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Dimensionamento de Canais de Navegação Rodrigo Marques Beneveli Introdução O projeto de um canal de acesso abrange um número de disciplinas, que incluem manobra de navios e engenharia marítima, para que se possa projetar hidrovias com um nível desejável de navegabilidade e segurança. Isso demanda a avaliação de alguns elementos chaves, incluindo porte e comportamento do navio, fatores humanos no seu manejo e efeitos do ambiente físico. O projeto de um canal de acesso envolve determinar layout e dimensões da área marítima principal de um porto no que toca a: alinhamento e largura de canais de acesso e entradas do porto; profundidade de canais de acesso; dimensão e forma de áreas para manobras no porto, com referência particular às áreas de parada e giro. Introdução Layout e dimensões são de grande importância, primeiramente porque em algumas situações a criação de áreas marítimas e trabalhos de proteção a elas relacionados constituem de longe o maior investimento em infraestrutura portuária, e segundo porque fatores como largura da entrada, espaço para manobras e alinhamento de quebra-mares são muito difíceis de mudar ou adaptar uma vez que o porto tenha sido construído. Para portos de águas profundas que devam receber navios de grande porte, acima de 50.000 TPB (tonelada de porte bruto), um importante problema a ser enfrentado é o fato que a trajetória real desses navios poderá desviar consideravelmente daquela que seria ideal. Isso é consequência da baixa resposta de navios grandes à ação do leme ou a movimentos de máquinas. Essa característica pode requerer a introdução de limites operacionais diferentes para tais navios quando em acesso ao porto ou em outras áreas de navegação. Como resultado, os cuidados a serem tomados para uma navegação segura deverão ser maiores nesses portos do que naqueles que atendam somente a navios de pequeno porte. Navio Projeto A largura de um canal é convenientemente expressa como um múltiplo da boca de um navio, com raios de curva expressos em múltiplos de seu comprimento. Além disso, a profundidade do canal é relacionada ao calado do navio. Se o canal tiver que ser projetado para um navio somente, então a escolha de comprimento, boca e calado torna-se simples. Raramente este será o caso, e assim o conceito de Navio-Projeto deverá ser empregado. O Navio-Projeto é portanto aquele para o qual o canal é projetado. Deve ser escolhido de modo a assegurar que o projeto do canal permita a ele, e a todos os navios que utilizarem o canal, navegarem com segurança. Ele terá que satisfazer a certos critérios e pode ser apropriado considerar mais de um navio projeto na fase inicial do processo de projeto para determinar largura e profundidade do canal. Navio Projeto Escolha do Navio Projeto A escolha do navio projeto é pautada por um número de considerações: Deve ser do tipo que será uitilizado. Sua escolha deve assegurar que todos os outros navios que venham a utilizar o canal possam fazê-lo com segurança. Ele não deve ser o maior navio a utilizar o canal, uma vez que os navios grandes são sempre alvos das maiores atenções e sujeitos a regras especiais de operação quando chegando ou saindo do porto e, desse modo, não deverão posar como a maior ameaça à segurança. A escolha do navio projeto deve, portanto, ter como base um ou mais dos seguintes critérios: Deve ter pouca manobrabilidade inerente. Deve ser muito grande no contexto das operações portuárias. Deve ter sensibilidade excessiva ao vento. Deve transportar uma carga particularmente perigosa. Navio Projeto Escolha do Navio Projeto Se o canal for atender a uma vasta gama de tipos de navios, é possível que venha a ser necessário mais de um navio-projeto. Nestes casos, um navio-projeto de grande calado deve ser utilizado para determinar a profundidade do canal enquanto um navio de pouco calado e com grande sensibilidade ao vento deve ser empregado para determinar sua largura. Navio Projeto Tipo do Navio O tipo de navio-projeto deve ser especificado já de início. Pode ser um graneleiro (para terminais petroleiros ou de minério), um navio porta containers para um terminal de containers) um navio de passageiros ou qualquer um dentre uma gama de outros tipos. Uma categorização mais ampla ocorre para canais utilizados por muitos tipos de navios e para os quais devam ser impostas Regras de Operação que possam variar de um tipo para outro. Em tais casos, devem ser levadas em consideração as informações prontamente disponíveis para as autoridades portuárias e, como a mais comumente conhecida é a Tonelagem de Arqueação Bruta, as categorizações são frequentemente feitas com base nesse parâmetro de dimensão e tipo do navio. As principais dimensões (comprimento, boca e calado), bem como as formas acima da linha d’água (e consequentemente a sensibilidade ao vento) serão determinadas por ser o navio um transportador de “peso” ou “volume”. Na Tabela 01 e 02 são apresentadas as principais categorias de navios, suas e tonelagem. Navio Projeto Navio Projeto Dimensionamento Garantir a navegação livre e segura das embarcações-tipo adotadas A definição está condicionada a estudos econômicos e ambientais, uma vez que o custo de transporte é barateado quanto maior o porte da embarcação, o que, em contrapartida, acarreta aumento no custo das obras de infraestrutura da hidrovia; A partir da definição da embarcação tipo é feito o dimensionamento do canal de navegação. Dimensionamento PROFUNDIDADE MÍNIMA Calado (T) + 0,3 m (fundo areia ou argila) a 0,5 m (fundo rocha): na estiagem, trechos restritos com 90% de probabilidade de profundidades superiores a esta; Profundidades menores do que 2 x T provocam redução do rendimento propulsivo com redução de velocidade e aumento do consumo de combustível. LARGURA MÍNIMA 4,4 x B (ou 5 x B) para mão dupla sem redução de velocidade; 2,2 x B para via com mão única Dimensionamento Dimensionamento EFEITO PISTÃO Área da seção molhada > (5 a 6) x B x T (seção mestra) – para evitar perda de rendimento propulsivo; Dimensionamento RAIO DE CURVATURA Área da seção molhada Sem restrição de velocidade nas curvas, o raio mínimo de curvatura deverá ser de 10 x L Caso se admitam curvas mais fechadas deverá adotar a sobre-largura(s) de: Dimensionamento VÃOS LIVRES EM PONTES Área da seção molhada trecho retilíneo as faces internas dos pilares devem ter distância mínima: Com cruzamento: 4,4 x B (ou 5 x B) + 5 m ou 2 x (2,2 x B + 5 m) Sem cruzamento: 2,2 x B + 5 m nas curvas cada caso deve ser avaliado ALTURAS LIVRES Desejável 15 m para passagem de grandes comboios de empurra Pontes elevadiças cabine dos empurradores retrátil Dimensionamento VELOCIDADE MÁXIMA DAS ÁGUAS Máximo maximorum de 5 m/s contra ou a favor paralela ao rumo de navegação (potência dos propulsores/manobrabilidade) em trechos restritos Limites recomendados: (0°) Vmáx = 2 m/s (para que o transporte não se torne anti- econômico) (30 a 45°) Vmáx = 1,2 m/s (90°) Vmáx = 0,7 m/s Dimensionamento BACIA DE EVOLUÇÃO OU ESPERA Nas margens de 15 km a 30 km Manobras Inversão de curso Cruzamentos Exercício Para se atender apenas as necessidades do transporte hidroviário de uma região existe a necessidade da construção de dois canais, cada um com seção trapezoidal simples, sendo que um irá operar com cruzamento de embarcações e o outro irá operar sem cruzamento. Considere os dados indicados a seguir e, com base nos critérios apropriados, estabeleça as principais dimensões de cada um dos canais. Dados: Boca do Comboio = 15 metros; Calado das Chatas = 2,5 metros; Máximo talude das margens = 1(V) : 2(H). Exercício Um armador dispõe de um navio a ser empregado no transporte de carga entre os portos X e Y. As distâncias percorridas pelo navio, tanto de X para Y, como de Y para X são iguaisa 6.720 milhas. A velocidade média do navio nos percursos pode ser considerada igual a 14 nós. O navio demanda 3 dias de porto para carregar e 4 dias de porto para descarregar em qualquer um dos portos. Considere: 1 milha = 1,60934 km / 1 nó = 1,852 km/h. Em 1 ano (365 dias), quantas viagens, aproximadamente, o navio realizará e qual o consumo de combustível em toneladas?