como a seguir discutido. 
Pessoa Jurídica como Sujeito Ativo de Infração Penal 
 
 A CRFB-88 inovou e trouxe a pessoa jurídica para a sujeição ativa de crimes no tocante à 
conduta e atividades lesivas ao meio ambiente
7
. Posiciona-se assim a empresa como infratora, sujeita a 
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar dano. Esse dispositivo foi 
regulamentado pela Lei 9.605/98 que efetivou a responsabilidade penal da pessoa jurídica que cometer crime 
ambiental. 
 
5 Equivale a 80 dB (A) para uma jornada de 8h 
6
 Alínea “b” do item 9.3.6.2 da NR 09 http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/nr_09_at.pdf 
7 A possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito ativo de crime existe na Constituição Federal, mais precisamente nos arts. 173, § 5º e 
225, § 3º. Com o advento da Lei nº 9.605/98, se institui tipificou a responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
 
 
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 A doutrina tem se inclinado a considerar que a pessoa jurídica é capaz de vontade, 
caracterizada pela reunião, deliberação ou pelo voto da assembleia-geral de seus membros, sendo essa 
vontade coletiva capaz de cometer crimes. É claro que a empresa por si só não comete os atos delituosos. 
 Ela o faz através de alguém. Só poderá haver persecução penal contra a pessoa jurídica se 
presentes os seguintes requisitos: i) a infração individual há de ser praticada no interesse da pessoa coletiva; 
ii) a infração individual não pode situar-se fora da esfera de atividade da empresa; iii) a infração cometida 
pela pessoa física deve ser praticada por alguém que se encontra estreitamente ligado à pessoa coletiva e iv) 
a prática da infração deve ter o auxílio do poderio da pessoa coletiva. 
 Abre-se um parêntesis ao lembrar que meio ambiente do trabalho está contido no tipo penal 
ambiental. As penas evidentemente são aquelas compatíveis com a sua condição: multa e proibição de 
contratar com poder público, entre outras. 
 Conforme visto na resposta-âncora 7, com base no parágrafo 2º do art. 19 da lei nº. 8.213/91, 
há responsabilidade penal da pessoa jurídica pelo descumprimento das normas de segurança e medicina do 
trabalho punível com multa em consonância ao art. 49 do código penal, no que tange à pena pecuniária. 
Hipótese clara de responsabilidadepenal da pessoa jurídica no direito pátrio, regulamentando, nesta matéria, 
parágrafo 5º do art. 173 e o parágrafo 3º do art. 225 da CRFB-88
8
 
9
. 
 Esse texto legal não deixa dúvidas quanto à responsabilização penal da pessoa jurídica. O 
conceito de meio ambiente inserido no citado dispositivo engloba obviamente o ambiente de trabalho, 
conforme propugna o inciso VIII do art.200 da CRFB-88
10
. 
 Em que pese o avanço nesse campo do direito, convive-se ainda com a insuficiência de 
critérios de quantificação da pena pecuniária previsto no código penal e, portanto inadequados, para a 
proporcional penalização da pessoa jurídica. A ausência de um maior detalhamento ou mesmo de qualquer 
disposição acerca da forma de punição da empresa é o indicador mais veemente da impossibilidade de 
aplicação deste dispositivo para puni-la criminal e penalmente. Não é possível aplicar a empresa os critérios 
utilizados para penalização da pessoa física, do indivíduo; pelo menos não de forma absoluta. 
Discussão sobre foro penal trabalhista: qual justiça? 
 
 A justiça do Trabalho, desde a sua criação, vem se ajustando para melhor solucionar os 
conflitos decorrentes das relações de trabalho, que estão a cada dia mais complexas, abrangendo o direito 
substancial intimamente relacionado com os conflitos sociais decorrentes da relação capital versus trabalho. 
Dentre essas matérias, deslocadas para a justiça do Trabalho com a Emenda Constitucional n. 45/2004, que 
alterou as regras de competência desse ramo do Poder judiciário, encontram-se as lides de natureza jurídica 
penal trabalhista, objeto de intenso debate na doutrina nacional. Com efeito, os principais argumentos 
utilizados para o deslocamento de competência penal para a justiça do Trabalho são: 
a) a modificação do critério subjetivo, empregador e trabalhador, para o objetivo, 
relação de trabalho; 
 
8
 § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções 
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
9
 lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a 
às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular 
10
 colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho 
 
 
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b) a existência de previsão constitucional expressa para o julgamento do habeas 
corpus, ação constitucional de caráter penal; 
c) a aplicação da Súmula do extinto TFR nº 115 determinando a competência da 
justiça Federal para o julgamento dos crimes contra a organização do trabalho 
coletivamente considerados; 
d) o deslocamento da competência para julgar os conflitos decorrentes da greve 
das justiças Comuns, Estadual e Federal, para a justiça do Trabalho, atraindo 
consigo a competência para o julgamento de matéria criminal. 
 Efetivamente, a Reforma do judiciário, realizada pela EC nº 45/2004 modificou o critério de 
competência da justiça do Trabalho para o julgamento das relações de trabalho, lato sensu consideradas, 
conforme o inciso I do art. 114 da Constituição Federal, o que de per si já configura uma cláusula de abertura 
ao julgamento de outras matérias. 
 Nesse aspecto, a doutrina e a jurisprudência são unânimes. Os Ministros do Supremo 
Tribunal Federal decidiram, em modificação do entendimento anterior, que os conflitos decorrentes do 
acidente do trabalho, envolvendo trabalhadores e seus tomadores de serviço, empregadores ou não, serão 
julgados na justiça do Trabalho (CC nº 7.204), considerando essa a interpretação adequada do inciso VI, do 
art. 114 da Constituição Federal, antes e depois da modificação de sua redação pela EC nº 45/2004, o que 
somente não tinha sido declarado anteriormente pela Corte Constitucional em virtude da influência das 
interpretações das Constituições da República anteriores. 
 Assim, apesar da atual rejeição unânime da atribuição de competência penal à justiça do 
Trabalho, nada impede que a Corte reformule o seu entendimento, tal como ocorreu com o precedente 
mencionado, mesmo porque a decisão liminar na ADI nº 3.684/2006 excedeu os limites impostos pelo 
ordenamento pátrio às interpretações realizadas pela Corte Constitucional. 
Direito Penal Administrativo 
 
 As atividades profissionais podem ser exercidas por qualquer pessoa, exceto se houver 
algum fato contrário à lei e que expressamente venha proibir o exercício profissional. O art. 5.º, inciso XIII da 
CRFB-8811 prevê as limitações para o exercício das profissões regulamentadas, cujas atividades para serem 
exercidas, terão que obedecer à legislação específica que se destinam a zelar pela fiel observância dos 
princípios da ética e da disciplina da classe profissional. 
 Embora afirme que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, faz 
restrição quando se trata do exercício profissional e diz que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou 
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. 
 Ser livre para o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão como determina a primeira 
parte do mandamento constitucional, significa que qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e não 
estando impedido por legislação específica, pode escolher a atividade profissional de sua preferência. 
Entretanto, esta liberdade, para ser exercida, carece de alguns pré-requisitos, especialmente quando se 
tratar de profissão legalmente regulamentada. 
 Algumas atividades profissionais podem ser exercidas sem dificuldades quanto às questões 
formais, não se exigindo legalmente nestes casos qualquer documentação ou diploma oficial. Se, por 
exemplo, alguém deseja ser eletricista, basta conhecer alguns princípios básicos da eletricidade, dedicar-se 
 
 
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para adquirir prática. O próprio interessado assume a condição de profissional da sua área intitulando-se 
eletricista. Nesse caso, e outros semelhantes, têm-se as chamadas profissões livres, cujo exercício não 
depende de autorização legal, sendo necessário e suficiente o conhecimento técnico respectivo. 
 A segunda parte do mandamento estabelece a possibilidade da restrição legal da liberdade 
para o exercício de certas profissões, quando diz atendidas as qualificações profissionais que a lei 
estabelecer. Assim as profissões legalmente regulamentadas, ou seja, àquelas que foram criadas por lei que 
define as condições, prerrogativas, atribuições, etc., para o exercício destas atividades. Exemplos: advogado, 
médico, engenheiro, enfermeiro (criadas e regulamentadas por legislação federal). Para esse tipo de 
profissão, não basta aprender ou ter habilidade de fato para desempenhar o trabalho. É indispensável que se 
conquiste o direito de exercer tais atividades através da formação acadêmica e do registro do diploma no 
respectivo Conselho ou Órgão Fiscalizador da Profissão. Tem-se que atender às qualificações profissionais 
que a lei específica estabelecer. 
 As leis que criam as profissões geralmente preveem autonomia administrativa e financeira 
aos respectivos Conselhos ao deixar vêm expresso que os mesmos são dotados de personalidade jurídica 
de direito público, sendo que outras leis preferem apontá-los, desde logo, como autarquias federais. 
 Com essa base é possível aprofundar quanto à questão penal relativa ao exercício 
profissional que está inserida no campo do direito penal administrativo, por força do poder normativo, 
disciplinar e de polícia, delegado por lei, segundo o qual há um órgão de fiscalização específico (conselho de 
profissão) para assegurar idôneo tal exercício, bem como os serviços por esses profissionais prestados à 
sociedade: eis o bem jurídico tutelado. 
 O Direito Penal administrativonão se constitui matéria penal, mas um ramo paralelo deste, 
afinal a natureza da pena administrativa tem duplo caráter (reparador e preventivo) enquanto a coerção do 
Direito Penal busca exclusivamente a prevenção especial, ao passo que o resto da ordem jurídica procura a 
reparação. O poder disciplinar dos Conselhos é instrumentalizado pelas sanções disciplinares
11
 em sede 
administrativa que não se confunde com a sanção penal, em sede judicial, como visto. 
 Todavia há comunicação dos efeitos do penal no penal administrativo, pois havendo 
condenação penal transitado em julgado repercute na cassação de habilitação do profissional nos 
respectivos conselhos de profissão com base em uma redação-geral dessas leis profissionais que dizem que 
a condenação criminal transitada em julgado por crime diretamente relacionado ao exercício profissional 
receberá a sanção cassação ou cancelamento 
 Assim, no caso, do engenheiro do exemplo-âncora, além de reclusão ou detenção (sanção 
penal), recebe pena de cassação de registro (sanção administrativa). Não havendo aquela, ainda sim poderá 
receber demais sanções administrativas, conforme lei específica da profissão. A Figura a seguir indica a 
hierarquia das normas penais administrativas, desde a lei até as resoluções dos conselhos, passando pelos 
respectivos códigos de ética. 
 A figura abaixo indica a hierarquia das normas penais administrativas, desde a lei até as 
resoluções dos conselhos, passando pelos respectivos códigos de ética. 
 
 
11
 Em regra as penalidades aplicáveis por esses conselhos são: advertência escrita reservada; censura pública; multa; suspensão 
temporária do registro e cassação do registro. 
 
 
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Visã o Civil dã Sãú de do Trãbãlhãdor 
 
 Um dos principais objetivos deste trabalho é sensibilizar o profissional prevencionista para a 
importância da apropriação e apreensão da lei, pois ela é seu principal instrumento de trabalho no tocante à 
garantia da saúde do trabalhador. Se, no direito penal, o enfoque é a (responsabilização) sanção pelo 
cometimento de ilicitude; no direito civil, busca-se a (responsabilização) reparação das perdas e danos (in 
demne do latim). Daí a terminologia “indenização”
12
. 
 Essa responsabilidade civil está vinculada ao direito obrigacional, uma vez que o dever de 
reparar o dano é o resultado central da prática do ato ilícito, obrigação1 essa de caráter pessoal que se 
resolve em perdas e danos. 
 Portanto, aquele que causa um dano, através de uma ação ou omissão, tem o dever de 
ressarcir o lesado do prejuízo, que nem sempre é material apenas, podendo caracterizar-se por uma ofensa 
moral, conforme art. 186 do CC: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
Obrigação entendida como o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de 
determinada prestação. A característica principal da obrigação consiste no direito conferido ao credor de cobrar o 
pagamento da prestação. É o patrimônio do devedor que responde por suas obrigações . Essa obrigação advém da 
vontade humana, mediante contratos, declarações de vontade ou de atos ilícitos, ou ainda por força de lei (vontade do 
Estado). 
 
 Resumo: a responsabilidade civil traduz a obrigação da pessoa física ou jurídica ofensora de 
reparar o dano causado por conduta que viole um dever jurídico (preexistente implícito ou expresso na lei) de 
não lesionar. 
 Nesse sentido vale a pena discorrer, ainda que superficialmente, sobre as 04 modalidades de 
responsabilização civil em matéria acidentária, como desdobramento das teorias do risco, adiante discutidas, 
a saber: 
 A responsabilidade objetiva do INSS para com os benefícios; 
 A responsabilidade objetiva da empresa para com acidentado, ou seus dependentes, quando 
consumar em acidente do trabalho os riscos inerentes ao seu meio ambiente do trabalho. 
 A responsabilidade subjetiva do empregador para com acidentado ou seus dependentes, quando 
aquele agiu com dolo ou culpa; e, 
 A responsabilidade subjetiva da empresa para com órgão previdenciário, que pagou o benefício de 
forma objetiva, mas que prova a negligencia da empresa, e nesse caso reclama em juízo o retorno 
(direito regressivo) uma vez que o seguro social, ampara o acidentado, porém regride contra a 
empresa que descuidou do meio ambiente do trabalho. Inclui-se nessa modalidade o direito de 
regresso da empresa contra os profissionais prevencionistas responsáveis por essas atitudes que 
culminaram no acidente. 
 
 
 
12
 Oliveira-Albuquerque, PR. Uma Sistematização da Saúde do Trabalhador: Do Exótico ao Esotérico. Editora LTr 2011. 1ª Edição. 
São Paulo-SP. 
 
 
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A figura abaixo apresenta um diagrama que esquematiza essas responsabilidades 
 
 
 É importante que se tenha clara a distinção entre as quatro possíveis formas de 
responsabilidade civil na legislação acidentária. Cada uma delas parte de fundamentos legais diversos e se 
baseiam em circunstâncias que não se comunicam. 
 A imputação pode ser por responsabilidade subjetiva ou objetiva. A subjetiva se baseia na 
comprovação da culpa por parte do agente causador do dano. Já a objetiva dispensa essa apuração, basta a 
existência do fato em si, nos termos da lei. Para fins indenizatórios, se há uma lesão corporal em trabalhador 
decorrente de risco não específico do meio ambiente do trabalho, esse operário tem a necessidade de apurar 
e provar a culpa da empresa, responsabilidade subjetiva. 
 Porém, se esse operário opera uma unidade de energia nuclear e sofre lesão por 
contaminação radiativa, dessa forma, para aferição da obrigação de indenizar, bastará a simples constatação 
do dano e o fato de que ele se verificou a serviço do empregador – responsabilidade objetiva. 
Teorias do Risco: Evolução Jurídica 
 
 Para melhor compreensão da figura acima disposta, faz-se necessário percorrer a evolução 
normativa brasileira nesse tocante. 
 Tudo começou em 1919, como precursora da atual Previdência Social, quando a ordem 
jurídica brasileira
13
 introduz o seguro acidentário mediante o instituto de compensação financeira 
acidentária, restrita aos trabalhadores submetidos aos processos industriais, instituindo obrigatoriedade, por 
parte da empresa, de sustentar um Seguro de Acidente do Trabalho a ser pago ao acidentado. Nesse 
estágio, tinha-se a teoria do risco profissional. Só recebia o seguro quem reclamasse à autoridade policial. 
Era caso de polícia. Práticas nesse campo estavam voltadas ao infortúnio (não à prevenção). 
 
 
13
 Decreto legislativo nº. 3.724, 15 de janeiro de 1919. 
Formas de 
responsabilização 
Civil 
Objetiva - Previdenciária - Seguro 
Social - Manutenção Segurado e 
Dependentes 
Objetiva - Indenizatória EMPRESA - 
Riscos 
Subjetiva - Indenizatória Empresa 
(dolo ou culpa em qualquer grau) 
Subjetiva - Ressarcitória - INSS / 
Culpa da Empresa / Empresa culpa 
do Profissional Previdencionista. 
 
 
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Em resumo: pela teoria do risco profissional há o dever de indenizar, que decorre da atividade ou profissão do lesado; 
não há responsabilidade civil do empregador, pois havia pago um seguro para se isentar totalmente das consequências 
do sinistro. 
 
 Essa modalidade perdurou até 1963, quando, formalmente
14
, a responsabilização civil do 
empregador nasce, segundo a teoria do risco subjetivo doloso, restrito, somente, aos casos de dolo. De 1963 
até 1988, por força de súmula do STF , ampliam-se as situações que, além do dolo, incluem também a culpa 
grave
15
. 
 Por essa teoria, a culpa do empregador aparececomo elemento central da obrigação de 
indenizar, conhecida também como teoria da culpa ou subjetiva, pois a prova da ação culposa passa a ser 
pressuposto necessário para a caracterização do dano indenizável. Logo, a responsabilidade do causador do 
dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. A gênese da responsabilidade subjetiva está no 
conceito do desvio de conduta. Foi criada para alcançar as ações contrárias ao direito. O ato ilícito deve 
submeter o agente (lesante) à satisfação do dano causado a outrem (lesado). 
 Deve haver um comportamento do agente, positivo (ação) ou negativo (omissão), que, 
desrespeitando a ordem jurídica, cause prejuízo a outrem, pela ofensa a bem ou a direito desse. Esse 
comportamento (comissivo ou omissivo) deve ser imputável à consciência do agente, por dolo (intenção) ou 
por culpa (negligência, imprudência, ou imperícia), seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil) 
ou uma obrigação em concreto (inexecução da obrigação ou de contrato) . Repare que é o ilícito figurando 
como fonte geradora de responsabilidade. 
 No entanto, com as transformações sociais, a industrialização, a evolução dos meios de 
transporte e comunicações, as relações humanas à distância, os modos e práticas organizacionais, ficou 
evidente que a comprovação da vontade do agente, ou seja, da culpa, estava cada vez mais difícil de ser 
demonstrada – principalmente pelo escalonamento: grave, média leve e levíssima -, e, em muitos casos, a 
vítima ficava sem a devida reparação. 
 Seria justo ou legítimo que a pessoa que se beneficiou do trabalho de um empregado, por 
anos a fio, fosse absolvida de qualquer responsabilidade pelo dano que vitimou o obreiro quando se 
encontrava trabalhando em prol da acumulação de riqueza do seu empregador? Caberia ao empregado 
assumir a responsabilidade pelo risco do empreendimento, sobretudo numa hipótese em que o acidente 
acarrete a impossibilidade de trabalho do empregado? Prevalecendo a tese da responsabilidade subjetiva, 
como ficaria o princípio da dignidade do ser humano? Onde estaria a observância ao princípio da valorização 
do trabalho? 
O constituinte ordinário compreendeu a angústia e injustiça geradas por esse sistema, ao ponto 
pacificar, na CRFB-88, o alcance desses direitos do trabalhador, ao determinar que dolo ou culpa, em 
qualquer grau, suscitam indenização
16
. 
 Não foi por outra razão que parte da doutrina e da jurisprudência, de há muito, vem firmando 
a posição da responsabilidade objetiva do empregador para indenizar o dano sofrido pelo empregado no 
exercício de seu trabalho, fundada na teoria do risco, isto é, aquele que se beneficia da atividade de outrem 
 
14
 DL 7.036/44 - Art. 31 - começa 1944 e se estende até 1963. 
15
 STF Súmula nº 229 - Indenização Acidentária - Exclusão do Direito Comum - Dolo ou Culpa Grave do Empregador - 
A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador. 
16 Art. 7º, XXVIII da CRFB-88 - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, 
quando incorrer em dolo ou culpa. 
 
 
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deverá arcar com eventuais danos sofridos pelo trabalhador na prestação de tal atividade. Aliás, a CLT, em 
seu art. 2º, atribuiu ao empregador o risco decorrente de sua atividade – o chamado princípio da 
alteridade
17
. 
 Finalmente, em 2003, com a entrada em vigor do Novo Código Civil, tem-se a consagração 
da teoria do risco objetivo. 
Responsabilidade Objetiva – Indenização: Acidentado x Empresa 
 
 Na responsabilidade civil objetiva, o empregador arca com a indenização, 
independentemente de culpa ou dolo, basta que sua atividade econômica seja de risco à saúde do 
trabalhador ou tenha disposição legal expressa
18
. Pela redação legal do art. 927, fica clara a distinção das 
teorias objetiva por definição legal, na primeira parte do parágrafo único, bem como, também, objetiva por 
inerência do risco ao dano, na segunda na parte
19
, conforme veremos a seguir: 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a 
repará-lo. 
Parágrafo únic: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem (grifo do autor). 
 
 A razão para essa nova elaboração da teoria da culpa, voltada à objetivação, é apontada por 
Sebastião Geraldo de Oliveira, em artigo publicado na Revista LTr, de abril de 2004: 
“No entanto, a complexidade da vida atual, a multiplicidade dos fatos de riscos, a estonteante 
revolução tecnológica, a explosão demográfica e os perigos difusos ou anônimos da 
modernidade acabaram por deixar vários acidentes ou danos sem reparação, uma vez que a 
vítima não lograva demonstrar a culpa do causador do prejuízo, ou seja, não conseguia se 
desincumbir do ônus probatório quanto ao fato constitutivo do direito postulado.” 
 
 Para as situações em que o agravo à saúde do trabalhador tem relação com os riscos 
inerentes ao meio ambiente do trabalho, basta que o trabalhador, ou seus dependentes, em juízo, reclame o 
pagamento da indenização indicando que a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
(empresa) implicar, por sua natureza, risco
20
 para os direitos de outrem (no caso do trabalhador acidentado). 
A teoria do risco (responsabilização objetiva do empregador) se apóia em alguns argumentos 
doutrinários baseados no risco
21
, assim entendido a probabilidade de uma situação, coisa ou condição 
potencialmente capaz de produzir um dano, venha a se consumar. Nesse sentido, é possível identificar, 
conforme ensina Prof. Sebastião Oliveira: 
i) Proveito do risco sempre que o responsável pelo empreendimento tirar o proveito da atividade; 
onde está o ganho, reside o encargo; 
 
17 Significa a necessidade de colocar-se na posição do outro para poder compreendê-lo . 
18 Atividade econômica aeronáutica ou nuclear são alguns exemplos de responsabilização objetiva por definição legal. 
19 Enunciado nº 38 do CEJ do CJF: A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do art. 927 do 
novo CC, configura-se quando a atividade, normalmente desenvolvida pelo autor do dano, causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos 
demais membros da coletividade. 
20 Como referencia usar as listas colocadas no anexo II do Regulamento da Previdência Social , com destaque para NTEP discutido em capitulo próprio, 
bem como para os protocolos de doenças do trabalho definidos pelo Ministério da Saúde. 
21 Probabilidade de um perigo se consumar em dano. 
 
 
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ii) Risco criado
22
 pelo funcionamento de uma atividade qualquer, cujo empreendimento responde 
pelos danos gerados por essa atividade. Desnecessário haver proveito ou vantagem para o autor, bem como 
é dispensável a investigação sobre normalidade ou não da atividade, dado que a mesma, por si só, é 
geradora de dano; 
iii) Risco Excepcional
23
 por atividades perigosas - cabe a reparação quando o dano decorre de um 
risco excepcional: rede elétrica de alta tensão, energia nuclear, materiais radioativos, etc. 
iv) Risco integral
24
 - basta o dano para gerar a indenização, independentemente dos motivos do 
seu aparecimento. É a teoria objetiva de modo extremado. 
Nas palavras do mestre, autor da classificação acima, Sebastião Oliveira: 
pouco a pouco, o instrumental da ciência jurídica começou a vislumbrar nova alternativa para acudir as 
vítimas dos infortúnios. Ao lado da teoria subjetiva, dependente da culpa comprovada, desenvolveu-se a 
teoria do risco ou objetiva, segundo a qua,l basta o autor demonstrar o dano e a relação de causalidade,para 
o deferimento da indenização. Os riscos da atividade, em sentido amplo, devem ser suportados por quem 
dela se beneficia. 
 
É comum, ainda hoje, situação tormentosa tal, que o dano sofrido pela vítima é de realidade objetiva indiscutível, 
mas a falta ou a dificuldade de prova do elemento subjetivo da culpa impede o pagamento da indenização. No 
caso do acidente do trabalho, tem sido frequente o indeferimento do pedido por ausência de prova da culpa 
patronal ou por alegação de ato inseguro do empregado ou, ainda, pela conclusão da culpa exclusiva da vítima. 
Que você acha? 
 
Responsabilidade Objetiva – Previdenciária: Acidentado x INSS 
 
 A responsabilidade do Seguro Social (INSS), relativamente aos beneficiários (segurados e 
dependentes), diz-se objetiva porque se baseia no chamado risco social, inaugurado, no Brasil, em 1967, 
pela Lei 5.316, de 1967. 
 Pelo risco social (principio da solidariedade), há o pressuposto de que todos os membros da 
sociedade (e não exclusivamente o empregado ou a empresa) devem suportar as contingências sociais que 
afligem o trabalhador acidentado, independentemente da existência de culpa da empresa. Em outras 
palavras, todos pagam para algumas empresas adoecerem e acidentarem mais, pois, sabidamente, possuem 
um maior potencial acidentário (risco econômico-ambiental), daí o nome seguro social. 
 Esse seguro, chamado de social, imposto pelo Estado, administrado pela Receita Federal do 
Brasil – RFB - e financiado por toda a sociedade, direta ou indiretamente, tem por objeto o pagamento de 
prestações previdenciárias, quer em dinheiro (benefícios), quer em utilidades (serviços), que não têm, a rigor, 
natureza indenizat6ria: destina-se à manutenção das condições de subsistência do trabalhador e de seus 
familiares, verificadas antes da ocorrência do acidente. 
 Aqui não tem a menor relevância a perquirição de culpa da empresas, para que o INSS 
conceda o benefício ao trabalhador acidentado, pois basta comprovar a ocorrência de acidente do trabalho e 
a perda ou redução da capacidade laborativa. 
 
22
 É nesse risco criado que se aplaca a presunção entre agravo e doença do trabalho por intermédios dos nexos profissional e do trabalho (NTP) e epidemiológico (NTEP), como visto no capitulo 
anterior. 
23
 Por expressa definição legal 
24
 No Brasil, não há aplicação da teoria do risco integral à luz da legislação vigente. 
 
 
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Detalhe importante diz respeito ao contrato de seguro privado feito pela empresa empregadora, por fundos 
de pensão dos trabalhadores ou pelos próprios trabalhadores para cobrir o poder aquisitivo do trabalhador 
para além do teto fixado pelo INSS nos casos acidentários. Vale essa mesmíssima regra de objetivação da 
responsabilidade de indenizar, ou seja, basta a conexão dos fatos, independe de apuração ou prova de 
culpa. 
Responsabilidade Subjetiva - Indenização: Acidentado x Empresa 
 
 Para as situações não cobertas pela responsabilização objetiva - como visto, aquelas em que 
o agravo à saúde do trabalhador não tem relação com os riscos inerentes ao meio ambiente do trabalho e 
nem há previsão legal expressa – comparece a responsabilização subjetiva da empresa, segundo a qual, há 
necessidade de verificação de existência de culpa por parte da empresa. Veja que só nesse caso passa a ser 
relevante a culpa. 
 Cabe ao acidentado ou seus dependentes produzir as provas contra a empresa, para fins de 
cobrança, em juízo, do pagamento de indenização com base em sua responsabilidade subjetiva, assim 
entendida porque se funda na existência de culpa da empresa. 
 O pagamento dessa indenização independe do recebimento de benefício acidentário pago 
pelo INSS (vale dizer, pode ser cumulada com este) e não visa ao recebimento de prestações 
previdenciárias, mas à verdadeira indenização pelos danos causados pelo acidente. Tal hipótese está 
atualmente prevista no art. 7°, XXVIII, da CRFB-88: ...sem excluir a indenização a que este está obrigado, 
quando incorrer em dolo ou culpa e também no art. 121 da lei 8.213/91
25
. 
Responsabilidade Subjetiva – Ressarcimento: INSS x Empresa 
 
 Desde a Lei 8.213/91, encontra-se regulada, de forma expressa, em nosso ordenamento 
jurídico (artigo 120), a possibilidade do INSS se ressarcir perante as empresas das despesas ocasionadas 
com acidentes do trabalho (vincendas e vencidas), que tenham ocorrido em virtude da negligência quanto às 
normas básicas de higiene e segurança do trabalho. Trata-se de um importante mecanismo de prevenção de 
inúmeros acidentes do trabalho e de ressarcimento dos gastos deles consequentes. 
 Desde a Lei 8.213/91, encontra-se regulada, de forma expressa, em nosso ordenamento 
jurídico (artigo 120), a possibilidade do INSS se ressarcir perante as empresas das despesas ocasionadas 
com acidentes do trabalho (vincendas e vencidas), que tenham ocorrido em virtude da negligência quanto às 
normas básicas de higiene e segurança do trabalho. Trata-se de um importante mecanismo de prevenção de 
inúmeros acidentes do trabalho e de ressarcimento dos gastos deles consequentes. 
 A responsabilidade de que trata essa ação regressiva é subjetiva porque carece de 
verificação de culpa da empresa, especificamente quanto à negligência na observância das normas de 
segurança e higiene do trabalho. Encontra-se regulada expressamente pelo artigo 120 da lei n° 8.213/91, que 
dispõe: Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho, indicados 
para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis. 
 Os danos gerados ao INSS a partir desses acidentes não podem e não devem ser 
suportados por toda a sociedade, na medida em que, no risco repartido entre os membros da coletividade 
 
25
 Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem. 
 
 
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(risco social), não se admite a inclusão de uma atitude ilícita da empresa que não cumpre as normas 
protetivas da higidez do ambiente de trabalho. 
 Depreende-se que a finalidade dessas ações regressivas representa, de um lado, a 
recuperação daqueles recursos que passaram a ser despendidos a partir da ocorrência dos eventos sociais 
acidentários, que poderiam ter sido evitados, bastando, para isso, que tivesse sido cumprido o dever legal de 
proteção ao local de trabalho; e, de outro lado, percebe-se claramente a vontade do legislador de que sejam 
estimuladas as práticas de saneamento do meio ambiente do trabalho. 
 Em outras palavras, o seguro acidentário público e obrigatório, não pode servir de alvará para 
que empresas negligentes com a saúde e com a própria vida do trabalhador, fiquem acobertadas de sua 
irresponsabilidade, sob pena de constituir-se verdadeiro e perigoso estímulo a essa prática socialmente 
indesejável. 
 Ademais, o uso desse expediente por parte do INSS contra as empresas que 
deliberadamente acidentam constitui um modo de valorizar e prestigiar as boas empresas (aquelas que 
acidentam e adoecem muito menos, pois investem em prevenção e praticam preços de seus produtos 
ligeiramente superiores, exatamente porque investem), dado que, dessa forma, a conta acidentária tenderia a 
se nivelar: quem investe não sofre ação regressiva; quem acidenta e adoece tem que ressarcir o INSS. 
Responsabilidade Subjetiva – Ressarcimento: Empresa x Profissional 
Prevencionista 
 
 Como visto, o direito de regresso pode ser acionado por quem quer que tivesse despendido 
pecúnia por fato cuja culpa, total ou parcialmente, pudesse ser atribuída a outrem, conforme dispõe o Código 
Civil, nos artigos: 
 Art. 934: Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago 
daquele por quem pagou, salvo se o causador

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