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Corticóides Corticoides são fármacos bastante utilizados na clínica pois possuem amplo espectro de ação no organismo. FISIOLOGIA NO CORPO HUMANO Glândulas supra-renais • Medula; - Adrenalina; - Noradrenalina. • Córtex. - Glicocorticóides: Agem no metabolismo de carboidratos, proteínas, lipídeos, anti-inflamatórios e imunossupressores; Principal: cortisol (hidrocortisona). - Mineralocorticóides: Atuam sobre o equilíbrio hidroeletrolítico; Retêm sódio (Na+); Depletam potássio (K+); Principal: aldosterona. - No córtex há uma pequena concentração de hormônios sexuais. Caminho da síntese dos corticóides • Hipotálamo libera CRF (fator liberador de corticotrofina) que atua na hipófise para que ela libere o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico). Vai produzir glico e mineralocorticóides. • A hipófise recebe um estímulo adicional de ADH, que vai fazer com que haja produção de mineralocorticoide para retenção de sal e água; • O córtex da adrenal recebe estímulo do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Mecanismos de ação intracelular dos glicocorticóides • Existem receptores para glicocorticóides em quase todas as células do organismo; - Diferentemente dos receptores para mineralocorticóides, onde estarão em algumas células específicas para que haja uma ação específica. • São muito importantes para o metabolismo; • Transcortina (proteína transportadora no sangue) traz o corticosteróide → internaliza no citoplasma celular, onde está o receptor para corticosteroides → complexo corticosteróide com receptor adentra o núcleo celular → elementos responsivos a corticosteroides → fazem transcrição do hormônio → forma proteína → faz função específica. - Quando não há hormônio, o receptor fica inativo por ação das proteínas IP e HSPs; - Exemplo de proteína produzida: Lipocortina, também denominada anexina 1, tem ação anti-inflamatória. Mecanismo de ação dos mineralocorticóides • Receptores de mineralocorticoides estão presentes somente nos rins, cólon e bexiga; • Aldosterona deveria se ligar, mas o cortisol tem mais atração pelo receptor → nos órgãos citados anteriormente, há uma enzima denominada 11ß-hidroxiesteroide desidrogenase que está constantemente transformando cortisol em cortisona (forma inativa do cortisol). Efeitos fisiológicos/farmacológicos dos corticóides • Metabolismo dos carboidratos - Quando o organismo produz corticoide em excesso ou quando há administração de corticoides em excesso, há aumento da glicemia (tendência de hiperglicemia) devido ao aumento da gliconeogênese. • Metabolismo das proteínas - Reduz síntese proteica; - Aumenta catabolismo protéico, o que alimenta a gliconeogênese; - Aumenta concentração de aminoácidos livres plasmáticos. • Metabolismo dos lipídeos - Aumenta lipólise; - Ácidos graxos livres e glicerol alimentam a gliconeogênese • Outros efeitos fisiológicos do corticoide: ➢ Equilíbrio hidroeletrolítico; – Pode aumentar a pressão arterial. ➢ Sistema cardiovascular; ➢ Sistema nervoso central; – Receptores de glicocorticóides no SNC; – Podem alterar comportamento do indivíduo que cessa quando retirado o medicamento. ➢ Metabolismo Ca+2; – Corticóides têm importância muito grande no metabolismo do cálcio; – Em excesso, reduz absorção de cálcio pelo sistema gastrointestinal e aumenta excreção de cálcio renal, o que reduz densidade óssea. – Tem efeito supressor sobre o osteoblasto (diminui atividade da célula que aumenta matriz óssea) e estimulatório sobre o osteoclasto (aumenta atividade da célula que reduz matriz óssea), ocasionando na redução da densidade (osteoporose). ➢ Elementos formadores do sangue. – Corticoides produz leucocitose devido a aumento de neutrófilos; – Reduz linfócitos, eosinófilos e basófilos (tratamento coadjuvante para leucemia linfocítica aguda); – Aumentam plaquetas e hemácias. CORTICOIDES NO PROCESSO INFLAMATÓRIO • No processo inflamatório, há vasodilatação e quimiotaxia; • Prostaglandinas são vasodilatadoras e hiperalgésicas; • AINEs inibem prostaglandinas; • Corticosteróides inibem toda a cascata inflamatória (citocinas, linfócitos...); - Efeito adverso de corticoide é dose tempo-dependente; - Pode levar à imunossupressão (pode ser utilizado para transplantes). Ações antiinflamatórias e imunossupressoras • Mecanismo imunossupressor dos glicocorticóides: - Reduz liberação de substâncias vasoativas; - Ação de substâncias quimio atrativas; - Reduz extravasamento (recrutamento) de leucócitos para a área de inflamação; - Reduz fluxo sanguíneo local; - Reduz permeabilidade de capilares vizinhos; - Reduz extravasamento de líquidos e proteínas; - Reduz edema de células lesadas; - Quimiotaxia dos leucócitos e neutrófilos em direção à área lesada; - Reduz citocinas IL1, IL2, IL3, IL6, TNF-a, GM-CSF, INF-gama (produzidas por linfócitos); - Inibe a transcrição de genes da PLA2 e COX 2 (nas células inflamatórias, geralmente isto é bloqueado por antiinflamatórios); - Reduz PGs e Leucotrienos; - Reduz histamina (basófilos); - Aumenta IL 10. Influência do estresse sobre o mecanismo imune FARMACOCINÉTICA • Absorção: - Hidrocortisona – VO; - Ésteres de hidrocortisona – IV; - Efeitos mais prolongados e administração lenta – IM. • Transporte, metabolismo e excreção: - Proteínas com afinidade: CBG ou Transcortina (90%); Albumina. • Hipoproteinemia: - aumento da fração livre. • Pequena quantidade armazenada nas glândulas; • Sofre biotransformação hepática e excreção renal. Relação da estrutura química com atividade • Hidrocortisona (hidroxila na posição C11) – glicocorticoide; - Primeiro corticóide sintético a ser desenvolvido; - Cortisona à hidrocortisona (ativa); - Atividade mineralocorticoide (retém sódio e água); • Prednisona - prednisolona (ativa); - Criada a partir da hidrocortisona; - Dupla ligação entre os C1 e C2 da hidrocortisona. • Metilprednisolona; - Criada a partir de uma ramificação metil no C6 da prednisolona; - Maior capacidade anti-inflamatória. • 9-Flúor Prednisolona; - Flúor no C9 da prednisolona; - 20x mais potente que a hidrocortisona com igual atividade mineralocorticóide. •Triancinolona e Betametasona/ Dexametasona; - OH (hidroxila) ou CH3 (metila) no C16; - 30x mais potente que a hidrocortisona com atividade mineralocorticoide quase nula. Outros fármacos para uso nasal (inalatório) - Parametasona; - Deflazacort; - Budesonida; - Alclometasona; - Amcinonide; - Beclometasona; - Ciclesonida; - Clobetasol; - Diflorasona; - Flunisolida; - Fluocinolona/Fluocinonida; - Fluorometolona; - Flurandrenolida; - Halcinonida; - Mometasona; - Clocortolone; - Desonida; - Desoximetasona. USOS CLÍNICOS DOENÇAS ENDÓCRINAS Em geral, utiliza-se da hidrocortisona para tratamento destas doenças. Pode-se, também, utilizar a fluorprednisolona. • Insuficiência adrenal aguda (Doença de Addison); • Insuficiência adrenal crônica; • Hiperplasia adrenal congênita. Tratamento das doenças endócrinas • Insuficiência adrenal aguda; ➢ Sintomas: - Gastrointestinais; - Desidratação; - Hiponatremia; - Hipercalemia; - Fraqueza; - Letargia;- Hipotensão. ➢ Tratamentos: - Hidrocortisona IV em bolo; - 100mg a cada 8h diluída em SF glicosada 5%. • Insuficiência adrenal crônica; ➢ Tratamentos: - Hidrocortisona 20-30mg/dia VO; - Reposição de mineralocorticóides (acetato de fludrocortisona 0,05 a 0,2mg). • Hiperplasia adrenal congênita (HAC); - Deficiência genética de enzimas esteroidogênicas; - Redução das enzimas necessárias à biossíntese dos corticoides (21- hidroxilase); - Reduz cortisol e aldosterona; - Aumenta ACTH. ➢ Tratamentos: - Hidrocortisona e mineralocorticosteroide (restaurar níveis de hormônios esteróides e equilibrar ACTH); - Tratamento padrão: hidrocortisona 0,6mg/kg/dia dividida em duas ou três doses ao dia e mineralocorticosteroide 0,05 – 0,2mg/dia se necessário. DOENÇAS NÃO ENDÓCRINAS • Doenças reumáticas: tratamento com prednisona 5-10mg/dia VO; - LES; - Artrite reumatoide (1º AINEs, depois glicocorticoide). • Doenças articulares: tratamento com glicocorticoide local em injeções (intra articular) a cada 3 meses. - Tendinites; - Bursites. • Doenças alérgicas: - Rinites alérgicas; - Urticária; - Dermatite de contato; - Reação a drogas; - Anafilaxia (não é de primeira escolha). • Doenças respiratórias: - Asma brônquica (tratamento com bronco dilatadores e, em casos de crises graves, prednisona 20-60mg VO ou metilpredisolona 60-120mg VO). • Doenças oftalmológicas: tratamento com pomadas oftalmológicas, colírios ou VO. - Conjuntivites; - Oftalmopatia maligna. • Outros usos clínicos: - Transplantes de órgãos; - Leucemia linfocítica aguda; - Trombocitopenia (corticoide aumenta número de plaquetas e reduz sangramento); - Anemias hemolíticas autoimunes (reduz concentração de anticorpos anti-hemácias e reduz hemólise). OUTRAS SITUAÇÕES • Uso sistêmico Benefício definido para uso sistêmico em doenças como: - Doença de Crohn; - Asma aguda; - Crupe (tosse seca inflamatória); - Lúpus Eritematoso Sistêmico; - Doença pulmonar obstrutiva crônica. • Uso tópico Benefício definido para uso tópico em doenças como: - Rinite alérgica; - Profilaxia de asma moderada; - Dermatite atópica; - Pênfigo bolhoso; - DPOC. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS - Uso concomitante de anticonvulsivante; Ex: fenitoína, fenobarbital e rifampicina; - Aumentam metabolismo hepático do corticoide. TOXICIDADE • Depende da dose e duração do tratamento; • Fatores próprios: ➢ Idosos: – Intolerância à glicose; –Fraqueza muscular. ➢ Desnutridos: – Redução de concentração das proteínas plasmáticas; – Aumento dos níveis de drogas livres. • Principais efeitos adversos: – Retirada após uso prolongado: Insuficiência das supra renais; – Exacerbação do processo patológico. • Exacerbação dos efeitos fisiológicos: – Síndrome de Cushing (medicamentosa/fisiológica). COMPLICAÇÕES DA CORTICOTERAPIA • Sistema nervoso central; - Alterações de comportamento; - Psicose; - Convulsões. • Sistema imunitário; - Disseminação de infecções. • Olhos; - Aumento da pressão intraocular; - Exacerbação de infecções (herpes simples, bactérias e fungos). • Sistema endócrino e metabólico; - Retardo do crescimento; - Diabetes; - Síndrome de Cushing iatrogênica. • Aparelho cardiovascular; - Hipertensão; - Infarto do miocárdio; - Fragilidade capilar. • Sistema musculoesquelético; - Perda de massa muscular; - Osteoporose; - Fraturas espontâneas. • Sangue; - Aumenta leucócitos; - Diminui linfocitos, eosinófilos e basófilos; - Aumenta neutrófilos, plaquetas e hemácias; - Hipercoagulabilidade sanguínea; - Tromboembolismo. • Pele; - Atrofia; - Estrias cutâneas; - Acne; - Hirsutismo (aumento de pelos em locais indesejados); - Equimoses; - Cicatrização lenta. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA CORTICOTERAPIA - Cuidados com uso crônico de doses altas e retiradas abruptas; - Tratamentos curtos: menores que 7 dias; - Tratamentos médios: acima de 15 dias com doses altas; - Tratamentos longos: mais de um mês, meses ou anos em doses altas. - Tratamento ideal: Doses únicas matinais; Tratamento com dias alternados (exceto em doenças graves, como doenças hematológicas e transplantes); - Uso tópico – maioria dos efeitos são locais, podendo haver poucos efeitos sistêmicos (quando utilizadas doses altas); - Acima de 15 dias, deve-se retirar gradualmente; Alta concentração de corticoide: Pulsoterapia 1g/3 dias (reduz edema rapidamente).
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