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Endocrinologia Clínica 1 Endocrinologia Clínica Professora Karen Bauab Endocrinologia Clínica 2 Endocrinologia Clínica 3 Sumário Introdução 4 Glândulas Endócrinas e Principais Distúrbios Endócrinos 4 Glândula Pineal 4 Hipotálamo 5 Hipófise ou glândula pituitária 6 Alterações na secreção de prolactina 8 Alterações da secreção de GH 9 Tireoide 10 Avaliação da função tireoidiana e doenças da tireoide 10 Hipotireoidismo 11 Hipertireoidismo 12 Paratireoides 13 Metabolismo ósseo e doenças osteometabólicas 13 Papel do paratormônio e da calcitonina nos níveis de cálcio: 14 Hiperparatireoidismo 15 Hipoparatireoidismo 15 Osteoporose 15 Osteomalacia e raquitismo 16 Glândula Adrenal ou Suprarrenal 16 Distúrbios do córtex adrenal 18 Insuficiência adrenal 18 Síndrome de Cushing 18 Ilhotas de Langerhans (Pâncreas Endócrino) 20 Gônadas (Testículos e Ovários) 20 Anomalias reprodutivas masculinas 22 Hipogonadismo 22 Defeitos na ação androgênica 24 Disfunção erétil ou impotência 24 Ginecomastia 25 Distúrbios da reprodução feminina 26 Puberdade precoce 26 Menstruações irregulares e amenorreia 27 Referências 29 Sumário Endocrinologia Clínica 4 Introdução O sistema endócrino é responsável pelo equilíbrio e perfeito funcionamento do organismo. Esse sistema opera em longo prazo por meio de sinais químicos, executados por substâncias denominadas hormônios (do grego hormaein = excitar). Os órgãos e tecidos que segregam tais substâncias são conhecidos como glândulas endócrinas (do grego endo = dentro e krynos = secreção). O hormônio é lançado pela glândula endócrina através da corrente sanguínea, onde circula em baixas concentrações. Chegando ao órgão-alvo, acopla-se a receptores de alta especificidade e afinidade localizados na superfície das células. Os hormônios nunca são secretados em uma velocidade constante e, dessa maneira, regulam diversas atividades fisiológicas, como a concentração hídrica, a disponibilidade de carboidratos para o trabalho celular, a absorção de minerais, a pressão arterial, o surgimento dos caracteres sexuais, a maturação das células reprodutivas, a estimulação do desenvolvimento (crescimento), a regulação do ciclo menstrual feminino, a secreção de leite nos mamíferos, a dilatação do canal vaginal e as contrações uterinas em virtude do parto, entre outras inúmeras funções. h t t p : / /www.e cb . epm .b r /~ ramo r t a ra / b ce l / j o e l / AULA%20 SINALIZA%C3%87%C3%83O%20P%C3%93S%202011.pdf O sistema endócrino é composto por várias glândulas que se situam em diferentes pontos do nosso organismo. Em alguns casos, ao invés de seguir um sentido direto, o estímulo hormonal emitido por uma glândula (agente primário) regula a atividade metabólica de uma segunda glândula (receptor intermediário/agente secundário), para então prosseguir até a região do organismo onde irá estimular uma reação no tecido ou órgão correspondente (receptor terminal). O funcionamento do sistema endócrino é regulado por mecanismo de feedback, ou retrocontrole. Chamamos de feedback negativo quando o hormônio secretado por uma glândula atinge uma concentração acima do necessário e isso tem como efeito a interrupção da secreção desse hormônio e a consequente suspensão do circuito de ação. Denominamos feedback positivo quando a concentração de um hormônio é baixa e há necessidade de a glândula secretá-lo para que uma determinada atividade fisiológica possa ser desenvolvida. Glândulas Endócrinas e Principais Distúrbios Endócrinos As principais glândulas endócrinas são: glândula pineal, hipotálamo, hipófise (ou glândula pituitária), tireoide, paratireoides, suprarrenais (ou adrenais), ovários, testículos e ilhotas de Langerhans (no pâncreas). Além dessas glândulas, a mucosa gástrica e a duodenal possuem células de função endócrina. Glândula Pineal A glândula pineal está localizada entre os hemisférios cerebrais. Ela secreta um hormônio chamado melatonina, que é sintetizado a partir do neurotransmissor serotonina. Os impulsos nervosos originados na retina atingem a pineal, que, em resposta a esse estímulo, diminui a secreção de melatonina. Dessa forma, a quantidade de luz regula a secreção, que atingirá sua concentração máxima durante o sono. Entende-se, portanto, que a melatonina regula o ritmo circadiano. Esse hormônio também está envolvido no controle de eventos biológicos que ocorrem ciclicamente, como o ciclo reprodutivo feminino. O mecanismo de atividade da me- latonina ainda é pouco conhecido, porém ela parece estar envolvida no controle do início da puberdade, inibindo o hipotálamo e impedindo a produção de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina). Estudos observaram que a di- minuição ou ausência da produção de melatonina acarreta Endocrinologia Clínica 5 o aumento de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo-estimulante), ambos hormônios gonadotróficos produzidos pela hipófise, que determinam um quadro de puberdade precoce. Hipotálamo O hipotálamo está localizado, juntamente com a hipó- fise, no interior do crânio, em uma depressão do osso es- fenoide (sela túrcica), e é o principal elo integrador entre o sistema nervoso e o endócrino. Além de ser responsável pela regulação da liberação e inibição dos hormônios da hipófise, o hipotálamo também produz ocitocina e ADH (hormônio antidiurético), que ficam posteriormente esto- cados no lobo posterior da hipófise (neuro-hipófise) até que o organismo necessite que sejam secretados. Os hormônios produzidos no hipotálamo que agem na liberação ou inibição dos hormônios hipofisários são: a) Hormônio liberador de tireotrofina (TRH) – age interagindo com receptores localizados na membrana das células tireotróficas e lactotróficas hipofisárias, o que estimula a síntese e secreção do hormônio tireoestimu- lante (TSH) e da prolactina (PRL). A regulação da síntese e secreção de TRH é influenciada por várias regiões do sistema nervoso central e pelos hormônios tireoidianos cir- culantes. b) Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) – age nas células hipofisárias regulando a sín- tese e a secreção do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH). A secreção do GnRH é estimulada pela noradrenalina e inibida pela dopamina e pela endorfina. Além do hipotálamo, a placenta também sintetiza o GnRH. c) Hormônio liberador do hormônio do cresci- mento (GHRH) – interage com os receptores de mem- brana das células da hipófise, resultando na síntese e li- beração do hormônio do crescimento (GH). A liberação do GNRH é estimulada por endorfinas, glucagon e neuroten- sina e inibida pela somatostatina endógena e pelo IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina). d) Hormônio inibidor da liberação de hormônio do crescimento (GHRIH ou somatostatina) – é um hormônio pan-inibidor, pois inibe a secreção de TSH. Atua no sistema nervoso, como neurotransmissor ou neuromo- dulador, e no pâncreas, onde inibe a secreção de insulina ou glucagon. A somatostatina tem sua síntese e liberação estimulada pelo GH, pelo IGF-1 e pelo hormônio liberador de corticotrofina (CRH). A inibição da somatostatina é rea- lizada pela acetilcolina, que induz a liberação de GHRH. e) Hormônio liberador de prolactina (PRH) - atua nas células lactotróficas da hipófise estimulando a liberação de prolactina (PRL). f) Hormônio inibidor de prolactina (PIF/dopa- mina) - atua nas células lactotróficas da hipófise inibindo a liberação de prolactina (PRL). g) Hormônio liberador de corticotrofina (CRH) – age estimulando as células corticotróficas da hipófise a liberarem o hormônio adrenocorticotrófico(ACTH). O CRH é sintetizado em neurônios na eminência mediana do hi- potálamo, na circulação porta-hipofisária. Estrogênios es- timulam a secreção de CRH. A hipoglicemia é outro fator estimulante, pois o organismo reconhece-a como uma si- tuação de estresse. Os hormônios produzidos no hipotálamo que ficam ar- mazenados na hipófise posterior (neuro-hipófise) para que esta os secrete quando necessário são: a) Hormônio antidiurético (ADH) - a principal função do ADH é a manutenção da hemostasia hídrica, que permite ao rim reabsorver água e concentrar a urina. Outros estímulos para a liberação do ADH pela hipófise in- cluem: dor, estresse mental, sono, exercício e agentes quí- micos como catecolaminas, angiotensina, opiáceos, pros- taglandinas, anestésicos, nicotina e barbituratos. Agentes como álcool, fenitoína e glicocorticoides inibem a liberação do ADH. b) Ocitocina – esse hormônio estimula as contrações uterinas na hora do parto e a glândula mamária na lactação. A liberação é estimulada pela amamentação e Endocrinologia Clínica 6 pelo estiramento do útero. Estresse emocional inibe a lactação, provavelmente por inibir a liberação de ocitocina. Hipófise ou glândula pituitária A hipófise é um pequeno órgão que pesa cerca de 0,5 g e se localiza na sela túrcica do osso esfenoide. Ela liga-se por um pedúnculo ao hipotálamo na base do cérebro. A hipófise pode ser dividida em lobo anterior (denominado adeno-hipófise), lobo intermediário e lobo posterior (denominado neuro-hipófise). http://dc239.4shared.com/doc/-r9OjrCM/preview.html A adeno-hipófise secreta seis hormônios importantes: a) Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) - é secretado após estimulação das células corticotróficas da hipófise pelo CRH. O ACTH estimula o córtex da glândula suprarrenal a produzir o hormônio cortisol (glicocorticoide). A secreção de ACTH é estimulada por serotonina, acetilcolina e endorfinas e responde aos estímulos estressantes, sejam físicos ou mentais, aumentando consequentemente a secreção de cortisol. http://dc96.4shared.com/doc/DzC1LbHy/preview.html Tumor hipofisário secretor de ACTH (corticotro- pinoma ou doença de Cushing) A doença de Cushing refere-se especificamente à pre- sença de um tumor na hipófise que, por lançar grandes quantidades de ACTH, estimula uma secreção excessiva de cortisol na glândula adrenal. O excesso de cortisol no organismo por um longo período causa um conjunto de alterações físicas e mentais denominado Síndrome de Cushing. A dosagem de ACTH determina se a origem da síndrome é hipofisária ou adrenal. Vamos estudar esse as- sunto mais detalhadamente quando falarmos dos distúr- bios da glândula adrenal. b) Hormônio tireoestimulante (TSH) - estimula a glândula tireoide a secretar os hormônios tiroidianos (T3 e T4). O aumento da concentração de T3 e T4 na circula- ção sanguínea inibe a secreção de TSH pela hipófise, da mesma forma que a diminuição da concentração de T3 e T4 no sangue leva a um aumento do estímulo da secreção de TSH. Contudo, o hormônio T3 é o mais potente inibidor conhecido da síntese e secreção hipofisária de TSH (feed- back negativo). A secreção de TSH é pulsátil e circadiana Endocrinologia Clínica 7 noturna e é estimulada pela noraepinefrina e inibida por dopamina, serotonina e endorfinas. http://www.endocrinopediatria.com.br/Feed-back.htm Tumor hipofisário secretor de TSH (tireotropino- ma) O tumor hipofisário secretor do TSH causa hipertireoi- dismo hipofisário. Laboratorialmente, as dosagens de TSH e T4L estão aumentadas. c) Hormônios gonadotróficos: hormônio lutei- nizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH) – a cada uma a três horas, o hipotálamo secreta pulsos de GnRH que duram vários minutos, o que causa liberação pulsátil de LH e FSH pela adeno-hipófise. A secreção das gonadotrofinas também é estimulada por noraepinefrina, acetilcolina e ácido gama-aminobutírico e inibida por sero- tonina, dopamina e endorfinas. O estrógeno nas mulheres e a testosterona nos homens exercem feedback negativo ao nível hipofisário, bloqueando a ação do GnRH, e ao nível hipotalâmico, inibindo a secreção de GnRH. O LH estimula as células intersticiais das gônadas masculinas e femininas a liberarem androgênios, portanto, no homem, é o primeiro estímulo para a produção de testosterona pelos testículos. O FSH estimula diretamente a espermatogênese. Na mulher, o pico de LH é o que desencadeia a ovulação. O LH também estimula as células foliculares e o corpo lúteo a produzir progesterona, e o FSH estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos e a produção de estrógeno pelas células foliculares. Um efeito importante do FSH é ampliar a sensibilidade ao LH, aumentando o número de receptores deste hormônio nas células da granulosa ovariana. Quando há fecundação, ocorre um decréscimo de LH durante a fase lútea. Os baixos níveis de LH devem ser substituídos por um hormônio placentário equivalente: a gonadotrofina coriônica humana (HCG). Sua principal função é manter a atividade do corpo lúteo do ovário durante a gravidez. d) Prolactina (PRL) – a secreção de PRL é controlada essencialmente pelo hipotálamo, que inibe a secreção desse hormônio liberando o hormônio inibidor da prolactina (PRH), que é certamente a dopamina. A somatostatina também contribui para que haja essa inibição. A secreção da PRL estimulada pela noraepinefrina e pelas endorfinas é realizada em pulsos. Esses pulsos têm amplitude estendida durante o sono e o estresse, incluindo anestesia, cirurgia, hipoglicemia, medo e tensão emocional. A PRL tem papel no desenvolvimento das mamas antes Endocrinologia Clínica 8 e após a puberdade, em conjunto com estrogênios, progesterona, cortisol e hormônio do crescimento (GH). Durante a gravidez, a PRL, juntamente com o estrogênio e a progesterona, são responsáveis pelo melhor desenvolvimento dos alvéolos das mamas. Depois do parto, ela, juntamente com a insulina e o cortisol, estimulam a síntese e secreção do leite materno. A PRL exerce também alguma influência na ausência de menstruação (amenorreia) durante o período de lactação. Nos homens, a função da PRL não é conhecida, porém, quando em excesso, causa danos na fertilidade e potencia sexual. Algumas semanas após o nascimento do bebê, os níveis de secreção de PRL voltam ao normal (“não grávido”) e são aumentados a cada vez que a mãe amamenta a criança. Nesse momento, por meio de fenômenos neuroendócrinos, há um “jorro” de PRL que estimula a “descida” do leite. Alterações na secreção de prolactina O tumor secretor da prolactina é o mais frequente entre os tumores secretores da hipófise e é conhecido como prolactinoma. Além do prolactinoma, a hiperprolactinemia (excesso de PRL sérica) tem diversas outras causas, entre elas: insuficiência renal crônica, gravidez, estímulo nas mamas, trauma na parede do tórax, hipotireoidismo primário, síndrome da sela vazia, causas hipotalâmicas, alguns medicamentos (fenotiazinas, butirofenonas, metoclopramida, sulpirida, alfametildopa, reserpina, TRH, estrogênios, cimetidina e antidepressivos tricíclicos) e estresse. O excesso de PRL sérica é observado em 30% das mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). Na maioria dos pacientes com hiperprolactinemia, a dosagem de gonadotrofinas basais é baixa. Estudos sugerem que a PRL inibe a secreção de GnRH, resultando em um quadro de hipogonadismo. O excesso de PRL causa distúrbios menstruais (amenorreia/oligorreia), galactorreia e infertilidade na mulher; no homem, causa perda da libido e potência sexual, oligospermia ou redução do volume do ejaculado, galactorreia com ou sem ginecomastia. e) Hormônio do crescimento (GH) – é também denominado somatotrófico ou somatotropina. O GH exerce seus efeitos sobre todos ou quase todos os tecidos do corpo. Além disso, exercenumerosas ações sobre o metabolismo de proteínas (aumenta a síntese proteica em todas as células do organismo), de lipídeos (causa liberação de ácidos graxos do tecido adiposo e faz com que as gorduras sejam utilizadas para obtenção de energia em preferência aos carboidratos e proteínas) e de carboidratos (diminui o uso da glicose para obtenção de energia, acentua a deposição do glicogênio nas células, diminui a captação de glicose pelas células, gerando hiperglicemia, e aumenta a secreção de insulina pelo pâncreas). A síntese e a liberação do GH são estimuladas pela secreção do GHRH pelo hipotálamo, pela dopamina, pela noraepinefrina, pela serotonina e pelas endorfinas e são inibidas pela somatostatina (GHRIH). Fatores que Afetam a Secreção de GH Fatores estimuladores Fatores inibidores Baixa concentração de glicose Baixa concentração de ácidos graxos livres Arginina Jejum ou fome Hormônios da puberdade Exercício Estresse Estágios III e IV do sono Agonistas alfa- adrenérgicos Alta concentração de glicose Alta concentração de ácidos graxos livres Obesidade Senescência Somatostatina Hormônio do crescimento Agonista beta- adrenérgicos Gravidez O lobo intermediário da hipófise produz e secreta o hormônio melanotrófico, ou melanocortina (MSH), que estimula a pigmentação da pele (acelera a síntese natural de melanina) e a síntese de hormônios esteroides pelas glândulas adrenal e gonadais. Ainda interfere na regulação da temperatura corporal, no crescimento fetal, na secreção de prolactina, na proteção do miocárdio em caso de isquemia e na redução dos estoques de gordura corporal. No tocante Endocrinologia Clínica 9 à duração da proteção do registro, no caso do software, face à rapidez de sua obsolescência, a proteção sofre maior limitação temporal. A duração da tutela dos direitos relativos ao programa de computador é de 50 anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequente ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação, nos termos do artigo 2º, § 2º, da Lei de Software. Alterações da secreção de GH Alterações clinicamente importantes da secreção do GH são relativamente incomuns e de difícil diagnóstico. As concentrações de GH sofrem variação sob condições aleatórias e, portanto, não se deve usar uma única dosagem para distinguir o que representa ou não a secreção anormal. A dosagem de GH é bem mais esclarecedora quando usamos testes dinâmicos, que envolvem o uso de um estímulo ou supressão provocado farmacológica ou fisiologicamente. De forma oposta ao GH, uma única dosagem de IGF-1 é considerada suficiente pra uma avaliação acurada da sua produção. A concentração sérica de IGF-1 é influenciada por fatores como idade, grau de maturação sexual e estado nutricional e é baixa em pacientes com deficiência de GH, bem como na privação aguda ou crônica de proteínas ou calorias. Os tumores secretores de GH podem causar acromegalia e gigantismo. A exposição prolongada ao excesso de GH causa um crescimento exagerado do esqueleto e partes moles, a acromegalia, mais frequente em adultos. Quando esse excesso ocorre antes que se complete o crescimento dos ossos longos, essa condição clínica é chamada de gigantismo, na qual, além do crescimento exagerado de ossos e tecido conjuntivo, há uma grande aceleração do crescimento linear. Em aproximadamente 10% dos pacientes com acromegalia, as dosagens de GH séricas estão dentro dos valores de referência, porém essencialmente todos esses pacientes têm uma resposta anormal na dosagem de GH com supressão com glicose. Esse exame é realizado pela manhã. Com o paciente em jejum de 8 horas, administramos, por via oral, uma solução de 75 g de glicose anidra (dextrosol = 82,5 g, ou produto similar em dose correspondente) e fazemos coletas de sangue 30, 60, 90 e 120 minutos após a ingestão, amostras nas quais será dosado o GH. A resposta esperada é que haja supressão do GH abaixo de 1,0 ng/mL (método imunométrico), ou abaixo de 2,0 ng/mL (se dosado por radioimunoensaio). Na acromegalia, não há a supressão adequada ou ocorre aumento paradoxal do GH. A dosagem IGF-1 apresenta-se elevada na acromegalia, e esse exame frequentemente se relaciona melhor com a gravidade clínica do problema do que a dosagem de GH basal ou com supressão com glicose. A deficiência da secreção do GH atrasa o crescimento das crianças. Nos adultos, a carência desse hormônio manifesta- se de forma bastante variável, com fraqueza e diminuição da massa muscular, aumento da gordura abdominal, osteopenia, dislipidemia e diminuição da sensação de bem- estar, além de ser geralmente acompanhada de diminuição da produção de outros hormônios hipofisários, tais como TSH, LH, FSH e ACTH. A deficiência de GH pode ser congênita ou adquirida. As causas congênitas são menos comuns e podem ou não estar associadas a defeitos anatômicos. As causas adquiridas incluem tumores e doenças infiltrativas da região hipotálamo-hipofisária, tratamento cirúrgico de lesões hipofisárias, trauma, infecções e infarto hipofisário ou radioterapia craniana. A dosagem de IGF-1 é baixa quando há deficiência do GH, porém não indica necessariamente essa deficiência (pacientes com deficiência de crescimento causada por outras doenças endócrinas e não endócrinas também apresentam dosagem baixa de IGF-1). A dosagem da proteína ligadora tipo 3 do IGF (IGFBP-3) apresenta-se diminuída em 50% a 80% no déficit de GH e normal nas crianças com baixa estatura sem déficit de GH. Contudo, o IGFBP-3 está alterado em desnutrições, cirrose e diabetes mellitus, podendo resultar em valores baixos. Pacientes com deficiência de GH apresentam dosagens baixas de GH após testes de estímulos. Na tabela a seguir, estão apresentados diferentes testes disponíveis para avaliação da reserva de hormônio de crescimento, destacando-se as principais vantagens e desvantagens de cada um. Teste Vantagens Desvantagens Exercício - estímulo fisiológico. - não tem efeitos colaterais. - baixo custo. - baixa sensibilidade. - pode não haver resposta em um grande número de normais. Endocrinologia Clínica 10 Teste de estímulo com glucagon - potente liberador de GH, fornecendo limites claros entre normais e deficientes de GH. - pode provocar náuseas e vômitos. Teste de tolerância à insulina (ITT) - é um dos mais potentes estímulos para a secreção de GH. - permite que o eixo corticotrófico seja avaliado ao mesmo tempo. - é um procedimento de risco, requerendo a presença de um médico durante o teste. - sintomas de hipoglicemia. - há risco de crise convulsiva generalizada consequente à hipoglicemia, sendo contraindicado em indivíduos com antecedente de epilepsia. Estímulo com L-DOPA - nenhuma vantagem aparente. - pode provocar náuseas e vômitos. L-DOPA +propranolol - ganho em sensibilidade com a adição do betabloqueador à L-DOPA. - pode provocar náuseas e vômitos. Estímulo com clonidina - é potente estímulo para a liberação de GH . - é um teste bem tolerado, apesar de seus efeitos colaterais. - tem como principais efeitos colaterais hipotensão e sonolência, sendo estas dependentes da dose. Estímulo com arginina - teste simples, bem tolerado e que não sofre influência da idade. - alguns indivíduos normais podem não apresentar elevação de GH (falso-positivo). - teste demorado (infusão de 30 minutos). - pode provocar náuseas e vômitos. Estímulo com GHRH - é o fator hipotalâmico específico liberador de GH. - não é estímulo potente para a liberação de GH, gerando grande número de falsos- positivos, principalmente quando usado como estímulo isolado. - pode ocorrer como efeito colateral rubor facial transitório. GHRH piridostigmina - a associação aumenta o poder do teste. - há relato de dor abdominal pela piridostigmina, além de fasciculações musculares. Pode aindaocorrer o rubor facial causado pelo GHRH. GHRH + arginina - potencializa o estímulo exercido pelo GHRH pela inibição da somatostatina. - é um excelente teste provocativo de secreção de GH em adultos. - arginina pode provocar náuseas e vômitos, além do efeito colateral já citado provocado pelo GHRH. GHRH + GHRP-6 - considerado o mais potente estímulo liberador de GH, sem efeitos colaterais para o paciente. O poder preditivo do teste é próximo de 100%. - não é afetado por sexo, idade nem quantidade de tecido adiposo. - é um excelente teste provocativo de secreção de GH em adultos. - não há relato de efeito colateral com o GHRP-6. Permanece o rubor causado pelo GHRH. http://www.fleury.com.br/medicos/medicina-e-saude/manuais/ manual-de-provas-funcionais/Pages/capitulo-1.aspx Tireoide A função da glândula tireoide é concentrar o iodo circulante para liberá-lo aos tecidos periféricos na forma de hormônios tireoidianos. Estes são liberados na circulação sistêmica em resposta ao TSH. Os principais hormônios secretados pela glândula tireoide são: tetraiodotironina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina. Embora a tireoide secrete principalmente o T4, as ações biológicas dos hormônios tireoidianos ocorrem pela ligação do T3 ao seu receptor nuclear. A tireoide é a única fonte de T4, enquanto que somente 20% do T3 é proveniente dela e 80% é originado na desiodação do T4 nos tecidos, principalmente no fígado. Além de originar o T3 ativo, o T4 também pode dar origem a uma forma de T3 inativo, o T3 reverso (rT3). As principais funções dos hormônios T3 e T4 são: aumento do consumo de oxigênio e, portanto, da taxa metabólica; aumento da excreção de colesterol, causando a diminuição da colesterolemia; aumento da absorção de glicose com potencialização da ação da insulina; aumento da força de contração do coração e da frequência cardíaca, o que gera aumento do volume sistólico e do peristaltismo; manutenção proteica, pois o aumento de T3 leva ao predomínio do catabolismo nos músculos e nos ossos; e, por fim, estímulo da lipólise e da secreção de GH. A calcitonina regula a taxa de cálcio no sangue, inibindo sua remoção dos ossos, o que diminui a taxa plasmática de cálcio. Avaliação da função tireoidiana e doenças da ti- reoide Alguns medicamentos podem influenciar a função ti- reoidiana. Dopamina e glicocorticoides diminuem a secre- Endocrinologia Clínica 11 noensaio por quimioluminescência (CLIA), imunoensaio por fluorescência polarizada (FPIA), enzima imunoensaio (EIA), ensaio imunoabsorvente ligado a enzima (ELISA) e radioimunoensaio (RIA). Atualmente, devido aos inconvenientes do uso de ma- terial radioativo, a grande maioria dos kits presentes no mercado utiliza imunoensaios com marcação não radioati- va de antígenos ou anticorpos. A sensibilidade e especifici- dade dos testes que avaliam a função tireoidiana melhora- ram significativamente. Os ensaios de primeira geração do TSH permitiam apenas o diagnóstico de hipotireoidismo. Com a utilização dos ensaios de TSH de segunda geração (sensibilidade funcional de 0,1 a 0,2 mU/L) e de terceira geração (sensibilidade funcional de 0,01 a 0,02 mU/L), foi possível a detecção do hipertireoidismo, tornando a do- sagem do TSH o teste mais útil na avaliação da função tireoidiana. A pesquisa de T4 livre é muito mais empregada do que a de T3 livre. O T3 aparece com dosagem normal em 30% dos hipotiroideanos. A dosagem de T4L é a evolução da dosagem do T4 total, pois elimina o problema das varia- ções dos níveis da globulina transportadora (TBG). Atual- mente, os laboratórios utilizam métodos de imunoensaios (EIA, CIA, FPIA ou RIA), que estão disponíveis na forma de kits comerciais. A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune na qual o organismo produz anticorpos contra a glându- la tireoide, o que provoca uma inflamação crônica, que pode acarretar o aumento do volume da glândula (bócio) e diminuir sua atividade (hipotireoidismo). É a causa mais comum de hipotireoidismo permanente em áreas sem de- ficiência de ingestão de iodo (no Brasil, por exemplo, é lei que o sal de cozinha venha iodado, para que toda a população tenha ingestão de iodo). Embora exista uma variedade de anticorpos antitireoideanos, somente os an- ticorpos antitireoglobulina (anti-Tg) e antitireoperoxidase (anti-TPO), antigo antimicrossomal, são comumente uti- lizados para avaliação da função tireoidiana. A presença desses anticorpos em títulos significativos no soro de um paciente indica um processo autoimune. A pesquisa des- ses anticorpos é fundamental para o diagnóstico da tireoi- dite de Hashimoto. ção de TSH. Lítio, fenilbutazona, sulfonilureias e aminoglu- tetimina diminuem a secreção dos hormônios tireoidianos, enquanto amiodarona e iodetos podem tanto aumentar quanto diminuir a secreção de T3 e T4. Hipotireoidismo O hipotireoidismo é causado por qualquer alteração estrutural ou funcional que interfira na produção de níveis adequados dos hormônios tireoidianos. Ele pode ser dividido didaticamente em três grupos: - Primário: quando o problema está na tireoide. - Secundário: quando o problema esta na hipófise, ou seja, há deficiência no hormônio tireoestimulante (TSH). - Terciário: quando há deficiência do hormônio liberador de tireotrofina (TRT), secretado pelo hipotálamo. Os principais sintomas do hipotireoidismo são: fraqueza e cansaço, intolerância ao frio, intestino preso, ganho de peso, depressão, dor muscular e nas articulações, unhas finas e quebradiças, enfraquecimento do cabelo e palidez. Podem aparecer outros sintomas, geralmente de manifestação mais tardia: fala lenta; pele ressecada e espessada; inchaço das mãos, pés e face; diminuição do paladar e do olfato; rouquidão; e menstruação irregular. Diagnóstico laboratorial do hipotireoidismo Pequenas alterações nas concentrações dos hormônios tireoidianos livres resultam em grandes alterações nas concentrações séricas de TSH, tornando este o melhor in- dicador de alterações discretas da produção tireoidiana. Os métodos disponíveis para a pesquisa de TSH são: imu- Endocrinologia Clínica 12 Hipertireoidismo É importante distinguir entre hipertireoidismo e tireotoxicose. Embora sejam usados como sinônimos, possuem significados diferentes. Hipertireoidismo refere-se a uma tireoide hiperativa, enquanto tireotoxicose refere-se a uma síndrome causada por excesso de hormônios tireoidianos.Os pacientes com hipertireoidismo usualmente têm tireotoxicose, mas aqueles com tireotoxicose nem sempre apresentam hipertireoidismo. Por exemplo, em pacientes com tireoidite, a glândula não está hiperativa; ao contrário, está liberando hormônios tireoidianos na circulação em consequência da inflamação destrutiva. No caso da tireoidite de Hashimoto, pode ocorrer tireotoxicose moderada, principalmente na fase inicial da doença. Após o período tireotóxico, que pode perdurar por meses, cerca de 40% evoluem para hipotireoidismo, mas alguns podem retornar à condição de eutireoidismo (estado normal da tireoide). Os principais sintomas apresentados por pacientes com hipertireoidismo são: perda de peso com grande apetite, intolerância ao calor, taquicardia, palpitações, nervosismo, tremores, hiperdefecação, aumento do volume da glândula tireoide (bócio), fraqueza muscular, labilidade emocional e exoftalmia (saliência exagerada do globo ocular). A doença de Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo (75% dos casos) e é de origem autoimune. Nessa doença, o organismo produz anticorpos contra os sítios receptores normais de TSH (TRAb), que agem aumentando a síntese de AMP cíclico e, por consequência, a secreção de T3 e T4. Pacientes com doença de Graves e outras doenças autoimunes podem ocasionalmente apresentar anticorpos antitireoglobulina em títulos baixos. Diagnóstico do hipertireoidismo http://cardiopapers.com.br/tag/guia-de-bolso-de-clinica-medica/No teste de captação de iodo radioativo, o paciente toma uma cápsula ou líquido contendo iodo radioativo (I131) e, após 6 horas e 24 horas dessa ingestão oral, a quantidade de radioatividade na glândula tireoide é medida por exames de imagem. Endocrinologia Clínica 13 Curiosidade No teste do pezinho, exame realizado no bebê logo após o parto, são dosados o TSH e o T4 neonatal. Essa dosagem é de extrema importância, pois, como os hormônios tireoidianos influenciam fortemente o crescimento e o desenvolvimento, a falta deles pode levar o prejuízo no crescimento da criança e a um retardo mental, que será tanto maior quanto mais tempo essa falta de hormônios persistir. Outros testes que podem ser utilizados na avaliação da função tireoidiana: - Dosagem de TBG: Pode ser útil na confirmação de casos de deficiência congênita da TBG, que ocorre em 1 a cada 9.000 nascidos vivos. - Dosagem de T3 reverso (rT3): Indicada em pacientes com doença grave sistêmica, em que o T3 e T4 estão diminuídos e o rT3 está aumentado. - Dosagem de anticorpo antirreceptor de TSH (TRAb): útil no diagnóstico e acompanhamento da doença de Graves. - Calcitonina: Muito útil para diagnóstico de tumores medulares da tireoide. Paratireoides São quatro glândulas muito pequenas que se localizam na face posterior da tireoide. O hormônio das paratireoides é o paratormônio (PTH). Seu papel fisiológico é regular o nível de íons cálcio e fosfato no plasma sanguíneo. Além de exercer essa função, o PTH regula, nos rins, uma enorme gama de funções na célula epitelial, incluindo a ativação de uma enzima envolvida na síntese de calcitriol (forma ativa da vitamina D encontrada no corpo), a expressão de receptores de vitamina D e o transporte iônico de cálcio, fosfato e outros íons. O PTH regula a taxa de cálcio, estimulando a remoção do mineral da matriz óssea (o qual passa para o plasma sanguíneo), a absorção de cálcio dos alimentos pelo intes- tino e sua reabsorção pelos túbulos renais, aumentando a concentração no plasma. http://biologia.ifsc.usp.br/bio2/apostila/apost-fisiol-parte6.pdf Metabolismo ósseo e doenças osteometabólicas Além da função mecânica, o tecido ósseo tem função metabólica, pois representa a maior fonte de sais minerais e participa ativamente do equilíbrio eletrolítico do organis- mo como um todo. Depois que o osso atinge seu tamanho e forma adultos, o tecido ósseo antigo é constantemente destruído, e um novo é formado em seu lugar. Esse pro- cesso é chamado de remodelação óssea e possibilita que os tecidos que já estão gastos ou que tenham sofrido le- sões sejam substituídos por outros novos e sadios, como também permite que o osso sirva como reserva de cálcio para o corpo. A remodelação óssea acontece com base em dois pro- cessos antagônicos, mas acoplados: a formação e a reab- sorção óssea. A conexão desses dois processos é mantida Endocrinologia Clínica 14 em longo prazo por um complexo sistema de controle. Condições como idade, doenças osteometabólicas, ação de algumas drogas, entre outras, podem alterar o equilí- brio entre formação e reabsorção, acarretando o predomí- nio de um sobre o outro, com consequências metabólicas (hiper ou hipocalcemia) e/ou mecânicas (osteoporose). A remodelação óssea obedece a estímulos físicos e hormo- nais. Dentre os controles sistêmicos, o paratormônio e a vitamina D são os maiores responsáveis pela manutenção de níveis séricos estáveis de cálcio, condição indispensável para que inúmeras funções orgânicas sejam cumpridas. Os hormônios responsáveis pela atividade óssea são: o hormônio de crescimento (GH), que é secretado pela hipófise e responsável pelo crescimento dos ossos; a calcitonina, que é produzida pela tireoide, inibe a atividade osteoclástica e acelera a absorção de cálcio pelos ossos; o paratormônio, sintetizado pelas paratireoides, que aumenta a atividade e o número de osteoclastos, elevando a taxa de cálcio na corrente sanguínea; e os hormônios sexuais, que ajudam na atividade osteoblástica promovendo o crescimento de novo tecido ósseo. Lembrete: Osteoclastos e osteoblastos são células do tecido ósseo envolvidas no processo de remodelação. Os osteoclatos tem como função básica a reabsorção óssea. Os osteoblastos tem como função principal a formação do tecido ósseo e possuem receptores para estrogênios, progesterona, glicocorticoides, testosterona e vitamina D3. Os osteócitos são células derivadas do osteoblasto e as mais abundantes do tecido ósseo. São responsáveis pela manutenção do tecido ósseo vivo, detectando as alterações físicas e químicas nele e recrutando os osteoblastos e osteoclastos para as funções de síntese e reabsorção. Papel do paratormônio e da calcitonina nos níveis de cálcio: http://www.afh.bio.br/endocrino/endocrino1.asp Endocrinologia Clínica 15 Agora que já vimos um pouco sobre metabolismo ósseo, vamos falar das doenças osteometabólicas. Hiperparatireoidismo O hiperparatireoidismo é a hiperfunção de uma ou várias das glândulas paratireoides, o que acarreta o au- mento de secreção do paratormônio (PTH). O hiperparati- reoidismo pode ser primário, quando essa hipersecreção é causada por um defeito na própria glândula paratireoide, ou secundário, quando ocorre em decorrência de algum distúrbio metabólico (a insuficiência renal crônica é a mais frequente causa de hiperparatireoidismo secundário). O diagnóstico laboratorial do hiperparatireoidismo ba- seia-se na elevação do cálcio no soro e na elevação do hormônio da paratireoide (PTH). A dosagem de PTH já foi difícil e com inúmeros pro- blemas metodológicos. Atualmente, com a disponibilidade dos ensaios imunométricos, as metodologias foram bas- tante simplificadas e consegue-se uma uniformidade de resultados considerável. O uso dessas novas metodologias com alto grau de sensibilidade propiciou um grande avan- ço no diagnóstico diferencial das hipercalcemias. A dosagem de PTH sérico requer um cuidado especial nas condições de coleta. O PTH é um peptídeo de meia- -vida biológica bastante curta e extremamente frágil. A amostra de sangue deve ser refrigerada logo após a co- leta, e centrifugação, separação do soro e congelamento devem ser rápidos. Caso essas condições não sejam se- guidas, dosagens falsamente baixas desse hormônio po- dem ser observadas, com consequências importantes para o paciente. Hipoparatireoidismo O hipoparatireoidismo é a diminuição da liberação de PTH pelas paratireoides, o que leva a hipocalcemia (dimi- nuição do cálcio no sangue). A causa mais frequente do hipoparatireoidismo é o trauma cirúrgico, em cirurgias de tireoide e paratireoide e de neoplasias de cabeça e pes- coço, podendo ser, nesses casos, transitório ou definitivo. A concentração de cálcio no sangue pode estar anor- malmente baixa sem produzir qualquer sintoma. Com o passar do tempo, a hipocalcemia pode afetar o cérebro, provocando sintomas como confusão, perda da memória, delírio, depressão e alucinações. As manifestações clíni- cas da hipocalcemia são relacionadas a um aumento da excitabilidade neuromuscular. A intensidade dos sintomas varia, dependendo do grau de hipocalcemia. A manifesta- ção clínica característica da hipocalcemia aguda é a crise de tetania (rigidez e espasmos musculares). O tratamento de manutenção consiste na correção da calcemia pela administração de cálcio e vitamina D (pro- move a absorção do cálcio). Os achados laboratoriais típicos no paciente com hi- poparatireoidismo são PTH baixo ou indetectável, baixa concentração de cálcio no sangue e fósforo aumentado. O aumento ou a diminuição de magnésio no sangue (hipermagnesemia e hipomagnesemia) podem induzir hi- poparatireoidismo funcional, caracterizado por diminuição da secreção e por resistência tecidual à ação do PTH, que se resolve com a correção dos níveis de magnésio. OsteoporoseNa osteoporose, a reabsorção óssea ocorre em maior medida do que a formação. Por consequência, há uma perda líquida de osso e um risco que acompanha o aumen- to de fraturas, resultando em deformidade e dor crônica. As áreas mais suscetíveis a fratura são quadril, coluna e punho. É mundialmente considerada um dos principais proble- mas de saúde pública, devido a repercussões individuais (mortalidade, morbidade, incapacidade funcional) e so- ciais (diminuição da força de trabalho, aumento do risco de institucionalização, ônus econômico). Endocrinologia Clínica 16 A osteoporose não provoca sintomas por anos, até sur- girem as fraturas. A maioria das dores crônicas típicas do problema resulta das fraturas, que podem se desenvolver após trauma mínimo ou inaparente e até na ausência de trauma. As principais causas de osteoporose são: falha do desenvolvimento de massa óssea adequada durante o crescimento (em consequência de dieta pobre ou exer- cícios inadequados), deficiência de estrógeno ou testos- terona, síndrome de Cushing, hipertireoidismo, hiperpa- ratireoidismo, imobilização ou perda excessiva de peso, mieloma múltiplo, defeitos hereditários para a síntese de colágeno, mastocitose sistêmica, terapia com heparina, ar- trite reumatoide. O diagnóstico de osteoporose é realizado por meio de um exame de imagem, chamado densitometria óssea. Exames de laboratório que pesquisam marcadores bio- químicos de formação (N-telopeptídeo, desoxipiridinolina ou C-telopeptídeo) e reabsorção óssea (fosfatase alcalina óssea e osteocalcina sérica) são utilizados para monitorar o tratamento dos pacientes, mas não para fazer o diag- nóstico. Osteomalacia e raquitismo A osteomalacia e o raquitismo são causados por uma mineralização defeituosa durante a formação óssea, com- prometendo a estabilidade óssea, com consequente en- curvamento. Uma mineralização óssea defeituosa produz o raquitismo nas crianças e a osteomalacia nos adultos, ambos geralmente causados por deficiência de vitamina D ou pela depleção de fosfato. O raquitismo pode ser classificado em hipocalcêmico ou hipofosfatêmico, apresentando características clínicas e laboratoriais distintas. No entanto, em ambos há hipo- fosfatemia. As causas mais comuns de raquitismo hipo- calcêmico são deficiência de vitamina D ou resistência à sua ação. Raquitismo hipofosfatêmico é mais comumente causado por perda renal de fosfato. O raquitismo pode apresentar-se como baixa estatura e/ou diminuição da velocidade de crescimento e tem como característica a presença de deformidades esqueléticas que mais comumente atingem as partes do esqueleto com crescimento mais rápido: antebraço distal, joelhos e jun- ções costocondrais. A osteomalacia pode ser assintomática ou apresentar sintomas inespecíficos, como dor óssea difusa (maior na coluna lombar, na pelve e nas extremidades inferiores) e fraqueza muscular. No diagnóstico, em geral algum dos seguintes exames laboratoriais encontra-se alterado, dependendo da causa da doença: dosagem sérica de cálcio, fósforo, PTH, 25-hi- droxivitamina D e fosfatase alcalina e excreção urinária de fósforo e cálcio. Os níveis séricos de PTH tendem a estar elevados no raquitismo hipocalcêmico e normais no raquitismo hipofos- fatêmico. Dosagens bioquímicas como fosfatase alcalina sérica (que geralmente apresentarão resultados muito aci- ma do esperado para a idade) e dosagem de cálcio (nor- mal no raquitismo hipofosfatêmico e baixo ou próximo ao limite inferior do normal no raquitismo hipocalcêmico) são úteis no acompanhamento da atividade da doença. Glândula Adrenal ou Suprarrenal As suprarrenais são constituídas por uma camada de- nominada cortical ou córtex da suprarrenal (ou córtex adrenal) e outra denominada camada medular ou medula da suprarrenal (ou medula adrenal). As principais secreções do córtex adrenal são: a) Glicocorticoides (principal: cortisol) - estimu- lam a conversão de proteínas e de gorduras em glicose, ao mesmo tempo em que diminuem a captação de glicose pe- las células, aumentando, assim, a utilização de gorduras. Essas ações elevam a concentração de glicose no sangue, a taxa metabólica e a geração de calor. Os glicocorticoi- des também diminuem a migração de glóbulos brancos para os locais inflamados, determinando menor liberação de substâncias capazes de dilatar as arteríolas da região; consequentemente, há diminuição da reação inflamatória. Endocrinologia Clínica 17 b) Mineralocorticoides (aldosterona) - aumentam a reabsorção de água e de íons sódio e cloreto nos túbulos renais, aumentando a pressão arterial. c) Andrógenos - desenvolvimento e manutenção dos caracteres sexuais secundários masculinos. A regulação principal da secreção adrenocortical é exercida pela hipófise por intermédio do ACTH. Contudo, a secreção de mineralocorticoides está sujeita também a regulação independente por intermédio de outras substâncias, das quais a mais importante é a angiotensina II. Esta é um octapeptídeo formado na corrente sanguínea pela ação da renina (enzima secretada pelo rim). A noradrenalina acelera os batimentos cardíacos (taquicardia) e atua na manutenção da pressão sanguínea. A adrenalina produz contração dos vasos sanguíneos, aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, maior concentração de sangue nos músculos e outros órgãos, deixando o organismo pronto a reagir em situações de susto, fortes emoções, raiva, medo ou fuga. Síntese de hormônios esteroides (esteroidogênese adrenal) tp://adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=10 Endocrinologia Clínica 18 Distúrbios do córtex adrenal Insuficiência adrenal A insuficiência adrenal (IA) pode ser dividida em insuficiência adrenal primária (ou doença de Addison), que é ca- racterizada por baixa produção de cortisol e altas concentrações de ACTH, e insuficiência adrenal secundária, que é caracterizada por baixa produção de cortisol e de ACTH e tem como causa doenças que comprometem o eixo hipotála- mo hipofisário. A falência da produção de cortisol e aldosterona é observada na insuficiência adrenal primária, porém, na secundária, a deficiência é apenas de cortisol, pois, com as adrenais preservadas, há a manutenção da secreção de aldosterona, que é regulada primariamente pelo sistema reninangiotensina. Uma resposta abaixo do normal de cortisol na dosagem de cortisol com estimulação com ACTH sustenta o diagnóstico de IA primária; uma resposta normal quer dizer que a adrenal é capaz de liberar o cortisol normalmente. Causas de insuficiência adrenal primária Causas de insuficiência adrenal secundária Idiopática (65% dos casos) Tuberculose (20% dos casos) Infecção por fungos Hemorragia adrenal Metástases Sarcoidose Amiloidose drenoleucodistrofia Adrenomieloneuropatia AIDS Hiperplasia adrenal congênita (principal causa em criança) Hipoplasia adrenal congênita Deficiência familiar de glicocorticoide Uso de medicação (ex. mitotane, aminoglutetimida) 1. Supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal A. Exógena (glicocorticoides, ACTH) B. Endógena: pós-operatório de síndrome de Cushing curada 2. Lesões hipotalâmicas ou hipofisárias A. Neoplasias B. Craniofaringeoma C. Necrose isquêmica D. Hipofisite autoimune E. Infecção 3. Sarcoidose 4. Trauma cranioencefálico 5. Deficiência isolada de ACTH Síndrome de Cushing http://fabianacamilo.com/tag/sindrome-de-cushing/ Endocrinologia Clínica 19 Síndrome de Cushing é a resultante fenotípica da exposição crônica a concentrações elevadas de glicocorticoides, endógenos ou exógenos (síndrome de Cushing iatrogênica). Causas endógenas dessa síndrome são raras e acometem mais mulheres do que homens, na razão de 8:1 para doença de Cushing (tumor hipofisário produtor de ACTH), 4:1 para adenomas adrenais e 2:1 para carcinomas adrenais. A síndrome de Cushing ACTH-dependente por secreção ectópica de ACTH acomete mais homens que mulheres. http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1696/sindrome_de_cushing.htmEndocrinologia Clínica 20 Ilhotas de Langerhans (Pâncreas Endócrino) O pâncreas é constituído por dois tipos principais de tecidos: os ácinos, que secretam suco digestivo no duodeno (função exócrina), e as ilhotas de Langerhans, que secretam os hormônios insulina e glucagon diretamente no sangue (função endócrina). As ilhotas de Langerhans apresentam três tipos de células principais: alfa ou A, que secreta o hormônio glucagon; beta ou B, que secreta o hormônio insulina; e delta ou F, que secreta o hormônio somatostatina. http://diabetes-biobio94.blogspot.com.br a) Hormônio insulina – é secretado pelas células beta das ilhotas de Langerhans. Esse hormônio aumenta a captação de glicose pelas células enquanto, ao mesmo tempo, inibe a utilização de ácidos graxos e estimula sua deposição no tecido adiposo. No fígado, estimula a captação da glicose plasmática e sua conversão em glicogênio. Dessa forma, provoca a diminuição da concentração de glicose no sangue. b) Hormônio glucagon – é secretado pelas células alfa das ilhotas de Langerhans e age ativando a enzima fosforilase, que fraciona as moléculas de glicogênio do fígado em moléculas de glicose, que passam para o sangue elevando a glicemia (taxa de glicose sanguínea). Tanto a insulina quanto o glucagon atuam como importantes sistemas de controle por feedback a fim de manter a glicemia nos níveis normais. Quando a concentração de glicose aumenta muito, ocorre a secreção da insulina, e esta causa redução da glicemia. Por outro lado, a redução da glicemia estimula a secreção do glucagon, que passa a atuar de maneira oposta, aumentando-a para os níveis normais. c) Hormônio somatostatina – é secretado pelas células delta das ilhotas de Langerhans. Esse hormônio também é produzido pelo hipotálamo e age inibindo a liberação do hormônio de crescimento (GH) pela hipófise. No pâncreas, esse hormônio exerce efeito inibidor sobre as células alfa e beta, inibindo a secreção de insulina e glucagon. Gônadas (Testículos e Ovários) Os testículos estão localizados no interior da bolsa escrotal e sofrem influência dos hormônios FSH e LH, produzidos e secretados pela adeno-hipófise. O FSH induz a produção de espermatozoides, e o LH induz a produção de testosterona pelas células de Leydig dos testículos. A testosterona é responsável pelo aparecimento das características sexuais secundárias Endocrinologia Clínica 21 masculinas (barba, pelos pubianos, engrossamento da voz, desenvolvimento da musculatura etc.), pelo amadurecimento dos órgãos genitais e pela libido sexual. Quase que totalmente (98%), a testosterona circulante está ligada a proteínas séricas, principalmente à SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais) e à albumina. A SHBG liga-se à testosterona com alta afinidade, e a testosterona ligada à SHBG (SHBG-bound T) não é disponível para dissociação em tecidos-alvo via receptor de andrógeno. De forma oposta, a albumina liga-se à testosterona com baixa afinidade, e a dissociação é rápida. Assim sendo, tanto a testosterona ligada à albumina como a testosterona livre são consideradas disponíveis aos tecidos-alvo para ação androgênica, e essas duas frações juntas (ligada e livre) são denominadas de testosterona biodisponível. Quase toda a testosterona que chega aos tecidos-alvo (por exemplo, à próstata) é convertida em di-hidrotestosterona, que é mais potente. Os ovários estão localizados no interior da cavidade pélvica das mulheres e produzem dois hormônios: os estrogênios e a progesterona. Os ovários sofrem o estimulo dos hormônios hipofisários LH e FSH. O FSH induz a formação dos folículos ovarianos, que produzem estrogênio. Com o aumento dos estrogênios, ocorre o aumento da liberação do hormônio LH, o qual promove a ovulação e a formação do corpo amarelo (lúteo), que irá produzir progesterona. Os estrogênios determinam o aparecimento das características sexuais secundárias femininas (mamas, pelos pubianos, acúmulo de gordura em algumas regiões etc.), estimulam o desenvolvimento do endométrio para receber o embrião, induzem o amadurecimento dos órgãos genitais e são responsáveis pelo desejo sexual. A progesterona é produzida pelo corpo amarelo (corpo lúteo), que se origina do folículo ovariano rompido durante a ovulação. A progesterona estimula o desenvolvimento das glândulas mamárias e, juntamente com o estrógeno, atua preparando a parede do endométrio uterino para receber o embrião. http://www.vouterumbebe.com/duracao-do-ciclo-menstrual/ Endocrinologia Clínica 22 O ciclo menstrual tem início no primeiro dia da menstruação. No início do ciclo, o FSH induz o desenvolvimento dos folículos ovarianos. Estes produzem estrógeno e induzem a liberação do hormônio LH pela adeno-hipófise. O estrógeno inicia o desenvolvimento do endométrio para receber o embrião. No 14º dia do ciclo menstrual, o hormônio LH atinge níveis máximos e ocorre a ovulação (liberação do ovócito II ou óvulo). O folículo rompido origina o corpo lúteo (amarelo), que produz progesterona. Esta atua em conjunto com o estrógeno no desenvolvimento do endométrio, aumentando sua espessura e vascularidade para uma eventual gravidez. As altas taxas de estrógeno e progesterona inibem a liberação de FSH e LH e, por consequência, ocorre o atrofiamento do corpo lúteo. Dessa maneira, os níveis de progesterona caem de forma acentuada, e a redução brusca na taxa desse hormônio faz com que a mucosa uterina sofra descamação e ocorra a menstruação. Se ocorrer gravidez, o embrião implantado na parede uterina produzirá o hormônio HCG (gonadotrofina coriônica humana), o qual estimulará o corpo lúteo a manter a produção de progesterona e estrógeno. Por volta do quarto mês de gestação, o corpo lúteo degenera-se, e a placenta passa a produzir estrógeno e progesterona, mantendo a mucosa em contínua proliferação. Anomalias reprodutivas masculinas Hipogonadismo O hipogonadismo é a redução da função das gônadas (testículo). O hipogonadismo primário (deficiência testicular) pode ser congênito ou adquirido. As causas congênitas incluem síndrome de Klinefelter, criptorquidismo e hipoespermatogênese idiopática. A síndrome de Klinefelter após a puberdade caracteriza-se por aparência eunucoide, testículos firmes e pequenos, ginecomastia, azoospermia e por vezes retardo mental. As causas adquiridas mais frequentes são orquite (que pode ser causada pelo vírus da caxumba) e traumatismo físico e as menos frequentes são radiação e agentes antineoplásicos. O hipogonadismo secundário tem como causa deficiên- cias no hipotálamo ou na hipófise, que podem ser congêni- tas ou adquiridas. As alterações hipotalâmicas congênitas são mais frequentes do que as hipofisárias e podem causar apenas puberdade atrasada ou hipogonadismo hipogona- dotrófico idiopático. Geralmente, o crescimento progride sem sinais puberais e com testículos muito pequenos. A deficiência gonadotrófica hipofisária adquirida é mais fre- quente que a hipotalâmica e, geralmente, é causada por tumores. Tumores secretores de prolactina também podem causar sintomas de disfunção erétil e infertilidade, uma vez que o aumento de prolactina suprime a produção de GnRH. Outras causas de hipogonadismo secundário são hipotireoidismo, síndrome de Cushing e cirrose alcoólica. A síndrome de Kallmann é a associação de hipogo- nadismo hipogonadotrófico e anosmia (perda do sentido do olfato), descrita por Maestre de San Juan em 1856 e caracterizada como condição hereditária por Franz Josef Kallmann em 1944. Os pacientes podem apresentar ce- gueira para cores, agenesia renal, surdez neurossensorial, fenda labial ou palatina, diminuição ou ausência das carac- terísticas sexuais secundárias em homens e testículos pe- quenos. Essa síndrome é resultado de uma deficiência de GnRH no hipotálamo durante o desenvolvimento embrio- nário, o que tem como consequênciaa deficiência das gô- nadas. Essa síndrome atinge tanto o sexo masculino como o feminino, porém é cinco vezes mais comum em homens. Há uma combinação de hipogonadismo primário e se- cundário no envelhecimento (denominado andropausa ou hipogonadismo masculino tardio) e em doenças sistêmicas como alcoolismo, anemia falciforme e hepatopatias. A avaliação laboratorial do hipogonadismo inclui as dosagens séricas de testosterona, LH, FSH, prolactina e SHBG. A SHBG é produzida no fígado, tem grande afinida- de pela testosterona e menor afinidade pelos estrógenos. A testosterona não ligada (livre) tem atividade biológica, a ligada à SHBG é inativa. A SHBG age como um modulador da secreção androgênica nos tecidos. Endocrinologia Clínica 23 No hipogonadismo primário, a dosagem de testosterona sérica encontra-se diminuída, com altos níveis de LH e FSH. No hipogonadismo secundário, o LH e o FSH encontram-se também diminuídos. A patologia hipofisária pode ser distinguida da patologia hipotalâmica por meio de testes dinâmicos da função endócrina. O teste de estímulo com GnRH avalia a reserva de gonadotrofinas. O aumento do FSH e do LH após o teste indica patologia hipotalâmica. http://www.ceaclin.com.br/exames/avaliacao_funcao_gonadal.shtml Endocrinologia Clínica 24 Defeitos na ação androgênica O defeito mais comum e grave da ação androgênica é a síndrome do testículo feminilizante (também chamada de síndrome de Morris ou pseudo-hermafroditismo masculino). É uma doença com herança ligada ao cromossomo X que afeta pacientes com cariótipo 46, XY, nos quais há prejuízo total ou parcial do processo de virilização intraútero devido à alteração funcional do receptor de andrógenos. Há formação de testículos normofuncionantes (geralmente intra- abdominais ou localizados no canal inguinal, frequentemente referidos como hérnias inguinais), porém ocorre uma deficiência de receptores periféricos para a testosterona. As pacientes possuem vagina em fundo cego e pelos axilares e pubianos escassos ou ausentes. Não há desenvolvimento adequado de características sexuais secundárias femininas porque não existem ovários e, portanto, não há produção de estrogênio suficiente. Contudo, há crescimento do tecido mamário, que costuma ocorrer na adolescência devido à conversão de androgênios em estrogênio. De forma geral, os pacientes em idade pós-puberal possuem níveis séricos elevados de LH e concentrações normais ou elevadas de FSH, estrógeno e testosterona em relação aos homens normais. Disfunção erétil ou impotência A disfunção erétil é definida como a incapacidade de obter uma ereção longa o suficiente para uma relação plenamente satisfatória em pelo menos 50% das tentativas. A perda de ereção antes da ejaculação é a queixa mais frequente. É uma condição complexa que envolve fatores arteriais, venosos, sinusoidais, neurológicos, hormonais, bioquímicos, sociais e psicológicos. A impotência psicogênica é o diagnostico mais comum. Outras causas incluem: hipertensão, diabetes mellitus, uremia, doença vascular doença neurológica, hipogonadismo, hipertireoidismo, hipotireoidismo, neoplasias, estados de ansiedade, uso de bebida alcoólica e de alguns medicamentos (drogas que atuam no SNC ou no pico adrenérgico da ansiedade, anti-hipertensivos como betabloqueadores, tiazidas e metildopa, cimetidina e alguns antilipêmicos). O alcoolismo de longo prazo e a cirrose hepática podem prejudicar a condução nervosa intrapeniana e gerar atrofia testicular ou ginecomastia. Com o avançar da idade, o corpo cavernoso do pênis falha na retenção do sangue. http://www.ceaclin.com.br/exames/avaliacao_funcao_gonadal.shtml Endocrinologia Clínica 25 Ginecomastia Ginecomastia é o crescimento benigno de tecido glandular mamário em homens e está associada a um aumento da relação entre estrogênio e androgênio. Há situações em que esse desbalanço é considerado fisiológico (período neonatal, na puberdade e na senilidade). Embora em 25% dos pacientes com ginecomastia a causa não possa ser identificada, a tabela a seguir lista as principais causas: Ginecomastia fisiológica • Ginecomastia do recém-nascido. • Ginecomastia puberal (causa 25% dos casos). • Ginecomastia do envelhecimento. Drogas relacionadas a ginecomastia (causa 10% a 20% dos casos) • Hormônios (andrógenos, HCG, estrógenos, GH). • Antiandrógenos ou inibidores da síntese de andrógenos (ciproterona, flutamida). • Antibióticos (isoniazida, cetoconazol, metronidazol). • Antiulcerosos (cimetidina, omeprazol, ranitidina). • Quimioterápicos (agentes alquilantes). • Drogas cardiovasculares (amiodarona, IECAs, digitoxina, nifedipina, reserpina, espironolactona, metioldopa, verapamil). • Drogas psicoativas (diazepam, haloperidol, fenotiazinas, antidepressivos tricíclicos). • Outras drogas (álcool, anfetaminas, heroína, maconha). Causas endócrinas • Hipogonadismo primário - com lesão de células de Leydig (causa 8% dos casos). • Hiperprolactinemia. • Tireotoxicose (causa 1,5% dos casos). • Defeitos do receptor androgênico. • Aumento de atividade de aromatase. Doenças sistêmicas • Cirrose hepática (causa 8% dos casos). • Insuficiência renal crônica (causa 1% dos casos). • Realimentação após período de inanição. Neoplasias • Tumor testicular germinativo ou tumor de células de Leydig (causa 3% dos casos). • Tumor adrenal feminilizante. • Tumor não trofobástico secretor de HCG. http://medicinanet2.tempsite.ws/conteudos/revisoes/1287/ginecomastia.htm Endocrinologia Clínica 26 Após o exame físico, deve-se realizar a dosagem de testosterona, estradiol, LH e ß-HCG. Distúrbios da reprodução feminina Puberdade precoce A puberdade precoce dá-se quando há o desenvolvimento das mamas e o crescimento de pelos pubianos em meni- nas com menos de oito anos de idade. A puberdade precoce verdadeira é dependente de GnRH e indica ativação precoce do eixo hipotalâmico-hipofisário- -gonadal. A pseudopuberdade precoce é independente de GnRH; nela ocorre aumento dos hormônios esteroides sexu- ais sem o estímulo secretório das gonadotrofinas hipofisárias. A avaliação hormonal deve incluir função tireoidiana (TSH, T4L), esteroides (estradiol, testosterona, progesterona, sulfato de deidroepiandrosterona - S-DHEA -, androstenediona e 17 hidroxiprogesterona), FSH, LH, HCG. O teste de estímulo com GnRH é o “padrão-ouro” para diagnóstico da puberdade precoce GnRH-dependente. As respostas pube- rais do LH e do FSH ao estímulo com o GnRH são consideradas diagnósticas quando a resposta hormonal é inadequada para a idade cronológica. Na puberdade precoce verdadeira, as dosagens de LH, FSH e estrógenos são compatíveis com maturidade sexual, enquanto valores elevados de estrógenos e baixos de FSH e LH são geralmente observados em presença de tumores secretores de estrógenos. Níveis elevados de HCG podem ser indicativos de teratoma ou de disgerminoma ovariano. Endocrinologia Clínica 27 Dosagens elevadas de progesterona, 17-hidroxicorticosteroides e andrógenos adrenais confirmam o diagnóstico de hiperplasia adrenal por deficiência de 21-hidroxilase, enquanto o aumento do 11-desoxicortisol indica hiperplasia adre- nal por deficiência de 11-hidroxilase. Quando o S-DHEA e/ou a androstenediona estão aumentados, a suspeita é de adenoma ou carcinoma adrenal. Menstruações irregulares e amenorreia Amenorreia é a ausência de menstruação por um período igual ou maior que três meses em mulheres que já menstruaram anteriormente. Mulheres nas quais a menarca (primeira menstruação) não ocorreu até os 16 anos podem ser consideradas amenorreicas independentemente da presença ou ausência de caracteres sexuais secundários. Nesse caso, chamamos o distúrbio de amenorreia primária. A amenorreia é um distúrbio relativamente comum, com prevalência estimada de 5%. Amenorreia e infertilidade podem ser os primeiros sintomas de disfunção tireoidiana. Segundo Osheroff, as causas de amenorreia podem ser classificadasem quatro grupos: CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DA AMENORREIA Comportamento IV SNC – hipotálamo *GnRH-TRH Estresse Ganho de peso Distúrbios psicológicos Exercícios Comportamento III Hipófise anterior *TSH, FSH, LH, prolactina Hipófise anterior *TSH, FSH, LH, prolactina Tumor hipofisário Insuficiência hipofisária Síndrome de Sejam Comportamento II Ovário *Estrogênios *Progesterona *Androgênios Perimenopausa Síndrome de resistência ovariana Insuficiência ovariana Anormalidades cromossômicas Comportamento I Útero, cérvice e vagina Anormalidade do Ducto de Müller Testículo feminilizante Síndrome de Adhemar Endocrinologia Clínica 28 Investigação laboratorial da amenorreia http://www.ceaclin.com.br/exames/avaliacao_funcao_gonadal.shtml Investigação do hirsutismo http://www.sbrh.org.br/guidelines/guideline_pdf/guideline_de_endocrinologia_da_reproducao.pdf Endocrinologia Clínica 29 O hirsutismo é o crescimento excessivo de pelos em áreas dependentes de androgênios na mulher onde normalmen- te esse crescimento é pequeno. O hiperandrogenismo é o aumento da produção ovariana ou adrenal dos androgênios com elevação de seus níveis séricos. A síndrome dos ovários policísticos (SOP) ocorre em 5% a 10% das mulheres em idade reprodutiva, em 10% das adolescentes e entre 1-7,5% da população geral. As possíveis manifestações clínicas são: - Amadurecimento sexual precoce (57%). - Obesidade (28-41%). - Acne (55%). - Hirsutismo (51–68% nas caucasianas e 10-20% nas orientais). - Acantose nigricans (5%-50%). - Amenorreia primária associada à obesidade (14%). - Irregularidade menstrual que tende à normalização com o avançar da idade. - Consumo folicular e diminuição da reserva ovariana (80%-95%). - Esterilidade (26%-46%). Os níveis de LH geralmente encontram-se elevados, e os níveis de FSH geralmente normais ou baixos, porém 20% a 40% das pacientes não apresentem esses achados. Dessa forma, as dosagens de LH e FSH não são imprescindíveis. Outros achados laboratoriais comuns são: androgênios normais ou elevados, hiperinsulinismo basal, curva insulínica anormal ao teste de sobrecarga com glicose, dislipidemia.Para que o diagnóstico da SOP seja feito corretamente, é preciso excluir hiperandrogenismo adrenal, disfunções da tireoide, hiperprolactinemia, Cushing e tumores da adrenal ou ovário. Pelo menos dois desses marcadores devem estar presentes: 1) distúrbio menstrual/anovulação; 2) sinais clínicos/bioquímicos de hiperandrogenismo; 3) ovários policísticos ao ultrassom. Referências BURTIS, Carl A.; ASHWOOD, Edward R.; BURNS, David E. Fundamentos de química clínica. 6ª ed. São Paulo: Saunders, 2008. HALL, John E.; GUYTON, Arthur C. Tratado de fisiologia médica. 11ª ed. São Paulo: Elsevier, 2006. MANUAL de exames: Laboratório Fleury. São Paulo: Laboratório Fleury, 1999. RAVEL, Richard. Laboratório clínico: aplicações clínicas dos dados laboratoriais. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
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