Buscar

Diretio Civil IV Responsabilidade_civil 2020

Prévia do material em texto

1 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
01) Introdução: 
 
►Normalmente, quando acontece algum fato: questionamos: “De 
quem é a responsabilidade?” 
 
►Jose Aguiar Dias, no seu tratado de responsabilidade civil nos 
ensina: “Toda manifestação da atividade humana traz em si o problema 
da responsabilidade”. 
 
►Em princípio, TODA A ATIVIDADE QUE ACARRETA UM 
PREJUÍZO gera responsabilidade ou dever de indenizar. 
 
►Quando falamos no termo “responsabilidade”, este é utilizado 
em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva 
arcar com as conseqüências de um ato, fato, ou negócio DANOSO. 
 
►Os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um 
equilíbrio patrimonial e moral violado. 
 
►Um prejuízo ou dano não reparado é um fator de inquietação 
social. 
 
►O ordenamento contemporâneo busca alargar cada vez mais o 
dever de indenizar alcançando novos horizontes, a fim de que cada vez 
menos restem danos irresarcidos. 
 
2 
 
a) Importância da Responsabilidade civil: 
 
*A sua relevância reside na interdisciplinariedade do instituto: 
 
- não é particularidade apenas do direito civil, mas praticamente de todos 
os ramos, visto que é uma matéria de natureza interdisciplinar. 
 
............................................................................................................................................................. 
►Noção de responsabilidade: 
 
*Mas o que é responsabilidade? 
 
►A palavra “responsabilidade” tem a sua origem no verbo latino 
“ RESPONDERE”, significando a obrigação que alguém tem de assumir 
com as conseqüências jurídicas de sua atividade. 
 
►E a raiz latina “ SPONDEO”, através da qual se vinculava 
solenemente, no Direito Romano, o devedor nos contratos verbais. 
 
►No sentido etimológico, responsabilidade exprime a idéia de 
obrigação, encargo, contraprestação. 
 
►No sentido JURÍDICO: é um dever jurídico sucessivo que surge para 
recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário. 
 
►Responsabilidade civil é a disciplina que trata a hipótese de quando e 
como alguém ficará responsável pela reparação de danos causados a 
outrem. 
 
►A Responsabilidade civil decorre de uma conduta voluntária 
violadora de um dever jurídico, isto é, da prática de um ato jurídico, que 
pode ser lícito ou ilícito. (GONÇALVES). 
 
→Ou seja, qualquer pessoa em função de sua ação ou omissão 
provoca dano a outrem, tem o dever de reparar. 
 
*Só há responsabilidade civil onde houver violação de um dever 
jurídico e dano.* 
 
3 
 
►A responsabilidade civil DERIVA DA AGRESSÃO A UM 
INTERESSE EMINENTEMENTE PARTICULAR, sujeitando assim, o 
infrator ao pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não 
possa repor in natura o estado anterior de coisas. 
 
Modalidades de Responsabilidade: 
Responsabilidade Direta = o agente responde pelo descumprimento de 
obrigação pessoal (fato próprio). O próprio causador do dano. É a regra. 
 
Responsabilidade Indireta = o responsável responde pelo 
descumprimento de obrigação de outrem. No direito civil, terceiros, 
somente podem ser chamados a indenizar quando a lei expressamente o 
permitir e assim apontar. Diferentemente é no direito penal, onde a 
sanção é posta apenas ao agente causador, ou seja, a pena não pode 
transpor a pessoa do agente. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
b) Noticia Histórica: 
 
1. CIVILIZAÇÕES PRÉ-ROMANAS: 
A origem do instituto está calcada na concepção de VINGANÇA PRIVADA, 
forma por certo rudimentar, mas compreensível do ponto de vista humano como 
lídima reação pessoal contra o mal sofrido. 
Nos primórdios da humanidade NÃO SE COGITAVA DO FATOR CULPA. 
O dano provocava a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido. Não havia 
regras nem limitações. Não imperava, ainda, o direito. Dominava então, a vingança 
privada, “forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e 
natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, 
para reparação do mal pelo mal. 
E depois, a vingança foi regulamentada, que resultou da PENA DE 
TALIÃO: “ olho por olho, dente por dente”. 
 
2. LEI DAS XII TÁBUAS: 
Aqui passou a fixar o VALOR DA PENA A SER PAGA PELO OFENSOR, 
tendo assim a COMPOSIÇÃO OBRIGATÓRIA. Determinou o quantum para a 
composição obrigatória, regulava os casos concretos (tarifada). Não havia diferença 
da responsabilidade civil e Penal. 
 O prejudicado passa a perceber as vantagens e conveniências da substituição 
da vindita, que gera a compensação econômica. Ainda não se cogitava a culpa. 
4 
 
3. LEX AQUILIA : 
Marco na evolução histórica da responsabilidade civil cuja importância foi 
tão grande que deu nome à nova designação da responsabilidade civil delitual ou 
extracontratual. 
 A sua grande virtude é no sentido da substituição das multas fixas por uma 
PENA PROPORCIONAL AO DANO CAUSADO. 
 Introduziu o elemento subjetivo da culpa e passa a diferenciar a 
responsabilidade civil da penal. 
 Começou a ser esboçada ao tempo dos romanos, com distinção entre os 
delitos públicos (ofensas mais graves) e os delitos privados. 
Nos delitos públicos, a pena econômica imposta ao réu deveria ser recolhida 
aos cofres públicos, e nos delitos privados, a pena em dinheiro cabia à vítima. 
 É na lei Aquilia que se esboça um princípio geral regulador da reparação do 
dano. Era o germe da jurisprudência clássica. 
 
4. CÓDIGO DE NAPOLEÃO (1804): 
Influenciou diversas legislações do mundo, inclusive o Código Civil 
brasileiro de 1916. Com a teoria clássica. 
 O direito Francês aperfeiçoando pouco a pouco as idéias românicas, 
estabeleceu nitidamente um principio geral da responsabilidade civil, abandonado o 
critério de enumerar os casos de composição obrigatória. Aos poucos, foram sendo 
estabelecidos certos princípios, que exercem sensível influência nos outros povos: 
Direito à reparação sempre que houvesse CULPA, ainda que leve, separando-se 
a responsabilidade civil (perante a vítima) da responsabilidade penal (perante o 
Estado); a existência de uma culpa contratual (a das pessoas que descumprem as 
obrigações) e que não se liga nem a crime nem a delito, mas se origina da 
negligência ou da imprudência. 
 Era a generalização do princípio aquiliano: “ IN LEGE AQUILIA ET 
LEVÍSSIMA CULP VENIT” , ou seja, o de que a culpa, ainda que levíssima, obriga 
indenizar. 
 
5. NO CÓDIGO DE 1916: 
A responsabilidade civil ainda não tinha atingido um estagio de maturidade 
teórica e jurisprudencial. 
 Filiou-se a teoria subjetiva, que exigia prova de culpa ou dolo do causador do 
dano para que seja obrigado a repará-lo. Em alguns poucos casos, porem, presumia 
a culpa do lesante. 
 
6. O CÓDIGO 2002 trata a responsabilidade civil com mais profundidade, “embora 
sem a amplitude que seria desejável (arts. 927 ss)”. 
5 
 
C) Contrato de Seguro: 
 
►Em outros países, especialmente nos EUA, é bem difundido o contrato de 
seguro, que acarreta a DISTRIBUIÇÃO DO ENCARGO DE REPARAR o dano 
sobre os ombros da COLETIVIDADE (conf. Silvio Rodrigues). 
 
►No Brasil, o contrato de seguro ainda não é utilizado em larga escala. Como a 
indenização deve ser integral e completa, por maior que seja o prejuízo, 
independentemente do grau de culpa, pode acontecer que uma pessoa, por culpa 
levíssima, por uma pequena distração, venha a atropelar um chefe de família e seja 
obrigada a indenizar e a fornecer pensão alimentícia aqueles a quem o defunto 
sustentava. E deste modo, em muitos casos, para se remediar a situação de um, 
arruína-se a do outro. 
 
►A solução encontrada para se corrigir esse inconveniente é o contrato de seguro. 
O seguro obrigatório para cobertura de danos pessoais em acidentes de veículos, 
com dispensa de prova de culpa, representa uma evolução nesse setor. 
.............................................................................................................................................................02) Referência legal: 
 
► O conteúdo da responsabilidade civil estrutura-se na conjunção dos artigos 186, 
187 e 927 e seguintes do Código Civil, sem prejuízo de outros artigos esparsos, 
como é o caso da responsabilidade civil do transportador, exposta em capitulo 
próprio, CDC, CF/88 e outros diplomas legais. 
 
► O dever jurídico de reparar dano é proveniente da força legal, da lei. 
 
► Caso não haja reparação do dano de FORMA ESPONTÂNEA, será possível o 
exercício do direito de crédito através da coação estatal que atingirá o patrimônio 
do devedor causador dos danos. 
 
►A predominância da obrigação de indenizar decorrentes da responsabilidade 
civil emana do ato ilícito (art. 927, caput, CC). 
Quer dizer que as fontes da obrigação de indenizar são: 
 
→ a prática de ato danoso, ilícito; 
→ ato lícito quando a lei destacar. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
6 
 
03) Responsabilidade Civil # Moral: 
 
∎ A diferença mais relevante é que há ausência de coercitividade 
institucionalizada da norma moral, pois o monopólio da força é do Estado. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
04) Responsabilidade Civil x Responsabilidade Criminal ou Penal: 
Ilícito penal x ilícito civil= violação da ordem jurídica. 
 
►A ilicitude ocupa lugar em qualquer ramo do Direito, uma vez que ilicitude “é a 
contrariedade entre a conduta do agente e o Direito”. 
 
►Assim, estaremos diante de um ILÍCITO PENAL se a contrariedade se der no 
âmbito das normas penais que são de Direito Público. 
 
►Já o ILÍCITO CIVIL , a contrariedade se dá entre a conduta do agente perante as 
normas de Direito Civil que são normas cunhadas em Direito Privado. 
 
►Os diversos ramos do Direito são independentes e autônomos, de modo que 
com uma mesma conduta pode-se contrariar tanto a norma penal quanto a norma 
civil. Nessa hipótese, o agente será responsabilizado em ambas as esferas. 
 
Obs: Um mesmo fato pode ensejar as duas responsabilidades, não há figura do bis 
in idem em tal circunstância, visto que cada uma delas está em sentidos diferentes. 
Ou seja: 
 
- RESPONSABILIDADE CIVIL =equilíbrio das relações privadas (atentado ao 
interesse privado); 
- RESPONSABILIDADE PENAL=restauração da normalidade social. 
 
►Atenção1: 
 
A sentença penal condenatória faz coisa julgada no civil, quanto ao dever 
de indenizar o dano decorrente da conduta criminal, na forma dos arts. 91, I do CP; 
63 do CPP e art. 509 do Novo CPC (liquidação). 
 
Art. 91 do CP. São Efeitos da condenação: 
 I-Torna certa a obrigação de indenizar o dano pelo crime. 
7 
 
 
► Vide artigos 63 a 68 CPP. 
 
►As jurisdições penal e civil em nosso país são independentes, MAS HÁ 
REFLEXOS NO JUÍZO CIVIL , NÃO SOB O MENCIONADO ASPECTO DA 
SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA, como também porque não podemos 
discutir no civil a existência do fato e da autoria do ato ilícito, se essas questões 
foram decididas no juízo criminal e encontravam-se sob o manto da coisa julgada 
(art. 63/68 CPP, art. 935 CC). 
 
Art. 935 do CC. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se 
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu 
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 
 
►De outro modo, a SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA , por falta de provas 
quanto à autoria, ou que reconhece uma dirimente ou justificativa, sem estabelecer a 
culpa, por exemplo, não tem influência na ação indenizatória que pode resolver 
autonomamente toda a matéria em seu bojo. 
Sobre o dispositivo acima, comenta Maria Helena de Diniz: Vigora em nosso direito o princípio 
da independência da responsabilidade civil em relação à penal, porém não se poderá questionar 
mais sobre a existência do fato (isto é, do crime e suas conseqüências) ou sobre quem seja o 
seu autor, quando estas questões se encontrarem decididas no juízo criminal. Logo, enquanto o 
juízo criminal não tiver formado convicção sobre tais questões, os processos correrão 
independentemente, e as duas responsabilidades (civil e penal) poderão ser, de fato, 
investigadas. Em nosso ordenamento a instância criminal julga o fato em seu aspecto social, 
reprimindo o delinqüente por meio de penas. Logo, a pretensão pecuniária só poderá ser pedida 
no juízo cível, que julga quanto à vítima que pleitea a reparação do prejuízo (Código civil 
anotado. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 625-626). Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo 
Pamplona Filho comentam que: Vê-se, portanto, da análise desse artigo, a relativa 
independência entre os juízos civil e criminal, na medida em que se proíbe a rediscussão da 
materialidade do fato ou de sua autoria, se tais questões já estiverem no juízo criminal (Novo 
curso de direito civil: responsabilidade civil. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 340, v. III). 
 
∎- O ATO ILÍCITO CIVIL nem sempre configurará uma conduta punível, 
descrita pela lei penal. 
 
∎- os atos ilícitos de maior gravidade social são reconhecidos pelo Direito 
Penal. 
 
∎ O ilícito civil é considerado de menor gravidade e o interesse de 
reparação do dano é privado, embora com interesse social, não afetando, a 
princípio, a segurança pública. 
8 
 
►Atenção2: 
 
AÇÃO CIVIL EX DELICTO: 
ex: suspensão condicional do processo em lesão corporal grave [“soco” na face] – 
caberá dano moral. TJRS. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
05) Neminem laedere : (a máxima de Ulpiano) 
 
► Todos têm um DEVER DE CUIDADO chamado neminem laedere: 
 
 “Ninguém pode prejudicar os outros”. 
 
► Dessa forma, temos o DEVER JURÍDICO DE NÃO LESAR OS OUTROS, ou 
seja, temos então uma obrigação. 
 
►Evitando condutas ou atos que possam prejudicar os outros na esfera 
patrimonial ou mesmo não patrimonial (Direitos da personalidade). 
 
► Não se pode praticar atos que ofendam direitos de terceiros. 
 
► Em sociedade, a convivência exige de todos um DEVER NEGATIVO DE 
NÃO CAUSAR DANOS a esfera jurídica de terceiros. 
 
► Quando há desobediência a esse dever geral de cuidado e assim lesam-se 
pessoas ou bens, há uma conduta ofensiva ao ordenamento, ou seja, uma conduta 
antijurídica. 
 
 Esse dever social de conduta, ou mesmo de abstenção de atos danosos, 
independe de qualquer relação contratual entre as partes, sendo uma norma genérica 
e dirigida a todos os indivíduos. Está implícito no: 
 
“CC, Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntaria, negligência 
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito.” 
............................................................................................................................................................. 
9 
 
06) Obrigação x Responsabilidade Civil (dever jurídico originário e 
sucessivo): 
 
►Obrigação= é sempre um dever jurídico originário. 
 
►Responsabilidade= é um dever jurídico sucessivo (derivado), consequente a 
violação do primeiro (originário). 
 
A obrigação originária pode decorrer da LEI OU DA VONTADE DAS PARTES. 
 
 
►A Responsabilidade civil é uma obrigação SECUNDÁRIA , derivada, que surge 
em razão de um descumprimento de outra obrigação (primária). 
 
Em síntese: Em toda obrigação há um dever jurídico originário, enquanto que na 
responsabilidade há um dever sucessivo. 
 
***Segundo LARENZ “A RESPONSABILIDADE É A SOMBRA DA 
OBRIGAÇÃO”. Conclui-se que não há responsabilidade sem a correspondente 
obrigação. 
 
►O Código Civil faz distinção entre obrigação e responsabilidade no seu artigo 
389: 
 
“Não cumprida a obrigação (originária) , responde o devedor por perdas e 
danos (secundaria) [...]”. 
 
 
.............................................................................................................................................................07) RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL X AQUILIANA: 
 
Introdução: 
 
A grande questão é saber se o ato danoso ocorreu em razão de uma obrigação 
preexistente, contrato ou negócio jurídico unilateral !!!. 
 
............................................................................................................................................................. 
10 
 
 
7.1 Responsabilidade CONTRATUAL (negocial): 
 
►Se já existia norma jurídica contratual que vincula as partes, e o dano decorre 
justamente do descumprimento de obrigação fixada neste contrato, estaremos diante 
de uma situação de responsabilidade Contratual. 
►Ou seja, é a obrigação de reparar danos decorrentes do INADIMPLEMENTO 
DE UM NEGÓCIO JURÍDICO (ART. 389 SS E 395 CC). 
 
► na CULPA CONTRATUAL examinamos o inadimplemento como seu 
fundamento e os termos e limites da obrigação. 
 
►A R. Civil Contratual surge em função do inadimplemento da obrigação 
prevista no contrato (violação de norma contratual anteriormente fixada pelas 
partes). 
 
Tem como fonte uma obrigação em função de uma relação PREEXISTENTE. 
 
►A singularidade da responsabilidade contratual/negocial consiste na preexistência 
de uma relação jurídica entre o credor e devedor, seja ela um negocio unilateral ou 
um contrato. 
 
►Segundo VENOSA, melhor que se denomine, de outro lado, mais 
apropriadamente de responsabilidade NEGOCIAL, aquela que tradicionalmente 
decorre do contrato, pois não apenas do contrato emerge essa responsabilidade 
como também dos atos unilaterais de vontade em geral, como a gestão de negócios, 
a promessa de recompensa, o enriquecimento sem causa, entre outros. 
............................................................................................................................................................. 
 
7.2 Responsabilidade EXTRACONTRATUAL (Extranegocial) ou Aquiliana: 
 
►Dá-se o nome de responsabilidade Aquiliana, em função da Lex Aquilia, de data 
incerta: foi um marco tão acentuado, que a ela se atribuiu a origem do elemento 
culpa, como fundamental na reparação do dano. (CAVALIERI). 
 
►Se o PREJUÍZO DECORRE DIRETAMENTE DA VIOLAÇÃO DE UM 
MANDAMENTO LEGAL, por força da atuação ilícita do agente infrator, estamos 
diante da responsabilidade extracontratual. 
11 
 
 
- é a violação direta de uma norma legal. 
- Arts. 186 a 188 e 927 ss. 
 
► na Culpa Aquiliana , levamos em conta a conduta do agente e a culpa em 
sentido lato. 
 
►O ofensor e o ofendido NÃO ESTAVAM PREVIAMENTE LIGADOS POR 
QUALQUER RELAÇÃO JURÍDICA. O causador do dano violou deveres gerais de 
respeito a pessoa e bens alheios. 
 
► Há o ato ilícito absoluto (violação a dever genérico de cuidado). 
 
► A Responsabilidade civil Extracontratual ou Extranegocial é fonte de 
obrigações. Reside no ato ilícito seu gravitador. (VENOSA). 
 
............................................................................................................................................................. 
 
7.3 - Quais as DIFERENÇAS BÁSICAS ENTRE ESSAS DUAS FORMAS DE 
RESPONSABILIDADE ? 
 
R=Três Elementos diferenciadores podem ser destacados: 
 
I) A necessária preexistência de uma relação jurídica entre o lesionado e o 
lesionante: 
 
► Com efeito, para caracterizar a responsabilidade civil CONTRATUAL, 
faz-se mister que a vítima e ao autor do dano já tenham se aproximado 
anteriormente e tenham-se vinculado para o cumprimento de uma ou mais 
prestações. Diferentemente é o que acontece na Responsabilidade 
Extracontratual. 
 
II) O ônus da prova quanto à culpa: 
 
► a culpa contratual a violação de um dever de adimplir, que constitui 
justamente o objeto do negócio jurídico; 
 
12 
 
►ao passo que, na culpa aquiliana, viola-se um dever necessariamente 
negativo, ou seja, a “obrigação de não causar dano a ninguém”. 
 
 → Culpa Aquiliana= em regra provada pela vítima. 
 
→ Culpa Contratual= responsabilidade é de regra PRESUMIDA, invertendo 
o ônus da prova, cabendo a vitima comprovar, apenas, que a obrigação não foi 
cumprida, restando o devedor o onus probandi. 
Em síntese: se o contratante assumiu a obrigação de alcançar um 
determinado resultado e não conseguiu, haverá CULPA PRESUMIDA. 
 
 
III) A diferença quanto à capacidade. 
 
► O menor púbere só se vincula contratualmente quando assistido por seu 
representante legal – e excepcionalmente, se com malícia declarou-se maior (art. 
180 CC). 
 
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; 
 
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para 
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou 
quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se 
maior. 
 
 
7.4 Teoria monista: 
 
Como os EFEITOS do INADIMPLEMENTO CONTRATUAL E DA 
OFENSA PROVOCADA PELO ILÍCITO EXTRACONTRATUAL SÃO OS 
MESMOS, devem ser tratados de forma unitária. Ou seja, a responsabilidade 
civil decorre da violação de uma norma jurídica. 
 
-Critica: não obstante no código civil encontremos artigos aplicáveis ao 
inadimplemento contratual, como por exemplo, os artigos 389 ss e artigos aplicáveis 
a responsabilidade extracontratual (art. 927 ). Além de ser uma DIVISÃO 
DIDÁTICA E LEGISLATIVA. 
............................................................................................................................................................. 
 
 
13 
 
08) NATUREZA JURÍDICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL: 
 
►Como já expusemos, a responsabilidade decorre a priori da prática de um ato 
ilícito, ou seja, de uma violação da ordem jurídica, gerando assim um desequilíbrio 
social (há também resp. civil em razão das atividades lícitas). 
 
Então, temos como consequência lógico-normativa de qualquer ato ilícito 
é uma SANÇÃO, podendo ser definida como “CONSEQÜÊNCIA JURÍDICA 
QUE O NÃO CUMPRIMENTO DE UM DEVER PRODUZ EM RELAÇÃO 
AO OBRIGADO ” (Eduardo Garcia Maynez). 
 
Desta forma, a natureza jurídica da responsabilidade, seja civil, seja criminal, 
somente pode ser SANCIONADORA. 
 
►Conclui-se então que a natureza jurídica da responsabilidade será sempre 
sancionadora, independentemente de se materializar como pena, indenização ou 
compensação pecuniária. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
09) FUNÇÃO DA REPARAÇÃO CIVIL : 
 
TRÊS FUNÇÕES NO INSTITUTO DA REPARAÇÃO CIVIL : compensatória 
do dano à vitima, punitiva do ofensor; e desmotivação social da conduta lesiva. 
 
a- Compensatória do dano à vítima: 
Nessa função encontra-se o objetivo básico e finalidade da reparação civil: 
retornar as coisas ao STATUS QUO ANTE. Repõe-se o bem perdido diretamente ou, 
quando não é mais possível tal circunstancia, impõe-se o pagamento de um quantum 
indenizatório, em importância equivalente ao valor do bem material ou 
compensatório do direito não redutível pecuniariamente. 
 
b- Punitiva do ofensor: 
Função em relação à reposição das coisas ao estado em que se encontravam, 
mais igualmente relevante, está à idéia de punição do ofensor. Embora esta não seja 
a finalidade básica (admitindo-se, inclusive, a sua não-incidência quando possível a 
restituição integral à situação jurídica anterior), a prestação imposta ao ofensor 
também gera um EFEITO PUNITIVO PELA AUSÊNCIA DE CAUTELA NA 
PRÁTICA DE SEUS ATOS, persuadindo-o a não mais lesionar. (divergência). 
 
14 
 
c- Desmotivação social da conduta lesiva: 
Função de CUNHO SOCIOEDUCATIVO, que é a de tornar público que 
condutas semelhantes não serão toleradas. Assim, alcança-se, por via indireta, a 
própria sociedade, restabelecendo-se o equilíbrio e a segurança desejados pelo 
Direito. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
 
10) RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA X OBJETIVA: 
 
10.1 Responsabilidade CivilSUBJETIVA: 
 
► É aquela que o fundamento para o dever de reparar reside na Culpa lato sensu. 
 
► A vítima terá que provar a culpa do autor do Dano (Regra). 
 
► É a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo. 
 
► Esta culpa por ter natureza civil caracteriza-se quando o agente causador do 
dano atuar com negligência ou imprudência, conforme se vê: 
 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
 
► Formas psicológicas pelas quais uma pessoa pode violar dever jurídico: 
 
a) Dolo (intenção, deliberadamente), 
 
b) Culpa (não há intenção)- 03 modalidades: 
 
→- negligência (falta de cuidado necessário); ex: carro sem freio/luz. 
 
→- imprudência (assunção de um risco desnecessário); ex: avançar sinais. 
 
→-imperícia (falha técnica daquele que em tese possui a habilitação necessária). 
ex: médico 
15 
 
Obs.: CULPA LATO SENSU é gênero, cujas espécies são: dolo e culpa stricto 
sensu. 
 
► Pelo artigo 186, CC verificamos que a obrigação de indenizar (reparar dano) é 
conseqüência jurídica lógica do ato ilícito. 
 
► a noção básica da responsabilidade civil Subjetiva é o PRINCÍPIO SEGUNDO 
O QUAL CADA UM RESPONDE PELA PRÓPRIA CULPA . 
 
Todavia, há situações em que o ordenamento jurídico atribui a 
responsabilidade civil a alguém por dano que não causado diretamente por 
ele, mas sim por terceiro com quem mantém algum tipo e relação jurídica. 
 
∎ No Código Civil de 1916, a RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA , 
o elemento culpa não é desprezado, mas sim presumido, em função do dever 
geral de vigilância a que está obrigado. 
 
∎∎∎∎ Contudo, agora com o novo Código Civil 2002, a responsabilidade por 
Ato de Terceiro (art. 933, CC 2002) migrou da hipótese de responsabilidade 
civil Subjetiva para Objetiva. 
 
Na culpa presumida: 
• ocorre uma INVERSÃO DO ONUS PROBANDI: em certas circunstâncias, 
presume-se o comportamento culposo do causador do dano, cabendo-lhe 
demonstrar a ausência de culpa, para eximir do dever de indenizar. 
 
•Foi o modo de afirmar a responsabilidade civil, sem a necessidade de provar o 
lesado à conduta culposa do agente, mas sem repelir o pressuposto subjetivo da 
doutrina tradicional (Caio Mario da Silva Pereira). 
 
• O ofensor dever provar que não teve culpa em seu comportamento. 
 
•Em determinados casos é a lei que anuncia a presunção, em outras é a elaboração 
jurisprudencial. 
 
16 
 
► Atenção: Em regra na Responsabilidade SUBJETIVA por se caracterizar em 
fato constitutivo do direito à pretensão reparatória, caberá o autor, “sempre”, o ônus 
da prova de tal conduta do réu. 
 Dentro da teoria clássica, a vítima tem que demonstrar a existência dos 
elementos fundamentais de sua pretensão. 
 
............................................................................................................................................................. 
 
 
10.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA (Parágrafo Único, art. 927): 
 
► O fundamento para o dever de reparar reside no DANO. 
 
► Hipóteses em que não é necessário sequer ser caracterizada a CULPA. 
 
► É aferida INDEPENDENTEMENTE DA CONFIGURAÇÃO DE 
LICITUDE OU ILICITUDE DA CONDUTA DO AGENTE , sendo suficiente o 
nexo causal entre a atuação do ofensor e o dano. 
 
► Então, o DOLO OU CULPA na conduta do agente causador do dano É 
IRRELEVANTE JURIDICAMENTE, haja vista que somente será necessária a 
existência do Elo de Causalidade entre o dano e a conduta do agente 
responsável para que surja o dever de indenizar. 
 
► A RESPONSABILIDADE OBJETIVA OCORRERÁ EM 02 HIPÓTESE S: 
 
a) Imposição da norma e 
b) Aplicação da teoria do risco. 
 
a) IMPOSIÇÃO DA NORMA: 
 
Exemplos: 
 
∎∎∎∎ Decreto 2.681/1912 que disciplina a responsabilidade civil das estradas de 
ferro , tendo em vista a atividade desenvolvida. (a teoria objetiva surgiu no final 
século XIX quando sofre influência da escola positiva penal); 
 
∎∎∎∎Acidente de trabalho, lei 6.367/1976; 
17 
 
 
∎∎∎∎ Código brasileiro do Ar (decreto-lei 32 de 1966): empresas aéreas; 
 
∎∎∎∎ Acidentes nucleares: lei 6.453/1977; 
 
∎∎∎∎ Responsabilidade do Estado (art. 37, § 6º, CF/88); 
 
∎∎∎∎Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) nos danos causados aos 
consumidores (arts. 12/14 CDC). 
 
∎∎∎∎No Código Civil, temos como exemplos arts. 931 e 936. 
 
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os 
empresários individuais e as empresas respondem independentemente 
de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação. 
 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este 
causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. (FATO DO 
ANIMAL). 
 
b) TEORIA DO RISCO: 
 
► Sem abandonar a regra geral, o código de 2002 inova no PARÁGRAFO 
ÚNICO do artigo 927 ao estabelecer: 
 
“Haverá obrigação de reparar o dano, INDEPENDENTEMENTE DE 
CULPA , nos casos especificados em LEI, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua 
natureza, RISCO para os direitos de outrem.” 
►A teoria do risco é explicitamente adotada pelo código civil. A ATIVIDADE de 
risco insere-se no ordenamento como: 
 
CLÁUSULA GERAL , de conteúdo semântico vago e impreciso, 
que será concretizada pelo magistrado. (= conceito jurídico 
indeterminado a ser verificado no caso concreto, pela atuação 
judicial). 
 
18 
 
► Atualmente, em DIVERSAS ATIVIDADES REPUTADAS COMO 
PERIGOSAS, a obrigação de indenizar não mais se assenta no pressuposto da 
ilicitude, E SIM NO RESULTADO LESIVO QUE DEVER SER ASSUMIDO 
POR QUEM INTRODUZIU A ATIVIDADE POTENCIALMATIVIDADE POTENCIALMATIVIDADE POTENCIALMATIVIDADE POTENCIALMENTEENTEENTEENTE CAPAZ CAPAZ CAPAZ CAPAZ 
DE CAUSAR DANOSDE CAUSAR DANOSDE CAUSAR DANOSDE CAUSAR DANOS A UMA COLETIVIDADE DE PESSOAS. 
 
Enunciado 38 CJF: (Art. 927): a responsabilidade fundada no risco 
da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do 
art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a pessoa 
determinada um ônus maior do que aos demais membros da 
coletividade". (Em outras palavras: é uma atividade que tem potencial 
lesivo.) 
 
 ► O legislador procura TUTELAR O INTERESSE GERAL , em face dessas 
atividades perigosas, introduzindo, objetivamente, o dever de indenizar, 
independentemente de qualquer cogitação sobre a esfera subjetiva determinante da 
conduta. 
 
*Contudo, qual é a regra? Subjetiva ou Objetiva? 
 
R= O direito brasileiro abraçou primeiramente a teoria subjetiva, conforme se vê 
numa simples leitura do art. 159 do antigo código 1916, que corresponde ao artigo 
186 do atual Código Civil= que fixa a regra geral da responsabilidade civil. 
Segundo Miguel Reale temos a responsabilidade subjetiva, regra geral 
inquestionável do sistema anterior (ainda prevista no artigo 186, NCC) 
COEXISTINDO com a responsabilidade civil Objetiva. 
→Ou seja, há uma regra dual de responsabilidade civil. E não uma disputa. 
Entretanto pode-se dizer que a Teoria Subjetiva prevalece no ordenamento. 
 
19 
 
► O RISCO SE APRESENTA EM SUAS VÁRIAS MODALIDADES : risco-
proveito, risco profissional, risco excepcional, risco criado, risco integral. 
 
⦿Risco proveito: “quem colhe os bônus, deve suportar os ônus”. 
⦿Risco Criado: “Aquele que cria o risco deve responder pelo dano”. 
⦿Risco profissional: relacionado às relações de trabalho. 
⦿Risco excepcional: atividades que representam um elevado grau de perigo. 
⦿Risco integral: grau mais elevado de responsabilidade objetiva, não admite 
exclusão. 
 
*Discussão na Doutrina – Qual a Teoria do Risco adotada?: 
 
Risco PROVEITO X Risco CRIADO ? 
 
⦿ Risco PROVEITO (Alvino Lima, Cavalieri): 
 
Pressuposto= uma pessoa só poderá responder objetivamente quando ela introduziu 
uma atividade de risco, com FINALIDADE DE LUCRO , “visando lucro,colocou 
uma atividade na praça para ganhar dinheiro”. 
“QUEM AUFERE BÔNUS SUPORTA ÔNUS”. 
 
Exemplo: Locação de automóvel Localiza / terceiro locatário. Quem tem a 
legitimação passiva para responsabilidade civil?R=solidariedade passiva. 
Súmula 492 STF: A empresa locadora de veículos responde, civil e 
solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no 
uso do carro locado. 
• Locatário responde com culpa, e a localiza (locador) responde 
objetivamente: “pois locar carro: é um risco proveito”. 
 
Jurisprudência: 
Processo: Apelação Cível 1.0145.08.501744-3/001 (5017443-14.2008.8.13.0145 (1) 
Relator(a): Des.(a) Estevão Lucchesi 
Data de Julgamento: 31/01/2013 - Data da publicação da súmula: 08/02/2013 
EMENTA: Apelação Cível - Ação Declaratória de inexistência de débito c/c indenização 
por danos materiais e morais - contrato de empréstimo - atuação de falsário - prova 
pericial - falsificação de assinatura - responsabilidade objetiva da instituição financeira - 
risco da atividade - falha na prestação do serviço - desconto indevido em pensão 
previdenciária - verba alimentar - danos materiais e morais caracterizados. O 
fornecedor de serviços responde objetivamente pela reparação dos danos 
20 
 
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação do serviço, sendo-
lhe aplicável a teoria do risco-proveito segundo a qual será responsável 
civilmente todo aquele que aufira lucro ou vantagem do exercício de determinada 
atividade. Constatado por prova pericial grafotécnica a falsidade da assinatura aposta 
no contrato, impõe-se o reconhecimento da inexistência do débito e as consequências 
daí decorrentes. Indiscutível a presença dos danos morais, mormente por se tratar de 
pessoa idosa e que teve descontado indevidamente em seus rendimentos de 
aposentadoria parcela de financiamento não contratado. 
 
Processo: Apelação Cível 
1.0145.10.065069-9/001 
0650699-13.2010.8.13.0145 (1) 
Relator(a): Des.(a) Rogério Medeiros 
Data de Julgamento: 24/01/2013. Data da publicação da súmula: 01/02/2013 
EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO INDENIZATÓRIA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE 
TUTELA - DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - INSCRIÇÃO INDEVIDA NO SPC 
- RESPONSABILIDADE OBJETIVA - RISCO PROVEITO - DANO MORAL PURO - 
INDENIZAÇÃO DEVIDA - FIXAÇÃO DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS DA 
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - REPETIÇAO DO INDÉBITO - 
POSSIBILIDADE - JUROS DE MORA - SUMULA 54 DO STJ - CORREÇAO 
MONETÁRIA - SÚMULA 362 DO STJ 
- A pretensão autoral surgiu em virtude de nova inclusão do nome do autor em 
cadastros de restrição de crédito, por dívida já reconhecida como indevida em sentença 
transitada em julgado. 
- No caso vertente, a ré responderia pelos danos causados ainda que não tivesse agido 
com negligência, uma vez que para o Código de Defesa do Consumidor, o que importa 
é o defeito na prestação do serviço. 
- Conforme a teoria do risco-proveito será responsável civilmente todo aquele que 
aufira lucro ou vantagem do exercício de determinad a atividade. Segundo Sérgio 
Cavalieri Filho, onde está o ganho, aí reside o enc argo - ubi emolumentum, ibi 
onus (in Programa de Responsabilidade Civil, Malhei ros, 3ª ed., p.167). 
- A inscrição do nome da parte autora em cadastro desabonador ao crédito, em razão de 
ação de terceiro estelionatário quando inexiste dívida, constitui causa de dano moral 
puro, o qual não depende da existência de reflexos patrimoniais nem da prova dos 
incômodos sofridos. 
- A fixação do valor da indenização por danos morais pauta-se pela aplicação dos 
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
- No que concerne ao termo inicial dos juros de mora, melhor sorte não socorre à 
apelante, uma vez que os juros de mora são devidos desde o evento danoso, nos 
termos da súmula 54 do colendo STJ. 
- O termo inicial da correção monetária, em caso de dano moral, é a data em que foi 
fixado o da indenização, ou seja, a data da publicação da sentença. 
--------------------------------------------------------------------------------------------- 
 
⦿ Risco CRIADO (Caio Mario da Silva Pereira, Carlos Roberto Gonçalves): 
 
Para uma pessoa responder objetivamente, BASTA QUE ELA CRIE O RISCO/ 
que ela introduza o risco, “tanto faz se tem objetivo de lucro ou não”. Basta 
inserção do risco para um determinado número de pessoas. 
21 
 
Exemplo: frescobol / Surfista. 
 
Jurisprudência: 
1 - Processo: Apelação Cível 
1.0439.07.071488-6/001 
0714886-26.2007.8.13.0439 (1) 
Relator(a): Des.(a) Saldanha da Fonseca 
Data de Julgamento: 21/09/2011 
Data da publicação da súmula: 29/09/2011 
EMENTA: REPARAÇÃO DE DANOS - MINERADORA - BARRAGEM - ROMPIMENTO - 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - LUCROS CESSANTES - PROVA. 
A mineradora que faz uso de barragem para depósito d e resíduo de bauxita 
responde pelos danos oriundos de seu rompimento; ao lesado não cabe provar 
culpa e sim o dano e nexo de causalidade em função da responsabilidade objetiva 
albergada pelo art. 927 do CC a partir da teoria do risco criado ; a pretensão de 
recebimento de lucros cessantes, não tendo sido feita a prova da alegada redução das 
vendas, não pode ser tutelada. Recurso provido em parte. 
 
2 - Processo: Apelação Cível 
1.0024.06.271488-6/001 
2714886-10.2006.8.13.0024 (1) 
Relator(a): Des.(a) Mota e Silva 
Data de Julgamento: 24/05/2011 
Data da publicação da súmula: 03/06/2011 
Ementa: ACIDENTE DE TRÂNSITO - TEORIA DO RISCO CRIADO - DANOS 
MATERIAIS E MORAIS - DESCONTO DO DPVAT - JUROS DE MORA. - Aquele que 
se propõe a transportar grandes materiais assume o risco que é criado para os 
demais usuários da via, sem que possa imputar as co nseqüências de sua 
atividade à circunstâncias imprevisíveis. - Aquele que prometeu fato de terceiro 
possui legitimidade para ajuizar ação contra este, de forma a evitar as conseqüências do 
art. 439 do CC/2002. - A indenização por danos morais, que deve ser fixada com 
adstrição aos princípios da razoabilidade, da proporcionalidade e à teoria do 
desestímulo. 
 
TST enquadra coleta de lixo como atividade de risco 
A Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho firmou entendimento de que a atividade de 
coleta de lixo em vias públicas e feita com a utilização de caminhões, enquadra-se na 
classificação de atividade de risco. 
Com o reconhecimento da responsabilidade objetiva da empresa Proposta Engenharia de 
Edificações Ltda. por dano causado a um gari, o Colegiado confirmou a condenação ao 
pagamento de 150 salários mínimos, por danos moral e estético, oriunda do Tribunal Regional 
de Campinas (15ª). 
O ministro Renato Lacerda de Paiva, relator dos autos, destacou que a teoria da 
responsabilidade objetiva pelo risco criado tem aplicação na atividade desenvolvida pela 
empresa atuante no ramo de limpeza urbana e, teve sua origem, na necessidade de 
responsabilizar o empregador pelas doenças profissionais adquiridas e pelos acidentes sofridos 
por seus empregados no exercício regular da atividade laboral. Isso, segundo o ministro, em 
razão da natural dificuldade daqueles em comprovar a culpa do patrão. 
22 
 
A teoria, também denominada de teoria do risco da atividade econômica, encontra-se 
consagrada pelo art. 2º da CLT, cujo texto expressa que é empregador a empresa, individual ou 
coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a 
prestação pessoal de serviço. 
Na decisão proferida pela Segunda Turma, ressaltou-se que a profissão de coletor de lixo é 
atividade de risco por expor o trabalhador a maior probabilidade de sinistro, como ocorreu no 
caso examinado, em que o empregado se acidentou ao saltar do caminhão. No acidente, o 
coletor de lixo sofreu lesão ligamentar do joelho esquerdo, com tratamento cirúrgico e sequelas 
que lhe causaram incapacidade para o trabalho e consequente aposentadoria por invalidez em 
2003. O julgamento deu-se de forma unânime, com ressalva de fundamentação do ministro 
Caputo Bastos.(RR-46300-91.2005.5.15.0037). 
--------------------------------------------------------------------------------------------------Leitura complementar: 
 
Mudança de paradigma sobre indústria de cigarro 
Recentemente, a justiça paulista decidiu mais um caso envolvendo a responsabilização da 
indústria do tabaco. A Revista Consultor Jurídico noticiou, no dia 26 de maio de 2011, a decisão 
proferida pela Juíza Fernanda Gomes Camacho, no processo nº 583.00.1995.523167-5, que 
tramita na 19ª Vara Cível de São Paulo (veja a íntegra da notícia em: http://www.conjur.com.br/2011-
mai-26/juiza-nega-indenizacao-bilionaria-associacao-fumantes). 
Mais uma vez, o Judiciário afastou a pretensão de pessoas vitimadas pelos efeitos deletérios do 
fumo. No caso, trata-se de uma Ação Coletiva movida pela Associação de Defesa da Saúde do 
Fumante (Adesf) contra as fabricas de cigarros Souza Cruz e Philip Morris do Brasil. Dentre os 
argumentos que fundamentara a decisão, a MM. Juíza destacou que: 
1. “O consumo de cigarros é mero fator de risco (probabilidade) de diversas doenças e não 
causa necessária”; 
2. “a inexistência de alertas sobre os malefícios do consumo do cigarro nas embalagens e nas 
peças publicitárias, quando não havia exigência legal de tal advertência, não comporta 
responsabilização das rés”; 
3. “É fato notório, há décadas, que o cigarro é prejudicial à saúde do fumante”; 
4.“Embora seu consumo cause riscos à saúde, não há proibição de sua produção e 
comercialização. Ao contrário, o comércio de cigarros é atividade lícita, permitida em nosso 
ordenamento”. 
Deixando de fora a questão da prescrição quinquenal, tratada no Resp 1.009.591- RS, ao examinar 
o mérito de duas outras demandas envolvendo a responsabilidade civil da indústria tabagista o 
entendimento do STJ nos Resp 886.347-RS e Resp 886.347-RS ancora-se, principalmente, nos 
seguintes argumentos: 
1. “O cigarro é um produto de periculosidade inerente”; 
2. “A indústria tabagista não deve ser responsabilizada, uma vez que milhares de fumantes 
adquiriram o hábito de fumar numa época em que os fabricantes não conheciam os efeitos 
deletérios do tabaco para a saúde humana”. 
23 
 
3. “A comercialização do cigarro é lícita, somente sendo restringida a propaganda”; 
4. “Não há ofensa à boa-fé objetiva, na medida em que há que se considerar o contexto 
legal, histórico e cultural vigentes até antes de se conhecer os riscos do consumo de 
tabaco”; 
5. “A Medicina não comprovou a causalidade necessária, direta e exclusiva entre o 
consumo de tabaco e o câncer, pois o estilo de vida do fumante deve ser analisado 
globalmente, uma vez que fatores como stress, sedentarismo, má alimentação, consumo de 
álcool etc. também contribuem para o desenvolvimento da doença”; 
6. “Há que se considerar o livre arbítrio do indivíduo, que, dentre as opções de não fumar e 
fumar, escolheu a última, havendo, portanto, sua culpa exclusiva”. 
Até o momento, essa é a posição do STJ em relação à matéria, ou seja, os fabricantes de cigarros 
não devem ser responsabilizados pelos danos advindos do consumo das substâncias presentes no 
tabaco, na medida em que não se lhe pode atribuir culpa exclusiva. 
A questão tabagista, como é possível perceber, é polêmica, na medida em que põe em confronto 
uma questão moral por parte dos fabricantes de cigarros que, mesmo conhecendo amplamente os 
riscos do tabaco para a saúde humana, continuam a comercializar seus produtos, sem que sofram, 
contudo, qualquer sanção por parte do poder público, bem como envolve a questão do livre 
arbítrio de que cada pessoa dispõe, sendo que, ao final, os fabricantes de cigarros tem vencido as 
batalhas judiciais no Brasil. 
Propondo um “meio termo” para solucionar as questões atinentes aos males causados pelo fumo, 
o professor e Doutor em Direito pela USP - Flávio Tartuce, sustenta em sua tese de doutorado a 
aplicação da teoria do risco concorrente nos casos envolvendo demandas de consumidores contra 
a indústria do tabaco, amparando-se, em meio a outros lúcidos argumentos, nas irretocáveis 
ponderações do Des. Caetano Lagrasta, despendidas nos autos da Ap. Cível nº 379.261.4/5-00, 
julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, condenando um fabricante de cigarros, e 
que levou e conta o seguinte: 
1. “O cigarro é um problema de saúde pública, inclusive devendo-se responsabilizar o 
Estado pelos danos causados pelo fumo, haja vista o dano social que se verifica através do 
hábito de fumar”; 
2. “A imposição social do fumo no passado”; 
3. “A doença da autora da ação (Doença de Buerger) foi causada pelo consumo de 
cigarros”; 
4. “No passado, a publicidade do cigarro era enganosa, em razão da omissão intensional de 
informações relevantes por parte da indústria tabagista, em relação aos males causados pelo 
cigarro”; 
5. “A licitude da comercialização de cigarros somente está presente em parte da atividade 
da empresa, mas não no momento em que aquela coloca nos produtos substâncias 
sabidamente nocivas à saúde”; 
6. “Em relação ao livre arbítrio, sustenta que este não pode conduzir à existência de um 
dogma ou a uma estranha e impossível religião do vício, ou seja, não se pode transferir ao 
consumidor todo o peso do consumo de cigarros”. 
24 
 
Consoante o trabalho apresentado à banca examinadora, o autor em referência propõe um meio 
termo entre a total ausência de responsabilidade por parte daquelas empresas e sua 
responsabilidade integral pelos danos causados pelo cigarro, sendo que a argumentação se 
desenvolve a partir da chamada concausalidade, entendida como a concorrência de causas que 
redundam na ocorrência do evento danoso experimentado pelo ofendido. 
Em sede normativa, a concausalidade pode ser extraída da leitura dos arts. 944 e 945 do Código 
Civil, que assim dispõem: 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, 
poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua 
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do 
autor do dano. 
Se por um lado não é justo que as empresas fabricantes de cigarros suportem sozinhas a 
responsabilidade pelos danos causados pelo consumo do tabaco, muito menos justo seria permitir 
que a indústria tabagista continue seu comércio sem que seja responsabilizada pela propagação de 
um produto sabidamente nocivo à saúde humana. Da mesma forma, não é justo nem que o 
consumidor suporte sozinho aqueles danos, e nem que fique totalmente isento de responsabilidade 
pelos seus atos. É preciso, como foi dito, analisar a realidade fática que cerca os sujeitos 
envolvidos, de forma a verificar a parcela de culpa de cada um para a materialização do dano. 
Consoante a doutrina de Jorge Mosset Iturraspe, citado por Tartuce em vídeo disponível no site do 
INJUR[1], há que se verificar qual foi a contribuição causal dos sujeitos envolvidos na cadeia de 
eventos que culminaram no dano experimentado pelo ofendido, pois, segundo o jurista argentino, 
na responsabilidade civil, raríssimas são as situações em que uma parte é totalmente culpada e a 
outra é totalmente inocente. 
Com vistas nas dificuldades enfrentadas pelos estudiosos do tema, sugere-se como solução para 
essa celeuma a realização de exame pericial consistente na consecução de cálculos estatísticos, a 
serem solicitados pelo juiz da causa, sendo que entende-se como justa a proporção de 20% de 
culpa por parte do consumidor, e os 80% restantes por parte da empresa tabagista. 
Mas por que a indústria tabagista deve ser mais responsável pelos danos em discussão? Ora, por 
serem conhecedoras de todas as informações sobre os malefícios que envolvem o consumo do 
tabaco, as empresas fabricantes de cigarros agem refletidamente, conscientes, e exclusivamente 
baseadas no custo-benefício que cerca sua mercância. Aliás, auferindo muito mais benefícios do 
que custos ao longo de todos os anos durante os quais omitiu, dolosamente, informações 
relevantes, conhecidas antes doPoder Público em relação à capacidade destruidora das 
substâncias componentes do cigarro, iniciando e mantendo as pessoas nesse vício nefasto. 
Analogicamente, a atividade da empresa tabagista se aproxima da idéia de dolo eventual, estudado 
no Direito Penal. Essas empresas, mesmo sabendo que seus produtos são potencialmente letais, 
assumem o risco, in casu um risco proveito, porquanto auferem lucro com sua atividade, 
preferindo continuar comercializando derivados do tabaco, pois, mesmo que milhares de pessoas 
sofram danos em razão do consumo de cigarros, e até possam morrer por isso, sua finalidade 
(lucro) estará satisfeita. 
25 
 
De sua sorte, valendo-se da mesma analogia, o consumidor estaria incorrendo em culpa 
consciente, na medida em que, embora tenha plena consciência de que o consumo de cigarros 
pode matar, acredita seriamente que tal resultado não advirá. Certamente, a conduta da empresa é 
muito mais grave. 
Nos parece que a proposta em estudo, dentre todas até então apresentadas pela doutrina e pela 
jurisprudência, é a mais justa e correta, pois não se pode desprezar que o consumidor, sem dúvida, 
é quem, em última instância, determina seu comportamento, sendo essa a consequência natural do 
determinismo inerente ao ser humano. 
Mas será que o comportamento do consumidor é refletido, consciente, livre de influências 
externas? 
O consumo é atividade que deve ser refletida, isto é, deve ser desempenhada conscientemente, de 
maneira livre e espontânea pelo consumidor. Tomando por base essa premissa, não encontramos 
dificuldades em concluir que o consumidor, em maior ou menor grau, acaba sendo influenciado 
pela publicidade cotidiana, a qual, se hodiernamente não é explícita, é praticada de forma velada. 
Se é certo que hoje temos a restrição da propaganda do cigarro, não é por isso que a indústria 
tabagista deixará de anunciar o cigarro de forma sutil, através do cinema e da TV, por exemplo. A 
título ilustrativo, quantos de nós não assiste, quase diariamente, a notícias sobre atletas, 
principalmente do futebol, que são consumidores de cigarros? 
Ora, será que a imprensa, ao divulgar esse tipo de informação, seja por qual mídia for, não é capaz 
de despertar no indivíduo a falsa idéia de que fumar não causa tantos males? Afinal de contas, um 
atleta profissional, externamente em forma, gera a presunção de que goza de boa saúde, na medida 
em que um corpo saudável é indispensável para um bom desempenho no esporte. 
Sendo assim, a idéia de que o hábito de fumar se relaciona ao livre arbítrio não merece prevalecer, 
já que somente será legítimo se advier de atividade refletida por parte do consumidor. 
O argumento no sentido de que a industrialização e comércio de tabaco são atividades lícitas, 
autorizadas e regulamentadas pelo Poder Público também não deve prosperar, a teor do que 
dispõe o art. 187 do Código Civil, in verbis: 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé e pelos bons 
costumes. 
Fim econômico, fim social, boa-fé e bons costumes são conceitos jurídicos indeterminados, isto é, 
que na análise de um caso concreto dependem de valoração por parte do julgador, a fim de 
conferir concretude à norma jurídica. Desses quatro elementos, penso que a análise de somente 
dois deles (fim social e bons costumes) já é suficiente para rechaçar o argumento da 
comercialização de cigarros como atividade lícita. 
Quanto ao fim social, indagamos: Qual é o fim social do cigarro? Esse tipo de produto possui um 
fim social? É salutar à sociedade? Em que medida? Há quem diga que um cigarrinho acalma, 
relaxa etc. Com a devida licença dos que entendem o contrário, não consigo visualizar qualquer 
outro fim social do cigarro que não seja somente a geração de empregos na respectiva indústria. 
Hodiernamente, fumar é considerado um hábito antissocial. 
No tocante aos bons costumes, sem nos estender, estes geralmente são relacionados à idéia de 
moralidade, isto é, na idéia de atitudes reiteradas e de conteúdo ético que, de um modo geral, 
facilitam ou tornam agradável a vida em sociedade. No passado, a doutrina aproximava o conceito 
26 
 
de bons costumes ao de boa-fé, exatamente em razão da carga ética comum a ambos os institutos. 
Todavia, consoante lição de Clóvis Veríssimo do Couto e Silva[2], “o que importa contrastar é que 
os bons costumes referem-se a valores morais indispensáveis ao convívio social, enquanto a boa-
fé tem atinência com a conduta concreta dos figurantes na relação jurídica" (COUTO E SILVA, 
Clóvis Veríssimo do. A obrigação como processo. São Paulo, 1976, p. 31). 
Sendo assim, indagamos: o hábito de fumar é um bom costume? Traz benefícios? É um 
comportamento desejado? Obviamente, a resposta é negativa, o que é corroborado pelas leis 
antifumo que vem restringindo o uso do tabaco nos mais diversos locais, em todo o território 
nacional, sempre em nome da saúde pública referida pelo Desembargador Caetano Lagrasta no 
julgado mencionado linhas atrás. 
Quando contrariados aqueles conceitos presentes no artigo 187 do Código Civil, dá-se o 
nascimento do abuso de direito, o que, nos dizeres de Flávio Tartuce, ocorre “quando a pessoa 
exceda um direito que possui, atuando em exercício irregular de direito” [3]. Ou seja, em sua 
conduta inicial, a atividade é lícita, porém, torna-se ilícita em momento posterior, o que, no caso 
do cigarro, materializa-se no momento em que o fabricante insere no produto substâncias 
sabidamente tóxicas e potencialmente letais. 
A esse respeito, o artigo 12, caput, do CDC, traz valiosa elucidação, uma vez que dispões que os 
fabricantes respondem objetivamente pela reparação dos danos decorrentes de defeitos nas 
fórmulas de seus produtos. Sendo assim, no momento em que adicionam ao tabaco substâncias 
estranhas à sua composição natural, deve o fabricante responder pelos danos experimentados pelo 
consumidor. 
Assim, s.m.j., se a indústria tabagista sabe que sua atividade é perniciosa à sociedade, está 
incorrendo em abuso de direito, pois contraria o fim social e os bons costumes, e daí decorre sua 
responsabilidade objetiva de reparar os danos sofridos por seus “clientes”. 
Um breve parêntese: provavelmente alguns leitores irão rechaçar as idéias contidas neste texto, 
argumentando que, paralelamente ao cigarro, o mercado de consumo possui diversos outros 
gêneros cujo consumo também provoca danos à saúde humana, tais como as fast-foods, os 
refrigerantes, o açúcar, o sal, a gordura animal presente nas carnes e derivados do leite, os 
agrotóxicos presentes nos vegetais etc. Além disso, poderão argumentar que a poluição presente 
no ar, nas águas e outros infindáveis fatores são capazes de causar danos à saúde, inclusive o 
câncer. 
Para esses leitores, esclareça-se que, certamente, o consumo exagerado daqueles produtos e 
substâncias é sim capaz de causar danos das mais diversas ordens ao organismo, inclusive 
desencadear algum tipo de câncer. No entanto, o consumo moderado, dentro dos padrões 
recomendados pela Medicina, é essencial à sobrevivência humana. O açúcar, a gordura, o sal, os 
oleaginosos etc., todos tem importância para o correto funcionamento do corpo humano. Em 
excesso, causam danos; em carência, igualmente. Assim, consumidos em níveis seguros, salvo em 
casos específicos envolvendo pessoas que já são portadoras de algum mal ou sensíveis a alguma 
substância, os gêneros animais, vegetais e minerais nos auxiliam. 
Mas, e o cigarro? Qual substância presente no cigarro é indispensável à manutenção da vida 
humana? Ora, sabidamente, nenhuma! Aliás, a informação constante nos maços de cigarro é: “não 
existem níveis seguros para consumo dessas substâncias”. 
Nessa era da chamada principialização do Direito, os estudiosos devem voltar os olhos para a 
Constituição Federal – norma jurídica repleta de princípios que visam orientar o desenvolvimento 
social em todos os seus níveis ede forma plena, sendo que não é por acaso que o direito à vida se 
27 
 
encontra em posição topográfica no texto constitucional. É um direito que não deve ser encarado 
como mera declaração, mas sim como objeto primordial das ações governamentais e da própria 
sociedade, com vistas à promoção do pleno desenvolvimento do indivíduo, já que, nos dizeres de 
Miguel Reale, “o homem é o valor fonte de todos os valores”. 
Com essas breves considerações, manifesto meu total apoio aos estudiosos que, arduamente, vem 
se debruçando sobre esse grave problema de saúde pública, de forma a mudar o paradigma que 
vem orientando as decisões judiciais sobre o consumo de cigarros no Brasil, torcendo para que 
aqueles acometidos pelo vício do fumo possam dele se livrar, mas, acima de tudo, para que às 
próximas gerações seja oportunizado o exercício de uma liberdade legítima, livre da má influência 
do marketing subliminar e das perniciosidades mercadológicas que acometem o consumo. 
 
[1] http://www2.injur.com.br/pg/videos/play/group:5/9325/responsabilidade-civil-pelo-cigarro-prof-
flvio-tartuce 
[2] Jornal Carta Forense, segunda-feira, 3 de agosto de 2009. Acesso em: 27/05/2011 
[3] In Manual de Direito Civil: volume único / Flávio Tartuce – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: Método, 2011. 
Vitor Vilela Guglinski é advogado e professor, pós-graduado com especialização em Direito do Consumidor.Revista 
Consultor Jurídico, 22 de julho de 2011, por Vitor Vilela Guglinski.

Continue navegando

Outros materiais